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ORTODONTIA INTERCEPTIVA - PROTOCOLO DE TRATAMENTO EM DUAS FASES - OMAR GABRIEL

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Ortodontia 
interceptiva 
Protocolo de tratamento 
em duas fases 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Daniela Gamba Garib 
Tulio Silva Lara 
Organizadores 
P967 Ortodontla lnterceptlva !recurso eletrônico) : protocolo de 
tratamento em duas fases/ Organizadores, Omar Gabriel 
da Silva Fllho, Daniela Gamba Garib, Tulio Silva Lara.-
Dados eletrônicos. - São Paulo : Artes Médicas, 2013. 
Editado também como livro impresso em 2013. 
ISBN 978·85·367-0178·3 
1. Odontologia - Ortodontia lnterceptiva. 1. Silva Filho, 
Omar Gabriel da. li. Garlb, Daniela Gamba. Ili. Lara, Tulio 
Silva. 
CDU 616.314·089.23 
Catalogação na publicação: Natascha Helena Franz Hoppen - CRB 10/2150 
Ortodontia 
interceptiva 
Protocolo de tratamento 
em duas fases 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Daniela Gamba Garib 
Tulio Silva Lara 
Organizadores 
Versão impressa 
desta obra: 2013 
•• artes médicas 
2013 
© Editora Artes Médicas Ltda., 2013 
Diretor editorial: Milton Hecht 
Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima 
Coordenadora editorial: Julíana Lopes Bernardino 
Assistente editorial: Carina de Lima Carvalho 
Capa: Renan Gurgel 
Projeto gráfico: Tatiana Pessoa 
Editoração: Know-How Edi torial 
Ilustrações: Sirio Cançado 
Preparação de originais: Si/via Spada 
Leitura final: Laura Avila de Souza 
Reservados todos os direitos de publicação à 
EDITORA ARTES MÉDICAS LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A. 
Editora Artes Médicas Ltda. 
Rua Dr. Cesário Mota Jr., 63 - Vila Buarque 
CEP 01221-020 -São Paulo - SP 
Tel.: 11.3221.9033- Fax: 11.3223.6635 
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou 
por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, d istribuição na Web e outros), sem 
permissão expressa da Editora. 
Unidade São Paulo 
Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center 
Vila Anastácio - 05095-035 - São Paulo - SP 
Fone: (11) 3665-1100 Fax: (11) 3667-1333 
SAC 0800 703-3444 - www.grupoa.com.br 
IMPRESSO NO BRASIL 
PRINTED IN BRAZIL 
AUTORES 
Omar Gabriel da Silva Filho li Ortodontista do Hospital de Reabilitação de Anomalias 
Cranlofaclais da Universidade de São Paulo (HRACIUSP). Coordenador do curso de Orto-
dontia Preventiva e Interceptara da Sociedade de Promoção Social do Fissurado Lábio-
-Palatal (Profis), Bauru. 
Daniela Gamba Garibll Professora associada de Ortodontia do HRACI USP e da Faculda-
de de Odontolog1ia de Bauru (FOB/USP). Professora do curso de Ortodontia Preventiva e 
lnterceptiva da Profls. Mestre e doutora em Ortodontla e Ortopedia Facial pela FOBIUSP. 
Pós-doutora pela Harvard School of Dental Medic ine, EUA. 
Tulio Silva Lara li Ortodontlsta do HRACIUSP. Graduado em Odontologia pela Faculdade 
de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor do curso de 
Ortodontla Preventiva e lnterceptiva da Profis. Mestre e doutor em Ortodontia pela Facul-
dade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho (FONUnesp). 
Araci Malagodi de Almeida li Cirurgiã-dentista. Orto-
dontista responsável pelo Setor de Ortodontia do 
HRACI USP. Professora do curso de Ortodontia Preven-
tiva e lnterceptiva da Profis. Especialista em Ortodontia 
e Mestre em Ciências da Reabilitação: Fissuras Orofa-
ciais pelo HRACI USP. 
Bárbara Maria de Alencar li Ex-professora do curso 
de Ortodontia Preventiva e lnterceptiva da Profis, filiada 
ao HRACI USP. Mestre em Ortodontia pela Universidade 
Cidade de São Paulo (Unicid). 
Carlos Alberto Aiello // Ortodontista. Ortodontista do 
HRAC/ USP. Professor do curso de Ortodontia Preven-
tiva e lnterceptiva da Profis. Residência Odontológica 
e Especialização em Ortodontia pela Profis. Mestre em 
Ciências da Reabilitação: Fissuras Orofaciais pelo 
HRACIUSP. Doutor em Odontologia: Ortodontia pela 
Unesp. 
Celeste Hiromi Okada li Ortodontista. Ortodontista da 
Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformida-
des Crânio-Faciais (Funcraf)/USP. Professora do curso 
de Ortodontia Preventiva e lnterceptiva da Profis. Espe-
cialista em Ortodontia pela Profis. 
Flávio Mauro Ferrari Júnior li Ortodontista. Professor 
do curso de Aperfeiçoamento em Ortodontia Preventiva 
e lnterceptiva da Profis. Especialista em Ortodontia pela 
Profis. Mestre em Fissuras Orofaclals pelo HRACIUSP. 
Guilherme Janson li Ortodontlsta. Professor t itular do 
Departamento de Odontopediatrla, Ortodontia e Saúde 
Coletiva da FOBI USP. Mestre e doutor em Ortodontia 
pela FOBI USP. Pós-doutor pela Universidade de Toron-
to, Canadá. 
José Antonio Pereira Caricati li Especialista em Orto-
dontia pela Profis. Mestre em Ortodontia pela Universi-
dade de Marília. 
VI li AUTORES 
Leanne Matias Portela Leal // Professora do curso de 
Especialização em Ortodontla da Faculdade Novafapl, 
PI. Especialista em Ortodontla pela Universidade Sagra-
do Coração (USC), Bauru. Mestranda em Ortodontia 
pela use. 
Patrícia Zambonato Freitas li Ortodontlsta. Professo-
ra do curso de Ortodontla Preventiva e lnterceptiva da 
Profis. Especialista em Radiologia Odontológica pela 
FOBIUSP. Mestre em Ortodontla pela Faculdade de 
Odontologia de Araraquara (FOAr)IUnesp. Doutora em 
Patologia Bucal pela FOBI USP. 
Rita de Cássia Moura Carvalho Lauris // Ortodontlsta 
do HRAC/ USP. Professora do curso de Ortodontla Pre-
ventiva e lnterceptiva da Profls. Mestre e doutoranda em 
Ciências da Reabilitação pelo HRACI USP. 
Terumi Okada Ozawa li Ortodontista. Professora do 
curso de Ortodontia Preventiva e lnterceptiva da Profis. 
Professora do curso de Especialização em Ortodontla da 
Profis. Professora coordenadora do curso de Especiali-
zação em Ortodontla e Ortopedia Facial do HRAC/ USP. 
Professora orientadora do curso de Pós-graduação em 
Fissuras Orofaciais e Anomalias Craniofaciais do HRAC/ 
USP. Diretora da Divisão de Odontologia do HRAC/USP. 
-APRESENTAÇAO 
OBRA DE UMA VIDA 
Este livro trata dos protocolos do tratamento orto-
dõntico em duas fases. Uma obra imprescindível tanto 
para consulta como para reflexão. Afinal, a ortodontia é 
cultura, como reconhecem os próprios autores, e, como 
tal, as escolhas nesse tipo de tratamento são bastante 
subjetivas e dependem de forma significativa das deci-
sões do paciente. A ortodontia lnterceptiva, muitas ve-
zes Incompreendida pela presença dos fatores "neces-
sidade" e "oportunidade" de intervir, sem incorrer no 
sobret ratamento, finalmente é esclarecida de forma ló-
gica, coerente e d idática. 
Mas reservo-me o direito de suspender por alguns 
parágrafos a apresentação da obra para registrar um 
testemunho pessoal a respeito do primeiro autor e men-
tor, Omar Gabriel da Silva Filho, ou Omarzinho. Afinal, 
obra e autor se confundem em sensibilidade, equilíbrio, 
harmonia e força. 
Doutor Omar, a quem considero um amigo admirável 
e, mais do que isso, um profissional de alto valor técni-
co-científico, foi quem habilidosamente angariou, Brasil 
afora, seguidores que não abrem mão de um curso ou 
conferência que leve seu nome ... Uma verdadeira estre-
la da ortodontia brasileira, porém sempre humilde e 
comprometido. Educado no seio de uma familia de dis-
c iplina militar, logo cedo ele aprendeu a seguir regras e 
responsabilidades. Teve na mãe, dona Ofélia, sua líder e 
grande exemplo. O rigor da educação familiar contribuiu 
para que o estudante logo se destacasse nos primeiros 
anos da vida escolar, e, mais adiante, na vida universitá-
ria. Muito cedo, sua incrível capacidade para a docência 
foi notada. Criativas e dinâmicas, suas aulas ganharam 
fama por todo o Brasil. Ele desenvolveu técnicas capa-
zes de, além de ensinar, envolver os alunos nos temas 
discutidos, favorecendo a busca pelo conhecimento e 
reflexão científica. 
-APRESENTAÇAO 
OBRA DE UMA VIDA 
Este livro trata dos protocolos do tratamento orto-
dõntico em duas fases. Uma obra imprescindível tanto 
para consulta como para reflexão. Afinal, a ortodontia é 
cultura, como reconhecem os próprios autores, e, como 
tal, as escolhas nesse tipode tratamento são bastante 
subjetivas e dependem de forma significativa das deci-
sões do paciente. A ortodontia lnterceptiva, muitas ve-
zes Incompreendida pela presença dos fatores "neces-
sidade" e "oportunidade" de intervir, sem incorrer no 
sobret ratamento, finalmente é esclarecida de forma ló-
gica, coerente e d idática. 
