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da recuperação judicial, extrajudicial e falência • Mecanismos que o ordenamento jurídico traz para lidar com a crise na atividade empresarial. o Crise superável → recuperação judicial/extrajudicial o Crise insuperável → falência • Lei 11.101/2005 o Âmbito de incidência → limitada aos empresários (pessoas físicas ou jurídicas que preenchem os requisitos do art. 966, CC) Obs: quando se trata de pessoa que desenvolve atividade civil, não se aplica essa lei, pois o regime legal aplicável é o civil, não o empresarial. o Excluídos da incidência da lei: 1) Empresas públicas e sociedades de economia mista; 2) Instituições financeiras, sociedades de capitalização, entidades de previdência complementar, entidades operadoras de plano de saúde e as concessionárias de energia elétrica A estes se aplica um regime específico de liquidação o Juízo competente → onde se encontra o principal estabelecimento do devedor FALÊNCIA • Processo de execução coletiva contra um devedor empresário insolvente. Obs: quando o sujeito desenvolve atividade civil e está insolvente, ele sofre o procedimento de execução coletiva próprio do processo civil. • Liquidação patrimonial forçada para satisfazer o máximo possível os seus credores → resposta à crise insuperável. • Objetivo da falência é, portanto, a maximização dos ativos (patrimônio arrecadado pelo devedor) para que haja o pagamento de seus credores de acordo com a ordem legal de preferência. • Princípios: o Princípio da celeridade → quando um devedor empresário está insolvente, é do interesse geral que esse processo de falência corra o mais rápido possível para que não haja o agravamento da situação de crise e meios de esvaziamento patrimonial. Para isso, a lei concede ao processo falimentar prioridade de tramitação. o Princípio da economia processual → economizar tempo e dinheiro evitando a prática de atos processuais desnecessários o Princípio do tratamento paritário dos credores → não se trata de tratamento igualitário, credores em situações iguais devem ser tratados igualmente e em situações desiguais, desigualmente. • Fases o Fase pré-falimentar → análise por parte do juiz do preenchimento dos requisitos que a lei impõe para o devedor para a decretação da falência. Se esses pressupostos estiverem devidamente cumpridos, o juiz decretará a falência, iniciando a fase falimentar; o Fase falimentar → prática dos atos necessários e imprescindíveis para a satisfação dos credores do falido; o Fase pós-falimentar → momento em que, apesar de já decretada a falência, continuam sendo produzidos alguns efeitos relacionados às obrigações do falido. • Fase pré-falimentar: o Pressupostos: ▪ Legitimação passiva específica do devedor • Devedor deve ser empresário; • Empresário irregular pode falir? Ou só o empresário regular? Sim, o empresário irregular pode falir. Essa irregularidade que deriva da ausência de registro na junta comercial não pode ser usada para beneficiar quem está irregular. • Empresário indireto → sujeito que para não sofrer os riscos da atividade empresarial, desenvolve essa atividade se utilizando de um “laranja”. Ou seja, desempenha a atividade empresarial utilizando o nome de outro. Se no curso dessa atividade houver uma crise insuperável que enseje a decretação de falência, os credores vão requerer a decretação da falência somente do sujeito que tem seu nome utilizado para o desempenho da atividade empresarial ou também do empresário indireto (quem efetivamente desenvolve a atividade em nome de outrem)? Tema polêmico na doutrina, mas de maneira geral se vem aceitando que esse empresário indireto também possa ser atingido pelos efeitos da falência. • Empresário morto → o sujeito era empresário individual, morreu e se verificou que ele era insolvente. É possível que haja a decretação de falência de um sujeito que já morreu? Sim, mas isso tem que atender a um prazo de 1 ano da morte para que seja decretada a falência de um empresário que já morreu (para evitar confusão no inventário e etc). • Empresário que já encerrou suas atividades → é possível decretar a falência de um empresário que já encerrou suas atividades? Duas situações: 1) Pelas obrigações que ele contrair após o encerramento de suas atividades empresariais, não é possível pedir sua Empresário irregular pode ser réu em um pedido de falência. A irregularidade é violação à lei. Se ele não pudesse ser declarado falido ele estaria sendo beneficiado por uma violação à lei. falência, porque no momento em que essas obrigações foram contraídas ele já não era empresário (lembre-se que a lei de falências só se aplica a devedores empresários). 2) Pelas obrigações que já existiam no momento em que as atividades empresariais já foram encerradas, pode ser decretada a falência. A lei impõe um prazo de dois anos para que os credores exerçam esse direito de pedir a falência em face de um empresário que já encerrou suas atividades empresariais. Obs: Especificamente com relação às sociedades anônimas, a lei determina que uma vez encerrada suas atividades e dado baixa no registro, não é mais possível pleitear a falência. ▪ Insolvência do devedor empresário → verificação se a situação econômica do empresário justifica a medida grave que é a falência. Deve-se observar: 1) Se o devedor se encontra insolvente 2) Se não há a possibilidade de recuperação judicial O direito brasileiro adotou alguns atos do empresário que fazem prova da sua insolvência, ou seja, algumas atitudes do empresário fazem o juiz entender que ele se encontra insolvente, passa por uma crise insuperável e que, portanto, deve haver a liquidação patrimonial forçada contra ele: 1) Confissão de insolvência → o próprio empresário comparece em juízo confessando que passa por uma crise insuperável e que, portanto, seu patrimônio deve ser liquidado → processo de autofalência. 2) Impontualidade injustificada → quando o empresário deixa, sem relevante razão de direito, de pagar dívida constante de título executivo líquido e certo com valor superior a 40SM. Título deve estar devidamente protestado para fins falimentares. Súmula 361, STJ: No caso de protesto para fins falimentares, deve haver a indicação no protesto de quem o recebeu, para sua devida regularidade. Se não houver a indicação, há um vício no protesto que impossibilita seu uso para justificar a impontualidade injustificada. Sem relevante razão de direito → se o pedido for fundamentado nesse inadimplemento, o réu pode argumentar em sua defesa, por exemplo, vício no título ou que o inadimplemento se deu por motivos relevantes. 3) Prática de atos de falência → atos praticados pelo devedor empresário que contrariam a ideia de que a atividade econômica deve ser exercida de forma séria, regular. São atos que demonstram que aquele empresário desenvolve suas atividades de forma irresponsável, sem se preocupar com interesse das pessoas com quem ele negocia ou que ele está esvaziando seu patrimônio para prejudicar os seus credores. Exemplo: alienação do estabelecimento empresarial (trespasse) sem o consentimento dos credores; utilização de meios fraudulentos para realizar pagamentos; abandono injustificado do estabelecimento. 4) Execução frustrada → o devedor foi objeto de uma execução frustrada, onde não foram encontrados bens suficientes para satisfazer os interesses do exequente. Aqui a lei não coloca um valor mínimo cobrado na execução e também não se exige o protesto, como na impontualidade injustificada. No máximo o que se exige é uma certidão do juízo que promoveu a execução atestando que ela foi frustrada. Se não for possível a juntada da certidão, o STJ vem aceitando que sejam juntadas cópias autenticadas da execução. Verificadas essas condutas do devedor empresário que demonstrem a sua insolvência, o juiz,se preenchidos os requisitos, fará a decretação judicial da falência. ▪ Sentença que a decreta (alguns autores criticam dizendo que a sentença não é um pressuposto da própria decretação judicial de falência) • Sentença é proferida pelo juiz no âmbito de três processos distintos: 1) No processo de recuperação judicial → convolação da recuperação judicial em falência → quando está em curso a recuperação judicial mas acontecem quatro situações: a. A Assembleia Geral de Credores deliberou pela decretação da falência do devedor b. Se, passado o prazo para a apresentação do Plano de Recuperação Judicial, o devedor não apresenta c. Houve a rejeição do Plano de Recuperação Judicial d. Descumprimento de obrigação prevista no plano dentro do prazo de 2 anos da concessão da recuperação judicial. 