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Prof: Helena Paula Nierwinski helnier@gmail.com Mecânica dos Solos-I Permeabilidade de Solos Introdução • O engenheiro deve entender os princípios de fluxo de água nos solos, buscando resolver problemas como: - taxa ou vazão de água que passa através do solo (ex: quantidade de água que percola uma barragem de terra); - compressão do solo (ex: estimativa de recalques de uma fundação); - resistência do solo (ex: avaliação dos fatores de segurança em um aterro) • Nesta unidade dar-se-á ênfase à influência do fluído que escoa através de uma massa de solo, particularmente nas tensões efetivas. Introdução • Para se determinar as pressões de água e vazões, o engenheiro deve estabelecer um modelo de fluxo e, a partir deste determinar as respostas para o projeto, e eventualmente, projetar os dispositivos de drenagem. Fluxo em barragem de terra Fluxo em cortina Introdução • Em geral todos os vazios presentes no solo estão interconectados, desta maneira, a água pode percolar até o mais denso de todos os solos naturais. O fluxo de água pelo interior do solo não ocorre de forma linear e em velocidade constante, mas sim de forma sinuosa de poro a poro. Já a velocidade da água em qualquer ponto deste trecho sinuoso depende do tamanho dos poros, posição dos poros e distância até a superfície. Para simplificar, na mecânica dos solos, o fluxo de água pelo interior do solo pode ser considerado linear e a velocidade constante. Fluxo Unidimensional Fluxo Unidimensional • Conceito de carga • Para o estudo do movimento de água é necessário conhecer seu estado de energia, ou seja, seu potencial. O movimento de água pode ser estudado como a resultante de uma diferença de potencial, tomado sempre em relação a um referencial. • Qualquer partícula de água em repouso ou em movimento possui uma determinada quantidade de energia, a qual pode ser subdividida em 3 componentes: Energia de elevação; Energia de pressão; Energia cinética. Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Energia de elevação (Ee) é definida como o trabalho cedido para se elevar uma partícula de água de uma determinada cota de referência para outra. Ee = mz Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Energia de pressão (Ep) é definida como o trabalho cedido para alterar a pressão de um valor de referência (patm) para outro valor Ep = mp/γw Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Energia cinética (Ec) igual ao trabalho cedido para variar a velocidade da partícula de um valor de referência (v=0) para outro valor Ec = mv2/2g Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Carga (h) carga (h) = energia / massa Assim, Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Carga (h) Fluxo Unidimensional • Conceito de carga Carga Total (ht) ht = he + hp + hc Como a velocidade de percolação da água através do solo é muito pequena, a energia cinética consequentemente também é. Como as cargas de elevação e pressão são muito maiores podemos considerar hc igual a zero. Então: ht = he + hp Fluxo Unidimensional • Importante! Só haverá fluxo quando se tem diferença de energia total; O fluxo só ocorre do ponto de maior carga total para um ponto de menor carga total. Fluxo Unidimensional • Lei de Darcy A L hh kQ 21 kiv Onde: Q = Vazão; k = Coeficiente de permeabilidade; h1 = Carga total no início do fluxo; h2 = Carga total no final do fluxo; A = Área da amostra de solo; L = Comprimento da amostra de solo; i = gradiente hidráulico Fluxo Unidimensional • O coeficiente de permeabilidade, k, é um índice da maior ou menor dificuldade que o solo opõe à percolação da água através dos seus poros, isto é, mede a permeabilidade do solo. • Chama-se assim de permeabilidade a maior ou menor facilidade com que a percolação de água ocorre através de um solo. É uma das características mais importantes dos solos e intervém em grande número de problemas da engenharia. Fluxo Unidimensional Solo K (cm/seg) Argilas < 10-7 Siltes 10-4 a 10-7 Areias argilosas 10-5 Areias finas 