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Material de Estudo - Falência e Recuperação Judicial

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INTRODUÇAO AO ESTUDO DA FALÊNCIA E DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
Acabado nosso estudo sobre os títulos de crédito, passamos para a última parte 
que estudaremos dentro do Direito Empresarial, qual seja, a Falência e a Recuperação 
Judicial. 
Desde 1945, o Brasil adotava o Decreto-Lei n° 7661/45, que tratava das 
Falências e Concordatas. Imagine-se que, desde então, com a grande modificação da 
sociedade e do direito, principalmente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, 
certo que a legislação pertinente à Falência também teria que sofrer alteração e 
modernização. 
Durante 11 anos ocorreu a tramitação na Câmara dos Deputados e Senado da 
denominada "Nova Lei de Falências" que substituiu a antiga lei referida. 
Era óbvio que o modelo de procedimento previsto no referido Decreto-Lei para 
as empresas em processo falimentar estava obsoleto e não tinha mais a efetividade que o 
Direito Empresarial busca e exige. Referida legislação foi elaborada na época em que o 
Brasil tinha pequeno parque industrial e comercial, e ainda a economia amargava os 
reflexos da 2ª Grande Guerra. Salienta-se, ademais, que o país saia de um longo período 
ditatorial, personificada pelo chamado "Estado Novo", em que a legislação era 
praticamente imposta pelo Poder executivo. 
Ao longo dos 60 anos de vigência da antiga lei de falências (e concordatas), 
muitas mudanças ocorreram, quer por alteração da legislação, quer pela dinâmica da 
Jurisprudência, que foi ajustando as relações entre o falido ou concordatário e seus 
credores, na medida em que a legislação era omissa ou se distanciava da nova realidade 
econômica que então se desenhava. Esse é um fenômeno que vemos em muitos casos, não 
só no Direito Empresarial. Por exemplo, antes da existência do art. 50 do Código Civil que 
trata da Desconsideração da Personalidade Jurídica, a jurisprudência já vinha adotando tal 
medida. 
Finalmente, o projeto de lei original nº 4376/1993, de iniciativa do Poder 
Executivo, depois de idas e vindas entre uma casa legislativa e outra, em razão de emendas 
e substitutivos que eram sugeridos, e ainda, da forte pressão das entidades representativas 
do comércio, da indústria, das instituições financeiras e demais setores interessados, restou 
aprovado. 
A Lei nº 11.101/2005 (nova lei de falências) recebeu a sanção do Presidente da 
República em 09 de fevereiro de 2005, com vacatio legis de 90 dias, começando sua 
vigência em 09 de junho de 2005, cujos aspectos principais nós estudaremos nessa segunda 
parte do semestre. 
PRINCÍPIOS DA NOVA LEI DE FALÊNCIAS 
O Projeto de Lei original foi aprovado pela Câmara dos Deputados, após 10 
anos de debates com os segmentos interessados, incluindo o Poder Judiciário, as entidades 
representativas dos Advogados, com destaque para a Ordem dos Advogados do Brasil. 
Posteriormente, o texto aprovado pelos Deputados, foi remetido ao Senado, 
onde teve como relator o Senador Ramez Tebet. Inúmeras alterações foram feitas naquela 
casa legislativa, sendo mantida, todavia, a coluna dorsal consubstanciada na recuperação 
das empresas, que era um velho sonho acalentado pela classe empresarial e financeira do 
país. 
No relatório do Projeto de Lei Complementar nº 71/2003, o relator destacou 
doze princípios que deveriam orientar a nova lei a ser aprovada, assim enumerados: 
- Preservação da empresa – esse é importantíssimo. Hoje ganha grande destaque 
com o estudo do impacto do direito na economia e na consciência da importância da 
empresa para a sustentabilidade do Estado Democrático-Social de Direito; 
- Separação dos conceitos de empresa e de empresário - isso vocês já estão 
carecas de saber do empresarial I. 
- Retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis - a fim 
de evitar ainda maiores prejuízos; 
- Proteção aos trabalhadores – a nossa legislação é paternalista no que diz 
respeito aos direitos dos trabalhadores, frente ao histórico de escravidão e exploração 
existente – deve-se ter cuidado para não haver exagero nem quanto à proteção do 
empregado, nem com a liberdade do empresário-empregador - equilíbrio; 
- Redução do custo do crédito no Brasil – com a crise de 2008/2009 ainda mais 
forte restou a concretização desse princípio; 
- Celeridade e eficiência dos processos judiciais – não foge da regra geral de que 
a Justiça para ser efetiva deve ser rápida (interessante ler artigos escritos pelo renomado 
jurista Ovídio Baptista, que ilustra o risco de se fazer uma justiça rápida em detrimento de 
uma justiça correta e segura; 
- Segurança jurídica – tanto para o empresário, quanto para o consumidor, para 
o empregado, enfim, para a coletividade um todo; 
- Participação ativa dos credores – como a idéia é de preservação da empresa, os 
credores devem, frente a esta idéia, participar ativamente no sentido de reerguer aquela 
atividade para que possam vir a receber seus créditos. É espécie de luta conjunta; 
- Maximização do valor dos ativos do falido – quanto maior o ativo do falido, 
mais credores serão beneficiados e terão satisfeitos seus créditos; 
- Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno 
porte – na idéia de preservação da empresa e levando-se me consideração que, atualmente, 
grande parte das sociedades empresárias está nessa classificação – os benefícios para o 
micro-empresário e o empresário de pequeno porte passa por vários setores: de registro, 
contábil, fiscal; 
- Rigor na punição de crimes relacionados à falência e à recuperação judicial - 
obrigando o empresário a manter sua escrituração, contabilidade, enfim sua vida empresária 
organizada. Mesmo que com insucesso, o empresário que cumprir as determinações legais 
não sofrerá represálias, principalmente pelo fato de que o insucesso é um risco iminente na 
vida empresarial. 
Tais princípios nortearam o texto final da nova Lei já em vigor desde 2005. é 
importante que, na interpretação das regras contidas no sistema falimentar brasileiro, 
tenhamos em mente os princípios acima referidos, para que possamos tirar proveito de 
100% do texto e de sua efetividade frente à atividade empresarial. 
AS PRINCIPAIS INOVAÇÕES DA NOVA LEI 
A RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS E O FIM DA CONCORDATA 
O novo diploma legal dá ênfase especial para a recuperação judicial e 
extrajudicial das empresas – tal aspecto resta evidente quando percebemos que o primeiro 
princípio trazido no rol é o da manutenção da empresa. 
Assim, as empresas em dificuldade de liquidez (sem capital de giro, com 
passivo mais expressivo que o ativo, etc), poderão fazer um projeto (plano) de 
recuperação, sem solução de continuidade de suas atividades, e sem comprometimento das 
características, prazo e valores dos créditos constituídos. 
A recuperação das empresas substitui a antiga concordata que era uma 
prerrogativa dada aos devedores empresários, em dificuldades, para recuperarem a 
empresa, e sua concessão dependia do atendimento de determinados requisitos (bem 
específicos e estanques) e pressupostos, e dava um fôlego aos comerciantes, para pagar, em 
condições privilegiadas, no prazo de até 2 anos suas dívidas. 
O empresário decidia unilateralmente sobre o pedido e a forma de pagamento, e 
sujeitava todos os credores quirografários, independentemente de sua concordância, 
portanto, não havia a participação ativa dos credores na elaboração do plano de concordata 
– o plano era imposto aos credores, o que trazia grande desconfiança e insatisfação por 
parte dos últimos. O que invariavelmente ocorria, é que a concordata privilegiava um 
determinado empresário, e em contrapartida, levava seus credores ao regime falimentar, 
notadamente as empresas de pequeno porte, ou as que centralizavam suas operaçõescomerciais em poucos clientes. 
Alguns estudos1 determinaram que entre 70 a 80% das empresas em regime de 
concordata acabavam indo à falência, em razão da debilidade financeira, ou ainda 
empurradas pelas crises econômicas cíclicas que ocorreram no Brasil (imagine se ainda 
tivéssemos a concordata em 2008 – seria um caos), ou por problemas internos, ou pelas 
crises mundiais e seus reflexos, determinados pelos efeitos da globalização da economia. 
Ademais, não se pode deixar de referir que muitos empresários, movidos por 
má-fé, se aproveitavam dos efeitos do chamado "favor legal", como era conhecida a 
Concordata, e acabavam desviando recursos, mudando de ramo, constituindo novas 
empresas, desmantelando as estruturas das sociedades empresárias em dificuldades, 
levando-as à falência, com prejuízos significativos aos credores, ao fisco, e principalmente 
aos ex-funcionários, com reflexos negativos para toda sociedade. 
Há muitos casos narrados em que os empresários pediam a concordata não por 
estarem efetivamente em situação financeira complicada, mas para valerem-se das 
vantagens em relação a juros e correção e retirarem empréstimos com valores mais baixos, 
em detrimento de seus credores e parceiros comerciais. Para variar, o Direito traz uma arma 
forte para o auxílio do empresário e a mesma é desvirtuada por uma minoria fraudulenta. 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU EXTRAJUDICIAL DAS EMPRESAS 
Pelas considerações feitas pelo relator do Projeto de Lei nº 71/2003, no Senado, 
"a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise 
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do 
emprego dos trabalhadores, e dos interesses dos credores, promovendo assim, a 
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica". 
 