2) No pedido de autofalência → próprio devedor confessa seu estado de crise e pede a falência - O empresário irregular pode ter sua falência decretada, mas por estar irregular pede a legitimidade ativa para pleitear (pedir) a falência de terceiro. Mas no caso de autofalência, o empresário irregular pode ser autor de um pedido de autofalência (não pode pedir a falência de terceiro mas pode pedir a falência dele mesmo). - Em regra não há citação, mas há exceções em que é necessária a citação: a. sociedades empresárias; b. consórcio de responsabilidade ilimitada e algum sócio de responsabilidade ilimitada tenha se oposto ao pedido de auto falência → o sócio de responsabilidade ilimitada da sociedade falida vê produzidos contra si os efeitos da falência, pois para todos os efeitos ele também é considerado falido. Se uma sociedade vai fazer um pedido de autofalência, esse pedido tem que ter sido objeto de deliberação social, pois foge completamente aos atos ordinários de gestão e administração os quais os administradores podem fazer sem deliberação social (pedir a própria falência é um ato extraordinário). Em sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada e que, portanto, serão considerados também falidos com o pedido de autofalência e este tiver se oposto ao pedido de autofalência da sociedade, esse sócio tem o direito de ser citado no pedido para impugná-lo e evitar que sejam produzidos contra ele os efeitos da autofalência à qual, no momento da deliberação social, ele se opôs. - Não é o simples fato do sujeito confessar a insolvência e pleitear a autofalência que faz com que a sentença seja automática. Esse pedido não vincula o juiz, que vai analisar os requisitos para a formulação do pedido e analisar o mérito da questão. 3) Em pedido de falência promovido por terceiros → exige que o terceiro demostre na fase pré-falimentar que estão preenchidos os requisitos autorizadores da decretação da falência. a. Protocolo da petição inicial b. Citação do réu (já que o pedido é formulado por terceiro c. Réu pode adotar algumas posturas: i. Inércia → revelia (confissão ficta da matéria fática) ii. Apresentar impugnação à matéria fática alegada na petição inicial → contestação iii. Realizar, dentro do prazo de contestação, o depósito elisivo → impede a decretação da falência ao depositar o valor que está sendo cobrado, afastando a ideia de que o réu está insolvente. O depósito pode ser realizado junto da contestação (discussão a respeito do valor) ou sem a contestação (confessa a dívida, valor é levantado pelo autor). Com a contestação o juiz pode entender que o valor era devido (autor levanta os valores) ou que o valor não era devido (próprio réu levanta o valor depositado). Se não houve o depósito elisivo e o juiz entendeu que o valor era devido, será decretada a falência. O depósito impede a decretação da falência, independente de depois ser provado que o valor era efetivamente devido ou não. iv. Confessar a falência → juiz então analisa o mérito e os pressupostos para declarar ou não a falência. d. Juiz dá a sentença, que pode ser: i. Denegatória da falência (improcedente o pedido inicial de decretação da falência) → não estão preenchidos os pressupostos para a decretação da falência ou há algum vício que impede a decretação da falência ou houve depósito elisivo. - Se o juiz verificar que houve um dolo por parte do autor do pedido de falência de modo a prejudicar o réu, se há elementos claros que demonstram que houve uma malícia da parte do autor buscando prejudicar a imagem do réu e sua atividade no mercado ao pedir o pedido de falência, o juiz pode, na decisão denegatória de falência condenar o autor a indenizar o réu. O pedido de falência, por si só, já dificulta o exercício da atividade empresarial, podendo gerar danos de ordem material e moral. Assim, se houve um pedido doloso por parte do autor, o juiz pode condená-lo a indenizar o réu e o réu também pode mover ação própria indenizatória. ii. Decretação da falência → preenchidos todos os requisitos necessários. Pressupostos para a sentença (art. 99, 11.101/2005): - Nomeia o administrador judicial → conduz a fase falimentar propriamente dita - Estabelece o termo legal (período suspeito) → período anterior à falência em que é analisado com mais cautela os atos praticados pelo devedor para evitar esvaziamento patrimonial → se necessário, decreta-se a ineficácia de atos que sejam praticados em prejuízo dos credores. A lei só estabelece prazo máximo para esse período, que de modo geral é de 90 dias. Contados de onde? Depende do fundamento da falência. Se for o caso de impontualidade injustificada, é considerado período suspeito o prazo de até noventa dias antes do primeiro protesto. Se for o caso de convolação de recuperação judicial em falência, é período suspeito é 90 dias antes da distribuição do pedido de recuperação judicial. Se for o caso de autofalência ou de execução frustrada, é suspeito o período de 90 dias antes da distribuição do pedido de falência. - Fixa o prazo para que os credores do falido habilitem o seu crédito - Decreta medidas necessárias ao prosseguimento do processo falimentar (ex. medidas cautelares, suspensão da execução individual de algum credor, etc). - Sentença que decreta a falência deve ser publicada para que todos saibam do estado de falência do devedor, além de ser comunicada ao MP e à Fazenda Pública, além de ser arquivada no registro do empresário na junta comercial, para que todos que venham a tratar/negociar com esse empresário saibam do seu estado falimentar - Uma vez decretada a falência, o réu passa a ser chamado de falido. - Caso se trate de uma sociedade empresária falida, também serão considerados falidos todos os seus sócios de responsabilidade ilimitada. Os sócios de responsabilidade limitada, via de regra, não são considerados falidos com a falência da sociedade, mas poderão ser se eles forem alcançados pela desconsideração da personalidade jurídica da sociedade. - Os administradores da empresa falida têm alguns deveres que são comuns ao falido, como prestar informações, colaborar para o andamento do processo falimentar, etc, só que em regra eles não são considerados falidos, a não ser que sejam alcançados pela desconsideração da personalidade jurídica ou também sejam sócios de responsabilidade ilimitada. ▪ Efeitos da decretação da falência • Efeitos pessoais - Falido é inabilitado para ao exercício de atividade empresarial (se exercer, pode incorrer em crime falimentar e exercício irregular da atividade) → enquanto empresário individual é proibido, mas nada impede que ele seja sócio de sociedade empresária (doutrina diz que isso é uma falha na lei) - Falido não pode ser corretor de seguros, corretor de navios, administrador de sociedades anônimas e se for condenado por crime falimentar também não pode participar da administração ou do conselho de direção ou da diretoria de sociedades empresárias- Falido não pode exercer tutela ou curatela - Capacidade processual → nos processos em que o falido é parte, ele vai ser substituído pela massa falida, mas permanece tendo o direito de intervir nesses processos - Falido perde seu sigilo de correspondência → a partir da decretação da falência, quem passa a ter o direito e o dever de abrir a correspondência do falido é o administrador judicial, nomeado pelo juiz. - Gera o dever geral de colaborar para o bom andamento do processo → dever de fornecer a lista de credores; fornecer todas as informações necessárias para o andamento do processo; fornecer informações sobre bens, livros, documentos que permita que ao administrador judicial identifique qual o ativo e qual o passivo do falido; dever de comparecer a todos os atos da falência, etc - Também há o dever do falido de comunicar (não é pedir autorização) ao juízo falimentar que vai se ausentar da sede do juízo. Obs: STJ tem jurisprudência no sentido de que o juiz pode negar essa ausência. - Direitos do falido: intervir nos processos em que a massa falida é parte; fiscalizar a atuação judicial; se manifestar sobre as habilitações de crédito e as contas do administrador judicial; providenciar todas as medidas necessárias para a conservação dos seus bens e dos seus direitos, etc. • Efeitos obrigacionais - Formação da massa de credores (massa falida subjetiva) → agrupamento dos credores Obs: nem todos os credores do falido são chamados para integrar a massa de credores porque não participam da falência as obrigações a título gratuito (falido deve mas não recebeu contraprestação em troca) nem os créditos que os credores tiveram para participar da falência (despesas para participar do processo falimentar) - Formação do juízo falimentar → uno e indivisível → produz a vis atrativa sobre os processos do falido. Ou seja, as ações em que a massa falida é parte serão processadas e julgadas no juízo falimentar (onde é processado o processo falimentar. Juízo falimentar atrai para si essas ações, sendo competente para julgar todas as ações nas quais a massa falida é parte. Isso fere o direito constitucional de sigilo de correspondência? Uma parte da doutrina diz que sim, mas de modo geral se entende que não, porque se pressupõe que se a correspondência é enviada para o estabelecimento comercial, ela não tem natureza pessoal, íntima, ela tem natureza comercial e portanto diz respeito ao processo falimentar. Entretanto, se o falido receber correspondência pessoal que for aberta pelo administrador judicial, por óbvio o administrador vai remeter a correspondência pessoal para a pessoa do falido. Exceções à força atrativa: ações que já estão em curso, sendo processadas em outro juízo (princípio da perpetuação da competência); causas fiscais; causas trabalhistas e causas sem conteúdo econômico → estas não são atraídas pelo juízo falimentar. - Vencimento antecipado das obrigações do falido → faz com que todas as obrigações em que o falido é devedor vençam antecipadamente. Mesmo que tenha sido previsto vencimento futuro, este é