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CAPÍTULO 5 O papel das pOlíticas públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Compreender os processos de negociação política, necessários à formulação de políticas públicas, entre os diferentes atores frente a igual número de interesses econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais e ambientais. 3 Analisar os impactos de uma política pública municipal sob os aspectos econômicos, sociais e ambientais. 108 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável 109 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 cOntextualizaçãO A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível. Paulo Freire, educador e filósofo Ao longo dos capítulos anteriores chamamos atenção para a ocorrência das condicionantes dos processos de globalização da economia mundial por meio da internacionalização do sistema financeiro e da capacidade produtiva; o aumento do comércio internacional, das trocas internacionais de bens e serviços; a interdependência e integração crescentes dos mercados nacionais; a desregulamentação e abertura dos mercados e da economia devido às políticas governamentais neoliberais; e o desenvolvimento acelerado da tecnologia de informação. Em contraponto temos a regionalização como a outra face da globalização com a emergência de vários polos econômicos, tanto receptores de investimentos, como ao mesmo tempo investidores. Foi na proposição de integração funcional em meio a atividades geograficamente dispersas que ocorreram profundas alterações no modo de vida das pessoas em seus locais de moradia, ou seja, nos municípios. É reconhecido que as economias e políticas locais, inseridas no cenário internacional, produzem impactos específicos na vida de mulheres e homens que habitam os diferentes lugares do mundo. Os impactos econômicos, sociais e ambientais, sem falarmos das questões culturais, com seus aspectos intangíveis, ocorridos em escala planetária, exigem diferentes formas de enfrentamento, tanto por parte da sociedade quanto pelos governos. Quando os governos optam pelas políticas neoliberais deixando ao mercado o encaminhamento de soluções para a vida das pessoas (a partir de políticas públicas que se concretizam em serviços públicos), significa que retiram parte da rede de proteção social para as famílias (rede essa existente, no imaginário coletivo brasileiro) para atender aos mais pobres. É a consolidação de uma cultura que acredita que a prestação de serviços públicos pelo Estado deve ser destinada para os pobres. Essa cultura corrobora com a proposta política do neoliberalismo, que destina parte significativa da população para os serviços privados. Quando isso acontece, as famílias vão ao mercado comprar serviços privados, em especial nas áreas da educação e saúde, e para a compra desses serviços mais recursos, mais dinheiro, as famílias precisam ter. Ou seja, estabelece-se uma competição entre desiguais. 110 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Quando estamos falando de família é preciso considerar os diferentes tipos e arranjos familiares existentes no mundo e, para efeito deste capítulo do nosso curso, estamos circunscrevendo ao nosso país, conforme os dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE. A literatura é vasta em apontar a importância dos diferentes arranjos familiares nas formas de sobrevivência dos componentes dos grupos familiares. Nesse sentido, acompanhando o que foi estudado ao longo desta disciplina, afirma-se que as políticas econômicas e sociais adotadas nas últimas décadas contribuíram de forma desigual para a equidade de gênero. Ou seja, o acesso às oportunidades, tanto ao trabalho quanto ao capital e à propriedade, não foram iguais para homens e mulheres. Afirma-se que os universos dos homens e mulheres foram afetados de modo distinto pelas políticas públicas adotadas em suas diferentes dimensões, assim como também afirmamos a não neutralidade das políticas econômicas em termos sociais. Ao longo dos nossos estudos falamos de políticas públicas e desenvolvimento sustentável, o que significa discutir as novas concepções de desenvolvimento. Essas concepções incluem o desafio de chegar à equidade de gênero, conforme propostas da Organização das Nações Unidas – ONU e do Banco Mundial, visto que o mundo não mais pode abrir mão da produção de riqueza realizada por mais da metade de sua população, as mulheres. Nesse sentido a fala de Dominique Reiniche, na reunião de janeiro de 2011, do Fórum Econômico Mundial, em Davos, transmite as desafiantes transformações culturais que enfrentam os movimentos de mulheres e feministas em todo o mundo. É tentador pensar sobre ricos e poderosos como um grupo onde o sexo é neutro, que opera em uma bolha, sem privilégios. Mas ao contrário de muitos colegas do sexo masculino, as mulheres de Davos têm algo poderoso em comum com suas colegas menos favorecidas: “A igualdade de gênero é uma preocupação que atravessa a divisão de classes”, disse Dominique Reiniche, que dirige a Coca-Cola na Europa. “As mulheres em todos os níveis têm uma causa em comum.” (VEJA, 2011). No caso brasileiro, a decisiva e crescente participação das mulheres no mercado do trabalho – formal e informal – vem exigindo por parte dos governos uma revisão no papel fundamental de prestador de serviços públicos que em muito apoiam as famílias para que seus membros possam sair para o trabalho. Voltamos a dizer, reforçando, são as decisões de políticas públicas que se concretizam em planos, programas e projetos, que tomam a forma dos serviços públicos realizados em mais escolas, mais postos de saúde, melhor São as decisões de políticas públicas que se concretizam em planos, programas e projetos, que tomam a forma dos serviços públicos realizados em mais escolas, mais postos de saúde, melhor atendimento, mais qualidade na prestação dos serviços. 111 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 atendimento, mais qualidade na prestação dos serviços. E aqui estamos trabalhando com os aspectos positivos dos projetos executados. Claro está que existem os aspectos negativos da execução dos projetos, que resultam desde a inexistência dos equipamentos à péssima qualidade e atendimento. Assim, ressaltamos que são os serviços relacionados principalmente aos “cuidados” com as crianças e com os idosos, tanto na área da educação quanto da saúde, os que mais aliviariam a carga das tarefas domésticas ainda sob a responsabilidade das mulheres. E essas são as áreas por excelência sob os cuidados, a competência, a responsabilidade dos governos municipais. Entretanto, os demais serviços públicos, também de competência municipal, como transporte urbano, saneamento básico, urbanização, moradia, segurança pública, têm papel relevante na liberação do tempo de trabalho empregado na trabalheira de todo o dia para que as pessoas, em especial as mulheres e em alguns poucos casos os homens, obtenham o usufruto pleno de sua inserção social. Sobre as mulheres, em particular, as situações geradas pela reorganização do mundo do trabalho exigem ajustes visando a garantir uma participação e inserção com qualidade frente às relações de trabalho menos formais, à introdução de novas tecnologias físicas e organizacionais, à elevação das necessidades de qualificação e à separação entre crescimento econômico e geração de emprego. A aceitação pelos e pelas formuladoras de políticas públicas da diversidade atual das famílias e a consequente comprovação da inexistência da família idealizada, modelo formatado na primeira metade do séculoXX, favorece as discussões sobre a adoção de políticas intrinsecamente relacionadas a uma mudança de atitude frente aos processos sociais, mudança essa que lida tanto com uma dimensão subjetiva, quanto objetiva. Nesse sentido, reconhecer que mulheres e homens possuem papéis diferenciados implica admitir que as necessidades da população não são homogêneas quando vistas sob a perspectiva de gênero. Significam transformações relativas ao atendimento das necessidades de mulheres e homens pelos serviços públicos das três esferas governamentais – federal, estadual e municipal. Significam, portanto, a elaboração de políticas públicas que tenham a compreensão dos públicos prioritários aos quais se destinam e as transformações sofridas por esses mesmos públicos. Reconhecer as transformações culturais, políticas e econômicas em curso no mundo e no país, particularmente, e seus impactos socioambientais, implica a necessidade do reconhecimento multifacetado da realidade local com o objetivo de elaborar políticas públicas que venham a atender a essa nova realidade. Implica reconhecer aspectos como: 112 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável • identificação dos