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Untitled Untitled Untitled Untitled Untitled Sobre os autores Sobre os autores 0 SOBRE OS AUTORES Aluisio Gonçalves de Castro Mendes • Desembargador Federal. Presidente da 5.ª Turma e Membro do Conselho de Administração do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. • Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Regensburg (Alemanha). • Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). • Mestre em Direito pela Johann Wolfgang Goethe-Universität (JWG, Frankfurt, Alemanha). • Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). • Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade de Brasília (UnB). • Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Titular do Programa de Mestrado e Doutorado da Universidade Estácio de Sá (UNESA). • Diretor de Cursos e Pesquisas da Escola da Magistratura Regional Federal (EMARF). • Membro do Conselho Superior da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) • Diretor do Instituto Brasileiro de Direito Processual. • Coordenador da Comissão de Processo Civil da Associação dos Juízes Federais (AJUFE). • Membro da Associação Teuto-Brasileira de Juristas, do Instituto Ibero- americano de Direito Processual e da Associação Internacional de Direito Processual. • Ex-Promotor de Justiça. Principais obras publicadas: • Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional, 4. ed., Ed. RT, 2014. • Direito Jurisprudencial – volume II, Ed. RT, 2014. • O processo em perspectiva: Jornadas Brasileiras de Direito Processual, Ed. RT, 2013. • Competência Cível da Justiça Federal, 4. ed., Ed. RT, 2012. • Teoria Geral do Processo, Lumen Juris, 2009. • Direito Processual Coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos, Revista dos Tribunais, 2007. André R. C. Fontes • Doutor em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. • Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. • Professor de Teoria Geral do Processo na Universidade do Rio de Janeiro – Uni-Rio. • Desembargador do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. Arnaldo Esteves Lima • Juiz Federal de carreira. • Juiz do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região de 30.03.1989 a 18.08.2004. • Ministro do Superior Tribunal de Justiça desde 19.08.2004. Obras publicadas: • Ação Rescisória, em coautoria com o Professor Poul Erik Dyrlund. • O Processo Administrativo no Âmbito da Administração Pública Federal – Lei 9.784, de 29.01.1999. Eugênio Rosa de Araújo • Juiz Federal titular da 17.ª Vara Federal do Rio de Janeiro. • Membro do Conselho Editorial da Revista da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. • Ex-presidente da Comissão de Acompanhamento do Curso de Aperfeiçoamento e Especialização para Magistrados Federais da Escola da Magistratura Federal do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. • Ex-juiz convocado para o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região para compor a Turma Especializada em Direito Tributário. • Ex-promotor de Justiça no Estado do Rio de Janeiro. • Palestrante da Escola da Magistratura Federal do Tribunal Regional da 2.ª Região. • Professor de cursos preparatórios para concursos. • Mestre em Direito Econômico na Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro. • Ex-componente da 1.ª Turma Recursal do Juizado do Rio de Janeiro. • Ex-Presidente da Comissão de Ciências Sociais e Econômicas da Escola da Magistratura Federal – EMARF. Firly Nascimento Filho • Juiz Federal da 5.ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro. • Doutor e Mestre em Direito (PUC-Rio). • Professor do Departamento de Direito da PUC-Rio. José Antonio Lisbôa Neiva • Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. • Mestre em Direito Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). • Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). • Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (1991-1993). • Professor de Direito Processual Civil. Aprovado nos seguintes concursos: • Juiz Federal Substituto da 2.ª Região, em 4.º lugar. • Promotor de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em 2.º lugar. • Defensor Público do Estado do Rio de Janeiro, em 1.º lugar. • Juiz do Trabalho Substituto da 1.º Região, em 3.º lugar. • Promotor de Justiça Substituto do Estado de São Paulo, em 5.º lugar. Mauro Luís Rocha Lopes • Juiz Federal Titular da 2.ª Vara Federal/RJ. • Professor do Curso Master Juris/RJ. Obras publicadas: • Processo Judicial Tributário – Execução Fiscal e Ações Tributárias, 8. ed., Impetus. • Direito Tributário Brasileiro, 4. ed., Impetus. • A Reforma Tributária da Emenda Constitucional n. 42/2003, Lumen Juris, como coautor. • Mandado de Segurança – Doutrina, Jurisprudência e Legislação, 2. ed., Impetus. Messod Azulay • Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, graduado pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro com cursos de extensão nas áreas administrativa e empresarial da Fundação Getulio Vargas. Experiência Profissional: • Em 1993, ingressou, mediante concurso público – aprovado em 5.º lugar –, no quadro de advogados da empresa Telecomunicações do Rio de Janeiro – TELERJ. • Em 1998 assumiu a chefia de todo o Departamento Jurídico da TELERJ, composto por 5 divisões: Contencioso Cível, Penal e Tributário; Divisão de Consultoria, Licitações e Contratos; Divisão Trabalhista; Divisão Societária e Divisão de Normas e Serviços. • Participou ativamente do processo de desestatização do sistema Telebrás, integrando a comissão que realizou o data room de venda das empresas, destacando-se como principal articulador da estratégia de defesa das ações de cancelamento e/ou suspensão do leilão em questão. • Participou ativamente como conferencista e palestrante de Direito de Telecomunicações no período de 1998 a 2005. • Participou da Comissão de Defesa, Assistência e Prerrogativas – CEDAP, da Ordem dos Advogados do Brasil, junto à Justiça Federal nos biênios de 1991-1992 e 1993-1994. Obras publicadas: • O Novo Cenário das Telecomunicações no Direito Brasileiro, Lumen Juris. • O Novo Recurso de Agravo, Forense. • O Penhor Legal como Garantia do Crédito Locatício, Forense. • Compêndio de Direito Previdenciário, Forense. Poul Erik Dyrlund • Desembargador Federal, Vice-Presidente do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. Cursos: • Curso de “Aspectos Jurídicos do Urbanismo”, ministrado pela Faculdade de Direito da UERJ e pelo Instituto Argentino-brasileiro de Direito Administrativo, em 25, 27 e 29 de setembro de 1978. • Curso sobre “Título de Crédito”, promovido pela Associação dos Magistrados Brasileiros – Escola Superior da Magistratura Nacional, no período de 01 a 29.08.1983. • Participação na Conferência Internacional de Direito Penal, realizada de 16 a 21 de outubro de 1988, promovida pela Procuradoria Geral da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro, e Secretaria de Estado da Justiça do Rio de Janeiro. Vida profissional: • Empossado no cargo de Promotor de Justiça do Estado de São Paulo, em 18 de maio de 1984, classificado em 13.º lugar, em concurso no qual se inscreveram 2.471 candidatos, e no qual foram aprovados 46. • Aprovado no Concurso de Assistência Judiciária do Estado do Rio de Janeiro para o cargo de Defensor Público de 2.ª categoria, que foi homologado no dia 13 de maio de 1985, em concurso no qual se inscreveram 4.108 candidatos, e no qual foram aprovados 158, em 56.º lugar. • Aprovado no Concurso de Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Rio de janeiro para o cargo de Promotor de Justiça de 2.ª Categoria, em 1.º lugar, em concurso no qual se inscreveram 3.254 candidatos, eno qual foram aprovados 56, sendo nomeado em 17.10.1986. • Nomeado e empossado para o cargo de Juiz Federal Substituto do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, em 20 de dezembro de 1989, classificado em 2.º lugar, em concurso no qual foram aprovados 2 candidatos. • Conferencista, desde o ano de 1995, da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, EMERJ, nos Módulos de Direito Tributário. • Vice-Diretor do Foro da Seção Judiciária do Rio de Janeiro no período de 2000/2001. • Palestrante junto ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, no ano de 1996, sobre o tema “A Reforma Tributária”. • Integrante no Curso de Direito da Integração Econômica União Europeia e Mercosul – Pós-Graduação Lato Sensu, realizado no período de novembro de 1999 a maio de 2000 através do convênio da EMARF – Universo – Universidade de Coimbra, com um total de 270 horas, tendo apresentado dissertação aprovada pela Banca Examinadora composta de professores integrantes daquelas instituições de ensino. APRESENTAÇÃO O Direito Processual contemporâneo vem buscando, em todo o mundo e de modo incessante, a sua efetividade a partir, principalmente, da conjugação de dois valores: o acesso à Justiça e a duração razoável do processo. Por certo, a construção do mandado de segurança foi e continua sendo uma das maiores contribuições nacionais para a consecução destes objetivos, bem como do controle jurisdicional dos atos estatais. A sua história tem como marco mais remoto a origem do próprio devido processo legal, a partir do século XIII, na Inglaterra, bem como, de modo mais próximo, a partir da denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”, que concebia a sua utilização fora do âmbito penal. A Constituição de 1934 inaugura, no ordenamento nacional, a previsão do mandado de segurança, regulamentado pela Lei 1.533, publicada em 31.12.1951. A primeira Lei do Mandado de Segurança disciplinou o instrumento processual com apenas 21 artigos e por quase