Mas reservo-me o direito de suspender por alguns 
parágrafos a apresentação da obra para registrar um 
testemunho pessoal a respeito do primeiro autor e men-
tor, Omar Gabriel da Silva Filho, ou Omarzinho. Afinal, 
obra e autor se confundem em sensibilidade, equilíbrio, 
harmonia e força. 
Doutor Omar, a quem considero um amigo admirável 
e, mais do que isso, um profissional de alto valor técni-
co-científico, foi quem habilidosamente angariou, Brasil 
afora, seguidores que não abrem mão de um curso ou 
conferência que leve seu nome ... Uma verdadeira estre-
la da ortodontia brasileira, porém sempre humilde e 
comprometido. Educado no seio de uma familia de dis-
c iplina militar, logo cedo ele aprendeu a seguir regras e 
responsabilidades. Teve na mãe, dona Ofélia, sua líder e 
grande exemplo. O rigor da educação familiar contribuiu 
para que o estudante logo se destacasse nos primeiros 
anos da vida escolar, e, mais adiante, na vida universitá-
ria. Muito cedo, sua incrível capacidade para a docência 
foi notada. Criativas e dinâmicas, suas aulas ganharam 
fama por todo o Brasil. Ele desenvolveu técnicas capa-
zes de, além de ensinar, envolver os alunos nos temas 
discutidos, favorecendo a busca pelo conhecimento e 
reflexão científica. 
VIII // APRESENTAÇÃO 
Assim como faz agora com este livro, Omar sempre 
soube compartilhar com os colegas de área seus co-
nhecimentos e sua visão inovadora. De que vale a sabe-
doria se não comungada? Esse homem de fé sempre 
teve essa consciência e, por isso, o egoísmo jamais fez 
parte de sua trajetória. 
No âmbito do Hospital de Reabilitação de Anomalias 
Craniofaciais (HRAC) da Universidade de São Paulo 
(USP}, instituição conhecida pelo diminutivo "Centri-
nho", Omar, então recém-formado em Odontologia pela 
USP (1976), Ingressou já promovendo Inovações no 
campo da ortodontla preventiva. Seus procedimentos e 
técnicas contribuíram significativamente com os proto-
colos do Hospital, especialmente com a dinâmica do 
tratamento dos pacientes com fissuras lablopalatinas. 
Omar voou alto. Lançou-se à pesquisa como pou-
cos profissionais que conheço. Mergulhou fundo nos 
estudos e, como resultado, apresenta uma publicação 
científica ímpar, muitas vezes assinada em parceria com 
tantos outros colegas seus. Este livro é Justamente uma 
compilação de toda essa trajetória profissional, com 
protocolos incansavelmente estudados e experimenta-
dos, sempre com números comprovados e resultados 
confiáveis que conferem credibilidade a este pesquisa-
dor lrretocável. A obra segue uma cadência que envolve 
o leitor e o conduz num sedutor fio de raciocínio. Perce-
be-se uma escrita com alma, por autores apaixonados 
pelo ofício da ortodontla e pela arte de ensinar. A lida do 
escrever, solitária por excelência, aqui se mostra com-
partilhada. Mais dois nomes se somam ao Dr. Omar, e o 
resultado da obra se torna ainda mais enriquecedor. 
Também Iniciados na ortodontia desafiadora e vibrante 
no ambiente do Centrinho de Bauru, Ora. Daniela Gam-
ba Garib e Dr. Tulio Silva Lara seguiram desde o princí-
pio o caminho de seu mentor e comungam da mesma 
fi losofia e paixão pelo ensino e pesquisa, como teste-
munham suas trajetórias profissionais. E assim o Dr. 
Omar mais uma vez compartilha e multiplica. 
Por fim, sem nenhuma pretensão de pôr pontos fi-
nais, faço um convite a você, leitor, para que mergulhe 
nos achados desta premiada trajetória profissional. 
JOSt ALBERTO DE SOUZA FREITAS, TIO GASTÃO 
Superintendente do Hospital de 
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais / 
Universidade de São Paulo (HRAC/USP) 
PREFÁCIO 
O projeto deste livro surgiu de um sonho de um orto-
dontista lmpar e dois discípulos apaixonados. Numa 
mesa de café, o desafio foi lançado, os capítulos deli-
neados e a capa, por votação unânime, escolhida. No 
desenho da capa, uma imagem remete à metamorfo-
se, à transformação da criança no ser adulto, à evolu-
ção. Assim nascia esta obra: amor puro à ortodontia 
preventiva e interceptiva e 30 anos de história de um 
curso formador e transgressor. 
Durante a elaboração do manuscrito, fomos sur-
preendidos pelo repentino silêncio de nosso mestre. 
Restaram páginas em branco. Aguardamos o seu retor-
no para a continuação do projeto, mas, após um tempo, 
nos vimos na responsabilidade de tocá- lo em frente. 
Sentfamo-nos devedores. Uma responsabilidade e tan-
to para Jovens ortodontistas recriarem toda a história 
vivida e passada pelo querido Dr. Omar, mas topamos o 
desafio. Lançamos mão de suas aulas, uma vasta litera-
tura e experiência clínica no curso e em consultório para 
flnalizar os capítulos que estavam incompletos. Somada 
a Isso, toda a emoção em tentar transmitir ao leitor o 
conteúdo exatamente da forma que ele gostaria e faria. 
Tarefa tão árdua quanto doce. 
O legado Inspirador do Curso de Ortodontla Preven-
tiva e Interceptara "Prof. Dr. Omar Gabriel da Silva Filho" 
nasce afinal. Um tributo à generosidade c ientifica do 
mestre. É com grande honra que celebramos este mo-
mento e homenageamos o nosso mentor. Seus ensina-
mentos se eternizam nas páginas seguintes. 
TULIO SILVA LARA E DANIELA GAMBA GARIB 
SUMÁRIO 
PARTE 1: ASPECTOS CONCEITUAIS 
1. Protocolo de tratamento em duas fases: definindo conceitos li 15 
Omar Gabriel da Silva Filho 
2. Dentadura decídua: aspectos clínicos e radiográficos li 53 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Daniela Gamba Garib 
3. Dentadura mista: desenvolvimento da oclusão li 75 
Daniela Gamba Garib 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Terumi Okada Ozawa 
4. Crescimento facial: a face como patrimõmio morfogenético li 103 
Tulio Silva Lara 
Omar Gabriel da Silva Filho 
5. Indicadores biológicos maturacionais // 125 
Tullo Silva Lara 
Rita de Cássia Moura Carvalho Lauris 
6. Etiologia das maloclusões li 157 
Daniela Gamba Garib 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Guilherme Janson 
PARTE 2: DISTÚRBIOS IRRUPTIVOS NA DENTADURA MISTA 
7. Problemas irruptivos envolvendo os incisivos 
centrais permanentes superiores // 193 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Leanne Matias Portela Leal 
Tulio Silva Lara 
8. Padrão de anomalias dentárias associadas li 229 
Daniela Gamba Garlb 
Bárbara Maria de Alencar 
12 // SUMÁRIO 
9. Ir rupção ectópica dos primeiros molares permanentes 11 255 
Omar Gabriel da Siiva Filho 
Daniela Gamba Garib 
José Antonio Pereira Caricatl 
10. Distúrbios irruptivos dos caninos superiores permanentes li 303 
Daniela Gamba Garib 
Carlos Alberto Aiello 
PARTE 3: ORTODONTIA INTERCEPTIVA =---~~-~~~~-
11. Mordida cruzada posterior: 
diagnóstico e t ratamento ortopédico precoce 11 337 
Omar Gabriel da Siiva Filho 
Tulio Silva Lara 
12. Diagnóstico e t ratamento do apinhamento na dentadura mista // 369 
Omar Gabriel da Silva Fiiho 
Daniela Gamba Garib 
Tullo Silva Lara 
13. Nivelamento 4x2 aplicado na dent adura mista: 
indicações e descrição da técnica li 411 
Tulio Silva Lara 
Celeste Hiromi Okada 
Patrlcia Zambonato Freitas 
14. Hábitos bucais deletérios: mordida aberta anterior li 415 
Omar Gabriel da Siiva Filho 
Flávio Mauro Ferrari Júnior 
Tulio Silva Lara 
15. Tratamento precoce do Padrão li // 495 
Tulio Silva Lara 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Aracl Malagodl de Almeida 
16. Tratamento ortopédico do Padrão 111 11 525 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Tulio Silva Lara 
Parte 1 
Aspectos conceituais 
1. Protocolo de tratamento em duas fases: definindo conceitos // 15 
Omar Gabriel da Silva Filho 
2. Dentadura decídua: aspectos clínicos e radiográficos li 53 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Daniela Gamba Garib 
3. Dentadura mista: desenvolvimento da oclusão li 75 
Daniela Gamba Garib 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Terumi Okada Ozawa 
4. Crescimento facial: aface como patrimômio morfogenético 11 103 
Tulio Silva Lara 
Omar Gabriel da Silva Filho 
5. Indicadores biológicos maturacionais li 125 
Tulio Silva Lara 
Rita de Cássia Moura Carvalho Lauris 
6. Etiologia das maloclusões 11 157 
Daniela Gamba Garib 
Omar Gabriel da Silva Filho 
Guilherme Janson 
PROTOCOLO DE TRATAMENTO 
EM DUAS FASES: 
CAPÍTULO 
DEFININDO CONCEITOS 
OMAR GABRIEL DA SILVA FILHO 
• Tendo em vista sua enorme incidência nas popula-
ções em todos os estágios do desenvolvimento da oclu-
são,1 a maloclusão representa um Importante problema 
de saúde pública. 2•4 Uma amostra longitudinal de crian-
ças acompanhadas na Universidade de Bergen, Norue-
ga, na década de 1970, suporta a Ideia de que a malo-
c lusão não se altera de forma significativa ao longo da 
dentadura mista, quando não tratada. 5 Com base na 
premissa de que a maloclusão não se autocorrige, sur-
ge uma questão de ordem prática: qual a melhor época 
para tratar uma maloclusão? É difícil responder a essa 
pergunta, uma vez que a maloclusão se manifesta com 
morfologlas e gravidades diferentes e, consequente-
mente, tem implicações individuais. Mas é fato que a 
maioria dos pacientes, cerca de 40%, procura uma clí-
nica de ortodontla no estágio de dentadura permanen-
te, durante a adolescência, motivo pelo qual essa idade 
biológica é conhecida como idade ortodôntlca. 
