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EA D 6 Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos 1. ObjetivOs • Analisar e reconhecer a necessidade de oferecer aos sur- dos igualdade de direitos. • Identificar o conceito de identidade surda e refletir sobre ele. • Identificar o conceito de cultura surda e refletir sobre ela. 2. COnteúdOs • Igualdade de direitos na surdez. • Identidade surda. • Cultura surda. 3. Orientações para O estudO da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 134 1) Leia esta unidade, anote suas dúvidas e interaja com seu tutor e colegas para saná-las. A partir dos concei- tos abordados nela, procure posicionar-se a respeito da problemática que envolve a discussão sobre a cultura e a identidade surda. 2) Verifique se na sua cidade existe uma comunidade surda atuante ou se há uma Associação de surdos e, se possí- vel, entre em contato com ela para vivenciar a cultura surda e descobrir mais sobre o mundo dos surdos. 3) Responda às questões autoavaliativas que estão disponí- veis ao final desta unidade, e, em caso de dúvidas, entre em contato com o seu tutor e com seus colegas na Sala de Aula Virtual para solucioná-las. 4) Não deixe de realizar a Leitura Complementar apresen- tada ao final desta unidade, ela irá ajudá-lo a compre- ender melhor as questões relacionadas à identidade e à cultura surda ao apresentar uma outra visão sobre essas questões. 4. intrOduçãO À unidade Na Unidade 5, você pôde refletir sobre as estratégias e os recursos didáticos e tecnológicos que estão sendo utilizados atu- almente na educação dos surdos. Destacamos os recursos visuais como uma possibilidade para garantir aquisição de conhecimento e desenvolvimento da pessoa com surdez, bem como um caminho para o exercício de sua cidadania. Nesse mesmo sentido e procurando ainda criar oportunida- des de condições de igualdade para os surdos, iremos estudar ago- ra os aspectos relacionados à identidade e à Cultura Surda. 5. igualdade de direitOs A igualdade de direitos para todos os cidadãos é uma dis- cussão muito antiga. A Declaração dos Direitos do Homem e do 135© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional Francesa, em 26 de agosto de 1789, é o primeiro documento mundial a afirmar em seu texto que as pessoas nascem e permanecem livres e iguais em seus direitos. Fundamentada nos princípios delineados pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mais recente- mente, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ver Tópico E-Referências) representou um avanço importante na construção de uma sociedade mundial mais justa. O movimento mundial de integração de pessoas com defici- ência, que reforçou as ideias defendidas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, defendia oportunidades educacionais e so- ciais iguais para todos os cidadãos. Nesse sentido, o objetivo principal da inclusão social é criar uma sociedade capaz de acolher todas as pessoas, independente- mente das diferenças e das necessidades individuais e, para isso, preconiza soluções para as diferentes identidades existentes nos ambientes sociais (ROSA, 2003). No campo da sociedade inclusiva, o principal tema é a diver- sidade humana, e no caso da surdez, isso significa enfrentar de- safios inesperados e permanentes. Nesse sentido, Brito (1993, p. 45) afirma que "o reconhecimento da diferença é o primeiro passo para a integração do surdo na comunidade ouvinte que o circula". As instituições envolvidas com as pessoas surdas defendem seus direitos à cidadania em termos de igualdade. E, segundo Ross (2001, p. 58), "a igualdade encontra-se nas diferenças próprias de cada um". Para pessoas e comunidades que se encontram segre- gadas, o sentido de inclusão social pressupõe a ampliação da par- ticipação desses grupos nas situações comuns. Sendo assim, a in- clusão implica, essencialmente, uma atitude de respeito ao outro como cidadão. Remetendo-nos, novamente, à surdez, as especificidades dos surdos não significam obstáculos para a inclusão na comuni- dade ouvinte, ao contrário, segundo Rosa (2003, p. 236): © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 136 A aceitação da diferença favorece a inclusão, uma vez que ela deve acontecer de forma que a sociedade ouvinte reconheça nos surdos a mesma capacidade de comunicação linguística e a mesma poten- cialidade para realizações e participação em tarefas sociais comuns nos dois grupos. Entretanto, os surdos, ao longo da história, têm sido vistos, principalmente, sob a perspectiva exclusivamente fisiológica, ou seja, relativa ao déficit de audição. Isso tem acontecido dentro de um discurso de normalização e de medicalização da surdez, cujas nomenclaturas imprimem valores e convenções na forma como o outro é significado e representado (GESSER, 2009). 