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PRO-ODONTO/Ortodontia | Porto Alegre | Ciclo 1 | Módulo 3 | 2008 PRO-ODONTO PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM ORTODONTIA ORTODONTIA COORDENADOR-GERAL NORBERTO FRANCISCO LUBIANA DIRETORES ACADÊMICOS DANIELA G. GARIB OMAR GABRIEL DA SILVA FILHO PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 3 19/3/2009 19:58:25 AUTORES Daniela Gamba Garib – Mestre e doutora em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo (USP). Professora associada de Ortodontia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Professora do curso de Ortodontia Preventiva e Interceptiva da Sociedade de Promoção Social do Fissurado Labiopalatal (PROFIS). Professora Visitante da Harvard School of Dental Medicine-Boston, USA. Omar Gabriel da Silva Filho – Ortodontista do Hospital de Reabilitações de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da Universidade de São Paulo (USP). Coordenador do Curso de Aperfeiçoamento em Ortodontia Preventiva e Interceptiva da Sociedade de Promoção Social do Fissurado Labiopalatal (PROFIS) em Bauru, São Paulo. Tulio Silva Lara – Mestre em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP). Professor do Curso de Aperfeiçoamento em Ortodontia Preventiva e Interceptiva na PROFIS. Celeste Hiromi Okada – Especialista em Ortodontia pela PROFIS. Professora do Curso de Aperfeiçoamento em Ortodontia Preventiva e Interceptiva (PROFIS). Flávio Mauro Ferrari Júnior – Especialista em Ortodontia. Professor do Curso de Ortodontia Preventiva e Interceptiva da PROFIS. Mestre em Ciências da Reabilitação – Área de Concentração Fissuras Orofaciais. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 6 19/3/2009 19:58:25 Artmed/Panamericana Editora LTDA. Avenida Jerônimo de Ornelas, 670 – Bairro Santana 90040-340 – Porto Alegre, RS Fone (51) 3025-2550. Fax (51) 3025-2555 E-mail: info@sescad.com.br consultas@sescad.com.br http://www.sescad.com.br Os autores têm realizado todos esforços para localizar e indicar os detentores dos direitos de autor das fontes do material uti- lizado. No entanto, se alguma omissão ocorreu, terão a maior satisfação de, na primeira oportunidade, reparar as falhas ocorridas. A Odontologia é uma ciência em permanente atualização científica. À medida que as novas pesquisas e a experiência ampliam nosso conhecimento, modificações são necessárias nas modalidades terapêuticas e nos tratamen tos. Os autores desta obra verificaram toda a informação com fontes confiáveis para se assegurar de que esta é completa e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de um erro humano ou de mudanças nas ciências odontológicas, nem os autores, nem a Editora ou qualquer outra pessoa envolvida na preparação da publicação deste tra balho garantem que a totalidade da informação aqui contida seja exata ou completa e não se responsabilizam por erros ou omis sões ou por resultados obtidos do uso da informação. Aconselha-se aos leitores confirmá-la com outras fontes. Associação Brasileira de Odontologia Rua Vergueiro, 3.153 – Conjs. 82 e 83 CEP 04101-300 – São Paulo – SP Telefax (11) 5083-4000 E-mail: abonacional@uol.com.br Site: www.abonacional.com.br Estimado leitor É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web e outros), sem permissão expressa da Editora. Os inscritos aprovados na Avaliação de Ciclo do Programa de Atualização em Ortodontia (PRO-ODONTO/Ortodontia) receberão certificado de 180 horas/aula, outorgado pela Associação Brasileira de Odontologia (ABO) e pelo Sistema de Educação em Saúde Continuada a Distância (SESCAD) da Artmed/Panamericana Editora. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 2 19/3/2009 19:58:25 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 9 APInhAmentO: dIAgnóstIcO e tRAtAmentO nA dentAduRA mIstA Omar Gabriel da Silva Filho Daniela Gamba Garib INTRODUÇÃO O apinhamento compreende a irregularidade dos dentes por deficiência de perímetro de arco alveolar. Portanto, refere-se a um problema intra-arco e pode estar presente em condições interarcos distintas, ou seja, nas relações de Classe I, Classe II e Classe III. Pode estar presente, também, em todos os estágios do desenvolvimento da oclusão, desde a dentadura decídua. Entretanto, sua manifestação comum é nas dentaduras mista e permanente, em que alcança 50 e 40% da população, respectivamente. Na dentadura decídua, a manifestação do apinhamento é irrelevante, estando presente em cerca de 10% das crianças. Portanto, o apinhamento ganha importância não só epide- miológica, mas também terapêutica, a partir da dentadura mista, já que não se trata o apinhamento na dentadura decídua. A tônica do presente capítulo é o diagnóstico e o tratamento do apinhamento no estágio de dentadura mista, definindo o apinhamento primário e diferenciando-o em temporário e definitivo. O apinhamento primário temporário irá se corrigir espontaneamente, requerendo apenas acompanhamento longitudinal. Faz parte do desenvolvimento normal da oclusão. O apinha- mento primário definitivo constitui maloclusão e poderá ser tratado com uma mecânica ex- pansionista ou extracionista, dependendo da sua etiologia, se ambiental ou genética. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 9 19/3/2009 19:58:40 10 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA OBJETIVOS Ao final da leitura deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de: definir o apinhamento primário; diferenciar o apinhamento temporário do definitivo; orientar o tratamento do apinhamento, conforme sua especificidade. ESqUEma cONcEITUal cONSIDERaÇÕES SOBRE O DIaGNÓSTIcO OclUSal O ortodontista é, por essência, um morfologista, visto que trabalha com a forma e usa critérios morfológicos para identificar o erro, ou seja, a maloclusão. São dois os critérios morfológicos clínicos de que o ortodontista lança mão para a elaboração de um diagnóstico, a saber: análise oclusal; análise facial. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 10 19/3/2009 19:58:40 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 11 A análise oclusal representa a leitura da oclusão pelos dentes. E, sem dúvida, o primeiro passo é ter em mente as características de normalidade para identificar a maloclusão. Podemos definir a maloclusão como desvios da normalidade em um ou mais sentidos do espaço, com gravidade suficiente para justificar uma correção ortodôntica. A oclusão normal é um emblema para o ortodontista, pois representa a meta terapêutica à qual ele pretende chegar ao transformar uma maloclusão. Quais as características de uma oclusão normal? Em seus primórdios, a ortodontia valorizou os dentes usando a análise oclusal como diagnóstico fundamental. Angle1 protagonizou essa situação baseando-se na análise oclusal para estabelecer a então inédita classificação da oclusão no plano sagital, no final do século XIX, usando a relação de molares para definir o conceito de Classes, cuja nomenclatura (Classe I, Classe II e Classe III) atravessou os tempos e persiste até hoje. O conceito de Classe, surgido no momento mais luminoso da ortodontia, refere-se à relação sagital entre os arcos dentários. Nos dias atuais, a análise oclusal continua merecendo crédito importante no diagnóstico, planejamento e avaliação da evolução da mecânica ortodôntica. Aliás, é mediante a avaliação dos dentes antes e depois do tratamento que a ortodontia revela sua principal vocação, que é movimentar os dentes dentro dos seus respectivos ossos alveolares. A literatura do século XX, mais precisamente do ano de 1972, sintetiza um momento ím- par na análise oclusal, a publicação mais completa e pormenorizada das características de normalidade da oclusão, por Andrews,2 em “As seis chaves da oclusão normal”.A análise oclusal que fazemos no século XXI é mérito desses dois grandes nomes da Ortodontia, Angle e Andrews. A leitura dos dentes na oclusão (análise oclusal) se dá considerando a relação inte- rarcos e a relação intra-arco. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 11 19/3/2009 19:58:40 12 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA Na relação interarcos, algumas características se repetem nos três estágios do desenvolvi- mento da oclusão, dentadura decídua, mista e permanente (Figuras 1, 2 e 3), quando se tem normalidade interarcos. Para haver essa normalidade: o arco dentário inferior deve estar contido no arco dentário superior, sem desvio funcio- nal. Para isso, deve haver compatibilidade na morfologia e nas dimensões transversais entre os dois arcos dentários, o superior e o inferior, sendo o superior proporcionalmente maior que o inferior; a relação sagital entre os arcos dentários deve ser de Classe I. Na dentadura permanente, o diagnóstico da classe baseia-se na chave de pré-molares. Enquanto os pré-molares não alcançam o plano oclusal antes da dentadura permanente, os caninos decíduos são usados como referência para definir a classe; a relação de incisivos deve estabelecer trespasses horizontal e vertical positivos. A D B E C Figura 1 – Características da oclusão normal vislumbradas na dentadura decídua: A e C) relação de Classe I entre os arcos dentários expresso pela relação canino; B) o arco dentário superior abraça todo o arco inferior e, para tanto, D e E) as dimensões transversas do arco superior devem superar as do arco inferior; trespasse horizontal e vertical positivos (A, B, C). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 12 19/3/2009 19:58:41 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 13 Figura 2 – Paciente no primeiro período transitório da dentadura mista, mostrando características de norma- lidade da oclusão. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A classe, relação sagital entre os dentes posteriores, como definido previamente, é uma relação dentária, usando como referência, na dentadura permanente, os pré-molares. O assen- tamento da cúspide vestibular do primeiro pré-molar superior na ameia entre os pré-molares inferiores e o assentamento da cúspide vestibular do segundo pré-molar superior na ameia entre o segundo pré-molar e o primeiro molar inferiores definem a relação sagital de classe I, normal (Figura 3A a 3C). A relação de canino e de molar permanentes passa a ser secundária em relação aos pré-molares. Via de regra, em Classe I, a cúspide distovestibular do primeiro molar superior assenta na ameia entre os molares inferiores, e a ponta de cúspide do canino superior oclui próximo à ameia entre o canino e o primeiro pré-molar inferior. Na relação intra-arco, as características de normalidade associam-se a uma morfologia pa- rabólica dos arcos dentários permanentes, com os dentes superiores e inferiores dispostos alinhadamente no centro do rebordo alveolar (Figuras 3D e 3E). Portanto, em normalidade, os dentes permanentes devem estar alinhados no centro do rebordo alveolar e com pontos de contatos estabelecidos. A morfologia dos arcos dentários muda de circular para parabó- lica na transição da dentadura decídua para a dentadura permanente, com a chegada dos molares permanentes. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 13 19/3/2009 19:58:41 14 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A D B E C Figura 3 – Oclusão normal na dentadura permanente. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. cONSIDERaÇÕES SOBRE O aPINHamENTO Na DENTaDURa PERmaNENTE Estabelecidas as características da oclusão normal, é fácil chegar ao diagnóstico da maloclusão (Figura 4) e, automaticamente, está definida a meta terapêutica a ser alcançada pela mecânica ortodôntica, a oclusão normal. O apinhamento é uma das características de maloclusão que ocorre com freqüên- cia na população e ganha notoriedade nos consultórios de ortodontia dada a sua implicação negativa na estética do sorriso. O apinhamento pode ser definido como a irregularidade dos dentes por deficiência de perímetro de arco alveolar. Portanto, refere-se a um problema intra-arco e pode estar presente em condições interarcos distintas, ou seja, em relações de Classe I, Classe II e Classe III. A Figura 4 ilustra uma maloclusão muito típica, a maloclusão de Classe I, com apinhamento anterior superior e inferior. Nesse caso, o erro se concentra na relação intra-arco. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 14 19/3/2009 19:58:42 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 15 A D B E C Figura 4 – A análise oclusal pode ser realizada clinicamente, na presença do paciente. Mas pode ser apreciada com mais cautela, na ausência do paciente, mediante os modelos de gesso que perpetuam a condição oclusal. A, B e C) A análise oclusal interpreta a posição dos dentes na relação interarcos e D, E) na relação intra-arco. Os presentes modelos revelam uma maloclusão Classe I com apinhamento anterior superior e inferior. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 1. Qual a definição do termo apinhamento em ortodontia? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2. Como é elaborado o diagnóstico oclusal? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 15 19/3/2009 19:58:42 16 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 3. Quais são as diferenças entre as relações interarcos e intra-arco? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 4. Como se apresenta a relação interarcos na normalidade? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 5. Constitui uma característica intra-arco normal na dentadura permanente: A) relação sagital de Classe I. B) trespasse horizontal positivo. C) trespasse vertical positivo. D) alinhamento dentário. Resposta no final do capítulo 6. Qual a conseqüência da irrupção dos molares permanentes para a morfologia dos arcos dentários? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 16 19/3/2009 19:58:42 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 17 Uma vez diagnosticado o apinhamento, a próxima questão refere-se a como reduzi-lo. Não raro, torna-se necessária a redução da massa dentária com a extração ou com o desgaste interproximal de dentes permanentes, na dependência da magnitude da discrepância dente-osso, para correção do apinhamento. A extração ou o desgaste interproximal torna possível compatibilizar a massadentária com o perímetro do arco alveolar. O propósito é a correção da relação intra-arco e ou interarcos, bem como melhora facial, no caso de protrusão dentária com implicação clínica. Quando a correção do apinhamento envolve a redução da massa dentária, considera-se que o apinhamento tem caráter genético. Portanto, denomina-se apinhamento genético. Sem dúvida, os pré-molares constituem os dentes mais extraídos em ortodontia,3 motivo pelo qual fazem parte do que se convencionou chamar de extrações típicas (como observado na Figura 4). Quando o dente selecionado para extração não é o pré-molar, caímos num capítulo da ortodontia conhecido como extrações atípicas. Dentro das extrações atípicas, dentes an- teriores, sobretudo os inferiores,4 bem como os primeiros molares, têm merecido destaque. A finalidade das extrações consiste em devolver a normalidade estática e funcional com longevidade da oclusão, independentemente do dente escolhido. A escolha do dente a ser extraído depende das características morfológicas da maloclusão, da saúde bucal, da preferência profissional e, finalmente, da expectativa que o paciente tem do tratamento. Por constituir quase um imperativo categórico, as extrações típicas em Ortodontia incluem os pré-molares, sobretudo os primeiros (Figura 5). As razões lógicas que fundamentam essa preferência são:5 essas extrações não comprometem a estética do sorriso na finalização; embora os pré-molares sejam dentes do segmento posterior, eles estão próximos do problema. Geralmente, o problema (apinhamento e ou protrusão) localiza-se na região anterior dos arcos dentários; os pré-molares têm dimensão mesiodistal suficiente para zerar a discrepância en- contrada na maloclusão; quando realizada antes da irrupção dos caninos permanentes, num programa de extrações seriadas, a extração de pré-molares favorece o trajeto irruptivo dos ca- ninos, que se movimentam espontaneamente em direção ao alvéolo do pré-molar extraído. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 17 19/3/2009 19:58:43 18 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A D G J B E H K C F I L Figura 5 – A a F) Ilustração do apinhamento de caráter genético na dentadura permanente, evocando extrações típicas e simétricas dos quatro primeiros pré-molares na busca de uma proporção dente-osso adequada. G a L) O espaço das extrações acolhe os caninos que se afirmam no centro do rebordo alveolar. Nos tratamentos com extrações dos primeiros pré-molares, ao final do tratamento, os pontos de contato são estabelecidos entre os caninos e os segundos pré-molares. Fonte: Arquivo de magens dos autores. As extrações em ortodontia podem envolver dentes outros além dos pré-molares, caindo no que se chama de extrações atípicas. No capítulo de extrações atípicas, inclui-se a extração de dentes que não são pré-molares, por exemplo, incisivos inferiores (Figura 6). PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 18 19/3/2009 19:58:44 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 19 A B C D G J E H K F I L Figura 6 – A, D e G) Maloclusão Classe I, com apinhamento importante nos arcos dentário superior e inferior. A magnitude dos apinhamentos conduz o tratamento com redução da massa dentária, mais especificamente, com a extração de quatro dentes, definindo o diagnóstico de apinhamento genético. H, K e L) A condição do arco dentário inferior, com o apinhamento centralizado nos incisivos, induz a extrações atípicas de dois incisivos laterais, em vez de dois pré-molares inferiores. B, C, E, F, I e J) No arco dentário superior, as extrações envolveram os primeiros pré-molares, num planejamento típico. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 19 19/3/2009 19:58:45 20 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 7. Qual é o objetivo da correção ortodôntica? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 8. Como deve ser conduzida a correção do apinhamento de caráter genético? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 9. Quais são as medidas utilizadas para a compatibilização da massa dentária com o perí- metro alveolar? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 10. Qual a finalidade das extrações dentárias em ortodontia? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 20 19/3/2009 19:58:45 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 21 11. Preencha o quadro a seguir especificando os dentes geralmente extraídos: Extrações Dentes extraídos Típicas Atípicas 12. Que critérios fundamentam as escolhas dos dentes nas extrações típicas e atípicas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ A correção do apinhamento genético envolve a redução da massa dentária e a pre- servação da morfologia alveolar, o que implica o problema estar no excesso de massa dentária. Porém, nem todo apinhamento é genético. Isso quer dizer que a redução da massa dentária não constitui a única forma de tratamento do apinhamento. É possível corrigir o apinhamento aumentando o perímetro do arco alveolar. Vamos tratar agora da transgressão das dimensões transversais dos arcos dentários. Quando isso acontece, o apinhamento é considerado de caráter ambiental (Figuras 7 e 8). Portanto, gene- ralizando, temos dois tipos de apinhamento diagnosticados na dentadura permanente: o apinhamento de caráter genético; o apinhamento de caráter ambiental. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 21 19/3/2009 19:58:46 22 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A D B E C F G H I J K L M N O P Q R Figura 7 – Maloclusão Classe I, com apinhamento anterior superior e inferior (A a E), em Padrão I (F e H), com sorriso comprometido pelo apinhamento anterior superior e permitindo aumento das dimensões transversais dos arcos dentários (G). O apinhamento foi corrigido com expansão de ambos os arcos dentário superior (I a R). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 22 19/3/2009 19:58:48 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 23 A D G I L B E H J M C F K N Figura 8 – A a H) A expansão dos arcos dentários conferiu uma nova morfologia com aumento do perímetro e possibilidade de correção do apinhamento sem redução da massa dentária (mecânica transversal expansionista superior e inferior. I e J) A análise facial permite esclarecer que a mecânica transversal não muda a face. K a N) muda apenas o sorriso.Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 23 19/3/2009 19:58:49 24 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 13. Quais são as características do apinhamento de caráter ambiental? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 14. Como é conduzida a correção do apinhamento de caráter ambiental? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ RElaÇÃO INTRa-aRcO Na DENTaDURa DEcÍDUa Com poucas exceções, a característica intra-arco predominante na dentadura decídua é o alinhamento dos dentes no centro do rebordo alveolar, com espaços distribuídos principal- mente entre os dentes anteriores em quantidade e posição variáveis. Esses espaços recebem a designação de espaços fisiológicos ou espaços desenvolvimentais. A rigor, os espaços lo- calizados especificamente na distal dos caninos inferiores e na mesial dos caninos superiores são denominados espaços primatas e retratam os diastemas mais freqüentes na dentadura decídua. Os diastemas decíduos são importantes por constituírem elementos de compensação para o futuro alinhamento espontâneo dos incisivos permanentes no início da dentadura mista (primeiro período transitório da dentadura mista), já que os incisivos permanentes possuem diâmetro mesiodistal maior do que os decíduos correspondentes, totalizando cerca de 7mm no arco dentário superior e 6mm no arco dentário inferior. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 24 19/3/2009 19:58:49 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 25 Embora predominem os diastemas nos arcos dentários decíduos, é possível encontrar ausên- cia de diastemas e até apinhamento (Figura 9). Um levantamento epidemiológico recente demonstrou a presença de apinhamento em cerca de 11% das crianças entre três e seis anos de idade,6 sendo mais freqüente no arco inferior do que no arco superior. A D B E C Figura 9 – As fotografias ilustram uma oclusão na dentadura decídua com D) apinhamento anterior superior e E) inferior. Como o apinhamento não é tratado na dentadura decídua, o diagnóstico fica por conta da relação interarcos (A a C). Por isso, a análise oclusal permite o diagnóstico de oclusão normal, com apinhamento anterior superior e inferior, no estágio de dentadura decídua madura (os 20 dentes decíduos estão em oclusão). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Embora o diagnóstico de apinhamento na dentadura decídua inquiete o orto- dontista por ele saber que essa situação irá se repetir com grande probabilidade na dentadura mista, ao irromperem os incisivos permanentes, convém ressaltar que a conduta coerente é não tratar o apinhamento na dentadura decídua. O apinhamento ganha importância epidemiológica e terapêutica a partir da dentadura mista. Em se tratando de apinhamento, a regra básica é ignorá-lo na dentadura decídua. Parece óbvio postergar o tratamento do apinhamento deflagrado nesse estágio do desenvolvimento da oclusão, quando se estabelece que, na dentadura decídua, estão indicados tratamentos com impacto corretivo imediato e com boa estabilidade pós-tratamento. Essas duas particularidades fogem do apinhamento. Portanto, a regra número um é esta: não se trata o apinhamento na dentadura decídua. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 25 19/3/2009 19:58:50 26 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 15. Qual é a característica intra-arco predominante na dentadura decídua? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 16. Qual a importância dos diastemas decíduos para a dentadura mista? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 17. O que são espaços primatas? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 18. Que conduta deve ser adotada frente ao diagnóstico de apinhamento na dentadura decídua? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 26 19/3/2009 19:58:50 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 27 19. Em que momento deve-se tratar o apinhamento? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ cONSIDERaÇÕES SOBRE O aPINHamENTO Na DENTaDURa mISTa Diferentemente da dentadura decídua, o apinhamento na dentadura mista atinge cerca de 50% das crianças.7 Essa alta incidência estimula o interesse do ortodontista pelo tratamento do apinhamento a partir da dentadura mista. A possibilidade de tratamento do apinhamento na dentadura mista exige do ortodontista uma compreensão ampla de como abordar o problema e de quando iniciar a abordagem terapêutica, ou seja, como e quando tratar. Em termos gerais, pode-se afirmar que o tratamento do apinhamento na dentadura mista reflete o que seria feito na dentadura permanente no futuro. O ortodontista está an- tecipando o tratamento quando o faz na dentadura mista. O modo de tratar está vinculado ao diagnóstico do apinhamento genético ou ambiental.8 Resumindo, na dentadura mista, o ortodontista escolhe entre duas opções de tratamento: Extração de dentes (apinhamento genético); Expansão dos arcos alveolares (apinhamento ambiental). A idade dentária representa um recurso simples, prático e rápido que rende ao ortodontista, no momento do diagnóstico, a noção do estágio de maturação do paciente.9 Interessa ao clínico o estágio do desenvolvimento da oclusão flagrado pelos dentes irrompidos nos arcos dentários. A dentadura mista (Figura 10) estende-se durante seis anos, dividida em três fases bem distintas, início, meio e fim, as quais mereceram na literatura a denominação respectiva de: primeiro período transitório; período intertransitório; segundo período transitório. Cada uma das fases da dentadura mista tem duração média de dois anos. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 27 19/3/2009 19:58:50 28 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A D G J M P S B E H K N Q T C F I L O R Figura 10 – O acompanhamento da irrupção dos dentes permanentes ilustra os três estágios da dentadura mista: primeiro período transitório (A a J); períodointertransitório (K a O), e segundo período transitório (P a R); chegando até a maturidade oclusal, com a irrupção dos segundos molares superiores e inferiores (S e T). A regularização espontânea dos incisivos permanentes superiores e inferiores caracteriza a condição batizada como “apinhamento primário temporário”. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 28 19/3/2009 19:58:52 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 29 Batizado como primeiro período transitório, o início da dentadura mista representa uma fase dinâmica do desenvolvimento da oclusão. Os primeiros molares permanentes irrompem no espaço retromolar, e os incisivos decíduos são substituídos pelos incisivos permanentes10,11 (Figuras 10A a 10J). No final da dentadura mista, no segundo período transitório, os dentes do segmento posterior, canino e pré-molares, substituem os antecessores permanentes (10P a 10R) e os segundos molares irrompem, levando a dentadura permanente ao seu estágio de maturidade oclusal (10S e 10T). A maturidade oclusal é alcançada quando os 28 dentes permanentes alcançam o plano oclusal. Entre esses dois estágios ativos do desenvolvimento da oclusão, primeiro e segundo períodos transitórios, há uma fase intermediária, clinicamente passiva, denominada período inter- transitório. No período intertransitório não há esfoliação de dentes decíduos e tampouco a irrupção de dentes permanentes (10K a 10O). O apinhamento diagnosticado no primeiro período transitório da dentadura mista recebe a denominação de apinhamento primário, enquanto o apinhamento identificado no segundo período transitório da dentadura mista é denominado apinhamento secundário. Portanto, as denominações apinhamento primário e apinhamento secundário dizem respeito ao estágio de manifestação do apinhamento, se no início ou no final da dentadura mista. Na dentadura mista, 50% das crianças manifestam o apinhamento primário,7,12 e esse é um tema de interesse tanto dos odontopediatras como dos ortodontistas. 20. Quanto à incidência do apinhamento, quais são os valores percentuais geralmente ob- servados na dentição das crianças? Valores percentuais Dentadura decídua Dentadura mista PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 29 19/3/2009 19:58:52 30 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 21. Qual é a duração da dentadura mista? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 22. Preencha o quadro caracterizando as diferentes fases da dentadura mista. Fases da dentadura mista Descrição 23. Qual a duração média de cada das fases da dentadura mista? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 24. Qual a diferença entre apinhamento primário e apinhamento secundário? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Muitos profissionais consideram o apinhamento primário uma das irregularidades clínicas mais desafiadoras quanto à definição da época e do modo de tratar o problema. Provavelmen- te, as contradições pessoais, decorrentes da falta de conceitos mais objetivos que norteiem o diagnóstico, contribuem para isso e mostram que as condutas terapêuticas, no ímpeto de buscar o alinhamento precoce dos incisivos, estão longe de serem consensuais. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 30 19/3/2009 19:58:52 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 31 Em sentido lato, o termo apinhamento primário refere-se a toda irregularidade presente na disposição dos incisivos permanentes – rotação e/ou deslocamento ves- tibulolingual – devida à discrepância negativa entre a massa dentária e o perímetro do osso alveolar, diagnosticada na dentadura mista. Esse apinhamento manifesta-se logo no primeiro período transitório, o que justifica a sua designação (apinhamento primário),13 e pode perpetuar-se até a dentadura permanente madura.14 Frente ao apinhamento primário, há que se ter uma visão preditiva do futuro: como os incisivos irão se comportar espontaneamente ao longo do desenvolvimento da oclusão? Dependendo do fim que se tem em vista, a filosofia do curso de Ortodontia da Profis, Bauru, cunhou dois termos para essa irregularidade: apinhamento primário temporário e apinhamento primário definitivo.8 Esses dois termos têm como objetivo delimitar, respectivamente, o caráter de “normalidade” ou “anormalidade” do apinhamento primário no contexto anatômico e temporal da oclusão. O diagnóstico morfológico diferencial entre apinhamento primário temporário e definitivo é um fator indispensável para a determinação da conduta terapêutica adequada, além de ser uma das condições para não se incidir em equívocos. Esse diagnóstico, clínico por excelência, exalta como referência anatômica a posição dos incisivos permanentes em relação à linha do rebordo alveolar e, de certa forma, guarda relação com a magnitude do apinhamento. Quando os incisivos apresentam suaves irregularidades de posição, mas irrompem próximos da linha do rebordo alveolar, estamos diante do apinhamento primário temporário. O nome origina-se do caráter de temporariedade desse tipo de apinhamento, que se autocorrige com o tempo, à medida que os mecanismos de compensação presentes durante o desenvolvimento da oclusão aumentam o perímetro do arco dentário. Existe uma tendência de os incisivos permanentes inferiores irromperem simetricamente inclinados para lingual15 em relação aos seus antecessores e se deslocarem lenta, mas progressivamente, para vestibular durante a irrupção ativa16 (Figuras 10 e 11). Para evitar o sobretratamento, o conceito teórico do apinhamento primário tem- porário deve ser compreendido e aplicado na prática sob a seguinte orientação: em relação ao apinhamento primário, na dúvida, não faça nada. Em síntese, faça um exercício de tolerância com as irregularidades dos incisivos permanentes na dentadura mista. O apinhamento primário temporário faz parte do desenvolvimento normal da oclusão, e sua ocorrência justifica-se pelo fato de que a soma dos diâmetros mésio-distais dos incisivos per- manentes é maior do que a de seus predecessores decíduos, havendo uma diferença média de 7mm no arco dentário superior e de 6mm no arco dentário inferior.17 Esse espaço requerido para o alinhamento dos incisivos permanentes nem sempre vai estar disponível prontamente. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 31 19/3/2009 19:58:52 32 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA O espaço vai ser obtido gradualmente, como bem documentado nas Figuras 10 e 11, a partir da irrupção dos incisivos permanentes. A D G J M B E H K N C F I L O Figura 11 – A regularização espontânea dos incisivos permanentes irrompidos originalmente por lingual carac- teriza o “apinhamento primário temporário” (A a H). A ausência do apinhamento primário definitivo de certa forma garante o espaço para a irrupção dos dentes do segmento posterior (pré-molares e caninos permanentes) durante o segundo período transitório da dentadura mista (I). Significa dizer que a ausência do apinhamento primário antevê ausência de apinhamento secundário.Na dentadura permanente madura, a irregularidade dos incisivos não sofre autocorreção (J a O). A autocorreção (apinhamento primário temporário) tem possibilidade de ocorrer durante a dentadura mista. Na dentadura permanente, a característica do apinhamento é agravar- se com o avançar da idade. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A mudança notória, facilmente discernível, na disposição dos incisivos permanentes superiores e inferiores, simboliza o apinhamento primário temporário como autocorrigível. A correção PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 32 19/3/2009 19:58:54 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 33 espontânea da irregularidade dos incisivos, ilustrada nas Figuras 10 e 11, serve como argu- mento definitivo de que nenhuma conduta terapêutica teria feito tanto pelo alinhamento espontâneo dos incisivos quanto os mecanismos de compensação do desenvolvimento da oclusão. É sobre essa possibilidade de alinhamento espontâneo que os odontopediatras e ortodontistas devem pautar sua conduta clínica. O processo de autocorreção do apinhamento primário temporário não tem nada de metafí- sico. Ele se explica mediante os recursos naturais chamados mecanismos de compensação da oclusão. No primeiro período transitório, esses mecanismos de compensação incluem, por ordem de importância, o aumento da distância intercaninos e a maior vestibularização dos incisivos permanentes. 25. Por que definir a época de tratar o apinhamento primário é considerado um desafio? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 26. Como se identifica a maturidade oclusal? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 27. Qual é a definição de apinhamento primário? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 33 19/3/2009 19:58:54 34 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 28. Qual a diferença entre apinhamento primário temporário e apinhamento primário defi- nitivo? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Reflita sobre a seguinte afirmação e responda às perguntas 29 e 30: “Frente ao apinhamento primário, há que se ter uma visão preditiva do futuro”. 29. Como deve ser conduzido o diagnóstico? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 30. Como deve ser a conduta terapêutica? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ alTERaÇÕES TRaNSVERSaIS DOS aRcOS DENTÁRIOS – DISTâNcIa INTERcaNINOS O comportamento transversal dos arcos dentários durante o desenvolvimento da oclusão inspirou ortodontistas e odontopediatras, lançando mão de metodologias transversais e lon- gitudinais, a realizar inúmeros estudos nas últimas décadas.18-38 As conclusões numéricas dos trabalhos longitudinais referentes ao aumento da largura intercaninos estão compiladas no Quadro 1. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 34 19/3/2009 19:58:54 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 35 Quadro 1 DADOS EXISTENTES NA LITERATURA ACERCA DO COMPORTAMENTO DA DISTÂNCIA INTERCANINOS EM ESTUDOS LONGITUDINAIS Autor Ano Período (Idade) Aumento 3-3 (mm) Superior Inferior Lewis e Lehman27 1929 2 - 8,5 anos 5,3 2,5 Chapman21 1935 5 - 8 anos - 1,5 a 2 Cohen23 1940 3 - 13 anos 5,2 3,2 Woods38 1950 3 - 15 anos 8,14 0,73 Clinch22 1951 Irrupção inc. inf. 2,85 2,6 Sillman34 1951 0 -12 anos 7,5 - 12,2 2,6 - 10 Burson20 1952 5 - 13 anos - 3,5 Barrow e White18 1952 Dentadura decídua e permanente 4 3 Moorrees28 1958 2 - 18 anos 5 3 Sillman35 1964 0 - 25 anos 9,5 8 Moorrees e Reed30 1965 Dentadura decídua e permanente 4,8 3 Knott25 1972 Dentadura decídua e permanente 4,8 3,2 Berg19 1986 6 - 12 anos 4,8 2,8 Rossato e Martins33 1994 Dentadura decídua e permanente - 2,84 O mais clássico e completo da literatura, o estudo longitudinal de Moorrees,28-30 abran- gendo a faixa etária de três a dezoito anos, mostra um aumento médio da distância intercaninos superiores de 5mm e intercaninos inferiores de 3mm. Esse aumento coinci- de com a época de irrupção dos incisivos permanentes (primeiro período transitório da dentadura mista). Tudo indica, e isso fica claro pelas Figuras 10, 11 12 e 13, que refletem a explicação para o alinhamento espontâneo dos incisivos permanentes. Na passagem do primeiro período transitório para o período intertransitório da dentadura mista, a presença física dos incisivos permanentes irrompendo próximos ao rebordo alveolar funciona como matriz funcional Isso estimula o aumento na largura anterior do arco dentário, representado pela distância intercaninos. A literatura relata um maior aumento na distância intercaninos em arcos sem PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 35 19/3/2009 19:58:54 36 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA diastemas na dentadura decídua em relação aos arcos diastemados, pois, no primeiro, a demanda de espaço para o alinhamento dos incisivos permanentes é maior.19,33 Figura 12 – A curva ilustra o aumento na distância intercaninos, ocorrida no arco superior, durante a dentadura mista no paciente ilustrado na Figura 11. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Figura 13 – Aumento na distância intercaninos no arco inferior referente ao paciente da Figura 11. Esse aumento dimensional no arco dentário representa a principal explicação para o caráter temporário do apinhamento. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 36 19/3/2009 19:58:54 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 37 31. Qual o principal responsável pela correção do apinhamento no caso clínico ilustrado na Figura 11? A) Aumento transversal na região anterior do arco dentário. B) Desgastes interproximais dos incisivos. C) Desgastes dos caninos decíduos. D) Extrações de dentes decíduos. Resposta no final do capítulo alTERaÇÕES SaGITaIS DOS aRcOS DENTÁRIOS Outro mecanismo de compensação natural da oclusão, que contribui decisivamente para o aumento do perímetro do arco dentário no primeiro período transitório da dentadura mista, consiste na maior inclinação vestibular dos incisivos permanentes, em torno de 9° de diferença para os incisivos inferiores33 quando comparados com seus antecessores decíduos. O apinhamento primário temporário beneficia-se, portanto, do aumento na largura intercaninos Figuras 12 e 13 e da maior inclinaçãovestibular dos incisivos permanentes. aPINHamENTO PRImÁRIO TEmPORÁRIO – O cÓDIGO PaRa NÃO TRaTaR A conduta clínica coerente para o apinhamento primário temporário resume-se ao acompanhamento clínico periódico, como demonstrado nas Figuras 10 e 11. Essa abordagem tem sido aventada na literatura.39-41 Com base nos comentários supracitados, o adjetivo “temporário” acrescentado ao apinha- mento primário denota correção espontânea ao longo da dentadura mista. Nessas circunstân- cias, intervenções terapêuticas para correção do apinhamento, como desgaste interproximal ou extração de caninos decíduos, interferem negativamente no potencial de alinhamento espontâneo dos incisivos permanentes associado às alterações dimensionais naturais do arco dentário. Por outro lado, a expansão dos arcos dentários com mecânica ortodôntica constitui sobretratamento, visto que desnecessária. PRO-ODONTO | ORTODONTIA | SESCAD 125 Figura 11 – Palpação da porção superior do músculo trapézio. Fonte: Arquivo de imagens dos autores A palpação muscular deve ser realizada bilateralmente, com a ponta dos dedos ou pelo pinçamento dos músculos, quando nenhum suporte ósseo está presente. O paciente deve estar sentado, de frente para o examinador, a fi m de possibilitar a observação de suas reações, ainda deve estar em posição relaxada, com os dentes suavemente afastados. Da mesma forma que a ATM, a palpação dos músculos também é graduada, de acordo com a resposta do paciente de 0 a 3.60 Nessa etapa do exame, procura-se detectar a presença de pontos-gatilho nas estruturas miofasciais. Se, durante a palpação de um determinado músculo, bilateral e simultâneo, o paciente apresentar uma reação de dor severa, com reação de refl exo palpebral, deve-se manter a palpação por 8 a 10 segundos e questionar ao paciente se além do local que está sendo palpado, o mesmo sente dor em outro local. Desse modo, tenta-se reproduzir zonas de dor referida que, uma vez confi rmadas, sugerem um diagnóstico de dores miofasciais. Nos casos de dores miofasciais, indica-se terapia específi ca, que pode envolver fi sio- terapia, infi ltrações e farmacoterapia. 