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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Orientador – Prof. DSc. Vicente Eudes Veras da Silva (Universidade Estácio de Sá) MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO BÁSICO: BREVE REVISÃO E ESTUDO APLICADO José Suami Flor da Silva Curso de Licenciatura em Matemática RESUMO Numa breve revisão bibliográfica, buscou-se estudar a modelagem matemática como alternativa rica, enquanto estratégia de ensino-aprendizagem de Matemática no ensino básico. Discute-se a necessidade de inserir essa temática na formação do professor, e do uso da modelagem matemática enquanto ferramenta crítica e criativa, para uso do professor e dos alunos, enquanto atividade integradora. Foi realizado, a título de exemplo e conhecimento, um estudo de caso local, analisando dados dos investimentos em educação no Estado de Pernambuco e seu avanço no IDEB; o estudo serve como exemplo de aplicação do método de modelagem matemática, para condução para o ensino de conteúdos curriculares previstos, para Matemática. Palavras-chave: modelagem, matemática, ensino, modelo, formação. Caruaru 2018 2 1.INTRODUÇÃO É consenso que a prática educativa é constituída por um rol diversificado de metodologias e estratégias de ensino. Defende-se também, a necessidade que o ensino possui de ser inovado, renovado – ações transformadoras que resultam da própria reflexão sobre a prática pedagógica do professor. Resulta dessa defesa, a busca por métodos que possam ir além da tradicional aula expositiva, que permita uma participação ativa do aluno no processo de aprendizagem, como salienta Silva (2016, p.10): “busca-se uma aprendizagem que extrapole a sala de aula, que o aluno consiga aplicar seus conhecimentos vida afora, em benefício próprio e da sociedade na qual está inserido.” É nesse cenário de busca, num conjunto de respostas, que a modelagem matemática emerge como estratégia de ensino- aprendizagem que insere o estudante no processo de assimilação dos conteúdos. Mas o que vem a ser a modelagem matemática? E por que se apresenta como alternativa de ensino? De acordo com o dicionário Houssais, modelar significa: “dar forma a; fazer o molde; fazer ou reproduzir o relevo de”. (Houssais et al, 2001). O modelo, portanto, é um resultado de um processo criativo, seguindo moldes acurados, definidos, visando um objetivo. Modelos são conhecidos na arte, na moda, nos processos fabris, na estética, em aspectos concretos ou subjetivos. Seja qual for o modelo, ele atravessa processos para sua elaboração. Logo, modelagem matemática vem a ser o processo de criação de uma formulação quantitativa, em resposta a um fenômeno que se busca compreender, empregando-se ferramentas matemáticas na criação. A técnica de formular um modelo matemático em consolidação da compreensão de um fenômeno também é questão adotada por Bassanezi, que introduz a instigação de que: “Os conhecimentos básicos de cálculo, geometria e estruturas algébricas seriam meros “jogos” destinados a desenvolver habilidades intelectuais (como ocorre com frequência em nossas escolas) ou deveriam ser instrumentos aplicáveis aos usos cotidianos?” (2009, p. 15) O autor em questão conjectura a modelagem matemática tanto como estratégia de ensino, como de pesquisa científica; generalizando, infere que a modelagem matemática “consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê- los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real” (p.16). Em consonância a essa visão, Bienbengut e Hein, também consideram a modelagem matemática como um processo artístico, “visto que para elaborar um modelo, além de conhecimento em matemática, o modelador precisa ter uma dose significativa de intuição e criatividade” (Bienbengut e Hein, 2009, p.12). Os autores inferem que estudar esses problemas, por essa via, é enxergar um problema situado como um fenômeno físico, de onde se busca obter “compreensão, simulação 3 e previsão ” (Biengengut e Hein, 2009. p.12). Os autores sugerem, em suma, a modelagem matemática para que os alunos tenham autonomia em aplicar os conhecimentos matemáticos advindos do ensino, para enxergarem e traduzirem situações do dia-dia por essa viés matemática. O modelo matemático resultante do processo responde a dadas investigações sobre o fenômeno. Detalhando o conceito, Bienbengut1 