1 Lamento não ter os dados específicos com fontes confiáveis para dar uma precisa informação. 
Fiel a esse princípio que deu ênfase às vantagens da programação de sua 
recuperação, agora os empresários poderão optar por dois caminhos para sua 
reestruturação, e superação das dificuldades: 
- chamada recuperação extrajudicial, na qual serão chamados apenas os 
credores mais expressivos para renegociarem seus créditos, com objetivo de possibilitar a 
reestruturação da empresa, sem comprometer suas características, prazo e valores dos 
créditos dos demais credores, de menor expressão no passivo da empresa. Muitos chama de 
recuperação branca, como já era conhecida a concordata que não era levada ao Judiciário. 
- a recuperação judicial, que se realizará de maneira mais rígida e formal, sob a 
condução e controle do Poder Judiciário. Evidentemente, com a atuação do Poder 
Judiciário, não há a discricionariedade que há na recuperação extrajudicial, estando o 
empresário atrelado ao regramento especifico da lei e dependendo de autorização e 
homologação do Juízo para fazer efetiva sua recuperação. A recuperação será programada e 
decidida, em princípio, pelos próprios credores, que formarão, opcionalmente, o chamado 
comitê de credores (veremos essas características na aula específica de recuperação judicial 
– agora só estou dando uma pincelada para ficar mais clara a parte geral), em que 
prevalecerá a vontade da maioria, na aprovação do programa. Na hipótese do plano de 
recuperação não alcançar a aprovação, ou não atingir as metas almejadas, caberá ao Juiz 
decretar a falência da empresa. 
Na hipótese se não ser criado o comitê de credores, caberá ao administrador 
judicial (nomeado e de confiança do Juiz), ou ao próprio juiz, deliberar sobre a fiscalização 
das atividades do devedor. Importante salientar que os Juízes que vêm atuando nessa área 
têm buscado todas as formas possíveis para manter a empresa. O Juiz efetivamente se 
entrega ao trabalho e, juntamente com o empresário e os credores, busca a recuperação da 
empresa com a continuidade do negócio. Vejam abaixo a notícia que foi veiculada no sítio 
do Tribunal de Justiça que traz bem essa realidade de participação ativa do Juiz na 
recuperação: 
 
Recuperação judicial de empresa gaúcha 
é considerada inédita no País 
Depois de mais de dois anos de tramitação, foi concluído com êxito o processo de recuperação 
judicial da empresa Recrusul, de Sapucaia do Sul, pioneira na fabricação de carrocerias 
frigoríficas. O Juiz de Direito Fábio Vieira Heerdt, que conduziu o processo, afirma tratar-se da 
única grande recuperação judicial no Brasil que deu certo. "Foi cumprido o plano traçado e o 
pagamento dos créditos trabalhistas, quirografários, com garantia especial e até mesmo dos 
fiscais", explica. "Durante o processo, o plano foi alterado, conforme sentença de encerramento, 
em assembléias-gerais, para correção de rumos e não-decretação da falência." 
Na tarde de ontem (23/12), o magistrado fez o anúncio oficial do encerramento do processo na 
sede da empresa, perante os dirigentes e os cerca de 200 funcionários. Emocionado, lembrou do 
início do processo e da visita que fez às instalações da fábrica: 
"Quando fui ler sobre a Recrusul, disse para minha consciência: há uma história de vida aqui. Há 
um Brasil que deu certo. Há homens, há mulheres, há crianças. Há sonhos. Há vidas. Há 
dignidade; há sofrimento. Há algo que não cabe nas macilentas e frias folhas dos autos do 
processo. Há algo que os advogados não conseguem expressar e o juiz não saberá sentir. Por 
isso, tenho que ir até lá. Tenho de cheirar o perfume do aço, tenho de ver brotar o suor do rosto 
dos trabalhadores; tenho de conhecer o entusiasmo dos engenheiros", recordou. 
 
Sentença de encerramento do processo foi divulgada pelo magistrado... 
"Numa quente e modorrenta manhã de sábado, percorri o parque fabril. Com 37 anos, 
envergonhei-me de, apesar de jogar futebol, tênis e praticar corrida, não conseguir acompanhar o 
passos saltitantes de dois senhores que poderiam ser meus avós. Vi, em seus rostos, o 
entusiasmo juvenil, depois de tantos e tantos anos, que com certeza exibiam desde o primeiro dia. 
Mas percebi, também, a tristeza arrebatadora de quem emprestou seus melhores dias, o verdor da 
juventude, para construir algo para este País. Nesse momento, calou fundo em mim a idéia já 
resolvida: sim, vou apostar nessas vidas. Essas pessoas merecem uma chance." 
E recordou o dia em que, dois anos depois, uma funcionária do Foro irrompeu no em seu gabinete 
e disse: "Quero agradecer. Hoje meu marido, depois de um ano de depressão e desemprego, 
fardou seu uniforme, fez a barba e disse: mulher, faz minha marmita que hoje vou trabalhar, o juiz 
mandou reabrir a fábrica!" 
...perante a direitoria e funcionários da fábrica 
Plano de recuperação 
Conforme a Lei nº 11.101/2005, o objetivo da recuperação judicial da empresa é sanear a situação 
de crise econômico-financeira do devedor; salvaguardar a manutenção da fonte produtora, do 
emprego de seus trabalhadores e os interesses dos credores e viabilizar a função social da 
empresa. 
O plano estabelecido teve como diretrizes: a existência de estoques; retomada inicial aquém da 
capacidade industrial redimensionada; gradual recuperação de crédito junto a fornecedores; 
desnecessidade de aquisição de bens de capital, face à manutenção do parque industrial e, por 
fim, redução do custo das matérias primas. Propõe-se a gradativamente ir conquistando mercado, 
dentro das limitações financeiras e creditícias da empresa. Para tanto, partiu de uma reserva 
financeira estimada em R$ 3 milhões, a ser obtido no lote de alienações do ativo imobilizado 
Na sentença de encerramento, publicada na sede da empresa, o Juiz registrou que foram 
cumpridos todos os requisitos legais essenciais ao processamento da recuperação, bem como 
cumpridas as obrigações constantes doplano aprovado em assembléia-geral. Estão previstos – e 
já se iniciaram - os pagamentos de todas as classes de credores, oportunizando-se, até mesmo 
que o Fisco (União), não sujeita ao procedimento em voga, pudesse compor seus débitos junto à 
devedora. 
A empresa 
A Recrusul foi pioneira no emprego do poliuretano para confecção de carrocerias e semi-reboques 
revestidas de fibra de vidro. 
Segundo material impresso – folder – de divulgação da empresa, que torno anexo à sentença, a 
Recrusul S.A., inicialmente denominada Indústria e Comércio Refrigeração Cruzeiro do Sul Ltda., 
fundada por Ewaldo Wosiak e Hélio Wosiak, em Marcelino Ramos (RS) em 1954, teve sua origem 
em 1937, com a utilização das horas noturnas ociosas de uma usina geradora de energia elétrica 
na fabricação de gelo para atender o transporte de pescado da região. 
Em 1958, para atender a demanda de transporte e estocagem de produtos perecíveis produzidos 
pelos frigoríficos locais para o centro do país, fabricou a primeira carroceria frigorífica para essa 
utilização. No ano de 1967, instalou uma nova planta industrial com área de 110.000m2 em 
Sapucaia do Sul. A partir daí, os refrigeradores comerciais e balcões frigoríficos até então 
fabricados deram lugar a uma nova linha, com tecnologia de ponta, colocando a Recrusul como 
líder brasileira na produção de carrocerias e semi-reboques frigoríficos. Chegou, nessa condição, a 
ter em seu quadro 800 funcionários, distribuídos nas sedes de Sapucaia do Sul, Manaus, Rio de 
Janeiro e São Paulo. 
Na América Latina, desde 1968, firmou-se pioneira na produção de carrocerias e semi-reboques 
isolados com espuma rígida de poliuretano, revestidos interna e externamente com fibra de vidro. 
Também produz tanques autoportantes para transporte de produtos alimentícios, químicos e 
combustíveis fabricados em aço inoxidável e liga de alumínio, ar condicionado de teto para ônibus, 
chassi articulado para ônibus, túnel de congelamento e resfriamento dotados de controlador lógico 
programável (CLP). 
 