diferentes segmentos ou grupos sociais, com seus objetivos e necessidades plurais e diferenciadas, seus conflitos de interesses, seus pontos de convergência; • identificação e priorização de problemas locais e formulação de políticas adequadas para enfrentar as demandas e desafios identificados; • inclusão de programas e projetos nas peças orçamentárias. Alcançar o desenvolvimento sustentável implica reconhecer a necessidade estratégica da paridade entre a população feminina e a masculina. Implica a implementação da transversalidade das questões de gênero na análise e formulação da estratégia de desenvolvimento a ser adotada pelo governo em suas esferas de poder – federal, estadual e municipal. Da mesma forma, implica o reconhecimento de necessidades e possibilidades dos distintos grupos sociais, etários ou étnicos. Ou ainda, o que impacta e como, as ações promovidas no âmbito das políticas públicas, no modo de vida do conjunto das pessoas e famílias das localidades, no ambiente, no território em que vivem. Recuperamos o que estudamos no Capítulo 1 desta disciplina, reforçamos que o mundo que habitamos é constituído por circuitos extremamente sensíveis, pertencentes a um universo de relações no qual se entrecruzam causas e efeitos, onde as transformações ocorridas em um circuito provocam alterações em outros. É essa dinâmica que comprova a hipótese de que a luta pela equidade de gênero e seu alcance trará benefícios sociais e econômicos para todas e todos na amplitude do desenvolvimento sustentável. O que buscamos é a construção de sociedades dinâmicas, sustentáveis e justas. pOlíticas públicas e seus signiFicadOs Partindo da compreensão de que política é antes de tudo um processo de negociação, que procura conciliar valores, necessidades e interesses divergentes, administrando conflitos entre os vários segmentos da sociedade que demandam os benefícios da ação governamental, vamos procurar entender os significados da expressão políticas públicas. Uma procura nos dicionários da língua portuguesa, como é o caso do Aurélio, permite verificar que a expressão - política pública – é entendida como um: 113 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 Conjunto de objetivos que enformam [no sentido de dar forma] determinado programa de ação governamental e condicionam sua execução [...] Habilidade no trato das relações humanas, com vistas à obtenção dos resultados desejados [...] Pertencente ou destinado ao povo, à coletividade. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2011). Assim, é possível considerar pública uma linha de atuação, uma política, pensada e viabilizada no sentido de atender a alguns princípios básicos: • é concebida para atender às necessidades da população; • destina-se ao conjunto das pessoas “pertencentes” a um espaço previamente definido; • não hierarquiza direitos de acesso e usufruto, isto é, é incondicional, respeitado o universo a ser atendido e os critérios considerados em sua formulação; • considera, favorece e garante a igualdade e usufruto de oportunidades de acesso e gozo às atividades nela preconizadas a todas as pessoas. Podemos, então, compreender que políticas públicas tratam do conteúdo simbólico e do conteúdo concreto inerente às tomadas de decisões políticas e do processo de construção e execução dessas decisões. Uma política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público, o que significa dizer que possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público. Podemos, também, ter inúmeras formas de abordar ou apresentar políticas públicas, o que certamente será feito ao longo deste curso nas demais disciplinas, mas queremos ressaltar que qualquer definição é arbitrária e que na literatura especializada não há um consenso quanto à definição do que seja uma política pública. Uma política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público, o que significa dizer que possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público. 114 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Alguns questionamentos dizem bem sobre as dificuldades para a definição de políticas públicas quando nos perguntamos: • Quem elabora as políticas públicas? Apenas atores estatais ou também podem ser formuladas por atores não estatais? • Omissão ou negligência, ou seja, o não fazer, também pode se configurar como uma política pública? • Políticas públicas estão apenas no nível estratégico, as diretrizes estruturantes, ou o nível operacional também pode ser considerado política pública? No âmbito desta seção não aprofundaremos as questões levantadas, apenas nos posicionaremos brevemente e para tal nos apoiaremos em IBAM (2009) e SECCHI (2010). Assim, com relação à primeira questão, ou seja, ao protagonismo no estabelecimento de políticas públicas, alguns autores e pesquisadores defendem a abordagem estatista, enquanto outros defendem a abordagem multicêntrica. A abordagem estatista define as políticas públicas como monopólio dos atores estatais, ao passo que a abordagem multicêntrica adota um enfoque mais interpretativo e menos positivista, fazendo a distinção entre esfera pública e esfera privada, assim como entre políticas governamentais e políticas públicas. Com relação ao segundo questionamento, ou seja, se o não fazer também se configura como política pública, é preciso lembrar que nessa mesma seção afirmamos que uma política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público; ora, se nada fazemos, não há o enfrentamento do problema público e, consequentemente, há uma ausência de política pública. Quanto à terceira questão, alguns posicionamentos teóricos interpretam que apenas as macrodiretrizes estratégicas seriam políticas públicas, ou seja, as políticas nacionais. Nesse caso, como seriam consideradas as diretrizes estratégicas formuladas nas esferas estadual e municipal? Vale ressaltar que estados e municípios definem estrategicamente, considerando os limites de suas competências constitucionais, os rumos que irão adotar A abordagem estatista define as políticas públicas como monopólio dos atores estatais, ao passo que a abordagem multicêntrica adota um enfoque mais interpretativo e menos positivista. 115 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 para o enfrentamento de seus problemas específicos. Vale lembrar que esse enfrentamento adquire concretudesob a forma de programas e projetos. Antes de prosseguirmos vale lembrar que as políticas públicas estão inseridas nas dimensões econômica, social, cultural, ambiental e política do desenvolvimento, refletindo o jogo de forças dos interesses que ocorre na arena do enfrentamento político entre Estado e sociedade civil. A seguir apresentaremos um elenco de políticas públicas sociais que podemos considerar como fundamentais para o fortalecimento da participação da sociedade civil na formulação, implementação, avaliação e controle social das políticas públicas. São políticas construídas por estratégias da sociedade civil para enfrentar as estruturas da desigualdade social. Deve-se considerar que o Estado não é neutro, em especial sob o ponto de vista de gênero, classe social ou raça. Vale ressaltar que não basta que o Estado apenas se abstenha de promover a discriminação em suas leis e práticas administrativas, é importante o esforço para favorecer a criação de condições efetivas, positivas e afirmativas que permitam a todos beneficiar-se da igualdade de oportunidade e tratamento, assegurando a eliminação de qualquer fonte de discriminação direta ou indireta. (GARCIA, 1998). Quadro 1 – As políticas e suas diretrizes estratégias As políticas públicas estão inseridas nas dimensões econômica, social, cultural, ambiental e política do desenvolvimento, refletindo o jogo de forças dos interesses que ocorre na arena do enfrentamento político entre Estado e sociedade civil. POLÍTICAS DIRETRIZES ESTRATÉGICAS Educacional Universalização do ensino fundamental e da educação infantil como instrumentação essencial para o exercício da cidadania. Cultural Preservar o trato das identidades culturais, em especial nas comu- nidades mais frágeis, como mecanismos de posicionamento frente aos processos de perda de identidade face à intensa divulgação internacional de usos e costumes. Comunicação e Tecnologia da informação Promover e garantir o acesso aos meios de produção cultural e de conteúdo para todos os veículos de comunicação e mídia. Defesa da cidadania Não são produtos do governo, mas conquistas da sociedade. Conquista de Direitos Exercidas especificamente por grupos mais desiguais, segmentos discriminados e excluídos. Organizações partidárias Como defesa dos direitos políticos e construção de alternativas sociais e alternância no poder. Organizações Sindicais Como defesa do direito do trabalho e ao trabalho, promover a igualdade de gênero, considerando a dimensão étnico-racial nas relações de trabalho. 