6. identidade surda e Os dOCumentOs OfiCiais que tratam da inClusãO Na Unidade 1, vimos que a história da educação dos surdos foi marcada pelo domínio dos ouvintes que, por muito tempo, decidi- ram sobre o quê, quando e como os surdos deveriam aprender. O oralismo, abordagem que defende a utilização da fala e da audição como principais recursos para a comunicação, prevaleceu por mais de 100 anos. No Brasil, somente nos anos 1980 os sinais voltaram a ser utilizados na educação dos surdos com a Comunica- ção Total. No final da década de 1990, estudiosos ligados à área da surdez começaram a discutir o bilinguismo no país. Para os adeptos do bilinguismo, a língua de sinais é a única que, segundo Dorziat et al. (1999), os surdos poderiam dominar plenamente e que poderia suprir suas necessidades cognitivas e de comunicação. Entender o surdo sob a perspectiva do bilinguismo é reconhe- cê-lo como pertencente a um grupo minoritário, com cultura e lín- gua própria. Segundo Gesser (2009), a afirmação de que "o surdo tem uma identidade e uma cultura própria" torna-se muito significa- tiva no processo de afirmação coletiva de grupos minoritários. 137© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos Segundo Castells (1999, p. 22), a identidade pode ser enten- dida como: [...] um processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou, ainda, um conjunto de atributos culturais in- ter-relacionados, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado. No caso das pessoas com surdez, Kauchakje (2003, p. 57-58) afirma que a "construção da identidade dos surdos passa pela mu- dança de paradigma da deficiência para o de minoria linguística e cultural". Ao discorrer sobre o conceito de minoria, a autora (KAU- CHAKJE, 2003, p. 57-58) afirma que: As denominadas minorias são assim consideradas porque trazem inscrito nos corpos algum atributo identificado como diferente e/ ou porque não expressam ou não fazem parte dos grupos detento- res de poder, embora possam manifestar, por meio de sua organi- zação, o poder social. Essa autora afirma, ainda, que para a maioria das pessoas dos grupos minoritários que vivem em uma situação social desfavorá- vel, configurada pela pobreza, pela privação ou pela ineficiência no atendimento aos seus direitos sociais, a exclusão pode se sobressair, intensificando outras exclusões fundamentadas na diferença. Em uma sociedade semelhante a essa em que vivemos, onde encontramos uma desigualdade social acentuada, os direitos das pessoas que fazem parte dos grupos minoritários, tais como os surdos, tendem a ser repetidamente desrespeitados. Segundo Kauchakje (2003, p. 63-64), "a desigualdade social potencializa ou- tras formas de injustiça social, como as baseadas na diferença".Mas será que, ainda hoje, há tanto desrespeito em nossa so- ciedade? Sim, infelizmente isso ainda acontece apesar de a legisla- ção brasileira garantir vários direitos às pessoas com necessidades especiais, dentre elas os surdos. Vejamos, a seguir, o que nos dizem os textos de algumas de nossas leis, a começar pela Constituição Federal de 1988. © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 138 O Art. 1º da Constituição brasileira refere-se ao exercício da cidadania e da dignidade da pessoa humana. O Art. 3º define os objetivos fundamentais da República Fe- derativa do Brasil e, no item IV, afirma seu compromisso do esta- do "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". De acordo com a Constituição de 1988 (ver Tópico E-Referências), a educação é direito de todos os cidadãos e um dever do Estado e da família: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da famí- lia, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O artigo 206, inciso I, estabelece como um dos princípios a "igual- dade de condições de acesso e permanência na escola", o que significa que o acesso à escola e a permanência nela devem ser iguais para to- dos, sem distinção, por exemplo, de raça, sexo e condição econômica. Por sua vez, o artigo 208 afirma que os "portadores de de- ficiência" devem frequentar, preferencialmente, a rede regular de ensino, ou seja, devem estar incluídos em escolas de Educação In- fantil, Ensino Fundamental e Médio, e devem aprender em con- junto, como todas as outras crianças. Essa premissa está descrita no texto da seguinte forma: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado median- te a garantia de: III – atendimento educacional especializado aos portadores de defi- ciência, preferencialmente na rede regular de ensino. Esses compromissos foram reiterados em outros documen- tos nacionais, como, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/Lei nº 8.069/90), que, no artigo 55, reforça os dispositivos legais da Constituição de 1988 quanto à educação, determinando que "os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino". Documentos internacionais, como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), 139© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos têm grande influência na formulação das políticas públicas da edu- cação inclusiva. A Declaração Mundial sobre Educação para Todos (ver Tópico E-referências) é um documento aprovado pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos que aconteceu em Jomtien, Tailândia, em março de 1990. Esse