antecipado com a decretação da falência com o objetivo de permitir que seja feito o pagamento aos credores de forma isonômica, sem levar em consideração o critério temporal. Obs: Essa antecipação do vencimento não se aplica às obrigações em que o falido é credor, só às que ele é devedor. Essa antecipação do vencimento das obrigações em que o falido é devedor não pode prejudicar ou agravar a situação do falido. a. Não acontece a antecipação do vencimento das obrigações condicionais → obrigações subordinadas à condição (evento futuro e incerto) b. Antecipação do vencimento virá com um abatimento proporcional dos juros que acompanhavam a obrigação c. Antecipação do vencimento não atinge os co-devedores, que continuam com o vencimento originário. Exceção: títulos de créditos com co-devedores em que vai a falência o devedor principal → a falência do devedor principal do título provoca o vencimento antecipado em relação a todos os co-devedores. - Suspensão condicional dos juros → somente são contados os juros até o momento da decretação da falência. Esses juros que eventualmente seriam devidos somente serão pagos se não houver nenhum outro crédito a ser pago ao final da falência. - Suspensão do direito de retirada → suspende o direito que o sócio da sociedade falida tem de se retirar da sociedade. - Suspensão do direito de retenção → suspensão do direito de alguns credores de ficar com alguma coisa do devedor para força-lo a pagar → Para impedir que haja burla à ordem de pagamento e porque aquele bem que está sendo retido é de interesse da massa de credores como um todo. - Suspensão das ações e execuções movidas contra o falido → para evitar que haja violação à ordem de pagamento dos credores. Entretanto, não há suspensão de ações que versam sobre conteúdo não econômico ou quantias ilíquidas e ações cuja praça pública já está marcada (produto da alienação é direcionado à massa falida). • Efeitos patrimoniais - Falido perde a administração dos seus bens, que serão administrados pelo administrador judicial - Procedimento de arrecadação dos bens → patrimônio do falido é arrecadado para que possa ser direcionado à satisfação do interesse dos credores. Obs: enquanto não houver a alienação dos bens, o falido ainda é proprietário deles, mesmo que não os administre. • Efeitos processuais - Sentença que decreta a falência suspende o curso dos prazos prescricionais que estavam correndo em favor do falido. Os credores do falido terão mais tempo para perseguir contra ele a satisfação dos seus créditos. Obs: Essa suspensão da prescrição não atinge os créditos tributários, nem os créditos que o falido deve (ou seja, suspensão não se opera para suspender os créditos em que credor é o falido). Obs²: A suspensão é dos prazos prescricionais. Os prazos decadenciais não são suspensos. • Fase falimentar (strictu sensu) → medidas que são tomadas após a decretação da falência para atingir o objetivo dessa execução coletiva. o Apuração do passivo → verificado os credores, a extensão e a natureza de cada crédito ▪ Verificação de crédito, que se desenvolve de forma administrativa e judicial. A fase administrativa é conduzida pelo administrador judicial e a fase judicial é decidida pelo juiz. 1) Publicada a lista dos credores, que é fornecida pelo próprio falido → falido tem o dever de apresentar em juízo a lista dos credores. Essa lista será publicada e dessa publicação é aberto o prazo de 15 dias direcionado ao administrador judicial para que haja a habilitação de quem não foi incluído na lista e impugnações em relação aos créditos incluídos. 2) Depois disso, o administrador analisa e publica uma nova lista. A partir dessa segunda lista, é aberto um prazo de 10 dias para as habilitações retardatárias e novas impugnações. Entretanto, tanto essas novas habilitações quanto as novas impugnações não são direcionadas ao administrador judicial, mas sim ao juiz. Dessa vez, • Juiz pode denegar ou decretar a falência com base na existência ou não dos pressupostos necessários. Entretanto, é possível que no curso do processo falimentar seja feito um pedido de recuperação judicial. • A sentença que denega a falência é recorrível por apelação, mas a que decreta a falência é recorrível via agravo de instrumento. • Bens afastados da arrecadação → bens impenhoráveis e alguns patrimônios de afetação. é o juiz que decide acerca das habilitações e impugnações retardatárias com relação à segunda lista publicada pelo administrador judicial. 3) Com base na decisão judicial acerca das habilitações e impugnações retardatárias, será elaborado e publicado um novo quadro de credores chamado de “quadro consolidado de credores” que tem pretensão de ser definitivo.Entretanto, não impede que haja novas habilitações e impugnações, mas para isso é necessário ajuizamento de ação autônoma para esse fim (retificação do quadro de credores). o Apuração do ativo → verificados e arrecadados os bens necessários e suficientes para pagar os credores ▪ A lei autoriza que o administrador judicial promova a arrecadação dos bens do falido (com exceção dos bens impenhoráveis) para que eles sejam direcionados à massa dos credores. ▪ Se for necessário, o administrador judicial pode requisitar o auxílio da força policial, do oficial de justiça, etc. ▪ Apesar da lei conferir esses poderes ao administrador judicial, também assegura ao falido o direito de comparecer e fiscalizar a arrecadação. ▪ Todos os bens que estão na posse do falido serão arrecadados, pois presume-se que são dele. Só que se os bens forem de terceiros, é necessário a realização de ajustes na apuração do passivo, que se fazem com os pedidos de restituição e com os embargos de terceiro. ▪ Se houver bens do falido que estão em posse de terceiros, é dever do falido que ele os informe ao administrador judicial. Entretanto, o administrador judicial não tem o poder de, por si só, desapossar terceiros desses bens do falido, necessitando que ele realize pedido ao juízo falimentar para a adoção das medidas necessárias à arrecadação desses bens. ▪ Quando a arrecadação dos bens for realizada, será necessário realizar um inventário (lista) dos bens arrecadados e que haja a avaliação desses bens. ▪ Administrador judicial pode fazer essa avaliação ou pode contratar peritos para que os bens sejam devidamente avaliados. ▪ É possível que o estabelecimento empresarial seja lacrado para impedir, por exemplo, que o falido esvazie o patrimônio ou desvie bens para frustrar a arrecadação. Por outro lado, é possível que a atividade empresarial continue (pelo princípio da preservação da empresa), sendo possível que seja mais lucrativo, mais interessante para os credores do falido que o estabelecimento empresarial seja alienado funcionando, em atividade, de forma a arrecadar mais recursos. ▪ A administração e a responsabilidade pela guarda e conservação dos bens arrecadados é do administrador judicial. ▪ Sendo apurado o ativo, é possível que alguns bens exijam venda imediata → bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos a desvalorização, com conservação arriscada, com conservação muito custosa, etc. Para que a venda imediata seja possível, a lei a condiciona à oitiva do comitê de credores e do falido no prazo de 48h. ▪ Existem outras medidas além da arrecadação que permitem a juntada de mais dinheiro (aumento do passivo): • Ação de responsabilidade contra controladores, sócios de responsabilidade limitada ou contra administradores da sociedade falida. Se busca com essa ação de responsabilidade condenar sujeitos que tenham praticado atos danosos contra a sociedade e que portanto tem que responder não aos credores, mas à sociedade (aqui não está se falando de desconsideração da personalidade jurídica nem da extensão dos efeitos da falência a outras pessoas). Quem pode mover essa ação → a própria massa falida, representada pelo administrador judicial ou qualquer interessado (credores, MP, etc.) • Ineficácia de certos atos praticados pelo falido → a lei entende que é possível que esses atos tenham sido praticados de forma a prejudicar os credores. Essa decretação de ineficácia pode ser objetiva (não depende de prova de fraude pois esta é presumida) ou subjetiva (depende de prova da fraude) o Ineficácia objetiva → decretada nos próprios autos, não é necessária ação própria. Qualquer interessado pode pedir ou o juiz pode decretar de ofício. → atos praticados durante o termo legal (atos que configurem pagamento antecipado, pagamento dissimulado ou instituição ou reforço de garantia real) ou atos praticados até dois anos antes (atos a título gratuito, renúncia a herança ou legado, alienação do estabelecimento empresarial sem o pagamento ou consentimento dos credores, transferência de propriedade de imóveis ou reembolso de ações) o Ineficácia subjetiva → não se encaixam nas hipóteses de ineficácia objetiva. Juiz não pode decretar de ofício e a prova da fraude deve ser feita em ação própria (ação revocatória). • Ajustes na apuração → quando na apuração são arrecadados bens de terceiros que estão em posse do falido. o Embargos de terceiro → terceiro quer evitar que seus bens em posse do falido sejam arrecadados. o Pedidos de restituição → bens de terceiros em posse do falido já foram arrecadados e o terceiro quer que eles sejam restituídos. o Realização do ativo → alienação dos bens, conversão em dinheiro ▪ Lei estabelece formas e modalidades de alienação. ▪ Formas de alienação → ordem preferencial entre as formas em que os bens serão alienados 1) Alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco → venda de toda a massa falida em um bloco só, todos os bens reunidos. Vai ser alienado o estabelecimento empresarial como um todo. A ideia do legislador é tentar ao máximo manter a atividade empresarial funcionando, em observância ao princípio da preservação da empresa. 2) Alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente → conjuntos de bens aptos a assegurar o exercício da atividade econômica de forma parcial. Não é possível a venda integral, mas a alienação permite que a atividade empresarial continue a ser exercida em cada uma das filiais ou unidades produtivas. 3) Alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor → a atividade empresarial não continua. Reúnem-se os bens em grupos para que eles, agrupados, tenham um valor maior, mas a atividade não continua. 4) Alienação individual → bens vendidos isolados. A atividade empresarial não continua. ▪ Modalidades de alienação → aqui não há ordem de preferência. Quem escolhe é o juiz, depois de ouvir o Comitê de Credores. • Leilão • Propostas • Pregão • Modalidades alternativas → se forem adotadas modalidades alternativas, os credores serão ouvidos e terão que decidir → 2/3 dos credores presentes tem que aprovar o uso dessa modalidade alternativa de alienação do ativo e ainda deve ser homologada pelo juiz. ▪ Adotada qualquer modalidade de alienação do ativo, quem será o adquirente é o que apresentar a melhor proposta (lance mais alto). Essa proposta do adquirente não precisa ser superior ao preço da avaliação. O que é impedido é a alienação por preço vil → valor menor que o preço mínimo determinado pelo juiz. Se o juiz não determinar o preço mínimo, preço vil é o preço menor que 50% do valor da avaliação. ▪ Em qualquer hipótese, o adquirente dos bens do falido não possui qualquer responsabilidade pelas obrigações do falido (STF, ADI 3934 → essa exclusão de responsabilidade é constitucional). Para evitar fraude, essa exclusão de responsabilidade não acontecerá (haverá a sucessão da responsabilidade) nos casos em que o adquirente for sócio da sociedade falida, sócio de sociedade controlada pelo falido ou parente em linha reta ou colateral até o quarto grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida. ▪ Realizado o ativo, é possível que haja impugnações. Essa impugnação só cabe em razão de ilegalidade na alienação. Qualquer credor, o falido e o MP tem legitimidade para impugnar em 48h da arrematação se houver ilegalidade na alienação. o Pagamento do passivo → pagamento dos credores com o dinheiro da alienação dos bens do falido, de acordo com a ordem legal de preferência ▪ Há três categorias de créditos que devem ser pagos antes que comecem a ser pagos os credores que estão concorrendo entre si (créditos concursais): 1) Créditos prioritários → recebem em primeiro lugar com o dinheiro já existente em caixa no momento da arrecadaçãoEssa ordem deve ser seguida. Ou seja, só recebem os credores que estão abaixo na ordem apenas quando todos os credores que estão acima dele receberem. A ideia não é tratamento igualitário, mas sim tratamento isonômico. • Créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos últimos 3 meses até a decretação da falência até o limite de 5 salários-mínimos por trabalhador. • Despesas indispensáveis para o andamento do processo Obs: Existe uma discussão na doutrina sobre qual desses dois créditos deve ser pago em primeiro lugar. Mas, de modo geral, admite-se que os créditos trabalhistas sejam pagos primeiro. 2) Pedidos de restituição de dinheiro • Ressarcimento do dinheiro que terceiros de boa-fé gastaram em atos declarados ineficazes • Adiantamento de câmbio à exportação • Dinheiro de terceiro em poder do falido sobre o qual o falido não tem disponibilidade 3) Créditos extraconcursais → fora do concurso de credores. Sem eles, o processo falimentar não anda. • Serviços prestados à massa falida (inclusive a remuneração do administrador judicial) • Quantias fornecidas por credores • Despesas do processo (despesas tidas com a arrecadação, alienação e conservação dos bens, etc) • Honorários de sucumbência do processo de falência Não existe mais a isenção de pagamento de honorários de sucumbência no processo falimentar (antes existia) • Custas dos processos em que a massa falida seja parte e saia vencida • Obrigações que resultaram de atos jurídicos válidos praticados durante eventual processo de recuperação judicial • Obrigações tributárias relativas a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência (ordem: federais, estaduais, municipais) 4) Créditos concursais → concurso dos credores propriamente dito 1. Créditos trabalhistas até 150 SM por trabalhador (o que ultrapassar esse limite vira crédito quirografário) Créditos de acidente de trabalho Créditos da Caixa Econômica Federal relativos ao FGTS devido pelo empregador Créditos relativos à pensão alimentícia Créditos referentes à remuneração do representante comercial Créditos de honorários advocatícios 2. Créditos com garantia real até os limites dos bens gravados 3. Créditos tributários com fato gerador anterior à decretação da falência 4. Créditos com privilégio especial: - Créditos que dão direito a retenção - Créditos em favor de microempresa e empresa de pequeno porte - Notas de crédito rural - Crédito industrial, comercial e à exportação 5. Créditos com privilégio geral: - Despesa com o funeral do falido; - Despesas com o luto do cônjuge e dos herdeiros - Gastos com a doença da qual o falido morreu - Gastos necessários à manutenção do falido e sua família nos últimos três meses antes da morte - Créditos de debêntures com garantia flutuante - Créditos do comissário - Créditos dos fornecedores de bens e serviços anteriores à recuperação judicial que continuaram a aprover o devedor de bens e serviços durante a recuperação judicial 6. Credores quirografários → os que não tem garantia real e também não tem privilégio 7. Multas (créditos sub-quirografários) 8. Créditos subordinados → subordinados a não haver qualquer outro credor - Debêntures subordinadas - Letras financeiras com cláusula de subordinação - Créditos de acionistas ou administradores que não tem vínculo empregatício com a sociedade e que esses créditos decorram dessa condição de acionista ou administrador. ▪ Respeitada essa ordem, os pagamentos são realizados. ▪ Se não houver possibilidade de pagamento integral de qualquer categoria, as categorias posteriores não vão receber. ▪ Praticado o último ato de alienação dos bens e pagamento dos credores, mesmo que nem todos os credores recebam, o administrador judicial encerra a falência. o Encerramento da falência ▪ Deve ser feito através de sentença, que pressupõe dois momentos: • Prestação de contas do administrador judicial, que é feita em autos apartados • Aprovada a prestação de contas, o administrador judicial vai apresentar um relatório final nos próprios autos da falência. - Depois da prestação de contas aprovada e apresentação do relatório final, o administrador judicial poderá sacar os 40% de sua remuneração que ficaram depositados em conta judicial. ▪ Depois da prestação de contas e apresentação do relatório final, o juiz irá sentenciar o encerramento da falência. • Encerrada a falência, os efeitos da decretação da falência, de um modo geral, são encerrados → volta a correr a prescrição, por exemplo. • Fase pós-falimentar o É possível que haja, ao final da falência, obrigações do falido que ainda não tenham sido extintas. Mesmo após o encerramento da falência, é possível que haja obrigações pendentes, pois não foi possível a satisfação de todos os credores. o A extinção dessas obrigações que remanescerem após a sentença que encerra a falência vai depender de nova sentença. Ou seja, se após o encerramento da falência ainda houver obrigações pendentes vai ser necessário no futuro uma nova sentença que declare essas obrigações pendentes extintas. o Como haverá essa nova sentença? A lei prevê três hipóteses: ▪ Se todos os créditos forem pagos ▪ Se 50% dos créditos quirografários forem pagos ▪ Decorrido o prazo de 5 anos do trânsito em julgado da sentença que encerra a falência ou 10 anos se o falido tiver sido condenado por crime falimentar. ➔ No caso de uma dessas três hipóteses, o interessado poderá requerer ao juiz a decretação, por sentença, da extinção de todas as obrigações do falido. ➔ É essa decretação de extinção de todas as obrigações do falido que faz com que cesse a inabilitação empresarial → somente depois de decretadas Administrador judicial → conduz os atos do processo de falência sob a supervisão do juiz. • Pessoa física ou jurídica; • Preferencialmente com qualificação técnica • Imparcial, idôneo e confiável • Tem direito a uma remuneração (40% dessa remuneração vai ficar depositada em uma conta judicial e só será liberada após a prestação de contas e apresentação do relatório final – no final do processo falimentar) – valor: no máximo 5% do valor dos bens da falência • Para fins penais, o administrador judicial é funcionário público. Credores • O processo falimentar é