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R E V I S Ã O CONTEÚDO DA AP2 DE EDUCAÇÃO E TRABALHO UNIDADE IV: O PROJETO NACIONAL DE EDUCAÇÃO PARA A CLASSE TRABALHADORA NO SÉCULO XXI. a) A nova forma de dualidade educacional das novas relações entre educação e trabalho; b) Exclusão includente e inclusão excludente; Textos de Referência = TEXTO 14 = KUENZER, Acácia. “Exclusão includente e Inclusão excludente: a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho”– [p.01-17]. ADVERTÊNCIA E PREOCUPAÇÃO DA AUTORA = Segundo Acácia Kuenzer, é preciso esclarecer de antemão uma questão importante para a compreensão mais adequada do que será exposto a seguir e que é destacado pela autora como uma grande preocupação em seus estudos, qual seja, (...) a facilidade com que a pedagogia toyotista se apropria, sempre do ponto de vista do capital, de concepções elaboradas pela pedagogia socialista e, com isso, estabelece uma ambiguidade nos discursos e nas práticas pedagógicas. Essa apropriação tem levado muitos a imaginar que, a partir das novas demandas do capital no regime de acumulação flexível, as políticas e propostas pedagógicas passaram a contemplar os interesses dos que vivem do trabalho, do ponto de vista da democratização. Assim é que categorias clássicas da pedagogia (só possíveis de objetivação plena em outro modo de produção) passaram a fazer parte do novo discurso pedagógico: formação do homem em todas as suas dimensões de integralidade com vistas à politecnia, a superação da fragmentação do trabalho em geral, e em decorrência, do trabalho pedagógico, o resgate da cisão entre teoria e prática, a transdisciplinaridade, e assim por diante. (KUENZER, Texto 14, p. 78) Vamos ao texto: Logo no início a autora faz referência ao conceito de “trabalho como princípio educativo”, do filósofo italiano Antônio Gramsci, e a partir disto, desenvolve o seu estudo analisando a reestruturação produtiva do início do século XX, denominada por Gramsci de “americanismo e fordismo”, mas que tem sua base no Taylorismo e, o momento mais atual, que opera nova reestruturação econômica, mas agora com base nos princípios do Toyotismo e da produção flexível, considerando estas duas fases da organização do trabalho capitalista no século passado como “o princípio educativo” da sociedade e da escola ao longo do século XX e XXI. Disto resulta uma concepção pedagógica de base inicialmente no taylorismo/fordismo caracterizada pela fragmentação da atividade intelectual versus material, reproduzida historicamente no interior das escolas pela divisão do conhecimento científico e do saber prático que são distribuídos desigualmente, através dos seus conteúdos, métodos e formas de organização e gestão, onde o trabalhador necessita de disciplinamento em detrimento de sua iniciativa e autonomia para o exercício de suas funções laborativas adequadas às necessidades e interesses do mercado. A escola profissionalizante cumpre este papel de preparar essa mão-de-obra adequadamente, mas em detrimento das necessidades do trabalhador, enquanto cidadão e pessoa humana. Na pedagogia toyotista, vigente após 1970 e no Brasil principalmente a partir da década de 1990, aparecem as chamadas “competências” na valorização do domínio de conteúdos e de habilidades cognitivas como exigência do processo capitalista. Essa nova forma de organização e gestão do trabalho intensifica o uso da força de trabalho, explorando o trabalhador ainda mais, sob uma aparente reunificação do trabalho fragmentado (supostamente unindo concepção e ação, teoria e prática, ciência e técnica) mediado pelas tecnologias, porém sem superar a divisão entre capital e trabalho. Da mesma forma, não há uma suficiente ampliação do trabalho dos profissionais fundamentado nas categorias de uma pedagogia emancipatória que supere a contradição entre capital e trabalho, onde o trabalhador multitarefa continua exercendo suas funções para atender as demandas da organização e da gestão escolar na perspectiva da lógica do capital. “As macrotendências hegemônicas de organização e gestão do trabalho: o taylorismo/fordismo, e o toyotismo, ou métodos flexíveis” dão forma às pedagogias dominantes nos séculos XX e XXI (KUENZER, Texto 14, p.83). [...] a base taylorista/fordista originou tendências pedagógicas que, embora privilegiassem ora a racionalidade formal, ora a racionalidade técnica nas versões sempre conservadoras das escolas tradicional, (escola) nova e tecnicista, sempre se fundamentaram no rompimento entre pensamento e ação. Esta pedagogia originou as propostas que ora se centraram nos conteúdos, ora nas atividades, sem nunca contemplar uma