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ENTRE RAINHA DO LAR E A PROFISSIONAL: AS TRANSFORMAÇÕES DA CONDIÇÃO DE VIDA DA MULHER
Queila Onofre Silva[1: Acadêmicos do curso de Pedagogia – Universidade Federal de Rondônia]
Natália Moreira[2: Professora Doutora ministrante da disciplina de Fundamentos e Prática do Ensino da História no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Rolim de Moura/RO.]
Avacir Gomes dos Santos Silva
“A persistência é o menor caminho para o êxito.” (Charles Chaplin)
Resumo: O referente artigo tem como principal objetivo listar como eram as condições da vida da mulher do século XVIII e as transformações que ocorreram até o século XXI. A proposta teve por objetivo contribuir para o entendimento da condição da mulher na sociedade atual. Para tanto, foram utilizados como fundamentos teóricos estudos de Rago (1985), Toledo et.al. (1985), PCNs (1997), Priore (1989), Bourdieu (2005), Araújo (2008), Priore (2008). Os procedimentos metodológicos envolveram pesquisas bibliográficas, entrevista e diálogos informais com pessoas de idades diferenciadas, assim o resultado da mesma foi utilizado como fundamento para escrever o trabalho. Os resultados apontam que com o passar dos anos aconteceram mudanças significativas na vida da mulher, uma vez que durante o século XVIII a condição feminina era de submissão e sua vida era apenas destinada aos afazeres domésticos, podendo sair apenas acompanhada por um ser masculino e sem direito a escolha do marido, o pai quem escolhia de acordo com seu desejo. Em contrapartida, no século XXI vê-se que transformações aconteceram, pois na sociedade são vários papéis desenvolvidos pelas mulheres: mãe, esposa, dona de casa, profissional, estudante, dentre outras funções. Não cabe a mulher exclusivamente o papel de doméstica ou de procriação, mas percebe-se que ela passou de sujeito passivo a sujeito ativo na sociedade defendendo sua nova postura, ela conquistou a base de muita luta o reconhecimento como cidadã. Mas, a luta ainda não está integralmente vencida, ainda há desigualdades sejam de salário ou preconceitos por ser considerada como um ser frágil e sem muita capacidade cognitiva.
Palavras-chave: Mulher. Submissão. Transformação. Sociedade. 
Introdução
Um dos grandes desafios a ser superado decorrente de muitos anos é o reconhecimento da mulher na sociedade. A luta na busca de um espaço foi muito grande e marcada por uma série de acontecimentos que mudaram as visões dos indivíduos e derrubaram alguns preconceitos.
Estudos apontam que as mulheres, no século XVIII, viviam como uma escrava, tendo como “destino” cuidar do lar, do marido, e para procriação. O homem sentia-se proprietário da mulher, o pensamento machista e a cultura que predominava no período impossibilitava que as mulheres demonstrassem seu valor e habilidades, o que despertou em algumas o desejo de ir além, lutar por seus direitos e poder ajudar o marido para a sustentação do lar. 
Durante anos as mulheres lutaram por seus direitos na sociedade, e com o passar dos tempos, com muitas dificuldades e desprezos por suas atitudes, aconteceram várias transformações, o homem começou a desenvolver um pensamento positivo em relação à mulher, e assim, uma grande parcela do machismo ficou para trás, e a mulher adquiriu um bom espaço na sociedade, podendo exercer funções exterior ao lar.
Desta forma, alguns autores tais como Rago (1985), Toledo et.al. (1985), PCNs (1997), Priore (1989), Bourdieu (2005), Araújo (2008), Priore (2008), têm enfatizado a trajetória da mulher e sua importância na sociedade. Nesse sentido, o presente texto tem por finalidade evidenciar algumas das transformações que ocorreram em relação a mulher no convívio social.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a condição da mulher na sociedade e as transformações ocorridas do século XVIII até os dias de hoje. Assim sendo, para essa investigação de abordagem qualitativa, através de uma entrevista informal buscou-se compreender como as pessoas vivem no século XVIII e XXI, momento em que a única função a ser desenvolvida pelas mulheres era cuidar do lar, filhos e esposo, bem como, de pessoas que já nasceram nesse século em que ocorreram as mudanças em relação a posição da mulher, para que relatam sua consideração sobre a condição da mulher na sociedade atual, por desenvolver atividades multifuncionais.