10-3 Areias médias 10-2 Areias grossas 10-1 Fluxo Unidimensional • Fórmula de Hanzen (para areias fofas e uniformes) 𝑘 = 𝐶 𝑑10 2 • Onde: k = coeficiente de permeabilidade (cm/s) d10 = diâmetro efetivo (em cm) C = coeficiente de Hanzen (varia entre 100 e 150) Formulação empírica • Permeâmetro de carga constante • Em sistemas de carga constante, a vazão e o gradiente hidráulico permanecem constantes ao longo do tempo. A condutividade hidráulica é determinada aplicando-se uma diferença de carga constante e medindo-se a vazão resultante. • É uma repetição da experiência de Darcy. • Para o caso de solos saturados, são indicados para solos com altos valores de k (solos com baixos valores de k tem pouca vazão, exigindo muito tempo para medir o volume pode ocorrer evaporação Ensaios de laboratório • Permeâmetro de carga constante (alto k) Ensaios de laboratório Mantida uma carga h, durante um certo tempo, a água percolada é colhida e seu volume é medido. Conhecidas as vazões e as características geométricas, o coeficiente de permeabilidade é calculado diretamente pela Lei de Darcy. • Permeâmetro de carga variável • Quando o coeficiente de permeabilidade é muito baixo, a determinação pelo permeâmetro de carga constante é pouco precisa. Emprega-se, então, o permeâmetro de carga variável. Ensaios de laboratório Verifica-se o tempo que a água na bureta superior leva para baixar da altura inicial à altura final. Num instante t qualquer, a partir do início, a carga é h e o gradiente h/L. A vazão será: 𝑄 = 𝑘 ℎ 𝐿 𝐴 • Permeâmetro de carga variável Ensaios de laboratório A vazão da água que passa pelo solo é igual a vazão da água que passa pela bureta, e pode ser expressa por: 𝑄 = −𝑎𝑑ℎ 𝑑𝑡 Sendo a a área da bureta e adh, o volume que escoou no tempo dt. O sinal negativo deve-se ao fato de h diminuir com o tempo. Igualando-se as expressões tem- se: −𝑎𝑑ℎ 𝑑𝑡 = 𝑘 ℎ 𝐿 𝐴 • Permeâmetro de carga variável Ensaios de laboratório Integrando-se a equação anterior desde a condição inicial até a condição final, chega-se a: 𝑘 = 2,3 𝑎𝐿 𝐴𝑡 𝑙𝑜𝑔 ℎ𝑖 ℎ𝑓 O ensaio de carga variável não é recomendado para solos com altos valores de k, pois seria muito rápido. Os ensaios podem ser realizados com fluxo ascendente ou descendente. Determinação do Coeficiente de Permeabilidade No Campo • Em furo de sondagem – OBS- É um ensaio de menor custo mas o valor é obtido não é tão confiável. É mantido o nível de água dentro do furo de sondagem em uma cota mais elevada que o nível de água do terreno. A vazão necessária para manter o nível de água constante em uma determinada cota é determinado. Na Na A) D Na Na B) D L Determinação do Coeficiente de Permeabilidade No Campo • Segundo Hvorslew Q = F k • F = fator de forma D L hL Q kB hD Q kA t t 2 ln 2 ) 75,2 ) Fatores que afetam a permeabilidade • Influência do fluido percolante – Quanto > a temperatura > a viscosidade> o “k • Influência do solo – Tamanho da partícula • Quanto > o diâmetro da partícula > o diâmetro dos vazios > o “k” – Índice de vazios • Quanto > e > o “k” • Composição mineralógica – Para um mesmo índice de vazios, a caulinita é mais permeável que a montmorilonita – Quanto > A (atividade da argila) < o “k” • Grau de saturação do solo – Quanto > S (grau de saturação) > o “k” Fatores que afetam a permeabilidade • Forma do grão – “k” equidimensionais > “k”lamelares – “k” esféricos > “k” angulares • Presença de descontinuidades – “k” no campo > “k” angulares • Estrutura dos solos – “k” floculado > “k” disperso – Solo estratificado “kv” < “kh” Floculado Disperso kv kh Cálculo das Pressões Neutra • Considerações: – Velocidade e vazão constante; – Fluxo permanente; • Dicas para cálculo: – 1) O objetivo é o cálculo da carga de pressão, logo determina-se a carga total e a de elevação para se obter a carga de pressão; » hp = ht – he Cálculo das Pressões Neutra – 2) Determina-se um referencial; – 3) A carga de elevação geralmente é inclinada de 45o com a horizontal; – 4) Determina-se a carga total no ponto de entrada e de saída do sistema de fluxo; – 5) Não