É provável que essa estatística tenha relação com a 
busca pela estética, que aumenta na adolescência, Já 
que a demanda para o tratamento ortodôntlco é motiva-
da principalmente pela preocupação com a aparência, a 
autoestima e a aceitação soclal.6 •10 Para o ortodontlsta, 
tratar uma maloclusão na Idade ortodôntlca é muito 
confortável, pois já não há imprevisibilidades no desen-
volvimento oclusal. Como todos os dentes permanentes 
previsíveis já irromperam, é possível propor planeja-
mentos atípicos com mais segurança. Além disso, se for 
16 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
necessário, ainda há crescimento facial remanescente 
e, em regra, há periodonto com osso em abundância. 
Talvez o maior conforto em tratar o paciente na Idade 
ortodôntlca seja a capacidade de prever, com grande 
margem de acerto, o tempo de tratamento, pois o pa-
ciente é tratado em uma única fase, sem Intervalo. Por-
tanto, quando o paciente chega ao consultório no estágio 
de dentadura permanente, durante a idade ortodôntlca, 
a preocupação do ortodontista concentra-se em como 
tratar a maloclusão estabelecida. Não há dúvida em re-
lação ao momento de tratar (Flgs. 1.1 e 1.2). 
Nas últimas décadas, a procura pela estética dentofa-
clal11 aumentou o número de pacientes adultos que pro-
curam clínicas ortodôntlcas. O fato é que cerca de 30% 
dos pacientes chegam para o tratamento ortodôntico na 
Idade adulta. Já não há crescimento remanescente, pelo 
menos para fins terapêuticos. Portanto, abordagens or-
topédicas não são mais possíveis com previsibilidade. 
Entre os pacientes fora da fase de crescimento, o orto-
dontista considera adulto Jovem aquele em que o perio-
donto ainda se comporta como o de um adolescente. 
O paciente considerado adulto exibe defeitos ósseos, 
Ortodontia interceptiva li 17 
1J, 1.1 A a Q Ortodontia corretiva aplicada na adolescência- protocolo de tratamento em uma única fase. Maloclusão Classe 1, com 
apinhamento anterossuperior e anteroinferior, em Padrão 1. Não há erro esquelético; o erro está na relação intra-arco (apinhamento). 
18 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva // 19 
20 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
11> 1.2 A a Z Mesmo paciente ilustrado na Figura 1.1. O apinha· 
mento foi corrigido com mecânica transversal: expansão rápida 
da maxila (A) e expansão lenta do arco dentário inferior. Após o 
aumento do perímetro dos arcos alveolares, os dentes superiores 
e inferiores foram alinhados (8 a H). As características oclusais de 
normalidade foram devolvidas (1 a U), sem comprometer a face 
fl/ e X) e favorecendo a estética do sorriso (Y e Z). 
e a altura das cristas ósseas está comprometida pela 
tendência de migração apical progressiva do osso al-
veolar com a idade, que pode ser potencializada pela 
doença perlodontal.12 A perlodontlte compreende um 
processo patológico progressivo e dinâmico que aco-
mete rotineiramente pacientes adultos, levando à perda 
de Inserção e à destruição do osso alveola.r de suporte, 
evoluindo para a perda do dente. Na verdade, na Idade 
ortodôntica, o profissional enfrenta a gengivite, que é 
uma condição reversível. Já na idade adulta, ele enfren-
ta a periodontite, que é irreversível. Por que então o pa-
c iente procura o ortodontista na Idade adulta? Provavel-
mente por um ou mais dos quatro seguinte motivos: 
1. Porque a maloclusão está trazendo implicações, se-
jam psicossoclals, sejam perlodontais. 
2. Para reposicionar dentes com a finalidade de reabi-
litação oral. 
3. Para tratar a recldlva da ortodontia realizada em es-
tágios anteriores. 
4. Por sentir dor. 
Ortodontia interceptiva li 21 
De fato, é possível, com restrições subordinadas à 
condição perlodontal, Induzir movimentação ortodôntl-
ca em pacientes adultos (Figs. 1.3 a 1.5). 
Quando o ortodontista trata a maloclusão na denta-
dura permanente, tanto na Idade ortodôntica quanto na 
idade adulta, ele está aplicando a ortodontla corretiva. 
Essa designação refere-se à correção da maloclusão na 
dentadura permanente, Independentemente da gravida-
de do problema ou da mecânica envolvida. Batizamos 
essa conduta de "Protocolo de tratamento em uma úni-
ca fase", uma vez que o paciente inicia e finaliza o trata-
mento ortodôntlco sem intervalos (Figs. 1.1 a 1.5), em 
um espaço de tempo que pode ser estipulado com al-
guma segurança. 
Por fim, os outros 30% dos pacientes que procuram 
uma clínica ortodôntica o fazem antes da dentadura 
permanente, no estágio de dentadura decídua ou no es-
tágio de dentadura mista. Quando o tratamento orto-
dôntico é iniciado nesse momento, é considerado pre-
coce. Portanto, tratamento precoce em ortodontia é 
li> 1.3 
22 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 23 
.,. 1.3 A a X Ortodontia corretiva aplicada em paciente adulto jovem, fora da fase de 
crescimento, com protocolo de tratamento em uma única fase (A a D). O paciente já 
passou por tratamento ortodôntico na adolescência, com extração dos primeiros pré-
-molares superiores. Maloclusão com relação molar em Classe li, com aplnhamento 
anteroinferior e relação de topo entre os Incisivos (E a H). A queixa centra-se na recidiva 
do apinhamento anteroinferior. O planejamento proposto consiste na extração atípica do 
dente 32 O a N). O espaço da extração foi usado para dissolver o apinhamento (O a X) 
e Inclinar os incisivos inferiores para lingual, usando fios redondos (S a X). 
24 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 25 
11> 1.4 A a X Mesmo paciente apresentado na Figura 1.3. Fechado o espaço da extração (A a G), fi· 
nalizou·se o tratamento aplicando os elásticos de intercuspidação para ajuste interarcos (H a J). As 
características de normalidade intra-arco e interarcos foram devolvidas (K a N). Os modelos de gesso 
iniciais e finais exibem a maloclusão (O a S) e a oclusão tratada (T a X) no estágio de dentadura per· 
manente madura, fora da fase de crescimento. 
26 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
estabelecido em relação à Idade dentária, referindo-se 
a toda abordagem mecânica realizada em momentos 
que antecedem a dentadura permanente. O tratamento 
precoce é sinônimo de ortodontia lnterceptiva. A orto-
dontla lnterceptiva refere-se à correção da maloclusão 
nos estágios de dentadura decídua e mista, indepen-
dentemente da gravidade do problema ou da mecânica 
envolvida. Sem dúvida, o tratamento precoce é mais 
desconfortável para o profissional, pois exige redobrado 
empenho: é preciso avaliar a necessidade do tratamento 
e decidir o momento mais oportuno para realizá-lo. Já 
quando o paciente chega ao consultório no estágio de 
dentadurapermanente, a única Inquietação refere-se à 
necessidade do tratamento. 
No diagnóstico precoce, não raro o paciente chega 
com uma maloclusão que precisa ser tratada, porém 
em um momento Inadequado para abordá- la terapeuti-
camente. Por exemplo, ele pode chegar ao consultório 
no estágio de dentadura decídua portando uma malo-
clusão Classe li. Há necessidade de t ratar, uma vez que 
as maloclusões não se autocorrigem. No entanto, o tra-
tamento da maloclusão Classe 11, quando precoce, deve 
ser feito no estágio de dentadura mista, de preferência 
depois da Irrupção dos quatro primeiros pré-molares, 
Ortodontia interceptiva li 27 
.,.. 1.5 A a L As telerradlografias Iniciais (A e B) e finais (C e D) 
do paciente mostrado nas Figuras 1.3 e 1.4 mostram a inclina-
ção dos incisivos inferiores induzida pela retração anteroinferior, 
com melhora da relação dos incisivos e manutenção das ca-
racterísticas faciais (E a H). O custo biológico do tratamento foi 
irrisório como mostram as radiografias periapicais dos incisivos 
iniciais e finais (1 a L), o que acontece em 90% dos pacientes 
submetidos a tratamento ortodôntico. 
ou seja, na adolescência, independentemente da abor-
dagem terapêutica (no arco dentário superior, na man-
díbula ou nos dois) (Figs. 1.6 a 1.12). Essa preocupação 
com a época de tratar a maloclusão Classe li visa a re-
duzir o tempo de tratamento sem comprometer a flnali-
zação.13 Há uma regra para a maloclusão Classe li: 
quanto mais cedo se Inicia o tratamento, mais tempo o 
paciente permanece em tratamento. Menciona-se na 
literatura que o tratamento precoce da maloclusão 
Classe li não melhora a finalização e apresenta algum 
beneficio a curto prazo em relação à Classe 11 não tra-
tada, mas não oferece vantagens convincentes sobre 
um tratamento em uma única fase na idade ortodôntl-
ca.14·15 Ainda assim, vale a pena t ratar a maloclusão 
Classe li no inicio da dentadura mista, quando a gravi-
dade da maloclusão acarreta implicações pslcosso-
c lais (Flgs. 1.6 a 1.9). 
As questões relacionadas à necessidade e à oportu-
nidade do tratamento refletem uma preocupação com a 
relação custo/beneficio do tratamento precoce a longo 
prazo. Ao final de tudo, na dentadura permanente ma-
dura e na idade adulta, o ortodontista deve ficar com a 
Impressão de que t ratou o paciente na medida Justa, 
sem sobretratamento. 
