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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ OURINHOS – FAESO CURSO DE DIREITO A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E SEU IMPACTO NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL MARCOS VINICIUS FLORENCIO OURINHOS 2018 MARCOS VINICIUS FLORENCIO A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E SEU IMPACTO NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, da Faculdade Estácio de Sá de Ourinhos. Professor Orientador: Ronaldo Figueiredo Brito OURINHOS 2018 Dedico esse trabalho primeiramente a Deus, por ter me permitido chegar até aqui, e também a minha família, em especial aos meus pais e familiares, que me apoiam em todos os momentos. E a todos os mestres que tive a oportunidade de conhecer e conviver nessa grande Instituição de Ensino, com os quais adquiri conhecimento para chegar até esta etapa. AGRADECIMENTOS Acredito que todo agradecimento é especial, pois é nesse ato que se exalta toda a humildade e a consideração à pessoa agradecida; portanto, agradeço: Primeiramente a Deus, que é o autor de minha vida. A meu orientador, Prof. Ronaldo Figueiredo Brito, pelo empenho, responsabilidade e colaboração. Agradeço a todos os professores da Instituição pela disponibilidade e postura colaborativa que permearam este longo processo, pelas palavras motivadoras em momentos críticos. A toda a minha família, em especial a minha mãe, Marilda Diniz, pela formação simples e carinhosa que me proporcionou, durante todo tempo em que viveu, onde seu sonho era que este dia chegasse (in memorian), mãe, dedico para você esse artigo bem como meu diploma, e eu sei que onde estiver agora vai estar feliz por mim. A todos os que, indiretamente, contribuíram para que esta conquista fosse alcançada, meus sinceros agradecimentos. Muito Obrigado! "Quando a opinião pública se forma no sentido de considerar uma determinada instituição arcaica, deficiente, ineficaz etc., então é alto tempo de se procurar saber onde estão as causas de suas deficiências e de se realizarem as reformas necessárias, sob pena de se tornar a instituição totalmente irrecuperável. É o que ocorre atualmente com o Judiciário, a respeito do qual a opinião pública se formou (já é possível conhecê- la mesmo sem uma pesquisa científica, tão grave se tornou o problema) no sentido de considerá-lo deficiente, emperrado e moroso". (Sérgio Cavalieri Filho) A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL E SEU IMPACTO NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL Marcos Vinicius Florencio RESUMO Este trabalho busca analisar de forma clara o impacto que a redução da maioridade penal terá no sistema processual penal brasileiro, assunto este que vem causando muitas discussões e debates. Desta forma, busca-se entender a problemática da redução da maioridade penal ancorada na perspectiva socio jurídica. Este artigo tem por objetivo ainda, perscrutar a relação entre o direito e a opinião pública no que se refere ao tema da redução da maioridade penal. Contudo, é necessário compreender como funciona o sistema penitenciário brasileiro e os problemas ressocializatórios para avançar nesse debate. O princípio da defesa da dignidade da pessoa humana e a defesa dos direitos fundamentais e uma análise constitucional será premente para validar a impossibilidade da redução da menoridade penal. Palavras chaves: Maioridade Penal- Direito- Opinião pública- Ressocialização- Dignidade da pessoa humana. ABSTRACT This paper seeks to analyze in a clear way the impact that the reduction of the criminal majority will have in the Brazilian penal procedural system, a subject that has been causing many discussions and debates. In this way, it is sought to understand the problem of the reduction of the penal age anchored in the socio-legal perspective. The purpose of this article is to examine the relationship between law and public opinion regarding the issue of reducing the age of criminality. However, it is necessary to understand how the Brazilian penitentiary system works and the resocialization problems to advance in this debate. The principle of the defense of the dignity of the human person and the defense of fundamental rights and a constitutional analysis will be pressing to validate the impossibility of reducing the criminal minority. . Keywords: Penalty- Right- Public opinion- Respecting- Dignity of the human person. . SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 9 2. O ESTADO POSSUI CAPACIDADE ESTRUTURAL PARA ABRIGAR MAIS PRESOS...... 10 3. A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL SERIA A MELHOR SOLUÇÃO PARA RESOLVER A CRIMINALIDADE NO BRASIL.......................................................... 