Sendo assim, dividimos o trabalho em duas etapas. A primeira foi dedicada ao estudo do tema, pesquisa e leitura de vários livros, e escrita da fundamentação teórica. A segunda etapa envolveu a entrevista com quatro pessoas, com faixa etária de 18 a 80 anos e a descrição e análise dos depoimentos das pessoas.
Em relação a primeira etapa, os estudos foram realizados sobre a trajetória feminina no decorrer do século XVII e as inovações que ocorreram e teve por finalidade uma melhor aproximação com o tema.
Na segunda etapa foi realizada a entrevista através de uma conversa informal referente ao tema, com o objetivo de coletar informações referente a opinião e crítica que perpetua na mente de muitos cidadãos, sendo eles homens ou mulheres, e por fim, como os professores devem trabalhar essa temática com os alunos em sala de aula.
Esperamos que o presente artigo não tenha o intuito de concluir o discurso acerca da temática abordada, mas sim a finalidade de trazer a tona o problema, aos acadêmicos de licenciatura e aos professores já atuantes, para uma melhor análise, pesquisa e compreensão do próprio.
2. Trajetória histórica da mulher
Ao referir-se a condição da figura feminina no passado, muitas pessoas entendem como um fato em que experiências e valores históricos são deixados para trás. Para muitos, a mulher nasce para ser submissa ao homem e cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos e do marido. A igreja católica reforçava esse tipo de entendimento, através de um discurso moralizador e severo, por meio da obediência a igreja, a mulher se portava como ser passivo e assim, era alcançado o objetivo primordial, assim, conforme Priore (1989, p.16) podia “lisonjear a mulher para melhor submetê-la”. Em concordância com Araújo (2008, p. 46) o embasamento utilizado para justificar o adestramento que a igreja Católica instituía a repressão da mulher era simples: “o homem é superior, e, portanto, cabia a ele exercer a autoridade”. Bourdieu (2005, p.103) explicita que a “Igreja inculca (ou inculcava) explicitamente uma moral familiarista, completamente dominada pelos valores patriarcais e principalmente pelo dogma da inata inferioridade das mulheres”.
É importante enfatizar que as mulheres eram submissas as decisões da igreja e da sociedade, ficavam presas em casa sem saber como fazer para ser reconhecida na sociedade. É muito discutido sobre a origem histórica da discriminação da mulher, porém o que se sabe é que ela era submissa ao homem tanto doméstica, como de lazer e sexual. Não tinham o direito de sair de casa, se assim fizessem eram mal vistas.
Historicamente, houve uma divisão social do trabalho, o homem tornou-se sedentário e principiou a produzir seus alimentos através da agricultura e da criação de animais no período neolítico, e desse modo, começou a dividir as funções para mulheres e para homens. Pelo fato da mulher gerar o filho e de amamentá-lo possibilitou o aprendizado de cuidar, assim facilitou para destinar essa função a ser exercida pela mulher, bem que ela também ajudava no trabalho do cultivo.
 Logo surgiu a sociedade dividida por tribos, assim no período pré-capitalista, a geração e a amamentação dos filhos favoreceram a submissão das mulheres ao homem, porque é só a mulher que possuía o poder de gerar e amamentar uma criança. Anexo à ideia de autoridade, o homem alegava que a mulher deveria cuidar dos filhos e que era frágil e incapacitada para assumir as responsabilidades e gerência da família, por isso exerceu o poder dentro da sociedade. Assim sendo, a sociedade se transformou em patriarcal, instituídas no poder do homem, do chefe de família. Os fatores que induziram o homem a querertornar uma sociedade patriarcal, foi o pensamento de posse dos bens e a segurança da herança para as gerações vindouras. Desse modo, a mulher foi gradualmente se tornando mais subordinada aos interesses do homem, tanto sobre os bens, através da herança, como na reprodução da sua família. A função da mulher foi limitada a desenvolver atividades domésticas, procriar, cuidar dos filhos e dever obediência ao marido.