documento reforça a necessidade da uni- versalização da escolaridade básica dos indivíduos sem nenhuma forma de discriminação, independentemente das suas condições de raça, idade, gênero, situação social, crença ou religião. Apresenta com rigor as prescrições aos grupos considerados minoritários, en- fatizando que eles "[...] não devem sofrer qualquer tipo de discrimi- nação no acesso às oportunidades educacionais" (Unesco, 1990, p. 5). A Declaração de Salamanca (ver Tópico E-referências) é uma Estrutura de Ação em Educação Especial aprovada após discussões e emenda na sessão Plenária da Conferência de 10 de junho de 1994, ocorrida na cidade de Salamanca, Espanha. Seu texto final reafirma o compromisso com a Educação para Todos e aborda, extensamente, o conceito de inclusão, afirmando que a Educação Especial deveria incorporar princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças pudessem se beneficiar e, adicionalmente, revela uma forte preocupação com o desenvolvimento de ações que pudessem viabilizar de fato a Educação Inclusiva. O Plano Nacional de Educação (PNE) e a Resolução nº 2 CNE/ CEB, ambos do ano de 2001, são documentos que direcionam as ações do sistema escolar no que se refere à Educação Inclusiva. Tais documentos refletem a tendência mundial de uma concepção democrática da educação escolar que não comporta qualquer tipo de exclusão de crianças, jovens ou adultos, sendo suas recomen- dações influenciadas por vários debates mundiais, dentre eles: a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (1975), a Carta para o Terceiro Milênio (1999), a Convenção de Guatemala (2001) e a Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão (2001). © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 140 Entre todos esses documentos, merece destaque para a nossa discussão a Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação, com base na defici- ência, toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. No entanto, a existência de várias leis e a implementação de políticas não garante que suas prerrogativas sejam postas em prática – a efetividade da legislação reside, principalmente, na mu- dança de valores e atitudes. A noção de inclusão veiculada nesses documentos está rela- cionada ao direito à igualdade que, conforme dissemos, desde o século 18, e, de acordo com Kauchakje (2003 p. 67), "baliza as lutas sociais e um ideal político e de sociabilidade fundado nas relações democráticas e/ou igualitárias". Entretanto, uma sociedade fundamentada na igualdade, que, por sua vez, é entendida como homogênea, não deixa de ser excludente, tanto no sentido de poder vir a excluir os considerados diferentes, como no sentido de proibir a manifestação das diferenças. Vejamos o que nos diz Kauchakje (2003, p. 69-70) sobre a noção de igualdade. A noção de igualdade, como princípio de civilidade e como funda- mento de direitos, é diametralmente oposta à idéia de igualdade como homogeneização e como não reconhecimento de identida- des, culturas ou necessidades específicas. O direito à diferença também pode apresentar uma dupli- cidade de enfoque. Nesse sentido, a autora afirma (KAUCHAKJE, 2003, p. 70) que: No enfoque que a aproxima das demandas dos novos movimentos sociais, adquire o sentido do reconhecimento e respeito às singula- ridades e identidades, como contraponto à intolerância e para além da tolerância, pois supõe convivência e inter-relações importantes. E aqui se estabelece o vínculo com os movimentos pela inclusão. Pierucci (1990, p. 12) chama a atenção para um outro as- pecto da diferença. Segundo o autor, a ênfase na diferença pode 141© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos reforçar pensamentos e práticas conservadoras, salientando as de- sigualdades e causando a rejeição dos diferentes. Nesse sentido, a afirmação da diferença pode vir a contribuir para atitudes de discriminações e de estranhamento e separação com relação ao outro, favorecendo a formação de mentalidade e sociedades excludentes. Segundo Kauchakje (2003, p. 71): [...] a história mostra que a afirmação da diferença em relação ao outro até o limite no qual não há possibilidade de reconhecimento de alguma igualdade, ao menos formal, de direitos, traz uma rea- lidade trágica. Em se tratando de educação, a igualdade de direitos foi, e é, entendida como a possibilidade de frequentar o ensino regular, ou seja, de estar incluído com os demais alunos, uma vez que o movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica desencadeada em defesa do direitode todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. Em sentido mais amplo, para os grupos minoritários, em par- ticular para os surdos, a inclusão refere-se ao exercício de seus di- reitos, como, por exemplo, o do acesso à cidade, aos equipamen- tos de educação, ao trabalho, à assistência e previdência social, à saúde, ao lazer e à cultura. E, mais importante ainda, diz respeito à participação na sua (re)configuração e (re)construção para que novos direitos relativos à diversidade sejam