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Sociedade por ações: apresentação e características básicas

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SOCIEDADE POR AÇÕES – Roteiro 01
Diversidade de agrupamentos sociais: da família e da sociedade política à sociedade multinacional. De fenômeno sociológico a fato jurídico. Sociedades naturais e sociedades voluntárias.
Personalidade jurídica: criação do Direito, que atribui unidade ao agrupamento de pessoas ou a um patrimônio (realidade jurídica), transformando-o em um centro de imputação de interesses, direitos, obrigações, ônus e responsabilidades. 
Classificação das pessoas jurídicas, conforme o Código Civil: pessoas jurídicas de Direito Público e pessoas jurídicas de Direito Privado. Importância: imputação de regime jurídico próprio.
Pessoas jurídicas de Direito Privado: associações, sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e empresas individuais de responsabilidade limitada. A sociedade de economia mista e a empresa pública (art. 173 da CF/88).
Início da existência legal das pessoas jurídicas de Direito Privado: a inscrição dos seus atos constitutivos no registro próprio.
SOCIEDADES
Conceito: art. 981 do CC/02.
Elementos: pluralidade de pessoas; conjugação de capital e trabalho; objetivo econômico comum e repartição de resultados.
Classificação das sociedades – critérios: (i) pelo grau de responsabilidade dos sócios (sociedades de responsabilidade ilimitada, limitada e mista); (ii) pela atribuição ou não de personalidade jurídica (sociedades personificadas e despersonificadas); (iii) pela contribuição pessoal dos sócios (sociedades personalistas e capitalistas); (iv) pela natureza do ato de fundação da sociedade (sociedades contratuais e institucionais); pelo objeto social (sociedades não empresárias ou simples e sociedades empresárias).
SOCIEDADE DE PESSOAS E SOCIEDADE DE CAPITAIS. 
Características das sociedades de pessoas: a) prevalência da autonomia da vontade dos sócios, na estruturação da sociedade; b) responsabilidade subsidiária, solidária e ilimitada dos sócios ou de uma determinada categoria de sócios; c) unanimidade para deliberar alteração do contrato social; d) estabilidade do quadro societário; e) utilização de firma social; f) administração somente por sócios, com a fiscalização dos demais; g) a exigência de affectio societatis.
Características das sociedades de capitais: a) a presença de interesses extra-societários a afastar a autonomia da vontade dos sócios, na estruturação da sociedade; b) limitação da responsabilidade dos sócios ao valor de sua participação no capital social; c) estruturação da sociedade em órgãos independentes e com funções específicas (teoria organicista); d) a administração pode ser acometida a terceiro não sócio; e) instabilidade do quadro societário; f) princípio da maioria do capital social para aprovação das deliberações sociais; g) não se exige a affectio societatis porquanto a colaboração pessoal do sócio é dispensada
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Sociedades contratuais e sociedades institucionais se distinguem conforme a natureza do ato de sua fundação.
Nas sociedades ditas contratuais, o ato fundacional baseia-se num contrato, que normatizará as relações e interesses entre os sócios, com máxima autonomia e independência, com mínima interferência do legislador.
Nas sociedades institucionais, ainda que se vislumbre o negócio jurídico contratual plurilateral, as relações sociais e a estrutura societária serão conformados por normas gerais abstratas, com interesses gerais também abstratos, em detrimento dos interesses particulares dos sócios. Essa normativa se conterá nos estatutos sociais, a evidenciar um organismo em si, desvinculado de todo elemento pessoal, onde a adesão substitui o consentimento e a função substitui o direito e onde o órgão de administração tem autonomia para cumprir o fim estabelecido, desvinculado dos interesses particulares dos sócios (por ex., o § único do art. 116 da Lei das S/A).[0: Art, 116, § único: “O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender” (verbis).]
Sociedades não empresárias e sociedades empresárias: esta distinção diz respeito ao objeto social ou à atividade econômica exercida pela sociedade. De acordo com o art. 982 do CC/02, será empresária a sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, isto é, desempenhe atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços. Portanto, por exclusão, aquelas que não exerçam esse tipo de atividade, serão consideradas não empresárias ou simples.
A par do objeto social, há um outro critério diferenciador entre as sociedades empresárias e não empresárias, qual seja, a forma societária adotada: a sociedade por ações é considerada empresária qualquer que seja o seu objeto; de outro lado, a sociedade cooperativa é considerada sociedade simples.