28 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
11>- 1.6 A a N Ortodontia interceptiva - protocolo de trata-
mento em duas fases. Maloclusão Classe li, Divisão 1. com 
mordida aberta anterior dentoalveolar (A a E). em Padrão li, 
com deficiência mandibular e protrusão dentária superior (G 
e H), no primeiro período transitório da dentadura mista (F). 
A correção da classe e do padrão foi programada para o 
momento do diagnóstico (tratamento precoce), na pré-
-adolescência, usando ortopedia de avanço mandibular 
contínuo durante 9 meses com o aparelho de Herbst (1 a N). 
Ortodontia interceptiva li 29 
30 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 31 
"" 1.7 
32 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
"' 1.7 A a Z Ortodontia interceptiva - protocolo de tratamento em duas fases. A cor-
reção obtida com o aparelho Herbst (A a H) foi contida com ortopedia de avanço man-
dibular intermitente até a época da dentadura permanente (1 a Z). 
i,,. 1.8 A a G Protocolo de tratamento em duas fases. A segunda fase do tratamento 
foi realizada na dentadura permanente, com aparelho fixo superior. 
Ortodontia interceptiva li 33 
34 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
17/03/01 
22/03/03 
22/03/03 
29/07/09 
Ortodontia interceptiva li 35 
~ 1.9 A a W As características de normalidade da oclusão foram alcançadas (A a 0), com me· 
lhora da mandíbula na face (P a U) e com a aquisição de um belo sorriso (S). Sobreposição cefa· 
lométrica da primeira M e da segunda <yV) fase do tratamento ortodôntico. 
36 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
~ 1.10 A a H Paciente com maloclusão de Classe li em Padrão li 
tratada na adolescência. O diagnóstico precoce Identificou uma 
alteração odontogênica na região do dente 27, caracterizando uma 
ectopia do terceiro molar.16 Essa ectopia constitui um obstáculo 
mecânico para a irrupção do segundo molar suprajacente. 
Ortodontia interceptiva li 37 
38 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 39 
i,. 1.11 A a N O terceiro molar ectóplco do paciente apresentado na Figura 1.10 foi extraí-
do durante o segundo período transitório da dentadura mista, época de grande potencial 
irruptivo do segundo molar e quando a coroa do terceiro molar permitia a "apreensão" para 
a extração (A e 8). A maloclusão Classe 11, em Padrão 11, foi tratada na adolescência, depois 
da completa irrupção dos 4 primeiros pré-molares (C a N). 
40 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
~ 1.12 A a S O tratamento do paciente mostrado nas Figuras 1.10 e 1.11 foi 
instituído no arco dentário superior e na mandíbula, associando aparelho extra-
bucal (AEB) e ortopedia de avanço mandibular intermitente (A a J). Após a redu-
ção do trespasse hori2ontal, os dentes foram alinhados e os espaços Intra-arco 
foram fechados com ortodontia corretiva (K a M). O segundo molar superior do 
lado esquerdo alcançou o plano oclusal 12 meses após o término do tratamento 
ortodôntico (N a S). 
Ortodontia interceptiva // 41 
42 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Para evitar essa sobrecorreção quando o tratamen-
to é Iniciado precocemente, racionaliza-se a abordagem 
terapêutica adotando uma conduta definida como "Pro-
tocolo de tratamento em duas fases". O paciente é trata-
do no momento do diagnóstico, quando ficou estabele-
cido que vale a pena tratar a maloclusão diagnosticada, 
e na dentadura permanente, na Idade ortodôntica, para 
finalizar a regularização dos dentes. O ortodontista, no 
entanto, não dá alta para o paciente depois do primeiro 
tratamento. Entre as duas fases ativas do tratamento, o 
profissional assume a responsabilidade de assistir a Ir-
rupção dos dentes permanentes. Essa conduta, cha-
mada de "controle do desenvolvimento da oclusão", 
envolve análise c línica semestral e radiografia panorâ-
mica bianual. Portanto, o protocolo de tratamento em 
duas fases envolve o tratamento precoce, o controle do 
desenvolvimento da oclusão e a finalização do trata-
mento na Idade ortodôntica. 
O tratamento ortodôntico precoce implica uma 
chance maior de sobretratamento, ou seja, tratar por 
mais tempo ou com mais mecânica. O protocolo de tra-
tamento em duas fases tem a Intenção de enxugar e 
racionalizar o tratamento precoce, ao mesmo tempo 
que reduz os problemas para o tratamento na segunda 
fase. De certa forma, existe uma concisão terapêutica 
ao se estabelecer a época de inic iar e finalizar cada fase 
do protocolo. Assim, trata-se o paciente sem excesso. 
Além disso, é fác il administrar o protocolo de tratamen-
to em duas fases em uma c línica privada, pois o pacien-
te tem compromisso financeiro nas duas fases em que 
está sendo tratado, e o custo de uma fase é completa-
mente independente do da outra, sendo determinado 
pela mecânica a ser Instituída. 
Mas vale a pena tratar o paciente seguindo o proto-
colo de duas fases, ou é melhor esperar a dentadura 
permanente, quando ele poderá ser tratado em apenas 
uma fase? A resposta a essa pergunta é difícil e deve 
contar com a participação do paciente e de seus fami-
liares. Quanto mais desenvolvida culturalmente for uma 
comunidade ou uma família, mais Importante será a in-
tervenção ortodôntica. sobretudo a precoce, já que a 
procura pela oclusão normal constitui uma tendência 
emergida dessa sociedade. Embora essa hipótese soe 
coerente, admite-se que a percepção da interferência 
de uma maloclusão na estética e na autolmagem está 
presente em todos os níveis soclals.17 A decisão do leigo 
em procurar o tratamento ortodôntlco baseia-se na In-
tenção de melhorar a estética facial, a autoestima e a 
aceitação soclal.8•8•1º 
Do ponto de vista técnico, existem argumentos que 
justificama Inserção de um paciente em um protocolo 
de tratamento em duas fases, quando ele chega antes 
da dentadura permanente: reduz-se a gravidade do pro-
blema para tomar a segunda fase do tratamento, na 
dentadura permanente, mais simples.18 •22 Além disso, é 
preciso considerar que alguns pacientes, ainda que 
poucos, acabam passando somente pela primeira fase 
do tratamento. Sabe-se que algumas situações sim-
ples, quando não tratadas precocemente, podem evo-
luir para problemas de difícil solução na dentadura per-
manente (Figs. 1.10 a 1.14). Desse modo, talvez a questão 
mais Importante do tratamento em duas fases seja a 
oportunidade que o ortodontista tem de constatar uma 
Irregularidade durante o controle do desenvolvimento 
da oclusão e corrigi-la em tempo hábil. O tratamento 
precoce bem conduzido não acarreta latrogenias Irre-
versíveis. Pelo contrário, Induz à satisfação da oclusão 
normal tratada, esteticamente agradável, Independen-
temente da Idade. E, por último, admitindo que o atendi-
mento odontológico de rotina está associado a melho-
res condições de saúde bucal,23 é possível Incutir no 
paciente, mediante controles periódicos, hábitos de hi-
giene mais consistentes e compatíveis com uma melhor 
saúde bucal. 
Como o título Insinua, o presente livro sustenta o tra-
tamento precoce da maloclusão fundamentado na per-
tinência do protocolo de tratamento em duas fases. Há 
uma tendência de os ortodontlstas contemporâneos 
aprovarem o tratamento precoce. 24•25 Os capítulos que 
se sucedem fazem não somente uma apologia ao trata-
mento precoce, mas uma reflexão cientifica positiva 
acerca da ortodontla lnterceptiva. Contudo, é uma falá-
cia dizer que todas as maloclusões devem ser tratadas 
cedo e principalmente a partir da dentadura decídua. É 
preciso ter em mente que a época de tratamento não é 
o principal determinante do prognóstico de tratamento. 
A rigor, o prognóstico de tratamento e de estabilidade é 
definido considerando o que se trata, e não necessaria-
mente quando se trata. 
Infelizmente, não se tem evidência c ientifica de que 
tratar cedo garante maior estabilidade pós-tratamento. 
Os ortodontistas reconhecem que as maloclusões trata-
das precocemente não estão Isentas de recidlva, e isso 
ocorre porque, de um modo geral, dois fatores maiores 
estão relacionados ao prognóstico de tratamento e à es-
tabil idade: o crescimento facial e a língua como fator 
etiológico primário da maloclusão (Flgs. 1.15 e 1.16). Tal 
conceito dá ao ortodontlsta uma certa liberdade para 
determinar a melhor época de tratar uma maloclusão. É 
possível tratar as seguintes maloclusões na dentadura 
decídua, a partir dos 5 anos de idade: mordidas cruza-
das posteriores, mordidas abertas anteriores e mordi-
das cruzadas anteriores em Padrão I ou em Padrão Ili. 
Essas maloclusões têm em comum o Impacto corretivo 
Imediato, respondem bem ao tratamento como regra e, 
excetuando o Padrão Ili, apresentam estabilidade pós-
-tratamento razoável. Todas as demais maloclusões me-
recem tratamento a partir da dentadura mista. 
Ortodontia interceptiva li 43 
• 1.13 
44 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
ii,. 1.13 A a K Ortodontia interceptiva - primeira fase do protoco-
lo de tratamento em duas fases: traclonamento do dente 21 em 
uma maloclusão Classe li, Divisão 1, em Padrão li, com atraso de 
irrupção do dente 21, no período lntertransitório da dentadura 
mista. Na história pregressa, há relato de extração de mesiodens. 
Ortodontia interceptiva li 45 
46 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 47 
~ 1.14 A a T O !racionamento realizado no paciente ilustrado na Figura 1.13 foi conduzi-
do utilizando como ancorag:em o fio retangular de aço em nivelamento 4 x 2 (A a N). Nas 
imagens radiográficas longitudinais, há um outro mesiadens em formação que não repre-
sentou obstáculo mecânico ao !racionamento do dente 21 (E a H). A primeira fase do tra-
tamento terminou com a relação Intra-arco superior correta, ainda no período intertransitó-
rio da dentadura mista (O a n. 