Comumente, na sociedade capitalista, dividida por classes sociais, o patriarcalismo continuou: o homem destinado a trazer o sustento para casa e a mulher designada a desenvolver atividades que condizia ao lar. 
Por isso, a mulher que ia casar tinha como função apenas aprender a exercer atividades no espaço interno, no lar, para cuidar de sua família e casa. Conforme Toledo et. al. (1985, p.9): “São essas as suas atribuições como mãe, mulher e dona de casa, deixando o sustento da família nas mãos do marido, que por ser mais forte deveria trabalhar e prover a sobrevivência de seus dependentes”.
É certo que as mulheres tinham o direito apenas de se calar, elas eram submetidas aos casamentos forçados e eram obrigadas a seguirem as ordens dos maridos. Para isso utilizavam o baú para guardar as roupas, que deveriam estar devidamente bem passada pelo ferro à brasa. Para casar além de desempenhar as funções citadas era preciso saber lavar e cozinhar bem, para cozinhar era utilizado a panela de ferro. A panela de ferro (Figura 1), o ferro a brasa (Figura 3) e o baú (Figura 2) pertenciam apenas ao modo de vida feminino, conforme ilustrado abaixo:
Com o passar dos tempos, como tudo se transforma e evoluem, esses objetos passaram por várias modificações, como por exemplo, a panela de ferro, que ao longo dos anos foi sendo substituída por diversos tipos de panelas, a mais atual então sendo a elétrica. Outros exemplos disso é o ferro a brasa, que com o avanço tecnológico foi substituído pelo ferro elétrico e à vapor, o guarda roupa assumiu o lugar do baú, e a câmera fotográfica substituiu o binóculo. 
Por outro lado, desempenhar função como, por exemplo, de fotógrafos, era somente para homens, os quais registravam como as pessoas viviam, um momento que alguém queria guardar como lembrança. Após fotografar era utilizado o monóculo (Figura 4) para conservar e visualizar essas imagens. Esse era um trabalho externo exclusivamente para os homens, que eram chefes da família. 
Apesar da Constituição brasileira de 1988 procura amenizar as desigualdades entre homens e mulheres, a sociedade coopera de certa forma para essa divisão, de um lado, colocando o sentimento de superioridade de outro, o sentimento de inferioridade. 
Toledo et.al. (1985, p. 11) apresenta essa forma de desigualdade de ocupações entre homem e mulher como uma questão familiar. Desde crianças os filhos são instruídos de que o pai é o responsável por trabalhar e resolver os problemas fora de casa. Já as meninas são instruídas a ajudar a mãe nos afazeres domésticos.
 Para entender a trajetória histórica da mulher é preciso analisar de que modo ela se via, se sujeitando a dominação do homem, aceitando ser passiva, sem reagir, aceitando características impostas pelo homem, como um ser incapaz, incompetente, deixando ser desvalorizada e se passar por um ser insignificante perante a sociedade, nutrindo o comodismo e a ideia que seu lugar era apenas no ambiente interior, ou seja, cuidar do lar. 
Dessa forma, construía-se uma mentalidade nos filhos de diferenças de papéis desenvolvidos por mulher e por homem, em que as meninas precisam apenas aprender os afazeres domésticos para ser uma boa dona de casa para cuidar do lar, do marido e dos filhos, e os meninos aprendem com o pai como ser um bom chefe de casa e trabalhar fora para suprir as necessidades do lar, mantendo assim, uma sociedade patriarcal.
A partir daí é possível afirmar que esse pensamento parte do senso comum de uma sociedade que influencia a mulher a se inferiorizar, fazendo-a acreditar que ela é mais fraca que o homem, que seu intelecto é menos desenvolvido, não precisa estudar e trabalhar fora de casa, que não pode participar de decisões importantes. Tais interpretações são repassadas, como ensinamentos, de mãe para filhas, netas, bisnetas. Essa submissão e dominação, que atua de modo psicológico e sociológico, resultavam de ambientes sociais, de forte dominação do homem, como, por exemplo, a escola, a igreja, e o país. 
