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Casos Concretos Processo Penal

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CASOS CONCRETOS PP I
Caso concreto 1
A Autoridade Policial da 13ª Delegacia de Polícia da Comarca da Capital, que investiga o crime de lesão corporal de natureza grave, do qual foi vítima o segurança da boate TheNight, Agenor Silva, obtém elementos de informação que indicam a suspeita de autoria dos fatos ao jovem de classe média Plininho, de 19 anos. O Delegado então determina a intimação de Plininho para que o mesmo compareça em sede policial para prestar esclarecimentos, sob pena de incorrer no crime de desobediência, previsto no art. 330 do CP. Pergunta-se: 
a)Caso Plininho não compareça para prestar declarações, poderá responde pelo crime do art. 330 do CP? 
R=Por analogia ao artigo 457 do CPP, o acusado não pode responder pelo crime de desobediência, pois não é obrigado a produzir provas contra si, tem direito ao silêncio conforme ao princípio da não autoincriminação disposto no art. 5, LXIII da CF, fundamentado no art. 186, § único do CPP. Não pode constrangê-los a produzir provas contra si próprios (RTJ 141/512)."Aquele que sofre persecução penal instaurada pelo Estado tem, dentre outras prerrogativas básicas, o direito (a) de permanecer em silêncio, (b) de não ser compelido a produzir elementos de incriminação contra si próprio nem constrangido a apresentar provas que lhe comprometam a defesa e (c) de se recusar a participar, ativa ou passivamente, de procedimentos probatórios que lhe possam afetar a esfera jurídica, tais como a reprodução simulada do evento delituoso e o fornecimento de padrões gráficos ou de padrões vocais, para efeito de perícia criminal.
b) E se houvesse processo penal tramitando regularmente e o juiz da Vara Criminal intimasse Plininho para o interrogatório, poderia o mesmo responder pelo delito em questão? 
R=Não, pela mesma situação, tanto faz no Inquérito Policial ou na fase processual, não responderá pelo crime de desobediência.
Caso Concreto 2
Jorginho, jovem de classe média, de 19 anos de idade, foi denunciado pela prática da conduta descrita no art. 217-A do CP por manter relações sexuais com sua namorada Tininha, menina com 13 anos de idade. A denúncia foi baseada nos relatos prestados pela mãe da vítima, que, revoltada quando descobriu a situação, noticiou o fato à delegacia de polícia local. Jorginho foi processado e condenado sem que tivesse constituído advogado. Á luz do sistema acusatório diga quais são os direitos de Jorginho durante o processo penal, mencionando ainda as características do nosso sistema processual. 
R=Jorginho tem direito de constituir advogado para exercer sua ampla defesa, e ainda, deve ter oportunidade para contradizer as acusações da parte autora( princípio do contraditório). Dito isso, em análise ao caso em tela, fica claro que a condenação foi nula de pleno direito, uma vez que não houve a concessão de ampla defesa e contraditório ao acusado, ferindo frontalmente o que dispõe o artigo 5º, L V da CF. Convém lembrar que o sistema adotado pelo nosso código de processo penal é o acusatório,quando nele há a característica da separação entre a função acusatória e a julgadora, garantindo a imparcialidade do órgão julgador, e por consequência, assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário das partes. Nesse sistema, ao considerarmos que a iniciativa é do órgão acusador, o defensor tem sempre o direito de se manifestar por último, A produção das provas é incumbência das partes. Ademais, como bem esclarece o nosso código de processo penal no artigo261, é inconcebível a prolação de sentença ao acusado sem que este tenha constituído defensor durante todo o trâmite processual.
Caso Concreto 3
Um transeunte anônimo liga para a circunscricional local e diz ter ocorrido um crime de homicídio e que o autor do crime é Paraibinha, conhecido no local. A simples delatio deu ensejo à instauração de inquérito policial. Pergunta-se: é possível instaurar inquérito policial, seguindo denúncia anônima? Responda, orientando-se na doutrina e jurisprudência
R=A simples delatio criminis não autoriza a instauração de inquérito policial, devendo a autoridade policial, primeiro, confirmar a informação para instaurar o procedimento investigatório. Temerária seria a persecução iniciada por delação, posto que ensejaria a prática de vingança contra desafetos. O art. 5º, inciso IV, da CRFB veda o anonimato
Caso concreto 4
Em um determinado procedimento investigatório, cujo investigado estava solto, a autoridade policial entendeu com base nos indícios apontados em encerrar a investigação apresentando como termo final, o relatório conclusivo do feito com indiciamento do sujeito, bem como encaminhou as respectivas peças a autoridade judiciária, na forma do art. 10, §1° do CPP. Tendo como parâmetro o nosso sistema processual penal, analise a questão à luz da adequada hermenêutica constitucional.
