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Tumores do trato urogenital 1) Hiperplasia Prostática Benigna ¨ Definição Proliferação (hiperplasia) de células do epitélio e do estroma prostático, formando tecido nodular adenomatoso; gerando um aumento do volume da glândula + histórica clínica de sinais e sintomas obstrutivos. ð Relembrando: • Próstata normal: 25 – 30 g (homem adulto) • É um órgão responsável pela produção do líquido prostático (um dos componentes do sêmen – cerca de 20%); constituído por tecido glandular e um componente de estroma fibromuscular, contendo músculo liso e tecido conjuntivo. • Secreção prostático = líquido prostático => rico em substância alcalina, para diminuir a acidez da vagina; frutose; espermina; antígeno específico prostático (PSA) e outros... • As glândulas prostáticas respondem ao eixo hipotálamo-hipófise-gônada. Com isso, ao nível das células prostáticas, a testosterona é transformada em DHT, pela enzima 5- alfaredutase. Esses dois hormônios formam um complexo testosterona-DHT-receptor e estimulam a síntese proteica e divisão celular. • Divisões anatômicas da próstata: a) Zona periférica – local mais frequente de CA. b) Zona de transição - sítio exclusivo de origem da HPB c) Zona de estroma – formado apenas por músculo liso e tecido conjuntivo, representa apenas 1% da próstata. Esse tecido, disperso em forma de septos dentro da próstata tem seu tônus regulado pelo sistema autônomo simpático. Receptores a-1-adrenérgicos se encontram em abundância no estroma e no colo vesical. d) Zona central ¨ Epidemiologia • 30% dos homens com HPB apresentarão sintomas • Dos 30% sintomáticos, 30% necessitarão de tratamento cirúrgico. • O principal objetivo da pesquisa de HPB é a identificação do CA de próstata. Esse é o segundo principal câncer nos homens (1º: pele) e que mais leva a mortes (dentre os cânceres masculinos). • Fatores de risco o Idade o Testículos funcionantes (testosterona) o Hereditariedade o Negros o Obesidade/ sedentarismo (aumento da incidência de sintomas) ¨ Etiopatogenia Doença de origem multifatorial, em que esses fatores atuam em conjunto provendo o aumento da próstata. • Idade avançada A partir dos 40 anos pode haver aumento de próstata, a partir dos 80 anos metade dos homens apresentam a próstata aumentada. • Aumento da concentração tecidual de DHT => formação de complexos mais estáveis => estímulo trófico intenso + estimulação para a liberação de fatores de crescimento tecidual o Os fatores de crescimento tecidual modulam o crescimento das células epiteliais. • Hiperatividade do sistema simpático -> contração muscular local ¨ Consequências da hiperplasia: a) Efeito mecânico (componente estático) Aumento volumétrico da próstata -> diminuição do calibre e aumento da resistência uretral -> dificuldade de esvaziamento vesical. b) Efeito funcional (componente dinâmico) Musculatura lisa presente na glândula e no colo vesical tem a sua atividade dos a-1-adrenérgicos aumentadas -> hipertrofia -> elevação da resistência uretral. c) Componente visceral O músculo detrusor responde a essa obstrução com: I) Hiperatividade – resposta ao esforço contínuo de esvaziamento. II) Hipoatividade – resultante da falência muscular, nas fases mais avançadas da doença. ¨ Manifestações clínicas: • Sintomas obstrutivos (relacionados à obstrução promovida pela próstata): o Esforço miccional o Hesitação o Gotejamento terminal o Jato fraco e intermitente o Incontinência paradoxal o Esvaziamento incompleto o Retenção urinária • Sintomas de armazenamento (relacionados à disfunção vesical): o Polaciúria o Urgência miccional o Noctúria o Pequenos volumes de micção o Dor suprapúbica ð Tabela de pontuação dos sintomas • IPSS (International Prostate Symptom Score) – avalia a presença, quantidade e intensidade dos sintomas. • IPSS + OMS: avalia como os sintomas afetam na qualidade de vida do paciente. ¨ Diagnóstico: • Dx inicial: o História clínica o Exame físico § Geral § Urológico • Observar micção (micção assistida) – observar jato • Palpação do hipogástrio • Toque retal - próstata: volume, nodulações, consistência (normal = ponta do nariz/ endurecimento – fala a favor de malignidade), regularidade, limites, sensibilidade e mobilidade - contração e sensibilidade do esfíncter anal • Pacientes com neurite diabética podem apresentar hipotonia anala – dx diferencial. - reflexo bulbocavernoso - vesículas seminais - parede retal o Exames laboratoriais obrigatórios (exames preconizados para a avaliação do paciente na atenção básica) • Exame de urina – investigar ITU, hematúria e piúria. • Ureia e creatinia – avaliar acometimento renal secundário à hidronefrose. • PSA – pode apresentar os seus níveis elevados em qualquer doença inflamatória ou neoplásica. o Elevada sensibilidade, baixa especificidade. o VR: < 2,5 ng/mL até 60 anos & < 4 maiores que 60 anos. o A [PSA] esta correlacionada com o volume da glândula, sendo que as malignas produzem maiores quantidades e mais rápido do que os tumores malignos. o Exames não obrigatórios • USG – permite a avaliação da bexiga, colo vesical, uretra, volume da próstata, rins e vias urinárias. - Indicações de solicitação: alteração da função renal; suspeita de litíase e hematúria. o Via transretal o Via suprapúbica • Urofluxometria ou Fluxometria de Urina: método urodinâmico recomendável, que registra, em gráfico, a curva do fluxo urinário. É indica para todos os casos que serão submetidos à cirurgia. Exame não invasivo. • Uretrocistocopia: avalia a presença ou não de estenose de uretra, a extensão da uretra prostática, aspecto da parede vesical e doenças associadas. • Urodinâmica É um exame invasivo (colocado uma sonda na uretra e outra retal), por isso será reservado para os casos de pacientes muito novos e muito queixosos; suspeita de neuropatia ou quando o paciente opera e volta com a mesma sintomatologia. ¨ Complicações: I) Retenção urinária aguda II) Infecção urinária e prostatite III) Litíase vesical IV) IR aguda ou crônica V) Hematúria ¨ Tratamento: I) 0 – 7: observação e acompanhamento Observação anual + mudanças no estilo de vida (ex: diminuir a ingesta hídrica durante a noite). II) 8 – 19: farmacológico (+) pacientes sem morbidades, boa aceitação e doença não interfere na sua qualidade de vida. • Bloqueadores a-adrenérgicos Uso de alfabloqueadores seletivos alfa-1 (atuam apenas no estoma, e não acometem a vasculatura) atuam minimizando os sintomas miccionais. - Contra-indicação: IR pós renal, causada pela HPB; doença cerebrovascular; histórico de síncope. - Representantes: Doxazosina, Tansulosina 2 a 4 mg - Resposta dose-dependente. • Inibidores da 5-alfarredutase - Indicados quando próstata > 40 g - Eficientes para o manejo da hematúria por HPB - Representantes: Finasterida, Dutasterida - Efeitos adversos: diminuição do libido, disfunção erétil, ginecomastia. • Anti-muscarínicos -Representantes: Oxibutinina, Solifenacina - Tratamento dos sintomas da fase de enchimento - Efeitos adversos: boca seca, obstipação • Inibidores da fosfodiesterase tipo 5 III) 20 – 35: cirúrgico É o evento final da doença não tratada ou a que não respondeu ao tratamento medicamentoso. Indicações: 1) Retenção urinária aguda 2) ITU de repetição 3) Insuficiência renal/ Hidronefrose 4) Hematúria recorrente 5) Litíase vesical 6) Falha de terapia medicamentosa 7) Preferência do paciente a) Ressecção transuretral da próstata Tratamento cirúrgico mais utilizado, considerado padrão ouro, preenchendo aos requisitos de técnica minimamente invasiva. Alta taxa de sucesso. Um aparelho com câmera é colocado através da uretra até a próstata, onde o tecido interno da próstata é removido (faz-seum túnel no tecido da próstata para a urina passar pelo canal). Pode ser realizada por meio de um laser ou bisturi bipolar. • Principal complicação: Síndrome da intoxicação hídrica Decorre da absorção excessiva, pelo leito prostático cruento, da solução hipotônica, empregada para a irrigação vesical durante o procedimento. - Hiponatremia, confusão mental, náuseas, vômitos, hipertensão arterial, bradicardia e distúrbios da visão. >> atualmente utiliza-se soro fisiológico ao invés de solução hipotônica, praticamente