116 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Fonte: A autora. Cabe ao Estado formular políticas que visem atender as necessidades da população, no que diz respeito a moradia, transporte, saúde, alimentação, trabalho, lazer, entre outros. Entretanto, enquanto não houver uma perspectiva de gênero e raça na formulação dessas políticas não alcançaremos o atendimento pleno das necessidades da população, isso porque a perspectiva de gênero e raça permite a compreensão dos problemas demográficos, econômicos, de pobreza, emprego, saúde, habitação, entre outros. Compreender as necessidades da população implica reconhecer seu perfil, reconhecer a que público ela se destina. Em que dimensão da vida daquela população, daquele público específico, irá atuar. Significa a construção da credibilidade pública de modo a assegurar o apoio e o comprometimento das diversas forças sociais ao Governo no momento da implementação dos serviços. Serviços esses resultantes das políticas desenhadas por uma determinada esfera de governo, objetivando atender aos reclamos dos públicos a que se destinam. Esse princípio vale para todas as dimensões da política. Exemplo do que estamos tratando está refletido nos debates ocorridos no Congresso Nacional, neste ano de 2011, sobre a aprovação do novo Código Florestal para o país. Quais os interesses que ganharam concretude na mesa de negociação? Como se estabeleceu o jogo de poder entre os representantes da população, eleitos pelo voto, o Governo e os movimentos da sociedade civil? Justiça Garantia do exercício de direitos e deveres e igualdade de opor- tunidades com o reconhecimento da necessária redistribuição dos recursos e riquezas produzidas pela sociedade na busca de superação da desigualdade social. Segurança Pública Garantia do direito de ir e vir, do acesso à justiça e à ampliação da assistência jurídica gratuita, do morar em paz assim como do não estar exposto à violência. Serviços Públicos Garantir o respeito aos princípios da administração pública: lega- lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, com transparência nos atos públicos e controle social. 117 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 Ao longo desta disciplina foram oferecidos a você elementos que trabalham diretamente as possibilidades de respostas aos questionamentos feitos acima. Por outro lado, procure ler sobre o assunto, pesquisando na Internet e na mídia local e nacional. Procure compreender a repercussão alcançada pelo tema e os interesses econômicos e sociais que ganharam relevância nos debates e discussões. pOlíticas universais e pOlíticas setOriais Reforçando que nossa disciplina versa sobre políticas públicas e desenvolvimento sustentável, cabe aqui recuperar alguns pontos tendo por base os capítulos anteriores, mais especificamente o Manual do Prefeito (IBAM, 2009): • desenvolvimento local e sustentável é a expressão que vem sendo utilizada cada vez mais frequentemente tanto em escala mundial quanto no País; • desenvolvimento não é apenas um processo de crescimento e acumulação econômica, mas necessariamente se reflete em desenvolvimento social, ou seja, em distribuição justa e equitativa da produção, em justiça social, em melhorias concretas da qualidade de vida, na integração e promoção dos diversos segmentos sociais; • desenvolvimento é, portanto, um processo de mudança social e, nesse sentido, é também e principalmente processo de conquistas de direitos; • não há desenvolvimento econômico sem desenvolvimento humano e social. Em outras palavras, a busca por novo padrão de desenvolvimento deve se orientar por um tipo de crescimento que aproveite com mais eficiência os recursos endógenos das localidades ou regiões. Espera-se com esta iniciativa criar empregos e melhorar a qualidade de vida de populações ali residentes, contribuindo para a superação da pobreza, sob uma nova ótica, onde desenvolvimento social e desenvolvimento econômico situam-se numa perspectiva integrada e sustentável. A busca do desenvolvimento social não se limita à satisfação das necessidades básicas de saúde, educação, emprego, renda etc. Estende-se à promoção do exercício da cidadania no conjunto das comunidades que constituem dada sociedade, promovendo o estreitamento de laços de cooperação e solidariedade e tornando os indivíduos também sujeitos das ações promovidas pelo Estado e pelo conjunto de instituições da sociedade civil. (IBAM, 2009, p.81). A busca do desenvolvimento social não se limita à satisfação das necessidades básicas de saúde, educação, emprego, renda etc. Estende- se à promoção do exercício da cidadania no conjunto das comunidades que constituem dada sociedade, promovendo o estreitamento de laços de cooperação e solidariedade e tornando os indivíduos também sujeitos das ações promovidas pelo Estado e pelo conjunto de instituições da sociedade civil. (IBAM, 2009, p.81). 118 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Os municípios brasileiros apresentam enormes diferenças entre si, embora as regras a serem obedecidaspelos governantes sejam as mesmas, tanto para o de maior quanto para o de menor orçamento. São diferenças que vão de situações relacionadas com a população, território e atividade econômica aos aspectos de gestão pública, uso dos recursos públicos, investimentos tanto em tecnologia da informação quanto na rede de saneamento básico. São diferenças que balizam a participação dos governos locais na oferta de serviços sociais universais. A municipalização dos serviços universais de saúde e educação fundamental já não é mais contestada. Ambas as políticas foram concebidas como um sistema complexo de relações intergovernamentais baseado em recompensas e sanções. Tal sistema tornou racional para os municípios a adesão a uma nova institucionalidade. É possível afirmar que a questão do desenho das políticas públicas, sua interdependência, tem recebido atenção crescente das três esferas de governo, no que se refere ao papel na formulação e execução de políticas públicas. Dependendo de suas características, o desenho institucional da política pode ser decisivo no incentivo ou no constrangimento da prestação do serviço. A municipalização das políticas de saúde e educação pode ser considerada um desafio enfrentado pelo país com sucesso, pelo menos em termos quantitativos. Por outro lado, as políticas de saneamento, habitação e assistência social, também, segundo os ditames constitucionais, de caráter universal, não obtiveram o mesmo resultado. As causas tanto do sucesso quanto do insucesso estão relacionadas com a formulação de mecanismos financeiros, gerenciais, de transferência de recursos e responsabilidades, assim como de incentivos ou sanções. A resposta positiva dos governos locais aos incentivos à municipalização da saúde e do ensino fundamental está relacionada com o fato de que essas políticas possuem mecanismos de execução bem definidos. No caso da saúde, temos que considerar a injeção de recursos adicionais nos cofres das prefeituras, por meio do Sistema Único da Saúde - SUS. No caso do ensino fundamental, a existência de penalidades para o município que não aumentar as matrículas nas escolas municipais, ao mesmo tempo em que também injeta mais recursos nas comunidades locais mais pobres, pois a política suplementa o salário dos professores nos municípios mais carentes. 119 agendas lOcais e glObais Capítulo 4 A seguir transcrevemos informações básicas sobre as políticas de saúde e educação no país. Procure conhecer mais sobre o assunto, pesquisando tanto na internet quanto na biblioteca de sua cidade, assim como na mídia local e nacional, com o objetivo de compreender o alcance dessas políticas no dia a dia da população do seu município, assim como na sua própria vida. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS Criado no Brasil em 1988 com a promulgação da nova Constituição Federal, o SUS tornou o acesso à saúde direito de todo cidadão. Até então, o modelo de atendimento dividia os brasileiros em três categorias: os que podiam pagar por serviços de saúde privados, os que tinham direito à saúde pública por serem segurados pela previdência social (trabalhadores com carteira assinada) e os que não possuíam direito algum. Com a implantação do sistema, o número de beneficiados passou de 30 milhões de pessoas para 190 milhões. Atualmente, 80% desse total dependem exclusivamente do SUS para ter acesso aos serviços de saúde. A implantação do SUS unificou o sistema, já que antes de 1988 a saúde era responsabilidade de vários ministérios, e descentralizou sua gestão. A gestão do SUS deixou de ser exclusiva do Poder Executivo Federal e passou a ser administrada por Estados e Municípios. Segundo o Ministério da Saúde, o SUS tem 6,1 mil hospitais credenciados, 45 mil unidades de atenção primária e 30,3 mil Equipes de Saúde da Família (ESF). O sistema realiza 2,8 bilhões de procedimentos ambulatoriais anuais, 19 mil transplantes, 236 mil cirurgias cardíacas, 9,7 milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia e 11 milhões de internações. Entre as ações mais reconhecidas do SUS estão a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Políticas Nacionais de Atenção Integral à Saúde da Mulher, de Humanização do SUS e de Saúde do Trabalhador, além de programas de vacinação em massa de crianças e idosos em todo o país e da realização de transplantes pela rede pública. Fonte: BRASIL. O que é o SUS. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/ sobre/saude/atendimento/o-que-e-sus/print>. Acesso em: 28 out. 2011. 120 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO Ensino Fundamental O ensino fundamental é obrigatório para crianças e jovens com idade entre 6 e 14 anos. Essa etapa da educação básica deve desenvolver a capacidade de aprendizado do aluno, por meio do domínio da leitura, escrita e do cálculo. Após a conclusão do ciclo, o aluno deve ser também capaz de compreender o ambiente natural e social, o sistema político, a tecnologia, as artes e os valores básicos da sociedade e da família. Desde 2005, a Lei no 11.114 determinou a duração de nove anos para o ensino fundamental. Dessa forma, a criança entra na escola aos 6 anos de idade, e não mais aos 7, e conclui aos 14 anos, ou seja, no 9o ano. O ensino fundamental de nove anos foi implementado no Brasil em 2005. A nova regra garante a todas as crianças tempo mais longo de convívio escolar e mais oportunidades de aprender. A ampliação do ensino fundamental começou a ser discutida no Brasil em 2004, mas o programa só teve início em algumas regiões em 2005. Os estados e municípios têm até 2010 para implantar o ensino de nove anos. Até 2009, 92% dos municípios implantaram o Ensino Fundamental de nove anos. Segundo o Censo Escolar de 2010, 31.005.341 de alunos estão matriculados no Ensino Fundamental Regular. A grande maioria (54,6%) na rede municipal com 16.921.822 matrículas. As redes estaduais correspondem a 32,6% dos matriculados, as privadas atendem a 12,7% e as federais a 0,1%. Provinha Brasil Para garantir a alfabetização de todas as crianças até os 8 anos, o ensino fundamental conta com a Provinha Brasil. O exame permite avaliar as habilidades relativas ao processo de alfabetização dos alunos e ajuda a evitar que as crianças cheguem à quarta série do ensino fundamental sem dominar a leitura e a escrita. Fonte: BRASIL. Sistema Educacional brasileiro. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/sobre/educacao/sistema-educacional- brasileiro/ensino-fundamental>. Acesso em: 28 out. 2011. 121 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer o princípio da universalização dos direitos, definiu parâmetros precisos ao processo de elaboração e fiscalização das diferentes políticas setoriais. Quando falamos em políticas universais e desenvolvimento social estamos nos situando na rede da seguridade social. A universalização do atendimento proposta no sistema de proteção social brasileiro, por exemplo, encontra-se, objetivamente, muito aquém do pretendido por esse princípio constitucional. Vale registrar que após inúmeros debates, comissões e plenários da Câmara e do Senado foi instituído o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, cujo Projeto de Lei foi aprovado pelos senadores em 8 de junho de 2011, seguindo agora para a sanção da Presidente Dilma Rousseff. Segundo a Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o Senado, e o conjunto do parlamento, deu um passo importante para a construção de um País mais justo ao aprovar o Projeto de Lei que institui o SUAS. O fortalecimento da política e da rede de assistência social é essencial para o sucesso do Plano Brasil sem Miséria. A populaçãoextremamente pobre apresenta inúmeras vulnerabilidades e são os profissionais da assistência social que auxiliam e acompanham essa população mais de perto. (ASCOM/MDS, 2011). No mesmo contexto a Secretária Nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) avalia que a aprovação no Legislativo é o reconhecimento de que a Assistência Social é uma política de Estado. Passa a ser um direito reclamável, e cria, por lei, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Institui também os CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) como equipamentos públicos responsáveis pelos atendimentos às famílias. Define a primazia e a responsabilidade do Estado no atendimento à família, idoso, pessoas com deficiência, juventude e todos aqueles que estão em situação de vulnerabilidade e risco. (ASCOM/ MDS, 2011). A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer o princípio da universalização dos direitos, definiu parâmetros precisos ao processo de elaboração e fiscalização das diferentes políticas setoriais. 122 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Após a leitura da notícia abaixo, procure se inteirar mais sobre o assunto, pesquisando tanto na Internet quanto na mídia local, para compreender os reflexos do SUAS no seu município e o papel que os CRAS e CREAS estão desempenhando junto à população do seu município. PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF SANCIONA PROJETO DE LEI SUAS 6 de julho de 2011 A presidente Dilma Rousseff sancionou hoje (6 de julho) o Projeto de Lei que dispõe sobre a organização da Assistência Social e institui legalmente o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O projeto é de autoria do Executivo e foi aprovado pelo Congresso Nacional no dia 8 de junho. Em discurso no evento da sanção, Dilma Rousseff falou sobre a integração entre o SUAS e o recém-lançado Brasil sem Miséria. “O sistema será determinante para o êxito do Plano Brasil Sem Miséria, pois sua estrutura será a base da busca ativa das famílias para inclusão no Cadastro Único de Programas Sociais e no encaminhamento das ações do plano”, afirmou. “O projeto sancionado pela presidente complementa a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), institui o SUAS como meio de enfrentamento da pobreza e, principalmente, garante a continuidade do repasse de recursos aos beneficiários e para os serviços”, informa o site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O SUAS foi implementado em 2005 e de 2006 a 2010, o número de trabalhadores do setor aumentou 57%, passando de 140 mil para 220 mil. Com a sanção, o sistema, que já tem a adesão de 99,5% dos municípios brasileiros, passa a vigorar como lei. Fonte: Presidente Dilma Rousseff sanciona Projeto de Lei SUAS. Disponível em: <http://www.viablog.org.br/presidente-dilma-rousseff- sanciona-projeto-de-lei-suas>. Acesso em: 29 set. 2011. 123 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 Por que essas políticas interessam nesse contexto do nosso curso? Porque estamos falando de políticas universais, promotoras de igualdade, com impactos compensatórios e redistributivos de renda. Porque estamos falando de políticas universais e, de acordo com o projeto de lei, [...] o País passará a contar com formato de prestação de assistência social descentralizado e com gestão compartilhada entre governo federal, estados e municípios, com participação de seus respectivos conselhos de assistência social e ainda das entidades e organizações sociais públicas e privadas que prestam serviços nessa área. (LAVINAS, 2011). Lavinas (2011) também chama atenção para o fato de que é importante situarmos o maior programa de transferência de renda do país, o Bolsa Família, no âmbito do SUAS. O Brasil, finalmente, conseguiu instituir um sistema de cobertura ampliada em termos de segurança social para sua população que associa, ao mesmo tempo, benefícios de base contributiva, benefícios assistências para quem está em situação de risco extremo, e também o Sistema Único de Saúde. O Programa Bolsa Família se transformou num pilar importante do Sistema Único de Assistência Social que ainda terá que ser consolidado, porque, a princípio ele é fundado como um direito em caso de necessidade, mas, na prática, e essa é uma das fraquezas do Bolsa Família, não atende a toda demanda. Isso porque o Bolsa Família considera um universo de pessoas abaixo da linha da pobreza, cujo cálculo foi elaborado a partir do Censo de 2000. Por isso, na prática, a cobertura do Bolsa Família não garante que todos aqueles que têm necessidades sejam contemplados. Essa é a maior falha do programa. Vale registrar que, dentro do SUAS, o Bolsa Família é o programa que ganhou mais notoriedade, mas ele não é o único. Além dele, há o Banco de Dados do Cidadão (BDC). Entretanto, o grande problema é que eles têm linhas de pobreza distintas, assim como distintos valores para os benefícios. Mesmo levando em consideração todas as contradições e dificuldades, Lavinas (2011) avalia que estamos avançando para termos um Sistema de Assistência Social que é integrado à lógica mais ampla do Sistema de Proteção Social e não a uma coisa que tínhamos nos anos 1980, marcada pela benevolência, uma atitude extremamente marginal e residual do Estado ligado à atuação das Primeiras Damas. 