48 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
~ 1.15 A a U A recidiva dessa mordida aberta anterior, corrigida em um protocolo de 
tratamento em duas fases, desnuda a fragilidade da oclusão tratada quando o fator 
etiológico persiste e é inerente ao paciente. O diagnóstico Inicial reconheceu uma malo-
clusão com atresia do arco dentário superior e mordida aberta anterior sem história 
pregressa de hábitos de sucção, em padrão face longa (A a L). Na primeira fase do 
tratamento, a abordagem terapêutica envolveu a expansão da maxila, o uso de grade 
palatina fixa, o uso de meotoneira noturna associada à grade palatina fixa e exercícios 
fonoarticulatórlos após a suspensão da grade palatina fixa, para reeducação lingual. Na 
segunda fase do tratamento, a mecânica lançou mão do aparelho ortodôntico fixo supe-
rior e inferior, associado ao aparelho extrabucal de tração alta. Como esperado, o trata-
mento ortodôntico influenciou a oclusão sem Interferir nas características faciais (M a U). 
Ortodontia interceptiva li 49 
50 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
.,. 1.16 A a N É possível identificar a recidiva da mordida aberta anterior 8 anos 
(A a G) e 11 anos (H a N) após o término do tratamento ortodôntico corretivo do 
paciente ilustrado na Figura 1.15. 
Ortodontia interceptiva li 51 
52 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
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CAPÍTULO 
DENTADURA DECÍDUA: 
ASPECTOS CLÍNICOS 
E RADIOGRÁFICOS 
OMAR GABRIEL DA SILVA FILHO 
DANIELA GAMBA GARIB 
• O tratamento interceptor das maloclusões pode ini-
c iar-se precocemente, ainda na dentadura decídua, a 
partir dos 5 anos de Idade. Por esse motivo, o ortodon-
tlsta deve compreender os processos biológicos que 
regulamentam o desenvolvimento da dentição decldua. 
Os aspectos de normalidade da oclusão na dentadura 
decídua norteiam as metas terapêuticas das Interven-
ções precoces. O conhecimento da morfologia oclusal 
normal ainda funciona como parâmetro para o diagnós-
tico das maloclusões nessa fase de desenvolvimento 
oclusal. 
O ser humano apresenta dois conjuntos de denti-
ções: a dentição decldua, composta por 20 dentes, e a 
dentição permanente, composta por 32 dentes. No as-
pecto biológico da odontogênese, pode-se dizer que o 
homem é difiodonte. No entanto, no aspecto clinico a 
criança passa por três fases oclusals muito distintas: a 
dentadura decldua, a dentadura mista e a dentadura 
permanente (Fig. 2.1). Nesta obra, utilizaremos a denta-
dura para referir-nos à disposição dos dentes no arco 
dentário. A Idade dentária constitui um dos mais impor-
tantes referenciais biológicos do desenvolvimento em 
ortodontia, juntamente com a idade cronológica e a ida-
de esquelética. Ao Informarmos que uma criança está 
na fase de dentadura decldua, mista ou permanente, 
estamos nos referindo à sua idade dentária. 
Quando a criança nasce, o rebordo alveolar é des-
dentado. Os dentes Irrompem da cavidade bucal a par-
tir de 6 a 7 meses de Idade. Na realidade, no momento 
do nascimento, todos os dentes declduos já estão no 
54 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
... 2.1 O acompanhamento longitudinal do desenvolvimento da dentição ilustra três fa-
ses distintas do desenvolvimento oclusal: a dentadura decídua (A a E), a dentadura 
mista (F a J) e a dentadura permanente (K a O). A idade dentária do paciente pode ser 
determinada clinicamente por melo da observação dos dentes Irrompidos no arco. 
Interior dos maxilares, em pleno processo odontogênlco, 
preparando-se para chegar à cavidade bucal (Fig. 2.2). O 
processo odontogênlco dos dentes decíduos inicia-se 
bem cedo, em torno da sexta semana de vida Intrauteri-
na.' A mineralização dos dentes decíduos Inicia-se no 
quinto mês de vida Intrauterina, em torno da 16~ à 241 se-
mana pós-concepção.1 No recém-nascido, os Incisivos 
decíduos apresentam a coroa toda formada, os caninos 
mostram metade da formação coronária, e os molares 
têm as cúspldes mineralizadas com definição do sulco 
oclusal.1 A cripta dos primeiros molares permanentes e o 
Início da mineralização de suas cúspldes podem também 
estar aparentes ao nascimento.1 
Ortodontia interceptiva li 55 
Nos primeiros meses de vida pós-natal, os dentes 
declduos d ispõem-se de maneira apinhada na maxila e 
na mandíbula, devido ao reduzido tamanho da face.1•2 
O aplnhamento lntraósseo envolve a região dos Incisi-
vos e caninos (Fig. 2.3). Do nascimento até o Início da 
Irrupção dos dentes decíduos, a face cresce expressi-
vamente, alcançando a maior velocidade de cresci-
mento de toda a v lda.2 Nessa fase, a mandlbula ainda 
é um osso par, em virtude da presença da cartilagem 
slnflsiana na reg ião da linha média (Fig. 2.2).2 No pri-
meiro semestre de vida, os arcos dentários crescem 
aceleradamente no sentido transversal e sagltal, ga-
rantindo o espaço para a Irrupção de todo o conjunto 
IJ> 2.2 Radiografia panorâmica de bebê recém-
-nascido demonstrando a presença dos germes 
de todos os dentes decíduos. A odontogênese da 
dentição decídua Inicia-se precocemente na vida 
intrauterina. O início da mineralização dos dentes 
decíduos precede o momento do nascimento. 
,.. 2.3 Representação do posicionamento dos 
germes dos dentes decíduos ao nascimento. Ob-
serve o apinhamento intraósseo dos dentes ante-
riores. Essa condição de irregularidade está pre-
sente antes de os dentes irromperem na cavidade 
bucal e ocorre por assincronia entre a odontogê-
nese e o crescimento dos maxilares. O cresci-
mento significativo dos maxilares na vida pós-na-
tal sucede o início da formação dos germes dos 
dentes dedduos. Fonte: Van der Unden. 2 
56 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
de dentes decíduos (Fig. 2.4). 2 O crescimento é tão far-
to que a regra na dentadura decídua é a visualização 
de espaçamentos dentários ou dlastemas (Fig. 2.5). Os 
espaçamentos constituem características dominantes 
na dentadura decídua, tanto no arco superior (85%) 
quanto no arco Inferior (81%).3 Contrariamente, o aplnha-
mento na dentadura decídua é um achado pouco co-
mum, presente em apenas 11% das crianças(Flg. 2.6),3 
constituindo, portanto, uma exceção nessa fase do 
desenvolvimento. 
"" 2.4 Nos primeiros 6 meses de vida, a maxila e a mandíbula 
crescem significativamente, preparando o rebordo alveolar para 
receber a primeira dentição humana. A mandíbula, nessa fase, é 
ainda um osso par. O crescimento na sutura palatina e na sincon-
drose sinfisiana aumentam os arcos transversalmente. 
"" 2.5 O crescimento dos maxilares é muito abundante nos primei-
ros meses de vida e é suficiente, na maioria dos casos, para elimi-
nar o apinhamento intraósseo observado ao nascimento. A regra na 
dentadura decídua é a presença de diastemas generalizados. 
Ortodontia interceptiva li 57 
11> 2.6 O aplnhamento na dentadura decídua constitui exceção e está presente em somente 11% das crianças. 
O apinhamento dos incisivos decfduos não é considerado maloclusão e não requer intervenção ortodõntica. 
A identificação do apinhamento na dentadura decídua apenas infere um pior prognóstico para o alinhamento 
espontâneo dos dentes permanentes. Fonte: Siiva Filho e colaboradores.ª 
58 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
A slncondrose slnflsiana mineraliza-se e desaparece 
por volta dos 6 meses de idade, tornando a mandíbula 
um osso ímpar. 2 Na maxila, as suturas pré-maxilares 
que delineavam a pré-maxila desaparecem ao f inal do 
primeiro ou do segundo ano de vida. Após a Irrupção 
completa dos dentes decíduos, em regra, a relação 
dente-osso não mais se altera. O crescimento do arco 
alveolar precede a Irrupção c línica dos dentes decl-
duos, mostrando magnitude suficiente para prover o 
alinhamento dentárioem 89% dos casos.3 
O período de Irrupção dos dentes declduos na cavi-
dade bucal dura cerca de 2 anos e estende-se dos 6 
meses aos 2,5 anos de Idade. A sequência de Irrupção 
mais comum é a seguinte: Incisivo central Inferior, incisi-
vo central superior, incisivo lateral superior, incisivo late-
ral inferior, primeiros molares, caninos e segundos mo-
lares (Fig. 2.7).2 As variações na sequência de Irrupção 
dos dentes decíduos não apresentam significado clini-
co e não são importantes em ortodontia, pois não defi-
nem maloclusões (Flg. 2.8). O importante é que todos os 
dentes Irrompam na cavidade bucal, não Importando 
quando e em qual sequência. Na realidade, as varia-
ções tanto na cronologia quanto na sequência de irrup-
ção são muito comuns na dentição decídua e não de-
vem causar preocupação, não exigindo intervenção. As 
variações irruptivas dos dentes decíduos não apresen-
tam origem patológica e não influenciam o padrão mor-
fológico da oclusão. A Tabela 2.1 mostra o padrão cro-
nológico de Irrupção dos dentes decíduos. Atrasos ou 
antecipações de até 6 meses são considerados varia-
ções normais.4 Do ponto de vista ortodõntico, atrasos 
muito grandes na época de Irrupção dos dentes decí-
duos traduzem um atraso dentário em relação à idade 
cronológica (Figs. 2.9 e 2.10). Por esse motivo, a orto-
dontia utiliza três referenciais biológicos indicativos do 
desenvolvimento. Especificamente na fase de dentadu-
ra decídua, o ortodontlsta deve trabalhar com dois Indi-
cadores: a Idade dentária e a idade cronológica. Pode 
haver discrepâncias entre a idade dentária e o referen-
cial cronológico em alguns pacientes, que são normais 
2 
6 meses 
2 
e inerentes aos processos biológicos. A biologia nunca 
foi uma ciência exata como a matemática. 