quarenta e oito anos. Em outubro de 1996, foi constituída Comissão de juristas, presidida pelo Professor Caio Tácito e tendo como relator e revisor, respectivamente, os Professores Arnoldo Wald e Carlos Alberto Menezes Direito, com o objetivo de atualizar a legislação sobre o mandado de segurança. Em 2001, o anteprojeto elaborado pela supramencionada comissão é enviado ao Congresso Nacional e aprovado oito anos depois. No dia 07.08.2009, a nova Lei do Mandado de Segurança individual e coletivo – Lei 12.016 – é sancionada, com alguns vetos, entrando em vigor na data da sua publicação (10.08.2009). Por certo, o mandado de segurança é um instrumento processual extremamente valioso. Em razão, principalmente, da necessária prova pré-constituída e de um procedimento simples e rápido, é altamente profícuo para as partes e fácil de ser conduzido pelos juízes. A Lei 12.016/2009 precisava ser comentada por juristas com larga experiência teórica e prática em torno do mandado de segurança. Os autores reunidos em torno da presente obra são professores e magistrados consagrados e renomados. Registre-se que todos os comentadores possuem uma história profissional relacionada com a Justiça Federal. É de se ressaltar que esse dado é de peculiar importância, porque, em razão da sua competência, os juízes e desembargadores federais estão absolutamente familiarizados com os mandados de segurança. Na distribuição dos temas, procurou-se aproveitar ao máximo a diversidade e o conhecimento dos escritores. No grupo temos a felicidade de contar com a participação do Min. Arnaldo Esteves Lima, do STJ, dos Desembargadores Federais Poul Erik Dyrlund, André Ricardo Cruz Fontes, Messod Azulay Neto e José Antonio Lisbôa Neiva, do TRF da 2.ª Região, e dos Juízes Federais Firly Nascimento Filho, Eugênio Rosa de Araújo e Mauro Luís Rocha Lopes. Sinto-me honrado e distinguido com a oportunidade de coordenar um grupo tão culto e seleto, bem como de poder escrever as linhas de apresentação deste livro. Devo, contudo, conter-me na tarefa, pois não há comentário que se faça suficiente para substituir o bom vinho ou a boa obra. Recomendo, assim, em benefício do próprio leitor, que se passe, imediatamente, a sorver o resultado desta ótima colheita. ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES Especialista, Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Direito Professor da Graduação, Mestrado e Doutorado da UERJ e UNESA Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região Diretor da Escola da Magistratura Regional Federal (EMARF) Diretor do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) Membro do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual, da Associação Teuto-Brasileira de Juristas e da Associação Internacional de Direito Processual 1. Conceito e enquadramento O mandado de segurança é uma ação civil de rito sumário especial que se destina a afastar lesão a direito subjetivo individual ou coletivo, por meio de ordem corretiva ou preventiva de ilegalidade ou abuso de poder dirigida à autoridade pública ou a quem fizer suas vezes ou a ela for equiparada. Sendo garantia fundamental do cidadão prevista no art. 5.º da Lei Magna, o mandado de segurança é instrumento perene do Direito brasileiro, verdadeira cláusula constitucional pétrea ou imodificável, do que resulta que emenda tendente a aboli-lo sequer poderá ser deliberada (art. 60, § 4.º, IV, da CF/1988). Rege-se primariamente o processo de mandado de segurança pela Lei 12.016/2009, e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil, naquilo em que não haja confronto com a norma especial ou com a essência jurídica do instrumento. 2. Direito líquido e certo A previsão do art. 1.º, caput, da Lei 12.016/2009 contém reiteração dos pressupostos específicos de cabimento do remédio previstos no texto constitucional do art. 5.º, LXIX. De fato, o mandado de segurança se presta à proteção de direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data contra ato ilegal ou abusivo de autoridade pública. De acordo com clássica lição doutrinária, direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da sua impetração. Noutros termos, passível de proteção mediante mandado de segurança será o direito escorado em fatos evidenciados de plano, mediante prova pré-constituída, uma vez que o rito especial da Lei 12.016/2009 não comporta dilação probatória. A interpretação baseada na evolução histórica do instituto no Direito brasileiro revela que o mandado de segurança terá cabimento por mais complexa que se revele a discussão jurídica travada entre as partes. Nada impede que sejam decididas em mandado de segurança questões de alta indagação, a exemplo da alegação de inconstitucionalidade da lei que tenha fundamentado a prática do ato atacado. Com efeito, a expressão direito certo e incontestável, constante da Constituição de 1934 e abolida pelos posteriores ordenamentos, não pode servir de parâmetro para a exegese do requisito ora vigente (direito líquido e certo). Nessa linha, já decidiu o STJ que o direito líquido e certo a que alude o art. 5.º, LXIX, da CF/1988 é aquele cuja existência e delimitação são passíveis de demonstração documental, não lhe turvando o conceito a sua complexidade ou densidade (MS 18.554/DF, 1.ª Seção, rel. Min. Napoleão Maia, DJe 07.02.2014). No mesmo sentido é o enunciado da Súmula 625 do STF, de cujo teor extrai-se que controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança. A complexidade dos fatos, à evidência, também não exclui a utilização do mandado de segurança, bastando que todos se encontrem comprovados de plano (v. STF – RT 594/248). É possível, por exemplo, à pessoa que vê negado pelo INSS seu pedido de pensão previdenciária instituída por companheiro (a), a impetração de mandado de segurança visando à concessão judicial do benefício, bastando que instrua a petição inicialdo mandamus com robustos elementos de convicção (autos de justificação judicial com termos de depoimento de testemunhas, documentos indicando a coabitação e a existência de prole em comum etc.) a dispensar a produção de outras provas no curso do processo. Todavia, os casos para cuja solução a perícia judicial seja imprescindível (v.g., pretensões envolvendo aposentadoria por invalidez ou de auxílio-doença) não podem ser admitidos em sede mandamental. Não raro, a documentação indispensável à prova dos fatos alegados pelo impetrante encontra-se retida pela Administração Pública, cujos agentes costumam atribuir canina fidelidade a ordens de serviços – ou outras normas internas manifestamente ilícitas – que obstruem o acesso do administrado a processos administrativos de seu interesse ou às certidões correlatas. Nesses casos mostra-se invocável a disposição do § 1.º do art. 6.º da Lei 12.016/2009, cabendo ao impetrante, em sua peça inicial, requerer ao juiz que ordene, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou cópia autêntica. Somente a requisição judicial em exame terá o condão de afastar o ilícito impeditivo criado pela própria Administração à utilização de meio eficaz de controle externo de seus atos. A ausência de documentação que tenha resultado de recusa da Administração em fornecê-la à parte impetrante deve ser assim justificada ao juiz, logo na peça inicial do mandamus, a fim de que a requisição aludida seja viabilizada. Noutros termos, deve o impetrante apresentar a documentação que estiver ao seu alcance e evidenciar a negativa administrativa em fornecer o resto, de forma que a prova pré-constituída seja complementada por ordem judicial, exteriorizada na requisição aludida no citado normativo. “1. O mandado de segurança, garantia constitucional marcada pelo rito célere, demanda a apresentação, de pronto, de todos os elementos probatórios suficientes para embasar a alegação de direito líquido e certo contida nas razões do mandamus. 2. A requisição de tais documentos pela autoridade judiciária à autoridade pública imprescinde da prévia negativa do órgão público em relação ao fornecimento de tais evidências. É, portanto, providência subsidiária que não desincumbe a parte impetrante da propositura do mandamus já devidamente instruído com todas as provas pré-constituídas” (STJ, AgRg no RMS 37.954/PE, 2.