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FARMACOLOGIA Farmacologia dos anticoagulantes, antiplaquetários e fibrinolíticos Farmacologia voltada para doenças tromboembólicas (trombose venosa e arteriolar). ● Antiplaquetários Quando a placa aterosclerótica rompe, haverá a exposição de colágeno subendotelial que promoverá adesão de uma plaqueta, a qual se liga por meio de receptores ao colágeno subendotelial exposto. Tudo isso contribui para adesão da plaqueta ao local de lesão, sendo que ela sofrerá ativação plaquetária. Nessa ativação, a plaqueta irá recrutar mais plaquetas. Um desses processos, é a ativação da enzima COX-1, que transforma o ácido aracdônico formando uma molécula chamada tromboxano A2, o qual interage com receptores de tromboxano A2, promovendo uma cascata intracelular, aumentando a expressão nas plaquetas de uma glicoproteína que funciona como receptor GP2B-3A. Esse receptor irá se ligar ao fibrinogênio, permitindo que outra plaqueta recrutada se ligue ao fibrinogênio (ponte de ligação de plaquetas). Pontos de atuação farmacológica: - COX-1: inibidores que não permitem a produção de Tx-A2, impedindo a agregação plaquetária. - GP2-3A - P2Y12 - AMPc Agentes antiplaquetários → Ácido acetilsalicílico Inibidor irreversível da COX-1. A plaqueta não é capaz de sintetizar COX-1. É o antiinflamatório de escolha, em dosagem baixa. Na célula endotelial, a COX-1 atua, só que ela vai produzir a prostaciclina que é vasodilatadora e inibe a agregação plaquetária. Sendo que a administração do AAS, bloqueia a COX-1, contudo, as células endoteliais possuem maiores condições em produzir COX-1. → Dipiridamol É um inibidor da fosfodiesterase (função: degrada o AMPc), aumentando os níveis de AMPc, resultando na redução da agregação plaquetária. Contudo, esse fármaco pode causar uma vasodilatação coronariana, sequestrando o sangue do coração → piora da angina. → Ticlopidina, clopidogrel e prasugrel Inibidores de receptor P2Y12, aumentando o AMPc e consequente redução de agregação plaquetária Ticlopidina: primeira geração, mais efeitos adversos como: Clopidogrel: segunda geração. Prasugrel: terceira geração. → Inibidores de Glicoproteína IIb - IIIa Impedem a formação das pontes de plaqueta e fibrinogênio, impedindo a agregação plaquetária. Fármacos: eptifibatina, tirofibana, abciximabe. ● Anticoagulantes Além de produzir TXA2, a plaqueta ativada produz ADP, que irá interagir com o receptor P2Y12, causando como efeito a redução do AMPc que, consequentemente, aumenta a ativação plaquetária. O AMPc pode ser inibido pela enzima PDE (fosfodiesterase) que degrada o AMPc. Se um fármaco bloqueia essa enzima, haverá um aumento da AMPc e, consequente, diminuição de agregação plaquetária. Concomitantemente, ocorre a cascata de coagulação logo, exposiçao do fator tecidual do endotélio lesado, esse fator promove ativação do fator VII, que ativa o fator X, que ativa o fator II (trombina - ativa plaquetas, células endoteliais, etc.), convertendo o fibrinogênio em fibrina. Fármacos anticoagulantes atuam nessa cascata, inibindo algumas etapas, reduzindo a coagulação sanguínea. Os fármacos são: → Heparina É um anticoagulante parenteral, pois ela não pode ser absorvida pelo TGI, sendo administrada endovenosa ou intramuscular. - Mecanismo de ação: a heparina irá inibir a cascata de coagulação. Fisiologicamente, há uma molécula chamada antitrombina, a qual controla a cascata de coagulação, inibindo o fator X ativado, a trombina e além de outros fatores. A antitrombina se liga aos fatores da coagulação inibinindo-os. Contudo, os fatores mais importantes inibidos são fator X e a trombina. → Isso ocorre de forma lenta. A heparina tem função de se ligar à antitrombina para catalisar essa reação (aumenta a velocidade de inativação dos fatores). - Heparina e seus derivados: a. Heparina não fracionada: produzida a partir de bovinos e suínos. Para melhorar a farmacocinética do fármaco, foi desenvolvido derivados que são heparinas de baixo peso molecular. Para a heparina se ligar à antitrombina, é necessário uma porção pentassacarídeo que dá afinidade ao complexo, permitindo a ligação com a antitrombina que inativa o fator X e a trombina. A heparina não fracionada é capaz de inativar o fator Xa e a trombina. Através apenas da porção pentassacarídea, é possível inativar o fator Xa. Já para ativar a trombina, é necessária a molécula de heparina inteira. b. HBPM: maior biodisponibilidade. A HBPM é menor que a heparina não fracionada, portanto, essa heparina é capaz de inativar apenas o fator Xa. Não consegue inativar a trombina. c. Fordaparinux: análagos sintéticos da heparina → possui apenas a porção pentassacarídea, sendo assim, curto demais para interagir com a trombina. Portanto, só inibe o fator Xa. Diferença entre HBPM e Fordaparinux: nas HBPM haverá uma mistura de HBPM e heparina não fracionada, sendo então que uma porção das HBPM conseguirá inibir a trombina. Já o