SOCIEDADES EM ESPÉCIE DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL
Sociedades não personificadas: sociedades em comum (de fato e irregular) e sociedade em conta de participação. Características.
Sociedades personificadas: sociedade simples, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita, sociedade limitada, sociedades por ações (anônima e comandita por ações) e sociedade cooperativa. Características.
SOCIEDADES POR AÇÕES
Sociedade por ações é gênero do qual fazem parte a sociedade anônima e a sociedade em comandita por ações (espécies).
A sociedade em comandita por ações encontra-se em desuso. Seu capital social é dividido em ações e pode adotar firma social ou denominação. Da firma social constará obrigatoriamente o nome do(s) acionista(s) administrador(es), designado(s) diretor(es), cuja responsabilidade pelas dívidas sociais é subsidiária, solidária e ilimitada. Será(ão) ele(s) nomeado(s) diretamente no estatuto social e só poderá(ão) ser destituído(s) por deliberação de acionistas que representem no mínimo 2/3 do capital. Ademais, o art. 1092 do CC/02 estatui que, sem a anuência dos diretores, a assembleia geral não pode alterar o objeto essencial da sociedade, prorrogar o seu prazo, alterar o capital social, criar debêntures ou partes beneficiárias.
SOCIEDADE ANÔNIMA
Conceito: de acordo com o art. 1088 do CC/02, a sociedade anônima ou companhia terá o capital social dividido em ações, obrigando-se cada acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. A regência da sociedade anônima, porém, conf. o art. 1089 do CC/02, é feita por lei especial, a Lei nº 6.404/76.
Características básicas: (i) personalidade jurídica com existência e patrimônio distintos e autônomos; (ii) responsabilidade dos sócios limitada ao valor de sua contribuição ao capital; (iii) capital dividido em ações, de livre transferência; (iv) estrutura minuciosamente fixada em lei, para proteção dos acionistas, em especial, dos minoritários, dos trabalhadores, da comunidade, do meio ambiente etc. (perfil institucional, estrutura orgânica complexa e interesses extra societários).
Gênese da sociedade anônima: a doutrina não identifica, no direito antigo, nenhum agrupamento de pessoas que se assemelhasse às sociedades por ações. Porém, no Direito Romano, a universitas configurava um grupo de indivíduos ligados entre si através de contrato, caracterizando uma unidade puramente formal e inorgânica, enquanto que as corporações eram dotadas de estrutura complexa, com fins próprios, reconhecendo-se nelas uma unidade material. Havia, ainda, as societas publicanorum ou vectigalium, cujo objetivo era arrecadar fundos para prover as legiões romanas nos territórios conquistados e financiar obras públicas; em troca, o Estado romano lhes conferia o direito de arrecadar impostos nesses territórios. A participação nas societas publicanorum era representada por títulos adquiridos pelos investidores via aporte de capital, limitando-se a tanto asua responsabilidade. Não se reconhecia, porém, personalidade jurídica, muito embora fossem dotadas de certa subjetividade e autonomia e sobrevivessem aos sócios.
Vestígios da sociedade por ações entre os séculos XII e XVI: a exploração de moinhos na França, mediante concessão feudal, cujo empreendimento era rateado em frações ideais transmissíveis, com limitação dos riscos. As associações mineiras medievais, em que as minas eram exploradas sob forma condominial, representada por documentos livremente circuláveis, mas sem limitação de responsabilidade. As associações medievais corporativas de credores de empréstimos públicos, para atender às carências de cidades italianas, e cujos fundos eram representados por certificados alienáveis, geradoras de rendimentos e registrados em livros. Duas destas associações deram origem à Casa de S. Giorgio, por alguns considerada como o embrião da sociedade por ações. 
As expedições navais a partir do século XVI: a East Índia Co. dos ingleses, por concessão da Coroa (Royal Charter), a garantir o monopólio do comércio com a Índia. Inicialmente ocasionais (partilha de resultados por expedição), passaram a representar investimentos de caráter permanente a partir de 1653. Antes disso, em 1600, surgiram as companhias das Índias Orientais holandesas, corporações dotadas de personalidade jurídica por concessão estatal, cujos associados detinham um comprovante de sua participação, livremente transmissível, que lhes dava o direito de participar dos resultados ou do acervo social, com limitação de responsabilidade. Em Portugal, D. João IV, por Alvará de 06. 01.1649, criou a Cia. Geral de Comércio do Brasil, concedendo-lhe o monopólio no comércio de azeite, vinho, farinha e bacalhau portugueses, mas, também, com objetivos militares (escolta e proteção dos navios mercantes entre Portugal e Brasil e a defesa da costa e portos).