relação entre aluno e conhecimento que verdadeiramente integrasse conteúdo e método, de modo que propiciasse o domínio intelectual das práticas sociais e produtivas. (Ibid.). Esta “pedagogia dominante” resulta de uma concepção do conhecimento formalista, linear e fragmentada (positivista) da qual “decorrem várias modalidades de fragmentação no trabalho pedagógico, escolar e não escolar, que se constituem na expressão da divisão entre classes sociais no capitalismo”, tais como: a) a dualidade estrutural, a partir da qual se definem tipos diferentes de escola, segundo a origem de classe e o papel a elas destinado na divisão social e técnica e trabalho; b) a fragmentação curricular, que divide o conhecimento em áreas e disciplinas trabalhadas de forma isolada e que passam a ser tratadas como se fossem autônomas entre si e da prática social concreta, a partir da pretensa divisão da consciência sobre a ação, com base no que a teoria se supõe separada da prática. A expressão desta fragmentação é a grade curricular, que distribui as diferentes disciplinas com suas cargas horárias por séries, de forma aleatória, supondo que a unidade rompida se recupere como consequência “natural” das práticas curriculares, ficando por conta do aluno a reconstituição das relações que se estabelecem entre os diversos conteúdos disciplinares; c) as estratégias taylorizadas de formação de professores, que promovem capacitação parcelarizada por temas e disciplinas, agrupando os profissionais por especialidade, de modo que o trabalho pedagógico nunca seja discutido em sua totalidade, dentro do espaço de sua realização: a escola. d) o plano de cargos e salários, que prevê a contratação dos profissionais da educação por tarefas, ou jornadas de trabalho, e até mesmo por aulas ministradas, de modo que eles se dividam entre diversos espaços, sem desenvolver o sentido de pertinência à escola; quando se representam, os professores evidenciam identidade com a área ou disciplina de sua formação, e não identidade de professores da escola; e) a fragmentação do trabalho dos pedagogos, nas distintas especialidades, que foram criadas pelo Parecer 252/69 do Conselho Federal de Educação, praticamente superadas pelas tentativas de unificação nas agências de formação e nas escolas; esta fragmentação agora foi reeditada pela Lei 9.394/96, no art 64. (Idem, p.84-5). O trabalho pedagógico, assim fragmentado, respondeu, e continua respondendo, ao longo dos anos, às demandas de disciplinamento do mundo do trabalho capitalista organizado e gerido segundo os princípios do taylorismo/fordismo, em três dimensões: técnico, político e comportamental. Funda-se numa aparente contradição: quanto mais simplificadas as tarefas, mais se exige conhecimento do trabalhador e, consequentemente, maior ampliação da escolaridade na forma de formação continuada. Assim, ocorre uma passagem de uma “base eletromecânica” para uma “base microeletrônica”, ou seja, de procedimentos rígidos, pesados e fixos (Taylorismo/Fordismo), para novos procedimentos flexíveis, leve, móveis ou em constante e rápidas mudanças (Toyotismo/Produção Flexível). Combase nisto passa a exigir o desenvolvimento de novas habilidades cognitivas e comportamentais, tais como: Análise, síntese, estabelecimento de relações, rapidez de respostas e criatividade diante de situações desconhecidas, comunicação clara e precisa, interpretação e uso de diferentes formas de linguagem, capacidade para trabalhar em grupo, gerenciar processos, eleger prioridades, criticar respostas, avaliar procedimentos, resistir a pressões, enfrentar mudanças permanentes, aliar raciocínio lógico- formal à intuição criadora, estudar continuamente, e assim por diante. (Idem, p.86). Projeta-se a necessidade de “um novo homem para um novo mundo”. Todavia, o que este “novo mundo” exige é um “homem novo”, isto é, mais adaptado às novas formas de exploração do homem-trabalhador para a acumulação ampliada do capital como no “velho mundo”. As exigências de um “trabalhador de novo tipo” irá resultar na criação de novas pedagogias e “ela encontra sua melhor expressão na pedagogia das competências” (Idem, p.87). Neste sentido cria-se, por assim dizer, uma cortina de fumaça afim de camuflar os reais interesses neste processo de que ao invés desta proposta constituir de fato em ampliação do trabalho enquanto totalidade e politecnia, de união entre concepção e execução, ela apenas configura numa “ampliação das tarefas”, de um trabalho polivalente e não politécnico. Essa cortina de fumaça impede que se perceba o caráter de pseudo-reunificação (entre teoria e prática, concepção e execução) própria do trabalho