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FACULDADE UNIÃO ARARUAMA DE ENSINO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Professor: Jorge Souza Disciplina: Introdução as Ciências da Saúde UNIDADE I: O HISTÓRICO DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO Antecedentes do SUS Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde (MS), com o apoio dos estados e municípios, desenvolvia quase que exclusivamente ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, com destaque para as campanhas de vacinação e controle de endemias. Todas essas ações eram desenvolvidas com caráter universal, ou seja, sem nenhum tipo de discriminação com relação à população beneficiária. Na área de assistência à saúde, o MS atuava apenas por meio de alguns poucos hospitais especializados, nas áreas de psiquiatria e tuberculose, além da ação da Fundação de Serviços Especiais de Saúde Pública (FSESP) em algumas regiões específicas, com destaque para o interior do Norte e Nordeste. Essa ação, também chamada de assistência médico-hospitalar, era prestada à parcela da população definida como indigente, por alguns municípios e estados e, principalmente, por instituições de caráter filantrópico. Essa população não tinha nenhum direito e a assistência que recebia era na condição de um favor, uma caridade. A grande atuação do poder público nessa área se dava através do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) que depois passou a ser denominado Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), autarquia do Ministério da Previdência e Assistência Social. O INPS foi o resultado da fusão dos institutos de aposentadorias e pensões (os denominados IAPs) de diferentes categorias profissionais organizadas (bancários, comerciários, industriários, dentre outros), que posteriormente foi desdobrado em Instituto de Administração da Previdência Social (IAPAS), Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Este último, tinha a responsabilidade de prestar assistência à saúde de seus associados, o que justificava a construção de grandes unidades de atendimento ambulatorial e hospitalar, como também da contratação de serviços privados nos grandes centros urbanos, onde estava a maioria dos seus beneficiários. A assistência à saúde desenvolvida pelo INAMPS beneficiava apenas os trabalhadores da economia formal, com “carteira assinada”, e seus dependentes, ou seja, não tinha o caráter universal que passa a ser um dos princípios fundamentais do SUS. Desta forma, o INAMPS aplicava nos estados, através de suas Superintendências Regionais, recursos para a assistência à saúde de modo mais ou menos proporcional ao volume de recursos arrecadados e de beneficiários existente. Portanto, quanto mais desenvolvida a economia do estado, com maior presença das relações formais de trabalho, maior o número de beneficiários e, conseqüentemente, maior a necessidade de recursos para garantir a assistência a essa população. Dessa forma, o INAMPS aplicava mais recursos nos estados das Regiões Sul e Sudeste, mais ricos, e nessas e em outras regiões, em maior proporção nas cidades de maior porte. Nessa época, os brasileiros, com relação à assistência à saúde, estavam divididos em três categorias, a saber: • Os que podiam pagar pelos serviços • Os que tinham direito a assistência prestada pelo INAMPS. • Os que não tinham nenhum direito. Pode-se verificar que proporcionalmente a Região Sudeste, mais rica, foi a que recebeu mais recursos e que as Regiões Norte e Nordeste, mais pobres, foram a que menos receberam. Esses recursos eram utilizados para o custeio das unidades próprias do INAMPS (Postos de Assistência Médica e Hospitais) e, principalmente, para a compra de serviços da iniciativa privada. Com a crise de financiamento da Previdência, que começa a se manifestar a partir de meados da década de 70, o INAMPS adota várias providências para racionalizar suas despesas e começa, na década de 80, a “comprar” serviços do setor público (redes de unidades das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde), inicialmente por meio de convênios. A assistência à saúde prestada pela rede pública, apesar do financiamento do INAMPS apenas para os seus beneficiários, preservou o seu caráter de universalidade da clientela. Também, nessa época, o INAMPS passa a dar aos trabalhadores rurais, até então precariamente assistidos por hospitais conveniados com o FUNRURAL, um tratamento equivalente àquele prestado aos trabalhadores urbanos. Mesmo com a crise que já se abatia sobre o INAMPS, essa medida significou uma grande melhoria nas condições de acesso dessa população aos serviços de saúde, particularmente na área hospitalar. No final da década de 80, o INAMPS adotou uma série de medidas que o aproximaram ainda mais de uma cobertura universal de clientela, dentre as quais se destaca o fim da exigência da Carteira de Segurado do INAMPS para o atendimento nos hospitais próprios e conveniados da rede pública. Esse processo culminou com a instituição do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), implementado por meio da celebração de convênios entre o INAMPS e os governos estaduais. Assim, podemos verificar que começava a se construir no Brasil um sistema de saúde com tendência à cobertura universal, mesmo antes da aprovação da Lei 8.080 (também conhecida como Lei Orgânca da Saúde), que instituiu o SUS. Isso foi motivado, por um lado, pela crescente crise de financiamento do modelo de assistência médica da Previdência Social e, por outro, à grande mobilização política dos trabalhadores da saúde, de centros universitários e de setores organizados da sociedade, que constituíam o então denominado “Movimento da Reforma Sanitária”, no contexto da democratização do país. ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO O sufixo “centrismo” destaca algo como central, a partir de uma determinada perspectiva. O radical “etn(o)”, por sua vez, corresponde à cultura. Unindo “etno” e “centrismo”, temos uma cultura que está no centro. Trata-se de uma perspectiva de compreensão da diversidade que coloca uma cultura no centro para a compreensão do universo plural. O conceito de “etnocentrismo” parte de uma lógica de interpretar as diferenças culturais humanas, estabelecendo critérios de superioridade e inferioridade para a classificação dos povos. A questão central é a estranheza que se estabelece com o encontro de duas ou mais referências culturais. O etnocentrismo se afirma quando há algum choque entre os “diferentes”; nesse contexto, surgem as ideias de “meu grupo” e de “grupo do outro” e a definição de categorias hierárquicas. Normalmente, o “meu grupo” é visto como o melhor, o superior, enquanto os outros são vistos como menores, inferiores. RELATIVISMO O relativismo cultural é essa noção que permite ver os diferentes hábitos, traços e valores de um indivíduo na relevância de seus valores culturais.Todas as nações apresentam suas crenças específicas de valores e normas culturais e étnicas. E, todos esses valores culturais diferem de um grupo étnico ou nacionalidade do outro. O relativismo cultural concede essa flexibilidade onde nenhuma cultura passa a ser denominada como superior ou inferior. Todos os valores, normas e traços podem ser vistos na relevância cultural. E é, perfeitamente, entendida que se um valor é apropriado para uma cultura específica, ele também pode ser inapropriado para outra. Assim, essa mesma noção não se propaga tornando-se julgadora ou áspera em relação a qualquer valor cultural e normas específicas. ANTROPOLOGIA E SAÚDE – Cultura, sa e doença A antropologia classicamentetem sido definida como o “estudo do ser humano”. Ela tem se ocupado, de maneira geral, de todos os fenômenos relacionados com o ser humano, suas origens, a vida em sociedade, as formas como ele se relaciona com os outros seres humanos e com outros grupos sociais, suas religiões, enfim, sua cultura. Na sociedade moderna, embora se tenha uma cultura dominante (a famosa “cultura de massa”), há uma série de subculturas que possuem seus próprios valores e crenças. Pertencemos a sociedades multiculturais, com diferentes grupos sociais convivendo muito proximamente e interagindo entre si. Não se pode concluir que, por pertencerem ao mesmo território, falarem a mesma língua, usarem roupas semelhantes, as pessoas pertençam a mesma cultura. Essa diversidade cultural tem exigido dos médicos de qualquer especialidade, mas particularmente dos profissionais que atuam em Atenção Primária à Saúde, um entendimento profundo sobre o contexto sociocultural dos indivíduos com os quais trabalham, pois se sabe que esse contexto exerce uma influencia decisiva nas manifestações das doenças, na busca de tratamento e na relação que as pessoas estabelecem com os serviços de saúde. Ha uma relação direta da cultura com o corpo, ou seja, são as ideias que as pessoas tem sobre o corpo que vão determinar, por exemplo, o que e considerado “normal” e “anormal”, sua lógica de funcionamento, suas comunicações internas e trocas com o meio externo e os cuidados a ele dispensados. E essas ideias variam de acordo com o grupo social (subcultura). A cultura e tão importante que e possível dizer que se “aprende a ficar doente”. Dessa forma, para melhor intervir sobre os indivíduos, e fundamental conhecer o universo sociocultural no qual estes se encontram inseridos. As ciências sociais, e mais especificamente a antropologia, possuem ferramentas que podem auxiliar os profissionais da área da saúde a compreender melhor esses universos. Um conceito chave para esse entendimento é o de cultura. A cultura pode ser definida como um sistema de crenças e valores compartilhados que influenciam decisivamente o comportamento das pessoas. A cultura indica aos indivíduos padrões que dizem respeito aos modos mais apropriados de comportamento diante de diferentes situações. Alem disso, a cultura dá significado as praticas e pensamentos envolvidos na vida em sociedade. As regras que formam a cultura permitem a relação de indivíduos entre si e do próprio grupo com o ambiente onde vive. Assim, ela terá, por exemplo, implicações no gosto das pessoas, nas suas posturas corporais, na forma como as pessoas percebem e manipulam os seus corpos. Mesmo sem perceber, esse conjunto de noções é incorporado e passa a orientar a maneira como se vê o mundo e se interage com ele, a língua que se fala, o jeito de vestir, o que se come, como se relaciona com as outras pessoas, etc. Por esse motivo, e muito perigoso falar-se de uma “cultura brasileira” ou uma “cultura regional única”. O melhor seria dizer “culturas”, no plural. CRENCAS E PRATICAS SOBRE CORPO, SAUDE E DOENCA desde que a antropologia se constituiu como disciplina, os antropólogos se preocuparam em elucidar os aspectos relacionados com a saúde nos grupos sociais que estudavam, já que isso e, em geral, uma parte importante da dinâmica social, assim como a religião e as relações comerciais. Antropologia medica é a área que trata, mais especificamente, das questões vinculadas ao corpo, a saúde e a doença. Pode-se dizer que a antropologia medica “trata de como as pessoas, nas diferentes culturas e grupos sociais, explicam as causas das doenças, os tipos de tratamento em que acreditam e a quem recorrem se ficam doentes. Também é o estudo de como essas crenças e práticas estão relacionadas com as mudancas biológicas e psicológicas no organismo humano, tanto na saúde quanto na doenca”. Os estudos da antropologia médica tem ajudado, sobretudo, a relativizar valores. E relativizar e perceber as diferenças enquanto tal, não as colocando em uma escala hierárquica. Relativizar e buscar entender a diferença e o outro a partir de sua própria cultura. Essa e a posição contrária ao etnocentrismo, visão do mundo em que o próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos por meio dos próprios valores, modelos e definições do que e a existencia. O etnocentrismo confronta, então, o grupo do eu com o grupo do outro, separando os dois e hierarquizando os grupos sociais a partir dessas diferenças, entre “bons” e “maus”, “cultos” e “ignorantes”, “avançados” e “atrasados”. Essa é uma noção importante também na área da saúde, porque, sob alguns aspectos, pode-se considerar a prática médica como estando, em geral, muito impregnada de etnocentrismo, ou seja, muitas vezes, analisam-se e julgam-se os pacientes a partir da perspectiva exclusivamente médica, sem considerar suas crenças e valores. É evidente, então, que há perspectivas diferentes em relação à saúde e a doença, dependendo da cultura a qual se esta referindo, se do médico ou do paciente (leigo). Para dar conta dessas perspectivas distintas, a antropologia médica se utiliza da diferença entre as noções de disease e illness. Disease, que corresponderia, em português, ao termo Patologia (ou doença), é a visão médica da doença, isto é, a doença vista como um problema físico-biológico. E a forma como a experiência da doença é interpretada pelos