incorporados (KAU- CHAKJE, 2003). Quanto aos direitos dos cidadãos, Valadão (1997, p. 10) afir- ma que: [...] os direitos são históricos, porque estão invariavelmente relacio- nados a certas circunstâncias e respondem a aspirações concretas de homens e mulheres como membros de uma determinada so- ciedade. De acordo com Castells (1983) apud Kauchakje (2003), os mo- vimentos sociais são os principais protagonistas na formulação da demanda por direitos. Em relação às lutas por direitos, Kauchakje nos diz que elas vão na direção de sua ampliação (mais direitos, novos direitos), de seu aprofundamento (garantias e condições © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 142 mais efetivas), bem como de sua abrangência e universalização (inclusão de mais pessoas e grupos sociais no exercício daqueles). 7. a Cultura surda As pessoas que utilizam a comunicação espaço-visual como principal meio de conhecer o mundo em substituição à audição e à fala fazem parte de um grupo cultural, o grupo dos surdos. A maio- ria das pessoas surdas, no contato com outros surdos, desenvolve a Língua de Sinais. Vários pesquisadores que estudam a surdez têm se dedicado a estudar a Cultura Surda (GOLDIFELD, 1997; MOURA, 2000; QUA- DROS, 1997; SÁ, 1999; SKLIAR, 2000). Definir o que vem a ser Cultura Surda é, ainda nos dias de hoje, uma tarefa bastante difícil, pois há muitas controvérsias. Entretanto, algumas questões serão levanta- das com o pressuposto de seguir os estudos culturais que propõem pensar a surdez em uma perspectiva antropológica e multicultural. Segundo Santana e Bergamo (2005), a discussão da litera- tura em torno da Cultura Surda pressupõe uma diferença entre surdos e ouvintes e admite que haja hegemonia em cada um dos extremos dessa díade. No entanto, essa diversidade faz parte de um processo de divisão social antiga, assim como o próprio discur- so sobre a desigualdade. Segundo esses autores: [...] um processo que, ao invés de aproximar os surdos dos ouvin- tes, distancia-os, já que enfatiza sempre o que eles têm de diferen- te e nunca o que eles têm em comum" (SANTANA e BERGAMO, 2005, p. 11). O multiculturalismo é um movimento social em oposição a todas as tentativas de homogeneizar a vida social. É, segundo Pinto (2000), "uma oposição a todas as ações dos outros a imprimirem a cultura dominante, vigente sobre uma outra cultura pré-existente: a Cultura Surda". A autora segue afirmando que conceituar o multicultura- lismo é falar sobre o reconhecimento do jogo das diferenças que 143© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos se constrói socialmente nos processos interligados nos diferentes contextos. Muitas vezes, o multiculturalismo constitui-se em movi- mento de lutas sociais, de ação cultural de um suposto grupo, que, por diversas vezes, se sente discriminado, excluído pelos outros segmentos da sociedade por suas peculiaridades (PINTO, 2000). Nesse espaço multicultural, estão presentes os movimentos sociais, como o dos negros, dos surdos, dos índios, dos homos- sexuais, das mulheres e dos judeus, que lutam pelas mudanças propulsoras para que possamos conviver com a diferença e, nesse contexto, fazer valer seus direitos civis, humanos e de ser perten- cente a minorias linguísticas, culturais, étnicas ou religiosas em antagonismo aos movimentos dominantes, vigentes, homogêneos (PINTO, 2000). "Cultura" pode ser entendida como um conjunto de práticas capazes de serem significadas por um grupo de pessoas que vivem e sentem, no caso dos surdos, a experiência visual de uma forma semelhante. Mais ainda, segundo Perlin (2004), como uma pos- sibilidade de os indivíduos surdos se inscreverem em um campo de lutas políticas, sociais, científicas etc. que coloque a surdez na existência surda e no plano do ser surdo. A língua de sinais é imprescindível para a transmissão e a evolução da cultura dos surdos. Por meio do convívio entre os sur- dos e da utilização de uma forma de comunicação natural e parti- lhada, eles criaram uma identidade e uma cultura. Podemos identificar vários traços da cultura surda, como, por exemplo, a literatura contada na Língua de Sinais. Nesse caso, ela consiste em histórias, contos, lendas, fábulas, anedotas, poe- sias, peças de teatro, piadas, rituais, entre outros. Por recontar a experiência dos surdos, muitas dessas formas de expressão dizem respeito, direta ou indiretamente, à opressão exercida pelas pes- soas ouvintes sobre os portadores de surdez. Pensando-se em crescimento, desenvolvimento, aquisição e pro- pagação da Cultura Surda, as instituições mais ativas para que isso acon- © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 144 teça têm sido as escolas para surdos e as numerosas associações e clu- bes de surdos existentes em todo o mundo, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Instituições de desportos para surdos, organizações políticas e religiosas também desempenharam, e continuam a desem- penhar, um papel significativo na vida social e cultural dos surdos. Considerando que cerca de 90% das pessoas surdas nascem em famílias ouvintes e 90% dos casais surdos têm filhos ouvintes, o papel que as escolas e as associações de surdos desempenham é vital para a transmissão da língua e da cultura dos surdos para as crianças surdas. Por essas razões é que a comunidade surda preocupa-se tanto com a in- clusão e a possibilidade de fechamento das instituições especializadas. Uma característica marcante da cultura dos surdos é a ele- vada taxa de casamentos endogâmicos, isto é, casamento entre membros de sua própria classe, sua própria cultura. Há uma esti- mativa de que nove de cada dez membros da comunidade surda casam com outros membros do seu grupo cultural. 