ª T., j. 26.06.2012, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 06.08.2012). A “teoria da carga dinâmica da prova”, oriunda do direito argentino, e bastante difundida pela doutrina moderna brasileira, em princípio também tem aplicação no rito do mandado de segurança, minimizando a exigência de prova pré-constituída aqui examinada. Tal teoria parte da premissa de que, sendo o processo dinâmico, não faz sentido a fixação estática do ônus da prova, como se em qualquer caso o mesmo estivesse vinculado unicamente a quem alega o fato constitutivo do direito reclamado no processo. Não seria justo, por exemplo, a exigência de prova diabólica, ou seja, aquela cuja produção se revele inviável à parte a quem aproveitaria, e que é assim chamada porquanto, diante da perversidade que denota, sua exigência só poderia ser atribuída a um espírito maligno. Disso resulta a ideia de que o juiz há de exigir a prova da parte que está em melhores condições de produzi-la, ainda que tal elemento seja utilizado na formação de convicção contrária aos seus interesses. Advirta-se que se a parte impetrante estiver em condições razoáveis de produzir a prova que lhe interessa, haverá de suportar o respectivo ônus, ainda que tal produção fosse mais fácil à parte contrária. A relevância da adoção da teoria da carga dinâmica da prova no processo do mandado de segurança é intuitiva. Não se pode exigir da parte impetrante prova pré-constituída, como condição para a utilização do remédio heroico estudado, quando inviável se revele, para ela, sua produção. É que à autoridade apontada como coatora não se atribui apenas a faculdade de juntar, com as informações, as provas que lhe sejam convenientes, mas também o dever de apresentar aquelas cujo ônus de produzir lhe seja imputado. Imagine-se a hipótese de um mandado de segurança impetrado por um servidor público para impugnar o sofrimento de sanção disciplinar aplicada pela Administração por suposto ato de quebra de hierarquia, consistente no envio de correspondência apócrifa aos demais servidores da repartição contendo expressões injuriosas dirigidas ao chefe do serviço. Se o fundamento dessa impetração imaginária consistir na negativa do envio da missiva, restará inviável se exigir do impetrante a prova de não ter sido ele o autor da infração. Trata-se de prova de fato negativo, e, nesse caso, diabólica. Também não seria admissível a rejeição inicial do mandamus, sob o argumento de inexistência de direito líquido e certo, até porque nem mesmo em um processo de rito ordinário, com ampla possibilidade de dilação probatória, o ônus da aludida prova poderia ser imputado ao postulante. Caberia à autoridade indicada como coatora, nesse caso, apresentar os elementos que levaram a Administração a ter o impetrante como o autor do ilícito funcional, porquanto a produção de tal prova ser-lhe-ia plenamente possível (e até mesmo exigível). Não o fazendo, haveria de se ter como autêntica a alegação do servidor impetrante de que não incidiu no desvio funcional. Agora, se a prova eventualmente oferecida pela autoridade fosse contestada, aí sim, o caso seria de extinção do processo sem o julgamento do mérito, diante da controvérsia fática instaurada (ausência de direito líquido e certo). Talvez outro exemplo seja também eloquente. Figure-se um mandado de segurança impetrado contra exigência tributária relativa ao IR, baseada em suposta declaração do próprio contribuinte de acréscimo patrimonial em determinado período sem o recolhimento da correspondente prestação tributária. Se o impetrante alega na impetração que não declarou o indigitado acréscimo patrimonial, como poderia estar compelido a demonstrar isso em juízo? Poderia ele até apresentar cópia de uma suposta declaração oferecida ao Fisco e dela não constar a aquisição de renda mencionada, mas não haveria certeza quanto à autenticidade de tal documento, já que, hoje em dia, a declaração feita pela internet enseja tão somente a impressão de um recibo. É dizer, o conteúdo da declaração apresentada à Receita Federal só pode ser evidenciado, em caráter eficaz e irrefutável, pelo próprio Fisco. Negar a utilização do mandamus, em casos tais, é impor consequência nefasta à parte a quem não poderia ter sido atribuído o ônus da prova, independentemente do tipo de ação escolhida ou do rito ao qual esteja a demanda submetida. É clara, nesse caso, a necessidade de apresentação, pela autoridade dita coatora, da cópia da declaração recebida, de forma a se verificar a existência, ou não, da confissão quanto ao acréscimo patrimonial. E, repise-se, pairando dúvidas no conteúdo da declaração, a demandar a produção de prova no curso do processo, restaria insubsistente, aí sim, o mandado de segurança. Em suma, se a teoria dinâmica do ônus da prova, de acordo com doutrina autorizada, revela-se adequada às modernas tendências do Direito Processual e ao caráter instrumental do processo, não há fundamento lógico que a afaste do rito do mandado de segurança. Alguns julgados aplicam subsidiariamente a norma do art. 284 do CPC1 ao procedimento do mandado de segurança, o que permite ao juiz, mesmo atestando a insuficiência da prova pré-constituída, aceitar que o impetrante apresente documentação suplementar para evidenciar integralmente os fatos alegados. Pensamos, entretanto, ser incabível a invocação do art. 284 do CPC, diante da norma expressa do art. 10, caput, da Lei 12.016/2009, a determinar que a inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso de mandado desegurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração (destaque nosso). Ressalte-se que não se trata de entendimento inédito na jurisprudência formada à luz da revogada Lei 1.533/1951 – que, em seu art. 8.º, continha disposição similar. Porque o mandado de segurança não substitui a ação popular (Súmula 101 do STF), o direito líquido e certo a que se refere a Constituição no art. 5.º, LXIX, é aquele titularizado diretamente pelo impetrante, não cabendo a impetração individual contra atos lesivos ao patrimônio público, à moralidade administrativa etc., que ferem interesses difusos da coletividade em geral, apenas indiretamente afetando a esfera do cidadão impetrante. O STF, por exemplo, no AgRg no MS 32.052/DF, declarou a “ilegitimidade do particular para, na qualidade de cidadão, atuar em face da Mesa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal na defesa de interesse de toda a coletividade” (j. 18.12.2013, rel. Min. Dias Toffoli). Mencione-se, ainda, entendimento da Excelsa Corte sobre o tema, extraído do teor de sua Súmula 474, segundo o qual “não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de segurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal”. Constatada a inexistência de direito líquido e certo, condição específica e constitucional da ação, o caso será de carência de ação a ensejar a extinção do processo sem a apreciação do mérito, na forma do art. 267 do CPC2 – devendo o julgador denegar a segurança, de acordo com a determinação do art. 6.º, § 5.º, da Lei 12.016/2009 –, o que não impedirá a propositura de ação pelo rito ordinário ou até mesmo de novo mandado de segurança, instruído com novas provas, se o prazo de 120 dias (art. 23 da Lei 12.016/2009) ainda estiver em curso. É o que preceitua a Lei 12.016/2009, no art. 6.º, § 6.º, ao estabelecer que “o pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito”. Mesmo para os autores que não veem o direito líquido e certo como condição específica da ação de mandado de segurança, mas como pressuposto processual objetivo (adequação ao procedimento), o efeito de sua inexistência seria o mesmo: invalidar a busca do direito através do writ – desde que o postulante não possa apresentar nova prova pré-constituída ou tenha perdido o prazo de 120 dias –, subsistindo o direito à jurisdição sobre o litígio, ainda que por outra via. Daí o legislador haver explicitado, no art. 19 da Lei 12.016/2009, que “a sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais”. 3. Ato coator O cabimento do mandado de segurança está condicionado não apenas à demonstração de ser a parte impetrante titular de direito líquido e certo, mas à prova de ter sido tal direito violado por ato de autoridade – ou de estar em vias de sê-lo. Trata-se do chamado ato coator, expressão que, para fins de mandado de segurança, indica ato ou omissão de autoridade pública – ou de quem a ela esteja equiparada – eivado de ilegalidade ou abuso de poder. A rigor, ensinam os administrativistas modernos que há redundância na expressão ilegalidade ou abuso de poder. É que sempre que houver vício no que diz respeito aos requisitos de validade do ato administrativo (competência, finalidade, forma, motivo e objeto), haverá ilegalidade. Como o abuso de poder ocorre nos vícios de competência (excesso de poder) ou de finalidade (desvio de poder ou de finalidade), constitui ele uma das formas de manifestação de ilegalidade. A doutrina também admite o ataque mandamental a comportamento de autoridade que venha a se revelar indevido, ainda que não traduzido em ato formal. São os chamados atos materiais da Administração Pública, exemplificados em sinalizações e fechamento de vias públicas, execuções de obras etc. Mesmo não formalizados, tais atos ou comportamentos podem causar lesão a direitos individuais, e, portanto, render ensejo à impetração do writ. O mandado de segurança pode ser repressivo, nos casos em que o ato coator tenha sido efetivamente praticado pelo Poder Público (ou por delegatário de função pública), ou preventivo, que se destina a evitar a prática do anunciado ato, revelador de ameaça a direito. A impetração preventiva tem fundamento na máxima constitucional de que a lei não pode excluir da apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5.º, XXXV). O próprio art. 1.º da Lei do Mandado de Segurança, reproduzindo, nesse ponto, a previsão da revogada Lei 1.533/1951, esclarece ser cabível o instrumento para prevenir violação a direito líquido e certo, quando demonstrado o justo receio de sofrê-la. Exemplo de ameaça a direito que justifica o ataque mandamental preventivo é o do aposentado que recebe correspondência da Previdência chamando-o a se defender em processo que apura existência de fraude na concessão do benefício. Anuncia-se, nesse caso, o ato de suspensão do pagamento dos proventos, de forma a autorizar que, através de mandado de segurança preventivo, o segurado requeira ao juiz que impeça a Administração Previdenciária de praticá-lo. Da mesma forma decidiu o STJ que “é cabível o mandado de segurança preventivo em face de resposta desfavorável à consulta tributária diante de situação concreta, exsurgindo justo o receio do contribuinte de que se efetive a cobrança do tributo” (STJ, REsp 615.335/SP, 1.