movido no interesse dos credores • Assembleia de Credores → chamada para deliberar sobre qualquer matéria que afete os interesses dos credores como um todo. Será obrigatoriamente ouvida sobre: o A constituição do Comitê de Credores o Quando for necessário a utilização de outras modalidades de realização do ativo além das modalidades regulares. o Deliberar sobre tomada de decisões requerida pelo administrador judicial, sobre requerimentos dos próprios credores que representem mais de 25% do valor total dos créditos. • Comitê de credores → fiscalização do processo de falência. Em alguns casos também tem função consultiva (nos casos de impugnação de crédito, pedidos de restituição, venda antecipada dos bens, etc) extintas as obrigações do falido é que ele poderá voltar a não estar impedido a exercer a atividade empresarial enquanto empresário individual, salvo quando essa inabilitação decorre de condenação por crime falimentar. o Nessa hipótese de condenação por crime falimentar, mesmo extintas as obrigações do falido ele ainda está inabilitado porque, neste caso, ele só pode exercer a atividade empresarial depois de 5 anos da extinção da punibilidade ou da reabilitação penal. RECUPERAÇÃO JUDICIAL • Conjunto de mecanismos previstos pela lei com a finalidade de superar a crise de empresas viáveis → lei não prevê esses mecanismos para qualquer empresa . As crises consideradas insuperáveis não serão beneficiadas com os mecanismos de recuperação, pois geraria prejuízos para toda a sociedade. • A leibeneficia com os mecanismos de recuperação judicial as empresas em que há uma viabilidade na superação de sua crise, há uma possibilidade plausível de superação daquela situação de emergência financeira e patrimonial. • A recuperação judicial pressupõe, além da possibilidade de superação da crise, o consentimento dos credores do devedor em crise e a concessão judicial → Recuperação judicial não é automática, não depende somente da vontade da empresa em crise. Obs: Não é necessário que todos os credores consintam, mas é necessário um número mínimo, razoável de credores, suficiente para garantir a seriedade das medidas tomadas, concorde com o plano de recuperação apresentado. Obs²: O Poder Judiciário não recupera a empresa, mas apenas supervisiona, fiscaliza, a tomada e cumprimento dessas medidas para possibilitar que a atividade econômica seja efetivamente recuperada. • Objetivos: o Superar a crise; o Evitar a crise; o Preservação da empresa → objetivo primordial. Garantir que a atividade empresarial seja preservada, para a manutenção dos postos de trabalho, continuidade da produção de bens e serviços e geração de tributos → Relação com a função social da empresa. o Assegurar que os credores do devedor saiam minimamente satisfeitos → podem até não receber todo o seu crédito, mas concordam com a recuperação judicial com a perspectiva de não sair completamente no prejuízo, recebendo parcelas daquilo que lhe é devido. • Princípios que orientam a RJ: o Princípio da função social da empresa → decorre diretamente da função social da propriedade o Princípio da preservação da empresa → preservar em funcionamento a atividade econômica. Obs: a ideia é a preservação da empresa, mas não necessariamente do empresário. Direito prioriza que a atividade empresarial seja mantida, entretanto, a atividade empresarial não se confunde com o seu titular. Por isso que uma das possíveis medidas da RJ é o afastamento do titular para que a atividade empresarial continue sob nova direção. • Fases do processo de recuperação judicial: o Pedido de recuperação judicial ▪ Requisitos: • Só pode pedir RJ os sujeitos que estão abrangidos pela Lei 11.101/2005. • Necessário que o sujeito que pleiteia a recuperação judicial esteja regular a pelo menos 2 anos. • Sujeito não pode ser falido → até porque sujeito falido está impedido de exercer regularmente atividade empresarial. Se já tiver sido falido, vai poder exercer atividade empresarial quando suas obrigações estiverem extintas. No caso de sujeito falido, ele já exerceu de forma insatisfatória a atividade empresarial e a lei presume que ele não tem a seriedade nem a competência para superar a crise econômico- financeira. • Sujeito não pode ter sido condenado por crime falimentar → no caso de empresário individual ele mesmo não pode ter sido condenado e no caso de sociedade empresária, a sociedade não pode ter como sócio nem administrador pessoa condenada por crime falimentar Lei presume a inidoneidade para o exercício adequado da atividade empresarial, principalmente no enfrentamento de uma crise econômico-financeira. • Sujeito não tenha sido beneficiado por outro plano de recuperação judicial nos últimos 5 anos • Sujeito não tenha sido beneficiado por um plano de recuperação judicial especial nos últimos 5 anos (antes o prazo era de 8 anos) Lei quer evitar que um sujeito que esteja em constantes crises continue exercendo a atividade empresarial daquela forma. ▪ Competência para julgar o pedido de RJ → juízo competente para processar e julgar tanto a recuperação judicial quanto a falência é o local do principal estabelecimento do devedor. ▪ Legitimidade ativa → o próprio empresário. Em caso da morte: 1. se for empresário individual: herdeiros, cônjuge/companheiro e inventariante. 2. Se for sócio de sociedade empresária: sócio remanescente. Credor NÃO pode pleitear recuperação judicial. MP NÃO pode pleitear recuperação judicial. ▪ Credores abrangidos pela recuperação judicial → de um modo geral, todos os credores são abrangidos pela recuperação judicial desde que seus créditos já existam à época do pedido. Obs: Créditos ainda não vencidos, de um modo geral, são abrangidos pela recuperação judicial, exceto, por óbvio, caso se trate de hipótese de inexigibilidade ou exclusão do crédito. ▪ Credores não abrangidos pela recuperação judicial • Créditos não exigíveis → credores de obrigações a título gratuito e créditos relativos a despesas tidas pelos credores para ingresso no processo. • Créditos excluídos da recuperação judicial em razão da sua natureza → créditos fiscais (indisponíveis, não podem ser negociados), credores proprietários (credores de alienação fiduciária em garantia, arrendamento mercantil, venda com reserva de domínio, promessa de compra e venda de imóvel) ▪ Petição inicial, estruturalmente falando, não tem requisitos específicos. Precisa cumprir os requisitos essenciais genéricos previstos no CPC. Entretanto, o art. 51 da lei 11.101/2005 estabelece alguns documentos que devem necessariamente instruir a petição inicial (documentos imprescindíveis). ▪ Possibilidade de desistência do pedido após o ajuizamento → até a decisão que defere o processamento da recuperação judicial (não é a concessão da RJ!!) o autor pode livremente desistir do pedido de recuperação. Depois que o processamento da recuperação judicial for deferido, ele só vai poder desistir do pedido de recuperação judicial ouvidos os credores. Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. § 1o Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado. § 2o Com relação àexigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica. § 3o O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que se referem os §§ 1o e 2o deste artigo ou de cópia destes. ▪ Uma vez ajuizado o pedido de recuperação judicial, opera-se de pleno direito uma restrição ao poder de disponibilidade do devedor → devedor perde sua liberdade de dispor livremente dos bens do seu ativo não circulante. Determinados bens cuja natureza, por si só, não é circular (alienação não é imediata, cotidiana) não podem ser vendidos pelo autor do pedido de recuperação judicial depois que ele protocola a petição inicial. A alienação só é possível após a oitiva dos credores. Isso acontece para evitar esvaziamento patrimonial. Obs: A lei limita a alienação relacionada aos ativos não circulantes. Ou seja, com relação aos ativos circulantes, eles podem ser negociados independentemente de autorização. ▪ Formulado o pedido de recuperação judicial e estando em tudo em ordem (petição inicial, documentação necessária, preenchidos os requisitos para a recuperação judicial, etc), o juiz vai, de forma objetiva, deferir o processamento da recuperação judicial. Nesse momento, não é a recuperação judicial que está sendo concedida. Aqui simplesmente se defere o processamento da recuperação judicial. A recuperação judicial em si só será concedida se, após a apresentação do plano de recuperação judicial, ele for aprovado. ▪ Decisão de processamento da recuperação judicial • Conteúdo → art. 52 da lei 11.101/2005 o Nomear o administrador judicial o Determinar a intimação do MP o Determinar a comunicação por carta à Fazenda Pública o Outras • Publicidade → necessário que a recuperação judicial seja publicizada pois há um notório interesse público a respeito dela, não só com relação à administração pública, mas também aos possíveis credores do devedor. o Lei determina que a decisão que defere o processamento da recuperação judicial seja publicada através de editar na imprensa oficial que contenha o resumo do pedido de recuperação judicial e a lista de credores com os respectivos créditos (valores e classificação) → objetivo é permitir que eventuais credores não listados pelo devedor se habilitem no processo e