124 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Funções que sustentam as pOlíticas públicas: FOrmulaçãO, planejamentO, OrçamentO, execuçãO Como vimos nas seções anteriores, a formulação de uma política é um processo que engloba diferentes atores e exige o cumprimento de algumas etapas, alguns procedimentos que conformam o que é conhecido como o ciclo de políticas públicas. Para bem atuar em política pública é preciso construir uma metodologia, planejar o trabalho, avaliando-o a cada etapa, repensá-lo com objetividade, relacionando as variáveis de gênero, raça/etnia e classe social nas fases principais do ciclo de políticas públicas: 1. Identificação do problema 2. Formação da agenda 3. Formulação de alternativas 4. Tomada de decisão 5. Implementação 6. Avaliação 7. Extinção As sete fases parecem muito singelas, mas na verdade exigem, do processo de formulação, sensibilidade política. Da realização do diagnóstico ao desenho de planos estratégicos, com características de processos participativos e transparentes, até a formulação de programas e projetos, tanto gerais quanto aqueles que passam por uma ação afirmativa, considerando as variáveis de gênero e raça/etnia, colocam-se grandes exigências para a formatação da política. Em todo o processo é preciso considerar: • como são formuladas as interrogações básicas ou como são estabelecidas as demandas de informações – o que quero saber e o que será feito com aquela informação; • como se dará a constituição de elementos descritivos que constituem o problema, para o qual se pretende encaminhar soluções; • como se dará a construção de indicadores para detectar e medir o impacto das ações; e, • como teremos o resultado da identificação e medição, expressado em 125 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 unidades de medida. Assim, entendendo como ocorrem as dinâmicas de mudanças estruturais e culturais podemos também compreender o quanto é difícil e complexo sair, deixar para trás, influir na mudança dos pressupostos e estereótipos construídos, seja na área cultural, seja na área da prática administrativa e de serviços públicos. Sempre é bom chamar a atenção que administrar não é simplesmente realizar programase ações. É gerar e gerir processos. Quais questões norteiam nosso trabalho? Desafiam-nos a encontrar respostas nas esferas federal, estadual e municipal quando vamos formular políticas públicas. • Qual a inovação que podemos trazer para uma nova forma de formular políticas públicas com perspectivas de gênero e raça/etnia que favoreça o processo de desenvolvimento sustentável, tanto no local quanto no nível nacional? • Como ultrapassar as brechas de gênero e raça/etnia com os olhos em novos caminhos que superem a discriminação que sofrem as mulheres brancas, negras e indígenas, assim como os homens não brancos, tendo presente a relação de classe social? • Será que pensar qualidade de vida sob novas perspectivas de gênero e raça/etnia pode vir a ser um eixo inovador que deixe às claras, de modo preciso e objetivo, as desigualdades existentes na sociedade, e o encaminhar soluções indique que é possível perpassar as políticas setoriais? Algumas políticas têm como pressuposto a contribuição do trabalho não remunerado por parte da população chamada beneficiária dos serviços ou bens delas resultantes, significando desde os mutirões para a construção da casa própria, para a construção de estradas vicinais, viabilizando o escoamento da produção, a manutenção de encostas, até o cuidado com idosos e crianças. Essas políticas trabalham levando em consideração o que ainda tradicionalmente é esperado do desempenho de mulheres e homens. Vale dizer, no imaginário coletivo ainda teríamos o modelo do homem provedor de uma família e da mulher cuidadora. Administrar não é simplesmente realizar programas e ações. É gerar e gerir processos. Algumas políticas têm como pressuposto a contribuição do trabalho não remunerado por parte da população chamada beneficiária dos serviços ou bens delas resultantes, significando desde os mutirões para a construção da casa própria, para a construção de estradas vicinais, viabilizando o escoamento da produção, a manutenção de encostas, até o cuidado com idosos e crianças. 126 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Assim, a participação da mulher, no mais das vezes, está relacionada com a família, com o espaço doméstico, ela não é reconhecida como pessoa física, ela é vista como a mãe através da qual se chegará: • às crianças e aos idosos, • à manutenção da propriedade da casa no seio da família, • à compra de bens para a família, • à redução da pobreza, e • à saúde da mulher, com o foco na reprodução biológica. Significa dizer que a mulher na maioria das vezes, para a maioria das políticas, ainda não é reconhecida como pessoa que possui vida própria, mas sim como uma extensão pela qual se chegará à família. De um modo geral vamos encontrar políticas públicas direcionadas às mulheres como pessoas, quando estão relacionadas ao mundo do trabalho e, mesmo assim, estão focadas na proteção ao período da maternidade, como a licença maternidade e a obrigatoriedade das creches. Esse último caso, já estendido como benefício para os pais, por pressão dos movimentos de mulheres e feministas, representa uma conquista na discussão sobre a divisão das responsabilidades do dia a dia com os filhos. Políticas específicas de reinserção no mercado de trabalho e capacitação profissional ainda são pouco usuais, ao passo que com relação ao empreendedorismo as mulheres, por se destacarem nos micro e pequenos negócios, se impõem no mercado. Há, também, a criação de linhas de crédito específico para as mulheres, em particular na agricultura familiar. Os homens também são parte de uma família. Entretanto, no mais das vezes essa percepção de elo com a família não se configura concretamente com a pessoa física do homem. Essa situação fica muito clara quando analisamos os programas a eles dirigidos e que estão relacionados com • qualificação profissional, • reinserção no mercado de trabalho, • geração de emprego e renda, e • saúde do homem. Significa dizer que a individualidade e a competitividade dos homens são reconhecidas. A inserção masculina no mundo do trabalho, tanto formal quanto informal, recebe maior atenção dos formuladores de políticas públicas. 127 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 A área técnica de Saúde da Mulher é resultado de conquistas dos movimentos de mulheres e feministas, são lutas que ocorrem desde a década de 1980. Essa área é responsável pelas ações de assistência ao pré-natal, incentivo ao parto natural e redução do número de cesáreas desnecessárias, redução da mortalidade materna, enfrentamento da violência contra a mulher, planejamento familiar, assistência ao climatério, assistência às mulheres negras e população LGBT. A Política Nacional de Saúde do Homem, lançada em agosto de 2009, tem por objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde. A iniciativa é uma resposta à observação de que as doenças que afetam o sexo masculino são um problema de saúde pública. A cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Eles vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e têm maior incidência de doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevada. Fonte: Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/ area.cfm?id_area=1623>. Acesso em: 28 out. 2011. a execuçãO de pOlíticas, prOgramas e prOjetOs pelO gOvernO municipal Pensar políticas, programas e projetos inerentes ao desenvolvimento local pressupõe reconhecer a realidade local e estabelecer com a sociedade as regras do jogo a ser jogado em prol da melhoria de vida dessa mesma sociedade. As linhas de uma política, estratégias, diretrizes e responsabilidades estão delineadas num plano, no qual tomam forma. O plano tem o sentido de sistematizar e compatibilizar objetivos e metas, procurando otimizar o uso dos recursos existentes em suas dimensões econômica, financeira, humana, gerencial e ambiental. O plano permite a elaboração de programas e projetos específicos, com uma perspectiva de coerência interna e avaliação dos riscos internos e externos, em relação ao contexto no qual será executado. O plano permite a elaboração de programas e projetos específicos, com uma perspectiva de coerência interna e avaliação dos riscos internos e externos, em relação ao contexto no qual será executado. 