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CIVILIZAÇÃO MINÓICA
ALEXANDER, Caroline. A guerra que matou Aquiles: a verdadeira história da Ilíada. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2014.
BATCHELOR, Stephen. Os gregos antigos para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2012, especialmente
“Encontrando as Civilizações Pré-históricas: os Minoicos e os Micênicos”, pp. 21-32.
BLEGEN, Carl W. Tróia e os troianos. Lisboa: Verbo, 1971.
EISLER, Riane. O cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro. São Paulo: Palas Athena, 2007,
especialmente “A diferença fundamental: Creta”, pp. 73-88, “Uma ordem obscura surge do caos: do
cálice à espada”, pp. 89-108.
FINLEY, M. I. Grécia primitiva: idade do bronze e idade arcaica. São Paulo: Martins Fontes, 1990,
especialmente “Parte I – A Idade do Bronze”, pp. 3-63.
GABRIEL-LEROUX, J. As primeiras civilizações do Mediterrâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1989,
especialmente “Introdução”, pp. 1-4, “Os primeiros núcleos de civilização”, pp. 5-13, 26-30, “A
civilização egéia”, 31-58.
HOOD, Sinclair. A pátria dos heróis: o Egeu antes dos gregos. Lisboa: Verbo, 1969. 
HOOD, Sinclair. Os minóicos. Lisboa: Verbo, 1973. 
MACGILLIVRAY, Joseph Alexander. Minotauro: sir Arthur Evans e a arqueologia de um mito. Rio de
Janeiro: Record, 2002.
TAYLOUR, Lord William. Os micénios. Lisboa: Verbo, 1970.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 20.a ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2011,
especialmente “O quadro histórico”, pp. 13-20, e “A realeza micênica”, pp. 23-39.
VVAA. Lendo o passado: a história da escrita antiga do cuneiforme ao alfabeto. São Paulo: Edusp, 1996,
especialmente “A Linear B e Escritas Correlatas”, pp. 175-244.
________________________________________________________________________________
Tabela Cronológica da Civilização Egéia
(Neolítico e Idade do Bronze)
Nota: Todas as datas são a.C.
[Fonte: FINLEY, M. I. Grécia primitiva: idade do bronze e idade arcaica, p. VIII]
Grécia Creta Cíclades Tróia Chipre
40000 Ocupação humana definitiva
Neolítico 6000 Nea Nicomedéia Cnossos Quirioquitia
4000 Saliago
Idade do Bronze
3000 Heládico Antigo I
Heládico Antigo II
Heládico Antigo III
Minoano Antigo I
Minoano Antigo II
Minoano Antigo III
Cicládico Antigo I
II
III-V
Cipriota Antigo
2000
Heládico Médio Minoano Médio Cicládico Médio
VI
Cipriota Médio
1600/1550 Heládico Tardio I Minoano Tardio I Cicládico Tardio VI Cipriota Tardio
1500 Heládico Tardio II
Minoano Tardio II1450
1400 Heládico Tardio IIIA Minoano Tardio IIIA
1300 Heládico Tardio IIIB Minoano Tardio IIIB
VIIA
1200 Heládico Tardio IIIC Minoano Tardio IIIC VIIB
O florescimento de Creta ou primeira civilização
palaciana (2000-1750 a.C.)
• No começo do II milênio a.C., o Mediterrâneo não marca ainda em
suas duas margens uma separação entre o Oriente e o Ocidente.
• O mundo egeu e a península grega se ligam sem descontinuidade,
como povoação e como cultura, de um lado com o planalto anatólio,
pela série das Cíclades e das Espórades, e do outro, por Rodes, pela
Colícia, por Chipre e costa norte da Síria, com a Mesopotâmia e o
Irã.
• Pela costa síria os cretenses entrava igualmente em contato com o
Egito do Novo Império (1580-1070 a.C.).
• Quando Creta saiu do Cicládico, em cujo decurso dominam as
relações com a Anatólia, e quando constrói sua primeira civilização
palaciana, permanece orientada para os grandes reinos do Oriente
Próximo.