R=Existem duas correntes: uma que entende ter havido arquivamento implícito, aplicando-se a Súmula 524 doS TF; e outra que entende não ter havido o arquivamento implícito, podendo a denúncia será ditada. Este entendimento é majoritário no ordenamento jurídico, pois de acordo com o art. 28 do CPP, o arquivamento deve ser expresso
Caso Concreto 5
João e José são indiciados em Inquérito Policial pela prática do crime de peculato. Concluído o IP e remetidos ao MP, este vem oferecer denúncia em face de João, silenciando quanto à José, que é recebida pelo juiz na forma em que foi proposta. Pergunta-se: Trata-se a hipótese de arquivamento implícito? Aplica-se a Súmula 524 do STF?
R= Sim, trata de arquivamento implícito na qualidade subjetiva, pois, o MP ofereceu denúncia em face de um dos agentes e permaneceu calado com relação ao outro agente. A súmula 524 do STF terá aplicação porque o MP só poderá oferecer denúncia em face do agente que ficou de fora, se, efetivamente existirem provas.
Caso Concreto 6
João, diretor de uma empresa de marketing, agride sua mulher, Maria, modelo fotográfica, causando-lhe lesão de natureza leve. Instaurado inquérito policial, este é concluído após 30 dias, contendo a prova da materialidade e da autoria, e remetido ao Ministério Público. Maria, então, procura o Promotor de Justiça e pede a este que não denuncie João, pois o casal já se reconciliou, a lesão já desapareceu e, principalmente, a condenação de João (que é reincidente) faria com que este perdesse o emprego, o que deixaria a própria vítima e seus três filhos menores em situação dificílima. Diante de tais razões, pode o MP deixar de oferecer denúncia?
R=A pretensão de Maria não pode ser acolhida, em razão do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, que, no caso, é pública incondicionada. Sendo assim, não há possibilidade do MP deixar de oferecer a denúncia
Caso Concreto 7
Paula, com 16 anos de idade é injuriada e difamada por Estevão. Diante do exposto, pergunta-se :
a)De quem é a legitimidade ad causam e ad processum para a propositura da queixa? 
R= Paula tem capacidade de ser parte (legitimatioadcausam), uma vez que foi vítima do 
crime, entretanto, não possui capacidade para estar em juízo, praticando atos processuais válidos (legitimatio ad processum). Assim, sua incapacidade terá que ser suprida através da representação
b) Caso Paula fosse casada, estaria dispensada a representação por parte do cônjuge ou do seu ascendente? Em caso positivo por quê? Em caso negativo quem seria seu representante legal? 
R=Segundo a melhor doutrina, ainda que emancipada, Paula é inimputável ,já que a emancipação só gera efeitos civis, e, caso fizesse falsas afirmações, não estaria sujeita às sanções pela prática do injusto penal de Denunciação Caluniosa. Assim, necessárias e faz a intervenção do representante legal e, não possuindo, seria viável a nomeação de curador especial, conforme art. 33 do CPP
c)Se na data da ocorrência do fato Paula possuísse 18 anos a legitimidade para a propositura da ação seria concorrente ou exclusiva?
R=De acordo com o disposto no art. 5º do Código Civil, a menoridade cessa a partir dos 18completos. Assim,não faz sentido que no processo penal permaneça a legitimação concorrente para os maiores de 18 e menores de 21 anos, pois os maiores de 18 anos são pessoas habilitadaspara todos os atos da vida civil. Segundo a corrente majoritária, o artigo 34 do CPP, assim como outros dispositivos do CPP, perderam o objetivo e foram revogados
Caso Concreto 8
Determinado prefeito municipal, durante o mandato, desvia verbas públicas repassadas ao Município através de convênio com o Ministério da Educação, sujeitas a prestação de contas, visando ao treinamento e qualificação de professores. Referida fraude somente é descoberta após a cessação do mandato, instaurando-se inquérito policial na DP local. Concluído o Inquérito, no qual restaram recolhidos elementos de prova suficientes para a denúncia, o Promotor de Justiça oferece denúncia contra o ex-prefeito. Diante do exposto, diga qual o juízo competente para julgar o ex prefeito
R= O prefeito possui prerrogativa de função, devendo ser julgado no Tribunal de Justiça por força do art. 29, X, CF/88.