que credores que foram incluídos equivocadamente com relação ao valor ou classificação do crédito possam retificar as informações. o Lei também determina que haja a comunicação à junta comercial para que ocorra a anotação no registro da empresa da sua recuperação judicial → objetivo é permitir que todos aqueles que negociam com a empresa saibam que ela está em recuperação judicial. o Obrigatório que o empresário atue no mercado e em todos os atos que praticar incluindo em seu nome empresarial a expressão “em recuperação judicial”. • Efeitos o Nomeação do administrador judicial o Dispensa das certidões negativas de débito tributário para que o devedor exerça as suas atividades Exceções em que o devedor continua tendo que apresentar as certidões negativas de dívidas tributárias: contratação com o poder público ou receber incentivos ou benefícios fiscais ou creditícios. o Suspensão das ações e execuções em favor do devedor em recuperação judicial pelo prazo de 180 dias ▪ Súmula 581, STJ → essa suspensão não impede o prosseguimento de ações e execuções ajuizadas em face de terceiros devedores solidários, ou coobrigados de modo geral, por garantia cambial, real ou fidejussória o Apresentação de contas mensalmente pelo devedor → possibilitar o exercício da fiscalização mais efetivamente durante todo o processo de recuperação judicial. o Suspensão da prescrição que corria contra os credores da recuperação judicial (não se suspende a prescrição em que o credor é o devedor da recuperação judicial) o Força atrativa do juízo recuperacional → juízo que processa e julga a recuperação judicial passa a ter força atrativa para processar e julgar qualquer ação que possa afetar o patrimônio do devedor em recuperação. É semelhante à força atrativa do juízo falimentar, mas mais restrita, considerando que só diz respeito às ações que possam afetar o patrimônio do recuperando. Obs: não está previsto na lei esse último efeito, mas a doutrina e a jurisprudência vêm reconhecendo-o. ▪ Administrador judicial → auxilia o juiz na recuperação judicial, principalmente fiscalizando a atuação do devedor. • Escolha → pelo juiz, livremente, entre pessoas de sua confiança. Pode ser pessoa física ou jurídica. A escolha é livre, mas deve ser feita dentro de certos parâmetros: o Preferência por pessoas com qualificação técnica o Idoneidade o Imparcialidade → lei proíbe que parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, do devedor ou de seus administradores, controladores ou representantes legais, bem como amigos, inimigos ou dependentes exerçam o cargo de administrador judicial. o Confiabilidade → lei proíbe que exerça as funções de administrador judicial sujeitos que em uma falência ou recuperação judicial prévias tenham sido destituídos, não tenham prestado conta ou cujas contas foram rejeitadas nos últimos 5 anos. • Nomeação → de modo geral, na decisão que defere o processamento da recuperação judicial, mas nada impede que essa nomeação seja feita em decisão posterior****. Contra essa nomeação cabe reclamação → devedor, credores ou MP podem interpor reclamação contra a nomeação do administrador judicial. Juiz oportunizará manifestação do administrador judicial e proferirá decisão em 24hrs (prazo impróprio) acerca da substituição do administrador judicial cuja nomeação foi impugnada. Se não houver impugnação, ele será investido em suas funções. • Investidura → é intimado para tomar posse. Assina no cartório o termo de compromisso. • Competência o Fiscalizar a atuação do devedor o Auxiliar o juiz no processo recuperacional, participando da verificação de créditos, prestando e recebendo informações, contratando auxiliares, etc. • Remuneração → lei não estabelece um valor mínimo, mas o valor máximo é, em regra, 5% do crédito submetido à recuperação. Exceção: quando o devedor for enquadrado como microempresa ou empresa de pequeno porte, a remuneração máxima do administrador judicial é 2% do valor do crédito submetido a recuperação judicial. Obs: também vale aqui a mesma regra do processo de falência: 40% da remuneração do administrador judicial ficará depositado em conta judicial e só será liberado no final do processo após a prestação de contas e apresentação do relatório final. • Substituição → não é sanção. O sujeito não pode mais exercer a função de administrador judicial por conta de situações/imposições fáticas que não dependem de falhas ou de atos nocivos praticados por eles. Não pressupõe a prática de ilícitos. o Renúncia o Morte o Incapacidade o Falência o Pedido de recuperação judicial pelo administrador o Perda da confiança o Conveniência processual Faz jus à remuneração (não é integral, obviamente. É proporcional ao tempo trabalhado). Exceção → lei retira do administrador judicial que renuncia imotivadamente o direito à remuneração • Destituição → caráter sancionatório. Pratica atos inadequados ao exercício da sua função. Desobedece aos preceitos da lei de recuperação e falências, descumpre deveres, comete omissão ou negligência ou pratica atos lesivos à atividade do devedor e de terceiros. o A destituição ocorre através de decisão motivada do juiz e após oitiva do administrador judicial que se busca destituir (respeitar o contraditório) o Sujeito perde o direito à remuneração. Se tiver recebido algo, deve devolver. o Fica impedido de exercer função de administradorjudicial pelo prazo de 5 anos. ▪ Credores • São definidos através do processo de verificação de crédito • São reunidos na Assembleia Geral e no comitê de Credores. • Assembleia Geral: o Órgão máximo dos credores que estão sujeitos à recuperação judicial o Deliberam sobre questões relevantes ao andamento do processo de recuperação judicial. o Participam da Assembleia todos os credores abrangidos pela recuperação judicial (credores não abrangidos não fazem parte da Assembleia Geral) o Não podem votar na Assembleia os credores retardatários (salvo os trabalhistas), os credores não abrangidos pela recuperação judicial e os credores cujos créditos não são alterados pelo plano. o Se houver aprovação unânime do plano de recuperação judicial (ou seja, não houver impugnações), a convocação da Assembleia Geral de Credores não é necessária. • Comitê de Credores → órgão intermediário de representação dos interesses dos credores, composto por alguns credores, que exerce a função consultiva e de controle dos atos do devedor. Isso porque se fosse necessário convocar a assembleia para todos os atos da recuperação judicial, ela demoraria muito, seria muito custosa e muito trabalhosa. o Plano de recuperação judicial ▪ Uma vez deferido o processamento da recuperação judicial, o devedor tem o dever de apresentar tempestivamente em juízo o plano de recuperação judicial. ▪ A maioria da doutrina diz que o plano de recuperação judicial é a base, a parte mais importante do processo de recuperação judicial. ▪ Fabio Ulhoa: um bom plano de recuperação judicial não é garantia do sucesso da recuperação judicial e superação da crise. Mas, um mau plano é certeza absoluta de que a crise não será superada e a atividade irá fracassar. ▪ Proposta das medidas necessárias para enfrentar e superar a crise, proposta do devedor para acordo com os seus credores com relação às suas dívidas. ▪ Conteúdo → a lei permite uma grande liberdade de escolha de meios de recuperação judicial. Entretanto, a lei também determina conteúdos obrigatórios do plano de recuperação judicial. Se faltar alguns desses elementos, o plano será considerado incompleto. Quais são: • Laudo econômico-financeiro • Laudo de avaliação dos bens Necessária a juntada desses laudos para que o juízo e os credores saibam do real estado do devedor e do seu patrimônio, pois é com base nisso que haverá a análise de viabilidade da empresa. • Demonstração de viabilidade econômica das medidas → é ônus do devedor demostrar quais serão os efeitos positivos que a concessão da recuperação trará para a atividade econômica e para os credores abrangidos pelo plano. • Meios de recuperação → providências que o devedor vai adotar para que a empresa supere a crise pela qual passa. Art. 50, lei 11.101/2005 → rol exemplificativo de meios de recuperação que o devedor pode adotar, não são os únicos meios. ▪ Limitações ao plano de recuperação judicial → liberdade para elaboração do plano de recuperação, apesar de ser ampla, não é ilimitada. • Créditos trabalhistas e de acidente de trabalho: o Vencidos antes do pedido de recuperação judicial → não pode ter prazo para pagamento superior a 1 ano o Créditos trabalhistas de natureza exclusivamente salarial vencidos nos últimos 3 meses anteriores ao pedido de recuperação judicial, no limite de até 5 SM por trabalhador tem o prazo máximo de pagamento de 30 dias. • Garantias reais o Na alienação de bem objeto de garantia real é necessário que haja aprovação expressa do credor titular dessa garantia real para que a garantia seja suprimida ou substituída. • Variação cambial → conversão do crédito que era em moeda estrangeira para moeda nacional o A variação cambial adotada para converter os créditos em moeda estrangeira para moeda nacional será conservada como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só pode ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente no plano de recuperação judicial. ▪ Prazo para apresentação