• No solo privilegiado de Creta (poupado pelos aqueus) desabrochou a
civilização que se denomina minóica desde as escavações de Sir
ARTHUR EVANS (1851-1941) em Cnossos.
• Costuma-se dividir a história da civilização minóica em vários
períodos, segundo as construções e destruições sucessivas dos
palácios, mas nem sempre é possível determinar se essas destruições
são obra humana ou de fenômenos naturais.
• Toda essa região (no curso do segundo milênio) sofreu tremores de
terra, antes e após a terrível erupção que (provavelmente entre 1500 e
1450 a.C.) fez explodir literalmente a ilha de Tera.
• Na Antiguidade as regiões central e oriental de Creta eram famosas
por
• seus prados e planaltos pastoris
• suas oliveiras e videiras
• carvalhos e ciprestes
• pelas praias protegidas dos litorais norte e leste
• Creta (ao contrário de Chipre) era pobre em recursos minerais e não
tinha uma localização tão privilegiada para o tráfego marítimo que ia
e vinha da Ásia Menor, Síria e Egito.
• Ao longo do terceiro milênio a população crescera
consideravelmente em número e riqueza (tendo feito muitos
progressos tecnológicos).
• As povoações mais importantes situavam-se na extremidade leste da
ilha, mas (com o tempo) ocorreu uma mudança para o centro; além
disso, havia aldeias em todos os lugares, a té mesmo na inóspita
região oeste.
• Sir ARTHUR EVANS (o primeiro a descobrir o palácio de Cnosso
em 1899) tendeu a imprimir uma marca cnossiana à ilha toda.
• Creta (assim como a Grécia) não tinha nessa época uma cultura
uniforme ou monolítica.
• Mas Evans aparentemente estava certo ao conceber o Minoano
Antigo como um crescimento evolucionário sucessivo (não como
uma interrupção da cultura do final do Neolítico).
• Em muitos sítios, a linha divisória entre os Minoanos Antigos I e II
(por volta de 2500 a.C.) é bem mais perceptível, conforme
evidenciam os vasos de pedra, as ricas jóias e as adagas de cobre do
período posterior.
• Embora Creta tenha saído de seu longo isolamento para entrar no
complexo da Idade do Bronze egéia, recebendo influências da Grécia
e da Macedônia, das Cíclades, da Ásia Menor principalmente, da
Síria e até mesmo do Egito (provavelmente de maneira indireta), sua
história (segundo o estudo de seus remanescentes materiais) não é
uma história de imitação mecânica, nem de imigrações extensas (mas
a história de uma sociedade que absorveu elementos novos num
desenvolvimento próprio, interno e coerente).
• Os sinais de originalidade inventiva são numerosos e inequívocos.
• As técnicas metalúrgicas básicas provavelmente foram aprendidas
das Cíclades, inclusive o uso do arsênico que (devido à falta de
zinco) era empregado como liga de endurecimento para o cobre.
• No transcurso do Minoano Antigo, surgiu (embrionariamente) o
único estilo cretense de arquitetura, como sua estrutura aglutinativa,
semelhante a uma célula, que nos séculos posteriores culminaria no
palácio de Cnossos.
• O Minoano Médio, a idade áurea de Creta, entre 2000 e 1600 ou
1550 a.C., caracterizou-se por um enorme avanço em outras esferas,
no poder político, na riqueza e na arte.
• Foram os séculos em que se concluiu a “revolução urbana” de
GORDON CHILDE (1892-1957)
1) os complexos palacianos foram construídos e decorados com
afrescos surpreendentes;
2) as artes menores (vasos, jóias e sinetes de pedra) atingiram o
apogeu, com um estilo e uma vivacidade, uma leveza e uma
delicadeza de movimento que são imediatamente reconhecidas
como minoanas;
3) a sociedade – ou pelo menos sua classe mais alta – revelou
(por meio de suas artes visuais) ter uma psicologia e um estilo
de vida bem diferentes de quaisquer outros de sua época (e,
nesse aspecto, de qualquer outro período da Antiguidade).
• Os primeiros palácios foram erigidos pouco depois de 2000 a.C. em
Cnossos, Faístos, Malia, Zacro.