A preocupação com atrasos multo grandes refere-
-se à possibilidade de ageneslas dos dentes declduos. 
A presença dos germes dentários pode ser confirmada 
pela observação de abaulamentos genglvais. A agene-
sla generalizada da dentição decídua constitu i um acha-
do raro, geralmente relacionado a síndromes e malfor-
mações, e determina um rebordo alveolar em lâmina de 
faca. A marcante diferença morfológica do rebordo al-
veolar que guarda ou não a dentição decldua dispensa 
o exame radiográfico em tenra Idade. 
Do nascimento até a Irrupção completa dos dentes 
decíduos, os germes de todos os dentes permanentes 
iniciam seu processo de mineralização, exceto os ter-
ceiros molares.5 Na fase da dentadura decídua comple-
ta, uma radlografla panorâmica mostraria os 20 dentes 
decíduos irrompidos e 28 germes dos dentes perma-
nentes, em diferentes graus de odontogênese (Fig. 2.11). 
O ortodontista pode requisitar uma radiografia panorâ-
mica aos 5 anos de idade, quando houver maloclusão 
que justifique uma abordagem precoce. Caso haja nor-
malidade oclusal, a radiografia panorâmica pode ser 
postergada para o início da dentadura mista. Antes dos 
5 anos, dificilmente há Justificativa ortodõntica para a 
requisição de radiografia panorâmica. 
Na fase de dentadura decídua, todos os 28 germes 
dos dentes permanentes são aparentes radiografica-
mente (Fig. 2.11). Os segundos pré-molares iniciam a 
sua mineralização em média aos 3 anos de idade,5·6 po-
rém podem mostrar um desenvolvimento mais atrasado 
e ainda não estar aparentes radlograficamente na fase 
de dentadura decídua. Em outras palavras, na dentadu-
ra decídua, seria prematuro fechar o diagnóstico de 
agenesla de segundos pré-molares. Uma segunda ra-
diografia tomada entre 8 e 9 anos de Idade, na dentadu-
ra mista, pode flagrar a formação atrasada dos germes 
dos segundos pré-molares (Fig. 2.12). 7·8 Após essa Ida-
de, o aparecimento tardio dos segundos pré-molares 
ainda é possível, ainda que muito raramente.9 
4 3 5 
2,5 anos 
4 3 5 
.,. 2.7 Representação gráfica da sequência de irrupção dos dentes decíduos mais 
frequente no arco superior (acima da linha) e no arco inferior (embaixo da linha). 1, inci-
sivo central; 2, incisivo lateral; 3, canino; 4, primeiro molar e 5, segundo molar. 
11> 2.8 Alteração na sequência de irrupção dos dentes decíduos. Os incisivos laterais 
superiores precederam a irrupção dos Incisivos centrais (A e B). Os canínos e primeiros 
molares superiores Irromperam em concomitância (C e D). No arco inferior, observou-se 
uma sequência de irrupção padrão (E e F). As variações na sequência de irrupção dos 
dentes decíduos é muito frequente e não determina maloclusão. A dentição decídua 
completou-se normalmente (G a 1). 
Tabela 2.1 ... Cronologia de irrupção dos dentes decíduos 
Incisivo central inferior 
Incisivo central superior 
Incisivos laterais 
Primeiros molares 
Caninos 
Segundos molares 
Fonte: Van der Unden.~ 
6-8 meses 
9 -10 meses 
10 - 14 meses 
14-18 meses 
18 - 24 meses 
24-30 meses 
Ortodontia interceptiva li 59 
60 // SILVA FILHO li GARIB li LARA 
~ 2.9 A a O Esta criança demonstrava uma Importante variação na cronologia e na 
sequência de irrupção da dentição decídua. O incisivo central superior foi o primeiro 
dente a irromper na cavidade bucal, na idade de 1 ano e 2 meses (A e 8). A morfolo-
gia do rebordo alveolar abaulada inferia a presença dos germes dentários (8). A se· 
quência de irrupção foi a seguinte: Incisivos centrais, primeiros molares, incisivos late-
rais, caninos e segundos molares (A a 1). A dentadura decídua se completou aos 4 anos 
de idade (J a 0). 
Ortodontia interceptiva li 61 
62 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
11> 2.10 A a L Mesmo paciente da Figura 2.9. Este caso exemplifica um atraso na idade 
dentária em relação à Idade cronológica. Houve atraso na irrupção dos dentes decíduos, 
e esperava-se o mesmo atraso na irrupção dos dentes permanentes. Os primeiros mo-
lares permanentes irromperam com aproximadamente 2 anos de atraso, aos 8 anos de 
idade (A a F). A troca dos incisivos completou-se próximo aos 11 anos de idade (G a L). 
Ortodontia interceptiva li 63 
64 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
11> 2.11 Radiografia panorâmica aos 5 anos de idade mostrando a presença dos 20 
dentes decíduos irrompidos e de 28 germes dos dentes permanentes. Os terceiros 
molares formam-se mais tardiamente, entre 8 e 12 anos de idade. 
i. 2.12 Os segundos pré-molares apresentam grande variabilidade no estágio de formação. Apesar de iniciarem a mineralização 
em média aos 3 anos de idade, o atraso no desenvoMmento desses dentes é muito comum, motivo pelo qual o diagnóstico da 
agenesia de segundos molares não deve ser realizado antes dos 8 anos de idade. (A) Mostra uma radiografia panorâmica de uma 
criança de 6 anos de idade com ausência do segundo pré-molar inferior direito. (8) Uma segunda radiografia panorâmica aos 7,5 
anos denunciou o aparecimento tardio do germe do dente 45. 
As anomalias dentárias apresentam ocorrência bem 
menos comum na dentição decídua do que na dentição 
permanente e consistem basicamente em supranume-
rárlos, ageneslas, fusão e geminação.10 Os dentes decl-
duos supranumerárlos ocorrem em uma frequência de 
aproximadamente 0,5% e costumam envolver os incisi-
vos laterais.11-12 A prevalência de agenesia de dentes de-
cfduos é pouco inferior a 1%.11.12 Sem dúvida, a fusão e 
a geminação representam as anomalias dentárias mais 
frequentes na dentição decldua. A prevalência combi-
nada dessas duas anomalias varia de 0,5 a 1,6%, mas 
elas representam 75% das anomalias dentárias na den-
t ição decídua.10 Ao diagnosticar um dente decfduo du-
plo, a possibilidade de fusão (94%) é bem mais elevada 
do que a de geminação (6%).1º 
A presença de anomalias dentárias na dentição de-
cídua constitui Indicador de risco para a recorrência de 
anomalias na dentição permanente. Uma parcela consi-
derável de crianças (30 a 60%) com anomalias dentárias 
em um dente decíduo também apresentam anomalias 
no sucessor permanente (Fig. 2.13).1º·11 Especif icamente 
a agenesia de dentes decíduos afeta mais os incisivos e 
apresenta um grau de recorrência de 95% na dentição 
permanente.10 Os supranumeráriosdecíduos localizam-
-se na maioria dos casos na região dos incisivos, e a 
repetição da sua ocorrência na dentição permanente 
,----, 
1 • 1 • 1 • 1 • 1 • 1 • • ' 1 • 1 • 
DENTIÇÃO 
DECÍDUA 
Agenesia dentária 
Dentes 
supranumerários 
Geminação 
[ 
Ortodontia interceptiva li 65 
equivale a aproximadamente 60%.1º A geminação na 
dentição decídua é seguida pela presença de supranu-
merárlos permanentes em 45% dos casos.10 Já a fusão 
de dentes decíduos é seguida pela agenesia de um su-
cessor permanente (geralmente os incisivos laterais) em 
88% dos casos.10 
A partir dos 3 anos de Idade, a dentadura decídua 
mostra-se completa. Nessa fase, o profissional pode 
realizar uma análise morfológica da oclusão e da face 
para definir normalidade ou diagnosticar irregularidades 
dentofaclals . Mesmo na presença de maloclusões, as 
Intervenções ortodôntlcas não são Indicadas antes dos 
5 anos de idade, quando a criança apresenta maturida-
de ou discernimento para ser submetida ao tratamento. 
Antes desse período, o ortodontlsta pode apenas orien-
tar os pais quanto à presença da maloclusão, bem 
como sobre a sua etiologia. Alguns fatores atuam nega-
tivamente em idade demasiada precoce, notadamente 
os hábitos persistentes de sucção13•1s e a respiração 
buca1.1s O encaminhamento precoce para o otorrinola-
ringologista e o esclarecimento quanto à importância 
do aleitamento materno, tanto para o desenvolvimento 
de uma musculatura competente quanto para uma me-
nor dependência futura dos hábitos deletérios de suc-
ção, ganham Importância maior antes dos estágios pro-
pícios para o tratamento ortodôntico. Essas condutas 
95% > 
60% > 
45% 
DENTIÇÃO 
PERMANENTE 
Agenesla dentária 
Dentes 
supranumerárlos 
Dentes 
supranumerários 
Fusão [ 88% Agenesia 
V 
1> 2.13 Recorrência de anomalias dentárias. As frequências são baseadas em Marinem e colaboradores.'º 
66 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
representam a "ortodontia preventiva" e revigoram o 
compromisso positivo da ortodontla com a prevenção 
de irregularidades do sistema estomatognátlco. 