do plano de recuperação judicial em juízo → 60 dias a partir da decisão que defere o processamento da recuperação judicial. Esse prazo é imprescindível, pois a perda deste prazo acarreta na convolação da recuperação judicial em falência. Obs: nada impede que, uma vez apresentado o plano, ele seja modificado posteriormente. Inclusive, a discussão com os credores possibilita justamente alterações no plano apresentado. ▪ Apresentado tempestivamente o plano de recuperação judicial em juízo, será publicado um edital informando aos credores que o plano de recuperação judicial foi apresentado → começa a correr, a partir daí, para os credores, o prazo de 30 dias para que eles se manifestem sobre o plano apresentado pelo devedor. ▪ Se ninguém se opuser ao plano de recuperação judicial nesses 30 dias, ele é considerado aprovado tacitamente. E se os credores expressamente se manifestarem pela aprovação dentro do prazo de 30 dias, obviamente ele também será aprovado. ▪ Mas, é possível que nesse prazo alguns credores apresentem impugnações ao plano de recuperação judicial. A impugnação não significa que o plano foi rejeitado e que a recuperação judicial não será concedida. Se houver impugnação, haverá a exigência de discussão do plano entre os credores e o devedor para que ao final dessa discussão haja uma nova votação para a aprovação ou rejeição do plano apresentado. ▪ A impugnação deve ser necessariamente motivada. ▪ Qualquer credor, independentemente da extensão e natureza do crédito, desde que seja abrangido pelo plano de recuperação judicial, pode impugná-lo. ▪ Nenhuma objeção, por si só, é capaz de conduzir à imediata rejeição do plano. ▪ A impugnação leva à convocação da Assembleia Geral dos Credores para a discussão e eventual modificação do plano. ▪ Na Assembleia, os credores e o devedor irão discutir sobre o conteúdo do plano, sobre os meios adotados, condições de pagamento, etc. Ao final dos debates e modificações no plano, será convocada uma votação para que, na Assembleia Geral, os credores determinem se aprovam ou rejeitam o plano. ▪ Para a votação na Assembleia Geral, os credores são divididos em 4 classes: • I – credores trabalhistas e de acidente de trabalho; • II – credores com direito real de garantia (até o valor do bem dado em garantia) • III – todos os outros credores que não fazem parte das outras classes, inclusive os credores com direito real de garantia cujo crédito supere o valor do bem dado em garantia (caráter residual) • IV – credores que se enquadram como microempresa e empresa de pequeno porte ▪ Dentro dessa divisão de classes, os credores decidirão se aprovam ou rejeitam o plano. Plano é considerado aprovado se todas as classes aprovarem o plano → todas as classes devem necessariamente aprovar o plano para que a recuperação judicial seja concedida. Se uma classe reprovar o plano, ele será considerado reprovado como um todo. ▪ Dentro de cada classe de credores existe um critério específico para a aprovação do plano. • Classes I e IV → aprovação do plano é por “cabeça”, o cômputo dos votos para a aprovação ou rejeição do plano envolve exclusivamente o número de credores presentes. Ou seja, não leva em consideração o valor do crédito. • Classes II e III → levam em consideração dois critérios: o número de credores votantes e, cumulativamente, o valor do crédito. ▪ Entretanto, mesmo que esse quórum da Assembleia de Credores não seja atingido, é possível que o juiz considere o plano de recuperação judicial aprovado → juiz pode, excepcionalmente, considerar o plano aprovado mesmo tendo havido rejeição na Assembleia de Credores se preenchidos alguns requisitos, cumulativamente: • Foto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes. • Aprovaçãodo plano pela maioria das classes votantes • Dentro da classe que reprovou o plano, é necessário que tenha havido a aprovação por pelo menos 1/3 dessa classe, adotando os critérios de cada uma das classes. • Plano de recuperação judicial não pode prever tratamento diferenciado entre os credores da classe que rejeitou o plano. → Lei dá ao juiz a possibilidade de suprir a ausência de aprovação do plano pela Assembleia porque preenchidos os requisitos, considera-se que houve a aprovação por uma quantidade mínima razoável de credores para permitir que haja a vinculação de todos ao adotar os mecanismos necessários para a preservação da atividade econômica. ▪ Após a votação, o plano pode ser aprovado ou rejeitado. Se o plano foi rejeitado e não foram preenchidos os requisitos para o juiz aprovar o plano apesar da rejeição pela Assembleia, o juiz decretará a falência do devedor. ▪ Por outro lado, se houver a aprovação do plano, seja tacitamente, expressamente, pela Assembleia ou pelo juiz, haverá uma nova decisão judicial que concederá a recuperação judicial ao devedor. o Concessão e cumprimento do plano de recuperação judicial ▪ Após a aprovação do plano de recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo a Certidão Negativa de Dívidas Tributárias para que seja conferida a recuperação judicial. ▪ A lei 11.101/2005 prevê a possibilidade de uma lei que determine o parcelamento especial das dívidas tributárias. Entretanto, essa lei ainda não existe, sendo por isso que existe uma decisão recente do STJ que diz que por conta da ausência dessa lei que permite o parcelamento especial das dívidas tributárias pode ser dispensada a apresentação dessas certidões negativas enquanto não for editada essa lei específica. ▪ Através de decisão judicial, será concedida a recuperação judicial. Essa decisão é recorrível através de agravo de instrumento. ▪ Efeitos da concessão da recuperação judicial: • Todos os credores são vinculados à recuperação judicial → mesmo os que votaram contra a aprovação do plano estão sujeitos a ele • Ocorrerá a novação das obrigações sujeitas ao plano → extinção da obrigação anterior pois em seu lugar existirá uma nova obrigação (a contida no plano) o No direito civil, as garantias da obrigação original não permanecem na obrigação nova. Entretanto, na recuperação judicial, os créditos novados permanecem com as garantias e direitos da obrigação original → manutenção das garantias, ainda que a obrigação original seja extinta por força da obrigação. o Essa novação é condicional, porque se por qualquer motivo a recuperação judicial for convolada em falência, a novação deixa de produzir efeitos e a obrigação original volta a existir. • O plano de recuperação judicial forma um título executivo judicial • A alienação de filiais e unidades produtivas do devedor deverá ser realizada, conduzida e fiscalizada no âmbito do processo de recuperação judicial para evitar esvaziamento patrimonial em prejuízo dos seus credores. • NÃO é efeito imediato da concessão da recuperação judicial o afastamento do devedor ou de seus administradores do exercício da atividade empresarial. As hipóteses em que isso pode ocorrer estão no art. 64 da lei 11.101/2005. Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles: I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vigente; II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta Lei; III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores; IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas: a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimonial; b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em relação ao capital ou gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas; c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu funcionamento regular; d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão judicial; V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador judicial ou pelos demais membros do Comitê; VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial. Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador, que será substituído na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial. ▪ Cumprimento do plano de recuperação • Período de observação → período de 2 anos após a concessão da recuperação judicial dentro do qual se observa de forma mais cuidadosa e atenta se o devedor vem cumprindo as suas obrigações previstas no plano de recuperação. Se dentro desse período houver descumprimento de obrigação prevista no plano de recuperação, a recuperação judicial será convolada em falência. • Após o período de observação, é possível que ainda haja obrigações que devem ser cumpridas. Se houver, entretanto, o descumprimento de obrigações constantes no plano após os 2 anos do período de observação, não haverá a convolação da recuperação judicial em falência. Entretanto, como o plano de recuperação é um título executivo judicial, o credor poderá executar o seu crédito através do procedimento de cumprimento de sentença. ▪ Extinção da recuperação judicial → a recuperação judicial não é eterna, tem tempo. Então, em algumas situações ela será extinta. • Pagamento integral dos créditos (qualquer que seja o prazo) • Se dentro dos 2 anos (período de observação) o sujeito cumprir de forma adequada todas as suas obrigações ▪ Convolação da recuperação judicial em falência → há um pedido de recuperação judicial, eventualmente há um processo de recuperação judicial já concedido, mas apesar desse momento de recuperação judicial, há fatos graves que impõem que essa recuperação