fondaparinux é um inibidor seletivo ao fator Xa. Quanto maior a seletividade do fármaco, maior a biodisponibilidade e menor os efeitos adversos. Usos clínicos: Tratamento inicial da trombose venosa e embolia pulmonar → rápido início de ação - impedir a propagação da doença. Tratamento inicial do IAM e angina instável → HBPM fondaparinux possuem vantagens farmacocinéticas - associada a antiplaquetária nas SCA. Angioplastia → evitar trombose → não utiliza-se fondaparinux → risco de trombose no cateter Heparina → infusão IV contínua → monitoramento da terapia com TTPa → TTPa 2-3x maior que o normal é terapêutico. Efeitos adversos: Sangramento → administração de sulfato de protamina (antídoto) em casos de hemorragias potencialmente fatais. - Reversão do efeito anticoagulante das heparinas → ligação em moléculas longas de heparina. - Reversão de partes da atividade das HBPM. - Sem efeito sobre a atividade anticoagulante da fordaparinux Trombocitopenia induzida por heparina → contagem plaquetária < 150000 mL → pode ocorrer com heparina, HBPM e fondaparinux → monitoramento através da contagem de plaquetas. Alterações nas provas de função hepática → elevações discretas da atividade das transaminases hepáticas. Rara ocorrência de osteoporose. Rara ocorrência de hiperpotassemia → heparina pode inibir a secreção da aldosterona. → Varfarina Anticoagulante oral.- Mecanismo de ação: antagonista da vitamina K. A vitamina K reduzida é necessária para que ocorra uma reação (gama-carboxilação) que participa da ativação dos fatores de coagulação aconteça. Após a ativação dos fatores, a vitamina K oxida. A enzima vitamina K epóxido redutase é responsável pela redução da vitamina K oxidada. A varfarina inibe a enzima vitamina K epóxido redutase, então não há vitamina K reduzida e, consequentemente, não há ativação dos fatores de coagulação. - Interações medicamentosas: qualquer alteração que aumente os níveis de varfarina, há grande chances de sangramento potencialmente fatais. Cerca de 99% da varfarina liga-se à albumina → então qualquer fármaco administrado ao mesmo tempo que tenha grande afinidade pela albumina, vai fazer com que a albumina disponível para a varfarina se ligue a ele. Portanto, a varfarina fica na sua forma livre, isso aumenta a ação da varfarina que resultará em sangramento. CYP2C9: principal isoforma do CYP450 que metaboliza a varfarina, reduzindo os níveis desse fármaco. Se usa um fármaco que aumente a isoforma, os níveis de varfarina ficarão muito baixos. Em contrapartida, se usar um fármaco que diminua a isoforma, aumenta os níveis de varfarina, aumentando o risco de sangramento. - Outros efeitos adversos importantes: Necrose cutânea: a vitamina K aumenta os níveis de proteínas C e S, as quais são anticoagulantes. Se a varfarina é antagonista de vitamina K, os niveis dessas proteínas irão reduzir, impedindo o efeito anticoagulante que elas apresentam. Isso resulta na necrose, pois reduzir as proteínas C e S promove trombose subcutânea. Usos clínicos: Impedir progressão e recidiva da trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Prevenção de tromboembolia venosa após cirurgias ortopédicas ou ginecológicas. Pacientes com IAM na isquemia coronariana recorrente. Pacientes com prótese de valvas cardíacas ou fibrilação atrial crônica na embolização sistêmica. p.s: a varfarina demora alguns dias para fazer efeito, pois os fatores que estavam ativados antes da administração da varfarina devem ser degradados. Ela apenas impede novas ativações. Monitoramento da terapia: Coleta de amostra de sangue e determinação do TP (tempo de protrombina)→ teste das vias extrínseca e comum da coagulação. Redução dos níveis de fibrinogênio, fator V, II, VII e X → redução de TP. Monitoramento da terapia deve ocorrer a cada 2-4 semanas. Sangramento → maior com o aumento da intensidade e duração da terapia. ● Fibrinolíticos Degradam a fibrina, a qual é degradada pela plasmina (enzima) que é produzida pelo plasminogênio. TPA: ativador ativador de plasminogênio tecidual, há fármacos análogos ao TPA. Promove a degradação da fibrina→ aumentando a ativação de plasminogênio, formando plasmina que degrada a fibrina Via fibrinolítica: Toxicidade e contra-indicações dos fibrinolíticos - Contraindicações absolutas: Hemorragia intracraniana anterior. Lesão vascular cerebral de estrutura conhecida. Neoplasma intracraniano maligno conhecido. AVC isquêmico em 3 meses. Suspeita de dissecção aórtica. Sangramento ativo ou diátese hemorrágica (excluindo menstruação). Trauma craniano fechado significativo ou trauma na face em 3 meses. - Contraindicações relativas HAS não controlada. RCP traumática ou prolongada, ou cirurgia de grande porte em 3 semanas. Sangramento interno recente (em 2-4 semanas). Punção vascular não compreensível. Gravidez Úlcera péptica ativa. Uso corrente de varfarina e RNI > 1,7. Principal efeito adverso → hemorragia → risco aumentado se associado com heparina.