No planejamento de recuperação poderão ser programadas formas previstas no 
artigo 50, da Lei 11.101/05, das quais se destaca a capitalização da empresa, com a venda 
de parte da empresa, venda de ativos, renegociação e alongamento de prazos, cisão, 
incorporação e fusão de sociedade, alteração do controle societário, dentre outros, para o 
fim de melhorar o seu desempenho. 
No caso do plano de recuperação judicial ser aceito pelo Juiz, ficarão suspensas 
as ações de execução dos credores (até mesmo os trabalhistas) pelo prazo de 180 dias, 
podendo esse prazo ser prorrogado por mais 90 dias. 
Agora, a nova lei não estabelece um prazo fixo para a recuperação judicial da 
empresa, podendo este ser projetado no plano de recuperação, sendo essa uma modificação 
importante em relação ao processo de concordata que previa um prazo de até dois anos, 
com pagamento de 40% dos créditos no primeiro ano, e 60%, no segundo ano. 
A aplicação da recuperação no Judiciário tem imposto prazos sim para sua 
efetivação. A prática desmente essa idéia de prazo ilimitado que a lei trouxe. 
Houve algumas modificações da antiga lei para a atual lei de recuperação 
judicial e falências. Uma delas é a limitação do privilégio de créditos trabalhistas (limite de 
150 salários mínimos para cada credor). 
A segunda colocação na classificação de credores ser dos credores com garantia 
real (na maioria das vezes, o bancos) também é grande novidade. Outra grande novidade é 
a da substituição do síndico pelo administrador judicial, profissional que deve ter 
conhecimentos multidisciplinares (ver art. 21 e seguintes da Lei nº 11.101/2005). 
O PROCESSO DE FALÊNCIA 
 
Já vimos os princípios que regem a falência e a recuperação judicial, vendo as 
grandes diferenças e inovações trazidas pela nova Lei de falências, lei n° 11.101/2005. 
Passada essa parte introdutória e geral, vamos passar ao estudo do processo falimentar 
propriamente dito, estabelecendo quem são os sujeitos que podem requerer a falência, como 
ocorre esse pedido, fases, etc. 
 
Inicia-se o estudo fazendo a seguinte análise: o devedor garante suas dívidas com 
o seu patrimônio, portanto se este não saldar suas obrigações, o credor poderá propor uma 
ação judicial denominada execução (vimos bastante essa questão nos títulos de crédito e, 
caso ainda não tenham estudado, o processo de execução é matéria de um semestre inteiro 
de processo civil), quando o Judiciário irá satisfazer seu crédito por meio da penhora e 
leilão dos bens suficientes do devedor. 
 
Em regra, essa ação judicial é individual, ou seja, credor contra devedor. O credor, 
por exemplo, aquele que detém um título de crédito, ingressa com ação contra o devedor, 
envolvendo o feito judicial somente essas duas partes. 
 
Todavia, se nos depararmos com uma situação em que o total do débito do 
devedor é inferior ao seu patrimônio, teríamos uma “corrida” de credores para tentarem 
satisfazer o seu crédito, pois aquele que não lograsse ajuizar a ação de execução a tempo 
ficaria sem patrimônio para garantir seu crédito. É uma corrida para ver quem penhora 
antes, quem recebe antes, pois se está ciente de que o patrimônio do empresário não é 
suficiente para arcar com todas as dívidas por ele contraídas. 
 
Tal situação, obviamente, é injusta, pois todos aqueles que contrataram com o 
empresário, querem e devem receber os valores devidos pelo mesmo, sob pena de eles 
mesmos terem sua atividade inviabilizada. 
 
Para a solução dessa hipótese, a lei criou uma forma de execução coletiva ou 
concurso de credores (expressão muito usada quando se trata da matéria que ora 
estudamos). Assim, se o devedor possui um patrimônio inferior às suas dívidas, os credores 
deverão satisfazer seus créditos por meio de uma ação coletiva e não individual. 
 
Surge, então, a falência, que é uma execução coletiva (concursal), proposta contra 
um devedor empresário, para obrigar a venda de seu patrimônio, partilhando o seu 
resultado em proporção aos seus credores, na tentativa de satisfazer, de forma igualitária, 
seus créditos. Não seria justo somente um credor receber a totalidade de seus créditos, 
enquanto os demais arquem com prejuízo total. Melhor que cada um receba um pouco, que 
seja, porém receba alguma coisa. 
 
A falência é um instituto privativo do devedor empresário, ou seja, somente contra 
um devedor empresário é que há possibilidade de ingressar com pedido de falência, e lhe 
concede certos benefícios na tentativa de proteger a existência da empresa, não se aplicando 
ao devedor civil. O insolvente civil será tratado de forma distinta. 
 
A falência está prevista na Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, conforme 
vimos na aula passada, e essa lei deve ser lida na sua integralidade por todos. Não veremos 
todos os seus artigos, porém é importante que tenham a idéia globalizada do que a lei 
expõe. 
 
Apesar da regra ser no sentido de que o empresário (num todo) está sujeito ao 
regime falimentar, a lei de falências traz algumas exceções: ver artigo 02º da lei de 
Falências. 
 
 
ESTADO DE FALÊNCIA 
 
O empresário sujeito à falência é aquele cujo patrimônio é inferior ao seu débito. 
Esse estado denomina-se insolvência. Eu tenho mais dívidas do que patrimônio. 
 
No entanto, para fins de falência, a definição de insolvência não será tão simples. 
O conceito de insolvência torna-se mais abrangente na falência, sendo caracterizado por 
outros elementos previstos em lei. Ainda que seu patrimônio seja superior ao seu débito, 
será decretada a falência, se ocorrer: 
 
a) Impontualidade: quando o empresário, sem relevante razão de direito, não 
paga, no vencimento, obrigação líquidamaterializada em título ou títulos executivos 
protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do 
pedido de falência. A impontualidade tem que ser injustificada. A prova da impontualidade 
do devedor é o protesto do título (instituto que já estudamos quando do estudo do direito 
cambiário). Veja-se que o empresário devedor, talvez, até tenha ativo suficiente para pagar 
o débito. No entanto, por inércia, poder ser requerida sua falência. 
 
 
b) Execução frustrada: quando o devedor for executado por qualquer quantia 
líquida e não pagar, não depositar e não nomear à penhora bens suficientes dentro do prazo 
legal. Mais uma vez a inércia que ira levar ao pedido de falência. Nesse caso, muitas vezes 
percebe-se a má-fé a “fuga” do empresário quanto aos atos executórios e de cobrança. 
 
c) Prática de atos de falência: quando o devedor pratica qualquer dos seguintes 
atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial (quando estaremos diante de 
uma situação diferente, mas também enumerada pela lei nº 10.101/2005): ver artigo 94, III 
e alíneas da lei 11.101/2005. 
 
 
 
QUEM PODE REQUERER A FALÊNCIA 
 
Podem requerer a falência do devedor (lembrem-se – devedor EMPRESÁRIO) 
: 
I - o próprio devedor (AUTOFALÊNCIA); 
II - o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; 
III - o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da 
sociedade; 
IV - qualquer credor, se for empresário, deverá provar essa condição. 
 