ª T., j. 11.05.2004, rel. Min. Luiz Fux, DJe 31.05.2004). É claro que o justo receio a que se referiu o legislador não deve ser relacionado ao mero julgamento subjetivo por parte do interessado na impetração concluindo pelo risco de sofrer coação indevida. A ameaça que autoriza o cabimento do mandamus preventivo há de ser real e objetiva, traduzida em atos da Administração preparatórios ou ao menos indicativos da tendência da autoridade pública praticar o ato (ou se omitir deliberadamente, quando esteja obrigada a agir). Por isso, orienta-se o STJ em que “o mandado de segurança preventivo exige efetiva ameaça decorrente de atos concretos ou preparatórios por parte da autoridade indigitada coatora, não bastando o risco de lesão a direito líquido e certo, baseado em conjecturas por parte do impetrante, que subjetivamente entende encontrar-se na iminência de sofrer o dano” (STJ, REsp 431.154/BA, 1.ª T., j. 08.10.2002, rel. Min. Luiz Fux, DJe 28.10.2002). Ausente a prova da efetiva ameaça a direito, o mandado de segurança esbarrará na vedação da impetração contra lei em tese, sumulada pelo STF (Súmula 266). De outra parte, a consumação do ato que o mandado de segurança preventivo tinha por objetivo evitar não enseja o esvanecimento do interesse processual do impetrante, sendo lícito o aproveitamento do mandamus como repressivo a partir de então. Na visão do STJ, “se no curso do processo a ameaça potencial transforma-se em fato, mais razão haverá para se prosseguir no exame da impetração” (STJ, ROMS 10.487/MG, 1.ª T., j. 02.12.1999, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ 21.02.2000). A omissão (ato omissivo) da Administração também é passível de ataque na impetração, porquanto a Constituição Federal de 1988 não a afastou da correção via mandado de segurança ao se referir ao objeto do último no art. 5.º, LXIX (… quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade…). Ocorrerá omissão ilícita sempre que a Administração silenciar ou se mantiver inerte, nas hipóteses em que, por determinação legal ou constitucional, estiver obrigada a se pronunciar ou a agir de determinado modo. Casos típicos de omissão a justificar o ataque mandamental são o silêncio prolongado do agente público diante de pedido de certidão ou de interposição de recurso administrativo e a negativa de implementaçãode direito a que faça jus o impetrante. Quando a Administração pratica atos lançando mão do poder de império estatal (soberania), seus atos são impugnáveis através de mandado de segurança. Exemplos são o lançamento de tributo, o indeferimento de licença e o tombamento. Entretanto, quando a Administração pratica atos bilaterais, típicos de pessoa jurídica de direito privado, não teria cabimento, em princípio, o mandado de segurança. Seria impertinente, pois, a impetração contra cláusulas contidas em contrato administrativo, mesmo fixadas unilateralmente pela pessoa jurídica de direito público, certo que a manifestação de vontade do particular contratante se teria revelado vital para a celebração do negócio, não se podendo cogitar do atributo da imperatividade na espécie. Ganha força no Direito brasileiro, todavia, a tese de que mesmo atuando em relações privadas, o agente da Administração Pública age como autoridade, cabendo a impetração de mandado de segurança contra os seus atos que se revelarem ilegais. O STF já esposou tal entendimento, em julgado expressivo no qual fundamentou sua conclusão no fato de que “a atividade estatal é sempre pública, ainda que inserida em relações de direito privado e sobre elas irradiando efeitos” (STF, MS 21.109/DF, Pleno, j. 08.05.1991, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 19.02.1993). 3.1 Atos praticados por delegação A norma do art. 1.º, § 1.º, da revogada Lei 1.533/1951, permitia a impetração de mandado de segurança contra atos praticados pelos agentes públicos por delegação, no que entendiam tais atos como função delegada. Tal disposição guardava consonância com a norma constitucional do art. 5.º, LXIX, que faz referência à impetração em face de ato ou omissão de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Com a edição da Lei 12.016/2009, permitiu-se, na mesma linha, o ataque mandamental dirigido aos atos praticados por “dirigentes de pessoas jurídicas ou por pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições” (art. 1.º, § 1.º). O STF possui jurisprudência, cristalizada na Súmula 510, fixando o entendimento de que “praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial”. A doutrina sempre emprestou ao termo autoridade pública o conceito mais amplo possível para fins de controle de sua conduta via mandado de segurança, enquadrando como tal qualquer agente que tenha praticado um ato funcionalmente administrativo. Assim, não chega a representar inovação a previsão da Lei 12.016/2009 (art. 1.º, § 1.º) de ataque mandamental a atos praticados por administradores de entidades autárquicas. Tais entidades (autarquias e fundações públicas) são, verdadeiramente, pessoas jurídicas de direito público, dirigidas, portanto, por autoridades públicas. A jurisprudência dominante admite a impetração contra atos praticados por dirigente de pessoa jurídica de direito privado (como os atribuídos ao presidente de empresa pública) típicos de Estado, a exemplo dos atos de licitação, entre outros. Com efeito, da Súmula 333 do STJ extrai-se que “cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública”. Também é reconhecida, v.g., a validade da impetração de mandado de segurança contra atos praticados por dirigentes de estabelecimentos de ensino, quando relacionados com o exercício da atividade a eles delegada, como nos casos de negativa de renovação de matrícula. Não é possível, todavia, que a impetração se dirija contra mero ato de gestão praticado por dirigente de instituição privada delegatária de função pública, a exemplo da cobrança de mensalidades atrasadas ou fixação de calendário do ano letivo por parte de diretor de colégio ou reitor de universidade. Esse entendimento, que já vinha sendo adotado sem vacilações na jurisprudência, acabou positivado na Lei 12.016/2009, cujo art. 1.º, § 2.º, contém disposição que afasta o cabimento do mandado de segurança “contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedades de economia mista e de concessionárias de serviço público”. Excluem-se do ataque mandamental, naturalmente, os atos praticados por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado que não tenham recebido delegação de função pública, como os atos praticados pelos usurpadores de atribuição pública (crime tipificado no art. 328 do CP), dado que a própria Administração é vítima dos mesmos. 3.2 Atos praticados por representantes ou órgãos de partidos políticos Como novidade legislativa, extraída do disposto no art. 1.º, § 1.º, da Lei 12.016/2009, os representantes ou órgãos de partidos políticos foram equiparados a autoridades públicas e, com isso, seus atos passam à classe daqueles que podem ser controlados judicialmente através de mandado de segurança. É livre a criação de partido político (art. 17, caput, da CF/1988), pessoa jurídica de direito privado destinada a assegurar, em nome da democracia, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais (art. 1.º da Lei 9.096/1995). De uma maneira geral, em juízo, a responsabilidade por atos de violação a direito alheio cabe ao órgão partidário municipal, estadual ou nacional que a ela tiver dado causa, ficando excluída, na forma estabelecida no art. 15-A da Lei 9.096/1995 (incluído pela Lei 11.694/2008 e alterado pela Lei 12.034/2009), a solidariedade de outros órgãos de direção partidária.3 Ainda assim, segundo a norma contida no parágrafo único do art. 11 da Lei 9.096/1995, o delegado credenciado por órgão de direção representa o partido político perante a Justiça Eleitoral, daí por que pode ter seus atos combatidos através de mandado de segurança. Já na Casa Legislativa, o partido político funciona por intermédio de uma bancada – que deve constituir sua liderança, na forma do art. 12 da Lei 9.096/1995 – que, assim, pratica atos passíveis de ataque na via do writ. Podem-se imaginar alguns casos de possíveis impetrações de mandados de segurança contra atos de representantes ou órgãos de partidos políticos. Integrante de bancada do partido, que “deve subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção partidários” (art. 24 da Lei 9.096/1995), pode-se valer do writ para questionar determinada linha de atuação que lhe seja imposta pelo partido, sob o exemplificativo fundamento de estar em confronto com mandamento constante do estatuto da entidade. Mesmo a imposição de quaisquer medidas disciplinares básicas de caráter estatutário, assim como a aplicação de penalidades exteriorizadas em desligamento temporário da bancada, suspensão do direito de voto em reuniões internas ou perda de prerrogativas (art. 25 da Lei 9.096/1995), podem levar o parlamentar a buscar, via mandado de segurança, o controle judicial correlato, alegando, v.g., inobservância do contraditório e da ampla defesa, desproporcionalidade da sanção etc. A aplicação dos recursos oriundos do Fundo Partidário desviada da destinação estabelecida no art. 44 da Lei 9.096/1995 se afigura, também, outro exemplo de prática passível de impugnação através do remédio heroico. De se ressaltar que os atos praticados por dirigentes de fundações ou de instituições de direito privado criadas por partidos políticos não podem ser controlados em juízo através de mandado de segurança. É que as referidas instituições, na forma estabelecida no art. 53 da Lei 9.096/1995, são regidas pela lei civil, têm personalidade jurídica própria e, assim, não se enquadram como “órgãos de partidos políticos” para os fins da Lei 12.016/2009. Evidentemente, os atos de gestão praticados por dirigentes de partidos políticos – demissão de empregados, celebraçãode contratos, mudança de endereço etc. –, porque não dizem diretamente respeito à atividade partidária em si, também estão imunes ao controle judicial via mandado de segurança. No particular, aplica- se, por analogia, a vedação do § 2.