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competência

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Para começar o tema, precisamos saber o que é jurisdição, sem ela não há como abordar a competência. Portanto, jurisdição é a autoridade do juiz em ditar a lei no caso concreto para solucionar lides.
COMPETÊNCIA
Conceito: Trata-se da delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço em que cada jurisdição vai ser aplicada. É o alcance do poder do juiz distribuído por lei.
“Se todos os juízes tem jurisdição, nem todos, porém, se apresentam com competência para conhecer e julgar determinado litígio. Só o Juiz competente tem legitimidade para fazê-lo.” (THEODORO JR.).
Exemplo: Um juiz que atua na vara cível possui jurisdição, mas somente para julgar questões cíveis. Não lhe é permitido julgar homicídios (p. ex.), pois é de competência criminal. (art. 42, CPC).
Quando é estabelecida
No momento da distribuição do processo. Será responsável por distribuir a lide para cada órgão responsável de jurisdição, onde irá tramitar. Em regra, a competência não se modifica.
Há três princípios que se destacam:
Princípio da Tipicidade: toda competência está tipificada, ou seja, está prescrito em lei quais são suas regras, qual órgão é competente e qual juiz irá julgar.
Esta regra serve basicamente para evitar o “vai e vem” dos processos por mudanças;
De fato (ex. domicílio) ou;
De direito (lei afirmando que quem rouba camisas azuis deve ser demandado no foro de seu domicílio).
A regra serve também para “os engraçadinhos” que querem tirar vantagem com o processo, atrasando a demanda do mesmo.
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
“Destaca-se que o artigo traz duas exceções quando da determinação da competência: supressão de órgão judiciário ou alteração da competência absoluta. Caso o órgão pelo qual o processo tramitava seja extinto, o processo deve ser encaminhado para outro órgão jurisdicional competente perante o qual terá seu regular andamento"Neves (2016, p. 61).
A outra exceção é a alteração da competência absoluta, que pode"decorrer de fato ou direito superveniente ao momento da propositura da demanda. O fato de ser excluído da lide corréu que justificava a competência da Justiça Federal gera a remessa do processo para a Justiça Estadual. Da mesma forma que uma mudança constitucional que aumente a competência da Justiça Federal, e incida nos processos em tramite perante a Justiça Estadual, gera sua remessa imediata àquela Justiça"Neves (2016, p. 62).
Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados.
Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
§ 1º Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação.
§ 2º Na hipótese do § 1º, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas.
§ 3º O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo.
Princípio da Indisponibilidade: A Indisponibilidade vigora no Processo Penal, a maior parte das causas são ações penais públicas incondicionadas, não dependem da vontade da parte, se o crime ocorre, é função do Estado iniciar do processo, não depende da provocação da parte, aqui você não é dono da causa. Nesta toada, ao juiz não lhe compete modificações nas regras (acionar a jurisdição). Ele sendo o competente para julgar, não pode, por livre arbítrio, ser dono da causa.
Exemplo: Você deu carona para o seu amigo e infelizmente aconteceu um acidente, seu amigo quebrou a perna, você por sorte não se machucou tanto, você leva seu amigo para o hospital, presta primeiros socorros, um belo dia você está em casa e recebe um intimação por estar sendo processado por crime de lesões corporais. O amigo não processou o outro, o hospital informou ao ministério público e o Estado começou a agir, não importa a vontade sua ou do seu amigo.
Princípio do Juiz Natural: é a determinação do juízo competente para a causa, deve ser feita com base em critérios impessoais, objetivos e pré-estabelecidos.
Trata-se, pois, de garantia fundamental não prevista expressamente, que resulta da conjugação de dois dispositivos constitucionais: proibição de juízo ou tribunal de exceção (aquele designado ou criado, por deliberação legislativa ou não, para julgar determinado caso) e que determina que ninguém será processado senão pela autoridade competente.
É uma das principais garantias decorrentes da cláusula do devido processo legal. Substancialmente, a garantia do juiz natural consiste na exigência da imparcialidade e da independência dos magistrados. Não basta o juízo competente, objetivamente capaz, é necessário que seja imparcial, subjetivamente capaz.
CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Originária: é a competência inicial onde o processo é distribuído. Onde começa o processo é onde se origina, onde se conhece a demanda primeiramente.
Derivada: é a remessa de um processo para outra competência.
Exemplo: um recurso segue para um Tribunal de instância superior, ou seja, da competência originária (a primeira instância) seguiu para uma instância superior (competência derivada).
Foro: refere-se ao território, em que comarca certo processo deve ser julgado.
" Foro é o local onde o juiz exerce suas funções ". Theodoro Jr. (2010, p. 174).