profissionais de saúde à luz de seus modelos teóricos e que os orienta em seu trabalho clínico. E, portanto, uma definição de disfuncão, assentada em um substrato essencialmente biomédico. A noção de illness, que poderia ser traduzida por problema ou perturbação, refere-se ao modo como as pessoas percebem a sua doença, ou seja, a resposta subjetiva do indivíduo e/ou de sua rede de relações (familiares, amigos, vizinhos) frente à situação de doença. E um fenômeno que engloba aspectos individuais, sociais e culturais da experiência de doença. A illness contempla ainda o significado atribuído à doença, isto é, as respostas que o indivíduo e seu meio social dão a um conjunto de perguntas. É importante compreender que não existem duas formas de experienciar a doença que sejam iguais, ou seja, não se repete, cada pessoa experiencia o adoecimento de uma forma, não podendo ser, assim, generalizada. Por outro lado, a disease é o que pode ser generalizado, e o que as pessoas com a mesma doença apresentam em comum, são os critérios diagnósticos dasdoenças. SAÚDE E SOCIEDADE O Estado tem a obrigação de oferecer serviços acessíveis a toda à população e serviços que resolvam o problema, ou seja, eficientes. Em relação ao medicamento, além de garantir o acesso do medicamento à população deve garantir que este chegue à população com qualidade e dentro dos padrões estipulados nos regulamentos. E que através das fiscalizações faça se cumprir o poder de polícia das Vigilâncias Sanitárias, com o intuito de prevenção e não punição, para evitar as falsificações e ainda produtos de má qualidade no mercado, que possam causar prejuízo à saúde de uma população. A saúde e doença são objetos ao mesmo tempo sociais e biológicos. As pessoas são sadias, ficam doentes e morrem não apenas por causas biológicas, mas também por razõessociais. Em Sociologia, uma sociedade “é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si”, onde estão politicamente organizadas partilhando objetivos comuns, dando sentido como um ser de relações, capaz de fazer sua própria vida. Portanto, o histórico sócio-econômico e cultural de uma comunidade tem relação com a determinação social das doenças. Assim, quando avaliamos as questõesepidemiológicas no Brasil, nos deparamos com um quadro que compreende doenças do atraso e do desenvolvimento, por exemplo, das parasitoses às doenças cérebro-vasculares, da desnutrição à obesidade, da febre amarela às cardiovasculares. Para isso, os serviços brasileiros de saúde devem estar organizados para prevenir, tratar e recuperar com a mesma eficácia estes problemas de saúde pública. É importante destacar que os determinantes sociais têm forte inter-relação, pois mantêm as relações de propriedade, garantem a acumulação e produzem a desigualdade. Outros determinantes na má qualidade de vida e de saúde da população são os diferentes níveis de desenvolvimento regional, o salário das classes trabalhadoras e a concentração deterra . As condições precárias de trabalhar a terra, em função dos latifúndios e ausência de incentivos agrícolas, produzem o inchaço populacional nas cidades. Com isso, a produção e a oferta de empregos na indústria, comércio e setor de serviços, são inversamente proporcionais à demanda. Para os que conseguem ocupação no mercado de trabalho, os salários são pequenos, o que impede o acesso aos bens essenciais. Esta desigualdade é mais freqüente nas regiões Norte e Nordeste. Daí a ocorrência dos piores indicadores de saúde, já que é nestas regiões que a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil são, em média, duas vezes superiores às verificadas no Sul e Sudeste. Além de que em algumas cidades nordestinas, a esperança de vida é de até 30 anos menor em relação às encontradas nas regiões Sul e Sudeste (ROSA,1997).A compreensão da relação entre saúde e sociedade é essencial para que possamos entender as contradições e o insucesso das políticas de saúde implantadas no Brasil, até omomento. CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE Nos últimos 50 anos, a construção social da doença tornou-se uma área de pesquisa importante no subcampo da sociologia da medicina e contribuiu significativamente para a compreensão das dimensões sociais da doença. Neste artigo, nós traçamos brevemente as raízes da abordagem construcionista social da doença e apresentamos algumas das descobertas-chave dessa corrente sociológica, organizadas sob três temas: o significado cultural da doença, a experiência da doença como socialmente construída e o saber médico como socialmente construído. Complementarmente, apontamos as implicações centrais para políticas de saúde de cada uma dessas descobertas e diretrizes proveitosas para pesquisas relevantes a essas políticas sob uma tradição construcionista social. O construcionismo social é um arcabouço conceitual que enfatiza os aspectos culturais e históricos de fenômenos amplamente considerados exclusivamente naturais. A ênfase é dada ao modo como os significados dos fenômenos não estão necessariamente inerentes a esses fenômenos em si, e sim como se desenvolvem através de interações dentro de um contexto social. Em outras palavras, o construcionismo social examina como indivíduos e grupos contribuem para a produção da realidade social percebida e do conhecimento (BERGER; LUCKMANN, 1966). Uma abordagem construcionista social da doença está arraigada na distinção conceitual largamente reconhecida entre enfermidade (disease) – condição biológica –e doença (illness) – significado social dessa condição (EISENBERG,1977). Embora haja críticas e limitações referentes a essa distinção (TIMMERMANS; HAAS, 2008), ela é, ainda assim, uma ferramenta conceitual extraordinariamente útil. Conforme observamos, certas doenças passam a ter significados culturais que não são redutíveis à biologia, e esses significados sobrecarregam ainda mais os indivíduos afligidos. Em um plano geral, os insights dessa linha de pesquisa sugerem um deslocamento de ênfase, distanciando-se de um foco exclusivo, no tratamento biomédico de indivíduos e aproximando-se de uma mudança no contexto social e cultural que dá a determinadas doenças seu significado negativo. Por exemplo, há implicações para políticas de saúde tanto no caso das doenças estigmatizadas, quanto no das contestadas. As primeiras podem fazer com que uma doença seja muito mais difícil de ser tratada e administrada. Se uma doença como a epilepsia ou o HIV/AIDS possui um estigma poderoso, ele pode fazer