º do art. 1.º da Lei 12.016/2009. 3.3 Ato legislativo Muito se discute sobre a validade da impetração de mandado de segurança contra ato legislativo, que não se confunde com ato administrativo praticado por autoridade legislativa (como os atos da Mesa da Câmara dos Deputados). Os tribunais pátrios prestigiam, rotineiramente, o entendimento contido na Súmula 266 do STF, a teor da qual “não cabe mandado de segurança contra lei em tese”. De acordo com a orientação citada, não se pode pleitear através de mandado de segurança a invalidação da lei, mas sim o desfazimento do ato que, escorado nela, tenha violado direito líquido e certo do impetrante. Não deve o contribuinte, por exemplo, dirigir a impetração diretamente contra a lei instituidora do tributo, por considerar a mesma inconstitucional, deduzindo pedido no sentido de ser a norma nulificada pelo julgador. O mandado de segurança, nesse caso, há de ter por objeto imediato o ato da administração que venha a exigir o tributo havido por ilícito, sendo a inconstitucionalidade da lei a causa petendi. A bem da verdade, a discussão judicial da lei em tese é deferida apenas ao STF, exercendo o controle concentrado de constitucionalidade das leis e atos normativos. Quando se faz referência à expressão lei em tese, quer-se aludir à lei material, ou seja, qualquer instrumento normativo que contenha comando de conduta genérico, dotado de abstração e impessoalidade. Por isso, mesmo um decreto regulamentar, ato administrativo em sua forma, há de ser considerado lei material em sua essência, em molde a afastar sua impugnação direta através do mandamus. Hipótese excepcional consiste na impetração de mandado de segurança contra lei de efeitos concretos, qual seja, lei formal, porque emanada do Poder Legislativo e submetida a processo legislativo, mas não material, pois sem o caráter de abstração e generalidade, atingindo pessoa(s) determinada(s). Contra ela cabe o ataque mandamental por se tratar de lei autoexecutória ou self-enforcing (exemplo: lei que defina área como sujeita a restrições para proteção do meio ambiente). A lei de efeitos concretos tem, na verdade, forma de lei, mas conteúdo de ato administrativo. Como ressaltado pelo STF, é da essência de tal lei que a produção de efeitos lesivos ao cidadão ocorra independentemente de qualquer ato que seja necessário a que a norma se torne concretamente eficaz (STF, MS 20.993/DF, Pleno, j. 07.08.1992, rel. Min. Moreira Alves, DJ 02.10.1992). Os atos considerados interna corporis do Legislativo, como, por exemplo, os relacionados à interpretação de normas regimentais ou aos motivos que ensejam a cassação de mandato de parlamentar por falta de decoro, estão imunes ao controle judicial, via mandado de segurança ou qualquer outro veículo. Na dicção do Pretório Excelso, “escapa ao controle do Judiciário, no que concerne a seu mérito, juízo sobre fatos que se reserva, privativamente, à Casa do Congresso Nacional formulá-lo” (STF, MS 23.388/DF, Pleno, j. 25.11.1999, rel. Min. Néri da Silveira, DJ 20.04.2001). Como exemplo, tome-se também o julgamento do AgRg no MS 25.588/DF, no qual decidiu o STF que “a sistemática interna dos procedimentos da Presidência da Câmara dos Deputados para processar os recursos dirigidos ao Plenário daquela Casa não é passível de questionamento perante o Poder Judiciário, inexistente qualquer violação da disciplina constitucional” (Pleno, j. 02.04.2009, rel. Min. Menezes Direito, DJe 08.05.2009). Evidentemente, não são interna corporis os atos que digam respeito ao processo legislativo previsto em normas constitucionais – ainda que reproduzidas no regimento da Casa Legislativa –, certo que a violação destas caracteriza inobservância do devido processo legal, a autorizar o ataque mandamental. 3.4 Atos passíveis de Habeas Corpus e Habeas Data Não cabe mandado de segurança contra atos que dão causa a habeas corpus e habeas data (art. 5.º, LXIX, da CF/1988 – “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data…”), ou seja, atos que afetam a liberdade de locomoção (art. 5.º, LXVIII, da CF/1988) e atos de negativa de fornecimento e de retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros mantidos pelo Poder Público (art. 5.º, LXII, da CF/1988). A Lei 12.016/2009, nesse passo, em seu art. 1.º, caput, reproduziu a vedação constitucional. Já se sustentou que na hipótese de cerceamento de liberdade de locomoção decorrente de punição disciplinar militar, tendo a Constituição Federal de 1988 vedado a utilização do habeas corpus (art. 142, § 2.º), caberia mandado de segurança, em caso de ilegalidade ou abuso de poder na imposição da pena, por decorrência da garantia de acesso ao Judiciário (art. 5.º, XXXV). É fato, contudo, que a jurisprudência do STF, interpretando o comando constitucional do art. 142, § 2.º, permitiu a análise, via habeas corpus, dos pressupostos vinculados do ato punitivo militar, vedando apenas a análise do mérito da sanção – a qual, através do mandado de segurança, com muito mais razão, não poderia ser admitida (v. STF, HC 70.648/RJ, 2.ª T., j. 09.11.1993, rel. Min. Moreira Alves, DJ 04.03.1994). Tal entendimento vem sendo perfilhado também pelo STJ (v. STJ, RHC 8.846/SP, 6.ª T., j. 14.12.2000, rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ 24.09.2001; HC 211.002/SP, 2.ª T., j. 01.12.2011, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 09.12.2011), do que resulta ser o mandado de segurança absolutamente inadequado à espécie. 3.5 Atos do Ministério Público Membro do Ministério Público pode ser autoridade coatora, porquanto o poder de presidência de inquéritos civis públicos, por exemplo, torna a referida autoridade passível de ser indicada como tal em mandados de segurança que visem atacar atos do aludido procedimento que violarem direitos dos investigados. É verdade que os atos praticados no bojo de inquéritos civis são meramente preparatórios de uma decisão final sobre a propositura da ação civil pública. Nesse sentido, tais atos estariam relacionados à mera coleta de informações e subsídios a lastrear a formação da opinio do Parquet, sem que se pudesse aventar coação ou violação a direito individual do investigado, o qual, uma vez tornado réu na ação civil pública, passaria a estar submetido às determinações judiciais, com direito ao contraditório e à ampla defesa. Contudo, não se há de descurar que o inquérito é eficaz instrumento de pressão contra o investigado e muitas vezes traz consequências que diretamente lhe são nocivas, tais como a paralisação de investimentos, a necessidade de prestação de informações cujo sigilo lhe seja conveniente etc. Portanto, não há razão para se afastar do controle via mandado de segurança o ato ilegal (por ausência de competência, por vício de forma etc.) praticado por membro do Ministério Público em inquérito civil público ou em qualquer outro procedimento de investigação. 3.6 Atos judiciais e outros Quanto aos atos de que caiba recurso com efeito suspensivo independentemente de caução e aos atos judiciais, confiram-se os comentários tecidos ao art. 5.º da Lei 12.016/2009. 4. Legitimação Legitimado a impetrar mandado de segurança é o titular do direito líquido e certo, alegadamente violado ou em vias de sê-lo. A Lei 12.016/2009, ao permitir expressamente, em seu art. 1.º, que pessoas físicas e pessoas jurídicas impetrem mandado de segurança, deve ser interpretada como a abarcar nesse permissivo também as universalidades reconhecidas por lei, tais como massa falida, espólio, condomínio, dotadas que são da chamada personalidade judiciária. Nada impede que o impetrante sejapessoa jurídica de direito público, desde que titular de direito afetado por ato de autoridade pública. Autores clássicos na doutrina brasileira sustentaram que a entidade pública não poderia se valer de remédio constitucional caracterizado como garantia individual do cidadão e em cujo rito haveria uma quebra do princípio da igualdade das partes em favor do cidadão impetrante, de forma a compensar sua hipossuficiência diante do Poder Estatal. Hoje, todavia, parece predominante na doutrina e uniforme na jurisprudência a tese que admite a impetração por pessoa jurídica de direito público. Aliás, mesmo órgãos públicos sem personalidade jurídica, mas titulares de prerrogativas próprias ou direitos a defender, poderão ser sujeitos ativos na relação processual do mandado de segurança. Câmaras e assembleias legislativas, tribunais de contas, entre outros órgãos, podem, pois, impetrar o writ. Na mesma trilha, o STF reconheceu ao Procurador-Geral da República legitimidade para impetrar mandado de segurança na defesa de sua competência ou no exercício de suas prerrogativas (STF, MS 21.239/DF, Pleno, j. 05.06.1991, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 28.06.1991). Questão relevante é saber se o estrangeiro não residente no Brasil também é parte legitimada a impetrar mandado de segurança. Da possibilidade aventada já foram vislumbrados na doutrina reflexos fáticos curiosos, tais como a possibilidade de milhões de estrangeiros não residentes encherem os tribunais brasileiros com processos múltiplos, ou, em caso de guerra externa, ficar o Brasil à mercê do “ataque judicial” perpetrado pelo inimigo contra medidas que todos os povos em tal situação adotam. Prevalece, entretanto, o entendimento de que malgrado o teor do art. 5.