Caso Concreto 9
Aristodemo, juiz de direito, em comunhão de desígnios com seu secretário, no dia 20/05/2008, no município de Campinas/SP, pratica o delito descrito no art. 312 do CP, tendo restado consumado o delito. Diante do caso concreto, indaga-se: 
a)Qual o Juízo com competência para julgar o fato? 
R= Considerando que Aristodemo, em concurso com seu secretário, cometeram o crime de peculato, e que Aristodemo tem foro por prerrogativa de função, CF. art. 96, III da CRFB, o magistrado e seu secretário serão julgado pelo Tribunal de Justiça, pois a jurisdição mais graduada do Tribunal predomina sobre a jurisdição menos graduada do 1° grau, fazendo com que, também, o funcionário seja julgado pelo Colegiado, CF art. 78, III do CPP, por continência. Nesse sentido, aliás, reza a súmula 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal, a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”.
b) Caso fosse crime doloso contra a vida, como ficaria a competência para o julgamento?
R=A questão suscita divergências. Existem duas orientações acerca do tema. A primeira tese está no sentido de que o Juiz será julgado pelo Tribunal de Justiça nos moldes do art.96, III da CRFB/88, submetendo-se, contudo ,o coautor a Júri Popular, CF art.5,XXXVIII da CRFB/88. É que ambas as competências têm assento na Constituição, devendo os processos serem separados, não podendo a lei ordinária, alterar regra constitucional. Convém salientar, todavia, que existe um segundo posicionamento, no sentido da ocorrência da continência (77, I do CPP), a ensejar unidade de processo e julgamento, prevalecendo a competência do Tribunal de Justiça, por força do art. 78, III do CPP.
Caso Concreto 10
Deoclécio, pistoleiro profissional, matou um desafeto de Pezão, a mando deste, abandonando o cadáver numa chácara de propriedade de Lindomar, que nada sabia. Temeroso de que lhe atribuíssem a autoria do homicídio, Lindomar sepultou clandestinamente o cadáver da vítima. Isso considerado, indaga-se: 
a)A hipótese é de conexão ou continência? 
R=Continência em relação a Deoclécio e Pezão pelo crime de homicídio, art. 77, I doCPP.Conexão do homicídio com ocultação de cadáver praticado por Lindomar, art. 211 do CP c/c art. 76, II do CPP (Conexão Objetiva).
b)Haverá reunião das ações penais em um só juízo? 
R=Sim, CF art. 78, I do CPP
c) Qual será o juízo competente para julgar Cabeção, Pezão e Lindomar? 
R=Ao teor do art. 78, I do CPP, compete ao Tribunal do Júri julgar todos os delitos praticados dolosamente contra a vida.
Caso Concreto 11
Seguindo denúncia anônima sobre existência de “boca de fumo”, uma equipe de policiais combina dar um flagrante no local. Lá chegando, ficam de espreita, presenciando alguma movimentação de pessoas, entrando e saindo do imóvel, que também servia de residência. Já passava das 21h, quando telefonaram à autoridade policial e esta autorizou o ingresso para busca e apreensão. Assim foi feito e os policiais lograram apreender grande quantidade de pedra de crack, que estava escondida sob uma tábua do assoalho. Levado o morador à DP local, foi ele submetido ao procedimento legal de flagrante, sendo imediatamente comunicada a prisão ao juízo competente. O defensor público requereu o relaxamento do flagrante, por ilegalidade manifesta. Assiste razão a defesa?
R=Não assiste razão à defesa. No particular aspecto do crime de drogas, a modalidade de cometimento da infração “guardar, ter em depósito, trazer consigo ou transportar ”, caracteriza estado de flagrância permanente. Em que pese a aparência de ilegalidade da atividade persecutória, não houve violação do domicílio, em razão do estado de flagrante delito. Existe, contudo, entendimento contrário.