Porém, com o passar dos anos, as mulheres começaram a enxergar que são capazes de estudar, trabalhar fora de casa e não aceitar mais ser massacradas e inferiorizadas. 
3. As transformações da condição de vida da mulher: status social
Na sociedade do século XVIII haviam discursos ressaltando que o único segmento propício para a mulher era o espaço privado e que seu instinto natural era zelar e cuidar da casa e da família. 
A mulher, ao longo do tempo vem conquistando seu lugar na sociedade. Mas essa luta não foi fácil, pois quando se refere a mulher associa-se aos fogões, liquidificadores, pias, entre outros utensílios domésticos, que acabava sendo sua identidade. Assim Priore (2008, p. 563) ressalta que:
Com a nova realidade de trabalho, torna-se mais visível a discriminação contra as mulheres: salários menores, maior frequência de não registro em carteira, além de assédios sexuais por parte dos feitores, empreiteiros, e outros agentes do controle do trabalho. 
 Com o tempo as mulheres começaram a lutar para derrubar a sociedade patriarcal, objetivando construir uma sociedade democrática, assim a partir dos movimentos feministas ocorreram transformações significantes presentes na sociedade moderna, a partir daí foi marcado o surgimento de novos modos de pensar e de viver em relação a valorização da figura feminina e a igualdade entre homens e mulheres, direto de votar e ser votada, direito ao estudo, ativa na sociedade e crescimento profissional.
Com isso, hoje o homem ajuda a mulher nos afazeres domésticos e cuidado dos filhos. Essa ação exercida pelo homem melhorou a estrutura familiar, sendo o casal responsável pelo orçamento familiar, antes uma obrigação apenas do homem. E a mulher tornou-se independente, investem na sua qualificação profissional, dividindo o lar, esposo, filhos, estudos e o trabalho, administrando-os com eficiência e dedicação.
Hoje, tanto o homem quanto a mulher exercem atividades internas e externas, ou seja, houve uma transformação, as mulheres com suas lutas, derrubaram preconceitos, e consequentemente mudou um pouco a cultura conservadora que era dominante na sociedade e conquistaram alguns direitos, como o espaço no mercado de trabalho, o direito de votar, de estudar de ser reconhecida como mulher, mesmo com todas essas modificações ainda há preconceito em relação a atuação da mulher em espaço fora do lar.
Segundo Priore (2008, p. 662) as mulheres desenvolvem um estilo próprio de trabalho sindical, incentivadas pela percepção de que seu sucesso é um continuo desafio pessoal. A mulher então está cada dia mais ganhando e conquistando seu espaço no mercado de trabalho e garantindo sua independência. 
É visto que, atualmente, as mulheres estão trabalhando e estudando, porém ainda são a minoria, e muitas vezes, recebem a remuneração menor comparada ao do homem desempenhando funções semelhantes. 
Aconteceram mudanças com a figura feminina, porém a luta por direitos realmente iguais, ainda irá muito pela frente e essa é uma temática que possui um campo vasto para discussão. 
4. Diferentes visões sobre o papel da mulher na sociedade moderna
É importante enfatizar que durante anos as mulheres viveram oprimidas e presas às censuras de uma sociedade patriarcal. Cabendo aos homens definir seu destino, sua conduta, ou seja, o seu modo de ser e de agir. Sua vida era restrita ao lar e a igreja não lhe permitia adentrar em outros lugares, como por exemplo, estudar e trabalhar fora.
 As mulheres que se rebelavam e fugiam aos padrões convencionais de uma sociedade machista e preconceituosas eram mal vistas e tidas como mães quenão tinham compromissos com seus filhos e maridos. O trabalho fora do ambiente doméstico representava o abandono filial que muitas vezes destinava-se aos cuidados dos avós, comprometendo a boa educação dos filhos.