12 3.1 ENTRE O DIREITO E A OPINIÃO PÚBLICA........................................................ 13 4. O IMPACTO CAUSADO NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL COM A REDUÇÃO................................. 16 5. DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OFENSA AO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA......................... 17 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 18 REFERÊNCIAS.................................................................................... 20 9 1 INTRODUÇÃO A metodologia de pesquisa utilizada para melhores esclarecimentos, sobre o Tema abordado, foi a Exploratória, cujo objetivo é avaliar de que forma a redução da Maioridade Penal seria benéfica ou não, para sua aplicação futura no Processo Penal e como na prática isso atingiria o sistema prisional brasileiro. Para descobrir os motivos de tal questionamento, o pesquisador vai analisar obras entre estudiosos do Direito e a opinião pública por meio de veículos de comunicação, para somente depois, definir a problemática da Redução da Maioridade Penal. O debate que envolve a redução da maioridade penal é maior e transcende as questões da responsabilização do menor em si, pois, como veremos, é indispensável uma reflexão acerca do clamor social que envolve a redução da maioridade, isto é, o direito penal simbólico. Ademais, se o universo prisional dos menores é infinitamente menor se comparado ao universo prisional brasileiro uma nova reflexão deverá ser feita: o problema é a criminalidade dos inimputáveis ou existe uma crise da ressocialização prisional brasileira? Com base nestas análises teremos condições para aprofundar o tema e vislumbrar a questão sobre a ótica dos direitos humanos fundamentais. Parece compreensível que a população procure encontrar soluções para problemas que os afligem. Produzindo uma significativa tensão entre as questões técnicas jurídicas e as visões populares. Um dos obstáculos com os quais se depara o estudioso sobre as relações entre o direito e a opinião pública é precisamentea dificuldade de estabelecer qual é o setor da opinião pública a ser avaliado diante de um determinado fato. Teremos como modelo para a relação entre a opinião pública e o direito e como o clamor popular acaba por gerar um debate no qual não são tratadas apenas as questões processuais da esfera jurídica, mas também o sentimento de justiça cultivado pela população. Utilizaremos como fonte de pesquisa as discussões veiculadas pela mídia, sobretudo aquelas divulgadas na Folha de São Paulo. A escolha desse meio de comunicação de massa não é arbitrária, mas justifica-se pela cobertura exaustiva que fizera do episódio em pauta e pela publicação das opiniões de leitores em coluna específica do jornal. 10 2 O ESTADO POSSUI CAPACIDADE ESTRUTURAL PARA ABRIGAR MAIS PRESOS A Neste prisma, devemos entender que a privação de liberdade do adolescente e sua inserção em presídios destinados aos criminosos adultos não são expedientes adequados para reeducá-los. Essa incapacidade se acentua sobremaneira ao termo em vista as condições nas quais é gerido o sistema prisional brasileiro. Assim, se é certo que a Febem não é uma instituição apta a cumprir seus objetivos, não é menos correto afirmar que as prisões também se afiguram como meio reprodutor da prática criminosa e da desumanização do indivíduo. Sabe-se que elas são desprovidas de condições mínimas de convivência saudável entre os apenados. Instalações insalubres, superlotação, ausência de acompanhamento psicológico e alimentação de qualidade precária constituem algumas mazelas cuja solução nem sequer foi pensada criteriosamente pelas autoridades encarregadas do assunto. Em vez de ressocializar o criminoso, nossa estrutura carcerária acaba por incitá-lo ao crime, na medida em que o convívio do confinamento é ambiente propício a reiterar a experiência delituosa. Por isso, não é sem razão que Luiz Flávio Gomes pondera: "Se os presídios são reconhecidamente faculdades do crime, a colocação dos adolescentes neles só teria um significado: iríamos mais cedo prepará-los para integrarem o crime organizado". Também Mirabete não se posiciona pela redução da maioridade penal, chegando a afirmar que ela "representaria um retrocesso na política penal e penitenciária brasileira e criaria a promiscuidade dos jovens com delinquentes contumazes". A colocação dos autores é paradigmática a respeito de como a intenção de solucionar o problema da criminalidade recorrendo-se a esse expediente produziria um efeito inverso: em vez de reduzir os índices de infrações