com que as pessoas sintam-se desestimuladas a procurar tratamento, por medo de maus-tratos por parte dos atendentes de saúde e de ser publicamente associado a uma condição degenerada. Mulheres obesas relatam evitar exames ginecológicos de rotina, apesar de possuírem taxas mais elevadas de cânceres ginecológicos do que mulheres não-obesas, devido ao estigma da obesidade e as correspondentes atitudes negativas de profissionais de saúde em relação a pessoas acima do peso (AMY et al., 2006). Por essa razão, uma política de saúde efetiva, baseada na triagem precoce do câncer, teria que superar essa barreira. No caso das doenças contestadas, o fato de os sintomas dos portadores não serem prontamente associados a uma anormalidade biomédica discernível muitas vezes dificulta que eles tenham seus sintomas reconhecidos ou tratados, e levanta suspeitas de que seus problemas estejam “todos em suas cabeças”. Alguns médicos recusam-se a tratar pacientes diagnosticados com doenças contestadas e algumas companhias de seguro de saúde não arcam com tais tratamentos. Por outro lado, os desejos dos pacientes por um diagnóstico médico que confirme que seus sintomas são “reais” frequentemente levam a uma demanda excessiva por procedimentos diagnósticos desnecessários e custosos. Frente a essa situação, as organizações de saúde podem considerar que fornecer o diagnóstico de uma doença contestada e paliativos baratos aos pacientes é o meio mais efetivo de conter gastos. Em consequência, há preocupações reais de que esses diagnósticos estariam sendo excessivamente usados para lidar com pacientes difíceis e potencialmente caros (BARKER, 2005). UNIDADE II Os estados de saúde e seus determinantes sociais: Relação ciência saúde. As diversas definições de determinantes sociais de saúde (DSS) expressam, com maior ou menor nível de detalhe, o conceito atualmente bastante generalizado de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A comissão homônima da Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Nancy Krieger (2001) introduz um elemento de intervenção, ao defini-los como os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação. Tarlov (1996) propõe, finalmente, uma definição bastante sintética, ao entendê-los como as características sociais dentro das quais a vida transcorre. As diversas definições de determinantes sociais de saúde (DSS) expressam, com maior ou menor nível de detalhe, o conceito atualmente bastante generalizado de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A comissão homônimada Organização Mundial da Saúde (OMS) adota uma definição mais curta, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Nancy Krieger (2001) introduz um elemento de intervenção, ao defini-los como os fatores e mecanismos através dos quais as condições sociais afetam a saúde e que potencialmente podem ser alterados através de ações baseadas em informação. Tarlov (1996) propõe, finalmente, uma definição bastante sintética, ao entendê-los como as características sociais dentro das quais a vida transcorre. “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência doença” (OMS). “Ciência é o corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente”. RELAÇÃO ESTADOS E SOCIEDADES NA SAÚDE Tantas vezes citado, o conceito adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948, longe de ser uma realidade, simboliza um compromisso, um horizonte a ser perseguido. Remete à ideia de uma “saúde ótima”, possivelmente inatingível e utópica já que a mudança, e não a estabilidade, é predominante na vida. Saúde não é um “estado estável”, que uma vez atingido possa ser mantido. A própria compreensão de saúde tem também alto grau de subjetividade e determinação histórica, na medida em que indivíduos e sociedades consideram ter mais ou menos saúde dependendo do momento, do referencial e dos valores que atribuam a uma situação. Diversas tentativas vêm sendo feitas a fim de se construir um conceito mais dinâmico, que dê conta de tratar a saúde não como imagem complementar da doença e sim como construção permanente de cada indivíduo e da coletividade, que se expressa na luta pela ampliação do uso das potencialidades de cada pessoa e da sociedade, refletindo sua capacidade de defender a vida. Assumido o conceito da OMS, nenhum ser humano (ou população) será totalmente saudável ou totalmente doente. Não se pode compreender ou transformar a situação de saúde de um indivíduo ou de uma coletividade sem levar em conta que ela é produzida nas relações com o meio físico, social e cultural. Intrincados mecanismos determinam as condições de vida das pessoas e a maneira como nascem, vivem e morrem, bem como suas vivências em saúde e doença. Entre os inúmeros fatores determinantes da condição de saúde, incluem-se os condicionantes biológicos (idade, sexo, características pessoais eventualmente determinadas pela herança genética), o meio físico (que abrange condições geográficas, características da ocupação humana, fontes de água para consumo, disponibilidade e qualidade dos alimentos, condições de habitação), assim como o meio socioeconômico e cultural, que expressa os níveis de ocupação e renda, o acesso à educação formal e ao lazer, os graus de liberdade, hábitos e formas de relacionamento interpessoal, a possibilidade de acesso aos serviços voltados para a promoção e recuperação da saúde e a qualidade da atenção por eles prestada. O conceito de “Cidade Saudável”, originado no Canadá na década de 80, serve hoje como parâmetro para nortear projetos de saúde que vêm se desenvolvendo em diversas partes do mundo, a partir da sua incorporação pela OMS. Considera-se que uma “Cidade Saudável” deve ter: • Uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, na qual ocorre alto grau de participação da população nas decisões do poder público; • Ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro; satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, incluídos a alimentação, a moradia, o trabalho, o acesso a serviços de qualidade em saúde, à educação e à assistência social; • Vida cultural ativa, sendo promovidos o contato com a herança cultural e a participação numa grande variedade de experiências; • Economia forte, diversificada e inovadora. No Brasil, na última década, vem se incorporando progressivamente à cultura e à legislação a concepção do Artigo 196 da constituição federal de 1988. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Entretanto, as políticas públicas para o setor favorecem a cultura de que a saúde se concretiza mediante o acesso a serviços, particularmente ao tratamento médico. A implementação de modelos centrados em hospitais, em consultas médicas e no incentivo ao consumo abusivo de medicamentos vem resultando, historicamente, numa atenção à saúde baseada principalmente em ações curativas, desencadeadas apenas quando uma doença já está instalada e o indivíduo precisa de socorro. Um passo importante foi dado ao se promulgar a Constituição de 1988, que prevê a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Conforme definido em lei, o SUS tem caráter público, é formado por uma rede de serviços regionalizada, hierarquizada e descentralizada, com direção única em cada esfera de governo e sob controle dos usuários por meio da participação popular nas Conferências e Conselhos de Saúde. A concepção abrangente de saúde assumida no texto constitucional aponta para “uma mudança progressiva dos serviços, passando de um modelo assistencial, centrado na doença e baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à saúde, onde haja incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas propriamente ditas de recuperação”. A Constituição legitima o direito de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde, assim como explicita o dever do poder público em prover pleno gozo desse direito. Trata-se de uma formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde, baseada em princípios doutrinários que dão valor legal ao exercício de uma prática de saúde ética, que responda não a relações de mercado, mas a direitos humanos: Universalidade: garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão. Equidade: direito ao atendimento adequado às necessidades de cada indivíduo e coletividade. Integralidade: a pessoa é um todo indivisível inserido numa comunidade. O SUS, na forma como é definido em lei, segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o País, prevendo atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. Por sua vez, a Lei nº 8.080/90 define que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pelaConstituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis n.º 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e nº 8.142/90, com a finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à Saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão. UNIDADE III POLITICAS PÚBLICAS NA SAÚDE As políticas públicas podem ser definidas como conjuntos de disposições, medidas e procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às tarefas de interesse público. São também definidas como todas as ações de governo, divididas em atividades diretas de produção de serviços pelo próprio Estado e em atividades de regulação de outros agentes econômicos. As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado orientado para a melhoria das condições de saúde da população e dos ambientesnatural, social e do trabalho. Sua tarefa específica em relação às outras políticas públicas da área social consiste em organizar as funções públicas governamentais para a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade. No Brasil, as políticas públicas de saúde orientam-se desde 1988, conforme a Constituição Federal promulgada neste ano, pelos princípios de universalidade e equidade no acesso às ações e serviços e pelas diretrizes de descentralização da gestão, de integralidade do atendimento e de participação da comunidade, na organização de um sistema único de saúde no território nacional. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao adotar o modelo de seguridade social para assegurar os direitos relativos à previdência, saúde e assistência social, determina que a saúde é direito de todos e dever do Estado. As ações do Estado são definidas por leis ou por atos de governo, que visam às execuções de tarefas de interesse público e que se realizam pela administração pública. Esse ordenamento da sociedade com base em um sistema jurídico que garanta as liberdades fundamentais faz surgir o Estado de direito e esse mesmo ordenamento com base em um sistema de proteção social que garanta o acesso a direitos como a saúde, educação, habitação, entre outros, como direitos de todo cidadão). Existem duas teorias que procuram dar conta do conceito de sociedade: a teoria organicista, cujas origens podem ser encontradas desde a filosofia grega, que entende que o homem é um ser eminentemente social e por isso não pode viver fora da sociedade, entendendo o indivíduo como uma parte “orgânica” da sociedade; e a teoria mecanicista, que entende o homem como um ser primário que vale por si mesmo e do qual todos os ordenamentos sociais emanam como derivações secundárias. Para os primeiros, a Sociedade é definida como “o conjunto das relações mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior” (BONAVIDES, p. 64). Já os mecanicistas entendem a Sociedade como um grupo derivado de indivíduos que buscam objetivos em comum, mas que, individualmente, seriam impossíveis de serem alcançados. Os mecanicistas criticam essa visão “biologizante” da sociedade, pois, segundo eles, na sociedade ocorrem fenômenos que não acham equivalente no corpo humano: as migrações, a mobilidade social e o suicídio, por exemplo. Além disso, dizem: as partes do organismo não vivem por si mesmas, sendo impossível imaginá-las fora do ser que a integram e nem podemos admiti-las noutra posição que não seja aquela que a natureza lhes determinou, bem diferente do que pode suceder com os indivíduos na sociedade. Qualquer que seja a visão de Sociedade, mecânica ou orgânica, é preciso fazer uma distinção entre Sociedade e Estado. O Estado é produto da Sociedade, mas não se confunde com ela. A Sociedade vem primeiro, o Estado vem depois: o estado é uma ordem política da Sociedade. “O estado moderno se constitui de um conjunto de instituições públicas que envolvem múltiplas relações com o complexo social num território delimitado” (RODRIGUES, 2011, p. 17), dessa forma, o Estado deve ser entendido como a ordem jurídica, o corpo normativo, “exterior” à Sociedade. As políticas públicas ocupam um lugar central no mundo dos gestores públicos, fornecendo-lhes potencialmente tanto a legitimidade quanto os recursos de que necessitam para executar suas tarefas em um alto nível de inteligência, sofisticação e competência. No entanto, os gestores públicos e o processo de políticas públicas processo de políticas públicas é, em ocasiões, repleto de irracionalidade, inconsistências e falta de