º, caput, da CF/1988, ao apresentar o elenco das garantias fundamentais, tenha feito referência aos estrangeiros residentes no País, não se pode subtrair importante instrumento de combate a ato de autoridade lesivo a interesse subjetivo apenas em função do local de moradia do prejudicado. Assim, decidiu o STF que “ao estrangeiro, residente no exterior, também é assegurado o direito de impetrar mandado de segurança, como decorre da interpretação sistemática dos arts. 153, caput, da EC de 1969, e do 5.º, LIX, da Constituição atual” (STF, RE 215.267/SP, 1.ª T., j. 24.04.2001, rel. Min. Ellen Gracie, DJ 28.05.2001). O Ministério Público tem legitimidade para, no exercício de suas atribuições constitucionais (art. 129 da CF/1988), impetrar mandado de segurança contra conduta abusiva do Poder Público, o que se concretiza com frequência, por exemplo, no processo penal e nos casos de lesão a direito do menor, consoante as disposições dos arts. 210, I e 212, § 2.º, da Lei 8.069/1990 (ECA). Prevê, ainda, a Lei 12.016/2009, reproduzindo disposição idêntica contida na revogada Lei 1.533/1951, que “quando o direito ameaçado ou violado couber a várias pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança” (art. 1.º, § 3.º). É que, havendo comunhão no direito, a lesão a este desperta o interesse processual de qualquer de seus titulares. Exemplo tradicional na doutrina é o da contratação para o serviço público de pessoa que não tenha prestado concurso público, em detrimento de diversos candidatos aprovados no certame e que aguardavam a devida nomeação. Qualquer deles poderá, isoladamente, impetrar mandado de segurança, com o intuito de invalidar a referida contratação. Nesse sentido também é o teor da Súmula 628 do STF, segundo o qual “integrante de lista de candidatos a determinada vaga da composição de tribunal é parte legítima para impugnar a validade da nomeação de concorrente”. Falecendo a pessoa física impetrante, no curso do processo, não caberá pedido de habilitação de seus sucessores no polo ativo da relação processual, ainda que se trate de discussão envolvendo direitos patrimoniais, porquanto os tribunais superiores uniformizaram entendimento segundo o qual em razão do caráter mandamental e da natureza personalíssima da ação, é incabível a sucessão de partes em processo de mandado de segurança (v. STJ, EDcl no MS 11.581/DF, 3.ª Seção, j. 26.06.2013, rel. Min. Og Fernandes, DJe 01.08.2013 e STF, QO no MS 22.130/ RS, Pleno, j. 13.03.1997, rel. Min. Moreira Alves, DJ 30.05.1997). Os interesses dos sucessores, nesse caso, devem ser perseguidos na via ordinária. Admite o STJ, todavia, a habilitação de herdeiros no caso excepcional de o mandamus estar em fase de execução (STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.415.781/PR, 2.ª T., j. 22.05.2014, rel. Min. Humberto Martins, DJe 28.05.2014). 1. A disposição, ao que parece, será reproduzida novo Código de Processo Civil, encontrando tratamento similar no art. 295 do PLS 166/2010 (aprovado pelo Senado Federal) e no art. 322 da redação final do Substitutivo da Câmara dos Deputados (8.046/2010). 2. A disposição será reproduzida novo Código de Processo Civil, encontrando tratamento similar no art. 472 do PLS 166/2010 (aprovado pelo Senado Federal) e no art. 495 da redação final do Substitutivo da Câmara dos Deputados (8.046/2010). 3. Dispõe o parágrafo único do citado artigo 15-A da Lei nº 9.096/95 que o órgão nacional do partido político, quando responsável, somente poderá ser demandado judicialmente na circunscrição especial judiciária da sua sede, inclusive nas ações de natureza cível ou trabalhista. De qualquer modo, para efeito de impetração de mandado de segurança, como se sabe, a competência se define no local onde a autoridade coatora exerce a sua função, o qual, no caso, do dirigente do órgão nacional do partido político, há ser, mesmo, o da sede do referido órgão. Da leitura dos dois artigos, verifica-se que a inovação ocorreu na parte final do novo dispositivo, o qual passou a mencionar “União ou entidade por ela controlada” em vez de União Federal e suas autarquias, que era mais restritivo. A literalidade da redação do artigo revogado é razoável, uma vez que em 1951, na administração indireta, predominavam as autarquias, que são pessoas jurídicas de direito público interno. Apesar disso, por compreensão extensiva, consideravam-se federais as autoridades que praticassem atos considerados ilegais ou abusivos, no exercício de atribuições do poder público quando, também, as consequências patrimoniais incidissem sobre entidades paraestatais federais, da denominada administração indireta, nos termos do art. 4.º, II, do Dec.-lei 200/1967. Vale dizer, a prática do ato ocorria no âmbito da delegação de tal natureza, conforme, aliás, sumulado pelo STF em seu verbete 510, a saber: “Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial”. A inovação legislativa, no ponto, deixou clara e mais técnica a norma, a qual, naturalmente é extensiva aos Estados-membros, Distrito Federal, Municípios e respectivos órgãos de suas administrações indiretas (autarquias, fundações, entidades paraestatais em geral), observados, sempre, os requisitos específicos da ação de pedir segurança. Corolário natural de tal preceito será a definição da competência jurisdicional para se contrastar o respectivo ato impugnado. Sendo federal a autoridade, ou não o sendo, estritamente, mas, tendo a prática do ato, ou a ameaça fundada de sua prática, se dado no exercício de atribuição delegada de tal natureza, a competência, como regra, será da Justiça Federal (art. 109, I e VIII, da CF/1998), ressalvadas as hipóteses de competência originária de Tribunais, estabelecida na Constituição (STF: art. 102, I, d e r; STJ: art. 105, I, b; TRFs: art. 108, c; Justiça do Trabalho: art. 114, IV). Em relação aos demais entes federativos e seus órgãos, as Constituições Estaduais e Leis de Organização Judiciária dispõem, em seus respectivos âmbitos, acerca das competências para conhecer e julgar ações de pedir segurança, em face de suas autoridades, quando coatoras. A ProfessoraLúcia Valle Figueiredo, em “Mandado de Segurança” (6. ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 53-54), sob a epígrafe “Agentes públicos como autoridades coatoras”, leciona: “Inicialmente, assinalamos que o atual texto constitucional acompanha pari passu a doutrina e amplia o horizonte de pessoas que podem ser autoridades coatoras. Deveras, ao tratar da responsabilidade do Estado, a Constituição da República asseverou que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso, caso haja dolo ou culpa do funcionário. Vê-se, portanto, que se alargou o conceito de agente público e, de conseguinte, o conceito de quem possa ser autoridade coatora no mandado de segurança. Claro está que a doutrina já via como passíveis de serem coatores os delegados de serviços públicos, os prestadores de serviço público, os concessionários ou permissionários. Enfim, o espectro daqueles que poderiam ser autoridades coatoras já estava bastante dilargado pela doutrina. Todavia, sempre existia tendência jurisprudencial e, às vezes, também, alguma divergência doutrinária sobre quem poderia ser autoridade coatora, porque a questão fulcrava-se em definir quem poderia ser classificado como funcionário público – ou, melhor dizendo, “agente público”, expressão mais abrangente. O conceito de agente público viu-se, então, ampliado em nível constitucional, como assinalado, porque doutrinariamente já era bastante amplo. Compreendia a expressão não apenas funcionários públicos, mas também agentes políticos, servidores e todos os que participassem da Administração Pública, ainda que com contrato por tempo determinado, aqueles célebres contratos que se eternizavam. Encartavam-se nessa categoria diretores de faculdades, pois exercem atividade delegada do serviço público. Todos esses já eram considerados autoridades coatoras”. O questionamento acerca desse tema é recorrente. Oportuno, assim, trazer a lume alguns julgados do STJ: “Processual Civil. Conflito negativo de competência. Mandado de segurança. Ato de diretor de faculdade privada. Competência da justiça federal. 1. Cinge-se a controvérsia em definir o juízo competente para processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato de Diretor de faculdade privada, que impediu a rematrícula do impetrante em seu curso de graduação. 2. O Juízo de Direito declinou da competência ao argumento de que “tratando- se de mandado de segurança impetrado contra ato de Diretor de faculdade particular de ensino, que atua por delegação do Poder Público Federal, a competência para o julgamento do writ é da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso VIII, da Constituição Federal”. 3. O Juízo Federal suscitou o presente conflito aduzindo que o artigo 2.º, da Lei 12.016/2009 “restringe a atuação da autoridade apontada como coatora para que seja considerada como ‘federal’ aquela autoridade de que emanem atos que tenham consequência patrimonial a ser suportada pela União Federal ou por entidade por ela controlada”. 4. A alteração trazida pela Lei 12.016/2009 com relação ao conceito de autoridade federal em nada altera o entendimento há muito sedimentado nesta Corte acerca da competência para julgamento de mandado de segurança, já que não houve modificação substancial na mens legis. 5. O mero confronto dos textos é suficiente para corroborar a assertiva. O artigo 2.º da nova lei define “autoridade federal” para fins de impetração do mandamus, nos seguintes termos: “Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada”. 6. Já o artigo 2.º da Lei 1.533/1951 dispunha: “Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União Federal ou pelas entidades autárquicas federais”. 