se considera perda de carga na água; – 6) A perda de carga através do solo é constante. Medidas de Pressão Neutra • Piezômetro de Casagrande (Tempo de resposta lento) Medias de Pressão Neutra • Piezômetro de Casagrande • (Tempo de resposta elevado) Medidas de Pressão Neutra • Piezômetro de Bishop (tempo de resposta pequeno) Força de percolação • A figura representa uma situação de fluxo. A diferença entre as cargas totais na entrada e saída é de h, e a ela corresponde uma pressão h w. • Esta carga se dissipa em atrito viscoso na percolação através do solo. Ao se dissipar é gerada uma força que atua nas partículas do solo • Portanto a força dissipada é dada pela expressão: – F = h w A • Onde: A = área do corpo de prova. Força de percolação • Num fluxo uniforme, essa força se dissipa uniformemente em todo o volume de solo, de forma que a força por unidade de volume é: 𝑗 = ℎ𝛾𝑤𝐴 𝐴𝐿 = ℎ 𝐿 𝛾𝑤 = 𝑖𝛾𝑤 • Sendo j denominado de força de percolação. • A força de percolação é uma grandeza semelhante ao peso específico e atua da mesma forma que a força gravitacional. As duas se somam quando atuam no mesmo sentido e se subtraem quando em sentidos opostos. Percolação - tensões • Num solo, a tensão efetiva varia linearmente com a profundidade e pode ser calculada como a tensão total menos a poropressão ou tensão neutra. • Quando existe fluxo ascendente, deve-se descontar da tensão efetiva a força de percolação: 𝜎` = 𝐿(𝛾𝑠𝑢𝑏 − 𝑗) • Quando o fluxo é descendente a tensão efetiva aumenta com a percolação. 𝜎` = 𝐿(𝛾𝑠𝑢𝑏 + 𝑗) Gradiente crítico • Quando se tem fluxo ascendente com aumento progressivo de carga hidráulica, a tensão efetiva ao longo do solo irá diminuir até o momento que se torna nula. Nesta situação, as forças transmitidas de grão para grão são nulas. A ação do peso dos grãos (gravidade) contrapõe-se à ação de arraste por atrito da água que percola para cima (força de percolação). • Como a resistência das areias é proporcional à tensão efetiva, quando esta se anula a areia perde completamente sua resistência e fica num estado definido como areia movediça. • O gradiente crítico é dado por: Gradiente crítico • Ruptura Hidráulica Gradiente crítico • Ruptura Hidráulica • Logicamente, o estado de areia movediça ocorre apenas quando o fluxo atua de baixo para cima.No sentido contrário quanto maior for o gradiente, maior será a tensão efetiva. • A areia movediça não é um tipo de areia sim um estado da areia, em que as força de percolação anulam as tensões efetivas. • Não existem argilas movediças, pois as argilas apresentam consistência mesmo quando a tensão efetiva é nula. Fluxo Bidimensional Introdução • Quando o fluxo de água ocorre em apenas uma direção diz-se que o fluxo é unidimensional (permeâmetros). Quando o solo apresenta as mesmas características, a direção do fluxo e o gradiente hidráulico são constantes em qualquer ponto. • Quando as partículas de água se deslocam em qualquer direção tem-se fluxo tridimensional. • Quando a água segue caminhos curvos, mas contidos por planos paralelos, o fluxo é bidimensional (ex. Percolação de água pelas fundações de uma barragem. • Interpretação gráfica. Equação diferencial de fluxo • A equação diferencial de fluxo é a base para o estudo bi ou tridimensional. Considerando-se um ponto definido pelas suas coordenadas cartesianas (x, y e z), considerando o fluxo através de um paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e tornando válida a Lei de Darcy (solo homogêneo e água e solo não compressíveis), vem: t e S t S e ez h k y h k x h k tz t y t x 1 1 22 2 22 2 22 2 Equação diferencial de fluxo t e S t S e ez h k y h k x h k tz t y t x 1 1 22 2 22 2 22 2 Onde: kx, ky, kz = Coeficiente de permeabilidade nas respectivas direções; ht = carga total no ponto considerado; X,y,z = direção de fluxo; e = índice de vazios; S = grau de saturação; t = tempo. Equação diferencial de fluxo • Considerações sobre o índice de vazios e o grau de saturação A) e e S constantes: Fluxo em solo saturado e tanto a água como o esqueleto do solo