Isso sem contar que a luta para se manter no trabalho era ferrenha, visto que, a mulher tinha que suportar as investidas do seu empregador. Devia provar que tinha uma boa índole e que era capaz de desempenhar o seu trabalho, com seriedade. Segundo Rago (1985, p. 67) “O lugar do trabalho é a antítese do lar.” Além disso, critica-se a ameaça sexual representada pela relação ou dominação exercida pelo superior hierárquico, ou seja, veio passando de geração para geração e apesar de todas as lutas e transformações, ainda é vigente o pensamento machista, percebe-se isso mediante a uma entrevista com pessoas de várias idades para ressaltar sobre a condição da mulher, como ela era e como é vista e qual a sua posição na sociedade. Maria, de 59 anos, explicita seu pensamento da seguinte forma:[3: Todos os nomes citados no decorrer do trabalho serão fictícios. E a entrevista foi realizada no mesmo dia com todos os citados no artigo.]
Para mim mulher sair para trabalhar não dá certo, mulher foi feita pra cuidar dos filhos, da casa e do marido. O homem que é obrigado a trazer o sustento para casa. Minhas filhas trabalham fora e estudam, mas isso não acho certo, deve cuidar dos filhos delas. Pra mim era melhor viver antigamente, era até mais respeito. (entrevista realizada em 29 de março de 2013).
 A mulher de hoje tem uma maior autonomia, liberdade de expressar suas ideias. A mulher do século XXI deixou de ser submissa para assumir um lugar diferente na sociedade, com novas liberdades, possibilidades e responsabilidades. Deixou-se de acreditar numa inferioridade natural da mulher diante da figura masculina nos mais diferentes âmbitos da vida social, inferioridade esta aceita e assumida muitas vezes mesmo por algumas mulheres, conforme Erica, de 18 anos, faz uma ressalta: “Meu esposo não liga que eu trabalho não, ele diz que é bom mesmo eu estudar e trabalhar para construirmos nossos bens juntos”.
No decorrer do que já foi descrito, a mulher não fica restrita ao lar, mas ainda não ganhou o direito a igualdade de salário, tendo ainda a discriminação do gênero, que continua muito forte. Armando, de 75 anos deixa claro sua argumentação: “Que isso de mulher trabalhar fora, é “cabra” safado que não gosta de trabalhar que não sustenta a família”.
 Ainda se faz importante frisar que apesar de concordar com o ingresso da parceira no mercado de trabalho, ainda fica muito clara a preferência dos maridos quando se refere à mulher ao lar e na educação dos filhos. Como afirma Roberto, de 23 anos: “Não ligo que ela trabalha não, mais gostaria mesmo que ela ficasse cuidando dos nossos filhos”.
Como podemos ressaltar, diante da entrevista, as pessoas que são contra a admissão das mulheres no mercado de trabalho, são as de mais idade, podemos dizer então que esse pensar se trata da geração antiga e passada de pai para filho, onde é colocado que a mulher deve ser submissa ao homem, e que seu lugar é em casa ao lado dos filhos, cuidando e educando.
E as pessoas com menos idade, ressalta em suas falas que é normal e gratificante o ingresso das mulheres, para a contribuição da renda familiar, e para garantir sua independência, perante o marido e a sociedade. Toledo et. al. (1985, p.9) afirma que:
Vivemos em uma sociedade de estrutura patriarcal, que consciente ou inconscientemente tem sido concebida à imagem da família burguesa- o homem como provedor e a mulher devendo permanecer em casa atendendo aos afazeres domésticos e cuidando das crianças. [...]. A mulher permanece à margem destes processos esperando que o homem se ocupe de sua sobrevivência. 
Vivemos ainda em uma sociedade de ordem patriarcal, que considera como se o homem fosse o chefe da família e a mulher ainda está em um patamar inferior a ele.
5. A Importância de trabalhar com os alunos as transformações da condição de vida da mulher 
Compreende-se que cada século é marcado por costumes diferentes, dessa forma, podemos ressaltar que a condição da mulher no século XVII difere totalmente da condição da mulher no século XXI. 
Como já fora discorrido anteriormente, é visto que a mulher era educada apenas para exercer as funções domésticas e servir o marido sexualmente, ou seja, para procriação. Sendo assim, ela precisava aprender cozinhar, passar, lavar e guardar roupas e para isso fazia uso de instrumentos que a auxiliava em seu trabalho como, por exemplo, a panela de ferro, o ferro a brasa, o baú. Já os homens exerciam atividades exteriores ao lar, ou seja, exercia a função, de, por exemplo, fotógrafo e as imagens eram visualizados através do monóculo.