Evolução da sociedade por ações quanto a sua constituição: as companhias surgiram com atribuição pelo Estado (lei especial) de personalidade jurídica, com limitação de responsabilidade e direito de livre cessão das ações, e do monopólio mercantil (a carta de “incorporação”). Com a Revolução Francesa, a França liberou a constituição de companhias, o que gerou abusos. Com o Cód. Comercial francês (1807), a sociedade por ações foi equiparada às demais sociedades, adotando o sistema de autorização governamental, como uma forma de controle mínimo, sendo que os critérios de limitação da responsabilidade e a forma de circulação das ações foram fixados em lei. Em 1867, por influência da legislação inglesa, a França alterou o sistema da prévia autorização estatal para a ampla liberdade de constituição, mediante o preenchimento de formalidades legais e registro em órgão próprio.
SOCIEDADES ANÔNIMAS ABERTAS E FECHADAS 
A distinção diz respeito à disseminação de papéis entre investidores e à possibilidade de negociação desses papéis (ações, debêntures e outros) no mercado dos valores mobiliários: companhias cujos valores mobiliários podem ser negociados nesse mercado, isto é, oferecidas ao público em geral ou a pessoas indeterminadas, são companhias abertas, em contraposição às companhias fechadas (art. 4º da Lei das S/A). Nestas, as ações são negociadas em ambiente particular, entre pessoas determinadas, a exemplo das quotas de uma sociedade limitada.
MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS
Torna-se relevante pincelar algumas noções sobre o Mercado de Capitais, um dos mercados em que segmenta o sistema financeiro e onde são “negociados instrumentos financeiros ou em que se estabelecem relações de conteúdo financeiro visando, fundamental mas não exclusivamente, dois fins nem sempre concomitantes: a repartição de riscos e o financiamento das atividades econômicas” (verbis, Otavio Yazbek, Regulação do Mercado Financeiro e de Capitais, Elsevier, 2ª. ed., 2009, pág. 125).[1: Lameira, citado por Otavio Yazbek, distingue quatro espécies dentro do gênero “mercado financeiro”: o mercado monetário, o mercado de crédito, o mercado de capitais e o mercado de câmbio (op. cit., pág. 127). Da mesma forma, Vera Helena de Mello Franco e Raquel Sztajn, com apoio na lição de Alberto Banfi, também distingue os mesmos segmentos, aduzindo que mercado financeiro é um gênero maior e cuja função é de “facilitar o recolhimento dos recursos excedentes dos agentes ou setores ‘superavitários’ redistribuindo-os para os agentes (ou setores) deficitários” (verbis, Direito Empresarial II, Ed. RT, 3ª. ed., pág. 40 e seguintes).]
O Sistema Financeiro Nacional foi estruturado pela Lei 4.595/1964, com a criação, dentre outras instituições, do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil. O CMN, órgão incumbido das políticas relacionadas ao sistema financeiro, tinha dentre seus vários objetivos, “propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e da mobilização de recursos”, com competência para “Disciplinar as atividades das bolsas de valores e dos corretores de fundos públicos” (verbis, art. 3º, inc. V, e art. 4º, inc. XXI, da Lei 4.595/64). E ao Banco Central foi atribuída a incumbência, dentre outras, de fiscalizar os mercados financeiro e de capitais, bem como os agentes que nela atuam e as modalidades ou processos operacionais por eles utilizados (art. 11, inc. VII, da mesma Lei).
Posteriormente, com o advento da Lei 4.728/65, que veio a disciplinar o mercado de capitais, as atividades das bolsas de valores e sociedades corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários foram regulamentadas, atribuindo ao CMN o poder normativo e, ao Banco Central, o poder fiscalizatório, sobre os mercados financeiros e de capitais, seus atores e as operações que realizam, com as finalidades abaixo destacadas.
PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA REGULAÇÃO DO MERCADO DE CAPITAIS
O art. 2º da Lei 4.728/65 estabelece os objetivos da atuação do CMN e do BACEN, relativamente aos mercados financeiro e de capitais, a saber: 
 
“I – facilitar o acesso do público a informações sobre os títulos ou valores mobiliários distribuídos no mercado e sobre as sociedades que os emitirem;
II – proteger os investidores contra emissões ilegais ou fraudulentas de títulos ou valores mobiliários;
III – evitar modalidades de fraude e manipulação destinadas a criar condições artificiais da demanda, oferta ou preço de títulos ou valores mobiliários distribuídos no mercado;
IV – assegurar a observância de práticas comerciais equitativas por todos aqueles que exerçam, profissionalmente, funções de intermediação na distribuição ou negociação de títulos ou valores mobiliários;
V – disciplinar a utilização do crédito no mercado de títulos ou valores mobiliários;
VI – regular o exercício da atividade corretora de títulos mobiliários e de câmbio” (verbis).
Em 1976 foi editada a Lei 6.385, dispondo sobre o mercado de valores mobiliários e instituindo a Comissão de Valores Mobiliários, além de reforçar as atribuições normativas do CMN e as atribuições, em concorrência coordenada com o novo órgão, do BACEN.
Nessa Lei 6.385/76, em seu art. 4º, foram elencados os fins do CMN e da CVM, destacando-se: o estímulo à formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários (inc. I); a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações das companhias abertas (inc. II), a proteção dos investidores contra emissões irregulares de valores mobiliários, contra atos ilegais de administradores e controladores de companhias e contra o uso de informação relevante não divulgada no mercado (inc. IV); assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários negociados e as companhias emissoras (inc. VI), bem como assegurar a observância de práticas comerciais equitativas nesse mercado (inc. VII).
Da análise dos objetivos acima transcritos, verifica-se que a regulação do mercado de capitais ou de valores mobiliários tem em vista fortalecer e dar segurança ao segmento do mercado de dinheiro destinadoao financiamento das companhias abertas, não só definindo os ativos financeiros que se caracterizam como valores mobiliários, bem como a disciplina de seus agentes e as operações por eles realizadas nesse mercado.[2: Confira-se Vera Helena de Mello Franco, op. cit., pág. 41 e 42; Otavio Yazbek, op. cit., pág. 125 e seguintes.]
MERCADOS PRIMÁRIO E SEGUNDÁRIO DE VALORES MOBILIÁRIOS
Podemos identificar dois segmentos diferenciados envolvendo operações de compra e venda de valores mobiliários, que são o mercado primário e o mercado secundário. No mercado primário, temos a negociação de títulos novos de emissão de companhias abertas, oferecidas ao público através de intermediários financeiros, sendo que os valores pagos pelos investidores reforçam o caixa da companhia emissora dos papéis. Por outro lado, no mercado secundário, ocorre a negociação de títulos que já estão em circulação no mercado, entre investidores ou instituições, conferindo liquidez ao investimento inicialmente realizado no mercado primário. Portanto, o financiamento das companhias somente ocorre nas operações realizadas no mercado primário e não no secundário.[3: Vera Helena de Mello Franco preleciona: “Por isto é que se diz que o mercado primário exercita uma função típica de financiamento das companhias emissoras, enquanto que o secundário desenvolve de forma principal a função de facilitar o investimento e o desinvestimento por parte dos poupadores de molde a permitir a sua liquidação” (verbis, op. cit., pág. 43).][4: Confira-se, ainda, os ensinamentos de Andrea Fernandes Andrezo e Iran Siqueira Lima, Mercado Financeiro Aspectos Históricos e Conceituais, Ed. Pioneira Thomson Learning, 2002, pág. 9).]
Desse modo, por se tratar de uma “máquina jurídica de coletar capitais” (Ripert, apud Bulgarelli, Manual das Sociedades Anônimas, Atlas, 7ª. ed., pág. 18), há um rígido controle sobre as sociedades anônimas abertas, que fazem apelo à poupança popular, o mesmo não ocorrendo com as companhias fechadas.
BOLSA DE VALORES E ENTIDADES DE MERCADO DE BALCÃO ORGANIZADO
A intermediação nas operações de direcionamento e alocação de investimento no mercado de valores mobiliários deve contar com uma estrutura que lhe propicie eficiência e segurança, o que é proporcionado pelo funcionamento das bolsas de valores e das entidades de mercado de balcão organizado. Cumpre às bolsas de valores e às entidades de mercado de balcão: organizar, manter, supervisionar e garantir ambientes ou sistemas que permitam a realização de negócios envolvendo títulos e valores mobiliários, de forma eficiente em relação aos preços praticados, com transparência e amplo acesso de informações relativas ao produto e à companhia emissora, conferindo segurança na compensação e liquidação das operações.
