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Indaial – 2021 SurdoS Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha Prof.a Mariana Correia 1a Edição EStudoS Elaboração: Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha Prof.a Mariana Correia Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C972e Cunha, Cristian Hernando Sardo da Estudos surdos. / Cristian Hernando Sardo da Cunha; Mariana Correia. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 240 p.; il. ISBN 978-65-5663-443-2 ISBN Digital 978-65-5663-444-9 1. Língua de sinais. - Brasil. I. Correia, Mariana. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 371.912 Prezado acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Estudos Surdos. Neste material estudaremos alguns dos aspectos históricos, culturais, pedagógicos e sociais que influenciaram e continuam a influenciar o desenvolvimento do campo de pesquisa dos Estudos Surdos. Deste modo, o objetivo deste livro didático é apresentar as bases sobre as quais se deu o desenvolvimento e ampliação da pesquisa feita pelos surdos e não sobre os surdos, ou seja, a pesquisa em que as pessoas que fazem parte da comunidade surda não são apenas objetos, mas também são os agentes pesquisadores. Na Unidade 1, nós veremos os aspectos que historicamente participaram da constituição das compreensões da surdez e, por extensão, dos surdos. Este estudo é necessário porque precisamos entender a partir de que contexto social, histórico, político, educacional e laboral se deu o surgimento e desenvolvimento dos Estudos Surdos como campo de pesquisa. Assim, nesta unidade serão estudados os elementos que estimularam as percepções sobre a surdez e os surdos ao longo do tempo, tais como os movimentos históricos e sociais que influenciaram a constituição das comunidades surdas; os modos como se deram as inserções dos surdos na sociedade através das discussões sobre representatividade, trabalho e o uso da língua de sinais; por fim, discutiremos os tópicos vinculados à educação dos surdos e sua inserção como docentes nas instituições de ensino. Dessa maneira, a Unidade 1 aborda, brevemente, aquilo que precedeu e fomentou as inserções sociais, históricas e educacionais que resultaram no desenvolvimento dos Estudos Surdos dentro da linha dos Estudos Culturais em Educação. Na Unidade 2 serão examinadas as questões de formação da identidade surda a partir dos contextos familiares e culturais, de modo a compreender os elementos específicos da formação identitária que trouxeram à baila as discussões sobre surdez, feitas pelas pessoas que constituem a comunidade surda e o povo surdo. Assim, nesta unidade, veremos os tópicos sobre a constituição da identidade em geral e da identidade surda em específico. Retomaremos estereótipos e perspectivas sobre a surdez; também discutiremos alguns dos processos familiares que estão envolvidos na composição das identidades e características da comunidade e do povo surdo; por fim, serão feitas as discussões sobre a delimitação e a perspectiva dos Estudos Surdos dentro dos Estudos Culturais em Educação. Além disso, veremos como o campo de pesquisa se expandiu para o desenvolvimento de estudos e pesquisas nos mais diversos campos em que os surdos estão inseridos como protagonistas e pesquisadores em parceria com os ouvintes que fazem parte da comunidade surda. Para encerrar este livro didático, na Unidade 3 serão trazidas as perspectivas de estudos a partir do campo de pesquisa dos Estudos Surdos. Deste modo, a unidade tem como objetivo comentar, apresentar e discutir artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses inseridos nas pesquisas em Estudos Surdos referentes às áreas de Educação e Linguística. Desta forma, nós faremos um apanhado de temas e assuntos que são abordados nestas áreas no campo de pesquisa dos Estudos Surdos. No final da Unidade 3 serão discutidos temas atuais que poderão servir de objeto de estudos APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. futuros em surdez, tais como, a presença de intérpretes em lives, apresentações musicais e outras expressões artísticas, televisionadas ou on-line; notícias, máscaras e o acesso à informação durante a pandemia; inclusão, escolas fechadas e surdez; e, ao fim, produções culturais surdas. Desta forma, a unidade pretende apresentar, brevemente, trabalhos existentes na área e apontar temáticas para estudos futuros. Você vai perceber que este livro trará várias referências a diversos materiais de pesquisa e consulta, isso porque, para poder estudar e ampliar seu conhecimento sobre o campo de pesquisa dos Estudos Surdos, duas coisas são necessárias: sintetizar a base de conhecimentos que fizeram com que se chegasse a esta compreensão dos estudos culturais e a clareza quanto às possiblidades de pesquisa dentro deles. Assim, ao longo do livro serão colocados materiais, sugestões e exemplificações para o aprofundamento das discussões e estudos realizados. Bons estudos e boa leitura! Prof.a Mariana Correia Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. QR CODE ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativosdos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 — HISTÓRICO DE COMPREENSÕES SOBRE O SURDO E A SURDEZ ................. 1 TÓPICO 1 — MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO ESTABELECIMENTO DE COMUNIDADES SURDAS .......................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 HISTÓRICO DAS PERCEPÇÕES SOBRE A SURDEZ ...........................................................4 3 A COMPREENSÃO SOCIAL DE DEFICIÊNCIA E SURDEZ ...................................................6 4 POLÍTICAS PÚBLICAS E SURDEZ ....................................................................................10 5 A RELEVÂNCIA DAS COMUNIDADES SURDAS PARA O POVO SURDO ........................... 15 5.1 AS DEFINIÇÕES DE COMUNIDADE SURDA E POVO SURDO ..................................................... 15 5.2 AS VIVÊNCIAS EM COMUNIDADE E O ACOLHIMENTO AO POVO SURDO...............................17 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 — INSERÇÕES SOCIAIS: REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE TRABALHO E LÍNGUA ..........................................................................................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27 2 O PODER E O PAPEL DA LÍNGUA NAS COMPREENSÕES SOBRE SURDEZ ................... 28 3 DIREITOS LINGUÍSTICOS E A APROPRIAÇÃO DA LÍNGUA E DA ESCRITA PELOS SURDOS ................................................................................................................... 32 3.1 LÍNGUA COMO PROBLEMA, DIREITO E RECURSO .......................................................................34 3.2 DIREITOS LINGUÍSTICOS INDIVIDUAIS ..........................................................................................34 3.3 DIREITOS LINGUÍSTICOS COLETIVOS ............................................................................................36 3.4 DIREITOS LINGUÍSTISCOS DOS SURDOS .....................................................................................36 3.5 DIREITOS LINGUÍSTICOS E ESCOLARIZAÇÃO DE SURDOS ......................................................38 4 REPRESENTATIVIDADE SURDA NA SOCIEDADE ........................................................... 40 5 TRABALHO, CONSUMO E SURDEZ .................................................................................. 49 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 56 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 58 TÓPICO 3 — O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO E A SURDEZ ..........................................59 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................59 2 PROPOSTAS EDUCACIONAIS PARA ATENDIMENTO AOS SURDOS ...............................59 2.1 ESCOLAS DE MODELO ORALISTA .....................................................................................................61 2.2 MODELO BIMODALISTA .....................................................................................................................62 2.3 A INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NAS INSTITUIÇÕES REGULARES ...................................63 2.4 MODELO BILÍNGUE .............................................................................................................................65 3 LIBRAS NAS UNIVERSIDADES .........................................................................................67 4 INSERÇÃO DE PROFESSORES SURDOS NAS INSTITUIÇÕES ........................................70 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................72 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................75 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 77 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................79 UNIDADE 2 — A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE SURDA, CULTURA, FAMÍLIA E ESTUDOS CULTURAIS ....................................................................................................................... 