Por outro lado, no século atual, tanto a condição e a posição social da mulher sofreu grandes transformações, ou seja, os costumes dos povos foram mudando, hoje a mulher exerce atividades interior e exterior ao lar (estudo, trabalho), tanto quanto o esposo. E assim como a condição a mulher mudou, com o avanço tecnológico e informático, os equipamentos também foram substituídos por outros, como por exemplo, a panela de ferro fora substituída pela panela de alumínio, panela elétrica, panela de inox, o ferro à brasa, fora substituído pelo ferro à vapor, o baú fora substituído por guarda-roupas e com a digitalização das imagens o monóculo pelas câmeras.
Observa-se que os objetos citados são documentos históricos, pois são de outra época, retratam costumes de outros povos, modo de viver, bem como características específicas do contexto e época. Sendo assim, é útil para ser analisado, interpretado e comparado. Atualmente, esses objetos existem, mas era bastante utilizado no século XX. Em concordância o PCNs (1997, p. 55) ressalta que:
Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem interpretadas, analisadas e comparadas. Nesse sentido, eles não contam, simplesmente, como aconteceu a vida no passado. [...] os documentos são entendidos como obras humanas que registram, de modo fragmentado, pequenas parcelas das complexas relações coletivas. São interpretados, então, como exemplos de modos de viver, de visões de mundo, de possibilidades construtivas, específicas de contextos e épocas [...]. 
Muitas crianças do século XXI não conhecem a trajetória histórica da mulher e desconhecem a transformações que os objetos citados (ferro a brasa, baú, monóculo e panela de ferro), sofreram até o século presente, por isso é importante que os educadores trabalhem com esses tipos de objetos e com essa temática abordada em sala de aula, pois possuem grande riqueza de conteúdo, podendo ser usado para a exploração de costumes, para pesquisa sobre quem inventou, por que, quando, analisar os objetos e a condição social da mulher, a economia, comparações com o passado e o presente, frisando ainda aos educandos que estes objetos (ferro a brasa, baú, monóculo e panela de ferro), e costumes (a mulher cuidar apenas da casa, do marido e dos filhos) tiveram grande influência e importância em outros momentos, assim como a câmera digital, a panela elétrica, o guarda roupa, o ferro a vapor, a mulher sair para trabalhar fora de casa, estudar, tomar suas próprias decisões, contribuir do orçamento familiar é importante para o povo do século XXI.
 O professor precisa trabalhar de forma que motive o aluno referente à história. Em conhecer o “outro” e o “nós”, comparando situações, realidades. Como afirma o PCNs (1997, p. 45): 
[...] cabe ao professor criar situações instigantes para que os alunos comparem as informações contidas em diferentes fontes bibliográficas e documentais, expressem as suas próprias compreensões e opiniões sobre os assuntos e investiguem outras possibilidades de explicação para os acontecimentos estudados.
Enfim, ao trabalhar dessa forma, o professor estará contribuindo na formação dos estudantes, pois proporciona a ele a oportunidade de pesquisar, analisar, expor seus entendimentos, fazercomparações de costumes, povos e períodos.
6. Considerações finais
Em cada época há costumes, tecnologias diferentes em constante modificação, é visto que a condição feminina no século XVIII é diferente da condição masculina, pois exercem papéis opostos dentro da sociedade e da própria cultura. A sustentação do estereótipo do homem como o chefe da família possuía influência, sobretudo, pelos dogmas da igreja, os quais asseguravam que a mulher era destinada somente a cuidar do marido, da casa e dos filhos. Essa era a visão que perpetuava na época, por um lado a figura da mulher ideal: calada, frágil, inferior, sem capacidade cognitiva, objeto sexual, dona de casa, dependente, por outro lado, o homem ideal: força física, autoritário, empreendedor, racional, trabalho fora de casa, ou seja, regido por uma sociedade ideal: sociedade patriarcal. Esse modelo perdurou por longos anos, essas normas costumeiras que passavam do pai para o esposo, tratando a mulher como objeto de uso.
