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María Eva Ibarguren de Duarte nasceu em 1919

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María Eva Ibarguren de Duarte nasceu em 1919, no município de Los Toldos, filha bastarda de Juan Duarte, um rico fazendeiro local. Cresceu numa vizinhança humilde, dividindo um mesmo quarto com a mãe e os irmãos.
Sonhando em ser atriz, mudou-se para Buenos Aires aos 15 anos.
Nos dez anos que se seguiram, viveu em pensões baratas e participou de peças em papéis secundários.
Até que, em 1944, durante um ato no Luna Park, em Buenos Aires, Eva conheceu Perón, então viúvo, num evento para arrecadar dinheiro para as vítimas de um terrível terremoto na cidade de San Juan.
No ano seguinte, se casaram. Como primeira-dama, Evita começou a crescer politicamente dentro do governo, fazendo aumentar um clima de invejas e paranoias no círculo do poder.
Perón dependia do apoio dos militares, que não viam Eva com bons olhos. Historiadores afirmam que o golpe para tirar Perón do poder, que ocorreria de fato em 1955, já se articulava desde essa época.
Se a imagem pública de Eva, exposta nas capas de revistas, antes era associada à sexualidade, isso foi aos poucos se transformando.
À medida que ia se consolidando como "mãe dos pobres" e líder dos "descamisados", passou a se apresentar de forma cada vez mais sóbria e associada à religião. Também começou a vestir-se de modo luxuoso –seus vestidos até hoje podem ser vistos no Museu Evita, em Buenos Aires, e frequentemente viajam para exposições internacionais.
Para sua viagem à Europa, mandou costurar uma linha inteira de roupas e levou seu modista particular.
Até que, em 1951, foi-lhe diagnosticado um câncer de colo uterino já em estado avançado. Em ambiente de mistério (o diagnóstico e a evolução da doença foram mantidos em segredo) e drama, Evita passou a agonizar a olhos vistos.
A população, que não sabia bem o que estava ocorrendo, mas aos poucos se dava conta de que a mãe dos "descamisados" ia morrer, foi sendo tomada pelo desespero. Vigílias e preces eram realizadas diante da residência presidencial, enquanto se observava o entra e sai de médicos argentinos e especialistas estrangeiros.
Enquanto isso, o país vivia uma campanha eleitoral. O general Perón concorria a um segundo mandato, e a presença da já ultrapopular Evita a seu lado era essencial.
Os antiperonistas se deram conta de que, sem a mulher, a candidatura do general poderia perder força. Mensagens de ódio tomaram, então, as ruas de Buenos Aires, com alguns muros sendo pichados com a frase: "Viva o câncer".
A doença avançou rapidamente. Em suas últimas aparições, Eva saía com Perón, mas apoiada num aparato para mantê-la de pé, de forma disfarçada.
Perón foi reeleito, mas Evita já não podia mais acompanhá-lo. No dia 26 de julho, a notícia de sua morte causou comoção em todo o país.
Para a maioria dos mortais, uma história de vida termina aí, mas a de Evita não. Seu corpo continuou sendo tratado como se fosse o de um carismático líder vivo. É o que mostra o recente filme "Eva No Duerme", de Pablo Aguero.
Primeiro, Perón encomendou que fosse embalsamado por um dos melhores profissionais daquele tempo. A tarefa ficou com o dr. Pedro Ara, um espanhol que havia embalsamado o compositor Manuel de Falla (1876-1943).
Seu trabalho com o cadáver de Eva Perón foi comparado aos realizados com os corpos do líder socialista soviético Vladimir Lênin e do chinês Mao Tsé-tung. Custou aos cofres públicos mais de US$ 100 mil, o que causou reclamações exaltadas de opositores.
O velório durou 12 dias, e seu ataúde foi beijado por meio milhão de argentinos. Muitos se abraçavam ao caixão, chorando, e tinham de ser arrancados pelos guardas. Nas ruas de Buenos Aires, 17 mil soldados controlavam o resto da multidão.
Após a morte de Eva, a situação de Perón no governo passou a se desestabilizar, situação agravada por uma grave crise econômica.
Até que, em 1955, um golpe de Estado que se autointitulava "Revolução Libertadora" destituiu Juan Domingo Perón do poder. Para os militares golpistas foi menos difícil lidar com o Perón vivo, que foi simplesmente levado a exilar-se, do que com o "Perón morto", ou seja, o corpo de Eva Perón.
Sem saber o que fazer com o cadáver embalsamado que poderia levantar uma revolta antigolpista, os oficiais no poder encomendaram o sumiço definitivo dos restos de Eva.
No meio de uma noite, o corpo foi sequestrado da sede da CGT (Confederação Geral do Trabalho), em Buenos Aires. Passou uns dias num quartel até ser enviado a Milão, onde ficou anos enterrado num cemitério, sob nome falso.
Muito tempo depois, em 1971, o corpo embalsamado da ex-primeira-dama voltou ao poder de Perón, então morando em Madri.
Na residência em que viveu na Espanha com María Estela Martínez de Perón (Isabelita), sua terceira mulher, o general mantinha Evita numa sala climatizada. Ali, o "bruxo" José Lopez Rega, guia espiritual do casal Perón, realizava cerimônias para tentar transportar o "espírito" de Evita para Isabel.
Se foi por causa de seus rituais, não se sabe, mas o fato é que Perón voltou do exílio, em 1973, e voltou a assumir a Presidência, sendo sucedido, justamente, pela mulher, Isabelita, apenas derrubada pelo golpe militar de 1976.
E desde aquele ano o corpo de Evita está no mausoléu da família Duarte no cemitério da Recoleta, em Buenos Aires.
Diferenciar o que é mito do que é verdade sobre Eva Perón é um trabalho ao qual se dedicam pesquisadores nos dias de hoje.
"Trata-se de um ícone ao qual se pode atribuir uma retórica de barricada, popular e crítica de inimigos que poucas vezes estão identificados. É muito eficiente também nos dias de hoje. Evita representou muito bem essa ideia de democracia vertical, paternalista e autoritária. É necessário colocá-la em seu contexto e desligá-la de um lugar heroico que pouco tem a ver com a história", resume Finchelstein.

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