128 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável O programa é o aprofundamento do plano, considerando os objetivos setoriais do plano, que por sua vez irão constituir os objetivos gerais do programa. O programa estabelece o quadro de referência do projeto. O projeto é o documento que estabelece como acontecerá o processo operacional da ação. É a unidade elementar do processo de racionalização da tomada de decisões. É elaborado com o propósito de equacionar o processo de produção de algum bem ou serviço, especificando o método de trabalho a ser adotado com o objetivo de obter resultados definidos. A definição de políticas de âmbito nacional pelo Governo Federal, no mais das vezes, transborda para estados e municípios a necessidade de programas e projetos complementares para sua execução, como é o caso, entre outros: • do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres - PNPM; • do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PLANAPIR; • do Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB.. Todos os planos citados exigem ações nos municípios, pois, voltamos a afirmar, a vida é vivida nos municípios. Ao mesmo tempo os governos municipais elaboram e executam políticas públicas municipais de acordo com suas competências constitucionais. Essas políticas também necessitam de planos, programase projetos para chegarem até o dia a dia dos munícipes. Nesse sentido, vale lembrar que recentemente teve ampla repercussão na mídia nacional e internacional a divulgação do relatório “Igualdade de gêneros e desenvolvimento 2012”, apresentando os resultados de pesquisa realizada pelo Banco Mundial (Bird). No quadro a seguir estão transcritos trechos de matéria publicada. O exercício proposto com base na leitura do texto, assim como os temas tratados nas seções anteriores deste capítulo, têm o propósito de permitir a fixação da correlação entre políticas, planos, programas e projetos. 129 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 Atividade de Estudos: Ao fazer a leitura da notícia abaixo, procure ir anotando num papel ao lado, ou em arquivo a parte no seu computador, o que lhe chama atenção nos dados apresentados e como as informações que se obtêm desses mesmos dados estão sendo trabalhadas no seu município. Ao finalizar a leitura, e de posse das anotações feitas, pesquise quais as políticas, programas e projetos em andamento no município, que responderiam às questões suscitadas pela notícia lida. (Redação livre). MAIS PESO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO PODE MELHORAR PRODUTIVIDADE EM ATÉ 25%, DIZ BANCO MUNDIAL – Vivian Oswald Publicada em 18/09/2011 às 21h06m BRASÍLIA. Nos últimos 25 anos, o crescimento sustentado foi particularmente eficiente para reduzir as disparidades entre homens e mulheres no mundo, mas, sozinho, não resolverá as diferenças no futuro, segundo o relatório “Igualdade de gêneros e desenvolvimento 2012”, do Banco Mundial (Bird). Países em desenvolvimento, cujas economias avançaram mais depressa, mostraram uma evolução mais rápida. Mas as desigualdades ainda são enormes e o seu custo deve ser alto no mundo globalizado do século XXI. Se as mulheres tiverem as mesmas oportunidades de emprego e posições de comando, assim como salários equivalentes aos dos homens, a produtividade no mundo pode aumentar de 3% a 25%, dependendo do país. Na América Latina, este ganho pode variar de 4% a 16%. • A produtividade agrícola pode ter um incremento de 2% a 4,5%, se as mulheres tiverem o mesmo acesso que os homens a insumos e equipamentos - destaca Ana Revenga, uma das autoras do estudo. A maior demanda das economias dos países em desenvolvimento acabou por inserir mais mulheres no mercado de trabalho. No mundo, elas já são mais numerosas nas universidades e tiram notas melhores do que os homens. Enquanto passou de 17,7 milhões em 1970 para 77,8 milhões o número de 130 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável universitários, o exército de universitárias, que era de 10,8 milhões em 1970, disparou para 80,9 milhões, deixando para trás os homens da academia. Mas, se elas estão mais preparadas, seus salários continuam mais baixos. No Brasil, a diferença é de 25%, contra 12% da Argentina e 20% do México, segundo o Bird. Na política, a participação feminina é especialmente desproporcional pelo mundo. Enquanto na África do Sul e na Holanda, respectivamente, 45% e 41% dos assentos do parlamento eram ocupados por mulheres em 2010, na Arábia Saudita não há vagas para elas. Na América Latina, a média é de 24%, o que levou o Bird a destacar a situação precária brasileira, onde o número de cadeiras passou de 5% em 1990 para 9% em 2010, perdendo apenas para a Colômbia na região, que ficou com 8% em 2010. No mesmo ano, só seis países em desenvolvimento e 11 ricos tinham mais de 25% de mulheres ministras em 2010. Nesse quesito, pode ser que o Brasil venha a demonstrar uma forte melhora na próxima edição do relatório. Isso porque os dados não chegaram a computar a presença feminina no ministério da presidente Dilma Rousseff. Dos 39 postos com status de ministro, dez são ocupados por mulheres, entre elas seu braço direito, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. No Brasil, apesar da evolução positiva, as mulheres ainda são donas de apenas 11% das terras, contra 27% no Paraguai. Mais da metade delas recebe suas propriedades por meio de herança familiar, e 37% compram no mercado imobiliário, ao passo que apenas 22% homens herdam e 73% adquirem seus imóveis. A falta de acesso das mulheres a serviços e infraestrutura básicos ainda chamam atenção no país, onde um quarto do custo de quem recebe atendimento médico em um hospital está relacionado a transporte. É a mesma proporção registrada em Burkina Faso. O problema é que, sem esses serviços, como creches, diminuem as chances da população feminina de ganhar mobilidade, e, por isso, ter acesso a empregos e maiores salários. - As diferenças entre as mulheres as ricas e as mais pobres também é imensa, e essas últimas têm bem menos acesso a serviços e infraestrutura - afirma Revenga, destacando a importância das políticas destinadas a bolsões de pobreza. 131 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 Em retrato do mercado de trabalho brasileiro, o estudo mostra que os patrões ainda são os homens, que ocupam 70% dos postos de empregadores. Eles também são maioria entre os trabalhadores por conta própria, com 53% da mão de obra, e dos assalariados, com 53%. No universo dos serviços não remunerados, são as mulheres que se destacam, com 72% do total. No Brasil, também há mais mulheres com empregos informais. O Bird insiste que o acesso aos meios de comunicação também ajudam a mudar o quadro das desigualdades e enfatiza o fato de, no Brasil, o gosto pelas novelas conseguiu reduzir a taxa de fecundidade das mulheres na mesma proporção que o faria dois anos a mais de estudos. Por essas e outras, o relatório afirma que as políticas necessárias voltadas para a redução das desigualdades de gênero devem considerar a questão comportamental. No Oriente Médio, em alguns países da Ásia e da África, por exemplo, devem ser considerados os aspectos religiosos. Fonte: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/ 2011/09/18/mais-peso-da-mulher-no-mercado-de-trabalho-pode- melhorar-produtividade-em-ate-25-diz-banco-mundial-925386386. asp#ixzz1YmT3CZ5H>. Acesso em: 30 out. 2011. © 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 132 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável pOlíticas públicas e desenvOlvimentO sustentável: desaFiOs para sua adOçãO pelOs municípiOs brasileirOs Nesta seção, ilustrando o desenvolvimento dos temas dos capítulos anteriores, vamos apresentar cinco situações de como políticas públicas podem possibilitar aos municípios brasileiros o enfrentamento dosdesafios para a adoção de políticas, programas e projetos no sentido de estabelecerem ações que priorizem o desenvolvimento sustentável. A cada situação apresentada, identifique as ações colocadas em prática, relacionando-as com a proposta de desenvolvimento sustentável apresentada ao longo deste caderno. Faça suas anotações e, pensando em seu município, verifique as possibilidades de adoção, pelo governo municipal, de propostas semelhantes. Perceba que a cada situação apresentada é esperada uma análise sobre o que acontece em seu local de moradia, em seu município. Recorra não apenas ao estudado durante os últimos capítulos como também às informações externas, seja nos órgãos públicos, seja na internet. Caso considere que a situação