teríamos uma precocidade significativa daqueles que ingressam no mundo do crime. Como se não bastasse isso, as medidas socioeducativas, previstas na legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente, não seriam postas em ação e a redução da idade penal se nos apresentaria destituída de eficácia, como atestam as palavras de Adriana Loche e Antônio Leite: "É justamente esse escopo reeducativo, ressocializador, que parece inexistir nas propostas de redução da imputabilidade penal. Ora, reduzida a idade para a submissão ao Código Penal, adolescentes estarão sujeitos às sanções penais, que, em sua maioria, são penas privativas de liberdade, cumpridas no caótico e desumano sistema carcerário brasileiro. 11 Além disso, querer submeter mais pessoas, no caso, os jovens maiores de 14 ou 16 anos, conforme a proposta a esse sistema não denota nenhuma preocupação com sua ressocialização, ficando evidente que se busca apenas a retribuição vingativa e castigatória àquela pessoa que violou uma norma social de conduta". Evandro Lins e Silva disse com muita propriedade que: "Toda vez que a violência aumenta, as pessoas tendem a clamar por medidas punitivas mais rigorosas para os transgressores das leis. Pedem a pena de morte para os mais perigosos e cadeia para todos quanto saiam do trilho da conduta determinada pela legislação em vigor. Essa é uma reação instintiva e nada racional. Ninguém ignora que hoje no Brasil a prisão não regenera nem ressocializa as pessoas que são privadas da liberdade por ter cometido algum tipo de crime. Ao contrário, é de conhecimento geral que a cadeia perverte, corrompe, deforma, avilta e embrutece. É uma universidade às avessas, onde se diploma o profissional do crime" (in Veja, de 22.5.91, p. 90). 12 3 A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL SERIA A MELHOR SOLUÇÃO PARA RESOLVER A CRIMINALIDADE NO BRASIL A Redução da maioridade penal, por si só, não é suficiente para erradicar a criminalidade no Brasil, o Estado deveria investir em políticas sociais para evitar que os jovens entrem no crime. Para entender melhor a discussão, a Revista EXAME conversou com um professor de Direito da Universidade Mackenzie sobre o tema: Humberto B. Fabretti, professor de direito penal da Universidade Mackenzie. “São vários os motivos que me fazem ser contra a redução da maioridade penal. O primeiro é que eu acho que esta é uma cláusula pétrea da Constituição Federal. Isto é, ela não poderia nem ser levada ao plenário para ser discutida. Quando o legislador fez a Constituição, ele colocou algumas questões que não queria que fossem discutidas novamente – e este é o caso da maioridade penal. Para modificá- la, teria que ser feita outra Constituição. Agora, do ponto de vista material, são três os principais pontos. Primeiro, eu acredito que a inserção destes jovens no sistema de punição dos adultos não vai mudar a realidade. Ou seja, não vai fazer com que eles cometam menos crimes. Segundo os crimes graves, como os homicídios, praticados por menores não representam nem 1% dos crimes cometidos atualmente. Então, vamos acabar reduzindo a maioridade para colocar no sistema carcerário aqueles menores que praticarem furtos e roubos. Em vez de irem para a Fundação Casa, eles irão para o sistema carcerário, que é tão ruim quanto. Além disso, o sistema carcerário brasileiro é horroroso e não recupera ninguém. Colocando estes jovens mais cedo lá só vamos conseguir colocá-los mais cedo no crime organizado. O último argumento é o de que já existe um sistema de responsabilidade criminal para estes jovens, que é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A gente costuma ouvir que o menor de 18 anos não tem responsabilidade penal, mas a partir dos 12 anos eles têm sim, o ECA. “Então, há sim responsabilidade, ela só é diferente dos adultos, porque menores são diferentes dos adultos.” 13 Desta forma, é de suma importância ressaltar que há redução não seria sozinha suficiente para erradicar a criminalidade, mas que em conjunto com outras medidas tomadas pelo Estado, como restruturação e investimento, podem sim em um longo prazo ter efeitos positivos. 