Juízo: refere-se à matéria (família, cível, consumidor, penal etc.).
"A procura do órgão judicante será feita à base do critério territorial [foro]. Mas, dentro do foro, é ainda possível a subdivisão do mesmo entre varas especializadas (por exemplo, varas de família, de falência, de acidentes de trânsito etc.)"Theodoro Jr. (2010, p. 177).
Absoluta:
" é a competência insuscetível de sofrer modificação, seja pela vontade das partes, seja pelos motivos legais de prorrogação (conexão ou continência de causas) "Theodoro Jr. (2008, p. 188).
Encaixam-se nesse perfil a competência em razão da matéria (ex.: federal ou estadual; cível ou criminal; matéria criminal geral ou especializada, como o juri etc.).
E a competência em razão da prerrogativa de função (ex.: julgamento de juiz de direito deve ser feito pelo Tribunal de Justiça; julgamento de Governador deve ser feito pelo STJ etc.).
Em regra, a competência absoluta, atende a interesses públicos, referindo-se a matéria ou hierarquia. Hierarquia relacionada ao tipo de processo ou tipo de parte submetidos ao órgão jurisdicional.
Exemplo: se a União é uma das partes em um processo e esse processo for remetido para a Justiça Estadual, foi enviado errado, pois a competência absoluta para tratar de assuntos sobre os quais a União é parte, é a Justiça Federal.
Em relação a matéria quer dizer a própria lide, se conectado a aspectos de família, crime, trânsito etc.
Relativa:
" ao contrário, é a competência passível de modificação por vontade das partes ou por prorrogação, oriunda da conexão ou continência de causas "Theodoro Jr. (2008, p. 188).
Relacionada com o valor da causa ou territórios (onde as partes estão domiciliadas ou onde o imóvel objeto da lide se situa). Está mais ligada ao interesse particular, podendo, assim, ser modificadade acordo com a vontade das partes.
Critérios que determinam a competência
Territorial: Também denominada “competência de foro”, corresponde ao local (territorialmente falando) no qual deve ser proposta a ação.
Em relação à Justiça Estadual, fala-se em comarca; em relação à Justiça Federal, fala-se em seção e subseção;
Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.
§ 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
§ 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
§ 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias.
Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente.
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
Art. 53. É competente o foro:
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves.
Valor da causa: estabelece-se em relação ao valor atribuído à causa.
Exemplo: causas de até 40 salários mínimos, competência dos Juizados Especiais Cíveis, se Justiça Estadual; se federal, até 60 salários mínimos – Juizados Especiais Federais.
Material: referente ao objeto da lide (família, cível, consumidor etc.)
Função ou Hierarquia: função ocupada pelo sujeito da lide, o qual gera a competência originária, se quem julgará é o STJ, STF, Tribunal etc.
PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Juízo inicialmente incompetente, torna-se competente, seja em virtude de determinação legal, seja por ato de vontade das partes. Assim, a competência relativa prorroga-se em virtude de:
Lei: quando se trata de conexão ou continência (art. 102 do CPC).
Assim, se duas ações são propostas em unidades territoriais distintas, uma unidade competente para conhecer de uma ação, e outra unidade competente para conhecer da outra, prorrogar-se-á a competência de ambas, sendo que será feita a reunião de ambos os processos perante o juízo que primeiro promoveu a citação do réu (aplica-se o art. 219 do CPC, não o art. 106).
A competência material e em relação à hierarquia são sempre absolutas, que não se modificam.
A competência territorial e em valor da causa são relativas, podem ser modificadas.
IDENTIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
Etapas a serem percorridas para se determinar a competência interna:
a) Competência de jurisdição: qual a Justiça competente?
b) Competência originária: dentro da Justiça competente, o conhecimento da causa cabe ao órgão superior ou ao inferior?
c) Competência de foro: se a atribuição é do órgão do primeiro grau de jurisdição, qual a comarca ou seção judiciária competente?
d) Competência de juízo: se há mais de um órgão de primeiro grau de jurisdição com as mesmas atribuições jurisdicionais, qual a vara competente?
e) Competência interna: quando numa mesma Vara ou Tribunal servem vários juízes, qual ou quais deles serão competentes?
f) Competência recursal: a competência para conhecer do recurso é do próprio órgão que decidiu originariamente ou de um superior?
Exemplo: numa ação de herança que foi proposta em Rio Negro, os critérios determinantes de identificação de competência são:
A Justiça competente é a Justiça Estadual (pois não refere-se a esfera Federal), sendo que será o processo pertencente à justiça comum (pois não compete a Justiça Militar, do Trabalho e nem Eleitoral);

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