judicial seja convertida em falência. Pode acontecer em 4 hipóteses: • Perda do prazo para apresentar o plano de recuperação judicial → devedor tem o prazo de 60 dias após o deferimento do processamento da recuperação judicial para apresentação em juízo do plano de recuperação judicial. Se ele perde esse prazo e não apresenta o plano tempestivamente, a lei entende que esse devedor não tem o comprometimento e a seriedade necessários para enfrentar um processo de recuperação judicial e, portanto, determina que o juiz convolará a recuperação judicial em falência. • Rejeição do plano de recuperação judicial pela Assembleia Geral de Credores → se o plano apresentado sofre impugnação de alguns credores não significa que haverá convolação em falência, sendo convocada a Assembleia Geral de Credores para o plano ser discutido e negociado. Entretanto, se na Assembleia de Credores, na votação após as negociações, houver a rejeição do plano de recuperação judicial e não estiverem preenchidos os requisitos para a aprovação do plano pelo juiz, o juiz deverá convolar a recuperação judicial em falência. • Deliberação da Assembleia de Credores → não se confunde com a hipótese anterior pois nela a Assembleia está rejeitando o plano de recuperação. Nessa hipótese foi colocado em votação na Assembleia se é do interesse dos credores ou não que seja decretada a falência do devedor. • Descumprimento de obrigação prevista no plano derecuperação judicial nos 2 anos após a recuperação ter sido concedida → lei, credores e juiz entendem que o devedor não tem a idoneidade, a competência, a capacidade e a seriedade financeira e moral necessárias para suportar o processo de recuperação judicial e, portanto, a única saída cabível é a convolação daquela recuperação judicial em falência. • Consequências da convolação da recuperação judicial em falência: o Atos praticados durante o período de recuperação judicial que estejam de acordo com a lei 11.101/2005 são presumidos válidos, ainda que haja a convolação em falência. o A novação advinda da recuperação judicial se torna ineficaz → se há a convolação da recuperação judicial em falência, a obrigação nova que surgiu a partir da aprovação do plano de recuperação judicial deixa de existir e ressurge a obrigação original, com todos os seus acessórios e qualidades existentes até o momento da concessão da recuperação judicial. o Os créditos que surgirem após a concessão da recuperação judicial, se houver a convolação da recuperação judicial em falência, serão considerados créditos extraconcursais → os créditos assumidos pelo devedor em recuperação judicial após a concessão da recuperação judicial serão considerados extraconcursais. o Os créditos de fornecedores que já eram fornecedores antes da concessão da recuperação judicial e que continuaram fornecendo produtos e serviços ao devedor em recuperação judicial durante o período da recuperação judicial terão, no caso de convolação da recuperação judicial em falência, privilégio especial de recebimento de seus créditos. • Recuperação Judicial Especial o Aplicável a microempresas e empresas de pequeno porte → LC 123/2006 dá um tratamento diferenciado, mais favorável, às microempresas e empresas de pequeno porte → exercentes de atividade econômica que tem rendimento bruto mais reduzido. Esses sujeitos empresários que se enquadram como microempresas e empresas de pequeno porte nem sempre terão recursos suficientes para encarar um processo de recuperação judicial comum. É por isso que a lei determina que eles sejam beneficiados com um plano de recuperação judicial especial (mais simples, célere e menos custoso) o Sujeitos que podem ser beneficiados com o plano de recuperação judicial especial: sujeitos enquadrados como microempresas e empresas de pequeno porte e que, além disso, preencham todos os outros requisitos para a concessão da recuperação judicial comum → deve preencher os requisitos genéricos para a concessão da recuperação judicial e ser enquadrado como microempresa ou empresa de pequeno porte. o Peculiaridades da recuperação judicial especial: ▪ Pedido → na petição inicial é necessário que o sujeito peça expressamente sua subordinação ao plano de recuperação judicial especial. Isso porque a recuperação judicial especial é uma opção (sujeito pode optar pela recuperação judicial especial ou não) ▪ Processamento → o processamento só produz efeitos com relação aos credores abrangidos por essa recuperação judicial. ▪ Plano especial → ele deve ser apresentado também em 60 dias, mas ele tem uma possibilidade de conteúdo mais restrita. Não é qualquer meio de recuperação judicial que pode ser adotada, como na recuperação judicial comum. Na recuperação judicial especial o que pode ser negociado entre o devedor e seus credores é uma moratória (dilação do prazo para começar o pagamento), um parcelamento dos pagamentos e um abatimento (redução) do valor dos créditos. Obs: antigamente a lei dizia que a taxa de juros para esse parcelamento seria de 1% a.m., mas a lei foi modificada e a taxa de juros que será utilizada nesse parcelamento é a taxa Selic. Aqui os meios de recuperação são mais restritos, pois as partes não tem a mesma liberdade de adoção de vários meios distintos como na recuperação judicial comum. Inclusive, é por essa razão que a recuperação judicial especial é uma opção, não é obrigatória. Mas, o legislador entende que negociar essa moratória (prazo maior para começar o pagamento) – lei impõe que essa moratória será de, no máximo, 180 dias –, o parcelamento dos créditos e o abatimento do valor da dívida são suficientes para que o devedor se capitalize (ou seja, haja fluxo de caixa, entrada de dinheiro suficiente que possibilite o pagamento, mas também entende que essas medidas protegem o interesse dos credores porque assegura que eles a médio prazo vão receber, ainda que de forma parcelada. Quem aceitar receber de forma parcelada terá seus créditos atualizados, corrigidos, com a incidência da taxa Selic de juros → lei concede mecanismos mais restritos para a recuperação judicial especial, mas entende que esses mecanismos são suficientes para o enfrentamento da crise, assegurando também o interesse dos credores. ▪ Procedimento → bastante parecido com o procedimento da recuperação judicial comum, a única peculiaridade, que torna a recuperação judicial especial mais grave, é que se dentro de uma classe de credores houver a impugnação de mais da metade dos credores ao plano de recuperação judicial especial, o juiz irá automaticamente convolar a recuperação judicial em falência → não irá nem convocar a Assembleia de Credores. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL • Acordos celebrados extrajudicialmente entre o devedor e seus credores, podendo ser levados à homologação do Poder Judiciário • No regime falimentar anterior (lei anterior que regia a falência), esses acordos extrajudiciais eram considerados atos de falência. Hoje não são mais considerados atos de falência. A lei permite que sejam celebrados acordos extrajudiciais entre o devedor e seus credores, podendo, eventualmente, serem levados à homologação do Poder Judiciário para que tenham força de título executivo judicial. • Se o devedor conseguir entrar em acordo com todos os seus credores, essa recuperação extrajudicial estará perfeita e finalizada e não precisará passar pelo crivo do Poder Judiciário → se houver unanimidade na concordância dos credores e do devedor, recuperação extrajudicial estará definitivamente celebrada e poderá ser cumprida perfeitamente, tendo força de título executivo extrajudicial, não sendo necessário que seja levada ao conhecimento do Poder Judiciário. Mas, se as partes quiserem, elas podem levar ao Poder Judiciário para que o juiz homologue a recuperação extrajudicial (é uma homologação facultativa quando houve unanimidade no acordo entre os credores e o devedor). • Se não há a concordância unânime dos credores e do devedor, essa recuperação extrajudicial precisará ser levada ao Poder Judiciário para que o juízo homologue se todos os requisitos estiverem preenchidos. • Requisitos para que o juiz homologue: o Requisitos subjetivos → relacionados ao sujeito (devedor). Exigidos pela lei para demostrar que o devedor tem idoneidade para se submeter com confiança e sem prejuízo aos credores à recuperação extrajudicial. ▪ Exercício regular da atividade empresarial a mais de 2 anos ▪ Não ser falido, nem ser condenado por crime falimentar ▪ Não ter obtido recuperação judicial/recuperação judicial especial nos últimos 5 anos ▪ Não ter sido beneficiado com outra recuperação extrajudicial nos últimos 2 anos ▪ Não estar pendente pedido de recuperação judicial → não se pode usar dois caminhos ao mesmo tempo. o Requisitos objetivos → referentes ao próprio plano de recuperação extrajudicial ▪ Plano ter sido aprovado por credores que representem mais de 3/5 dos créditos de cada classe de credores. ▪ Proibição de previsão no plano de pagamento antecipado → para evitar fraudes e tratamento benéfico, prejudicando credores em detrimento de outros. ▪ Proibição de previsão de tratamento desfavorável a credores não abrangidos pelo plano → evitar conluio fraudulento entre o devedor e os credores abrangidos pelo plano. ▪ Se
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