As bolsas de valores têm origem nas praças de comércio em que se concentravam a oferta e a procura de produtos. No início, sem qualquer segmentação, e, posteriormente, especializando-se por produto, as praças de comércio reuniam, num local determinado, todos os agentes interessados em negociar referido produto, em um ambiente de concorrência e formação de preços pelo princípio da melhor oferta.
Portanto, bolsas de valores são ambientes organizados e autorregulamentados (isto é, sujeitos a um regulamento estabelecido pelas próprias bolsas) para a negociação de títulos e valores mobiliários, e que funcionam em consonância com a normativa do CMN e sob autorização e supervisão da CVM. 
Somente corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários autorizados podem atuar nas bolsas para a realização das operações de compra e venda de valores mobiliários, intermediando, assim, a compra e venda de títulos e valores mobiliários entre investidores e garantindo a execução das obrigações. Frise-se a importância da atuação desses intermediários especializados na identificação de partes interessadas, o que reduz sobremaneira os custos de transação.[5: Vera Helena de Mello Franco, op. cit., pág. 44.]
No Brasil, atualmente, existe apenas uma bolsa de valores em atividade que é a BM&FBovespa S/A – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, constituída sob a forma de companhia, e que atende a dois segmentos bastante distintos: a Bovespa atua no mercado de valores mobiliários e a BM&F no segmento de comodities e derivativos.[6: Sobre Yazbek, op. cit., pág. 140 e seguintes.]
Contrapunha-se ao mercado de bolsa, o mercado de balcão não organizado, no sentido de que, neste último, não havia um ambiente ou sistema centralizado para a formação de preço dos valores mobiliários, onde prevalece a realização do negócio sempre pelo melhor preço, e nem controle maior sobre tais operações, especialmente quanto ao sistema de formação de preços, realizadas de forma direta pelas instituições financeiras autorizadas a negociar valores mobiliários de modo isolado, não multilateral, entre si ou entre interessados nos produtos, seus clientes.
O mercado de balcão organizado é criação recente no sistema de negociação de títulos e valores mobiliários e se distingue do mercado de balcão não organizado porquanto suas operações são fiscalizadas por uma entidade autorreguladora, credenciada pela CVM; deve manter também sistema que permita a formação multilateral e simultânea de preços (fechamento dos negócios pela melhor oferta). No Brasil, a única entidade que atua no mercado de balcão organizado é a SOMA-FIX. São negociados no mercado de balcão organizado papéis de companhias de menor porte, que não têm autorização da CVM para acessar a bolsa, sendo que, no mercado de balcão organizado, as exigências para dele participar são menores, menos burocráticas e de menor custo.
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
Para que a companhia possa emitir ações para o público, é indispensável não só o seu registro na Comissão de Valores Mobiliários – CVM –, mas, também, o prévio registro de cada distribuição pública de valores mobiliários perante esse mesmo órgão.
Instituída pelo art. 5º da Lei 6.385/1976, a CVM é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda, e tem por atribuiçôes: regulamentar o mercado de valores mobiliários, efetuar o registro de companhias abertas e suas emissões públicas, fiscalizar as atividades e os serviços de mercado e as companhias, e veicular informações relativas ao mercado e aos valores negociados.
Destaque-se o art. 4º da Lei nº 6.385/76, que delimita o escopo da atuação do Conselho Monetário Nacional e da Comissão de Valores Mobiliários, o qual pode ser sintetizado no fortalecimento do mercado de valores mobiliários com vistas a atrair a poupança popular para o financiamento de companhias abertas. 
VALORES MOBILIÁRIOS
A doutrina denuncia a dificuldade de se conceituar o valor mobiliário, mas Vera Helena de Mello Franco, após análise do direito norte-americano e aquele continental europeu, diante do que chama de “estado de transformação”, conceitua valor mobiliário em sentido amplo como “um interesse negociável, representativo da participação em um investimento coletivo e definido, como tal, pela lei”, considerando a variada gama de papéis e instrumentos elencados no art. 2º da Lei 6.385/76 como valores mobiliários, desde ações, debêntures e bônus de subscrição de emissão das companhias, passando pelos contratos futuros e de opções lastreados em valores mobiliários, até contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, desde que ofertados publicamente e cujos rendimentos advenham do esforço do empreendedor ou de terceiros. [7: Otavio Yazbek, op. cit., pág. 82 e seguintes; Vera Helena de Mello Franco, op. cit., pág. 113; Luiz Gastão Paes de Barros Leães, em Revista de Direito Mercantil, nº 14, pág. 41 e seguintes.][8: Op. cit., pág. 113.]