Caso Concreto 12
Após uma longa investigação da delegacia de polícia local, Adamastor foi preso às 21h em sua casa, em razão de um mandado de prisão temporária expedido pelo juiz competente, por crime de descaminho. A prisão fora decretada por 10 dias. O advogado de Adamastor impetrou Habeas Corpus requerendo a sua liberdade provisória com fundamento no art. 310 do CPP. Em no máximo 10 linhas, discorra sobre o exposto acima, analisando as hipóteses de cabimento, prazo da prisão temporária
R=A prisão temporária foi decretada ilegalmente. Esta deverá ter um prazo de 05 dias, prorrogáveis por mais 05, e, se for crime hediondo, o prazo será de 30 dias, prorrogáveis pormais 30. Ademais, de acordo com a Lei da Prisão Temporária, ela não é cabível no crime de Descaminho. Além dos motivos citados, a CRFB/88, em seu art. 5º, XI, estabelece que ordem judicial só poderá ser cumprida durante o dia. Como se trata de uma Prisão ilegal é cabível o relaxamento de prisão. Só se fala em liberdade provisória quando se está diante de uma prisão em flagrante legal, porém desnecessária, cf. art. 310 do CPP
Caso Concreto 13
Flávio foi preso em flagrante delito por estar portando três papelotes de cocaína, que alegou ser para uso próprio, nas proximidades de uma casa noturna. Conduzido à Delegacia, o Delegado lavrou o APF, indiciando Flávio pela prática do crime previsto no art. 33 da Lei 11.343/06, representando ao juízo pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva. O advogado de Flávio ajuizou junto à 1ª Vara Criminal de Nova Friburgo pedido de liberdade provisória, que foi negado sob o argumento de que o art. 44 da Lei de Drogas veda a concessão de liberdade provisória e este crime ser considerado inafiançável nos termos do art. 5º, XLIII, da Constituição, sem indicação fundamentada dos requisitos do art. 312, CPP, que ensejam a prisão preventiva. Agiu de forma adequada o magistrado? Justifique sua resposta
R=Não há como se sustentar o ato do Magistrado, visto o c rime cometido no caso em tela, nos termos do artigo 33 da lei 11.343/06 (lei de drogas) está na sua forma privilegiada,conforme dispõe o parágrafo 4º do artigo 33 do mesmo regramento, devendo assim a possível pena a ser aplicada ser reduzida de um sexto a dois terços. 
Ademais, nota-se que não há circunstâncias caracterizadoras da prisão preventiva, visto a não verificação de perigo a ordem pública, econômica ou a conveniência da instrução criminal, como as sim se depreende do artigo 312 do CPP. 
Se faz necessário também ressaltar que em decisão recente pela suprema corte, na apreciação do HC 82.959, firmou -se o entendimento sobre a possibilidade de conversão em pena restritiva de direitos nos crimes disposto no artigo 33 da lei de drogas na sua forma privilegiada, ou seja, quando constatada a primariedade do réu, bons antecedentes e que não se dedica a atividades criminosas.Portanto, em tais casos, se o juiz vislumbrar a probabilidade de ser futuramente reconhecida na sentença a sua forma privilegiada, poderá deixar de decretar a prisão preventiva, tendo e m vista que não faz sentido manter o acusado preso
Caso Concreto 14
O Promotor de Justiça com atribuição requereu o arquivamento do inquérito policial, em razão da atipicidade, com fundamento no art.395, II do CPP. O juiz concordou com as razões invocadas e determinou o arquivamento do IP. Um mês depois, o próprio promotor de justiça tomou conhecimento de prova substancialmente nova, indicativa de que o fato realmente praticado era típico. Poderá ser instaurada ação penal? A decisão de arquivamento do IP faz coisa julgada material?
R=O art. 395, II do CPP não menciona arquivamento de IP, porém, acaba sendo usado por analogia a essa hipótese. Portanto, não poderá ser instaurada ação penal, pois a decisão que deferiu o arquivamento do IP, neste caso, faz coisa julgada material, mesmo surgindo fato novo.
Caso Concreto 15
João foi condenado por crime de latrocínio a uma pena de 25 anos de reclusão a ser cumprida no regime fechado. Ocorre que no curso da execução de tal pena privativa de liberdade sobrevêm doença mental ao condenado. Diante de tal situação, na qualidade de juiz da execução como decidiria? E se a doença mental ocorresse no curso do processo de conhecimento e posteriormente ao crime? E se a doença mental já existia no momento da prática da infração?
R=Em um primeiro momento caberá ao juiz da execução suspender a execução da pena, determinando a imediata internação do condenado em hospital psiquiátrico, consoante disposição do art. 108 da LEP. Sendo constatado através da perícia psiquiátrica que a situação é irreversível, poderá o juiz converter a pena privativa de liberdade em medida de segurança. Nesse sentido, art. 154 do CPP c/c 183 da LEP. Sobre vindo doença mental durante o processo de conhecimento, este ficará suspenso até que o réu se restabeleça CF. art.152 do CPP. Verificado que o réu era portador de doença mental ao tempo do crime, o processo deverá prosseguir com a presença de um curador e o juiz, ao final, irá prolatar uma sentença penal absolutória imprópria, aplicando medida de segurança CF art. 151 do CPP.

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