LEITURA DO ARTIGO 97 DA LEI DE FALÊNCIAS. 
 
DO PROCESSO FALIMENTAR 
 
A falência é uma ação judicial que, segundo Fabio Ulhoa Coelho, possui três 
etapas distintas: 
 
a) Pedido de falência: também chamada etapa pré-falencial, que tem início com o 
pedido de falência e se conclui com a sentença judicial declarativa da falência do 
empresário; o pedido de falência pode ser requerido pelos legitimados acima referidos. 
 
b) Etapa falencial: nesta etapa, que se inicia com a sentença declaratória da 
falência, realiza-se o ativo apurado e o pagamento do passivo admitido, concluindo com o 
encerramento da falência; ou seja, declarada a falência pelo Juiz, será feita a arrecadação do 
ativo (todo o patrimônio do empresário falido é avaliado e somado, assim como todas as 
suas dívidas são calculadas, a fim de que haja a venda dos bens do falido para satisfação 
dos créditos, o que ocorrerá respeitando uma ordem de credores). 
 
c) Reabilitação: é a fase em que se declara a extinção das obrigações civis do 
falido. 
 
Juízo Falimentar - competência 
 
A ação de falência deverá ser ajuizada no local onde se concentra o maior volume 
de negócios da empresa. É um critério diferente do que vemos na grande maioria das ações, 
em que o domicílio de uma das partes é que irá determinar o juízo competente para 
julgamento de demandas. Ocorre que, na grande maioria das vezes, o local onde se 
encontra a maioria dos negócios do empresário é o local onde está sua sede. 
 
Diz-se que o juízo da falência é universal, pois todas as ações referentes aos bens, 
interesses e negócios da massa falida serão processadas e julgadas por este juízo, com 
algumas exceções: 
 
a) ações não reguladas pela lei falimentar; 
b) reclamações trabalhistas; permanecem na Justiça do Trabalho. Após, auferido o 
valor do crédito trabalhista, o reclamante deve habilitar esse crédito junto ao 
processo de falência. Isso acontece, na grande maioria das vezes, de ofício pelo 
Juiz do Trabalho; 
c) execuções tributárias; continuam tramitando nas varas especializadas e, após 
calculado o débito, serão igualmente habilitados os valores nos autos da falência; 
d) ações que tem por objeto obrigação ilíquida; quando o valor do crédito ainda 
não é líquido, a parte credora deve, em processo autônomo, chegar a esse valor e, 
depois, proceder a habilitação do mesmo nos autos da falência; 
e) ações em que é parte a União. O juízo falimentar e da justiça estadual. As ações 
contra a União são de competência exclusiva da Justiça Federal. Por isso devem 
permanecer no juízo federal até que tenha um valor a ser habilitado no processo 
falimentar. 
 
 
 
 
 
Pedido de falência 
 
A falência pode ser requerida pelo próprio devedor ou por terceiros, como já 
vimos quando estudamos as partes legitimadas para ingressar com o pedido de falência. 
Dependendo do caso, terá procedimentos diversos. 
 
Se o pedido de falência for requerido por terceiros, o empresário será citado (ato 
judicial que lhe dá conhecimento do ajuizamento da ação) e terá o prazo de 10 dias para se 
defender. È fácil confundir esse prazo, uma vez que a regra para apresentação da 
contestação é de prazo de 15 dias!!! Cuidado!!! VER ARTIGO 98 DA LF! 
 
Se o referido pedido se fundamentar na impontualidade, poderá o empresário 
elidi-lo, depositando em juízo, no prazo de 10 dias, o valor do débito, com os acréscimos 
legais. Paga a totalidade da dívida (com a atualização), o pedido de falência é arquivado. 
 
Da mesma forma, se a falência for requerida com base na impontualidade, esta 
não será decretada, se o devedor provar as defesas trazidas no artigo 96 da Lei 11.101/2005. 
 
Sentença Declaratória da Falência 
 
Feita a instrução do feito (ampla defesa, devido processo legal, etc), o juiz 
decidirá por decretar ou não a falência, o que ocorrerá através de uma sentença. 
 
A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações, 
deverá conter em seu corpo as matarias do art. 99 da LF (fazer a leitura). 
 
Termo legal da falência é o lapso de tempo anterior à decretação da falência, em 
que os atos praticados pelo falido são considerados ineficazes. Esse período é fixado na 
sentença e não pode retroagir a 90 dias contados do pedido de falência, do pedido de 
recuperação judicial ou do 1º (primeiro) protesto por falta de pagamento. Por exemplo, 60 
dias antes da decretação da falência o falido vendeu sua sede, tal ato é nulificado caso 
esteja dentro do termo legal de falência dado pelo juiz quando da prolação de sentença. 
 
Exemplo: a falência foi decretada no dia 26 de maio de 2010, e o empresário 
alienou o estabelecimento empresarial no dia 05 de junho de 2010. Essa alienação será 
ineficaz e o estabelecimento será considerado como patrimônio do falido. 
 
ADMINISTRAÇÃO DA FALÊNCIA 
 
Além do Juiz, cuja função é presidir a falência, e o Ministério Público, que 
intervém na ação para fiscalizar o cumprimento da lei, a legislação prevê três órgãos para 
administrar a falência: o administrador judicial, a assembléia dos credores e o comitê dos 
credores. 
 
Administrador judicial 
 
O juiz nomeará um administrador judicial, que será profissional idôneo, 
preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou 
pessoa jurídica especializada (a nomeação de pessoa jurídica é incomum, apesar de não 
haver qualquer vedação da legislação para tanto). 
 
São funções do administrador judicial (ver arts. 21 e seguintes) 
 
a) avisar, pelo órgão oficial, lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à 
sua disposição os livros e documentos do falido; 
b) examinar a escrituração do devedor; 
c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida – me 
cada processo da massa falida o administrador deve ser cadastrado e intimado das decisões, 
sob pena de nulidade das mesmas; 
d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que 
não for assunto de interesse da massa; 
e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contados da assinatura do termo de 
compromisso,prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que 
conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos 
envolvidos (imaginem que tarefa complicada, ainda mais num prazo tão curto); 
f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação 
(espécie de inventário, rol de todos os bens corpóreos e incorpóreos do falido); 
g) avaliar os bens arrecadados; 
h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, 
para a avaliação dos bens, caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa; 
i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; 
j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos 
a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa; 
l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança 
de dívidas e dar a respectiva quitação; 
m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, 
penhorados ou legalmente retidos; 
n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, 
cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; 
o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o 
cumprimento da Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; 
p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10º (décimo) dia do mês 
seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a 
receita e a despesa - a prestação de contas é esencial!! 
q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, 
sob pena de responsabilidade; 
r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou 
renunciar ao cargo. 
O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador 
judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do 
trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. 
 
 
 
Comitê dos Credores – ler artigo 26 da LF. 
 
É um órgão facultativo da falência, pois só se justifica nas empresas de grande 
porte e complexidade, cabendo aos credores decidir sobre a conveniência ou não de sua 
instalação. Lembre do princípio da maior participação dos credores nos processos de 
recuperação e falência. O comitê é um órgão que busca a maior segurança dos credores. 
 
Terá a seguinte composição: 
 
I - 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) 
suplentes; 
II - 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de 
garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes; 
 
III - 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com 
privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes. 
 
Suas atribuições são: 
a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; 
b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; 
c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses 
dos credores; 
d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados; 
e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores; 
f) manifestar-se nas hipóteses previstas na Lei; 
 
Assembleia Geral de Credores – ler artigo 35 e seguintes da LF 
 
A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: 
a) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua 
substituição; 
b) a adoção de outras modalidades de realização do ativo; 
c) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. 
 
A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: 
 
I - titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de 
acidentes de trabalho – hoje as duas espécies de crédito são julgadas pela Justiça do 
Trabalho; 
II - titulares de créditos com garantia real; 
III - titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio 
geral ou subordinados. 
 
A assembléia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no 
órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e filiais (isso traz 
custos elevados ao processo de falência), e será presidida pelo Administrador Judicial. 
 
VERIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS 
 
A verificação dos créditos é realizada pelo administrador judicial, com base na 
escrituração (olha a importância da correta escrituração que tanto falamos no semestre 
passado) apresentada pelo empresário e nos documentos apresentados pelos credores. 
 
A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: ORDEM DO 
ARTIGO 83 DA LF. 
 
I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e 
cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho - a 
novidade frente à falência da antiga lei, na qual não havia limite de valores; 
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado – essa 
mudança veio do lobby dos bancos e em razão do princípio de facilitação de crédito no 
Brasil, que vimos amplamente na aula passada; 
III - créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de 
constituição, excetuadas as multas tributárias; 
IV - créditos com privilégio especial. 
 
Serão considerados créditos extraconcursais (são pagos antes dos credores 
habilitados na falência que falamos acima): 
I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos 
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a 
serviços prestados após a decretação da falência – caso o administrador entenda por 
continuar as atividades do falido, algum contrato e trabalho pode permanecer vigendo ou 
mesmo serem celebrados novos contratos, podendo os mesmos produzir débitos; 
II - quantias fornecidas à massa pelos credores; 
III - despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição 
do seu produto, bem como custas do processo de falência; 
IV - custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha 
sido vencida – imaginem se o estado ficaria sem receber... 
V - obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a 
recuperação judicial, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores 
ocorridos após a decretação da falência. 
 
Realizadas as restituições, pagos os créditos extraconcursais, e consolidado o 
quadro-geral de credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão 
destinadas ao pagamento dos credores, atendendo à classificação prevista acima, 
respeitados os demais dispositivos da Lei e as decisões judiciais que determinam reserva de 
importâncias. 
 
Os credores devem apresentar a chamada habilitação de crédito. Cada habilitação 
é autuada de forma apartada, porém fica apensada aos autos da falência. O falido será 
intimado para impugnar a habilitação, sendo que o juiz decidirá se deve o crédito ser 
habilitado ou não ao final do procedimento. 
 
ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA 
 
Após a realização do ativo para pagamento do passivo do falido e o julgamento 
das contas do administrador judicial, este apresentará em juízo o relatório final, e o juiz 
encerrará a falência, extinguindo-se as obrigações do falido. 
 
Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da 
falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua 
realização, o valor do passivoe o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará, 
justificadamente, as responsabilidades com que continuará o falido. 
 
Extingue as obrigações do falido: hipóteses do artigo 158 da lei! 
 
Com a sentença de encerramento da falência, termina o processo falimentar, mas 
o falido poderá requerer, posteriormente, sua reabilitação, requerendo ao juízo que declare 
por sentença a extinção de suas obrigações. 
 
O falido que não estiver respondendo a processo penal por crime falimentar, ou 
tiver sido absolvido, poderá retornar ao exercício das atividades empresariais. Entretanto, se 
tiver sido condenado por crime falimentar, deverá requerer sua reabilitação penal para isso 
– lembram dos impedimentos para comerciar? 
O empresário falido reabilitado, penal e civilmente, poderá retornar a exercer 
atividade empresarial; caso contrário, se não houver reabilitação, somente poderá retornar 
ao exercício das atividades empresariais após 05 anos contados da extinção da pena por 
crime falimentar. 
AS FASES DO PROCESSO DE FALÊNCIA 
 
Já foram estudados as causas e legitimados para a falência. Agora veremos mais 
claramente as fases que o processo tem, quais os credores, como podem habilitar seus 
créditos, etc. 
 
Renovando aquilo que vimos na aula passada, a falência é necessariamente é uma 
ação judicial que, segundo Fabio Ulhoa Coelho, possui três etapas distintas: 
 
a) Pedido de falência: também chamada etapa pré-falencial, que tem início com o 
pedido de falência e se conclui com a sentença judicial declarativa da falência do 
empresário; o pedido de falência pode ser requerido pelos legitimados acima referidos (isso 
vocês já sabem claramente em razão de toda a discussão travada na aula passada). 
 
b) Etapa falencial (a partir daqui é que retomaremos nosso estudo): nesta 
etapa, que se inicia com a sentença declaratória da falência, realiza-se o ativo apurado e o 
pagamento do passivo admitido, concluindo com o encerramento da falência; ou seja, 
declarada a falência pelo Juiz, será feita a arrecadação do ativo (todo o patrimônio do 
empresário falido é avaliado e somado, assim como todas as suas dívidas são calculadas, a 
fim de que haja a venda dos bens do falido para satisfação dos créditos, o que ocorrerá 
respeitando uma ordem de credores). 
 
c) Reabilitação: é a fase em que se declara a extinção das obrigações civis do 
falido. 
 
ETAPA FALENCIAL 
 
DA ARRECADAÇÃO 
 
Importante referirmos que o juiz, ao decretar a falência, irá nomear um 
administrador (art. 108), cujas atribuições estão nos arts. 22 e seguintes da LF. 
 
Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador, que deve fazer o 
melhor uso dos mesmos, até para a aferição de lucro para o pagamento do maior número de 
credores. Os bens serão avaliados e arrecadados, podendo o falido fiscalizar o trabalho 
desempenhado pelo administrador. 
 
Inicia-se, após a arrecadação, a realização do ativo, com a venda dos bens de 
propriedade do empresário falido (art. 139 e segs.). 
 
VERIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS 
 
A verificação dos créditos é realizada pelo administrador judicial, com base na 
escrituração do empresário, vocês lembram dos livros contábeis e empresariais que vimos 
no semestre passado, apresentada pelo empresário e nos documentos apresentados pelos 
credores. 
 
A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem (art. 83 da Lei 
de Falências): 
 
I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e 
cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho - a 
novidade frente à falência da antiga lei, na qual não havia limite de valores; 
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado – essa 
mudança veio do lobby dos bancos e em razão do princípio de facilitação de crédito no 
Brasil, que vimos amplamente na aula passada; 
III - créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de 
constituição, excetuadas as multas tributárias; 
IV - créditos com privilégio especial. 
V - créditos com privilégio geral (art. 965, CC/02); 
VI - créditos quirografários; 
VII - multas contratuais e penas pecuniárias; 
VII - créditos subordinados – é o pro-labore (não deveria ter natureza alimentar? 
Eis uma questão para vocês refletirem...) dos sócios e administradores ou parte do lucro dos 
mesmos. 
 
Importante referir que não há ordem de classificação de crédito na recuperação 
judicial, o plano de recuperação que dirá quem receberá antes e como. 
 
Serão considerados créditos extraconcursais (são pagos antes dos credores 
habilitados na falência que falamos acima): 
 
I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos 
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a 
serviços prestados após a decretação da falência – caso o administrador entenda por 
continuar as atividades do falido, algum contrato de trabalho pode permanecer vigendo ou 
mesmo serem celebrados novos contratos, podendo os mesmos produzir débitos; 
II - quantias fornecidas à massa pelos credores; 
III - despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição 
do seu produto, bem como custas do processo de falência; 
IV - custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha 
sido vencida – imaginem se o estado ficaria sem receber... 
V - obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a 
recuperação judicial, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores 
ocorridos após a decretação da falência. 
 
Claro, pois caso o administrador ou mesmo os funcionários e peritos que venham 
a trabalhar durante o processo de falência fiquem no fim da fila para receber, quem 
exerceria essa função? ´ 
 
DA HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS – ver artigos 07º e seguintes da LF 
 
O administrador, após a decretação da falência, ira apresentar o inventário de bens 
(ativo) do empresário falido, assim como uma listagem preliminar de credores. Aqueles 
débitos do falido que o administrador conseguir achar na análise dos livros e documentos 
entregues pelo falido é que farão parte da lista de credores. 
 
Conforme dispõe o art. 7º, da Lei nº 11.101/05 (LF), a habilitação de crédito será 
realizada pelo administrador judicial (antigo síndico), mediante a cooperação dos credores, 
seja na falência ou na recuperação de empresas. 
 
“Publicado o edital previsto no art. 52, parágrafo 1º ou no parágrafo único do 
art. 99, desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar 
ao administrador judicial suas habilitações ou divergências quanto aos créditos 
relacionados” (parágrafo 1º, do art. 7º, Lei de Falências). 
 