não se aplica ao seu município, explicite o que justifica sua avaliação. PRIMEIRA SITUAÇÃO HIDRÔMETROS INDIVIDUAIS, OBRIGATÓRIOS NAS NOVAS CONSTRUÇÕES, SÃO PROCURADOS TAMBÉM POR PRÉDIOS ANTIGOS O Globo - Publicada em 07/05/2011 às 19h40m RIO - Em quatro anos, 55% dos municípios brasileiros poderão ter seu abastecimento de água comprometido em algum grau. O dado é do “Atlas da Água”, divulgado pela Agência Nacional de Águas (Ana) em março. Algumas regiões já enfrentam essa realidade. Em Bagé, Rio Grande do Sul, a população sofre com estiagem há seis meses. A quantidade de chuva é tão pequena que o Departamento de Água e Esgotos da cidade racionou a água por 13 horas diárias e instituiu um baixo volume de consumo por cada família: 15 metros cúbicos ao mês. Quem gastar menos garante 133 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 o crédito, em água, para meses subsequentes. Quem ultrapassar paga caro: cada mil litros excedentes valem 50% do cobrado pelos 15 mil litros da tarifa base. No Rio, o consumo médio mensal é de 30 mil litros por família. Mas você sabe quanto a sua casa consome? Quem mora em condomínio, onde a cobrança costuma ser rateada entre os moradores, certamente vai ter dificuldades para responder a essa pergunta. Até porque, quando não pesa no bolso, a água costuma ir, literalmente, ralo abaixo. Uma das soluções para se evitar o desperdício é instalar hidrômetros individuais. No Rio, a prática virou lei, sancionada em 22 de março (Dia Mundial da Água). A obrigatoriedade, contudo, só atinge as novas construções. Para as antigas, a decisão fica a cargo do condomínio. Mas já cresce o número de prédios que aderem ao sistema como mostra reportagem de Karine Tavares publicada neste domingo no Morar Bem. • O hidrômetro individual é um avanço enorme, mas pelas dificuldades técnicas de implantação em edifícios antigos, não seria possível tornar sua instalação compulsória. O incentivo a quem se dispuser a fazer o retrofit de seu edifício pode ser o caminho - diz o presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio, o economista Sérgio Besserman. Entusiasta da lei, Besserman lamenta que ela tenha chegado só agora por aqui e acredita que um incentivo do governo estadual, como a redução de impostos, poderia ser o empurrãozinho que falta para mais condomínios considerarem a mudança das instalações. As vantagens, garante, são inúmeras. Além da economia direta com a conta d’água, há redução da inadimplência, das despesas com energia elétrica (o volume de água a ser bombeado no prédio diminui) e do esgoto produzido. A medida ainda facilita a identificação de vazamentos. As obras para instalação em prédios antigos, entretanto, nem sempre são fáceis. Mas quem já fez garante que consegue economizar em média 30% na conta. Em alguns casos, essa redução chega a 40% ou 50%. O condomínio Alsacia, na Barra da Tijuca, pagava R$ 30 mil por mês no verão. Com a individualização, a conta caiu a R$ 14 mil na mesma época. E fica em R$ 12 mil nos meses mais frios. 134 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Em outro prédio, esse no Recreio, a obra ficou pronta em uma semana. E a conta, de R$ 8 mil, chega a menos de R$ 2 mil. Os condomínios continuam recebendo uma conta única da Cedae. A leitura individualizada é feita pelas empresas que instalaram os hidrômetros. É daí, aliás, que elas sobrevivem, cobrando taxa que varia de R$ 3 a R$ 5 por condômino, para fazer a leitura do consumo e a manutenção dos equipamentos. Ao condomínio, cabe cobrar às unidades o valor gasto por cada uma. Segundo especialistas, no entanto, prédios muito antigos podem exigir uma obra estrutural complexa para a mudança de todo o sistema de distribuição da água. - Em prédios com muitas entradas de água, é preciso colocar novos ramais. Fica tão caro que acaba inviabilizando a obra - explica o engenheiro civil Abílio Borges, do Crea-RJ. Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/economia/morarbem/ mat/2011/05/06/hidrometros-individuais-obrigatorios-nas-novas- construcoes-sao-procurados-tambem-por-predios- antigos-924399802.asp>. Acesso em: 1 nov. 2011. Quais são suas considerações sobre o texto apresentado? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 135 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 SEGUNDA SITUAÇÃO INOVAÇÃO: PREFEITOS CRIAM REDE PARA INCENTIVAR EMPREENDEDORISMO MUNICIPAL Publicada em 26/05/2010 às 11h50m Ione Luques RIO - Com o intuito de difundir a cultura empreendedora na gestão pública e incentivar a aprovação e implementação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa nos municípios brasileiros, foi oficialmente lançada, na semana passada, em Brasília, a Rede de Prefeitos Empreendedores. Trata-se de um movimento nacional que busca disseminar as boas práticas administrativas que já ocorrem nas cidades, estimular as novas lideranças a fomentarem o empreendedorismo em suas regiões e ressaltar a importância das micro e pequenas empresas para a economia do país. • As pequenas empresas são estratégicas para o Brasil. São elas que mais geram empregos e renda nos municípios - ressalta Helder Salomão, prefeito de Cariacica, no Espírito Santo, e um dos maiores incentivadores do projeto. A semente da rede foi lançada em 2001, a partir da primeira edição do prêmio “Prefeito Empreendedor”, homenagem concedida pelo Sebrae aos melhores gestores de políticas públicas, envolvendo pequenos negócios. Na ocasião, os participantes sentiram a necessidade de se articularem e difundirem ideias inovadoras de gestão, unindo o setor público à iniciativa privada. Em 2004, houve o primeiro encontro dos interessados em manter a integração e estimular a troca de experiência. Desde então,a iniciativa foi amadurecendo. • A rede é protagonizada por prefeitos empreendedores que participaram das seis edições do prêmio. E aqueles que vierem a participar serão convidados a se tornarem membros da rede. É um movimento pluripartidário - acrescenta Salomão.- O que nos une é a visão empreendedora e a necessidade de fortalecer o apoio às micro e pequenas empresas do país. Só este ano, 719 prefeitos se inscreveram para concorrer ao selo. Automaticamente, eles já fazem parte do projeto. Além do Sebrae, que providenciará um consultor para cuidar da parte administrativa, o projeto conta com apoio da Frente Nacional de 136 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Prefeitos (FNP), entre outras entidades. Segundo Salomão, o próximo passo, agora, é fazer com que a iniciativa seja conhecida em todo o Brasil. • No dia 13 deste mês, em um encontro em São Paulo, foi aprovado o documento final. A partir de agora, temos que trabalhar na divulgação e na adesão de novos prefeitos. A ideia tem sido muito bem recebida, mas ainda há muito a fazer. Só nas edições dos prêmios, foram mais de 700 prefeitos. Temos que fazer o documento chegar até eles - diz Salomão. Outro passo importante, segundo o prefeito de Cariacica, será definir o núcleo nacional (que será composto por mínimo de cinco e máximo de dez integrantes) e os núcleos regionais. Salomão acrescenta que, onde houver demanda dos estados, poderão ser criados núcleos estaduais. Ainda segundo o político, os envolvidos no projeto pretendem apresentar um documento aos candidatos à Presidência da República com o posicionamento da rede sobre empreendedorismo e implementação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. • Ficamos à vontade de apresentar nossas ideias, porque contamos com membros de todos os partidos políticos. Isso nos dá isenção para debater o assunto sem o objetivo de beneficiar um ou outro candidato. Queremos fazer a rede funcionar e envolver as cidades no projeto para agilizar a implementação da lei nos municípios. Em breve, a rede terá um site e um banco de dados com projetos de sucesso. Além disso, a intenção é mobilizar os prefeitos para que troquem experiência e conheçam as iniciativas implantadas em outros municípios e países. Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/economia/boachance/ mat/2010/05/24/prefeitos-criam-rede-para-incentivar-empreendedorismo- municipal-916671806.asp>. Acesso em: 1 nov. 2011. Quais são suas considerações sobre o texto apresentado? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 137 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ TERCEIRA SITUAÇÃO PROJETO PARA A ILHA GRANDE SE CANDIDATAR A PATRIMÔNIO NATURAL DA UNESCO PREVÊ CONTROLE DE ACESSO Publicada em 03/07/2011 às 23h46m RIO - Já que beleza não falta à Ilha Grande, no litoral Sul Fluminense, um grupo de 11 defensores do paraíso verde deu início ao projeto de conquistar para o balneário o mesmo status alcançado por outros santuários ecológicos, como Fernando de Noronha, Atol das Rocas e o Parque Nacional do Iguaçu. Para que a Ilha Grande obtenha o título de Patrimônio Natural Mundial da Unesco - órgão das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -, uma das propostas é limitar o número de visitantes, como ocorre em Fernando de Noronha. O grupo de trabalho da candidatura da Ilha Grande será formalizado, este mês, na Câmara de Vereadores de Angra e terá de elaborar um dossiê para a Unesco, bom o suficiente para provar que o local tem natureza exuberante e um ecossistema importante para todo o planeta, no aspecto científico e de conservação. Juntar todas as evidências técnicas leva tempo e ninguém se arrisca a dizer que o dossiê fica pronto este ano. 138 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Só no Aventureiro há lotação máxima Quem já visitou pelo menos uma das 106 praias da Ilha Grande - aproximadamente 11 vezes maior em território que a Ilha do Governador, também no estado do Rio de Janeiro - sabe de cara que a exuberância do balneário está garantida. O passo ambicioso será melhorar ainda mais as regras de proteção ambiental. Integrantes do grupo de trabalho da candidatura acreditam, por exemplo, que o lugar terá de ganhar finalmente o seu Controle de Capacidade de Carga, hoje restrito a uma de suas praias, a do Aventureiro, onde turistas são controlados com pulseirinhas e a lotação é de 560 visitantes. [...] Tratamento de esgoto é um desafio A favor de Ilha Grande pesa o fato de 90% de seu território ser protegido por leis ambientais e ter seu arquipélago incluído na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um título da Unesco mais abrangente, que inclui 35 milhões de hectares de terra em 15 estados brasileiros. Sete locais no Brasil são Patrimônio Natural, nenhum no Estado do Rio de Janeiro. Para provar que é sustentável, a Ilha Grande terá que resolver o problema da falta de tratamento de esgoto de parte dos habitantes da Praia do Abraão, considerada o centro da ilha, com cerca de cinco mil pessoas, número que triplica na alta temporada. Já existe um projeto orçado em R$ 13 milhões para sanear a praia. • - A Ilha Grande tem um setor turístico consagrado, e a candidatura será um bom pretexto para se aprovar um plano diretor de desenvolvimento sustentável para a ilha. O local é paradisíaco, mas está cheia de interferências perigosas, como a indústria do petróleo - resume a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), integrante do grupo de trabalho. A Baía de Ilha Grande, que margeia os municípios de Angra dos Reis e Paraty, tem no seu litoral duas usinas nucleares, estaleiros e grande tráfego de navios petroleiros para o terminal aquaviário da estatal Transpetro. De olho no pré-sal, está em andamento a construção do terceiro berço do seu porto, feito com expectativa de escoar parte da produção da nova camada submarina. 139 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 • A proximidade dos navios petroleiros é um ponto a favor, pois mostra que o zelo pela Ilha Grande e a sua proteção têm que ser obrigatoriamente redobrados - acredita o presidente da Câmara de Vereadores de Angra dos Reis. Fonte: Disponível em:< http://oglobo.globo.com/participe/ mat/2011/07/03/>. Acesso em: 1 nov. 2011. © 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Quais são suas considerações sobre o texto apresentado?____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ QUARTA SITUAÇÃO OPINIÃO UM CÓDIGO SUSTENTÁVEL Publicada em 07/07/2011 às 19h34m ISRAEL KLABIN - Presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável As atuais discussões no âmbito do Congresso Nacional para a aprovação do novo Código Florestal não devem ser pautadas por disputas partidárias ou demonstrações de força de um ou 140 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável outro elo da cadeia política, nem privilegiar a agenda de agentes econômicos. Ao contrário, o debate deve fazer prevalecer uma visão de futuro em relação ao tema da sustentabilidade. Afinal, o formato final do novo Código Florestal é assunto sério demais para ser alvo de quedas de braço que pouco têm a ver com o verdadeiro interesse nacional. Não faltam razões para que o quadro atual seja visto com preocupação. Um exemplo é o estudo patrocinado pelo Banco Mundial e divulgado pela revista “BioScience” este ano. O trabalho demonstra que se 20% da Amazônia forem atingidos pelo desmatamento a região passará por um processo de desertificação (o efeito Amazon Dieback), especialmente grave no sul e no leste da floresta. Nesse contexto, a anistia para crimes de desmatamento proposta pela votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados pode ser considerada verdadeira roleta- russa para toda a região, considerada de fundamental importância para o equilíbrio climático do planeta. Por isso, é bastante alentador ver a presidente Dilma Rousseff sinalizar sua intenção de vetar a chocante proposta de anistia ao desmatamento, que uma vez aprovada funcionaria como senha para o avanço do desmatamento, depois de tantos esforços de diferentes setores da sociedade para frear esse processo nocivo nos últimos anos. A preocupação não poderia ser maior quando se sabe que a região precisa mesmo é de uma movimentação em direção oposta, ou seja, um reflorestamento agressivo capaz de aumentar a margem de segurança e conter o índice de cerca de 18% de área desmatada já atingida (muito perto, portanto, daqueles 20% considerados fronteira de um estado de desertificação). Também é essencial regulamentar o controle da exploração da floresta a partir da esfera federal. Permitir aos estados e municípios determinar os limites aceitáveis de desmatamento em seus territórios é uma receita para o desastre. Como a cada dois anos realizam-se eleições para prefeitos ou governadores no país, tal liberdade de decisão em níveis locais significaria abrir espaço para toda sorte de influências resultantes de variáveis políticas capazes de afetar a floresta amazônica. Esta deve ser manejada como um sistema integrado, e por isso tratamentos diferenciados exercitados por estados e municípios de acordo com suas conveniências transformariam rapidamente a região em um mosaico incontrolável e imprevisível. 141 O PaPel das POlíticas Públicas Frente aO desenvOlvimentO sustentável Capítulo 5 O governo federal não pode permitir o desmatamento pensando que ampliará e democratizará o acesso à terra, com isso gerando um suposto aumento da produtividade do setor agropecuário. Isso porque o sucesso dessa atividade econômica depende da estabilidade do ecossistema no qual ela está inserida. A tese de que a Lei Florestal é injusta para pequenos agricultores ignora todas as ações do Incra e da União com relação à política de reforma agrária, que por sinal não permite que assentamentos se instalem em florestas primárias. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, acaba de divulgar estudo que merece atenção. Ele revela que, caso a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados seja implementada, implicará em emissões adicionais de uma quantidade entre 18 bilhões e 25 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse retrocesso multiplicaria em muitas vezes as emissões atuais do Brasil e nos levaria a romper os compromissos de limites voluntários de emissão aprovados pelo governo. A presidente Dilma Rousseff será certamente reverenciada em nível internacional se atuar nessa arena de múltiplos interesses de forma a manter a reputação já conquistada pelo país: a de ter um dos melhores sistemas de proteção florestal do planeta. Não há por que não esperar do Senado brasileiro seriedade e compromisso em relação ao tema, o que significa alterar substancialmente a versão do Código Florestal aprovada pela Câmara dos Deputados. Ao mesmo tempo, não há por que duvidar do papel decisivo que terá na moldagem de uma nova proposta o senador Jorge Viana, homem cujas raízes repousam na Região Amazônica e cuja serenidade certamente contribuirá para produzir um Código Florestal à altura do Brasil e da relevância alcançada pelo país no cenário global. Fonte: Disponível em:<http://oglobo.globo.com/opiniao/ mat/2011/07/07/>. Acesso em: 1 nov. 2011. © 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. 142 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Quais são suas considerações sobre o texto apresentado? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ QUINTA SITUAÇÃO GOVERNO VAI INVESTIR EM PESQUISAS VOLTADAS À ECONOMIA VERDE Enviado por Agostinho Vieira - 28.07.2011, 21h21m O Ministério da Ciência e Tecnologia vai divulgar nas próximas semanas um plano de investimentos em pesquisas voltado à economia verde, disse ontem o coordenador-geral de Mudanças Climáticas da pasta, Marcos Heil Costa. Ele participou de seminário promovido
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