• Estamos já diante de edifícios importantes, cuja disposição interior
(muito particular) não pode ser relacionada com a arquitetura
egípcia; sua origem deve ser procurada na Ásia Menor, nos palácios
acadianos de Telo, de Ur ou dos hititas.
• O palácio cretense agrupa em torno de um pátio central vários bairros
nitidamente separados.
• As construções obedecem ao plano retangular, quepermite
multiplicar quase ao infinito salas e depósitos e aumentar o número
de corredores e espaços livres.
• O palácio de Malia (muito pouco remanejado a seguir) é o exemplo
mais autêntico da arquitetura minóica entre 2000 e 1600 a.C.
• O pátio central é acompanhado de dois pórticos, um ao norte, de
colunas de madeira que repousam sobre um soclo de pedra, outro,
mais recente, a leste, alternando as colunas com pilares quadrados.
• Nos depósitos, enormes pithoi encerravam os cereais, o óleo e o
vinho, reservas previdentes ou tributos recolhidos pelo príncipe.
• Ao redor dos palácios erigem-se cidades (como em Cnossos) com
elegantes residências burguesas.
• As ruas são pavimentadas com cascalhos e as estradas guarnecidas
por lajotas largas.
• Em meio a toda essa prosperidade, enquanto os vasos de Camarés
penetram no Alto Egito e nas ilhas e as baixelas de prata em Biblos e
em Canaã, subitamente, por volta de 1750 a.C., ocorreu a catástrofe:
os palácios de Cnossos, Faistos, Malia e Tilissos desabaram em
consequência de terríveis incêndios.
• A partir de 1700 a.C., o desenvolvimento de Creta prosseguiu e não
se notou qualquer ruptura, qualquer mudança sofrida nem na arte
nem nos caracteres étnicos, o que faz supor um ataque brutal de
pilhagem por parte da população do norte (e não uma tentativa de
dominação duradoura).
• Constata-se nessa data um brusco afluxo de riquezas na Argólida,
que poderia ser o produto de tais pilhagens.
O império de Minos (1700-1400 a.C.)
• No primeiro século desse renascimento os palácios são reconstruídos,
e uma cidade principesca elevava-se em Hágia Tríada.
• Mas a riqueza e a importância de Cnossos eclipsam todas as outras,
com suas lojas, tesouros, entrepostos, oficinas e manufaturas.
• Talvez a mais notável manifestação da originalidade cretense
ocorresse no campo da escrita. 
• Primeiro, surgiu um tipo de escrita pictográfica modificada, que
Evans, numa analogia com a escrita egípcia, rotulou de
“hieroglífica”.
• Então, nos primeiros séculos do Minoano Médio, apareceu uma
escrita mais sofisticada, que Evans denominou de “Linear A”, na
qual a maioria dos sinais representava sílabas.
• Essa escrita comporta cerca de 90 sinais.
• Deve-se assinalar um curioso documento: um disco de terracota
encontrado no sítio arqueológico do palácio de Faistos, em 1908,
pelo arqueólogo italiano LUIGI BERNIER, coberto de pictogramas
dispostos em espiral; aliás, não é certo que ele seja de origem
cretense.
• A Linear A foi amplamente difundida pela ilha (sendo que o maior
número de textos descobertos até hoje foram encontrados em Hágia
Tríada e Cato Zacro).
• Com o passar do tempo, a Linear A foi substituída em Cnossos pela
Linear B, uma ramificação mais complicada da Linear A.
• Afora os sinais gravados ou riscados em cerâmica, sinetes de pedra,
mesas de libação e objetos diversos, a única referência importante
que temos da escrita cretense provém de pequenas tábulas de argila,
em forma de folha, que não chegam a 4 mil, muitas das quais são
meros fragmentos. 
• Materiais perecíveis (como cera e papiro) certamente também foram
usados (mas nenhum vestígio deles se conservou)
• As próprias tábulas em argila sobreviveram por acidente.
• Foram os incêndios que se seguiram à destruição dos palácios que
preservaram as tábulas porventura em uso no momento (todas elas
datam daquele ano).
• Os textos (em si) são curtos e bastante limitados, consistindo em um
tipo ou outro de lista, ou em registros enigmáticos de relações de
propriedade, distribuições de ração e coisas semelhantes.