83 TÓPICO 1 — A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE SURDA ................................................... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 85 2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ................................................................................... 85 3 IDENTIDADES SURDAS ................................................................................................... 90 3.1 IDENTIDADE SURDA ...........................................................................................................................93 3.2 IDENTIDADE SURDA HÍBRIDA .........................................................................................................96 3.3 IDENTITADE SURDA FLUTUANTE ................................................................................................... 97 3.4 IDENTIDADE SURDA EMBAÇADA ...................................................................................................98 3.5 IDENTIDADE SURDA DE TRANSIÇÃO ............................................................................................98 3.6 IDENTIDADE SURDA DE DIÁSPORA ...............................................................................................99 3.7 IDENTIDADES SURDAS INTERMEDIÁRIAS ..................................................................................100 4 “DUPLA DIFERENÇA” E SURDEZ ...................................................................................103 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................106 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................108 TÓPICO 2 — PROCESSOS FAMILIARES NA CONSTITUIÇÃO DA SURDEZ ........................111 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111 2 QUESTÕES SOBRE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SURDEZ ........................................ 112 3 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA .........................................................................................117 4 OS SURDOS FILHOS DE PAIS OUVINTES ...................................................................... 119 5 CODAS: OS OUVINTES FILHOS DE PAIS SURDOS ........................................................126 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................133 TÓPICO 3 — OS ESTUDOS SURDOS NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS .........................................................................................................................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1352 AFINAL, O QUE É CULTURA? ..........................................................................................136 3 ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM A CULTURA SURDA ..............................................138 4 OS ESTUDOS CULTURAIS COMO LUGAR DOS ESTUDOS SURDOS .............................143 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................146 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................149 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 151 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................154 UNIDADE 3 — PERSPECTIVAS EM PESQUISA DENTRO DOS ESTUDOS SURDOS ................159 TÓPICO 1 — A PESQUISA EM ESTUDOS SURDOS ............................................................. 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 161 2 DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DE PESQUISA............................................................162 3 PESQUISADORAS BRASILEIRAS NO CAMPO DOS ESTUDOS SURDOS .......................165 4 COLEÇÃO ESTUDOS SURDOS ........................................................................................ 174 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 181 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................182 TÓPICO 2 — PANORAMA DE PESQUISA EM ESTUDOS SURDOS .....................................185 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................185 2 INTERDISCIPLINARIDADE EM ESTUDOS SURDOS.......................................................186 3 ESTUDOS SURDOS: PERSPECTIVAS DE PESQUISA .................................................... 191 3.1 LINGUÍSTICA ....................................................................................................................................... 192 3.2 EDUCAÇÃO ......................................................................................................................................... 197 3.3 ESTUDOS CULTURAIS .................................................................................................................... 202 4 REVISTAS, PERIÓDICOS E FONTES DE PESQUISA ...................................................... 203 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................... 206 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 208 TÓPICO 3 — ENCAMINHAMENTOS PARA PESQUISA EM ESTUDOS DE SINAIS ................. 211 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 211 2 AS LIVES EM TEMPOS DE PANDEMIA: ENTRETENIMENTO E DIVULGAÇÃO DE TEMÁTICAS SURDAS .................................................................................................212 2.1 AS LIVES DE ENTRETENIMENTO E A PRESENÇA DO INTÉRPRETE ...................................... 213 2.2 AS LIVES PARA DIVULGAÇÃO DE TEMAS SURDOS .................................................................218 3 NOTÍCIAS, MÁSCARAS E ACESSO À INFORMAÇÃO ..................................................... 220 4 ENSINO NÃO PRESENCIAL E A SURDEZ EM TEMPOS DE PANDEMIA......................... 225 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 228 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................231 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 233 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 235 1 UNIDADE 1 - HISTÓRICO DE COMPREENSÕES SOBRE O SURDO E A SURDEZ OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • apresentar um breve histórico das percepções sociais sobre a surdez e discutir a compreensão da sociedade sobre a surdez e o surdo; • avaliar o papel das instituições de surdos para a constituição da comunidade surda; • perceber quais são os elementos definidores da comunidade surda e do povo surdo; • discutir o papel da língua de sinais como elemento importante nas definições sobre surdez; • apontar elementos referentes à aquisição da língua e da escrita pelos surdos; • debater elementos sobre direitos linguísticos de grupos minoritários, representatividade surda, mercado de trabalho, consumo e surdez; • retomar aspectos educacionais referentes à surdez, bem como métodos de ensino e inserção de professores surdos nas instituições de ensino. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO ESTABELECIMENTO DE COMUNIDADES SURDAS TÓPICO 2 – INSERÇÕES SOCIAIS: REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE TRABALHO E LÍNGUA TÓPICO 3 – O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO E A SURDEZ Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO ESTABELECIMENTO DE COMUNIDADES SURDAS 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Prezado acadêmico! Seja bem-vindo ao início de nossa jornada. Começaremos este tópico discutindo alguns dos aspectos que fazem parte da história e das vivências das pessoas surdas ao longo da História da humanidade. Depois, nós discutiremos brevemente as concepções sociais que perpassam a visão do deficiente auditivo e do surdo dentro do contexto de pertencimento ou não a uma sociedade que enxerga de modo distorcido as pessoas que não se enquadram num mundo de maioria ouvinte. Também serão debatidas algumas das políticas públicas que fizeram e fazem referência aos surdos, de modo a compreender como o nosso país percebeu e percebe os surdos a partir da lente das leis, institutos e modos de proteção ou compreensão do surdo como parte do povo brasileiro, mesmo que não utilizando a língua majoritária para comunicação. Na continuidade, nos debruçaremos sobre o papel das associações de apoio, amparo e socialização na criação e manutenção de comunidades surdas. Por fim, estudaremos os conceitos de comunidade e povo surdo de maneira a compreender que eles trazem aproximações e distanciamentos importantes para as delimitações a seguir sobre a identidade surda. É necessário que sejam retomadas estas questões para que, ao longo deste livro didático, fique claro como cada um destes aspectos teve seu papel na compreensão que se delimitou para o desenvolvimento de Estudos Surdos. Ou seja, é preciso estudar, mesmo que brevemente, elementos que fizeram com que os surdos ganhassem projeção em suas lutas, espaço nas instituições e papel de protagonismo nos estudos sobre si. 4 Neste livro didático foram inseridos QRcodes para facilitar o acesso aos links externos sugeridos ao longo do texto, para acessar os conteúdos, fazer a leitura do código com a câmera de seu smartphone através de qualquer um dos Apps leitores de QRcode disponíveis. 