6.1.1. Avaliação dentária e oclusal 6.1.1.1. Exame dentário PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 37 19/3/2009 19:58:56 38 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA aPINHamENTO PRImÁRIO DEFINITIVO – aBORDaGENS TERaPÊUTIcaS POSSÍVEIS O apinhamento primário temporário caracteriza-se por uma sucessão de mudanças na posição dos incisivos permanentes e nas dimensões dos arcos dentários que culminam com o alinhamen- to espontâneo dos incisivos permanentes. A denominação faz jus à condição de normalidade. A aceitação do conceito de apinhamento temporário é essencial para qualquer profissional que lide com a dentadura mista, em especial o ortodontista, para evitar o sobretratamento. O apinhamento primário com trajetória compatível com o conceito de temporário exige apenas acompanhamento e é o menos freqüente na prática diária. Na maioria das vezes, o apinhamento primário expressa-se como definitivo (Figuras 14 a 17), o que significa que se comporta como maloclusão, ou seja, não se autocorrige. Nes- sas circunstâncias, seria negligência deixar de tratá-lo. Cabe ao profissional intervir apenas no apinhamento considerado definitivo. Figura 14 – A discrepância real entre a massa dentária e o perímetro do rebor- do alveolar define o “apinhamento primário definitivo genético” (A, B e F) e estabelece a extração de dentes (redução de massa dentária) para correção do apinhamento primário como forma de tratamento. A extração dos caninos de- cíduos (C, D, G, H) constitui a primeira fase do programa de extrações seriadas e tem a intenção de permitir o alinhamento dos incisivos permanentes (E, I, J). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A D G J B E H C F I PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 38 19/3/2009 19:58:57 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 39 Figura 15 – As fotografias oclusais ilustram uma maloclusão Classe I, com “apinhamento primário definitivo genético”. O apinhamento foi tratado com um programa de extrações seriadas completo, envolvendo inicialmen- te a extração de dentes decíduos e finalizando com a extração dos quatro primeiros pré-molares. O programa de extrações seriadas foi planejado sem mecânica ortodôntica coadjuvante. A proposta é finalizar a relação intra-arco e interarcos com a ortodontia corretiva aplicada na dentadura permanente madura. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 39 19/3/2009 19:59:00 40 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A B C D Figura 16 – Um programa de extrações seriadas está indicado preferencialmente em maloclusões sem erro esque- lético sagital, portanto, em maloclusões Classe I, em Padrão I. As fotografias faciais do caso clínico apresentado na Figura 15 (A e B) demonstram face normal, tanto na vista frontal como sagital, conferindo o diagnóstico de Padrão I. A telerradiografia lateral (C e D) confirma a ausência de discrepância esquelética e mostra que os incisivos superiores e inferiores encontram-se bem posicionados em suas respectivas bases apicais. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A E I M B F J N C G K O D H L Figura 17 – A condição oclusal reconhecida como “apinhamento primário isolado na maxila”, com o arco dentário inferior como referência de normalidade (A a E), denuncia o diagnóstico de apinhamento primário definitivo ambiental. O apinhamento isolado na maxila e a mordida cruzada posterior, juntos, caracterizam a natureza transversal da maloclusão e justificam o aumento do perímetro do arco dentário às custas da mecâ- nica transversal ortopédica promovida pelo aparelho expansor fixo tipo Haas (F e G). O aumento do perímetro do arco dentário superior cria o espaço suficiente para o alinhamento do dente 22 (H). A relação intra-arco e interarcos foi corrigida na dentadura mista com a mecânica transversal ortopédica superior (I e J). Na ma- turidade oclusal, após a irrupção dos segundos molares, há indicação para finalização do tratamento com a ortodontia corretiva (K a O). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 40 19/3/2009 19:59:01 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 41 O que diferencia o apinhamento primário temporário (autocorreção) do definitivo (maloclu- são)? A diferença está relacionada principalmente à magnitude do apinhamento. Quanto maior a quantidade de apinhamento, maior a chance de o apinhamento ser definitivo. É possível considerar algumas particularidades para o diagnóstico do apinhamento primário definitivo, a saber: presença de rotações nos incisivos permanentes; irrupção dos incisivos permanentes completamente fora do rebordo alveolar, geralmente por lingual, sem, contudo, haver espaço disponível para seu alinhamento na linha do rebordo alveolar; irrupção dos incisivos na linha do rebordo alveolar, porém à custa da esfoliação de outro dente decíduo, além dos respectivos antecessores, por exemplo, a esfoliação precoce do canino decíduo estimulado pela irrupção do incisivo lateral permanente adjacente. Diferentemente do apinhamento primário temporário, o apinhamento primário definitivo constitui maloclusão e, como tal, pode ser tratado precocemente (Figuras 14 a 17). A conduta terapêutica dependerá da etiologia do apinhamento, se genético ou ambiental. O apinhamento é dito genético quando a discrepância dente-osso negativa é real, de- terminada por dimensões dentárias incompatíveis com as dimensões do arco alveolar, arco esse com morfologia e dimensões normais. O apinhamento genético manifesta-se em ambos os arcos dentários simultanea- mente. Portanto, o apinhamento primário definitivo genético exige uma abordagemterapêutica simples e lógica: redução da massa dentária mediante aplicação de um programa de extrações seriadas5 (Figuras 14, 15 e 16). Um programa de extrações seriadas nada mais é do que a antecipação da correção do apinhamento genético na dentadura mista. Os dentes são extraídos ao longo da dentadura mista, primeiro os decíduos e depois os permanentes, em épocas estratégicas durante o pri- meiro período transitório e o segundo período transitório da dentadura mista, respectivamente, como exemplificado nas Figuras 14 e 15. O apinhamento primário ambiental é atribuído à discrepância entre a massa dentária e a morfologia do arco alveolar. Está presente em arcos dentários atrésicos, com dimensões transversais reduzidas, que necessitam de expansão. PRO-ODONTO | ORTODONTIA | SESCAD 71 Tabela 1 PREVALÊNCIA DE AGENESIAS DENTÁRIAS E INCISIVO LATERAL SUPERIOR CONÓIDE EM PACIENTES COM TRANSPOSIÇÃO ENTRE INCISIVO LATERAL E CANINO PERMANENTES INFERIORES (N=60), COMPARADO COM A PREVALÊNCIA DA POPULAÇÃO EM GERAL Fonte: Peck S, Peck L, Kataja M. Mandibular lateral incisor-canine transposition, concomitant dental anomalies, and genetic control. Angle Orthod 1998;68(5):455-6618. Anomalias dentárias Prevalência em pacientes com transposição entre incisivo lateral e canino inferiores Prevalência normal Agenesia dentária (incluindo terceiros molares) 40% 25% Agenesia de terceiros molares 37% 21% Agenesia dentária (excluindo terceiros molares) 12% 5% Agenesia de segundos pré-molares 8% 2% Agenesia de incisivos laterais superiores 2% 2% Incisivo lateral conóide 10% 2% Na dentadura permanente, o tratamento da transposição entre incisivo lateral e canino inferior resume-se no alinhamento, mantendo a posição permutada desses dentes no arco dentário.18 Duas razões justifi cam essa abordagem terapêutica. A primeira delas é o paralelismo radicular dos dentes envolvidos na transposição, observado após o estágio de dentadura mista.18 Outra característica morfológica local que invalida a tentativa de reverter a ordem dentária diz respeito à quantidade de osso disponível na mandíbula no sentido vestibulolingual. [tratamento] Quando a transposição é diagnosticada mais precocemente, ainda na dentadura mista, o tratamento interceptor bem conduzido pode prevenir a determinação efetiva da trans- posição. No estágio que precede a irrupção do canino inferior, somente a coroa do incisivo lateral mostra-se em posição ectópica, enquanto o ápice mantém sua posição normal.18,43 Nessa fase, a verticalização do incisivo lateral inferior, mediante mecânica com aparelho fi xo parcial, ou nivelamento 4x2, evita a ocorrência da transposição com a irrupção dos caninos inferiores (Figura 8).43 PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 41 19/3/2009 19:59:02 42 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 32. Qual a importância de uma maior inclinação vestibular dos dentes incisivos permanentes? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 33. Como evitar o sobretratamento no caso de apinhamento primário temporário? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 34. Quais as particularidades a considerar no diagnóstico do apinhamento primário definitivo? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 35. Que fatores determinam a conduta terapêutica no apinhamento primário definitivo? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 36. Qual a conduta terapêutica indicada para o apinhamento genético? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 42 19/3/2009 19:59:02 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 43 37. Com relação ao apinhamento definitivo ambiental, assinale a alternativa INCORRETA. A) Refere-se à discrepância entre a massa dentária e a morfologia do arco alveolar. B) Geralmente é tratado reduzindo-se a massa dentária mediante extrações de dentes decíduos e permanentes. C) Está presente em arcos atrésicos. D) Pode manifestar-se isoladamente no arco superior. Resposta no final do capítulo 38. Sobre o caso clínico ilustrado na Figuras 15 e 16, é correto afirmar que: A) o paciente apresentava inicialmente uma maloclusão de Classe I com apinhamento definitivo ambiental. B) a magnitude do apinhamento remetia ao diagnóstico inicial de apinhamento primário temporário. C) o tratamento envolveu somente extrações de dentes decíduos. D) o tratamento envolveu, primeiramente, a extração de dentes decíduos para solucio- nar o apinhamento primário e, num estágio mais tardio, dentes permanentes foram extraídos, evitando-se o apinhamento secundário. Resposta no final do capítulo O apinhamento ambiental pode manifestar-se somente no arco dentário superior, condição chamada de apinhamento primário isolado na maxila (Figura 17). Nesse caso, o diagnóstico é muito categórico, visto que o apinhamento isolado na maxila acontece em duas condições distintas: associado à mordida cruzada posterior; ou associado à maloclusão de Classe II com deficiência mandibular. Em ambos os casos, associado à mordida cruzada posterior ou à maloclusão de Classe II com deficiência mandibular, o tratamento está voltado para a regulari- zação da forma do arco dentário superior, visto que o arco dentário inferior funciona como referência de normalidade, privilegiando uma mecânica transversal de expansão ortopédica.42 O aumento do perímetro do arco dentário superior graças à disjunção maxilar garante o espaço para o alinhamento dos incisivos permanentes (Figura 17). 43 O apinhamento primário definitivo ambiental também pode manifestar-se em ambos os arcos dentários. Nesse caso, a diferença entre o apinhamento genético e o ambiental está na atresia dos arcos dentários, que ocorre no apinhamento ambiental, exigindo a expansão de ambos os arcos dentários para a correção do apinhamento primário (Figura 18 e 19). PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 43 19/3/2009 19:59:02 44 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA A D G J M T P B E H K N U Q C F I L O R S Figura 18 – A imagem da radiografia panorâmica (A e B) sugere que a irrupção dos incisivos laterais perma- nentes superiores e inferiores está dificultada pela falta de perímetro nos arcos alveolares correspondentes. O diagnóstico oclusal confirma tal suspeita, uma oclusão Classe I com deficiência de perímetro para irrupção plena dos incisivos laterais (C a L). O apinhamento primário diagnosticado em ambos os arcos dentários advémda forma atrésica do rebordo alveolar, o que lhe confere a designação de “apinhamento primário definitivo ambiental”. Diferentemente do apinhamento primário genético, o tratamento prevê a expansão das larguras de ambos os arcos dentários: no arco dentário superior, com o aparelho expansor fixo tipo Haas (M). No arco dentário inferior, com a PLA aberta (N). A imagem radiográfica após a expansão superior e inferior confirma a irrupção dos dentes 12, 22, 32 e 42 (O e P). A análise oclusal mostra a relação intra-arco perfeita para a massa dentária presente (Q a U). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 44 19/3/2009 19:59:03 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 45 Figura 19 – Nessa maloclusão Classe I, o apinhamento primário presente em ambos os arcos dentários advém da forma atrésica do rebordo alveo- lar, o que lhe confere a designação de “apinhamento primário definitivo ambiental”. Os arcos dentários superior e inferior pedem expansão. Diferentemente do “apinhamento primário genético”, o tratamento amplia as larguras de ambos os arcos dentários. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A D G J M B E H K C F I L A expansão do arco dentário inferior é conseguida com a placa lábio-ativa (PLA) (Figura 20) aberta cerca de 5mm e adaptada nos segundos molares decíduos. A PLA é a mesma aplicada na dentadura permanente, com uma exceção: na dentadura mista, a PLA é adaptada aos segundos molares decíduos, enquanto na dentadura permanente, o dente de ancoragem é o primeiro molar permanente (Figura 21). A força da PLA aberta é transmitida aos demais dentes posteriores, caninos e molares decíduos e permanentes, por meio de uma barra de conexão lingual soldada na banda dos segundos molares decíduos (Figura 22). PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 45 19/3/2009 19:59:05 46 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA Figura 20 – A expansão do arco dentário inferior é conseguida com a PLA aberta. Na dentadura permanente a PLA é adaptada nos primeiros molares permanentes inferiores (A a D). A quantidade de ativação transversal da PLA aproxima-se de 5mm. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A B C D Figura 21 – O efeito da PLA aberta é puramente orto- dôntico – ela inclina a coroa dos dentes para vestibular. A força liberada contra os primeiros molares induz a inclinação vestibular desses dentes, com o centro de rotação na região da raiz, próxima à trifurcação. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 46 19/3/2009 19:59:05 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 47 A D G B E H C F I Figura 22 – Na dentadura mista, a PLA aberta é instalada nos segundos molares decíduos, por motivo de facilidade operacional e de eficiência mecânica. A) A bandagem dos segundos molares decíduos segue os mes- mos passos e a mesma banda dos primeiros molares permanentes, iniciando-se pela separação dos pontos de contato. Depois da bandagem, é obtida uma cópia de gesso com as bandas em posição (B) para confecção das barras de conexão soldadas nas bandas dos segundos molares decíduos (C). As bandas, com suas respectivas barras de conexão, são cimentadas nos segundos molares decíduos (D a F). Com as barras de conexão, a força liberada pela PLA aberta é transmitida a todos os dentes posteriores (G a I). Fonte: Arquivo de imagens dos autores. 39. É verdadeiro afirmar que o apinhamento primário definitivo ambiental pode manifestar-se somente no arco dentário superior? Justifique sua resposta. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 47 19/3/2009 19:59:06 48 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 40. Quando o apinhamento primário definitivo ambiental se manifesta em ambos os arcos dentários, o que estabelece a diferença em relação ao apinhamento primário definitivo genético? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 41. A placa lábio-ativa, ilustrada na figura 20: A) representa um aparelho ortopédico. B) pode ser utilizada no arco inferior para promover expansão dentoalveolar e correção do apinhamento definitivo ambiental. C) é utilizada em pacientes com apinhamento primário temporário. D) está indicada somente na dentadura permanente para promover expansão. Resposta no final do capítulo 42. Sobre o apinhamento primário definitivo, assinale a alternativa INCORRETA. A) Diferencia-se do apinhamento primário temporário principalmente pela magnitude do apinhamento. B) Constitui maloclusão. C) Pode apresentar origem genética ou ambiental. D) Deve ser tratado com extrações. Resposta no final do capítulo 43. Quando o apinhamento definitivo ambiental manifesta-se em ambos os arcos dentários, a seguinte conduta terapêutica é indicada: A) expansão ortopédica da maxila e expansão dentoalveolar do arco inferior. B) expansão dentoalveolar superior e inferior. C) expansão ortopédica no arco superior e inferior. D) programa de extrações seriadas. Resposta no final do capítulo PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 48 19/3/2009 19:59:06 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 49 Paciente de oito anos de idade, no período intertransitório da dentadura mista, que procurou tratamento ortodôntico porque se incomodava com o apinhamento dos inci- sivos superiores. caSO clÍNIcO Figura 23 – Paciente de oito anos, no período intertransitório da dentadura mista, com o apinhamento dos incisivos superiores. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. A D H L P E I M Q F J N R K O B C G PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 49 19/3/2009 19:59:08 50 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA 44. De acordo com o que foi visto neste capítulo e na Figura 23, qual o seu diagnóstico para o caso? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 45. Com base no provável diagnóstico, qual o tratamento indicado? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Na análise facial, o paciente não mostrava nenhum sinal de discrepância esquelética sagital ou vertical (A, B e C). Apresentava maloclusão de Classe I, com mordida cruzada posterior e apinhamento primário isolado na maxila (D a H). O apinhamento superior mostrava-se mo- derado e foi diagnosticado como definitivo. É interessante notar que o arco dentário superior detinha um contorno triangular e atrésico (G). Essa característica, aliada à presença do apinhamento de forma isolada na maxila, remeteu ao diagnóstico de apinhamento definitivo ambiental. O apinhamento primário ambiental beneficia-se da expansão rápida da maxila (I e L), que, ao promover a abertura da sutura intermaxilar, corrige a atresia do arco dentário superior ao mesmo tempo em queaumenta o perímetro do arco dentário. O ganho real de massa óssea durante a expansão proveu o espaço necessário para o alinhamento dos incisivos, viabilizado por meio do nivelamento 4x2 (M a S). PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 50 19/3/2009 19:59:08 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 51 46. Qual a origem do apinhamento no caso clínico ilustrado na Figura 23? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Resposta no final do capítulo cONclUSÃO O presente capítulo concentra-se principalmente na dentadura mista, abordando o diagnóstico e o tratamento precoces do apinhamento primário, embora discorra rapidamente sobre o apinhamento na dentadura permanente. A filosofia exposta aqui ignora o apinhamento na dentadura decídua, amparada na estatística disponível de que há apenas 10% de crianças com apinhamento nesse estágio do desenvolvimento. Essa filosofia tampouco leva em consi- deração a presença ou a ausência de diastemas na dentadura decídua. Embora o diastema na dentadura decídua possa favorecer o alinhamento dos incisivos permanentes, a futura relação dente-osso no arco dentário permanente não pode ser prenunciada a partir da dentadura decídua. A relação intra-arco na dentadura permanente só é definida com previsibilidade a partir da irrupção dos incisivos permanentes, sobretudo os inferiores. Portanto, o diagnóstico e as condutas terapêuticas viáveis para o apinhamento iniciam-se na dentadura mista, com a irrupção dos incisivos permanentes. O enfoque fundamenta-se, portanto, no empenho de abordar corretamente o apinhamento ao longo da dentadura mista. Merece ser ressaltado o novo paradigma: não tratar o que se denomina apinha- mento primário temporário, com base na hipótese de que os mecanismos de compensação ao longo do desenvolvimento da dentadura mista irão se incumbir da autocorreção. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 51 19/3/2009 19:59:08 52 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA O tratamento do apinhamento primário definitivo, considerado maloclusão, envolve duas condutas antagônicas: um programa de extrações seriadas, no caso do apinhamento considerado gené- tico; a expansão dos arcos dentários, se o apinhamento for considerado ambiental. Resumindo, o apinhamento a ser tratado na dentadura mista é denominado apinhamento definitivo genético ou apinhamento definitivo ambiental. RESPOSTaS àS aTIVIDaDES E cOmENTÁRIOS Atividade 5 Resposta: D Comentário: As características intra-arco da oclusão normal na dentadura permanente são representadas pelo alinhamento dentário com pontos de contatos fechados entre os dentes. Apesar das alternativas A, B e C representarem características da oclusão normal, elas dizem respeito à relação interarco. Atividade 31 Resposta: A Comentário: A dissolução do apinhamento neste caso ocorreu de forma natural e espontânea, principalmente devido ao aumento na distância intercaninos. Atividade 37 Resposta: B Comentário: O apinhamento primário ambiental é atribuído à discrepância entre a massa dentária e a morfologia do arco alveolar. Está presente em arcos dentários atrésicos, com dimensões transversais reduzidas, que necessitam de expansão. Portanto, a redução da massa dentária mediante um programa de extrações seriadas não constitui a modalidade ideal de tratamento neste caso. Atividade 38 Resposta: D Comentário: Esse caso ilustra o clássico programa de extrações seriadas aplicado a um pa- ciente com apinhamento definitivo genético. No programa de extrações seriadas, os dentes são extraídos ao longo da dentadura mista, primeiro os decíduos, depois os permanentes, em épocas estratégicas durante o primeiro período transitório e o segundo período transitório da dentadura mista, respectivamente. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 52 19/3/2009 19:59:09 PRO-OdOntO | ORtOdOntIA | sescAd 53 Atividade 41 Resposta: B Comentário: O apinhamento definitivo ambiental que se manifesta nos arcos superior e inferior é tratado com expansão ortopédica da maxila e expansão lenta do arco dentário inferior. A expansão do arco dentário inferior é obtida com a PLA aberta cerca de 5mm e adaptada nos segundos molares decíduos. A PLA é a mesma aplicada na dentadura permanente, com uma exceção: na dentadura mista, a PLA é adaptada aos segundos molares decíduos, enquanto na dentadura permanente o dente de ancoragem é o primeiro molar permanente. A força da PLA aberta é transmitida aos demais dentes posteriores, caninos e molares decíduos e permanentes por meio de uma barra de conexão lingual soldada na banda dos segundos molares decíduos. Atividade 42 Resposta: D Comentário: Diferentemente do apinhamento primário temporário, o apinhamento primário definitivo constitui maloclusão e, como tal, pode ser tratado precocemente. Porém, a conduta terapêutica subordina-se à etiologia do apinhamento, se genético ou ambiental. O apinhamen- to definitivo de caráter genético deve ser tratado com extrações, enquanto o apinhamento definitivo ambiental deve ser tratado com mecânicas expansionistas. Atividade 43 Resposta: A Comentário: O apinhamento definitivo ambiental é tratado durante a dentadura mista, com expansão rápida da maxila e expansão lenta no arco inferior. Na maxila, a presença da sutura palatina mediana favorece uma mecânica ortopédica. A mandíbula, por constituir um osso ímpar, não permite incremento transversal ortopédico. No arco inferior, a expansão é obtida à custa de inclinação dos dentes posteriores para vestibular. Atividade 46 Resposta: A origem é ambiental, ou seja, deficiência transversal do arco dentário superior. REFERÊNcIaS Angle EH. Treatment of malocclusion of the teeth: Angle´s system. 7 ed. Philadelphia: White 1. Dental Manufacturing Co.; 1907. Andrews L2. F. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod. 1972 Sep;62(3):296-309. Proffit W3. R. Forty-year review of extraction frequencies at a university orthodontic clinic. Angle Orthod. 1994;64(6):407-14. PRO-ODONTO Orto c1m3 - 08.indd 53 19/3/2009 19:59:09 54 ApinhAmento: DiAgnóstico e trAtAmento nA DentADurA mistA Silva Filho OG, Zinsly SR, Cavassan AO, Capelozza Filho L. Apinhamento: a extração no seg-4. mento de incisivos inferiores como opção de tratamento. Rev Clín Ortod Dental Press. 2002; 1(2):29-45. Silva Filho OG, Ozawa TO, Almeida AM, Freitas PZ. Programa de extrações seriadas: uma visão 5. ortodôntica contemporânea. 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