fragmentado e organizado do taylorismo transmutado em sua forma atual, o toyotismo. O trabalhador não amplia o seu saber sobre o trabalho, mas, passa a executar diferentes tarefas usando distintos conhecimentos, não tendo mais sobre tais conhecimentos um efetivo domínio e aprofundamento, tem-se um domínio superficial, apenas o necessário para a realização das diversas tarefas que agora lhe cabem desempenhar. Neste novo modelo de trabalho, “é suficiente usar os conhecimentos empíricos disponíveis sem apropriar-se da ciência (domínio teórico), que permanece como algo exterior e estranho” (Idem, p.88). A autora realiza, nesta parte, uma diferenciação entre polivalência e politecnia, onde a politecnia representa, do ponto de vista da organização do trabalho pedagógico, tomar a escola como totalidade, em compreender a gestão como prática social de intervenção na realidade tendo em vista a sua transformação, e em uma nova qualidade na formação dos profissionais da educação, pedagogos e professores, a partir de uma sólida base comum que tome as relações entre sociedade e educação. Se por polivalência entende-se, a ampliação da capacidade do trabalhador para aplicar novas tecnologias (...) de desempenhar diferentes tarefas usando distintos conhecimentos, sem que signifique superar o caráter de parcialidade e fragmentação destas práticas ou compreender a totalidade (...) com sua rica teia de inter-relações (...), mas, entendendo-a como uma ‘juntada’ de partes” – [justapostas] – [implica o domínio operacional da técnica]. (Ibid.) A por politecnia entende-se, o domínio intelectual da técnica [expressão que articula conhecimento e intervenção prática] e a possibilidade de exercer trabalhos flexíveis (diferente do Toyotismo), recompondo as tarefas de forma criativa; supõe a superação de um conhecimento meramente empírico e de formação apenas técnica, através de formas de pensamento mais abstratas, de crítica, de criação, exigindo autonomia intelectual e ética. Ou seja, é mais do que a soma de partes fragmentadas; supõe uma rearticulação (orgânica) do conhecido [...]. Nesta acepção, evidencia-se que conhecer a totalidade não é dominar todos os fatos, mas as relações entre eles, sempre reconstruídas no momento da história (Idem, p.89). A autora ainda argumenta que tomar a politecnia como princípio implica tomar a escola como totalidade, isto é, Compreender a gestão como prática social de intervenção na realidade considerando a sua transformação; uma nova qualidade na formação dos profissionais em educação (pedagogos e professores), com uma sólida base comum que leve em consideração as relações entre sociedade e educação, entre as formas de organização e gestão do trabalho pedagógico, as políticas, os fundamentos e as práticas educativas, conduzindo-os ao “domínio intelectual da técnica”. (Idem, p.89-90). Por sua vez, tomar a polivalência como princípio implica numa contradição entre o discurso e a realidade à medida que se apresenta o discurso da recomposição da unidade teoria e prática, mas, de fato, “o poder de intervenção está cada vez mais centralizado, tecnológica e gerencialmente”. (Idem, p. 90). Por outro lado, a politecnia enquanto unidade entre teoria e prática “inscreve-se no campo da utopia”, pois, nas condições atuais fica inviável a possibilidade da existência de práticas pedagógicas autônomas, em sua plenitude. Isto enquanto não for historicamente superada a divisão entre capital e trabalho, a qual produz relações sociais e produtivas que têm a finalidade precípua de valorização do capital. O que é possível são apenas práticas contraditórias, contra-hegemônicas, como sinal de contradição. As quais dependem das opções políticas da escola e dos profissionais da educação no processo de materialização, de elaboração e execução, do Projeto Político- Pedagógico (PPP) da escola. Então, pergunta a autora se devido a isto “não se possa avançar? ”. Ao que ela responde que sim, “é possível avançar”, mas deve-se partir da realidade concreta visando efetivar práticas possíveis e realizáveis em dado momento. Como se diz, “o futuro se faz agora no presente”, com pequenas, mas certeiras atitudes dos vários sujeitos individuais e coletivos envolvidos neste processo de construção, que é uma forma de luta, para se alcançar a unitariedade como possibilidade de realização histórica de superação da fragmentação. (Idem, p.91) E, por fim, segundo Acácia Kuenzer, existem duas expressões que caracterizam a prática pedagógica dominante, baseada e influenciada pelo capitalismo: a “exclusão includente” e a “inclusão excludente”. Para a autora, A “EXCLUSÃO INCLUDENTE” = acontece