Conceito de “securities” do direito norte-americano: considerando-se que a legislação brasileira em matéria de mercado de capitais espelhou-se na legislação norte-americana, torna-se relevante destacar o estudo elaborado pelo Prof. LuizGastão Paes de Barros Leães sobre “O Conceito de ‘Security’ no Direito Norte-Americano e o Conceito Análogo no Direito Brasileiro”, o qual, com relação às “securities” norte-americanas, conclui por cinco características identificadoras, a saber: “(1) todo investimento em dinheiro ou em bens suscetíveis de avaliação monetária, (2) realizado pelo investidor em razão de uma captação pública de recursos, (3) de modo a fornecer capital de risco a um empreendimento, (4) em que ele, o investidor, não tem ingerência direta, (5) mas do qual espera obter algum ganho ou benefício futuro”.[9: Op. cit., pág. 57.]
Na análise do tema, o Prof. Leães traz à colação um caso interessante julgado pela Suprema Corte americana, em 1946, em que uma companhia (Howey Company) vendera pequenos lotes de terra a diversas pessoas, com um contrato anexo através do qual uma subsidiária da vendedora, denominada Howey-in-the-Hills Service Company, se comprometia a prestar serviços de plantio e cultivo da terra para a cultura de frutas cítricas, bem como a comercialização dos frutos e partilha dos lucros. A Corte americana entendeu, no caso, que a hipótese se enquadrava nos propósitos do Securities Act, que caracterizava como “security” “todo contrato, transação ou esquema através do qual uma pessoa aplica o seu dinheiro em um empreendimento comum, com o objetivo de obter lucro, em virtude exclusivamente dos esforços que venham a ser desenvolvidos pelo lançador ou por uma terceira pessoa...” (verbis).[10: RDM nº 14, pág. 47.]
No mesmo sentido, a benvinda alteração da Lei 6.385/76, que introduziu o inciso IX ao rol de valores mobiliários do art. 2º, em virtude do famoso “contrato do boi gordo”, oferecido publicamente a investidores que adquiriam animais para engorda e posterior participação nos resultados de sua comercialização, sendo tais contratos passíveis de transferência. 
Mais adiante, serão abordados os principais valores mobiliários de emissão das companhias.
DISTRIBUIÇÃO PÚBLICA DE VALORES MOBILIÁRIOS
Acima se referenciou, quando da distinção entre a sociedade anônima aberta e a sociedade anônima fechada, à oferta pública de papéis, impondo-se a inteligência do que se entende por colocação ou distribuição pública de valores mobiliários.
Colocação ou distribuição de valores mobiliários no mercado: caracteriza-se pela negociação, oferta ou aceitação de oferta para negociação mediante qualquer modalidade de oferta pública a pessoas indeterminadas (através de listas ou boletins de subscrição, prospectos ou anúncios destinados ao público), inclusive através dos meios de comunicação de massa, de lojas, escritórios ou outros estabelecimentos acessíveis ao público ou, ainda, de corretores ou intermediários que procurem pessoas interessadas (art. 16, Lei 4.728/65 e art. 19, § 3º, da Lei 6.385/76).
Fechamento de capital: as companhias abertas podem fechar o seu capital e cancelar o seu registro perante a Comissão de Valores Mobiliários, nos termos do art. 4º, §§ 4º e 5º, e art. 4-A e seus parágrafos, da Lei 6.404/76. Implicação: novas ações e demais papéis que sejam emitidos não podem ser colocados através de ofertas públicas; ademais, as ações e papéis já em circulação no mercado perderão a possibilidade de negociação através do mercado secundário de papéis.
Para fechar o seu capital, a companhia emissora, o acionista controlador ou a sociedade controladora deverá formular oferta pública para aquisição da totalidade de ações em circulação no mercado, por preço justo (critérios de avaliação indicados no mesmo artigo 4º, § 4º, da Lei das S/A). 
Se, após o decurso do prazo da oferta pública, remanescerem menos de 5% (cinco por cento) do total das ações emitidas pela companhia, a assembleia geral poderá deliberar o seu resgate pelo valor da oferta, depositando o valor do resgate em estabelecimento bancário autorizado pela CVM, à disposição de seus titulares.