2 HISTÓRICO DAS PERCEPÇÕES SOBRE A SURDEZ A História é sempre escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, social ou até mesmo linguístico, ou seja, os registros que chegam até os tempos atuais, normalmente são aqueles feitos pelas pessoas que detinham o poderde fazer estes registros. Deste modo, normalmente, temos maior acesso àquilo que as pessoas com maior domínio da escrita e das maneiras de registro escolheram manter e passar adiante, por isso, a maioria dos registros existentes dão conta da História vinculada à visão ouvinte sobre o mundo e os acontecimentos. Logo, as demais pessoas que fazem parte deste mesmo mundo, porém em menor número, acabam aparecendo apenas através da compreensão que a maioria tem sobre as minorias. Devido a isso, a professora Karin Strobel (2008a) coloca que o passado, o presente e o futuro do surdo são controlados pela visão dos sujeitos ouvintes, numa relação de poder em que o colonizador ouvinte dominou ao longo de muitos séculos as lentes sobre as quais os surdos seriam registrados, avaliados e percebidos pela história oficial, a autora continua a compreensão de colonização ao destacar que os surdos acabaram por suportar massacres físicos, torturas, tormentos e o papel de cobaias para muitos experimentos médicos. Em outras palavras, Strobel (2008) faz um paralelo entre os colonizadores que chegam a uma terra já habitada por outro povo e dominam, massacram e torturam para fazer com que esse povo seja regrado a partir das regras do dominador. Assim, a professora traz à baila uma percepção de violência e dominação ouvinte sobre a história dos surdos que faz com que haja um apagamento dos contextos surdos ao longo da história oficial. Apesar desse contexto, Strobel (2008a, p. 13) destaca que: Os sujeitos surdos existem em todos os tempos, o nosso estilo [surdo] de compartilhar os interesses semelhantes e a língua de sinais é tão antigo quanto o mundo. Deixamos traços abundantes, marcas diferentes, mas dispersas, pois muitas ocorrências nem foram tomadas como objeto a serem representadas em história e, entretanto, nossas histórias permanecem ainda adormecidas esperando para serem despertas. NOTA 5 Assim, a professora chama a atenção para a existência dos sujeitos surdos ao longo da história e como a história oficial os deixam fora da história, mas que também podem ser encontrados vestígios, partes, ocorrências a serem descobertas. Desta maneira, os surdos são vistos como partícipes da história que tiveram suas histórias não destacadas, mas que estão postas ao longo do tempo através de vestígios dentro da história oficial. Prezado acadêmico! Como você pôde ler acima, não entramos em detalhes quanto a uma linha do tempo específica da história dos surdos, pois este não é objetivo do livro de estudos, que você tem em mãos. Caso queira se aprofundar com mais detalhes em períodos históricos e acontecimentos, a professora Karin Strobel et al. (2011, s.p.) disponibilizou um Cronograma da História dos Surdos feito por seus alunos de graduação da UFSC em seu blog “Vamos mudar a realidade surda”. Este material é bastante abrangente, pois vai desde 300 a.C. até o ano de 2011, por isso, é um material interessante para acesso rápido a informações relevantes sobre a história dos surdos. A seguir está colocado o primeiro dos dezessete slides do cronograma para que você tenha noção de como as informações estão colocadas no material disponibilizado pela professora. O endereço para acesso aos demais slides é o seguinte: http://karinfeneis.blogspot.com/2011/06/linha-do-tempo-das-lutas-surdas.html. DICAS 6 FIGURA 1 – INÍCIO DO CRONOGRAMA DA HISTÓRIA DOS SURDOS FONTE: Strobel et al. (2011, s.p.) 3 A COMPREENSÃO SOCIAL DE DEFICIÊNCIA E SURDEZ Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos são um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as pessoas ouvintes. Deste modo, a percepção que os ouvintes, como maioria dentro da mesma sociedade em que a minoria surda está inserida, tem peso e importância na percepção que os próprios surdos têm de si. Isso porque a nossa visão sobre nós mesmos é moldada por inúmeros atravessamentos nos quais a percepção do outro sobre nós também é relevante. Ou seja, a percepção que o grupo dos surdos tem sobre si é perpassada pela visão que a sociedade, majoritariamente ouvinte, tem sobre os surdos, pois é sob o olhar do outro que nosso olhar sobre nós mesmos também se constitui. Em uma compreensão que relaciona a compreensão social dos ouvintes e dos surdos dentro da história Sá (2006, p. 3) destaca que: 7 Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não surdos, é mais ou menos assim: primeiramente os surdos foram “descobertos” pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem “educados” e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem guetos. A história comum dos surdos é uma história que enfatiza a caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes adversidades”. A história tradicional enfatiza que os resultados apresentados geralmente são pequenos, mas são enobrecidos pelos esforços dispendidos para consegui-los. Neste trecho, Sá (2006) destaca um resumo da história dos surdos narrada pelos ouvintes em que os passos são: descoberta, isolamento, dispersão, esforço enorme e resultados pobres. Dessa maneira, Sá (2006) chama a atenção para um outro aspecto da relação entre surdos e não surdos (ouvintes), aqueles em que os primeiros são tidos como as pessoas que necessitam de auxílio e supervisão para se tornarem membro da sociedade. A autora também destaca a noção de que são necessários grandes esforços para pequenos avanços, sempre partindo da história tradicional em que os resultados atingidos são pequenos, mas valem a pena pelo esforço para atingi-los. Em outras palavras, a autora nos apresenta a concepção de que para o surdo ser parte da sociedade, na visão da história tradicionalmente narrada, sempre é necessária a intervenção do não surdo e mesmo que os avanços em direção a uma norma estabelecida sejam poucos são mais importantes do que ser uma pessoa socialmente isolada, um exemplo disso, é a insistência na oralização e na leitura labial, processos pouco eficientes e práticos para os surdos, mas enaltecidos quando alguém consegue fazê-los com certa correção. Nesta perspectiva, é importante trazer à discussão aquilo que Sá (2006, p. 3) coloca sob o título de “As expectativas sociais para com os surdos” em que: [...] a sociedade vê a surdez como uma deficiência que futuramente há de ser abolida através dos “consertos” neurocirúrgicos prometidos pela pesquisa médica, ou pela engenharia genética, ou pela prevenção a doenças (principalmente as que surgem mais nas classes desfavorecidas). O aparecimento da surdez muitas vezes é visto como um mal, um contágio, resultante das más condições sanitárias da classe desfavorecida ou da falta de cuidados familiares ou médicos, ou mesmo como uma fatalidade, como “castigo, punição, ou situação a que se estaria exposto pela purgação de culpas, da própria pessoa ou dos que a cercam” (Sá; Ranauro, 1999, p. 59). É mais difícil ver citado o fato de que os surdos surgem aleatoriamente nas sociedades. É certo que cada surdez e cada surdo têm uma história pessoal, como a tem qualquer pessoa, mas, geralmente a surdez é encarada de maneira pejorativa, como fruto uma falha, uma culpa, uma pobreza, uma fatalidade. Na verdade, sabe-se que a surdez estritamente genética é bastante incomum, mas cientistas afirmam que 25% da população humana carregam o gen da surdez. 