8. leitura COmplementar A seguir, apresentamos fragmentos de um artigo intitulado Surdez, linguagem e cultura, de José Geraldo Silveira Bueno (ver E-Referências). Neste texto, o autor procura analisar, de maneira crítica, a relação entre a surdez, a linguagem e a cultura. Para isso, utiliza três referenciais teóricos básicos: a história, a abordagem multiculturalista e a relação normalidade-patologia. Bueno (1998) apresenta uma visão diferente da apresentada nesta unidade e pretende, com este artigo, questionar a integração social do indivíduo surdo, buscando, segundo ele, superar a visão dicotômica e a-histórica que centra toda sua análise na divisão do meio social entre "sociedade ouvinte" e "comunidade surda". Vejamos fragmentos do texto que comprovam a visão do autor sobre tal questão. Inicialmente, Bueno (1998) discute alguns aspec- tos sobre a Cultura Surda dentro de uma perspectiva multicultural: 145© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos Surdez, linguagem e cultura –––––––––––––––––––––––––––– [...] Na medida em que os teóricos da surdez se apropriam dessa concepção, transformam essa diversidade cultural em homogeneidade cultural (cultura ou- vinte), reduzindo – e muito, a meu ver – a riqueza teórica dessa abordagem. O mundo passa a ser dividido entre "cultura ouvinte" (dominadora) e "cultura surda" (dominada). O que identifica o segundo grupo é a surdez, independentemente de raça, classeou gênero. O surdo (abstrato, já que na realidade concreta não se encontra esse surdo) passa a ter como única característica determinante de sua identidade a surdez. Não conta o fato de ser branco ou negro, rico ou pobre, homem ou mulher. Essa divisão não serve. Qual a grande consequência dessa visão? A de eliminar da discussão sobre as condições sociais da surdez, as determinações de raça, classe e gênero, isto é, de considerar (contraditoriamente às concepções do multiculturalismo) que essas determinações não são significativas no caso da surdez. Pois, se fossem, deveriam fazer parte integrante de nossas análises sobre a "comunidade de sur- dos" e sobre os "indivíduos surdos". [...] Se consideramos que a surdez é o único fator para a existência de uma "co- munidade surda", deveremos negar a importância das determinações de raça, classe e gênero que, se servem para o restante da humanidade, não se encai- xam no caso dos surdos. Se, entretanto, entendermos que essas determinações de raça, classe e gênero são importantes para a análise das culturas, como tratar o "surdo" e a "comunidade surda" sem levá-las em consideração? Essa concepção, que deturpa e reduz sua origem teórica (o multiculturalismo), na verdade tem como consequência mais nefasta, a meu ver, o encobrimento daquilo que é a riqueza da abordagem: a busca do entendimento da diversidade na pseudo-homogeneidade aparente. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para o autor, existe uma diferença significativa entre considerar a comunidade como um grupo minoritário, ou percebê-la do ponto de vista histórico, e que se contrapõe ao conceito de sociedade. O autor critica os autores que analisam a relação indivíduo surdo-co- munidade-sociedade, sem se preocupar com os pressupostos que permeiam estas questões. Acerca desse assunto, Bueno afirma: –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– [...] a comunidade dos surdos é entendida, por esses autores, como o "lugar onde os Surdos se encontram, onde o Surdo se sente entre iguais, seja na escola residencial, clubes de Surdos, eventos esportivos de Surdos, festas de Surdos etc.". Procuram não utilizar o termo [sic] comunidade surda, por entenderem que existem situações em que os membros da Comunidade de Surdos não são Surdos, mas se identificam com os problemas da surdez (parentes, profissionais) ou fazem parte de uma família Surda (filhos ouvintes de pais Surdos), ou ainda Surdos que vêm de outros lugares e que ainda não aprenderam toda a escala de habilidades requeridas para aquela comunidade. [...] Existe a questão também daqueles surdos que não pertenciam à Comunidade de Surdos e que se juntam a ela mais tarde na vida. © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 146 [...] uma coisa é considerar a comunidade como a manifestação concreta de agrupamentos, tal como nos apresenta Pereira. Para esse autor, comunidade é utilizada no sentido de um agregado humano com