e Hein (2009) são concisos ao mesmo tempo que abrangem o que compõe o modelo: “Nessa perspectiva, um conjunto de símbolos e relações matemáticas, que se busca traduzir, de alguma forma, um fenômeno em questão ou problema de situação real, denomina-se modelo matemático”. (Bienbemgut e Hein. 2009, p. 12) No cotidiano escolar, os alunos já se deparam com um vasto conjunto de fórmulas, equações, e afins; utilizar a modelagem matemática, deste modo, revela ao aluno como são concebidas essas relações, e como elas se entrelaçam com a realidade analisada. Bassanezi destaca o perigo de restringir o ensino da matemática, ao campo puramente abstrato da mesma: ao afastar-se da realidade que origina, os conceitos matemáticos podem se tornar um amontoado complexo com pouco significado fora do seu campo. (Bassanezi, 2009. p.17). Uma análise mais crítica da modelagem matemática, traz a tona a relevância da preocupação com a capacidade que os estudantes do ensino básico possuem no tocante ao tratamento de dados. Sob essa ótica, Veschi (2017), em sua abordagem, defende a modelagem matemática como estratégia de ensino que visa tornar os alunos capazes de compreender a natureza das variáveis envolvidas num raciocínio matemático. Utilizando dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes -PISA (dados de 2012), apesar do sutil avanço do Brasil no ranking específico em Matemática, a autora destaca a dificuldade que os alunos possuem em interpretar problemas, tendo êxito basicamente em solucionar aqueles que possuem variáveis explíticas, e algoritmos simplificados, diretos. Como ela reitera, comentando os resultados, para subsidiar e alicerçar a avaliação em matemática, o relatório do programa “ também procurou empregar o conceito de Modelagem Matemática, em que os problemas situados no mundo real são organizados em categorias Conteúdos e Contextos.” (p.47) O próprio PISA sugere a modelagem matemática como alternativa, como destacado. A autora ainda infere que nesse contexto crítico da modelagem matemática, ela cabe como atividade investigativa, e que sob essa perspectiva, “passaa ser concebida como um ambiente de aprendizagem” (p.47). Um breve panorama histórico, revela que apesar de dar a impressão de ser algo moderno, novo, e recente, a modelagem matemática remonta a antiguidade, e são vastos os ________________________________________________________________________________________________________________ 1. Maria Salett Biengengut, matemática, mestra em Matemática pela Unesp, criadora do Centro de Referência em Modelagem Matemática no Ensino (CREMM) 4 acontecimentos que poderiam ser denotados aqui. A título de exemplo, Euclides, que faleceu em 285 A.C., conhecido por contribuir com os primórdios da Matemática, se empenhou em solucionar problemas geométricos, como a duplicação do cubo, utilizando uma técnica especial de modelagem: a redução. Na narrativa de Roque (2012), “a redução de um problema a outro, mais fácil ou em maior conformidade com as técnicas disponíveis, parecia um recurso usado pela geometria grega”. (p.156). O conhecido Teorema de Pitágoras decorre de um método similar, que buscava equivaler a área de um quadrado maior, a dois menores, investigando seus lados. Exemplosdiversos possuem o mérito de ser citado, contudo, não compõe proposta nesse trabalho, uma longa expansão histórica; sugere-se, aqui, que a modelagem, em seus aspectos históricos, pode contribuir para a motivação dos estudantes sobre esse modelo de aprendizagem. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, dentre os objetivos para alunos do ciclo do ensino fundamental 2, o seguinte: “Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter- relações entre eles, utilizando o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico);” (Brasil, 1998) Tais objetivos são atendidos, utilizando-se a a modelagem matemática como estratégia de ensino, uma vez que a mesma aborda aspectos qualitativos e quantitativos, na sua prática. Sobre essa apreensão quantitativa/qualitativa da realidade, Anastacio (2010), ao avaliar sua formação e pesquisa no campo da Modelagem matemática, reitera a importância da mesma enquanto metodologia sensível até mesmo às práticas culturais. Observar a realidade e extrair dela a inspiração para um modelo não é uma rotina aleatória; a autora postula a o