coordenação, que podem tornar-se grandes fontes de tensão e sofrimento para esses agentes. Em particular, se os gestores públicos não estiverem familiarizados com a natureza e o funcionamento do processo de políticas, eles podem não ser capazes de elaborar estratégias eficazes para influenciar sua direção e garantir que resulte em um conjunto integrado de resultados. Para elaboração e prática das políticas públicas, existe um ciclo com 5 paços a serem seguidos, sendo ele: Formulação da agenda; formulação de políticas; tomada de decisões; implementação e avalição. A Política Pública possui dois elementos fundamentais: a) Intencionalidade pública – motivação para o estabelecimento de ações para tratamento ou para resolução de um problema; b) Problema público – diferença entre uma situação atual vivida (status quo) e uma situação ideal possível à realidade coletiva. O Ministério da Saúde é o órgão do Poder Executivo Federal responsável pela organização e elaboração de planos e políticas públicas voltados para a promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros.É função do ministério dispor de condições para a proteção e recuperação da saúde da população, reduzindo as enfermidades, controlando as doenças endêmicas e parasitárias e melhorando a vigilância à saúde, dando, assim, mais qualidade de vida ao brasileiro. A saúde pública tem por objetivo, promover a melhoria e bem-estar da saúde dos cidadãos. Segundo a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, Art. 2, a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. No Brasil, a o sistema de saúde pública é o conhecido SUS (Sistema Único de Saúde). Foi criado em 1988, e é responsável por prestar atendimento aos mais de 180 milhões de brasileiros. Por ser um sistema gratuito, há uma grande parte da população que depende exclusivamente desse sistema para receber atendimento. O SUS oferece atendimento gratuito em qualquer posto de saúde, hospitais públicos, clínicas, e todos os outros estabelecimentos de saúde do governo. Além disso, o cidadão tem direito a medicamentos gratuitos, internações, transplantes e diversas outras coisas. Porém, como há uma grande demanda, tudo isso só é possível com agilidade, se o governo investir todas as verbas corretamente. Exemplos de Políticas Públicas brasileiras, abaixo seguem duas listas de política públicas nacionais, divididas em: *Regulamentadas em legislações específicas: a) Política Nacional do Meio Ambiente - Lei Federal n.º 6.938/1981 b) Política Nacional de Recursos Hídrico - Lei Federal nº 9.433/1997 c) Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei Federal nº 12.305/2010 d) Política Nacional de Educação Ambiental – Lei Federal nº 9.795/1999 e) Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) – Decreto Federal nº 6.047/2007 f) Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) – Lei Federal 12.608/2012 g) Política Nacional do Idoso - Lei Federal nº 8.842/1994 h) Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Decreto Federal nº 5.948/2006 i) Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Lei Federal nº 7.853/1989 j) Política Nacional de Cultura Viva - Lei nº 13.018/2014 k) Política Nacional Sobre Drogas - Resolução nº3/GSIPR/CH/CONAD/2005 l) Política Nacional de Desenvolvimento Urbano – Resoluções da 2a Conferência Nacional das Cidades/2005 Políticas Públicas: conceitos básicos 8 *Não regulamentadas em legislação específica: a) Política Nacional de Assistência Social – 2004 b) Política Nacional de Enfretamento à Violência contra as Mulheres – 2011 c) Política Nacional de Educação Infantil d) Política Nacional de Saúde Bucal – 2004 e) Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – 2007 f) Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão da Saúde - 2004 g) Política Nacional de Controle do Tabaco – 2005h) Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) i) Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - 2004 j) Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema. Único de Saúde - 2012 k) Política Nacional de Habitação - 2004 l) Política Nacional de Juventude -2010 MOVIMENTOS SOCIAIS E SAÚDE COLETIVA Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específicos, permeados por tensões sociais. As lutas populares que elegeram a saúde como objeto de reivindicação podem ser situadas, em várias cidades brasileiras, desde fins da década de 70. Os movimentos sociais têm tido historicamente um papel muito importante na saúde, como a própria contribuição na construção do Sistema Único de Saúde – SUS. Estes se caracterizam pela busca de visibilidade dos problemas de desigualdade e da injustiça vigentes na sociedade, assim como pela luta por projetos, significados e orientações. É composto por formas de organização e de lutas bastante diversas e heterogêneas, congregando múltiplos modos de operar na relação com o Estado e com a sociedade. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. Um dos maiores movimentos sociais da história da saúde pública no Brasil, foi o encontro que ocorreu em Brasília no ano de 1986, a VIII conferência Nacional de Saúde para a votação da criação deste sistema de saúde, estavam presente sindicalistas de vários setores, profissionais da área de saúde, bem como representantes da população. Assim, podemos verificar que começava a se construir no Brasil um sistema de saúde com tendência à cobertura universal, mesmo antes da aprovação da Lei 8.080 (também conhecida como Lei Orgânica da Saúde), que instituiu o SUS. Isso foi motivado, por um lado, pela crescente crise de financiamento do modelo de assistência médica da Previdência Social e, por outro, à grande mobilização política dos trabalhadores da saúde, de centros universitários e de setores organizados da sociedade, que constituíam o então denominado “Movimento da Reforma Sanitária”, no contexto da democratização do país. Sabe-se que a implantação de um sistema público de saúde no Brasil, envolvendo os prestadores de serviços de entidades estatais, filantrópicas e privadas contratadas, acarretou, devido à crise fiscal do Estado e à deterioração da qualidade do atendimento, o fortalecimento do setor privado autônomo. Diferenciou-se, em consequência, a demanda social por saúde, excluindo-se da atenção do sistema público as camadas mais bem pagas do proletariado urbano. Para simplificar os termos de uma questão razoavelmente complexa, considere-se que as políticas sociais, em especial na área da saúde, expandiram-se fundamentalmente com