Após examinar as habilitações e divergências apresentadas pelos credores, o 
administrador judicial deverá resolvê-las, fazendo publicar o edital disposto no art. 7º, 
parágrafo 2º, visando consolidar o quadro geral de credores. 
Cabe ao administrador judicial o encargo de receber as habilitações de crédito e 
divergências quanto à relação de credores, processá-las e resolvê-las 
administrativamente. Na lei anterior, cabia ao juiz fazer toda essa análise, o que fazia com 
que o processo fosse mais demorado e, tatvez, menos eficiente do que nos dias de hoje. 
 
Caso o administrador judicial entenda que a pretensão não esteja suficientemente 
demonstrada, tal como prescreve o art. 9º1, ele resolverá pela sua rejeição, excluindo-a da 
lista de credores de que trata o parágrafo 2º, do art. 7º, da nova Lei. 
 
A nova Lei de Recuperação de Empresas e de Falência retirou do Judiciárioa 
competência para processar e julgar as habilitações de crédito. Assim, o administrador 
judicial, sem a intervenção do Estado-Juiz, irá receber e examinar os pedidos de habilitação 
de crédito e de divergências, com o objetivo de consolidar a relação de credores, por meio 
da publicação do edital previsto no parágrafo 2º, do art. 7º, da nova Lei. 
 
Não obstante inexista previsão legal expressa, é interessante destacar que a 
relação de credores acima referida deve conter todas as informações sobre os créditos ali 
incluídos, especialmente, o valor atualizado e a respectiva classificação. O fundamento da 
necessidade dessa especificação é que esse edital do parágrafo 2º representa o marco inicial 
para o ajuizamento da ação de impugnação, tratada no art. 8º, da aludida Lei. Logo, aqueles 
credores que tiverem sido omitidos na relação publicada pelo administrador judicial, em 
função de suas habilitações não terem sido acolhidas, ou que tiverem seus créditos lançados 
a menor ou classificados incorretamente, deverão mover ação judicial de impugnação 
contra a lista de credores. 
 
Art. 9º. A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, 
desta Lei deverá conter: 
I - o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de 
qualquer ato do processo; 
II - o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do 
pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação; 
III - os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a 
serem produzidas; 
IV - a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo 
instrumento; 
V - a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor. 
Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser 
exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro 
processo. 
 
Importante esclarecer que o ato do administrador judicial de deliberar sobre as 
habilitações de crédito e divergências não possui recurso, vez que é realizado na fase 
administrativa do procedimento de habilitação de crédito. 
 
Com essa modificação, a nova Lei de Recuperação de Empresas e de Falência 
possibilitou um ganho de eficiência enorme ao procedimento de habilitação de crédito, 
contribuindo significativamente com a celeridade da consolidação do quadro geral de 
credores, principalmente, quando permitiu a realização dessa tarefa com auxílio de pessoa 
ou empresa especializada (afinal, não é um super-homem). 
 
A grande crítica em relação a essa simplificação da fase de habilitação de crédito 
diz respeito ao possível menosprezo aos princípios fundamentais do contraditório e da 
ampla defesa que podem ocorrer durante a fase administrativa do referido procedimento. 
 
Entretanto, não se pode perder de vista que o eventual prejudicado ou excluído 
pela lista de credores poderá sempre se valer da ação judicial de impugnação citada 
anteriormente para defender seus direitos, o que, de certa forma, ameniza o fato de ser uma 
decisão administrativa que não permite recurso. 
 
Houve uma simplificação do procedimento, trazendo maior celeridade, sem, 
contudo, na minha opinião, perder a segurança jurídica. 
 
 
 
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO 
 
Muitas vezes, quando da arrecadação dos bens, são arrecadados pelo 
administrador bens que não são de propriedade do falido. Por exemplo, imaginem uma 
máquina de café numa loja. A máquina está lá em razão de um contrato de comodato, ou 
seja, não é de propriedade do empresário falido. 
 
Ora, seria justo que o dono da máquina tivesse que ver o seu bem vendido e 
habilitar seu crédito junto ao rol de devedores acima referido? Certo que não. 
 
Por isso, é dada a oportunidade de requerer a restituição do bem. Tal oportunidade 
está disposta nos arts. 85 e seguintes da Lei de Falências, que assim dispõem: 
 
Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se 
encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir 
sua restituição. 
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a 
crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de 
sua falência, se ainda não alienada. 
 
STF Súmula nº 193 
Pedido de Restituição de Coisas Arrecadadas na Falência - Prazo 
 
 Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro: 
I - se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que 
o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido 
sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado; 
II - da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente 
de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 
3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da 
operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas 
específicas da autoridade competente; 
III - dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de 
revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta Lei. 
Parágrafo único. As restituições de que trata este artigo somente serão efetuadas 
após o pagamento previsto no art. 151 desta Lei. 
 
Art. 87. O pedido de restituição deverá ser fundamentado e descreverá a coisa 
reclamada. 
§ 1º O juiz mandará autuar em separado o requerimento com os documentos que 
o instruírem e determinará a intimação do falido, do Comitê, dos credores e do 
administrador judicial para que, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, se 
manifestem, valendo como contestação a manifestação contrária à restituição. 
§ 2º Contestado o pedido e deferidas as provas porventura requeridas, o juiz 
designará audiência de instrução e julgamento, se necessária. 
§ 3º Não havendo provas a realizar, os autos serão conclusos para sentença. 
 
Art. 88. A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a entrega 
da coisa no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. 
Parágrafo único. Caso não haja contestação, a massa não será condenada ao 
pagamento de honorários advocatícios. 
 
Art. 89. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o 
requerente no quadro-geral de credores, na classificação que lhe couber, na 
forma desta Lei. 
 
Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem 
efeito suspensivo. 
Parágrafo único. O autor do pedido de restituição que pretender receber o bem 
ou a quantia reclamada antes do trânsito em julgado da sentença prestará 
caução. 
 
Art. 91. O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o 
trânsito em julgado. 
Parágrafo único. Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em 
dinheiro e não existir saldo suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio 
proporcional entre eles. 
 
Art. 92. O requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa 
falida ou a quem tiver suportado as despesas de conservação da coisa reclamada. 
 
Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o 
direito dos credores de propor embargos de terceiros, observada a legislação 
processual civil. 
 
O que se percebe da leitura dos dispositivos acima é o seguinte: 
 
Aquele sujeito que vê bem de sua titularidade arrecadado em processo de falência 
deve, ou que entregou mercadoria nos quinze dias anteriores ao pedido de falência, deve 
endereçar pedido ao juízo da falência. 
 
Caso o bem não mais exista, haverá a restituição em dinheiro. 
 
O pedido de restituição é uma mini-ação, deve ser fundamentado comprovas, e 
será autuado de forma apartada ao feito falimentar. O juiz, recebendo o pedido, dará 05 dias 
para o comitê e assembléia de credores, administrador e falido se manifestarem sobre o 
pedido. 
 
Contestado o pedido, haverá a instrução, com a produção de provas e sobrevirá 
decisão. Caso venha a ser deferido o pedido, em 48 horas deve haver a restituição. Caso 
seja indeferido, caberá recurso de apelação sem efeito suspensivo. O autor do pedido de 
restituição será incluído no rol de credores de acordo com a natureza de seu crédito. 
Importante referir que outro mini-processo que poderá surgir é a ação revocatória. 
Vimos na aula passada que existe o termo legal da falência2. As vendas e doações ocorridas 
nesse período podem ser anuladas, sendo aberto processo pelo administrador, MP e 
credores, que provarão que a venda foi realizada nesse período e que o bem deve retornar à 
massa, ser arrecadado e vendido para pagamento dos credores. 
 
Vejam art. 129 e 130 da Lei de Falências. 
OS CRIMES FALIMENTARES 
 
Já estudamos o procedimento completo da falência. O ponto que restou não 
analisado foi a questão dos crimes falimentares. 
 
O primeiro aspecto importante é no que se refere à competência. Normalmente, 
quando temos uma demanda criminal, o juízo competente será criminal, quando temos no 
foro varas especializadas da localidade onde ocorreu a infração. No caso da falência, o 
próprio juízo falimentar é quem julgará se houve ou não a ocorrência de crime falimentar. 
 