3.1 ENTRE O DIREITO E A OPINIÃO PÚBLICA. Relativamente ao direito, são muitos os temas versados pelas pesquisas de opinião pública. Em sua maioria, tais pesquisas são realizadas por sociólogos-juristas que visam compreender a ligação entre os pressupostos da normatividade jurídica e a noção que têm os leigos sobre eles. É comum encontrarmos investigações que focalizem a aceitação e o conhecimento do direito por parte da população, bem como o funcionamento do sistema jurídico. Não é difícil entender a razão pelas quais, causa certa repulsa às instâncias jurídicas é cultivada pelo povo, devido ao grande índice de corrupção, o que aumenta anseios e possibilidades de consecução da justiça. Sobre esse assunto, Cavalieri Filho observa: “Quando a opinião pública se forma no sentido de considerar umadeterminada instituição arcaica, deficiente, ineficaz etc., então é alto tempo de se procurar saber onde estão as causas de suas deficiências e de se realizarem as reformas necessárias, sob pena de se tornar a instituição totalmente irrecuperável. É o que ocorre atualmente com o Judiciário, a respeito do qual a opinião pública se formou (já é possível conhecê-la mesmo sem uma pesquisa científica, tão grave se tornou o problema) no sentido de considerá-lo deficiente, emperrado e moroso" (BARBATO JR, 2004, apud CAVALIERI FILHO, 2002, pg. 3). Note-se que a dimensão da crise do Judiciário é tamanha que o autor assinala a ausência de pesquisas científicas para aferi-la. Mesmo os leigos que não têm o hábito de se informar sabem que na estrutura desse poder grassa a corrupção. Além disso, o teor da opinião pública é frequentemente desprovido de conhecimentos criteriosos sobre o sistema jurídico. Não poderia ser diferente, posto que no Brasil o conhecimento da normatividade jurídica por parte da população é ainda extremamente restrito, senão limitado. Tendo como foco essa problemática, Ana Lúcia Sabadell pondera: 14 "A maior parte dos cidadãos possui uma imagem parcial e incompleta sobre o sistema jurídico e, dessa forma, as respostas não refletem um conhecimento ou uma realidade do direito, mas somente uma opinião confusa e ideológica. A pessoa comum não possui conhecimento suficiente para analisar, por exemplo, se a Justiça combate eficientemente a criminalidade ou se os juízes são imparciais. Se for perguntado, o cidadão tentará generalizar em base às poucas experiências pessoais e, sobretudo, repetindo a opinião veiculada pela mídia, que dá particular destaque aos problemas e escândalos (exemplo: ''corrupção de juízes'') e nunca noticia o cotidiano normal do sistema jurídico. Assim sendo, os questionários relativos à opinião sobre o direito em geral reproduzem o ''senso comum'' difundido pela mídia, ou seja, refletem estereótipos e visões ''sensacionalistas'', não descobrem a opinião ''pessoal'' de cada interrogado e seguramente não permitem constatar a ''realidade'' do direito" (BARBATO JR, 2004, apud LÚCIA SABADELL, 2002, pg. 4). Com base, nas observações da autora, é fato notório que quando a mídia noticia algum crime bárbaro, irrompe o anseio, por parte da população, de um direito repressivo. Movida pelo calor da hora e pelo sentimento de inconformismo tão característico de quem se vê as voltas com atrocidades, é ela que reivindica, amparando-se numa suposta legitimidade, sanções mais severas aos infratores. Contudo, transcorrido algum tempo do episódio narrado, o inconformismo é sobejamente atenuado. Constata-se a grande instabilidade da opinião pública sobre o direito. Após um crime ou um escândalo político, muitos se sentem indignados com o sistema de Justiça e multiplicam os apelos por uma política repressiva. Passada a comoção, muda a opinião. A instabilidade da opinião pública é ainda mais patente num país que parece corroborar a máxima segundo a qual seus cidadãos "têm memória curta". Apoiada no chamado sentimento de justiça, a população tenciona estabelecer o que considera justo e quais padrões deve seguir, a fim de promover um convívio saudável na ordem social. É de suma importância, á avaliação que fez Roberto Barbato Jr. do que seja o sentimento de justiça: 15 "O exame do sentimento de justiça abrange necessariamente o das normas existentes, sua adequação, ou não, ao que é tido como justo, a aprovação social das sanções que o direito estabelece e garantidora da validez e eficácia das normas. Também abarca a maneira como a opinião do público se manifesta sobre o comportamento ilícito, ou a distância entre a desaprovação da norma jurídica a certa conduta, e a desaprovação que o consenso ético- social impõe à mesma forma de comportamento" (BARBATO JR, 2004, pg.6). Deste modo, seria desejável que os anseios do público fossem levados em consideração pelos legisladores quando da instituição de leis. Esse procedimento poderia garantir, em expressiva medida, a eficácia do direito, porquanto haveria a compatibilidade entre as aspirações do povo e as regras prescritas pela normatividade jurídica. Como avaliar, então, a ligação entre a opinião pública e o direito? Em que medida as reivindicações feitas pela sociedade civil não se choca com a opinião dos juristas? Quais são os pontos de tensão e aproximação entre