vínculo que o objeto a ser modelado deve ter com a realidade cultural do aluno, ao observar: “Nesta perspectiva, ao tratarmos um problema da realidade nos processos de modelagem, como o escolhemos? Preocupamo-nos em perguntar-nos pelo sentido que a aquela realidade faz para os alunos? Ou sequer problematizamos isso, centralizando-nos apenas em que o tema escolhido “possibilita ensinar um determinado conteúdo matemático”? (Anastacio, 2010. p.8) Portanto, é requerido que a prática de ensino contemple os objetivos de aprendizagem e de criticidade por parte dos alunos. Essa criticidade aproxima a modelagem matemática do campo das ciências sociais. Uma leitura epistemológica desse tema é feita por Burak(2010), 5 que investiga a aplicação de técnicas de modelagem como metodologia de leitura da sociedade, do cotidiano. O autor afirma que a modelagem matemática “mostra a Matemática fazendo parte do todo e se constituindo em uma poderosa ferramenta para a leitura do mundo” (Burak, 2010). O autor ainda detalha as etapas do método, explicitando o potencial do aluno para explorar e investigar fenômenos de sua realidade. 6 2. MODELAGEM MATEMÁTICA – ETAPAS E APLICAÇÃO Uma vez familiarizados com o tema, resta inteirar sobre os procedimentos envolvidos no planejamento de uma aula sob a abordagem da modelagem matemática. Entre os autores principais que se aliam à temática, Biembengut e Hein (2009) se dedicam mais ao propósito do ensino básico; Bassanezi (2009), por sua vez, foca sua obra para o âmbito da educação superior. No entanto, ambos consideram a ferramenta como importante estratégia de ensino, como já explicitado. 2.1 O método Quais as etapas necessárias para construir-se um modelo matemático? Para Biembengut e Hein (2009), existem 3 marcos definitivos na constituição de um modelo, sendo estes: interação, matematização, e o modelo matemático resultante. (p.13). A interação, primeira e fundamental etapa, se dá no reconhecimento da situação-problema. Tal interação é conduzida na forma de um “estudo sobre o assunto, de modo indireto, (por meio de livros e revistas especializadas, entre outros, ou indireto (por meio da experiência de campo)” (p.14). Conhecida a situação investigada, dedica-se na próxima etapa, as decisões sobre o tratamento das informações – no qual é essencialmente importante, segundo os autores: “classificar as informações (relevantes e não-relevantes), indicando fatos envolvidos; decidir quais os fatores a serem perseguidos, levantando hipóteses; selecionar variáveis relevantes e constantes envolvidas; selecionar símbolos apropriados para essas variáveis; descrever essas relações em termos matemáticos” (Biembengut e Hein, 2009, p.14) Nessa etapa, aplica-se os conteúdos matemáticos previstos para serem aplicados. O resultado dessas etapas, é a resolução da situação-problema pelo modelo matemático resultante. Cabe ainda, segundo os autores, a reflexão abordando: a interpretação do modelo, e a verificação de sua adequabilidade (p.15). Um esquema gráfico dessas etapas é ilustrado abaixo, na figura 1. A figura 1, na página seguinte, ilustra essa metodologia. Bassanezi (2009) descreve a metodologia de modo similar, redundando nas 3 etapas descritas, que ele denota por: escolha de temas, coleta de dados, e formulação de modelos (p.45-46). O autor destaca ainda a importância de incluir os alunos nesse processo, quando diz ser “muito importante que 7 os temas sejam escolhidos pelos alunos, que, destafrma, se sentirão responsáveis pelo processo de aprendizagem”. (Bassanezi, 2009. p.46). Também valoriza a experiência dos alunos como fonte de coleta de dados. Figura 1 – Etapas da modelagem matemática É de suma importância, portanto, selecionar temas que tenham contato direto com o dia-a-dia dos alunos, com sua realidade socioeconômica, e que ora, pertença à comunidade na qual se situa a escola. 