Também temos que entender como será feita a denúncia, quem tem legitimidade 
para tanto e qual o prazo para a efetivação da mesma. 
 
 
2 Termo legal da falência é o lapso de tempo anterior à decretação da falência, em que os 
atos praticados pelo falido são considerados ineficazes. Esse período é fixado na sentença e 
não pode retroagir a 90 dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação 
judicial ou do 1º (primeiro) protesto por falta de pagamento. Por exemplo, 60 dias antes da 
decretação da falência o falido vendeu sua sede, tal ato é nulificado caso esteja dentro do 
termo legal de falência dado pelo juiz quando da prolação de sentença. 
 
Exemplo: a falência foi decretada no dia 26 de outubro de 2009, e o empresário alienou o 
estabelecimento empresarial no dia 05 de outubro de 2009. Essa alienação será ineficaz e o 
estabelecimento será considerado como patrimônio do falido. 
 
DA AÇÃO PENAL DENTRO DO PROCESSO DE FALÊNCIA 
Assim dispõe o artigo 503 do CPP: 
"Nos crimes de falência fraudulenta ou culposa, a ação penal poderá ser 
intentada por denúncia do Ministério Público ou por queixa do liquidatário ou de 
qualquer credor habilitado por sentença passada em julgado". 
Na antiga lei, existindo a falência fraudulenta ou culposa (pode haver a intenção 
do empresário e seus sócios ou administradores agirem com má-fé ou simplesmente de 
forma incompetente), há a possibilidade de existência de: ação penal pública 
incondicionada, por denúncia de iniciativa do Ministério Público, e ação penal privada, por 
queixa a ser ofertada pelo liquidatário ou qualquer credor habilitado por sentença passada 
em julgado. 
Tal regra sofreu grande modificação com a entrada em vigor da Lei nº 
11.101/2005. 
Foi excluída a possibilidade de ação penal privada (mantendo-se somente a 
subsidiária) em se tratando de crime falimentar, pois, conforme o texto do art. 184 da nova 
lei: "os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada", sendo a 
iniciativa exclusiva do Ministério Público, através da denúncia. 
Há que se considerar, entretanto, a possibilidade de ação penal privada 
subsidiária da pública, prevista no art. 5º, LIX, da Constituição Federal, e também nos arts. 
29 do CPP e 100, § 3º, do CP. Quando não há a iniciativa do MP, o próprio particular toma 
as rédeas, conforme o texto seguinte: 
"Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1º, sem que o representante do 
Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o 
administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da 
pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses". 
Quanto à decadência e o prazo para o oferecimento da queixa subsidiária, a regra 
reproduz o que está disposto no art. 38 do CPP. 
Assim, verificada a absoluta inércia do órgão Ministerial, qualquer credor 
habilitado ou o administrador judicial poderá intentar a ação penal nos moldes da 
regulamentação normativa, cumprindo observar, quanto ao mais, as disposições gerais do 
Código de Processo Penal. 
DA DENÚNCIA 
Eis o texto do art. 508 do CPP: 
"O prazo para denúncia começará a correr do dia em que o órgão do Ministério 
Público receber os papéis que devem instruí-la. Não se computará, entretanto, 
naquele prazo o tempo consumido posteriormente em exames ou diligências 
requeridos pelo Ministério Público ou na obtenção de cópias ou documentos 
necessários para oferecer a denúncia". 
O art. 187 da lei de falências cuidou da matéria nos seguintes moldes: 
"Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial, 
o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta 
Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal ou, se entender 
necessário, requisitará a abertura de inquérito policial". 
A lei, dessa forma, tentou estabelecer, mantendo as linhas do regramento anterior, 
que a ação penal não poderá ser iniciada sem que exista prévia sentença de decretação da 
quebra, e também agora, concedendo a recuperação judicial. 
Fica mantida, portanto, a discussão a respeito da natureza jurídica da sentença 
declaratória da falência, onde também se insere, a partir da nova lei, a natureza da decisão 
que concede recuperação judicial. 
Portanto, sem a decretação de falência, os crimes dispostos no texto da lei não 
poderão ser considerados crimes, sendo que a efetiva declaração da quebra por sentença é 
que abre a possibilidade de denúncia por crime falimentar. 
Conforme o mesmo art. 187, intimado da sentença que decreta a falência ou 
concede a recuperação judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer 
crime previsto na lei, promoverá imediatamente a competente ação penal, prescindindo da 
instauração de inquérito policial, porquanto dispensável, apesar de sua inquestionável 
utilidade e necessidade na esmagadora maioria dos casos. 
Se o material probatório disponível não for suficiente para a formação de uma 
convicção segura e responsável acerca dos fatos sob análise, o representante do Ministério 
Público deverá requisitar a abertura de inquérito policial. 
Os crimes falimentares estão dispostos nos arts. 168 e seguintes, e tratam de casos 
de fraude, de irregularidade de escrituração, dentre outros. 
DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL 
 
A recuperação judicial, assim como a falência, é uma espécie de ação, prevista 
no artigo 47 e seguintes da Lei 11.101/ 2005, e destina-se, essencialmente, a reorganizar e 
viabilizar a superação da situação de crises econômicas ou financeiras de empresários ou 
sociedades empresárias, no intuito de manter seu funcionamento, para continuar 
perpetuando sua função social (lembrem que os princípios que estudamos se enquadram 
tanto para a falência quanto para a recuperação judicial). 
Art. 47 - A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da 
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a 
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses 
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social 
e o estímulo à atividade econômica.Importante referir que não falamos mais em concordata, mas em recuperação 
judicial e extrajudicial da empresa. 
 
Nem todos os empresários poderão ser objeto de recuperação, somente os viáveis 
econômico-financeiramente, e essa análise cabe ao Poder Judiciário quando falamos em 
recuperação judicial. 
 
MEIOS DE RECUPERAÇÃO DA EMPRESA 
 
A Lei de Falência e Recuperação enumera os meios que poderão ser utilizados na 
recuperação judicial da empresa, sendo um rol exemplificativo e não exaustivo: FAZER A 
LEITURA DO ARTIGO 50 DA LF. 
 Cada item poderia ser discorrido e trabalhado amplamente, até porque, na matéria 
referente à recuperação, veremos a necessidade de análise multidisciplinar da atividade 
empresária, sendo necessários advogados, contadores, peritos, enfim, uma infinidade de 
profissionais que devem ser envolvidos. 
 
QUEM TEM LEGITIMIDADE PARA REQUERER A RECUPERAÇÃO – ARTIGO 
48 DA LF. 
 
Não são todos os empresários poderão se valer da recuperação judicial da 
empresa, mas somente aqueles que atenderem aos requisitos legais, que são: 
 
O empresário que exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e 
que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: 
I - não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada 
em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; 
II - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; 
III - não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial 
com base no plano especial; 
IV - não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, 
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei Falimentar. 
 
Os empresários que estiverem em situação irregular não poderão requerer a 
recuperação. 
 
PROCEDIMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
A recuperação judicial, da mesma forma que a falência (como já vimos), é uma 
ação judicial que se divide em três etapas: 
 
a) Fase postulatória (artigo 51 da LF): é a fase do requerimento do benefício da 
recuperação judicial. O requerente deve instruir o pedido com: 
 
I - a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das 
razões da crise econômico-financeira; 
II - as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e 
as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância 
da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: 
a) balanço patrimonial; 
b) demonstração de resultados acumulados; 
c) demonstração do resultado desde o último exercício social; 
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; 
III - a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de 
fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o 
valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos 
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; 
IV - a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, 
salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de 
competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; 
V - certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato 
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; 
VI - a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos 
administradores do devedor; 
VII - os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais 
aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em 
bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; 
VIII - certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou 
sede do devedor e naquelas onde possui filial; 
IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este 
figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos 
valores demandados. 
 
b) Fase Deliberativa: estando a documentação exigida em ordem, o juiz 
determinará o processamento da recuperação judicial, e, no mesmo ato: 
 
I - nomeará o administrador judicial (de novo nos deparamos com essa figura), 
observado o disposto no art. 21 desta Lei; 
II - determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o 
devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para 
recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios; 
III - ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, 
permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, com as ressalvas da Lei; 
IV - determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas mensais 
enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores; 
V - ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às 
Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver 
estabelecimento. 
 