base na capacidade contributiva dos trabalhadores. Mas tal capacidade foi a persiste sendo desigual. As camadas mais bem pagas, ligadas aos setores "dinâmicos" e "modernos" da economia, sustentaram os fundos indispensáveis para o atendimento das camadas mais mal remuneradas dos trabalhadores, tanto nas cidades como no campo. E aquelas camadas mais bem pagas estabeleceram, historicamente, uma relação “adversa” com o sistema público de saúde: passaram a privilegiar e utilizar os convênios com empresas médicas, descrendo de qualquer capacidade dos serviços públicos de contemplar suas necessidades. Para esta camada social, o mercado passou a ter um papel central na provisão de diferentes tipos de seguro de saúde, papel intermediado pelos acordos sindicais com os empregadores. O seguro de saúde "com cobertura sindical" é, segundo Navarro (1993), um dos mecanismos que promovem divisões na classe trabalhadora. O conceito de saúde coletiva é o efeito das interações socioeconômicas de uma sociedade com o ambiente e o quanto isso pode influir a salubridade de uma região ou comunidade. Ao contrário das demais áreas de saúde que tendem a possuir um caráter de tratamento, a saúde coletiva tem como objetivo principal prevenir o desenvolvimento ou a disseminação de patologias e demais problemas de saúde por meio da implantação de perfis sanitários condizentes com a cultura e a necessidade de uma região. A saúde coletiva é formada pelas ciências sociais e humanas em saúde; epidemiologia, política e planejamento. Define-se, então, a Saúde Coletiva como uma área do saber que toma como objeto as necessidades sociais de saúde (e nãoapenas as doenças, os agravos ou os riscos) entendendo a situação de saúde como um processo social (o processo saúde-doença) relacionado à estrutura da sociedade e concebendo as ações de atenção à saúde como práticas simultaneamente técnicas e sociais. CIDADANIA Cidadania é uma condição de cada indivíduo que nasce em um país, tendo ele ou ela de seguir regras, regimes, diretrizes, bem como, possuindo o direito de vir e ir dentro das normas estabelecidas do país. São os direitos e deveres de cada um.Todo ser humano natural do Brasil, deve seguir as seguintes diretrizes para ser um bom cidadão. Cumprir as leis do país. Respeitar as sinalizações de trânsito. Votar. Respeitar os direitos sociais de outras pessoas. Proteger o meio ambiente. Ser colaborativo com as autoridades. SAÚDE PÚBLICA Saúde Pública é o conjunto de medidas executadas pelo Estado para garantir o bem- estar físico, mental e social da população. Em nível internacional, a saúde pública é coordenada pela Organização Mundial de Saúde OMS, composta atualmente por 194 países. O órgão consiste em uma agência especializada da ONU (Organização das Nações Unidas) que trabalha lado a lado com o governo dos países para aprimorar a prevenção e o tratamento de doenças, além de melhorar a qualidade do ar, da água e da comida. Além do contexto político-administrativo, a saúde pública também é o ramo da ciência que busca prevenir e tratar doenças através da análise de indicadores de saúde e sua aplicação nos campos da biologia, epidemiologia e outros campos relacionados. A saúde pública tem por objetivo, promover a melhoria e bem-estar da saúde dos cidadãos. Segundo a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, Art. 2, a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros. A Lei nº 8.080/90, 19 de setembro de 1990, foi sancionada pelo presidente da República, Sr. Fernando Collor, e decretada pelo Congresso Nacional, foi publicada no Diário Oficial da União em 20 de setembro de 1990. A Lei dispõem das condições para a promoção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Vigorando em todo território nacional, para qualquer ação ou serviços de saúde realizado por pessoasou empresas. Todos os Seres Humanos têm direito a prestação dos serviços de saúde básica e de especialidades, sendo esse fornecido pelo Estado. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário ás ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. Entretanto, o dever do Estado não exclui o dever das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. A saúde tem como fatores determinantes a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômicas do País, com a condição de promover o bem- estarfísico, mental e social. É de competência do Sistema Único de Saúde (SUS) as ações e os serviços de saúde de instituições públicas federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal, das Administrações diretas e indiretas e Fundações mantidas pelo Poder Público. Essas ações têm como objetivo – Identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes da saúde. – Formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômicos e social, o dever do Estado de garantir a saúde. – Assistência ás pessoas por intermediário de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integra das ações assistenciais e das atividades preventivas. Já o campo de atuação do SUS, é a execução de ações de vigilância sanitária, epidemiologia, farmacêutica, de saúde do trabalhador e de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, a organização de políticas e ações de saneamento básico; sangue e hemoderivados; recursos humanos na saúde; vigilância nutricional; proteção ao meio ambiente; de medicamentos e insumos de interesse; de fiscalização (alimentos, produtos, transporte, guarda). Desenvolvimento cientifico e tecnológico. São necessárias comissões permanentes de integração entre os serviços de saúde e as instituições de ensino profissional e superior, cuja finalidade é propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e educação continuada dos recursos humanos do SUS. Cabe a União, financiar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Foram estabelecidos o atendimento domiciliar e a internação domiciliar, que são componentes do SUS, bem como o cumprimento obrigatório da presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. A porta de entrada do sistema de saúde deve ser preferencialmente a atenção básica (postos de saúde, centros de saúde, unidades de Saúde da Família, etc.). A partir desse primeiro atendimento, o cidadão será encaminhado para os outros serviços de maior complexidade da saúde pública (hospitais e clínicas especializadas). Trata-se de uma formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde, baseada em princípios doutrinários que dão valor legal ao exercício de uma prática de