8 Logo, a autora continua dando destaque à visão social de que a surdez seria, para a sociedade majoritariamente ouvinte, a ausência da audição, uma fatalidade, algo a ser evitado a todo custo cirúrgico, genético ou preventivo. Dito de outro modo, a sociedade vê o surdo como alguém que não tem algo, a audição, e precisa ter modo de obter este algo ou um simulacro disso para ser integrado à sociedade. Um símbolo desta percepção sobre o surdo é, também, a denominação generalizadade “surdo-mudo” ou “mudinho”, ainda muito utilizada e difundida em grande parte da população que desconhece ou não compreende as diversas formas como a surdez pode ser vivenciada. Inserida na mesma linha de percepção apresentadas por Sá (2006), Strobel (2008a) elabora um quadro em que compara as percepções históricas sobre os surdos a partir de três aspectos: o historicismo, ou seja, aquilo que é referido na História; a História camuflada, em outras palavras, o que está inserido nas entrelinhas da percepção historicamente aceita e, por fim, a História Cultural, isso quer dizer, a História que leva em conta a percepção cultural do povo sobre o qual a História geral tem apenas uma visão parcial. QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE HISTORICISMO, HISTÓRIA CAMUFLADA E HISTÓRIA CULTURAL Historicismo História camuflada História cultural Os surdos narrados como deficientes e patológicos. Os surdos narrados como ‘coitadinhos’ que precisam de ajuda para se promover, se integrar. Os surdos narrados como sujeitos com experiências visuais. Os surdos são categorizados em graus de surdez. Os surdos têm capacidade, mas são dependentes. As identidades surdas são múltiplas e multifacetadas. A educação deve ter um caráter clinico-terapêutico e de reabilitação. A educação como caridade, os surdos ‘precisam’ de ajuda para apoio escolar, porque tem dificuldades de acompanhar. A educação de surdos deve ter consideração à diferença cultural. A língua de sinais é prejudicial aos surdo. A língua de sinais é usada como apoio ou recurso. A língua de sinais é a manifestação da diferença linguística-cultural relativa aos surdos. FONTE: Strobel (2008a, p. 78) Ao lermos o comparativo estabelecido no Quadro 1, fica evidente um entendimento histórico da surdez como uma capacidade reduzida, uma dificuldade a ser superada e um problema médico. Já na perspectiva da História Cultural, o tratamento é de respeito às diferenças e multiplicidades de percepção dos surdos, bem como a compreensão cultural múltipla e não excludente, dito de outro modo, a compreensão cultural evidencia um respeito às vivências específicas, não pretendendo o apagamento das características culturais, vendo o surdo como um indivíduo complexo e completo em si, sem a necessidade de se estabelecer uma norma, quase sempre inatingível para ser alcançada por eles. 9 Estes modos de compreender o surdo marcam todas as formas como são pensadas as políticas públicas, a educação, a inserção e a percepção do surdo enquanto cidadão que vive dentro de uma sociedade que o enxerga não como alguém capaz, mas como alguém que necessita de auxílio para se tornar capaz. Ou seja, apenas com a modificação da compreensão da história na perspectiva cultural é que poderão ser repensados os modelos de ensino, aprendizagem, inserção social e inserção no mercado de trabalho para o povo surdo. Logo, a visão da história cultural dos surdos é de extrema importância para que a sociedade modifique sua percepção histórica e social em relação aos surdos. Por isso, os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito necessários para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições. A tese da professora surda Karin Strobel tem o título de “Surdos: vestígios culturais não registrados na história”, foi defendida em 2008, e apresenta muitas reflexões, informações, histórias e percepções importantes para as discussões que serão efetuadas neste livro didático, vale a pena a leitura. Leia a seguir uma parte do resumo apresentado pela autora: RESUMO A presente pesquisa consiste em um estudo empregando pro- cedimento das análises narrativas e pesquisas teóricas etnogra- fias que possibilitou a coleta de dados sobre a cultura do povo surdo. Nas análises narrativas possibilitou a reflexão sobre as práticas ouvintistas nas escolas de surdos e resistências do povo surdo contra esta prática, procurando resgatar a cultura surda na história. Nas pesquisas teóricas observou-se o papel fundamental da língua de sinais, o reconhecimento da cultura surda e a construção de sua identidade. Estas metodologias ressaltam a importância da participação dos povos surdos para a construção da história cultural (STROBEL,2008a, p. 10). Você pode ter acesso à íntegra da tese no seguinte endereço: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91978. QRCODE 1 - LINK PARA TESE STROBEL (2018) DICAS 10 4 POLÍTICAS PÚBLICAS E SURDEZ É necessário termos em mente que as políticas públicas em surdez são permeadas pela visão histórica e social tida sobre os surdos, desta forma, nenhuma das políticas que trouxeram direitos à comunidade e ao povo surdo forma resultado apenas da boa vontade social ou política, mas também, e principalmente, são frutos de muitas lutas das lideranças surdas, das associações e instituições que têm uma percepção de inserção social do surdo como parte da população que tem características culturais próprias, como diversos outros grupos sociais. Além disso, as Políticas Públicas refletem as percepções sociais sobre as normas sobre as quais elas versam, dito de outro modo, ao se analisar as leis é possível observar qual a ideia que está inserida nas entrelinhas das políticas oficiais sobre a surdez, os surdos e os direitos sociais e linguísticos deles. Logo, a compreensão das principais políticas sobre surdez em âmbito nacional é relevante para este livro didático porque os Estudos Surdos são perpassados, também, pelos atravessamentos propostos pelas Políticas Públicas existentes e o modo como elas delineiam tópicos relevantes para a comunidade surda. Nesta compreensão e com o objetivo de observar como as Políticas Públicas tratam esses tópicos, Fernandes (2019) elenca as legislações específicas em nível nacional, estadual e municipal entre 2002 e 2018, de modo a analisar como as políticas públicas “[...] apresentam a surdez, como delineiam e constroem modelos e práticas de ensino voltadas aos surdos” (FERNANDES, 2019, p. 7). A seguir está o quadro em que são listadas as leis em âmbito federal: QUADRO 2 – LEGISLAÇÃO RELEVANTE 2002 A 2018 LEGISLAÇÃO IDENTIFICAÇÃO DA NORMA Lei nº 10.436/2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras Decreto nº 5626/2005 Regulamenta a Lei nº 10.436 Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) Documento norteador da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Resolução nº 4/2009 Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Decreto nº 6.949/2009 Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Decreto nº 7.611/2011 Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado. Lei nº 13.005/2014 Plano Nacional de Educação – PNE Lei nº 13.146/ 2015 Lei Brasileira de Inclusão – LBI FONTE: Adaptado de Fernandes (2019, p. 75) 11 Em 30 de setembro de 2020 foi lançado o Decreto nᵒ 10.502, que delimita a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, este documento representa um sério problema ao dar como alternativa a volta das escolas e das classes especiais. Ou seja, retira a prioridade da inclusão nas escolas regulares, o que pode ser utilizado em grande parte para a perda dos avanços obtidos em direção ao acolhimento dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais nas escolas regulares. Ainda ocorrerão inúmeras discussões sobre este material, pois o decreto acaba indo de encontro a outros documentos e acordos oficiais. O acesso ao documento está disponível no link: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10502. htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%2010.502%2C%20DE%20 30,Aprendizado%20ao%20Longo%20da%20Vida. Além desta legislação, Fernandes (2019), também, destaca a importância de documentos de comunidades e associações de surdos que ecoaram as Políticas Públicas do períodode 2002 a 2018: QUADRO 3 – DOCUMENTOS DAS COMUNIDADES SURDAS E ÓRGÃSO REPRESENTATIVOS 2002 A 2018 DOCUMENTOS DAS COMUNIDADES SURDAS E SEUS ORGÃOS REPRESENTATIVOS Nota de esclarecimento da FENEIS (em resposta à nota técnica nº 5/2011/MEC/SECADI/GABI) Nota Oficial: Educação de Surdos na Meta 4 do PNE (FENEIS, 2013) Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Portarias nº 1.060/2013 e nº 91/2013 do MEC/SECADI (BRASIL, 2014). Relatório da ASSUCAMP (CAMPINAS, 2016) FONTE: Fernandes (2019, p. 76) O período de 2002 a 2018 foi escolhido pela autora devido à legislação que regulamentou o uso da Libras ter sido disposta em 2002. NOTA NOTA 12 A abreviatura LP faz referência à Língua Portuguesa em sua modalidade escrita e oral. QUADRO 4 – VISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EIXOS DE ANÁLISE PERCEPÇÃO Surdos: deficientes ou minoria linguística? O surdo aparece hora como deficiente ora como minoria linguística, o que traz problemas ao juntar as propostas de bilinguismo com aquelas de uso da LP e superação das deficiências. Ou seja, a legislação é ambivalente e trata o surdo de duas formas distintas. Educação: bilíngue ou inclusão radical (exclusão)? Confusão entre as propostas de educação bilíngue e o modo como ela efetivamente deve ser feita, acabando por deixar sem ser repensado o ambiente em que se dá a aprendizagem e que o simples estar junto com um professor de Libras ou um intérprete não é inclusão, mas reforça a exclusão. Libras: língua de instrução ou língua instrumental? Confusão do conceito de língua e seu papel na constituição do sujeito faz com que a Libras seja uma língua instrumental através da qual se chega à compreensão do que está sendo dito em LP. Português: língua majoritária ou segunda língua? “[...] a Língua Portuguesa ainda é considerada a norma, a majoritária, a