o ideal de justiça do povo e a posição dos especialistas na área penal? Recorramos novamente às ponderações de Miranda Rosa: "A propósito é interessante abordar a relação existente entre o direito e a opinião pública. Ambos os fenômenos, como ocorre em geral na sociedade, são condicionantes e condicionados recíprocos, em virtude da interação que opera entre a norma jurídica e a opinião pública. (...) As regras de direito moldam, em parte, (...), a opinião dominante em determinada sociedade. (...) A maneira como são encaradas, porém, tais regras pelos componentes da opinião grupal, constitui algo que exige reflexão e pode indicar caminhos legislativos mais apropriados" (BARBATO JR, 2004, apud MIRANDA ROSA, 1996, pg. 204). Com base, nessa ponderação direito-opinião pública é que nos seria possível entender a relação que se opera com frequência entre a sociedade e a normatividade jurídica. Trata-se de uma relação dialética, por meio da qual se torna viável apreender as concepções sociais relativamente às normas de conduta que orientam a vida. 16 4 O IMPACTO CAUSADO NO SISTEMA PROCESSUAL PENAL COM A REDUÇÃO. É imprescindível ressaltar, que com a redução da maioridade penal o abarrotamento do judiciário com ações penais terá um aumento significativo, tornando cada vez mais precária a sua situação, não resolvendo a criminalidade, e sim usando mais dinheiro do Estado para a realização de toda a instrução processual e investimentos com um possível aumento de demanda. Deve-se lembrar ainda que o Brasil tem uma população carcerária que chegou a 726 mil e se tornou a terceira maior do mundo, ultrapassando a da Rússia, que é de pouco mais de 607 mil. O Brasil ficou atrás de Estados Unidos, que tem mais de 2 milhões de presos, e China, com mais de 1 milhão e 600 mil pessoas encarceradas. O número de vagas, por sua vez, está estagnado e alcança apenas a metade. Para cada vaga individual, há duas pessoas detidas. Além disso, diversos exemplos de aplicação bem sucedida do Estatuto da Criança e do Adolescente reforçam que a busca por soluções para a criminalidade envolvendo adolescentes passa pela implementação das medidas socioeducativas já previstas na legislação, não havendo a necessidade de ações penais para que tal ato. 17 5 DA INCONSTITUCIONALIDADE POR OFENSA AO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA A discussão em torno da redução da maioridade penal deve, também, conter a analise de outro prisma: a dos direitos humanos fundamentais. O art. 1.º, III, da CF/1988 (LGL\1988\3): “Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (…) III – a dignidade da pessoa humana”. Ao se analisar um sistema repressor que tem como escopo atingir os menores de idade em contrario sensu ao que demanda e preceitua o ECA (LGL\1990\37),segundo o qual a maioridade é alcançada apenas aos dezoito anos. Tratar o ser humano como um número, amontoar um grande número de pessoas em um espaço que não comporta. O problema da superlotação é antigo e somado ao fato do Brasil cada vez mais tipificar condutas sinaliza em um aumento de presos constante. O princípio da dignidade da pessoa humana prevê a defesa de algo maior que a criança e do adolescente e do adulto: a vida do individuo, a qual no contexto de um menor de idade se refere ao seu futuro. Condenar um jovem a uma inserção forçada ao universo prisional não trará maior conforto ou proteção à sociedade, porém, aos olhos da mídia e da opinião pública, o sistema está “seguro”. É MUITO VÁLIDO LERMOS O QUE DIZ RAYANNI MAYARA DA SILVA ALBUQUERQUE ACERCA DESSE PRINCÍPIO FUNDAMENTAL, QUE AO SE REFERIR À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DISSE O SEGUINTE: [...] A dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional, pois ela é um desses conceitos a priori, um dado preexistente a toda experiência especulativa, tal como a pessoa humana [...] a dignidade é um atributo intrínseco ao ser humano, da essência da pessoa humana [...] Nesse contexto, a proteção do menor de dezoito anos contra ser punido antes é uma proteção à dignidade da pessoa humana, porquanto, o sistema de carcerário brasileira expressa uma grave ofensa ao dever do Estado de não submeter ninguém a situação de degradação, como uma decorrência da observância do princípio da dignidade da pessoa humana. A discussão que paira acerca da redução da maioridade penal é estéril ante 18 aos preceitos dos direitos humanos fundamentais, os tratados aos quais o Brasil é signatário e por limitação expressa da própria Constituição Federal de 1988 vigente há mais de duas décadas. Sendo assim, a solução não é tratar da prisão do menor, mas sim, em fornecer meios alternativos de combate à criminalização brasileira atual e buscar uma forma de efetivar praticamente a ressocialização prisional. Modelo este que se inicia com o jovem, e que deve ser estendido aos adultos com a privatização dos presídios, que deve ser estudada como uma das possibilidades para a solução da criminalidade. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS É humanamente impossível obter-se a recuperação social de quem quer que seja, em uma cela, projetada para dez, quinze pessoas, que abriga quarenta, cinquenta, as condições de convívio são péssimas em total contrariedade ao princípio da defesa da dignidade da pessoa humana. Será que a solução é o sistema prisional? Se fosse, os índices de criminalidade deveriam cair, uma vez que funcionaria como um inibidor, como a opinião pública acredita, assim, a pessoa evitaria praticar o crime, porque saberia que iria presa e teria uma pena mais pesada. Mas, na prática não é o que ocorre, prova disso é o estudo, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que aponta que 50,9% dos casos registrados de estupro em 2016, em 32,1% dos casos, as vítimas foram adultos, e em 17%, adolescentes. O atual sistema penal brasileiro é eficaz, o real problema não é penal, mas sim social. O Direito Penal e Processual Penal somente está sendo questionado, porque tem a função de ultima “ratio”, ou melhor, a última alternativa para reparar a impunidade, e ao que se dispõe, o objetivo está plenamente sendo alcançado. O que motiva este excesso de lotação, que por vezes desacredita o próprio sistema prisional, nada mais é do que a atual situação social enfrentada pelo país. Já que de que adianta prender alguém, se ao soltá-lo este estará pior. Se a maioria das pessoas tivesse um amparo estatal, com um ensino educacional mínimo, emprego, uma concentração de renda não tão acentuada, na qual a classe pobre, que beira o miserável, a motivação para a prática de delitos seria 19 mínima, sendo perfeitamente suficiente o atual sistema penal brasileiro. Aí de fato, o sistema penal teria uma real função social. Hoje o máximo que o sistema prisional representa é um meio para separar aqueles que transcenderam os limites dos demais. A solução é o investimento em um sistema educacional na própria prisão, para o detento ter acesso à informação que não foi possível aprender enquanto estava solto. Que tenha consciência de sua ilicitude e obtenha meios, não de voltar a delinquir, mas sim de praticar atos diversos do crime, porém, para tanto, este condenado precisa aprender a fazer outra coisa. Não temos falsas esperanças de que se um dia isto ocorrer o Brasil será o melhor país do mundo, porém o nível de vida aumentará na inversa proporção do índice de criminalidade. Uma família que tem o que comer, com emprego e educação não tem a menor intenção de praticar uma conduta lesiva, exatamente pelo papel inibidor que representa o direito penal. Todavia, a persistirem as condições atuais, que caminho mais prático terá um chefe de família, ao ver os seus filhos sem ter o que comer, sem educação e sem emprego, senão partir para a marginalidade. É chegado o momento de o legislador brasileiro revestir os direitos do cidadão e não oprimi-los, para somente assim, proteger, os ditames constitucionais, a dignidade da pessoa humana, o cidadão e a sociedade. 20 REFERÊNCIAS ANDRADE, Francisco Flavio Casimiro de. A redução da maioridade penal como alternativa para a diminuição da criminalidade no Brasil. IN: Imprenta: 2008. Pag: 64 f. BARBATO JÚNIOR, Roberto. Redução da maioridade penal: entre o direito e a opinião pública. IN: Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 93, n. 822, p. 429-443, abr. 2004 BASTOS, Guilherme Dourado; DIAS, Gabriel Dourado. A redução da maioridade penal à luz do princípio da dignidade da pessoa humana. IN: Revista do CEPEJ, n. 11, p. 177-197, jul./dez. 2009 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de sociologia jurídica (Você conhece?). 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. GOMES, Luiz Flávio. Redução da maioridade penal: considerações. IN: Repertório IOB de jurisprudência : civil, processual, penal e comercial, n. 6, p. 184, 2. quinz. mar. 2007. GONÇALVES, Antonio Baptista . A redução da maioridade penal e a relação da ressocialização prisional com os direitos fundamentais. Revista de Criminologia e ciências penitenciárias , v. 2, p. 1-50, 2012. JORGE, Éder. Redução da maioridade penal. Disponível em: [http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3374] PIOVESAN, Flávia. A inconstitucionalidade da redução da maioridade penal. Disponível em: [http://www.ibccrim.org.br].
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