Poderão os acionistas titulares de 10% (dez por cento) das ações em circulação no mercado (excluindo-se as do controlador, dos diretores, dos conselheiros de administração e as em tesouraria) requerer a convocação de assembleia especial para deliberar sobre nova avaliação, por requerimento fundamentado e acompanhado dos elementos de convicção que demonstrem os erros ou imprecisões nos cálculos ou nos critérios de avaliação. Porém, caso o resultado da nova avaliação coincida ou não supere o valor da oferta inicial, os acionistas que a requereram e a aprovaram deverão ressarcir a companhia dos custos incorridos com a convocação/realização dos conclaves e com a avaliação).
Caberá oferta pública para aquisição de ações nos mesmos termos na hipótese do acionista controlador ou sociedade controladora adquirir ações da companhia que elevem sua participação em determinada espécie e classe de ações em porcentagem que impeça a liquidez de mercado das ações remanescentes (oferta pública obrigatória por perda de liquidez, nos termos do art. 4º, § 6º, da Lei das S/A).
CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA
Disciplina legal: arts. 80 a 99 e 8º a 10, da Lei das S/A.
Formas de constituição: I – por subscrição pública, e II – por subscrição particular.
Requisitos preliminares comuns às duas formas: I – subscrição de todas as ações que compõem o capital social por, no mínimo, duas pessoas; II – realização em dinheiro, como entrada, de pelo menos 10% (dez por cento) do preço de emissão das ações subscritas; e III – depósito das entradas em dinheiro em estabelecimento bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (o depósito é realizado pelo fundador em nome dos subscritores e a favor da companhia em organização; caso a companhia não se constitua em seis meses do depósito, o banco restituirá as quantias diretamente aos subscritores).
Constituição por subscrição pública: o oferecimento de ações ao público depende de prévio registro da emissão junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a subscrição deverá ser intermediada por instituição financeira (contrato de underwriting, art. 15, I, da Lei nº 6.385/76).
O pedido de registro de emissão pública das ações para constituir a companhia será instruído com: a) estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento; b) projeto do estatuto social; c) prospecto com as bases da companhia, organizado e assinado pelos fundadores e pela instituição financeira intermediária.
A CVM poderá determinar alterações no estatuto/prospecto ou denegar o pedido por inviabilidade ou temeridade do empreendimento ou inidoneidade dos fundadores.
Estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento: a grande preocupação reside na prosperidade do empreendimento; assim, devem ser abordadas a existência de demanda dos produtos/serviços da companhia e a receita correspondente; as fontes de suprimento de matéria prima e a expectativa de retorno do investimento, devidamente fundamentado.
Projeto de estatuto: requisitos exigidos para os contratos de sociedades em geral e os peculiares às S/A, com a normativa geral e abstrata que regerá a companhia
Prospecto: é a argumentação quanto às bases da companhia e aos motivos que justifiquem a expectativa de êxito do empreendimento. Deve indicar, dentre outros itens, o valor do capital, modo de sua realização e a existência ou não de autorização para aumento futuro; a parte do capital a ser formada por bens, sua discriminação e o valor atribuído pelos fundadores; número, espécie e classes de ações; valor nominal e preço de emissão; obrigações assumidas pelos fundadores e quantias por eles despendidas ou a despender com a constituição; prazo de subscrição e prazo para realização da assembleia de constituição da companhia ou daquela preliminar para avaliação dos bens; identificação dos fundadores (idealizadores da companhia) ou, se pessoa jurídica, a firma ou denominação, nacionalidade e sede; e a instituição financeira intermediária do lançamento, que será a guardiã dos originais do prospecto e do projeto de estatuto e respectiva documentação, paraexame dos interessados.
Lista ou boletim de entrada: a ser assinada pelos subscritores das ações contra o pagamento da entrada em dinheiro, com sua qualificação, número, espécie e classe de ações subscritas e o valor total da entrada. 
Convocação de assembleia: na constituição por subscrição pública, pode haver duas assembleias: a prévia para avaliação dos bens (eventual) e o conclave para deliberar sobre a constituição da companhia (esta sempre necessária).