são incompressíveis; B) e variando e S constante: Adensamento ou Expansão; C) e constante e S variando: Fluxo em solo não saturado; D) e e S variando – Compressão ou expansão além de drenagem. Equação diferencial de fluxo • Supondo-se que: Equação diferencial de fluxo • Solo Saturado: • Fluxo Bidimensional: • Para solos homogêneos: 0 t 0 e t S 0 22 2 22 2 z h k x h k tz t x 0 22 2 22 2 z h x h tt Equação de Laplace • Esta equação de Laplace é uma equação diferencial muito conhecida e estudada. Ela descreve, matematicamente, muitos fenômenos físicos de grande importância prática, entre os quais se encontra o fluxo de água através dos solos. • A solução geral da equação de Laplace é constituída por dois grupos de funções, as quais podem ser representadas, dentro da zona de fluxo em estudo, por duas famílias de curvas ortogonais entre si. Estas funções definem os termos real e imaginário de uma função analítica complexa • A solução geral que satisfizer as condições de contorno de um problema particular de fluxo constituirá a solução da equação de Laplace para este problema específico. 0 22 2 22 2 z h x h tt Equação de Laplace • Métodos usuais de resolução da equação de Laplace: • métodos gráficos • métodos analíticos - exatos • aproximados - numéricos (diferenças finitas /elementos finitos) • métodos analógicos - elétricos , viscosos, térmicos • modelos físicos Equação de Laplace •Métodos usuais de resolução da equação de Laplace: Analógico - elétrico Modelo Físico Equação de Laplace • Representação gráfica • A representação gráfica da equação de Laplace é composta por linhas ortogonais entre si. Estas linhas são chamadas de linhas de fluxo e linhas equipotenciais. • O conjunto de linhas de fluxo e equipotenciais é chamado de rede de fluxo. • A rede de fluxo é a solução gráfica da equação de Laplace, composta de dois grupos de curvas perpendiculares entre si, formando quadrados curvilíneos. Rede de fluxo • A rede de fluxo pode ser obtida graficamente por tentativas, sendo facilmente determinados os valores de poropressões e gradientes hidráulicos em qualquer ponto. Conhecendo-se o coeficiente de permeabilidade, determina-se a vazão. • Linhas de Fluxo – indicam a trajetória das partículas do fluido percolado. O espaço entre elas define o canal de fluxo. • Linhas equipotenciais – interceptam ortogonalmente as linhas de fluxo e constituem o local geométrico com a mesma carga hidráulica total ou mesmo potencial total. Rede de fluxo Rede de fluxo • A rede de fluxo define os seguintes elementos: - Número de canais de fluxo (nf) - Número de faixas de perda de potencial (nd) - Dimensões de um quadrado genérico – b = largura do canal de fluxo e l = distância entre equipotenciais. Estes elementos permitem o cálculo de: - Perda de carga entre equipotenciais - Gradiente hidráulico - Vazão Rede de fluxo - carga • Determinação da carga total em um ponto qualquer. • ht = ht início do fluxo – dHe * número de regiões entre equipotenciais até o ponto. • Δh = h/nd • Determinação do gradiente hidráulico • i = Δh/l = h/lxnd Rede de fluxo - vazão • Q = dQ nf – Onde: – Q = vazão total – dQ = Vazão em cada um canal de fluxo; – nf = número de canais de fluxo; • dQ = Q / nf • ht = dHe nd – Onde: – ht = Diferença de carga total; – dHe = diferença de carga entre equipotenciais; – nd = número de regiões entre equipotenciais. Rede de fluxo - vazão • Pela lei de Darcy – dQ = k (dHe/l)A – dQ = k (dHe/l)b l – Substituindo – Q/nf = k (ht / nd l)b l para l = b – Q = k ht (nf/nd) • Características das funções de fluxo e potencial - Ortogonalidade: Linhas de fluxo e equipotenciais são perpendiculares entre si. - Vazão: a vazão entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer é constante; - Interceptação: As linhas de fluxo não podem se interceptar dentro de uma região de fluxo, pois a áreas entre as linhas seria nula, o que desobedece a equação de Laplace. As linhas equipotenciais também não podem se interceptar. Fluxo Bidimensional
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