indispensável aos surdos e não como uma segunda língua como os surdos reivindicam” (FERNANDES, 2019, p. 121). Docência: ensino ou tradução? “Embora o Decreto nº 5626/2005 reconheça a priori- dade na formação do professor surdo para o ensino de Libras, no momento da contratação essa prerrogativa ainda está distante de se tornar uma realidade” (FER- NANDES, 2019, p. 130). FONTE: Adaptado de Fernandes (2019) Deste modo, a pesquisadora volta a sua atenção para as leis, decretos e resoluções relevantes e faz uma análise qualitativa de como elas evidenciam aspectos relevantes para e sobre a comunidade surda. A fim de sintetizar aquilo que a autora traz, a seguir é apresentado um quadro com os principais tópicos abordados e a percepção das autoras acerca do modo como as políticas públicas demonstram compreender os seis eixos de análise relevantes destacados pela pesquisadora: NOTA 13 O quadro colocado acima apresenta apenas uma síntese das conclusões de Fernandes (2019), contudo, já permite com que percebamos que, mesmo as Políticas Públicas voltadas ao surdo apresentam não apenas divergências de compreensão dos aspectos relevantes, mas também se confundem e contradizem no entendimento dos conceitos e elementos importantes para a educação de surdos. Ou seja, as leis existem, mas ainda são confusas e não demonstram uma real aproximação ou entendimento daquilo que a comunidade e o povo surdo necessitam. Mandelblatt (2014, p. 6) estudou a legislação específica pelo viés das Ciências Políticas, e chegou à seguinte conclusão: “[É] Verificada forte divergência entre a política de educação inclusiva adotada pela maioria dos governos estaduais e municipais e os anseios por uma educação bilíngue, defendida por grande parte da comunidade surda brasileira”. Ou seja, não apenas as políticas se contradizem, como elas não estão de acordo com os desejos e necessidades da comunidade surda. Assim, as Políticas Públicas que tratam sobre a surdez ecoam as visões histó- ricas e sociais sobre os surdos, pois trazem em seu cerne ainda aquelas percepções do surdo enquanto deficiente a ser “consertado”, ou apresentam políticas que não levam em conta as diferentes realidades ou não explicitam como devem ser feitas as adequa- ções e garantias de direito sobre as quais versam. O trabalho de Fernandes (2019) tem um viés bem ligado à Educação, até por ser exatamente esta a linha de pesquisa em que foi apresentado. Caso você tenha interesse em um ponto de vista mais ligado diretamente à compreensão política, recomendamos a tese de Mendelblatt (2014, p.6): RESUMO Este trabalho objetiva avaliar a relação entre as metas expressas nos textos das políticas públicas que, no Brasil do século XXI, incidem sobre os alunos surdos e as implicações da implementação dessas políticas nas nossas escolas. Com esse escopo, procura-se apurar até que ponto o Estado brasileiro está sendo capaz de garantir e respeitar os direitos de cidadania dessa parcela da população, assegurando aos estudantes surdos educação que atenda às suas especificidades e propicie acesso e apropriação do conhecimento escolar em condições de equidade face aos alunos ouvintes. Para tanto, analisam-se documentos relativos à questão, contextualiza-se sua construção, focalizam-se os discursos neles contidos e em que se constituíram, examinam-se dados censitários e busca- se, na observação das práticas escolares, verificar como, DICAS 14 por que e com quais derivações e consequências as ações propostas estão, atualmente, traduzidas no cotidiano que caracteriza o ensino desses aprendizes. Ancorada na dimensão política e socioantropológica da surdez como diferença, na perspectiva sócio-histórico-cultural do desenvolvimento humano e nos estudos, por parte da Sociologia da Educação, da relação do sistema escolar com as desigualdades sociais, a moldura teórica, de base política, interage e se complementa com aportes da Educação de Surdos. Na teia construída com esses elementos, e trabalhando-se a partir da Abordagem do Ciclo de Políticas, investigam- se os processos macro e micropolíticos, observando-se a trajetória das políticas elaboradas, destacando se progressos e conquistas alcançadas e apresentando-se sugestões para lidar com eventuais desigualdades reproduzidas, criadas ou desencadeadas pelas ações desenvolvidas. Verificada forte divergência entre a política de educação inclusiva adotada pela maioria dos governos estaduais e municipais e os anseios por uma educação bilíngue, defendida por grande parte da comunidade surda brasileira, delineiam-se algumas diretrizes para melhor enfrentamento dos temas aqui pesquisados e recomenda-se a coexistência de escolas bilíngues ao lado das escolas inclusivas, ensejando à parcela surda da população brasileira a experiência democrática da opção entre uma e outra modalidade de ensino. Palavras-chave: Políticas Públicas Educacionais; Cidadania; Desigualdade de Oportunidades; Educação de Surdos. MANDELBLATT, Janete. Políticas Públicas, (Des)igualdade de Oportunidades e Ampliação da Cidadania no Brasil: o caso da educação de surdos (1990-2014). 2014. Tese (Doutorado em Ciências Políticas) Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade Federal Fluminense. Niterói. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/ handle/123456789/185212/MANDELBLATT%20Janete%202014%20%28tese%29%20UFF. pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 23 set. 2020. QRCODE 2 - LINK PARA TESE MANDELBLATT 15 5 A RELEVÂNCIA DAS COMUNIDADES SURDAS PARA O POVO SURDO Até esta parte do livro didático, discutimos como a História percebe os surdos, como a sociedade os enxerga, e partindo destes aspectos, de que maneira as Políticas Públicas acabam por ecoar as visões sobre os surdos. Ou seja, até aqui vimos como o olhar do não surdo atravessa a História, a Sociedade e as Políticas Públicas acabando por direcionar, em certa medida, o jeito que o próprio surdo se percebe dentro desta sociedade majoritariamente ouvinte. Nesta parte das discussões, começaremos a estudar as formas como os surdos conseguiram manter sua identidade, cultura e união, apesardo ponto de vista Histórico, da Sociedade e das visões, por vezes conflitantes, das Políticas Públicas. Além disso, os espaços de socialização, agrupamento e as instituições de acolhimento para as pessoas surdas também são necessárias para que as Leis sejam modificadas, pois são as ações coletivas que criam a pressão necessária para isso. Inicialmente serão apresentadas as definições de comunidade surda e povo surdo, depois, discutiremos, brevemente, o papel que as instituições e grupos que fazem comunidade surda têm para o povo surdo; por fim, serão elencadas algumas das entidades de apoio e agrupamento de surdos. 5.1 AS DEFINIÇÕES DE COMUNIDADE SURDA E POVO SURDO Muitas vezes nos referimos às pessoas surdas de modo geral, fazendo referência apenas àquelas que não fazem parte do grupo dos ouvintes, desta maneira, separamos de modo simplista as pessoas apenas através da característica da audição ser presente ou não. Este modo de pensar reproduz aquela ideia histórica e social em que os surdos seriam apenas um grupo de pessoas separado dentro da sociedade em que a audição inexiste. Logo, este raciocínio é reducionista e deixa de fora uma infinidade de possibilidades para compreender tanto as pessoas surdas quando os indivíduos que se relacionam com os surdos e têm, em vários graus e diferentes configurações, uma ligação com os traços que caracterizam culturalmente as peculiaridades ligadas aos surdos. Dito de outro modo, separar a sociedade em surdos e não surdos ou surdos e ouvintes ou ainda não ouvintes e ouvintes, deixa de fora muitas pessoas que têm diversos tipos de relações e compreensões culturais para com os surdos. 