• Mesmo que todas as tábulas pudessem ser lidas e traduzidas com
total segurança, logo se esgotariam como fontes de informação
significativa.
• Sabe-se hoje que a língua das tábulas em Linear B (a última das
escritas) era o grego.
• Até o momento (porém) todos os esforços para decifrar tanto a
Linear A quanto a escrita hieroglífica (mais antiga ainda)
fracassaram,
• Em parte, porque os textos disponíveis são poucos, mas
principalmente porque a língua da escrita hieroglífica com certeza
não é o grego nem (provavelmente) nenhum dos idiomas conhecidos.
• Tudo o que podemos dizer é que a língua da escrita Linear A
pertencia ao povo que criou a idade áurea minoana, e que a escrita
foi inventada originalmente para essa língua, sendo transferida
depois para o grego, ao qual não se adequava muito bem.
• Pode-se argumentar que as necessidades de uma administração
centralizada constituíram um estímulo bem maior para o
desenvolvimento da escrita, tanto entre os sumérios (cuneiforme)
como em Creta, do que as necessidades intelectuais ou espirituais.
• Entre o Neolítico Tardio e o Minoano Médio houve um rápido
crescimento dos recursos humanos e naturais e uma concentração
(social e geográfica) da capacidade de empregá-los.
• Caso contrário, os grandes complexos palacianos sequer poderiam ter
sido construídos, nem funcionado.
• Apenas recentemente foram descobertas (em algumas tábulas) duas
palavras que parecem indicar a troca de mercadorias.
• Por outro lado, são numerosos os inventários, as listas de ração e de
pessoal.
• Deduz-se que a sociedade era governada pelo palácio central, que
administrava cada detalhe da economia interna, distribuindo pessoas
e bens, desde matérias-primas a produtos acabados, sem o uso do
dinheiro ou de um mecanismo de mercado.
• No quadro das salas de recepção e dos aposentos principescos,
afrescos cintilantes evocam uma vida de corte luxuosa: festas,
danças, esportes, cerimônias religiosas.
• Não se vê neles qualquer cena de guerra ou de violência; as próprias
“touradas” são exercícios de coragem e agilidade, sem armas, nem
matança.
• A partir de 1600 a.C. abre-se um período de grandeza realmente
soberana.
• Parece que o palácio de Cnossos detinha um certo monopólio das
ovelhas e da lã na região central de Creta (datadas do ano da
destruição do sítio, inúmeras tábulas, que catalogavam ovelhas e lã,
registram um censo anual de rebanhos e tosas e dos pastores
responsáveis; e até onde a identificação dos nomes geográficos é
possível).
• A lã poderia então ajudar a responder a um antigo enigma: como os
cretenses pagavam (ou de que maneira obtinham) o cobre, o ouro, o
marfim e outras coisas que importavam?
• Hoje a lã responde pelo menos a uma parte da pergunta.
• É verdade que os cretenses (chamados Keftiu) representados nos
afrescos egípcios carregavam às vezes panos dobrados.
• Mas também portavam ouro, prata, marfim e outras coisas que não
são produtos de Creta.
• Ao pôr termo às piratarias, Creta multiplicou suas relações com os
povos vizinhos.
• Os avestruzes, os hipopótamos e os camelos gravados sobre os
sinetes, assimo como os soldados negros pintados num afresco,
testemunham as relações de Creta com o Egito.
• Espaçadas no tempo dos soberanos hicsos, elas são retomadas sob a
XVIII dinastia (1580-1350 a.C.), como comprovamo numerosos
produtos egípcios encontrados em Creta.
• Esta, em troca de óleo, vinho, gado, armas e vasos, compra marfim,
prata e ouro, assim como objetos de vidro e de porcelana, e fornece
ao Egito as madeiras da Síria, o cobre de Chipre, o estanho e o âmbar
vindos de ainda mais longe.
• Uma abordagem sugerida por eruditos modernos enfatiza o império e
o tributo, a chamada talassocracia (domínio dos mares) minoana
(sobre a qual encontram-se referências nos escritores gregos
clássicos).