eliminando essa complicação. - Outras complicações: a) Hemorragia perioperatória (10%), com necessidade de transfusão somente 4%; b) Perfuração da cápsula (2%); c) Retenção urinária pós-operatória (7%); d) Tamponamento por coágulos (5%); e) Infecção urinária (3%); f) Ejaculação retrógrada (60%); g) Disfunção erétil (12%), porém cerca de 30% demonstram melhora após a RTU; h) Estenose de colo vesical (3%); i) Incontinência urinária (1,5%), geralmente transitória. b) Incisão transuretral da próstata c) Prostatectomia (aberta, laparoscópica ou robótica) - A cirurgia aberta é indica nos casos de próstatas muito volumosas e aos pacientes contra-indicados a RTU. Como desvantagens, há a abertura da parede vesical, que necessita de cateterismo vesical prolongado, com risco de fístula urinária, e a dificuldade de hemostasia pelo acesso à loja prostática. A técnica retropúbica possibilita melhor abordagem da loja prostática, sem necessidade de abertura da parede vesical, porém com prejuízo ao acesso do lobo mediano e da bexiga. 2) Câncer de Próstata ¨ História natural Nas fases iniciais, quando o tumor ainda está na forma localizada e, portanto, é curável, o câncer de próstata raramente é sintomático. Deve-se lembrar que a maioria se localiza na zona periférica, o que dificulta o desenvolvimento de sintomas. O fato de o câncer de próstata raramente ser sintomático demonstra grande diferença em relação à hiperplasia prostática benigna, que se desenvolve na zona de transição, que é periuretral e, portanto, causa sintoma miccional com frequência. ¨ Quadro clínico: 1) Tumor localizado: geralmente assintomático; 18% com nódulo prostático ao toque; 2) Tumor localmente avançado: sintomas obstrutivos, hematúria, hemospermia; próstata heterogênea, múltiplos nódulos, limites imprecisos; => a presença de sintomas já indica doença avançada, mesmo que localmente. => o exame digital da próstata, mostrando a presença de múltiplos nódulos endurecidos ou perda dos limites anatômicos, é bastante sugestivo de doença localmente avançada. 3) Tumor avançado: sintomas decorrentes das metástases, dor óssea, compressão vertebral, anemia. ¨ Epidemiologia • Considerado um câncer da terceira idade, acometendo principalmente a população > 65 anos. • Tumor de órgão sólido mais prevalente • Segundo tumor mais letal do Brasil • Os exames de rastreamento (com destaque para a dosagem do PSA) estão permitindo uma descoberta precoce do CA e uma intervenção a tempo da cura. • Relação com antecedentes familiares • Maior acometimento dos negros • Correlação com os níveis de hormônios androgênicos • Obesos apresentam tumores com pior prognóstico ¨ Diagnóstico 1) Rastreamento – PSA e toque retal. - Indicação: pacientes com idade superior a 50 anos, mesmo assintomáticos devem fazer avaliação prostática anual. <> Pacientes com fatores de risco podem começar aos 45 anos. ¨ Relação PSA livre/total Em portadores de CA de próstata, a fração livre do PSA é inferior à população normal, em decorrência do aumento da forma complexa do PSA ligado a proteínas plasmáticas. Ou seja, esses pacientes apresentam um aumento de PSA total, mas a relação PSA livre/ PSA ligado é menor que a normal, geralmente < 18% indica malignidade. ¨ Fosfatase ácida Antes do PSA, outro marcador era utilizado, mas ele perdeu o uso, pois se eleva geralmente em doença metastática, principalmente metástase óssea. Os pacientes com toque retal suspeito, principalmente pela presença de nódulos endurecidos, e/ou alteração na dosagem do PSA que sugira a presença de câncer, devem prosseguir a investigação com biópsia prostática. 2) Biópsia retal Na maioria dos centros é por via transretal e guiada por USG (que já permite uma avaliação da ecogenicidade, forma, contorno e volume da próstata e estruturas adjacentes). 