16 Para delimitar melhor as relações culturais, pessoais e sociais existentes entre as pessoas que compõem a sociedade, Strobel (2009, p. 6, grifos da autora) conceitua os seguintes termos: CONCEITO Povo Surdo e a Comunidade Surda O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão. A comunidade surda, na verdade não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes junto, que são família, intérpretes, professores, amigos e outros que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em um determinado localização que podem ser as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e outros. A partir deste modo de delimitar as relações, percebe-se que as pessoas surdas ou ouvintes fazem parte das discussões e das vivências surdas que estão dentro da comunidade surda. Já povo surdo são aqueles “[...] sujeitos surdos que não habitam no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, por um código ético de formação visual, independente do grau de evolução linguística, tais como a língua de sinais, a cultura surda e quaisquer outros laços” (STROBEL, 2008, p. 13). Logo, o que caracteriza o povo surdo não é o nascimento em determinado território, mas a maneira como se dá a organização através das experiências visuais, linguísticas e culturais, ou seja, uma visão de mundo compartilhada que está além das fronteiras físicas. Dito de outro modo, o povo surdo não tem uma nação ou um lugar de origem, por isso, um surdo americano, canadense ou brasileiro será parte do povo surdo independente da língua e da cultura, pois a sua formação de vivência se dá pela interpretação visual da realidade. Também, Strobel (2008a, p. 29) coloca que “O povo surdo não tem um país, mas metaforicamente, ele tem uma história, seu mundo diferente ao de ouvinte. Respeitando a língua de sinais e os seus valores culturais é uma porta aberta para o mundo dos surdos”. Ao mesmo tempo, os surdos estão inseridos dentro do seu povo de nascimento delimitado pelas fronteiras, origens e experiências culturalmente compartilhadas pelos demais habitantes do seu local de nascimento ou criação. Pode-se afirmar que este duplo pertencimento é uma das peculiaridades que explica e justifica a complexidade e dificuldade de uma real inserção dos surdos dentro da sociedade ouvinte, porque ele é ao mesmo tempo parte de dois povos diferentes, vivendo sempre nas fronteiras intangíveis das características compartilhadas pelos demais integrantes do povo surdo global, do povo surdo local, da comunidade surda e do povo ao qual pertence por nascimento. 17 5.2 AS VIVÊNCIAS EM COMUNIDADE E O ACOLHIMENTO AO POVO SURDO As comunidades surdas formam e são de grande importância para o acolhi- mento, desenvolvimento e a inclusão social do povo surdo, de acordo com Pagnussat (2008, p. 1): A inclusão social do surdo é um desafio que a sociedade enfrenta em tempos de mudança, e provoca muitos questionamentos, pois para que sujeitos, com e sem deficiência, possam exercer o direito pleno à cidadania, é indispensável que a escola e a sociedade aprimorem suas práticas, a fim de atender as individualidades. É ainda imprescindível destacarmos que, [...], as associações inserem o sujeito surdo na comunidade/sociedade que até então não o via como capaz e útil, como todo ser humano é. Dessa forma, a autora destaca o papel de inserção social feito pelas associações de surdos, tornando possível o acolhimento e inserção na sociedade de um modo que acolhe e valoriza as diferenças. Strobel (2008a, p. 17) apresenta um relato em primeira pessoa sobre a importância de se sentir acolhido, respeitado e participante de uma comunidade em que suas características são não apenas aceitas como valorizadas: Eu era revoltada com a minha condição de surdez, não aceitava a surdez achando que era castigo de Deus e me isolava, isto ocorria porque a escola oralista não me permitia ter identidade surda, procurando fazer com que eu aprendesse e fosse igual às pessoas ouvintes - minha mãe ficou preocupada com a minha revolta e isolação e ao se informar a respeito do povo surdo descobriu a existência de uma associação de surdos e me levou lá quando eu tinha 15 anos. [...] Ao ter contato com a comunidade surda, o meu mundo abriu as portas e eu pude explorar e expandir para fora tudo o que estava insuportavelmente sufocado dentro de mim. Ou seja, a autora encontrou um modo de se abrir para o mundo, as vivências e as experiências que permitiram à autora “fazer as pazes” com a sua surdez e desenvolver seu potencial em direção a explorar as potencialidades sufocadas até então pela sociedade. Em relação à sua existência no Brasil, Strobel (2009b, s.p.) coloca que: As Comunidades surdas no Brasil têm uma história longa. O povo surdo brasileiro deixou muitas tradições e histórias em suas organizações das comunidades surdas. As associações de surdos ao longo da história forneceram muitas atividades de lazer, esportivos e sociais. Associação iniciou diante de uma necessidade de povos surdos terem um espaço ao se unirem e resistirem contra as práticas ouvintistas que não respeitavam a cultura deles. No início as associações de surdos tinham exclusivamente o objetivo de natureza social devido ao baixo padrão de vida no século XVIII, os sujeitos surdos tinham o propósito 18 de ajudar uns aos outros em caso de doença, morte e desemprego e, além disso, as associações se propunham a fornecer informações e incentivos através de conferências e entretenimentos relevantes. Hoje as associações de surdos fornecem muitas atividades de lazer, cultural, esportivos, sociais e outros. Assim, o nascimento das associações de surdos foi devido a uma necessidade básica de sobrevivência, divulgação e lutas do povo surdo, logo, tinham um caráter assistencial básico para a organização de aspectos extremamente relevantes para a vivência em sociedade. Além disso, surgiram como um espaço de resistência às políticas que forçavam a oralidade e as práticas vinculadas à visão do surdo como o sujeito que tem uma falta ou deficiência. Isso porque é muito mais difícil ser sufocado quando muitas mãos dialogam, participam e lutam pelo espaço social compartilhado coletivamente.“Visto que uma associação é qualquer empreendimento formal ou informal que reúne pessoas ou sociedades com práticas comuns, visando ultrapassar dificuldades e gerar benefícios para seus associados” (PAGNUSSAT, 2018, p. 1): Esses movimentos [as associações] se dão a partir dos espaços articulados pelos surdos, como as associações, as cooperativas, os clubes, onde “jovens e adultos surdos estabelecem o intercâmbio cultural e linguístico e fazem o uso oficial da Língua de Sinais” (FENEIS, 1995a:10). Um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas é a Língua de Sinais, através da qual eles encontram oportunidades de compartilhar suas experiências e seus sonhos, e também um espaço de reafirmação da luta pelo direito ao uso dessa língua. Mas as questões discutidas pelos movimentos surdos se ampliam e diversificam, segundo suas realidades locais e nacionais. Algumas lutas são compartilhadas pelos grupos de surdos em diferentes regiões do mundo, sendo que sua articulação ao nível mundial está sob a coordenação da Federação Mundial de Surdos (Word Federation of the Deaf – WFD), com sede na Finlândia. A sua criação, em 1951, significou uma importante conquista de espaço político para as discussões e articulações das lutas das comunidades surdas (Souza, 1998) (PAGNUSSAT, 2018, p. 1). Neste trecho, a autora destaca um aspecto extremamente importante para a compreensão do papel das associações de surdos como parte da comunidade surda e para o povo surdo, o de ser o espaço em que a língua de sinais é o modo de comunicação, a língua materna, a língua de uso, ou seja, o espaço de resistência e luta linguística. Tendo em vista que a língua de sinais é um dos principais, se não o principal, alicerce das lutas surdas por respeito e inclusão, a existências de locais e grupos de pessoas em que esta realidade linguística é respeitada e utilizada se torna de extrema importância para o povo surdo e as pessoas que fazem parte da comunidade surda. 19 O canal VISURDO é um canal do YouTube criado por dois irmãos surdos que apresen- tam, desde 2010, diversos conteúdos sobre suas experiências e vivências como surdos de modo leve e engraçado sobre assuntos importantes sobre os surdos, a surdez e a comunidade surda. Um dos vídeos deles explica qual é o papel das associações de surdos, o QRcode colocado junto da imagem levará você diretamente para o vídeo: O que é asso- ciação de surdos? QRCODE 3 VÍDEO – O QUE É ASSOCIAÇÃO DE SURDOS? FONTE: Visurdo (2019) Strobel (2009b, s.p.) lista as principais comunidades surdas brasileiras: 1- Associações de Surdos: Uma associação de surdos surge em função de reunir sujeitos surdos que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns, assim como costumes, história, tradições em comuns, em uma determinada localidade, geralmente em uma sede própria ou alugada, ou cedida pelo governo e outros espaços físicos. A Associação de Surdos representa importante espaço de articulação e encontro da comunidade surda. Importantes movimentos se originaram e ainda se resultam das reuniões e assembleias que ocorrem por todo o Brasil. 2- Federação Nacional de Educação de Surdos / FENEIS: é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos com finalidade sociocultural, assistencial e educacional que tem por objetivo a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira. É filiada à Federação Mundial dos Surdos. 3- Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos / CBDS. Esta confederação organiza e regulamenta muitas práticas de muitas modalidades de esportes de povo surdos, também promove competições entre as associações de surdos e outros. DICAS 20 4- Federação Estaduais Esportivas de Surdos promove intercâmbios de esportes dentre as várias associações de surdos do Estado. 5- Outras Instituições: associações de pais e amigos de surdos, Associações de intérpretes de Libras, escolas de surdos e outros. 