2.1.1. Papel da formação docente Cabe nessa exposição, questionar o papel da formação docente, no que diz respeito a aplicabilidade desse método enquanto estratégia de ensino aprendizagem. Uma das críticas feitas por Bassanezi(2009), é que sobre a limitação da criatividade, na formação dos professores. Diversos cursos de licenciatura produzem excelentes matemáticos; contudo, para atender as exigências do ensino, a construção do conhecimento exige uma originalidade, que o autor destaca ao inferir que “a matemática trabalhada, num programa tradicional da Licenciatura, tem sido inteiramente privada de originalidade/criatividade, e apresenta-se desvinculada da fonte geradora dos conteúdos que a constituem”. Essa fonte geradora, vem a ser justamente a realidade a qual deve se vincular os olhares e a curiosidade científica do aluno. A modelagem precede a abstração, conduzindo o aluno de uma situação empírica, para a reflexão sobre a inferência dos dados e sua matematização. E as dificuldades não se encontram restritas ao campo da formação. Um estudo qualitativo desenvolvido por Ceolim e Caldeira(2017), aponta dificuldades associadas a: 8 fatores emocionais-pessoais, competência profissional e fatores institucionais. Por sua vez, esses fatores se desdobram em fatores específicos, como: “o fato de a prática de Modelagem (i) exigir conhecimento além da Matemática; (ii) abordar problemas da realidade em que os estudantes estão inseridos, sendo, muitas vezes, problemas não matemáticos; (iii) envolver práticas pedagógicas interdisciplinares; (iv) também a formação inicial dos professores não ter sido suficiente para sustentar o desenvolvimento de atividades de Modelagem na Educação Básica, ressaltando que a disciplina de Modelagem desenvolvida na graduação, na maioria das vezes, não faz relação com as práticas de ensino praticadas na Educação Básica; e (v) contrariar o sistema escolar vigente, que apresenta uma estrutura fechada, tanto do espaço físico como do pedagógico, resistindo assim aos novos recursos pedagógicos” (Ceolim e Caldeira. 2017, p. 766) A constatação dessas dificuldades leva a refletir sobre a necessidade de uma abordagem prática, no âmbito dessa metodologia específica de ensino. Por isso, os autores postulam que “a Modelagem se constitui por características próprias, apontando, assim, fragilidades para o seu desenvolvimento em sala de aula da Educação Básica.” (Ceolim e Caldeira,2017). Tais características conferem a Modelagem Matemática um caráter de excepcionalidade, dentro da formação do professor. Contudo, não acabam os esforços no empenho para a superação dessas dificuldades. De Lara et al, (2017) aponta a interdisciplinaridade como caminho facilitador da metodologia, com estudo aplicado no Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (Pontífica Universidade Católica do estado do Rio Grande do Sul). Moreira (2017), ao mesmo tempo que alude as dificuldades, também se direciona a interdisciplinaridade como meio solucionador dessas dificuldades, no estudo em que desenvolve uma otimização de custos para turmas do ensino fundamental. O autor reforça o potencial da metologia, quando infere que a modelagem é capaz de inserir o estudandte num perfil que “corrobora para um sujeito crítico reflexivo quanto ao papel da Matemática na sociedade.” (Moreira, 2017). 2.2 Estudo de caso aplicado A fim de elucidar esse estudo, conduz-se agora um exemplo de possível abordagem, para ilustrar e beneficiar as conclusões sobre o tema. A situação-problema observada, foram os investimentos em educação realizados no estado de Pernambuco, na rede estadual de 9 ensino, e a proporcionalidade com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica -IDEB. Essa situação-problema é alvo de plurais estudos, em diversos âmbitos; em particular, DA SILVA et al (2015), realizaram um estudo prático com a receita corrente líquida de um município, questionando o impacto dos investimentos em educação, e a evolução do IDEB. Embora possua um cunho acadêmico um tanto voltado para a educação superior, tal estudo pode ser adaptado para o ensino básico, uma vez que carrega uma questão popular que permeia na sociedade em geral: os investimentos em educação melhoram o rendimento escolar? Em quanto melhoram? Os autores trabalham com 2 hipóteses, das quais selecionou- se a seguinte: “o montante do recurso financeiro, aplicado em despesas educacionais, por aluno, é determinante para o IDEB nas escolas públicas dos municípios brasileiros”. (DA SILVA, et al, 2015). Um estudo similar foi realizado por Oliveira e Lemes(2016), em um contexto restrito a dois municípios – o que projeta esse tema como flexível a diferentes esferas de compreensão. Essa hipótese, para fins práticos, é reconstituída para questionar os investimentos como um todo, sem