7. Permanece inalterado o critério definidor da competência para o julgamento de mandado de segurança, em que se leva em conta a natureza das pessoas envolvidas na relação processual, ratione personae, sendo irrelevante, para esse efeito e ressalvadas as exceções mencionadas no texto constitucional, a natureza da controvérsia sob o ponto de vista do direito material ou do pedido formulado na demanda. 8. Nos processos em que envolvem o ensino superior, são possíveis as seguintes conclusões: a) mandado de segurança – a competência será federal quando a impetração voltar-se contra ato de dirigente de universidade pública federal ou de universidade particular; ao revés, a competência será estadual quando o mandamus for impetrado contra dirigentes de universidades públicas estaduais e municipais, componentes do sistema estadual de ensino; b) ações de conhecimento, cautelares ou quaisquer outras de rito especial que não o mandado de segurança – a competência será federal quando a ação indicar no polo passivo a União Federal ou quaisquer de suas autarquias (art. 109, I, da Constituição da República); será de competência estadual, entretanto, quando o ajuizamento voltar-se contra entidade estadual, municipal ou contra instituição particular de ensino. 9. Na hipótese, cuida-se de mandado de segurança impetrado por aluno com o fim de efetivar sua rematrícula na Faculdade de Administração da FAGEP/ Unopar – entidade particular de ensino superior – o que evidencia a competência da Justiça Federal. 10. Conflito negativo de competência conhecido para declarar a competência do Juízo Federal, o suscitante. (CC 108.466/RS, rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, DJe 01.03.2010, grifei).” “Administrativo. Constitucional. Processual civil. Mandado de segurança. Investidura. Petrobras. Sociedade de economia mista. Legitimidade passiva. Competência da justiça federal. 1. Trata-se, na origem, de Agravo de Instrumento contra decisão de 1.º Grau que declinou da competência da Justiça Estadual, remetendo os autos à Justiça Federal para examinar Mandado de Segurança impetrado contra a Gerente de RH da Petrobras, o qual objetivava investidura de sujeito no cargo de inspetor interno de segurança. 2. Os atos praticados por dirigentes de sociedades de economia mista relacionados (como a Petrobras) com a contratação de pessoal não são considerados “mera gestão”. Os dirigentes de tais sociedades estão legitimados a figurar como autoridade coatora. Precedentes do STJ. 3. Em Mandado de Segurança, a competência ratione autoritatis (em função da natureza da autoridade impetrada) impõe que o writ seja julgado pela Justiça Federal. Precedentes do STJ. 4. Agravo Regimental não provido. (A Resp 39.578/RJ, rel. Min. Herman Benjamin, Segunda T., DJe 12.04.12, grifei).” Vale conferir, ainda, os seguintes enunciados sumulares a respeito da matéria: • 248/STF: “É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal, para mandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da União”; • 330/STF: “O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado de segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados”; • 429/STF: “A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade”; • 510/STF: “Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial”; • 511/STF: “Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandado de segurança, ressalvada a ação fiscal, nos termos da Constituição Federal de 1967, art. 119, § 3.º”; • 333/STJ: “Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresapública”; • 376/STJ: “Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de Juizado Especial”; • 15/TFR: “Compete à Justiça Federal julgar mandado de segurança contra ato que diga respeito ao ensino superior, praticado por dirigente de estabelecimento particular”; • 16/TFR: “Compete à Justiça Estadual julgar mandado de segurança contra ato referente ao ensino de 1.º e 2.º graus e exames supletivos (Lei 5.692/1971), salvo se praticado por autoridade federal”; • 60/TFR: “Compete à Justiça Federal decidir da admissibilidade de mandado de segurança impetrado contra atos de dirigentes de pessoas jurídicas privadas, ao argumento de estarem agindo por delegação do poder público federal”; • 216/TFR: “Compete à Justiça Federal processar e julgar mandado de segurança impetrado contra ato de autoridade previdenciária, ainda que localizada em comarca do interior”. A norma em comento estabelece contornos mais precisos à previsão inserida no art. 3.º da Lei 1.533/1951, que restou revogada pela atual lei. Parece ser uníssono o fato de que se trata de previsão que extrapola a legitimidade ordinária prevista no art. 6.º do CPC (“Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.”), permitindo que o não titular de direito exerça o direito de ação, o que se convenciona denominar de legitimação extraordinária (Cássio Scarpinella Bueno. Mandado de Segurança. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 56). Essa regra de legitimação também consta no projeto do novo CPC (art. 18). Duas mudanças podem ser observadas em relação à redação anterior: a) fixação do prazo de trinta dias para que o titular originário do direito possa exercer o seu direito de ação; b) especificação de que o prazo para o exercício do Mandado de Segurança é de cento e vinte dias, contado da data da notificação. Quanto à razoabilidade do prazo de trinta dias para que o autor originário possa sair de sua inércia, parece que não há ofensa ao tão decantado princípio. Como bem apontava J. M. Othon Sidou, em anotação ao art. 3.º da lei revogada, não seria razoável outorgar prazo de cento e vinte dias para o exercício do direito originário, pois assim caducaria o direito do substituto (Mandado de Segurança. São Paulo: RT, 1969, p. 283). Pode-se debater quanto à não preservação do prazo de cento e vinte dias, a contar do término do prazo outorgado pela notificação. Nessa linha, o autor que substitui o titular originário perde esse período para a impetração, o que não se revela adequado vez que nada poderá realizar antes da fluência do prazo legal imposto para o exercício do direito de ação. Ressalve-se que, apesar de abalizada doutrina (Redondo, Bruno; Oliveira, Guilherme; Cramer, Ronaldo. Mandado de Segurança. Rio de Janeiro: Método, 2009), defender a inconstitucionalidade do prazo de cento e vinte dias para a impetração, a jurisprudência fixou-se no sentido de sua constitucionalidade, até mesmo pela inércia, ao admitir a natureza decadencial do prazo, na esteira da maioria da doutrina (Sérgio Ferraz, Mandado de Segurança, São Paulo: Malheiros, 2006). Coube a Sérgio Ferraz (Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 222-227) a análise mais detida sobre o tema em foco, invocando as interpretações da corrente considerada majoritária, identificada pelos juristas Othon Sidou, Hugo de Brito Machado, Francisco Wildo Lacerda Dantas e Lucia Valle Figueiredo, que, em suma, entendem ser o prazo razoável e não existir colidência entre a lei que fixa prazo para o exercício de direitos, mesmo fundamentais, e a Constituição Federal. Aduz que a corrente minoritária, capitaneada pelo Ministro aposentado do STF, Carlos Mário Velloso, parece ter razão à luz de interpretação lastreada no texto constitucional que não contém regra limitadora ao exercício do mandamus. Sob a égide da legislação revogada, José da Silva Pacheco indicava a necessidade de imbricação de dois direitos líquidos e certos: o do titular originário e o do legitimado extraordinário. Mantém-se silente quanto ao prazo que seria considerado razoável vez que não especificado na norma anterior (O Mandado de Segurança e outras ações constitucionais típicas. São Paulo: Ed. RT, p. 232). Outro ilustre comentador do writ constitucional, Sérgio Ferraz explicitava que a notificação poderia ser judicial ou extrajudicial (Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 70), aderindo aqui o pensamento explanado por Cássio Scarpinella Bueno. Tal interpretação também pode ser aplicada diante da novel lei que mantém a restrição indicando a notificação judicial hoje francamente em desuso diante da demora notória da prestação jurisdicional e, no ponto inverso, através da conhecida eficiência dos cartórios extrajudiciais. Buscando-se a adequada interpretação quanto às consequências da substituição processual pode-se, sobre o tema, invocar as clássicas lições de Ephraim de Campos Júnior, afirmando: (a) o substituto é parte, tendo direito de ação; (b) é alcançado pelos efeitos da coisa julgada; (c) não se torna titular do direito material do substituído; (d) dispõe do processo pendente (Substituição Processual. São Paulo: Ed. RT, 1985, p. 27). No sentido de que os efeitos da coisa julgada atingem substituto e substituído também se pronuncia Sérgio Ferraz (Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 70). Embora defendendo a distinção entre autoridade da coisa julgada e efeito da sentença, Antonio Carlos de Araújo Cintra admite que ocorre a impossibilidade de o substituído rediscutir a causa (apud Campos Júnior, Ephraim de. Substituição processual. São Paulo: Ed. RT, 1985, p. 77). Em posição oposta, embora restringindo-se à seara tributária, Mauro Luis Rocha Lopes, aduz, expressamente, que o substituído não poderá ser atingido pela coisa julgada afirmando que o mesmo não poderia ser prejudicado pela impetração do substituto, embora não discorra sobre o suporte de sua interpretação (Processo judicial tributário. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 308). Admite-se também o ingresso do substituído no processo. Aqui grassa divergência, afirmando Leonardo Greco que a intervenção, nesse caso, seria como assistente. Entendendo tratar-se de litisconsórcio, Sérgio Ferraz invoca o magistério de Alfredo Buzaid (Mandado de Segurança. São Paulo: Malheiros, p. 70). Nesse ponto o novo CPC aduz que o ingresso ocorrerá como assistente (art. 18). Dentre todos os autores que se debruçaram sobre o tema parece que Eduardo Arruda Alvim (Mandado de Segurança no direito tributário. São Paulo: Ed. RT, 1997, p. 47), foi o que mais luz trouxe sobre a aplicabilidade prática de tal dispositivo, invocando, inicialmente, exemplo trazido por Hugo de Brito Machado que admitiu a possibilidade de contribuinte de fato ingressar em juízo desde que tenha notificado o contribuinte de direito, para questionar exação, tida como ilegal ou inconstitucional. Também na seara tributária, colhe hipótese apresentada por Nelson e Rosa Nery sobre a legitimidade de o locatário postular quanto à ilegalidade/ inconstitucionalidade do IPTU, diante da inércia do locador. Aduz que, nesse caso, há divergência jurisprudencial, admitindo alguns arestos a legitimidade direta do locatário e a maioria rejeitando tal postura interpretativa. Nesse ponto, há de se concordar com Eduardo Arruda Alvim no sentido de que, a autorização expressa na lei do inquilinato em vigor (Lei 8.245/1991, art. 25. “Atribuída ao locatário a responsabilidade pelo pagamento dos tributos, encargos e despesas ordinárias de condomínio, o locador poderá cobrar tais verbas juntamente com o aluguel do mês a que se refiram. Parágrafo único. Se o locador antecipar os pagamentos, a ele pertencerão as vantagens daí advindas, salvo se o locatário reembolsá-lo integralmente.”), que reproduz norma tradicionalmente inserida nas leis que regularam a matéria, de permitir o repasse da responsabilidadepelo pagamento dos impostos incidentes sobre a coisa locada, através de cláusula contratual, não pode ser oposta ao Fisco a teor da regra inserta no art. 123 do CTN (Mandado de Segurança no direito tributário. São Paulo: Ed. RT, 1997, p. 47-48). Pelos mesmos motivos, divergimos de Hugo de Brito Machado Segundo (Substituição tributária e realidades afins – legitimidade ativa ad causam. Revista Jus Vigilantibus, 30.12.2002) que defende que o locatário poderá propor ação para questionar a legalidade ou constitucionalidade do IPTU, sem anuência ou comunicação ao locador. Aduz ser comum a inserção de cláusula outorgando representação ao locatário para que o mesmo possa propor ação. Neste último caso, trata-se de mandato, possível mesmo que não conste do contrato de locação. Não há, assim, legitimação extraordinária, mas ordinária do locador. No sentido da ilegitimidade do locatário, no caso em tela: “Mandado de segurança. Tributário. Processual civil. Irresignação quanto à alíquota aplicada pela municipalidade como base de cálculo dos valores de IPTU dos imóveis locados ou de propriedade do Impetrante, nos quais exerce suas atividades. Sentença que denega a segurança reconhecendo a ilegitimidade passiva ad causam quanto aos imóveis locados e extingue o feito sem julgamento de mérito relativamente aos imóveis próprios, por inexistir direito líquido e certo. Apelo. Ilegitimidade ativa ad causam do locatário para propor ações que versem sobre alíquotas utilizadas como base de cálculo de IPTU. Embora seja possuidor, não detém a condição de contribuinte, não se enquadrando no comando normativo do art. 34 do CTN. Precedentes do STJ. Inexistência de direito líquido e certo a ser amparado. Necessidade de dilação probatória incabível em mandado de segurança. Recurso improvido. Sentença que se mantém.” (TJRJ, Apelação, 18.ª Cam. Civ., j. 18.08.2009, rel. Des. Pedro Freire Raguenet). O STJ também possui precedente no mesmo diapasão: “Processual civil. Mandado de Segurança. Extinção sem resolução do mérito. Prequestionamento parcial. IPTU. Ilegitimidade do locatário. Divergência jurisprudencial. Ausência de similitude. 1. O Tribunal de origem não analisou, sequer implicitamente, os arts. 12 da Lei 1.533/1951, 557, do CPC. Assim, impõe- se o não conhecimento em parte do recurso especial, por ausência de prequestionamento. Incide no caso as súmulas n. 282 e 356 do STF. 2. A Jurisprudência desta corte perfilha o entendimento de que o locatário é alheio à relação jurídico-tributária referente ao IPTU, de modo que não cabe a ele nela figurar seja como sujeito ativo, seja como passivo. 3. Não há similitude fática em relação à divergência jurisprudencial, porquanto o acórdão a quo decidiu matéria diversa do decisum; qual seja, a extinção, sem resolução do mérito, do mandado de segurança, em sede de agravo de instrumento, ante a ilegitimidade ativa do impetrante, enquanto que os acórdãos paradigmas referem-se à prejudicialidade do acórdão proferido em agravo de instrumento, diante da prolação de sentença. Recurso especial conhecido em parte e improvido” (STJ, REsp 200602584122, 2.ª T., j. 13.03.2007, rel. Min. Humberto Martins). Outro precedente, mais minucioso, estabelece que o locatário não é sujeito passivo da obrigação tributária pertinente ao IPTU e nem responsável tributário: “Agravos Regimentais no Recurso Especial. Mandado de Segurança que impugna lançamentos de IPTU e taxas. Acórdão recorrido que está em desconformidade com a jurisprudência dominante deste tribunal superior, especificamente no tocante à ilegitimidade daqueles impetrantes que são apenas locatários dos imóveis e quanto à decadência do direito à impetração, em relação aos que ingressaram nos autos como litisconsortes ativos facultativos após a concessão da medida liminar. Desprovimento dos Agravos Regimentais. 1. Mantém-se a reforma do acórdão proferido pela corte estadual, no ponto em que consta que ‘o locatário é possuidor direto do imóvel, estando abrangido pelo art. 34 do CTN e, assim sendo, possui legitimidade para postular a revisão do tributo’, pois é cediço que o locatário é parte ilegítima para impugnar os lançamentos de IPTU, porquanto não se enquadra na sujeição passiva como contribuinte, nem como responsável tributário. 2. De acordo com a Súmula n. 632/STF, ‘é constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança’. Outrossim, consoante já proclamou a Quarta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, ‘o prazo de decadência para a propositura de mandado de segurança não se suspende ou interrompe pela superveniência de férias forenses’ (RMS 10.138/CE, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 15.03.1999, p. 225). Sobre a fluência do prazo decadencial, o doutrinador Milton Flaks leciona: ‘Em regra, os regulamentos administrativos disciplinam a comunicação dos atos oficiais, prevendo as hipóteses de intimação pessoal (in faciem), postal ou por edital. Feita a comunicação na forma regulamentar, presume-se a ciência do interessado na data em que se completou’ (Mandado de segurança: pressupostos da impetração, 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 197-198). A Lei Municipal 691/1984, em seu art. 68, assim dispõe sobre a forma de comunicação do lançamento do IPTU, pelo Município do Rio de Janeiro: ‘Art. 68. O lançamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana é anual, considerando-se regularmente notificado o sujeito passivo desde que tenham sido feitas publicações na Imprensa Oficial dando ciência ao público da emissão das respectivas guias de pagamento’ (grifou-se). 3. No caso concreto, considerando que a notificação dos lançamentos tributários ocorreu no dia 08.01.1999 (via publicação na Imprensa Oficial) e o ajuizamento do mandado de segurança deu-se em 06.05.1999, é de ser reconhecida a decadência em relação àqueles que, em 13.05.1999, após a concessão da medida liminar, ingressaram nos autos como litisconsortes ativos facultativos. 4. Agravos regimentais desprovidos” (STJ, AGRESP 200301291333, 1.ª T., j. 19.10.2006, rel. Min. Denise Arruda, ). Na mesma linha, citando diversos outros arestos: “Processual civil e tributário. Locatário. Taxa de limpeza pública. Conservação de vias e logradouros e combate a sinistros. Ausência de legitimidade ativa ad causam para figurar na relação jurídica-tributária. Precedentes do STJ. 1. O locatário, por não deter a condição de contribuinte, não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança objetivando o não recolhimento de IPTU e taxas. Precedentes do STJ. 2. É cediço na Corte que o locatário é parte ilegítima para impugnar o lançamento do IPTU, porquanto não se enquadra na sujeição passiva como contribuinte e nem como responsável tributário. Precedentes: AgRg AG 508.796/ RJ, rel. Min. Franciulli Netto, DJU 30.06.2004; REsp 604.109/RJ, rel. Min. Castro Meira, 2.ª T., DJU 28.06.2004; REsp 124.300/SP, rel. Min. Milton Luiz Pereira, 1.ª T., DJU 25.06.2001; REsp 228.626/SP, rel. Min. Francisco Peçanha Martins, 2.ª T., DJU 03.04.2001. 3. Recurso especial provido.” (STJ, REsp 200400612349, 1.ª T., j. 16.08.2005, rel. Min. Luiz Fux,). Em outra via, não se afigura razoável impor a via judicial para a notificação do substituído, observando-se, ainda mais, o natural assoberbamento de processos de praticamente todos os ramos da Justiça, excetuado o relacionado à Justiça Militar Federal. A notificação judicial tem suas regras ditadas pelos arts. 867/873, do CPC e é realizada por Oficial de Justiça, portador de fé pública, o que faz incidir a presunção de legitimidade inerente aos atos do Estado. O mais adequado, com o fito de evitar a morosidade da Justiça, é buscar os serviços dos Cartórios de Títulos e Documentos que, com esteio no art. 160 da Lei 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos) tem atribuição para efetivar notificações extrajudiciais, cumpridas por funcionário do cartório que possui fé pública. Em sentido
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