residência estável numa certa área geográfica, na qual se concentra ponderável variedade de instituições e associações, capazes de satisfazer aos diversos interesses fundamentais e comuns desse agregado. [...] Outra, muito diferente, é utilizar esse conceito do ponto de vista histórico, em que comunidade se contrapõe à sociedade, já que os interesses comuns pautados nas relações de parentesco e de proximidade geográfica, típicas das comunidades primitivas, entram em conflito com interesses antagônicos produzidos pelas com- plexas relações historicamente construídas pela moderna sociedade industrial: [...] Os autores que procuram analisar a relação indivíduo surdo-comunidade- sociedade parecem pouco se preocupar com distinções teóricas tão importantes. Assim, ora o conceito comunidade se refere à existência concreta de grupos de surdos com interesses comuns, ora serve para designar todo o conjunto de surdos (não se sabe se de uma cidade, de um país ou do planeta), ora se con- fundindo com o conceito de sociedade. [...] Por outro lado, estabelece-se uma contradição entre a base teórica e a análi- se da realidade. No sentido de não se restringir a comunidade de surdos somen- te aos sujeitos com perdas auditivas, nela são incluídos os pais ouvintes de filhos surdos, os filhos ouvintes de pais surdos e os profissionais que com eles traba- lham. Mas quando se voltam para a realidade concreta só consideram membros da comunidade de surdos os que respeitam e utilizam língua de sinais. Ora, se é fato que existem comunidades de surdos (entendidas como agrupamentos de sujeitos em busca de interesses comuns) que não se restringem aos indivíduos surdos, mas incluem os que mantêm relações sociais significativas com eles, como se pode considerar que pais e profissionais que só valorizam a língua oral não façam parte dessa comunidade? Enfim, a maior consequência de se circunscrever o problema da integração social do indivíduo surdo no âmbito das decorrências diretas da surdez é a eliminação da possibilidade de sua análise dentro da perspectiva crítica que compreende a sociedade moderna como uma sociedade contraditória e conflituosa. O fato de ter se aceitado e, inclusive, estimulado a existência de uma "comunidade surda" pode ser interpretado somente na perspectiva da democratização das relações sociais? Ou, ao contrário, pode significar muito mais uma forma de separar o diferente? A meu ver, a forma como se tem trabalhado a questão em que não são leva- das em consideração as formas conflituosas, contraditórias e exploratórias pelas quais a moderna sociedade industrial se constituiu, não em relação aos sujeitos ouvintes versus sujeitos surdos, mas envolvendo dominação de classe, de raça e de gênero redunda em uma visão abstrata da problemática social da surdez e aponta para uma saída idealista: a solução é a criação de comunidades surdas, independentemente das formas como a sociedade em geral se organiza. Isto é, se o oralismo, tal qual foi sendo construído historicamente, constituiu-se numa forma opressiva de uma maioria sobre uma minoria, o sinal, visto como redenção do surdo numa sociedade extremamente injusta, está sendo utilizado como uma outra forma de subjugação, na medida em que encobre outros deter- minantes fundamentais além da surdez, que jogam peso decisivo na formação de suas identidades e na trajetória de sua autonomia individual. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 147© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos Outro ponto de discordância para Bueno (1998) refere-se à conotação dada à história da educação dos surdos, pois, segundo o autor, os oralistas são apresentados como "carrascos" e os gestu- alistas como os "defensores dos surdos oprimidos". Vejamos o po- sicionamento de Bueno sobre a perspectiva histórica da surdez: –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– [...] A primeira consideração a ser feita é de que a recuperação histórica realizada por esses autores procura explicar o presente pela trajetória passada. Em outros termos, o que justifica o fato de que o surdo não tivesse um lugar ao sol é a impo- sição feita pelos ouvintes para a incorporação de uma língua que não era sua. Por outro lado, para esses mesmos autores, a sucessão dos fatos históricos é uma constante progressão, do menos adequado ao cada vez mais adequado, ou seja, desde a imposição da língua oral e de sua progressiva e adequada substi- tuição pelo sinal. Essa concepção "presentista e progressivista" produz uma história justificadora da realidade atual, uma vez que coloca o presente como consequência inexorá- vel do suceder dos fatos históricos. Assim é que essa visão parte do princípio de que, tendo em vista a desvalorização que se deu no suceder da história sobre a importância do sinal, só poderíamos desembocar na situação atual, em que apenas alguns conseguem enxergar toda sua riquezae propriedade com relação à "comunidade surda". Por outro lado, a visão "presentista" leva-nos a encarar o passado com base nas perspectivas e necessidades