considerar, inicialmente, o investimento per capita. Tendo escolhido esse tema, passa-se agora para a etapa de coleta de dados, através do Portal da Transparência de Pernambuco, e do Qedu- plataforma que reúne dados de avaliações externas, como o IDEB. Os dados referentes aos investimentos constam na figura 2, em anexo. O tratamento matemático dado ao conjunto de dados, é a investigação sobre a relação entre os dois conjuntos de dados: nessa etapa se questiona sobre a natureza da relação. Seria linear? Seria polinomial? Considerando o ensino médio, quando se prevê o estudo de equações do segundo grau, essa situação-problema traz a tona um conjunto de pontos no plano cartesiano com os quais é possível investigar esse tipo de relação, especificamente. Descrevendo em etapas. → Tema: investimentos em educação na rede estadual de ensino. → Interação com o tema: coleta de dados no TC-PE (em anexo, como já supracitado). Nessa etapa, é de fundamental importância a prática da pesquisa, orientada pelo professor, porém, executada pelos alunos. Com este aprendizado, terão potencial discernimento para reconhecer fontes autênticas de dados confiáveis. Os dados que interessam a esse estudo restrito, são os investimentos em educação realizados pelo governo do estado, nos anos em que o IDEB foi produzido. Na próxima página, na tabela 1, os dados foram reunidos; antes de passar a próxima etapa, é possível discuti-los, previamente. 10 Tabela 1- dados oriundos do Portal de Transparência de Pernambuco, e do Qedu, comparando os investimentos em educação e a evolução do IDEB. ANO IDEB INVESTIMENTO (em bilhões de reais) 2009 3,2 1,95 2011 3,6 2.79 2013 3,9 3,1 2015 4,2 3,28 2017 4,5 3,58 → Matematização: essa etapa é de suma importância para a leitura matemática da situação retratada. Os alunos terão contato com dados expostos sob certa formalidade, e é interessante associar a outros dados, como: o número de alunos da rede estadual, o número de instituições, de funcionários, e assim por diante. Contudo, a proposta presente aqui se restringe a construção desse modelo. Ao dispor dos pontos em tabela ou no gráfico, os alunos poderão hipotetizar sobre o tipo de curva que se ajusta melhor aos pontos: senoidal? Linear? Polinomial? Para tal, os alunos podem dispor o cruzamento de dados do IDEB e dos investimentos num plano cartesiano, e manualmente, interpolarem o tipo de traço que constrói uma função que relacione os dois conjuntos de grandezas. Nessa abordagem, os alunos estarão lidando com: técnicas de arredondamento, de interpolação, e o conhecimento prático de funções de primeiro e segundo grau. Nessa construção, uma curva polinomial de segundo grau é a que mais se aproxima da distribuição gráfica dos pontos. Nesse estudo, foi utilizado o software Geogebra para interpolar – o que é sugestivo também para construir o modelo com os alunos. Chamando IDEB de y e investimentos de x, a função polinomial de segundo grau, fornecido pelo software, que aproxima-se dessa relação de dados, é: y = 0.39 x² -1.33 x + 4,31 É possível produzir um modelo resultante que permite responder o quanto os investimentos devem saltar, a fim de que o IDEB atinja metas desejáveis. O gráfico referente ao modelo consta na figura 3, em anexo. A manipulação algébrica é completa na última etapa, estando essa etapa sujeita ao desenvolvimento do professor; a proposta é produzir a leitura do tipo de curva, a partir da simples análise gráfica, como sugere Bassanezi(2009, p.53-54), ao discutir esse tipo de análise: a análise gráfica precede a algébrica. É oportunizado além disso, a interação dos alunos com interfaces digitais que apoiam a aprendizagem matemática. 11 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A fim de elevar a qualidade do ensino, e consequentemente, o rendimento de nossos alunos atuais, faz-se necessário repensar a formação docente, enquanto etapa constante de crescimento enquanto profissionais do ensino. O professor de matemática, em específico, ao produzir a reflexão sobre sua práxis, faz-se necessário invocar a metodologias que permitam um aprendizado integrador, que seja permeável à curiosidade do aluno. A tradução dessas exigências, encontra espaço no àmbito da modelagem matemática. Modelagem Matemática se constitui um campo de estudo ainda em ascensão, que pode contar ainda com diversos