Na dentadura permanente, as seis chaves da oclu-
são normal de Andrews definem a normalidade oclusal 
ao mesmo tempo que constituem a meta terapêutica 
em ortodontla.17 De modo similar à dentadura perma-
nente, na dentadura decídua existem alguns referen-
ciais oclusais para a definição da normalidade. A rela-
ção sagltal interarcos dentários é traduzida pela relação 
dos caninos decíduos. A relação normal de caninos é 
aquela na qual a ponta de cúspide do canino superior 
oclul exatamente na ameia entre o canino e o primeiro 
molar inferior decídua (Fig. 2.14A a C). Portanto, a rela-
ção cúspide-ameia dos caninos define a relação sagital 
normal entre os arcos dentários decíduos ou a relação 
Classe 1. A clássica referência de Baume,18 que utiliza os 
planos terminais da dentadura decídua, é preterida pela 
utilização da relação de caninos, por diversas Justif icati-
vas. A relação de caninos é facilmente identificada. 
Além disso, é precisa, costuma apresentar f idelidade 
com o padrão facial sagital e apresenta estabilidade ao 
longo do crescimento e do desenvolvimento da oclusão. 
Em regra, a criança com relação de caninos normal ou 
Classe I na dentadura decídua apresentará relação Clas-
se I na dentadura permanente. 
O segundo referencial da oclusão normal na denta-
dura decídua volta-se para a relação dos lnterincisivos e 
refere-se à presença de trespasses horizontal e vertical 
positivos (Fig. 2.14A a C). Os incisivos superiores devem 
ocluir suavemente à frente dos inferiores, além de reco-
brir parte de suas coroas no sentido vertical. 
O terceiro e últ imo referencial de normalidade con-
siste na presença da relação interarcos caixa-tampa, 
com o arco inferior totalmente dentro do superior (Fig. 
2.148). As cúspldes vestibulares dos dentes superiores 
ocluem por vestibular dos dentes inferiores, enquanto 
as cúspides linguais dos dentes superiores repousam 
sobre o sulco central da face oclusal dos molares infe-
riores. Para garantir a relação caixa-tampa, o arco supe-
rior deve apresentar dimensões transversas maiores 
que as do arco inferior. Ambos os arcos dentários decí-
duos apresentam um formato semicircular (Fig. 2.140 
e E). O Quadro 2.1 resume as características de normali-
dade da oclusão na dentadura decídua. Entre 3 e 6 anos 
de Idade, a dentadura decídua mostra-se praticamente 
.,. 2.14 Oclusão normal na dentadura decídua: 1. Relação caninos Classe 1 (A e C); 2. 
Trespasse horizontal e vertical positivos e normais (A a C); 3. Relação caixa-tampa com 
o arco superior envolvendo o arco Inferior (8). Esta última referência de normalidade 
ocorre quando o arco superior apresenta dimensões transversas maiores que as do arco 
inferior (D e E). As características intra-arco na dentadura permanente, como a presença 
ou ausência de diastemas e a presença de apinhamento, não constituem referência de 
normalidade. As três situações intra-arco são consideradas normais na dentadura decí-
dua, sendo a presença de diastemas a situação mais frequente, seguida pela ausência 
de dlastemas (com alinhamento dos incisivos) e pelo apinhamento dentário.3 
Ortodontia interceptiva li 67 
Quadro 2.1. ~ Características de normalidade da dentadura decídua 
1) Relação sagital interarcos 
2) Relação interlnclsal 
3) Relação transversal lnterarcos 
estável, sem variações expressivas no posicionamento 
dentário individual, tampouco nas relações interarcos 
nos sentidos transversal e saglta1.1e As dimensões trans-
versais do arco dentário decídua pouco se alteram dos 3 
aos 6 anos. 20 
Os diastemas, apesar de constituírem regra na den-
tadura decídua, não definem normalidade. Pode haver 
oclusão normal na dentadura decídua com ou sem a 
presença de diastemas. A ausência de dlastemas não 
caracteriza anormalidade ou maloclusão na dentadura 
decídua (Fig. 2.140 e E), apenas Infere um pior prognós-
tico para o alinhamento dos incisivos permanentes na 
fase de dentadura mista.21 Na presença de espaçamen-
tos generalizados, a chance de alinhamento espontâ-
neo dos incisivos permanentes na dentadura mista é 
maior do que em crianças sem espaçamento na denta-
dura decídua. A Inexistência de diastemas não condena 
a criança obrigatoriamente à situação de apinhamento 
dos incisivos permanentes, embora aumente a chance 
dessa ocorrência. 
O apinhamento dos incisivos decíduos, presente em 
11% das crianças,3 não caracteriza, isoladamente, a 
maloclusão, uma vez que não requer intervenção. Por-
tanto, os referenciais lnterarcos dentários, e não as ca-
racterísticas intra-arco dentárias, são considerados na 
definição da oclusão normal na dentadura decídua. 
A interação entre o diagnóstico oclusal e o facial é 
muito importante nas fases precoces do desenvolvi-
mento oclusal. Quando a dentadura decídua se comple-
ta e os segundos molares decíduos entram em oclusão, 
o ortodontista já pode realizar uma leitura do padrão 
facial da criança. A relação anteroposterior entre os ar-
cos dentários Classes 1, li e Il i, definida pela relação de 
caninos, geralmente é bastante fiel ao comportamento 
anteroposterior entre as bases ósseas. Em outras pala-
vras, a relação oclusal correlaciona-se oom o padrão 
facial na maioria dos casos. 22 As crianças com relação 
de caninos Classe I geralmente demonstram um padrão 
facial 1,22 que Infere proporção entre a maxila e a mandí-
bula no sentido sagltal. As características de normalida-
de da face na criança na fase da dentadura decídua 
consistem, em uma análise frontal, na presença de sela-
mente labial e na ausência de assimetrias faciais. As 
Relação caninos Classe I 
Trespasse horizontal e vertical 
positivos e normais 
Relação caixa-tampa com o arco 
superior abraçando o arco inferior 
características de normalidade da análise do perfil re-
metem ao Padrão 1, traduzido por suave convexidade 
facial com adequada projeção malar, ângulo nasolablal 
harmônico, lábio superior posic ionadosuavemente à 
frente do lábio Inferior, sulco mentolabial bem delineado 
e linha menta-pescoço proporcional (Fig. 2.15).23 Esse 
mesmo padrão facial é normalmente observado em 
crianças com maloclusão Classe 1. 
A maloclusão Classe li na dentadura decídua carac-
teriza-se pela relação caninos Classe li, com a ponta de 
cúspide do canino superior oclulndo à frente da ameia 
distal do canino inferior (Fig. 2.16). A maloclusão Clas-
se li, em regra, está presente na criança com Padrão li 
(Fig. 2.17),22 que remete à discrepância sagital entre a 
maxila e a mandíbula e caracteriza-se por um perfil fa-
c ial moderadamente ou acentuadamente convexo. O 
padrão esquelético consiste no erro morfológico primá-
rio, enquanto a relação sagital entre os arcos dentário, 
que chamamos de classe, é consequência da discre-
pância entre as bases ósseas. 23 Tanto a relação de cani-
nos quanto o padrão facial tendem a manter-se estáveis 
ao longo do crescimento facial. Uma vez Classe li/Pa-
drão li na dentadura decídua, provavelmente Classe li/ 
Padrão li na dentadura permanente. 
O Padrão Ili caracteriza-se por um perfil com conve-
xidade muitas vezes reduzida, associado a deficiência 
na projeção zigomática, lábio inferior à frente do lábio 
superior e linha menta-pescoço alongada (Fig. 2.18).23 
Na infância, tais características faciais apresentam-se 
de forma sutil e desafiam o olhar do morfologista. Com 
o crescimento, as características faciais do Padrão Ili 
tendem a ficar mais marcadas no semblante do pacien-
te. A maloclusão Classe Ili na dentadura decídua ex-
pressa-se pela relação de caninos Classe Ili, com a 
ponta de cúspide do canino superior oclulndo atrás da 
ameia distal do canino Inferior (ver Fig. 2.16). Quase 
sempre há compatibilidade entre a relação sagital inte-
rarcos e o padrão facial, e essa regra tem a sua exceção 
mais frequente no Padrão Ili. Crianças com Padrão Ili 
podem demonstrar uma relação caninos Classe I ou 
Classe 111.22 Especif icamente, metade das crianças do 
Padrão Ili apresentam malociusão Classe 111;22 a outra 
metade apresenta relação caninos Classe 1. 22 
68 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
• 2.15 Criança de 5 anos de idade demonstrando Padrão 1 (A a C) e oclusão normal 
na dentadura decídua (D a H). 
Classe I 
Classe li 
Classe Ili 
IJ> 2.16 Na dentadura decídua, a relação sagital interarcos é definida pela 
relação de caninos. Na oclusão normal ou na maloclusão Classe 1, a ponta 
de cúspide ou centro da coroa dos caninos superiores oclui na ameia entre 
o canino e o primeiro molar inferiores decíduos. Quando a ponta de cúspide 
ou o centro da coroa dos caninos superiores oclui por mesial do ponto de 
contato entre canino e primeiro molar Inferiores, caracteriza-se a maloclusão 
Classe li. A oclusão do canino superior por distal da ameia em que ele de-
veria ocluir define a maloclusão Classe Ili. 
Ortodontia interceptiva li 69 
70 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
11> 2.17 Criança na dentadura decídua com Padrão li e maloclusão Classe li. 
Ortodontia interceptiva li 71 
.., 2.18 Criança aos 5 anos de Idade demonstrando Padrão Ili, com perfil facial bastante reto para 
a idade. Note o alongamento da linha manto-pescoço e a falta de expressão na face média. A 
análise oclusal demonstrava relação de caninos Classe Ili do lado direito e relação de caninos 
Classe I do lado esquerdo. 
72 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
Portanto, a maloclusão não constitui uma Irregula-
ridade exclusiva da dentadura permanente. As Irregu-
laridades oclusais e faciais Já se expressam desde a 
dentadura decídua, com uma prevalência expressiva. 