• Tanto a riqueza e o poder de Cnossos quanto a navegação minoana
são inquestionáveis.
• Aparentemente, existiram povoamentos “minoanos” em algumas
ilhaspróximas, sobretudo em Citera (ao norte) que chegou ao auge
no Minoano Tardio I, pouco antes do abandono do sítio (sem
qualquer vestígio de destruição).
• A primeira referência grega à talassocracia é feita por HERÓDOTO e
TUCÍDIDES na segunda metade do século V a.C., mas por ser muito
remota, não pode ser levada a sério sem evidências corroborativas.
• As diversas lendas gregas sobre a Creta pré-histórica apresentam
ênfases diferentes (a maioria de caráter puramente religioso).
• A exceção notável é a história de Teseu e o minotauro.
• Argumenta-se que esse conto reflete (de forma mítica) a sujeição dos
atenienses ao domínio cretense – e (mais tarde) sua emancipação –
durante a idade do Bronze.
• Mas as objeções a essa interpretação são sérias.
• O touro é amplamente documentado como elemento importante da
religião minoana: 
1) como animal sacrificial; 
2) ou nas conhecidas cenas de “saltar o touro”, que mais
provavelmente representam uma forma de ritual do que um mero
esporte; 
3) ou nas pequenas estatuetas de bronze encontradas em algumas das
cavernas que foram centros de culto.
• Uma explicação possível para a lenda do minotauro é a de que se
trata de um conto inventado para explicar alguma cerimônia (talvez
uma iniciação) ligado ao culto de Dioniso (cujo significado original
fora esquecido havia longo tempo).
• Um outro enigma é o fato de os palácios cretenses serem abertos
(complexos “civis” sem fortificação) em vez de cidades
propriamente ditas.
• O contraste com fortalezas do continente (tais como Micenas e
Tirinta) surpreende qualquer visitante.
• Em todos os lugares de Creta o tom predominante é a pacificidade.
• Armamentos, arneses e carros de guerra estão registrados nas tábulas
em Linear B de Cnossos (mas são notavelmente raros em
monumentos figurativos de qualquer natureza ou tamanho).
• São raros inclusive nas sepulturas.
• Só é lícito falar em sepulturas de guerreiros depois da ocupação da
ilha por povos de língua grega vindos do continente.
• Esse fenômeno (seja qual for sua explicação) serve para ressaltar a
singularidade de Creta.
• A sociedade centrada em palácios e seus registros obsessivamente
detalhados lembram Ugarit (no norte da Síria) ou Mari (no Eufrates).
• Mas a psicologia e os valores da elite eram radicalmente diferentes
em muitos aspectos.
• Embora não exista sequer uma linha de escrita que nos informe
claramente sobre o pensamento da Creta da Idade do Bronze, suas
ideias acerca de qualquer assunto, é possível extrair algumas
inferências (dos remanescentes materiais) a respeito das diferenças
entre Creta e as demais civilizações centralizadas da mesma época.
• Os governantes babilônicos, egípcios e hititas infestaram suas terras
de evidências monumentais do seu poder e do poder de seus deuses.
• Os governantes cretenses não fizeram nada semelhante, nem nos
palácios, nem nos túmulos.
• Não há nada de majestoso ou central na sala do trono de Cnossos,
seja em relação ao tamanho ou à decoração das paredes (ornadas com
animais míticos e desenhos florais, ma sem um único retrato).
• O trono sequer distingui-se pela realeza.
• Não existe uma única imagem que retrate um evento histórico ou
revele uma atividade administrativa e judicial, ou qualquer outra
manifestação do poder político em ação.
• Quanto aos deuses e deusas, são extremamente difíceis de descobrir.
• Ao que parece, foram razoavelmente numerosos.
• Mas não eram abrigados em templos, razão por que não havia
estátuas de culto, características das civilizações contemporâneas do
Oriente Próximo e das civilizações contemporâneas.
• Fazia-se a adoração em pequenos santuários domésticos (capelas e
salas cultuais), integradas às construções dos palácios, em lugares
sagrados ao ar livre e em cerca de 25 das cavernas (ou grutas nos
flancos das montanhas) situadas em várias partes da ilha.