3) RNM Utilizado para biópsia, estadiamento e avaliação de recidiva local. Esse exame permitiu a criação de uma classificação das características da imagem encontrada na RNM em relação a probabilidade de risco para uma lesão maligna: PI-RADS. ¨ Histologia e Graduação • Adenocarcinoma acinar Tipo histológico mais comum, correspondendo a cerca de 95% dos casos. É graduado pelo sistema de Gleason, que estabelece 5 padrões de morfologia glandular, graduados de 1 a 5, sendo 1 correspondente à arquitetura prostática mais próxima do normal e 5 a mais indiferenciada. A soma dos dois padrões mais frequentes encontrados é denominada de score de Gleason (variando de 2 – 10). Há estreita correlação entre o score e o comportamente biológico do tumor, com nítida redução da sobrevida em escores > 6. ¨ Estadiamento TNM I) T = tumor primário II) N = linfonodos regionais III) M =metástase a distância - O PSA não faz parte, mas auxilia no estadiamento clínico. ð Os linfonodos acometidos inicialmente por metástase são os do grupo obturador da cadeia ilíaca externa. ð Aos pacientes com PSA > 30 ee/ou tumores de alto grau, recomenda-se avaliação de metástases por tomografia. • Quais exames podem ser utilizados para realizar o estadiamento e quando estão indicados: 1. Tomografia computadorizada: PSA > 30ng/mL, pesquisa de metástase linfonodal acima de 2 cm; 2. Ressonância magnética: avaliação do acometimento prostático local, feixes vasculonervosos; 3. Cintilografia óssea: PSA > 10 ng/mL; 4. Linfadenectomia estendida: PSA > 20 ng/mL, tumores de alto grau. ¨ Classificações de D’Amicco Classificação que utiliza os dados do PSA, estadiamenot e score de Gleason em conjunto para auxiliar na decisão do tratamento mais adequado para os pacientes que apresentam tumor de volume mínimo ou indolente (ou seja, clinicamente localizado). • Baixo risco: sem necessidade de exames adicionais • Médio risco: cintilografia óssea + TC abd • Alto risco: TC abd + cintilografia óssea + RNM próstata. ¨ Tratamento • Observação expectante e vigilância ativa Pacientes mais velhos, principalmente com idade superior a 75 anos, não se beneficiam com o tratamento radical, pois é mais comum morrerem de outras causas, mesmo na ausência de tratamento para esse câncer. Indivíduos com outras comorbidades graves, em que se confirma expectativa de vida inferior a 10 anos, também podem apresentar essa mesma evolução. Para tais grupos, independentemente da agressividade do tumor, ou do valor do PSA e sem a obrigatoriedade de exames periódicos, visando apenas conforto, qualidade de vida e minimizar a toxicidade de um tratamento invasivo, é proposto um tratamento paliativo. A conduta para esses pacientes é denominada observação expectante. A vigilância ativa fica para os pacientes do grupo de baixo risco. Estes pacientes são acompanhados periodicamente com RNM, PSA, toque retal e novas biopsias e, em caso de alteração de qualquer um destes parâmetros para uma doença de maior risco, o tratamento radical é indicado. • Prostatectomia radical Padrão ouro no tratamento da doença localizada, havendo a retirada em bloco da próstata, com as vesículas seminais; o colo vesical é reconstituído. Atenção para as complicações de ejeculação desses pacientes. Há preservação da função eretora. o Principais complicações: hemorragia, incontinência urinaria, disfunção erétil. - Paciente ideal: doença localizada,com características agressivas, expectativa de vida de 10 – 20 anos e livre de graves comorbidades. • Radioterapia Muito utilizada devido a boa resposta desse câncer a radiação. Além dessas modalidades de radioterapia, há ainda a braquiterapia, que é um tipo de radioterapia que usa a fonte de radiação em contato direto com os tecidos a serem tratados, sendo implantados materiais radioativos em formas de pequenas cápsulas com titânio. • Hormonoterapia Bloqueio androgênico por: castração cirúrgica pela orquiectomia bilateral, agonistas parciais dos hormônios hipofisários (LHRH, gosserrelina), esteroides antiandrogênicos (flutamida, ciproterona) e estrogenoterapia. O bloqueio androgênico promove a apoptose das células cancerosas, com redução da massa tumoral, regressão das metástases e diminuição dos níveis de PSA. Contudo, pela presença de células cancerosas hormônio-resistentes, essa forma de tratamento não é curativa. • Quimioterapia
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