na área do mercado de trabalho, por meio de ações que levam à exclusão do trabalhador do trabalho formal, os quais são depois reincluídos na informalidade (sem carteira de trabalho assinada, vendedores ambulantes, motoristas de Vans, motoristas de UBER etc.) ou na submissão e exploração (são readmitidos com salários menores ou via empresas terceirizadas, sem muitos dos seus direitos trabalhistas de antes). A “INCLUSÃO EXCLUDENTE” = acontece no campo pedagógico-escolar, por meio da inclusão de alunos-trabalhadores em cursos de diversas modalidades e níveis, porém sem qualidade para torná-los aptos a atuar no mercado de trabalho. Diante da exigibilidade do mercado trabalhista, esses indivíduos acabam sendo excluídos da cadeia produtiva por não demonstrarem a aptidão técnica necessária para a função. Exemplo disto pode ser destacado os casos dos egressos de cursos de Direito de má qualidade e que por isto não conseguem aprovação nos exames da OAB; professores que não passam em concursos públicos para o magistério em sua área de formação, “a substituição da escolarização básica por cursos aligeirados de formação profissional, que supostamente melhorarão as condições de empregabilidade” etc. (Idem, p. 92-3). Nesta perspectiva, a “exclusão includente” e “inclusão excludente” estão interligadas, pois: imagine que um trabalhador passe pela “exclusão includente”, e deseje melhorar de vida. A primeira opção seria buscar qualificação. Devido à falta de tempo, opta por cursos rápidos e acaba sofrendo “inclusão excludente”. Assim como alguém que inicia sua profissionalização com cursos sem qualidade,passa pelo processo de “inclusão excludente”, e ao se inserir no mercado de trabalho, passa pela “exclusão includente”. Sendo assim, esses dois processos estão totalmente relacionados, através dos processos de inclusão excludente, a educação escolar e não escolar se articula dialeticamente aos processos de exclusão includente existentes no mundo do trabalho. Portanto, é necessário que a educação reestruture suas práticas pedagógicas, de modo a não atender aos interesses do capitalismo dominante opressor, mas atender à formação integral do ser humano, por meio de teorias e práticas emancipatórias, que prepare o educando para a vida trabalhista e social, para um trabalho digno e que se exerça com dignidade e respeito à pessoa humana. A autora ao final retorna ao seu ponto de partida e conclui o texto afirmando a necessidade de se aprofundar o diálogo com a pedagogia socialista como forma de desfazer as ilusões e equívocos de interpretação (...) que tem levado muitos professores, pedagogos e pesquisadores a confundirem esta nova expressão da pedagogia capitalista com a pedagogia emancipatória. Esta vem sendo produzida ao longo da história nos espaços das contradições, mas que só existe como possibilidade, a se objetivar em outro modo de produção, em que se estabeleçam as condições de igualdade, unitariedade e justiça social. (Idem, p. 93-94). ____________________________________________________ TEXTO 15 = CATTANI, Antônio David. “Desigualdades Ampliadas e Alternativas em Construção”– (p.01- 11). a) Aumento das desigualdades históricas e criação de desigualdades inéditas; Profº Antônio Cattani estrutura este texto na ideia de que as desigualdades sócio-econômicas estão aumentando em todos os sentidos e que isso está articulado à expansão contraditória do capitalismo. Não se trata de um processo natural e irreversível. Vários projetos, inclusive capitalistas, procuram impulsionar o sentido das transformações segundo outras lógicas e outras práticas. Entre eles, o que ganha força crescente é aquele vinculado à Economia Solidária. Logo no começo do texto o autor diz que “a riqueza da produção social é apropriada por grupos restritos (...)” em reportagem não tão recente, mas muito pertinente ao momento atual revela que “as 80 pessoas mais ricas do mundo têm mais dinheiro do que 3,5 bilhões de pessoas”. Em entrevista ao Brasil de Fato, Silvia Ribeiro mostra que, ao contrário do que se pensa, a riqueza mundial cresceu 68% nos últimos dez anos, mas apenas 1% da população acumulou 95% da riqueza gerada”. (Disponível em https://www.brasildefato.com.br/node/33182/). Desde seus primórdios, o capitalismo tem uma lógica de funcionamento bem específica: organizar o trabalho humano para produzir mercadorias que serão vendidas por preço superior ao seu custo. A extração de mais-valia é, igualmente, extração de mais-poder. Ao organizar a produção, o capitalista organiza, também, toda a sociedade, subjugando as diferentes lógicas sociais a uma lógica mercantil, produtivista e concorrencial. Para