6- Representantes religiosas: pastorais de surdos, Ministério de Keiraihaguiai, grupos de jovens de igrejas etc. Desta forma, o papel das instituições que compõe a comunidade surda é de extrema importância para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação política, resistência linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do surdo como cidadão pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro. Elas trabalham para o acolhimento e desenvolvimento das potencialidades dos surdos dentro da sociedade e são redes de apoio mútuo e participação política extremamente importantes para as garantias de direitos, preservação e evolução da Libras e participação cidadã. 21 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A História é sempre escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, social ou até mesmo linguístico. • Os surdos são vistos como partícipes da história que tiveram suas histórias não destacadas, mas que estão postas ao longo do tempo através de vestígios dentro da história oficial. • Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos são um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as pessoas ouvintes. • A percepção que o grupo dos surdos tem sobre si é perpassada pela visão que a sociedade, majoritariamente ouvinte, tem sobre os surdos. • A sociedade vê o surdo como alguém que não tem algo, a audição, e precisa ter modo de obter este algo ou um simulacro disso para ser integrado à sociedade. • A visão da história cultural dos surdos é de extrema importância para que a sociedade modifique sua percepção histórica e social em relação aos surdos. • Os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito necessários para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições. • As políticas públicas em surdez são permeadas pela visão histórica e social tida sobre os surdos. • As Políticas Públicas que tratam sobre a surdez ecoam as visões históricas e sociais sobre os surdos, pois trazem em seu cerne ainda aquelas percepções do surdo enquanto deficiente a ser “consertado”. • Os espaços de socialização, agrupamento e as instituições de acolhimento para as pessoas surdas também são necessárias para que as Leis sejam modificadas. • Muitas vezes nos referimos às pessoas surdas de modo geral, fazendo referência apenas àquelas que não fazem parte do grupo dos ouvintes. • Este raciocínio é reducionista e deixa de fora uma infinidade de possibilidades para compreender tanto as pessoas surdas quando os indivíduos que se relacionam com os surdos. RESUMO DO TÓPICO 1 22 • Separar a sociedade em surdos e não surdos ou surdos e ouvintes ou ainda não ouvintes e ouvintes, deixa de fora muitas pessoas que têm diversos tipos de relações e compreensões culturais para com os surdos. • O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção de mundo através da visão. • A comunidade surda, na verdade não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes juntos, que são família, intérpretes, professores, amigos e outros que participam e compartilham os mesmos interesses em comum em uma determinada localização, que podem ser as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e outros. • O que caracteriza o povo surdo não é o nascimento em determinado território, mas a maneira como se dá a organização através das experiências visuais, linguísticas e culturais. • As comunidades surdas formam e são de grande importância para o acolhimento, desenvolvimento e a inclusão social do povo surdo. • A inclusão social do surdo é um desafio que a sociedade enfrenta em tempos de mudança, e provoca muitos questionamentos, pois para que sujeitos, com e sem deficiência, possam exercer o direito pleno à cidadania, é indispensável que a escola e a sociedade aprimorem suas práticas, a fim de atender às individualidades. • O nascimento das associações de surdos foi devido a uma necessidade básica desobrevivência, divulgação e lutas do povo surdo. • Um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas é a Língua de Sinais, através da qual eles encontram oportunidades de compartilhar suas experiências e seus sonhos. • O papel das instituições que compõem a comunidade surda é de extrema importância para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação política, resistência linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do surdo como cidadão pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro. 23 1 De acordo com o quadro adaptado de Fernandes (2019), sobre visão das Políticas Públicas. Relacione, de forma correta, Coluna I, Eixos de Análise, à Coluna II, Percepção: AUTOATIVIDADE Coluna I (1) Surdos: deficientes ou minoria linguística? (2) Educação: bilíngue ou inclusão radical (exclusão)? (3) Libras: língua de instrução ou língua instrumental? (4) Português: língua majoritária ou segunda língua? (5) Docência: ensino ou tradução? Coluna II ( ) “[...] a Língua Portuguesa ainda é con- siderada a norma, a majoritária, a indis- pensável aos surdos e não como uma segunda língua como os surdos reivin- dicam” (FERNANDES, 2019, p. 121). ( ) “Embora o Decreto nº 5626/2005 reco- nheça a prioridade na formação do pro- fessor surdo para o ensino de Libras, no momento da contratação essa prerroga- tiva ainda está distante de se tornar uma realidade” (FERNANDES, 2019, p. 130). ( ) Confusão do conceito de língua e seu papel na constituição do sujeito faz com que Libras seja uma língua instrumental através da qual se chega à compreen- são do que está sendo dito em LP. ( ) O surdo aparece hora como deficiente ora como minoria linguística o que traz problemas ao juntar as propostas de bi- linguismo com aquelas de uso da LP e superação das deficiências. Ou seja, a legislação é ambivalente e trata o surdo de duas formas distintas. ( ) Confusão entre as propostas de educa- ção bilíngue e o modo como ela efeti- vamente deve ser feita, acabando por deixar sem ser repensado o ambiente em que se dá a aprendizagem e que o simples estar junto com um professor de Libras ou um intérprete não é inclu- são, mas reforça a exclusão. 24 Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II: a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1. b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4. c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5. d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4. e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2. 2 Diante do quadro de percepções sobre o surdo apresentado por Strobel (2008a), podemos concluir, sobre a História Cultural, que: I- Os surdos narrados como sujeitos com experiências visuais. II- As identidades surdas são múltiplas e multifacetadas. III- A educação de surdos deve ter consideração à diferença cultural. IV- A educação deve ter um caráter clínico-terapêutico e de reabilitação. V- A língua de sinais é a manifestação da diferença linguística-cultural relativa aos surdos. Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS? a) ( ) I, II, III e IV. b) ( ) I, II, III e V. c) ( ) II, III, IV e V. d) ( ) I, III, IV e V. e) ( ) I, II, IV e V. 3 De acordo com o estudo sobre os movimentos históricos do estabelecimento de comunidades surdas, do tópico um, analise as sentenças, classificando V para as verdadeiras e F para as falsas. ( ) A História nem sempre é escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, social ou até mesmo linguístico. ( ) Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos são um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as pessoas ouvintes. ( ) Os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito necessários para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições. ( ) A inclusão social do surdo não é um desafio que a sociedade enfrenta, pois para que sujeitos, com e sem deficiência, possam exercer o direito pleno à cidadania, é irrelevante que a escola e a sociedade aprimorem suas práticas, a fim de atender as individualidades. ( ) O papel das instituições que compõem a comunidade surda é de extrema importância para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação política, resistência linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do surdo como cidadão pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro. 25 Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V – F – F. b) ( ) F – F – V – V – V. c) ( ) F – V – V – F – V. d) ( ) V – F – F – V – V. e) ( ) V – F – V – F – V. 4 Segundo Strobel (2009, p. 6), descreva os conceitos de Povo Surdo e Comunidade Surda. 