elementos integradores, tais como as ferramentas computacionais. Nossos estudantes, ainda no que concerne aos PCN’s, precisam adquirir conhecimentos que os permitam tratarem dados sobre a realidade, interpretá-los, entendê-los, a fim de uma vida promissora em sociedade. Os dados de diversas avaliações externas destacam a inércia dos nossos estudantes, no que diz respeito a capacidade de aplicar os conhecimentos matemáticos que por diversas vezes, não saíram do campo da abstração. Portanto, o aperfeiçoamento pessoal de professores de Matemática, surge como alternativa dessa melhora que se faz necessária; surge como estratégia, de aprendizado e de ensino. Nos últimos anos, a interpretação numérica de diversos elementos do nosso cotidiano, tem ganho espaço em diversas ciências. Inclusive, nas ciências sociais. A missão do professor envolve também a criação de estudantescom consciência cívica, crítica, e com destreza racional para inferir sobre dados numéricos desta realidade. A modelagem, emerge como uma maneira de integrar a visão dos alunos, sob uma matematização crítica, com o objetivo de produzir neles, a percepção da realidade enquanto conjunto de relações matemáticas. Cumpre também o papel importante de tornar o estudante ativo no processo de ensino-aprendizagem. 12 4 REFERÊNCIAS ANASTACIO, Maria Queiroga Amoroso. REALIDADE: uma aproximação através da modelagem matemática. Modelagem na Educação Matemática, v. 1, n. 1, p. 2-9, 2010. Disponível em: < http://proxy.furb.br/ojs/index.php/modelagem/article/view/2010/1359 >. Acesso em: 20 out. 2018 BASSANEZI, Rodney Carlos. Ensino- aprendizagem com modelagem matemática: uma nova estratégia. Editora Contexto, 2009. p. 15-46; 181-183. BRASIL. Parãmetros curriculares nacionais : Matemática / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC / SEF, 1998. BIEMBENGUT, Maria Salett; HEIN, Nelson. Modelagem matemática no ensino. Editora Contexto, 2002. p. 9 -32. BURAK, Dionísio. Modelagem Matemática sob um olhar de Educação Matemática e suas implicações para a construção do conhecimento matemático em sala de aula. Modelagem na Educação Matemática, v. 1, n. 1, p. 10-27, 2010. 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Relação IDEB e gasto aluno-ano: algumas aproximações de correlações e sua pertinência para melhoria dos investimentos em Educação. Revista on line de Política e Gestão Educacional, p. 367-384, 2016. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro; DE MELLO FRANCO, Francisco Manoel. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 2001. MOREIRA, Francis Miller Barbosa. Modelagem Matemática como possibilidade para ensino e aprendizagem matemática. VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA, Ulbra, Rio Grande do Sul, Brasil, 2017. ROQUE, Tatiana. História da Matemática: uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas. Editora Zahar, 2012. p. 155-158 VESCHI, Regiane. Olhares sobre o ensino da Matemática: educação básica. In: Castejon, Marângela; Rosa, Rosemar (Orgs). 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Ou sequer problematizamos isso, centralizando-nos apenas em que o tema escolhido “possibilita ensinar um determinado conteúdo matemático”? (Anastacio, 2010. p.8) 2.1 O método “classificar as informações (relevantes e não-relevantes), indicando fatos envolvidos; decidir quais os fatores a serem perseguidos, levantando hipóteses; selecionar variáveis relevantes e constantes envolvidas; selecionar símbolos apropriados para essas variáveis; descrever essas relações em termos matemáticos” (Biembengut e Hein, 2009, p.14) “o fato de a prática de Modelagem (i) exigir conhecimento além da Matemática; (ii) abordar problemas da realidade em que os estudantes estão inseridos, sendo, muitas vezes, problemas não matemáticos; (iii) envolver práticas pedagógicas interdisciplinares; (iv) também a formação inicial dos professores não ter sido suficiente para sustentar o desenvolvimento de atividades de Modelagem na Educação Básica, ressaltando que a disciplina de Modelagem desenvolvida na graduação, na maioria das vezes, não faz relação com as práticas de ensino praticadas na Educação Básica; e (v) contrariar o sistema escolar vigente, que apresenta uma estrutura fechada, tanto do espaço físico como do pedagógico, resistindo assim aos novos recursos pedagógicos”