do presente. Assim, a visão de Aristóteles ou de [Pedro] Ponce de León sobre a linguagem oral parece acarretar uma visão de surdez e não o inverso, isto é, de que as condições socioestruturais dessas sociedades acarretavam uma visão de linguagem e, consequentemente, de sur- dez. [...] Em suma, a história assim produzida é a dos "carrascos", personificados pe- los "oralistas", e dos "defensores dos oprimidos", os gestualistas. Para os primei- ros, ficam as qualificações, ou melhor, desqualificações: de defensor os direitos dos filhos da nobreza (Ponce de León), de falta de originalidade (Bonet), de não trabalhar com os completamente surdos (Pereira), de copiador de idéias (Am- man), de ocultador do método (Braidwood), de criador da concepção de surdez como doença (Itard), de não entender nada de surdez (Ordinaire), de comparar surdos a criminosos (Howe), de pior inimigo dos surdos e de salvar os ouvintes da convivência indesejável com grupos de surdos (Bell); para os segundos, as qualificações de colocar os surdos na categoria de humanos (L’Epée), de brilhan- te professor (Clerk), de grandes iniciativas (E. Gallaudet). É interessante verificar, entretanto, que, dos nomes citados como defensores da "co- munidade dos surdos", raros são aqueles que eram surdos: entre L’Epée, Gallaudet pai, Gallaudet filho, Clerk, Sicard, Massieu, Wallis, Weld, Watson (Londres), Vaïsse, Moritz Hill (Alemanha), apenas dois eram surdos (Clerk e Massieu). Isto é, os defen- sores dos sinais, arautos da autonomia e do respeito à comunidade surda, consegui- ram produzir dois indivíduos de destaque em 200 anos (Moura 1996). Essa posição intransigente e ideológica, na verdade, retira do estudo da história aquilo que seria o mais significativo: a análise dos conflitos e das contradições © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 148 das ações e representações dos sujeitos históricos que refletem, por um lado, os determinantes sociais macroestruturais e, por outro, os próprios caminhos e descaminhos dos sujeitos e das instituições que contribuem para a reprodução (ou não) dessas mesmas contradições e conflitos. [...] Uma outra questão a ser apontada é a de que essas obras analisam a histó- ria como produto de pessoas notáveis (para o bem e para o mal) desvinculadas de suas relações pessoais, institucionais e sociais. Assim, a história é produto da ação desses senhores, uns por motivações intrinsecamente meritórias (os defensores do sinal) e os outros, por motivações preconceituosas e prejudiciais ao surdo (os defensores do oralismo). As poucas tentativas de contextualização sociocultural não conseguem explicar o fundamental: por que os oralistas não conseguiram fazer com que os surdos se apropriassem dessa linguagem e por que os gestualistas não conseguiram fazer com que os surdos se constituíssem numa comunidade forte e autônoma. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Quanto à relação surdez-normalidade, o autor afirma ser uma distinção conceitual e, portanto, teórica. Nesse sentido, segundo Bueno (1998) ela deve ser devidamente estuda e analisada: –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Boa parte da literatura que procura defender a concepção da existência de uma comunidade surda coloca-se em contraposição, às vezes explícita e às vezes implícita, da surdez considerada como deficiência. [...] Ele não deve ser considerado como excepcional, nem como patológico. Mas não se pode considerá-lo como normal, já que ele sofre uma restrição. Nesse sentido, assim como outros indivíduos pertencentes a diferentes minorias (ne- gros, gays etc.), o surdo deve ser encarado como membro de uma comunidade que sofre restrição daqueles que não o são. Cabe aqui, porém, uma pergunta básica: afinal de contas, a surdez é ou não uma deficiência? Todas as evidências científicas, sociais e culturais indicam que é. E mais, deve- mos envidar todos os esforços para evitá-la. A vacina contra a rubéola materna deve ser implementada porque previne um dos fatores que podem ocasionar surdez em recém-nascidos. Isto é, previne um mal. Considerar o surdo como um grupo minoritário pode ser importante do ponto de vista das diferenças culturais, mas confundi-lo com outros grupos minoritários é, a meu ver, esconder uma dis- tinção entre o patológico e a mera diferença. Em outras palavras, qualquer iniciativa de intervenção para homogeneizar dife- renças, como, por exemplo, o embranquecimento das populações negras, ou a eliminação de características como a homossexualidade ou os olhos "puxados" das etnias orientais, no meu modo de entender, devem ser combatidas, pois representam uma visão "arianis" incompatível com as diferenças e com a cons- trução da democracia. Isto, entretanto, não se estende a outros casos, como os patológicos, porque se houver possibilidade de evitar o seu advento, isto é, se houver formas de prevenir sua incidência ou de se solucionar este mal, isso deve ser feito. 149© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos Essa distinção entre a diferença e a doença/deficiência não pode ser conside- rada, por nós estudiosos, como meramente retórica, pois é conceitual, portanto, teórica, e quanto mais solidamente enfrentada, mais nos oferece possibilidades de densidade em nossas análises (que, redundantemente, queiramos ou não, são teóricas). Em síntese, a perda auditiva existe. Não é meramente uma invenção dos ou- vintes em relação aos surdos. Se ela passar a ser considerada como uma mera diferença, qualquer ação contra sua incidência deverá ser combatida, se quiser- mos manter uma postura coerentemente democrática. Se, de alguma forma, con- cordarmos com formas para sua prevenção ou erradicação, apesar de qualquer discurso, ela será considerada como mal a ser evitado. O problema com relação à surdez, assim como para as deficiências em geral, é que, como ela não afeta diretamente as possibilidades de sobrevivência e, em grande parte dos casos, até o momento atual, não é passível de reversão, há que se encontrar formas democráticas de conviver com os surdos. Assim, parece-me acertado procurar distinguir a surdez da doença, mas não se pode deixar de considerá-la como uma condição intrinsecamente adversa (diferentemente da negritude ou do homossexualismo). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Bueno conclui seu artigo afirmando que os surdos não po- dem ser tratados como doentes, e, para mudar essa concepção, as consequências da surdez deveriam ser analisadas de uma forma mais abrangente e à luz das relações sociais. O autor finaliza suas reflexões tecendo as seguintes considerações: –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O nó da questão da integração social do indivíduo surdo, envolvendo a existência de grupos de surdos e sua convivência com os ouvintes, pode ser assim coloca- do: apesar de ser uma condição intrinsecamente adversa, a surdez e os surdos não podem ser tratados meramente como doentes, pois não o são. Essa visão só poderá ser modificada se ultrapassarmos as decorrências diretas da perda auditiva e analisarmos de forma mais abrangente as consequências geradas por ela, aliadas às consequências construídas e produzidas pelas relações sociais. Caberia, então, perguntar: defender a existência de comunidades surdas, con- siderando a língua de sinais como sua primeira língua em contraposição a uma língua imposta pela "sociedade ouvinte", é contribuir para a superação de sua condição socialmente adversa? Por outro lado, desconsiderar o fato de que existem agrupamentos de surdos que se utilizam de formas de representação diferentes daquelas utilizadas pelos ouvintes, e exigir deles a mesma produtividade emrelação à linguagem oral dos que ouvem, é a resposta? Do meu ponto de vista, nenhuma das duas perguntas pode guiar nossa trajetória porque, independentemente de nossas intenções, elas continuam a restringir o indivíduo às manifestações intrínsecas da surdez. Somente no momento em que nos debruçarmos sobre o fenômeno social da defi- ciência auditiva, levando em consideração as restrições efetivamente impostas por © Língua Brasileira de Sinais Claretiano - Rede de eduCação 150 uma condição intrinsecamente adversa (a surdez), aliada às condições sociais das minorias culturais, determinadas por diferenças de classe, raça e gênero, estare- mos avançando no sentido de contribuir efetivamente para o acesso à cidadania, acesso esse historicamente negado, quer pelos defensores do oralismo, quer pe- los defensores da língua de sinais, na medida em que nenhum deles conseguiu, efetivamente, se desvincular das manifestações específicas geradas pela surdez. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9. questões autOavaliativas Confira, a seguir, as questões propostas para verificar seu de- sempenho no estudo desta unidade: 1) O que você entende por igualdade de direitos? 2) Qual o objetivo principal da inclusão social? 3) Qual a relação existente entre o conceito de igualdade de direitos e inclusão? 4) O que é identidade surda? 5) Quais as marcas da identidade surda? 6) Quais as principais Leis relacionadas ao conceito de igualdade de direitos? Comente cada uma delas. 7) O que é cultura? E cultura surda? 8) Qual a relação entre multiculturalismo e cultura surda? 9) Qual a importância das escolas de surdos e das associações de surdos para a comunidade surda? 10. COnsiderações Nesta unidade, você estudou os aspectos relacionados à identidade e à cultura surda, compreendendo esta discussão sob a perspectiva da igualdade de direitos a todos os cidadãos, indepen- dentemente do fato de eles serem surdos ou não. A próxima unidade irá apresentar os aspectos específicos re- lacionados à gramática da Libras. 151© Identidade e Igualdade de Direitos dos Surdos 11. E-REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www. senado.gov.br/sf/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988/CON1988.htm>. Acesso em: 21 maio 2010. ______. Declaração de Salamanca. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 18 maio 2010. ______. 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