No entanto, lutas ocorreram, transformações aconteceram, durante anos, muitos paradigmas foram quebrados, a condição feminina e os objetos utilizados por elas sofreram modificações. No século XXI acredita-se numa nova visão sobre a mulher, ela deixou de ser um agente passivo e passou a ser um agente ativo. Analisando percebe-se que não se assemelha ao passado, a mulher atual passou a ser ter um importante papel na sociedade, antes era resumido apenas a sua condição de dona de casa, hoje, conduz suas ações, descobre seu lado sexual, escolhe seu parceiro e desempenha diversas funções, sem deixar de lado sua feminilidade. É reconhecida como cidadã, legitimou seu papel enquanto agente ativo transformador.
O modo como se põem frente a sociedade, se distancia cada vez mais da função desempenhada pela mulher no século XVIII, graças a sua insistência, lutas e exposição de ideias e críticas para melhores condições de vida.
Faz-se necessário explicitar que apesar das conquistas ocorridas, ainda acontecem às desigualdades, sendo de remuneração, confiabilidade e desvantagem na carreira profissional, porém muito precisa ser alterado, pois a resistência em relação a mulher ainda permanece na mente de muitas pessoas, por isso, continua lutando por mais autonomia, maior reconhecimento, maior dignidade e mais espaço na sociedade. 
Por conseguinte, não se pode esquecer que muitas crianças desconhecem a trajetória histórica da mulher e dos objetos que teve grande importância no século XVIII, daí a necessidade dos educadores explorarem esse material para relembrarem a história, como viviam o povo no passado, comparar o passado com o presente e outros aspectos já citados anteriormente. Muitas escolas tradicionais priorizam o ensino de Matemática e Língua Portuguesa, em detrimento da História, esquecendo que ela forma opiniões e conscientização dos educandos diante de suas ações na sociedade.
Sobre o tema, consideramos que transformações significativas ocorreram na vida das mulheres, pois estão ocupando papéis antes não ocupados por elas, como por exemplo, temos como Presidente da República Dilma Rousseff. Esse fato é um marco na história democrática do Brasil e na luta feminina por igualdade social. 
Com as lutas, as mulheres conquistaram espaços em diferentes segmentos, tanto na política como no gerenciamento de empresas, destaque de telejornalismo dentre outros garantindo assim, o seu sustento e desenvolvendo a intelectualidade e criticidade, podendo assim, desenvolver varias atividades: estudar, trabalhar, cuidar de casa, cuidar dos filhos e ainda tem a ajuda do marido para realizar os afazeres domésticos. 
Assim, vemos que essas e outras ações citadas acima demonstram as transformações que estão ocorrendo. A cada dia as mulheres estão conquistando seu espaço na sociedade, mas mesmo com todas as evoluções e conquistas, há muito a se transformar, as mulheres precisam continuar lutando para que se materializem os “direitos iguais”, pois ainda muitas mulheres sofrem com a desigualdade de gênero, patriarcalismo, submissão, remuneração diferenciada, opções de serviços, assédios sexuais e preconceito.
7. Referências 
ARAÚJO, E. A arte da sedução: sexualidade feminina na colônia. In: PRIORE, M.D. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais (PCN): História e Geografia. Ministério de educação e desportos. Brasília: MEC, 1997.
BOURDIEU, P. A Dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
PRIORE, M. D. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
PRIORE, M.D. A mulher na história do Brasil: raízes históricas do machismo. São Paulo: Contexto, 1989.
RAGO, M. Do Cabaré ao Lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890 – 1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
TOLEDO, R. A. G. et. al. A dominação da mulher: os papéis sexuais na educação. Petrópolis: Vozes, 1985.
Anexos
Roteiro para entrevista informal
Nosso tema de discussão é a condição da mulher na sociedade e aqui queremos ter uma conversa sobre o tema.
Vamos manter sigilo absoluto sobre os nomes das pessoas que participarem na pesquisa.
A questão que gostaríamos de conversar é: Em sua opinião, como a mulher era vista, qual era a função designada por ela e qual a sua posição na sociedade atual? As transformações que ocorreram foram significativas? Por quê? (Pode falar o que você pensar que é importante e significante, fique a vontade).

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