A oclusão normal é Identificada em somente um quarto 
das crianças na fase de dentadura decídua. 24 A fre-
quência de maloclusão no estágio da dentadura decí-
dua equivale a 73,3%.24 As prevalências de maloclusão 
Classes 1, li e Ili equivalem a 47,8%, 49,6% e 2,6%,24 
respectivamente, enquanto os padrões 1, li e Ili são evi-
dentes em 63,2%, 33,1% e 3,7% das crianças, nesta 
ordem. 25 A prevalência dos tipos faciais braqulfaclal, 
mesofacial e dollcofaclal na dentadura decídua equivale 
a, respectivamente, 13,5%, 64,6% e 21 ,9%.25 A Irregula-
ridade oclusal mais comum nesse estágio do desenvol-
vimento oclusal consiste na mordida aberta anterior 
(27,9%), na mordida cruzada posterior unilateral (11,6%) 
e na associação de mordida aberta anterior e mordida 
cruzada posterior (6,9%), Ilustradas nas Figuras 2.19 a 
2.21 .24 A mordida cruzada anterior é observada em 
3,5% das crianças, enquanto a mordida cruzada pos-
terior bilateral apresenta frequência de 1,1%.24 Todas 
essas maloclusões podem (e devem) ser tratadas a 
partir dos 5 anos de Idade, com exceção da maloclu-
são Classe li, que recebe Interceptação em Idades 
mais avançadas, em regra no período tardio da denta-
dura mista. 
O c ientista Louis Pasteur dizia que, ao ver uma crian-
ça, ela lhe Inspirava dois sentimentos: ternura pelo que 
era e respeito pelo que poderia vir a ser. As páginas se-
guintes nos remeterão a estágios futuros do desenvolvi-
mento Infantil. 
,,. 2.19 A mordida aberta anterior consiste na irregularidade oclusal mais frequente na dentadura decídua, abrangendo um pouco 
mais que um quarto das crianças nessa fase. 
,,. 2.20 Mordida cruzada posterior unilateral funcional. Essa irregularidade oclusal apresenta-se, de forma 
isolada, em uma prevalência de aproximadamente 11% na dentadura decídua. 
Ortodontia interceptiva li 73 
.. 2.21 A associação da mordida cruzada posterior unilateral com a mordida aberta 
anterior está presente em aproximadamente 7% das crianças no estágio de dentadu-
ra decídua. 
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study of dental development between 3 and 18 years age. 
Cambridge: Harvard University; 1959. 
21 Rossato C, Martins DR. Espaçamento anterior na dentadura 
decídua e sua relação com apinhamento na dentadura 
permanente: estudo longitudinal. Onodontia. 1993;26(2):81-7. 
22. Silva Filho OG, Herkrath FJ, Queiroz APC, Bibiano Silva GF. 
Correlação entre padrão facial e relação sagital entre os arcos 
dentários no estágio de dentadura decídua: considerações 
epidemiológicas. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial. 
2008;13(1):101-12. 
23. Capelozza Filho L. Diagnóstico em ortodontia. Maringá: Dental; 2004. 
24. Siiva Filho OG, Silva PRB, Rego MVNN, Silva FPL, Cavassan AO. 
Epidemiologia da má oclusão na dentadura decídua. Ortodontia. 
2002;35(1):22-33. 
25. Siiva filho OG, Herkrach FJ. Queiroz APC. Aiello CA. Padrão facial 
na dentadura decídua: estudo epidemiológico. Rev Dent Press 
Ortodon Ortop Facial. 2008;13(4):45-59. 
CAPÍTULO 
DENTADURA MISTA: 
DESENVOLVIMENTO -DAOCLUSAO 
DANIELA GAMBA GARIB 
OMAR GABRJEL DA SILVA FILHO 
TERUMJ OKADA OZAWA 
• A transição da dentadura decídua para a dentadura 
permanente estende-se por um período prolongado do 
desenvolvimento infantil, aproximadamente dos 6 aos 
12 anos de Idade. A dentadura mista é um período rico 
em eventos biológicos, incluindo a troca da dentição, o 
crescimento facial e as alterações dimensionais dos ar-
cos dentários. Trata-se de uma fase de transformação 
que permite a realização da maior parte dos procedi-
mentos ortodônticos interceptares. 
A partir da dentadura mista, desprendemo-nos do 
referencial cronológico para trabalhar com outras duas 
Idades biológicas: primeiramente a idade dentária e 
ocasionalmente a idade óssea.' A Idade óssea será con-
sultada apenas nas crianças com discrepâncias antero-
posteriores; já a idade dentária norteará o ortodontista, 
durante a dentadura mista, quanto à época de trata-
mento. A oportunidade de tratamento interceptar é di-
recionada mais pela idade dentária do que pela idade 
cronológica. Quando há Incongruências entre Idade cro-
nológica e dentária, esta últ ima será decisiva. A consul-
ta à Idade óssea durante a dentadura mista ficará res-
trita aos casos de Padrão 11, complementando a decisão 
quanto à época oportuna de intervenção. 
A idade dentária pode ser determinada por meio de 
referenciais radiográficos, observando-se o estágio da 
odontogênese dos germes dos dentes permanentes.2 
ou por melo de um referencial clínico baseado nas épo-
cas de Irrupção dentária.3 A filosofia que embasa essa 
76 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
obra utiliza o referencial de Idade dentária de Van der 
Linden,3 baseado exclusivamente no aparecimento dos 
dentes na cavidade bucal, com aplicabilidades prática e 
clínica. De acordo com esse referencial, a dentadura 
mista apresenta duas épocas marcantes de troca de 
dentes decíduos por dentes permanentes, o primeiro e 
o segundo período transitório. 4•5 Entre essas duas fases 
ativas de aparecimento de dentes permanentes nos ar-
cos dentários, interpõe-se um estágio de passividade 
clínica, sem irrupção de dentes, com duração aproxi-
mada de 1,5 ano, denominado período intertransitório.6 
As fases da dentadura mista estão resumidas no Qua-
dro 3.1 e serão especif icadas a seguir. 
PRIMEIRO PERÍODO TRANSITÓRIO 
O primeiro período transitório prolonga-:se por apro-
ximadamente 2 anos e caracteriza-se pela irrupção 
clínlca dos primeiros molares permanentes e substitui-
ção dos incisivos decfduos pelos Incisivos permanen-
tes (Fig. 3.1). 
Normalmente, por volta dos 6 anos de Idade, a ir-
rupção dos primeiros molares permanentes anuncia a 
dentadura mista. Os primeiros molares permanentes 
não têm predecessores, irrompendo no final do arco 
dentário declduo (Fig. 3.2). A natureza garante o espa-
ço para a Irrupção dos primeiros molares permanentes 
por meio da aposição óssea no túber da maxila e pelo 
alongamento do corpo mandibular com o deslizamen-
to do ramo em direção posterior. Os primeiros molares 
inferiores geralmente precedem os superiores. 4 Logo 
em seguida, os incisivos centrais inferiores decíduos 
esfoliam-se e os sucessores permanentes irrompem 
(Fig. 3.2). Esta sequência segue com a substituição 
dos incisivos centrais superiores, dos incisivos laterais 
inferiores e por último dos incisivos laterais superiores. 
Quadro 3.1 • Fases da dentadura mista segundo a classificação de Van der Linden 
Fases da dentadura mista 
Primeiro período transitório 
Período intertransitório 
Segundo período transitório 
Fonte: Van der Linden.:i-n 
Eventos irruptivos 
- Irrupção dos primeiros molares permanentes. 
- Esfoliação dos Incisivos decíduos e Irrupção dos incisivos permanente. 
(Ausentes) 
- Esfollação dos caninos decfduos e irrupção dos caninos permanentes. 
- Esfoliação dos molares deciduos e irrupção dos pré-molares. 
- Irrupção dos segundos molares permanentes. 
.,. 3.1 Representação dos dentes permanentes (primeiros molares e incisivos) que ir-
rompem durante o primeiro período transitório da dentadura mista. 
Ortodontia interceptiva li 77 
~ 3.2 
78 li SILVA FILHO /1 GARIB li LARA 
Ortodontia interceptiva li 79 
.. 3.2 
80 li SILVA FILHO li GARIB li LARA 
.- 3.2 A a G Acompanhamento do desenvolvimento da dentição desde a dentadura decídua até 
a dentadura permanente. A dentadura decídua mostrava características de normalidade (A1 a AS). 
O primeiro período transitório iniciou-se com a irrupção dos primeiros molares permanentes, se-
guida pela substituição dos incisivos centrais inferiores (81 a 83). Os Incisivos centrais superiores 
irromperam e se alinharem espontaneamente. Eles foram seguidos pelos incisivos laterais inferiores, 
que apontaram suavemente deslocados para lingual (C1 a C5). O quadro de suave irregularidade 
posicional dos incisivos inferiores no primeiro período transitório (C5) representa característica de 
normalidade da oclusão. O crescimento transversal do arco provê espaço para a dissolução de 
pequenas irregularidades na posição dos incisivos permanentes. O apinhamento flagrado em C5 
tem um caráter transitório, como denunciam as fotografias subsequentes da paciente. A irrupção 
dos incisivos laterais superiores encerra o primeiro período transitório da dentadura mista (D1 a D5). 
Após a troca dos incisivos, iniciou-se o período intertransitório, que teve duração aproximada de 
1,5 ano (E1 a E?). As imagens F1 a F3 representam o segundo período transitório da dentadura 
mista, mostrando a substituição dos caninos e molares decíduos pelos caninos permanentes e 
pré-molares. O último evento irruptivo do segundo período transitório foi representado pela irrupção 
dos segundos molares permanentes (G1 a G8). 
O desfecho do primeiro período transitório é marcado 
pelo término da Irrupção ativa dos Incisivos laterais su-
periores (Fig. 3.2). Em algumas crianças, a Irrupção dos 
Incisivos centrais Inferiores precede a Irrupção

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