saúde ética, que responda não a relações de mercado, mas a direitos humanos: Universalidade: garantia de atenção à saúde a todo e qualquer cidadão. Equidade: direito ao atendimento adequado às necessidades de cada indivíduo e coletividade. Integralidade: a pessoa é um todo indivisível inserido numa comunidade. O SUS, na forma como é definido em lei, segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o País, prevendo atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. Os programas que antecediam ao SUS, só davam direito a atendimento médico que possuía carteira assinada, as pessoas que não tinham vínculos empregatícios e dinheiro dependiam das SantaCasa espalhadas pelo pais. A saúde era ligada com a previdência social o que promoveu a grande falência desse setor. Carta Magna Constituição é um conjunto de leis que regem um país, um governo, um estado. Também chamada de Carta Magna, A primeira constituição brasileira foi proclamada em 25 de Março de 1824.Dada a relevância da redemocratização do Brasil após a promulgação da carta magna em 1988, assim como a valorização dos direitos humanos e a elevação da dignidade da pessoa humana ao cerne do texto constitucional. A Constituição de 1988. É a que rege o país até os dias de hoje. É conhecida como a “Constituição Cidadã”. Promove o estado democrático, autolimitando o poder do Estado. Qualquer cidadão pode participar da vida política. A constitucionalização do direito à saúde na atual Carta Magna possui duas características principais: o seu reconhecimento como direito fundamental e a definição dos princípios que regem a política pública de saúde. Estudar, compreender as Constituições de nosso país faz-nos entender nossa própria história, a vida política de nossa nação, os direitos, os deveres, e acima de tudo, avaliar nosso passado faz-nos abrir os olhos, conhecer nossos direitos e defendê-los. O Artigo 196 da constituição Federal de 1988 dispões a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Ainda na mesma contituição em seu artigo 198, define as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: 1. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 2. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; 3. Participação da comunidade. Assim a carta magna possibilitou trilhar caminhos para sancionalização do Sistema de Saúde brasileiro que hoje está em curso no país. Pacto Pela Vida O pacto pela vida é o compromisso entre os gestores do SUS em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação de saúde da população brasileira. A definição de prioridades deve ser estabelecida por meio de metas nacionais, estaduais, regionais ou municipais. Prioridades estaduais ou regionais podem ser agregadas às prioridades nacionais, conforme pactuação local. Os estados/região/município devem pactuar as ações necessárias para o alcance das metas e dos objetivos propostos. São seis, as prioridades pactuadas: 1. Saúde do idoso (60 anos ou mais). 2. Controle do câncer de colo de útero e de mama. 3. Redução da mortalidade infantil e materna. 4. Fortalecimento da capacidade de respostas às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza. 5. Promoção da Saúde. 6. Fortalecimento da Atenção Básica. Saúde Publica e Meio Ambiente A saúde pública é trata da proteção da saúde a nível populacional. Neste sentido, procura melhorar as condições de saúde das comunidades através da promoção de estilos de vida saudáveis, das campanhas de sensibilização, da educação e da investigação. meio ambiente é um sistema formado por elementos naturais e artificiais relacionados entre si e que são modificados pela acção humana. Trata-se do meio que condiciona a forma de vida da sociedade e que inclui valores naturais, sociais e culturais que existem num determinado local e momento, um ambiente limpo é essencial para a saúde e bem- estar das pessoas. No entanto, as interacções entre a saúde humana e o ambiente são muito complexase difíceis de avaliar, o que torna a utilização do princípio de precaução especialmente útil. Os impactos na saúde mais conhecidos estão relacionados com a poluição atmosférica, a fraca qualidade da água e as condições sanitárias insuficientes, grandes influenciadoras e causadoras de doenças e agravos de saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. A VIII Conferência Nacional de Saúde Pública, realizada em 1986, marco importante na discussão no Brasil da relação saúde/doença, ampliou esse conceito, incluindo na definição de saúde o acesso a condições de vida e trabalho, bem como o acesso igualitário de todos aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, colocando como uma das questões fundamentais a integridade da atenção à saúde e a participação social. O conceito de “Cidade Saudável”, originado no Canadá na década de 80, serve hoje como parâmetro para nortear projetos de saúde que vêm se desenvolvendo em diversas partes do mundo, a partir da sua incorporação pela OMS. Considera-se que uma “Cidade Saudável” deve ter: • Uma comunidade forte, solidária e constituída sobre bases de justiça social, na qual ocorre alto grau de participação da população nas decisões do poder público; • Ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro; satisfação das necessidades básicas dos cidadãos, incluídos a alimentação, a moradia, o trabalho, o acesso a serviços de qualidade em saúde, à educação e à assistência social; • Vida cultural ativa, sendo promovidos o contato com a herança cultural e a participação numa grande variedade de experiências; • Economia forte, diversificada e inovadora. Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. GESTÃO MUNICIPAL DE SAÚDE. Textos Básicos. Rio de Janeiro. 2001. 342 p. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sistema_saude.pdf KAWAMOTO, E. E. SANTOS, M. C. H.; MATTOS, T. M. Enfermagem Comunitária. São Paulo: EPU. RIZZOTTO, M. L. F. História da Enfermagem e suas Relações com a Saúde Pública. Goiânia: AB, 1999. GARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. GUIMARÃES, R. B. Saúde e Medicina no Brasil: contribuição para um debate. 4. ed. Rio de Janeiro. 1984. GERMANO, R. M. Educação e ideologia da Enfermagem no Brasil (1955 – 1980) 4. ed. São Paulo: Yendis, 2007. WHITE, L. A. O. O conceito de cultura. Rio de Janeiro: contraponto. 2009. WELMAN, C. G. Cultura, Saúde e doença. 5. ed. Porto Alegra: ARTMED. 2009. LAPLANTINE, F. Antropologia da Doença. 3. ed. São Paulo: Martin Fonta. 2004
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