O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o 
deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da desistência na 
assembleia-geral de credores. 
O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo 
improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento 
da recuperação judicial, sob pena de transformação em falência, e deverá conter: 
 
I - discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, e 
seu resumo; 
II - demonstração de sua viabilidade econômica; 
III - laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, 
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada. 
 
O juiz ordenará a publicação de edital, contendo aviso aos credores sobre o 
recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais 
objeções. 
 
Na elaboração do plano de recuperação, o empresário até tem certa liberdade. No 
entanto, a lei traz algumas exigências. Seguem as mesmas: 
 
O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano 
para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de 
acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial. 
 
Da mesma forma, o plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) 
dias para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos 
créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido 
de recuperação judicial. 
 
Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação 
judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores. 
 
Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz 
convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. 
Aprovado o plano pela Assembleia de Credores, o juiz concederá a recuperação judicial, 
caso contrário, se nenhum plano for aprovado, decretará a falência do empresário. 
 
Em alguns casos, permite e lei a concessão da recuperação judicial, com o 
seguinte quorum da Assembleia: 
 
I - o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos 
os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes; 
II - a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos da Lei ou, caso 
haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) 
delas; 
III - na classe que o houver rejeitado, o voto favorávelde mais de 1/3 (um terço) 
dos credores. 
 
c) Fase de execução: concedida a recuperação, encerra-se a fase deliberativa e 
inicia-se a fase de execução, dando-se cumprimento ao plano de recuperação. 
 
Proferida a decisão, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se 
cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois 
da concessão da recuperação judicial. Durante esse período, o descumprimento de qualquer 
obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência. 
 
Em todos os atos, contratos e documentos firmados pelo devedor sujeito ao 
procedimento de recuperação judicial deverá ser acrescida, após o nome empresarial, a 
expressão “em Recuperação Judicial”. 
 
Cumpridas as obrigações vencidas no prazo, o juiz decretará por sentença o 
encerramento da recuperação judicial e determinará: 
I - o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente 
podendo efetuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de contas, no prazo de 30 
(trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso III do caput deste artigo; 
II - a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; 
III - a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, no 
prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano de recuperação pelo 
devedor; 
IV - a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador 
judicial; 
V - a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências 
cabíveis. 
 
ÓRGÃOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
Os órgãos da recuperação judicial são os mesmos estudados na falência, ou seja, 
administrador judicial, comitê de credores e assembleia geral de credores. Temos bem 
explicitados tais órgãos no material sobre falência. 
 
A RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
 
O devedor empresário poderá propor e negociar com credores plano de 
recuperação extrajudicial. 
 
Importante salientar que, para simplesmente procurar seus credores (ou parte 
deles) e tentar encontrar, em conjunto com eles, uma saída negociada para a crise, o 
empresário não precisa atender a nenhum dos requisitos da lei para a recuperação 
extrajudicial. Estando todos envolvidos de acordo, assinam os instrumentos de novação ou 
renegociação e assumem, por livre manifestação da vontade, obrigações cujo cumprimento 
espera-se proporcione o reerguimento do devedor. É a negociação direta do empresário 
com seus credores. Posso, por exemplo, firmar uma séria de instrumentos de confissão de 
dívida, sem que, para isso, tenha a necessidade de preencher os requisitos trazidos na Lei de 
Falências e Recuperação Judicial. 
 
Quando a lei estabelecer requisitos para a recuperação extrajudicial, ela está se 
referindo apenas ao devedor que pretende, oportunamente, levar o acordo à homologação 
judicial. O empresário devedor faz as negociações diretamente com os seus credores, sem a 
interferência de administrador ou outro órgão de credores e simplesmente leva aqueles 
acordos à homologação pelo Juízo. 
 
Os requisitos legais para a homologação judicial do plano de recuperação, são os 
do artigo 48 da Lei de Recuperação já estudado. 
 
Essa homologação judicial poderá ser facultativa ou obrigatória. Quando todos 
os credores estiverem de acordo, a homologação judicial é facultativa. Na concordância de 
somente 3/5 dos credores, a homologação será obrigatória para atingir a totalidade dos 
credores. 
 
 
 
CONCEITO 
A recuperação extrajudicial é um procedimento concursal (engloba grande parte 
dos credores do empresário) preventivo (elemento essencial – é para que o empresário não 
venha a requerer sua auto-falência) que contém uma fase inicial de livre contratação e uma 
etapa final de homologação judicial. 
Seu objetivo é justamente, impedir que se instaure o processo falimentar – 
princípio da preservação da empresa. 
A recuperação extrajudicial, me palavras mais simples, nada mais é que um 
negócio, um acordo que pode ser celebrado entre o devedor e alguns credores ou todos os 
credores. 
Como já foi dito e como o próprio nome deixa entrever, a recuperação 
extrajudicial é verdadeira moratória (busca de maior prazo e melhores condições para o 
pagamento de dívidas), ou seja, acordo celebrado pessoalmente entre o devedor com os 
seus credores, estabelecendo novação, dação e outras formas de pagamento, tal como 
dilação de prazos. 
CREDORES NÃO ATINGIDOS PELA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
 
Não estão obrigados ao plano de recuperação extrajudicial os seguintes credores: 
 
a) credores trabalhistas (também acidentes de trabalho) – como já falamos, 
estamos diante de direitos indisponíveis. Não pode haver uma negociação dos trabalhadores 
com seu empregado sem a intensa fiscalização pelo Judiciário, sob pena dos trabalhadores 
virem a ter direitos suprimidos e que possam inviabilizar sua subsistência. A idéia aqui é da 
segurança do trabalhador e a manutenção dos direitos já adquiridos pelos mesmos; 
b) credores tributários – esses não são negociáveis; 
c) proprietário fiduciário, arrendador mercantil, vendedor ou promitente-vendedor 
de imóvel – há envolvimento de direitos reais, sendo que tal seguimento jurídico recebeu 
extrema proteção pela nova Lei de Falências; 
d) credores decorrentes de adiantamento de contrato de câmbio para exportação 
– questão de política-econômica externa. 
O que se pode concluir disso, é que a recuperação extrajudicial englobará, na 
grande maioria das vezes, negociações com fornecedores. Essa hipótese, apesar de 
haver essa limitação quanto aos créditos que podem ser negociados, muitas vezes 
permite que a operacionalidade da atividade do empresário seja restabelecida. 
Feita esta introdução, passaremos ao estudo das características e do 
procedimento da recuperação extrajudicial. 
CARACTERÍSTICAS 
A recuperação extrajudicial somente vincula os credores que concordarem 
expressamente ao plano, sendo que estes ficarão sujeitos aos seus efeitos. 
O papel dos credores que não anuírem será o de mera fiscalização, podendo, 
quando muito, quando o plano já estiver em juízo para a homologação, manifestar-se sobre 
eventuais irregularidades que recomendem sua rejeição. Claro que nessa oportunidade 
poderão também anuir. 
Fica bem claro assim, que adere ao plano quem quer. E, como quem não quer não 
se sujeita aos efeitos do plano, a recuperação extrajudicial nada mais é que um negócio cuja 
irretratabilidade deriva da homologação judicial. 
Os requisitos para a recuperação extrajudicial estão nos arts. 48 e 161, § 3º da Lei 
de Falências e Recuperação Judicial: 
O preenchimento dos pressupostos dos artigos acima é fundamental para a 
obtenção de homologação da recuperação extrajudicial em juízo. Caso o empresário não 
venha a cumprir os requisitos, terá seu pedido indeferido. 
Conforme art. 162 da lei de falências e recuperação, a legitimação processual para 
requerer a homologação judicial do plano de recuperação é do agente econômico devedor – 
empresário (pessoa física ou jurídica – matéria do semestre passado): 
 Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de 
recuperação extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que contenha 
seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele aderiram. 
A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, 
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente – mesma legitimidade que 
vimos quando do estudo da Falência. 
No tocante à legitimação passiva, recebendo o pedido de homologação, o juiz 
determinará a publicação de edital convocatório de credores para impugnações,

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