tanto, fazem-se necessários a coerção e o disciplinamento da força de trabalho. Coerção, porque nenhum trabalhador livre aceitaria o fato de trabalhar além do necessário para sua sobrevivência. Disciplinamento, porque nenhum trabalhador livre aceitaria as condições penosas e aviltantes de um trabalho que, como é frequentemente o caso, é destituído de sentido. Com isso, acumular, acumular, sempre e mais; acumular sem limites passa a ser uma lei econômica à qual estão submetidos todos os empresários; acumular riquezas como meio para juntar mais riqueza (HEILBRONER apud CATTANI, Texto 15, p. 01-02). O autor faz um breve apontamento sobre as fases do capitalismo que vão do final do século 19 até o final da primeira guerra mundial. Apresenta a ideia da falsa inclusão no sistema capitalista que reina por décadas, de que trabalhando arduamente, seja como assalariado ou como patrão, era possível ganhar dinheiro, fruir dos resultados do progresso material e, ao mesmo tempo, ascender, na escala social, uma pseudo ideia que valeria para todos. Em seguida trata sobre o subtítulo A Rota do Desastre que a partir dos anos 60, quando o modelo de acumulação intensiva de base taylorista e fordista apresentava sinais de esgotamento, a produção intelectual neoliberal ganha visibilidade e legitimidade desenvolvida por várias instituições conservadoras (Fundações norte-americanas, fundações empresariais, agrupamentos políticos elitistas), como também, a vitória de Margareth Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos alça as diretivas neoliberais para a esfera da ação governamental de duas grandes potências mundiais. Sob todos os aspectos, a economia mundial sob hegemonia norte-americana caminha na rota do desastre. Desastre ecológico, social e mesmo econômico na medida em que a lógica e as práticas dominantes são regressivas, concentradoras do capital produtivo em circuitos restritos, necessitando cada vez mais de trabalho humano precarizado, marcado por múltiplas tarefas, pela flexibilização dos direitos trabalhistas: contrato temporário, trabalho informal, onde as consequências sociais são mais desastrosas no terceiro mundo, e muito especialmente sobre o Brasil. Cattani, na última parte do seu texto sintetiza os três principais projetos como alternativas em construção que, colocando-se em outra sintonia que aquela dominante do livre mercado ou do “capitalismo turbinado”, no contexto brasileiro, tentam conquistar corações e mentes, para a construção de novos modelos de desenvolvimento, são eles: a) o “capitalismo bonzinho”, representado pela classe empresarial que sensibilizados pela expansão da miséria, pelo crescimento da visibilidade de situações envolvendo, por exemplo, crianças abandonadas, idosos e portadores de necessidades especiais, inúmeros representantes das elites econômicas passaram a se envolver com práticas beneméritas e caritativas. Multiplicaram-se rapidamente formas diversificadas de trabalho voluntário, de assistencialismo e de ONGS, por organizações comunitárias e fundações diversas. b) os projetos da “Terceira Via” passam preferencialmente pela esfera pública, seja ela municipal, estadual ou federal, mas o encaminhamento das reformas envolve processos que vão além da delegação de poderes para governantes e legisladores. Inclui-se no jogo político, comissões tripartites, câmaras setoriais, fóruns consultivos e deliberativos, instâncias consultivas do tipo Orçamento Participativo ou instâncias que possam contar com a participação e colaboração de ONGS, sindicatos, associações civis e movimentos sociais. Os seis primeiros meses do Governo Lula são a ilustração desse processo. c) maior defesa do autor da construção das alternativas, onde o mesmo intitula de Economia Solidária onde diferentemente dos dois projetos anteriores, possui múltiplas designações sejam elas de socio-economia solidária, economia do trabalho, novo cooperativismo, empreendimentos econômicos solidários e, ainda, empreendimentos autogestionários que, por sua vez, remetem para um conjunto de conceitos estranhos à economia convencional (cooperação, dádiva, moeda social, redes solidárias, trabalho emancipado e outros). Por fim o autor diz que uma parte essencial no desenvolvimento da Economia Solidária depende da solidez e da aplicação de um novo quadro de valores que substitua os princípios da concorrência e auto-suficiente do capitalismo, pelos de solidariedade e de trabalho coletivo. Da mesma forma, as lógicas que legitimam o caráter predatório do capitalismo devem ser substituídas pelos princípios de sustentabilidade.
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