• O soberano era um rei-sacerdote, revestido de uma autoridade
sagrada (no entanto, ele nunca é considerado como um deus nem
deificado após sua morte).
• Nas cerimônias, enfatizava-se uma epifania, a aparição temporária de
uma divindade em resposta a uma oração, a um sacrifício ou – o que
é mais característica e legitimamente cretense – a uma dança
ritualística.
• Em muitas das cenas, é mais importante o êxtase dos adoradores que
o deus personificado.
• Com efeito, às vezes somente o ato da prelibação é retratado, sem a
epifania real.
• O local da epifania era uma árvore sagrada, um pilar,
ocasionalmente uma fachada arquitetônica. 
• A ênfase recaía nos adoradores (no lado humano da relação).
• As evidências religiosas consistem também (em grande parte) em
objetos simbólicos como 
• o machado duplo e os “chifres de consagração” (cuja
interpretação continua sendo polêmica);
• no equipamento usado em libações e sacrifícios;
• nas cinzas e nos ossos de vítimas sacrificiais (touros, ovelhas,
porcos, cães e outros animais) encontrados principalmente nas
cavernas;
• em objetos dedicados aos deuses, incluindo cerâmica, espadas e
escudos, uma variedade de artigos femininos, estatuetas animais
e figurinos humanos, que voltaram a ser usados na Creta do
Minoano Médio (depois de um longo hiato).
• Via de regra é impossível distinguir as figuras humanas das divinas
(a não ser pelos critérios mais subjetivos).
• Mesmo que algumas delas sejam caracterizadas com precisão – como
é o caso da chamada deusa cobra –, são inovações posteriores
(provavelmente influenciadas pelo Oriente).
• Os primeiros ídolos egeus são figuras femininas cujas características
sexuais e alimentadoras foram voluntariamente acentuadas.
• Essa divinização da maternidade, da fecundidade feminina, triunfa
em Creta sob um aspecto monoteísta e antropomórfico: é o culta da
Deusa-Mãe, comum a toda a Ásia primitiva.
• A predominância do culto feminino parece ter dado à mulher
cretense certos privilégios: ela pode sair, ir aos espetáculos e até
desempenhar um papel neles, e ocupa um lugar importante nas
cerimônias religiosas; mas a autoridade real e bastante brutal do
homem deveria fazer surgir um deus masculino.
• Este está sempre subordinado à deusa, seja como filho, seja como
amante.
• Assume com frequência o aspecto do touro “abalador de terras”, e a
deusa a quem ele ama se torna então Europa ou Pasifae, o Minotauro
simboliza essa dupla noção do deus viril e do touro divino, cujos
belos chifres em forma de lira figuram no culto e adornam o palácio.
• Como deus da chuva e da tempestade, o Zeus cretense tem por
emblema o machado duplo, o labrys, símbolo do relâmpago, de sorte
que o Labirinto é na realidade o “palácio do machado duplo”.
• Sobre as cerimônias que se desenvolviam nos santuários minóicos,
possuímos um precioso documento: o sarcófago de terracota pintada
encontrado em Hágia Tríada, onde se representam cenas do culto dos
mortos.
____________________________________________________________
• Parte de um dos lados do sarcófago pintado de um túmulo importante de Hágia
Tríada, perto de Festos.
• O estilo da pintura sugere uma da do meço do Minoano Tardio AIII (1400-1300
a.C.), anterior à destruição final do palácio de Cnossos.
• O caixão fora esculpido num só bloco de calcário, mas revestido de estuque para
ter a superfície lisa para receber as pinturas, que representam ritos funerários.
• À esquerda está um altar em forma de mesa, e sobre ele um vitelo amarrado para
o sacrifício.
• Um balde no chão recebe o sangue, enquanto duas cabras aguardam a sua vez.
• Três mulheres de longas túnicas (muito deterioradas e não incluídas na foto) vêm
da esquerda, enquanto um homem toca uma flauta dupla.
• Em frente deste, uma mulher, revestidacom a pele de outra vítima sacrificada,
estende as mãos sobre um altar que devia ser reservado para ofertas de frutos e
libações, a julgar pelo açafate com frutos e pelo jarro que tem em cima.