26 27 INSERÇÕES SOCIAIS: REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE TRABALHO E LÍNGUA 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - No tópico anterior, nós estudamos como a História retrata o surdo, vimos de que modo a sociedade o enxerga, debatemos as contradições e a importâncias das Políticas Públicas e estudamos o conceito de comunidade surda e povo surdo, bem como discutimos de que modo as instituições que fazem parte da comunidade surda têm um papel de extrema importância para a união do povo surdo através dos espaços de conexão e resistência formados a partir da junção de pessoas vinculadas à comunidade surda. Também comentamos sobre a grande importância da língua de sinais como elemento definidor de uma nação surda que se organiza através das experiências e vivências visualmente constituídas. Neste tópico, nós estudaremos o poder e o papel da língua nas compreensões sobre a surdez, logo, como o embate entre a língua ouvinte majoritária e a língua de sinais se entrecruzam para forjar as experiências linguísticas das comunidades e do povo surdo brasileiro, ou seja, como a LP e a Libras são percebidas dentro do contexto da surdez. Depois serão vistos alguns pontos sobre os direitos linguísticos dos povos que vivem em zonas de tensão linguística, como a existente entre os surdos e não surdos dentro da sociedade brasileira. Ainda dentro deste viés de compreensão da importância linguística, social e identitária da Libras, serão apontados elementos relevantes nas discussões sobre o aprendizado da língua e da escrita pelos surdos, de modo a perceber qual é a relação entre a LP oralizada e escrita e da Libras sinalizada e escrita, assim sendo, neste espaço discutiremos elementos de aquisição, expressão e compreensão linguística. Por fim, neste tópico, também debateremos sobre a representatividade surda na sociedade, suas lideranças, lugares de fala e exercício de direitos como cidadãos brasileiros. Dentro desta perspectiva de participação ativa na sociedade, encerraremos o tópico com a análise de aspectos relacionados ao mercado de trabalho, consumo e surdez. Assim, este tópico tem como objetivo discutir aspectos linguísticos e sociais que perpassam o exercício da cidadania e o pertencimento à sociedade. 28 2 O PODER E O PAPEL DA LÍNGUA NAS COMPREENSÕES SOBRE SURDEZ A língua tem o poder de fundar e estabelecer parâmetros de cidadania nas diferentes sociedades, isso porque a organização daquilo que constitui as diferentes estruturas sociais, como documentos, garantia de direitos, vivências estruturadas de escolarização e trabalho são perpassadas pelo modo como as pessoas interagem pela e através da língua. Isso porque a língua e a linguagem são códigos estruturados socialmente que, ao mesmo tempo em que são combinados socialmente, estruturam a própria língua e são arbitrários, ou seja, é este combinado social que atribui sentido à língua sentido que só existe por e através da língua. Estas características aparecem em todos os contextos. Esta perspectiva é apresentada pela teoria de Saussure (2012), em que é apresentada a dicotomia entre a linguagem e a língua, em que a língua está inserida dentro do campo da linguagem, sendo a parte estruturada e socialmente organizada dela. Dito de outro modo, a linguagem é qualquer modo de interpretação, percepção e observação das coisas de uma forma que pode ser extremamente pessoal e difícil deexplicar, por exemplo, um quadro pode ser interpretado de inúmeros modos, pois a linguagem artística se presta a diferentes compreensões que são estruturadas de maneira extremamente pessoal e baseada nas vivências pessoais de cada um. Já a língua é uma parte da linguagem que é socialmente estruturada, convencionada e organizada de forma que todas as pessoas que utilizam aquela língua possam se comunicar e compreender as intervenções no mundo feitas através dela de modo a diminuir as possibilidades de confusão entre seus usuários. Para exemplificar melhor estas características das línguas, vamos observar as seguintes palavras em LP e Libras: livro Para que a palavra livro fosse escrita, foi necessário colocar as letras numa ordem definida para que todo o grupo de usuários da LP possa ler esta sequência e a relacionar tanto ao som da palavra livro quanto ao objeto livro. Ao mesmo tempo, para que o usuário da Libras possa reconhecer a palavra livro em Escrita de Sinais, é necessário que este leitor conheça os elementos que compõem o sinal e consiga decodificar de modo a relacionar a palavra escrita ao sinal e ao objeto livro. Desse modo, é este conhecimento anterior da língua escrita e da relação entre os fonemas e grafemas que permite a leitura do que está escrito, ou seja, é este conhecimento que se convencionou socialmente a chamar de livro, e é o modo de 29 falar/sinalizar escrever esta palavra que faz com que estes conjuntos de grafemas remetam ao objeto livro. Dito de outra maneira, nada na palavra livro falada ou sinalizada ou na palavra livro escrita é diretamente relacionada ao objeto livro, pois a sequência de sons, logo, de grafemas escritos é apenas combinada socialmente e não vinculada ao objeto livro. Você pode pensar que o sinal de livro até tem uma relação com abrir um livro, mas isso também não é bem assim, pois apenas a observação de ser algo que é aberto pode remeter a um sem fim de objetos que pode ser aberto em duas partes. Então, para que este sinal escrito realmente possa ser lido com livro é necessário que tanto quem escreveu quanto quem lê esta palavra escrita sabia o código utilizado, ou seja, é socialmente compartilhado pelas pessoas que comungam desta língua. Assim, é através da língua compartilhada entre os usuários que as sociedades se estruturam e, por isso, a inserção linguística na modalidade falada e escrita tem um peso extremamente importante para que as pessoas possam exercer plenamente seus direitos, trabalhar, estudar e viver em sociedade. No Livro Didático de Estudo de Sintaxe da Libras, esta discussão sobre língua e linguagem é encontrada de forma mais detalhada. Então, assim, quando a sociedade brasileira, por exemplo, se estrutura majori- tariamente em Língua Portuguesa na sua modalidade oral e escrita, os documentos, as vagas de emprego, as entrevistas, a televisão, o atendimento em bancos, repartições públicas e lojas, as formas de acesso à informação e à escola são estruturadas também em LP. Logo, as pessoas que não compartilham com proficiência desta língua majoritária acabam por ter muito mais dificuldade de acesso a tudo que é oferecido no interior desta organização linguística social. Ou seja, é muito mais complexo ter acesso aos bens e serviços quando estes são oferecidos em uma língua sobre a qual a pessoa não tem domínio pleno. Neste contexto complexo estão todas as pessoas que são pertencentes às minorias que utilizam outras línguas que não a língua majoritária do país, como os surdos, imigrantes e usuários de variedades linguísticas minoritárias (pomerano, NOTA 30 línguas indígenas etc.), além disso, os analfabetos e analfabetos funcionais também têm dificuldade de viver nesta sociedade em que a língua permeia todas as relações. Assim, para que todas as pessoas tenham direito de viver plenamente dentro de uma sociedade é necessário que a realidade linguística dos grupos sociais, que utilizam uma língua diferente da língua majoritária não apenas seja inserida, mas também respeitada como a língua de comunicação daquela parcela da comunidade. É importante ressaltar que, para os surdos é ainda mais complicado o contexto linguístico social em que uma língua oral-auditiva tem prevalência, pois se torna muito mais complexo adquirir as habilidades linguísticas da língua majoritária. Dito de outro modo, a diferença entre a modalidade oral-auditiva e visuoespacial torna muito mais difícil a aquisição da língua majoritária por parte do povo surdo que vive dentro da sociedade. Logo, exatamente por ser compartilhada socialmente, para que seja efetiva- mente um instrumento de inserção social é que a Língua de Sinais, no caso do Brasil, a Libras é um dos aspectos mais importantes para a garantia dos direitos dos surdos e inserção na sociedade de modo pleno. Assim, as Políticas Públicas, que garantem o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão, além dos demais direitos linguísticos associados ao uso dela, são de grande importância para a comunidade e o povo surdo. Na próxima parte deste Tópico 2 serão discutidos alguns aspectos relevantes quanto aos direitos linguísticos, por enquanto, é importante saber que estes são os direitos relacionados ao uso da língua por um determinado povo. Desse modo, em relação aos surdos são aqueles direitos relacionados ao uso da língua de sinais. Devido à importância da conquista da legislação específica para a garantia de direitos linguísticos e inserção social, é colocada a seguir a Lei nº 10.436/2002: Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Regulamento Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. ESTUDOS FUTUROS 31 Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza Fonte: BRASIL (2002) Esta Lei é regulamentada pelo Decreto nᵒ 5626/2005, que também dispõe de elementos muito importantes sobre o uso e fomento à Libras em território nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 26 set. 2020. Pode-se perceber que esta Lei abriu caminho para que a Libras fosse inserida nas discussões oficiais, nas instituições e nas
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