Assembleia Geral para Avaliação de Bens: o capital social poderá ser integralizado em bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Esta avaliação será feita por três peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembleia geral dos subscritores, cujo laudo será submetido a assembleia para aprovação, com a presença dos experts para prestar informações. Se o subscritor aceitar o valor aprovado em assembleia, os bens serão incorporados ao capital, cumprindo aos primeiros diretores realizar as formalidades necessárias. Se a assembleia ou o subscritor não aprovarem a avaliação, ficará sem efeito o projeto de constituição da companhia. O subscritor e avaliadores respondem civil e penalmente por danos causados pela integralização em bens. No caso de bens em condomínio, os condôminos respondem solidariamente.
 
Assembleia Geral para Constituição da Companhia: em primeira convocação, instala-se com a presença mínima de metade do capital social e, em segunda convocação, com qualquer número. A assembleia será presidida por um fundador e secretariada por um subscritor e todos os subscritores terão direito a voto (um voto por ação). 
Caberá à assembleia aprovar o laudo de avaliação e votar o projeto de estatuto, cláusula por cláusula, que deverá ser aprovado por unanimidade. Em seguida, vota-se a constituição da sociedade, aprovada pela maioria do capital, passando-se à eleição dos administradores e conselheiros fiscais. A ata, lavrada em duas vias, depois de lida e aprovada pela assembleia, será assinada por subscritores que representem a validade das deliberações. Um exemplar será arquivado na companhia e o outro junto ao registro do comércio.
Constituição por Subscrição Particular: o idealizador da companhia promoverá as ações necessárias à sua constituição, elaborando o projeto de estatuto, convidando as pessoas de suas relações para subscrever todo o capital social, colhendo assinaturas, recebendo as entradas em dinheiro e depositando-as em instituição financeira credenciada. Após essas medidas, deverá, ou convocar assembleia geral, ou solicitar os serviços do tabelião para lavrar a escritura pública de constituição. Na constituição por subscrição particular, todos os subscritores são considerados fundadores.
Constituição Particular por Escritura Pública: a escritura pública deverá qualificar todos os subscritores-fundadores, transcrevendo integralmente o estatuto aprovado, mencionar as ações subscritas por cada um, valor das entradas, cujo recibo de depósito também deverá ser transcrito. Se houver, o laudo de avaliação de bens também será transcrito na escritura, sob a responsabilidade dos subscritores e avaliadores. Os primeiros diretores e os conselheiros fiscais serão nomeados na escritura. Uma certidão dessa escritura deverá ser arquivada no Registro Mercantil. 
Constituição Particular por Assembleia de Subscritores: a assembleia deverá ser convocada por edital, salvo comparecimento de todos os subscritores ao conclave. Todos os presentes deverão assinar a lista ou boletins de subscrição e, em duplicata, o projeto de estatuto. A assembleia seguirá o mesmo procedimento previsto para a assembleia de constituição por subscrição pública (arts. 86 e 87 da Lei das S/A), cuja ata deverá ser lavrada em duas vias, com a assinatura de todos os subscritores. Uma das vias será arquivada na sede da companhia e a outra será levada a registro.
Disposições gerais de constituição: dispensa-se escritura pública na incorporação de imóveis ao capital (art. 89); representação do subscritor por procurador com poderes especiais (art. 90); denominação seguida da expressão “em organização” (art. 91); responsabilidade dos fundadores e das instituições financeiras intermediárias pelos prejuízos resultantes da inobservância da lei na constituição da companhia e, antes disso, a responsabilidade subjetiva dos fundadores por atos ou operações anteriores à constituição (art. 92 e seu parágrafo único); todos os documentos, livros ou papéis relativos à constituição da companhia ou a esta pertencentes deverão ser entregues pelos fundadores aos primeiros administradores (art. 93).
É requisito para funcionamento da companhia o arquivamento e a publicação de seus atos constitutivos, cabendo ao Registro Mercantil verificar se as prescrições legais foram observadas e se não há cláusulas que ofendam a ordem pública, a moral e os bons costumes, formulando as objeções e exigências pertinentes. Caberá, então, aos administradores eleitos providenciar as medidas necessárias para sanar os vícios, ou convocando assembleia geral, ou realizando-as diretamente.
Ação anulatória de constituição de companhia: o art. 285, da Lei das S/A estabelece um prazo prescricional de 1 (um) ano, contado da publicação dos atos constitutivos, para a propositura da ação visando anular a constituição da companhia por vício ou defeito. Ainda que já tenha sido proposta a ação, será possível à companhia, após deliberação assemblear, adotar as providências para sanar os vícios ou defeitos relativos à constituição da companhia.

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