• Por trás vê-se um poste alto encimado por um complicado machado duplo, em
cima do qual está pousado um pássaro, e na extrema direita eleva-se um altar
encimado por cornos de consagração, com uma árvore sagrada dentro ou por
trás.
• O outro lado do sarcófago traz o príncipe morto (ou a sua múmia) de pé, em
frente do seu túmulo, para receber ofertas – um barco e dois bezerros ou os seus
modelos – das mãos de homens revestidos com as peles dos animas sacrificados.
• À esquerda, ao som de uma lira de sete cordas, duas mulheres, uma com uma
longa túnica e coroada de forma complicada, a outra vestida com uma pele,
vertem licores para um vaso posto entre duas bases assentes no chão, que
sustentam postes para machados duplos encimados por aves. 
• Em cada uma das extremidades inferiores do sarcófago vê-se uma carreta com
duas mulheres, aparentemente deusas, que nele seguem; uma é puxada por bodes;
a outra, por grifos alados.
• Além dessas cerimônias, praticava-se o banho lustral, a aspersão com
a ajuda de rhytons, vasos de libação em forma de cartuchos ou de
cabeças de touro cuja parte inferior contém um orifício, e sobretudo
as danças sagradas que as jovens desenvolviam.
• Essa falta de monumentalidade corresponde adequadamente à
ausência de manifestações externas de guerra, às qualidades
específicas e ao tom das obras de arte cretenses.
• Mesmo os grandes afrescos não são realmente monumentais (fora de
Cnossos, são incomuns e quase inteiramente destituídos de figuras
humanas).
• Tempos depois, homens vindos do continente grego assumiram (não
se sabe como) o poder em Cnossos e (por meio dele) também o
controle da grande parte da Creta central.
• Tudo indica que isso tenha ocorrido no início do Minoano Tardio II
(cerca de um século depois do início do Heládico Tardio no
continente), quando (entre outras coisas) houve uma mudança
qualitativa nos túmulos, baseada em modelos do continente e
incluindo (pela primeira vez em Creta) autênticas sepulturas de
guerreiros.
• Aparecem, nesse período, tabuinhas contende a escrita Linear B,
como as que se descobriram em Pilo, na Messênia, e cuja decifração,
em 1952, revelou tratar-se de grego micênico.
• Uma dinastia aquéia estabeleceu-se (pois) em Cnossos no curso do
século XV a.C.
• Esses soberanos estrangeiros estavam impregnados de cultura
minóica, pois não existe na arte e no modo de vida nenhuma ruptura,
nenhuma mudança súbita.
• Entretanto, muitos pormenores revelam que algo mudou:
• a administração (de acordo com as tabuinhas) mostrava-se mais
centralizada, mais autoritária;
• o aspecto militar do novo regime aparecia em túmulos de
guerreiros e em todo o material que enche os depósitos do
palácio: rodas e eixos de carros, dardos, flechas, punhais;
• a arte, perdendo gradualmente sua naturalidade, tornava-se
mais rígida, mais pomposa, quase oficial.
• A grandeza minóica (portanto) ainda sobreviveria por algum tempo,
até a última destruição de Cnossos, entre 1400 e 1350 a.C., após a
qual o declínio seria muito rápido.
• No Minoano Tardio II, Cnossos atingiu o ápice de seu poder.
• Entre 1500 e 1450 a.C. a maioria dos palácios desmoronaram,
vítimas (ao que parece) de sismos e de um maremoto, repercussões
da erupção de Tera.
• Desde Evans, passou-se a datar o final desse período (para Cnossos)
em aproximadamente 1400 a.C. (ou, segundo o ponto de vista atual,
cerca de três décadas depois).
• Trata-se (portanto) de uma era relativamente curta (que terminou em
catástrofe).
• Um terremoto talvez tenha sido uma das causas, mas não explica
tudo, pois dessa vez (ao contrário de ocasiões anteriores) não houve
recuperação.
• A vida em Creta prosseguiu, mas a era do poder e dos palácios
encerrara-se definitivamente.
• Daí em diante, o continente ocuparia o centro do palco.

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