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Estudos Surdos

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Prévia do material em texto

Indaial – 2021
SurdoS
Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha
Prof.a Mariana Correia
1a Edição
EStudoS
Elaboração:
Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha
Prof.a Mariana Correia
Copyright © UNIASSELVI 2021
 Revisão, Diagramação e Produção: 
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
C972e
Cunha, Cristian Hernando Sardo da
Estudos surdos. / Cristian Hernando Sardo da Cunha; Mariana 
Correia. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
240 p.; il.
ISBN 978-65-5663-443-2 
ISBN Digital 978-65-5663-444-9
1. Língua de sinais. - Brasil. I. Correia, Mariana. II. Centro 
Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 371.912
Prezado acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Estudos Surdos. Neste 
material estudaremos alguns dos aspectos históricos, culturais, pedagógicos e sociais 
que influenciaram e continuam a influenciar o desenvolvimento do campo de pesquisa 
dos Estudos Surdos. Deste modo, o objetivo deste livro didático é apresentar as bases 
sobre as quais se deu o desenvolvimento e ampliação da pesquisa feita pelos surdos 
e não sobre os surdos, ou seja, a pesquisa em que as pessoas que fazem parte da 
comunidade surda não são apenas objetos, mas também são os agentes pesquisadores.
Na Unidade 1, nós veremos os aspectos que historicamente participaram da 
constituição das compreensões da surdez e, por extensão, dos surdos. Este estudo 
é necessário porque precisamos entender a partir de que contexto social, histórico, 
político, educacional e laboral se deu o surgimento e desenvolvimento dos Estudos 
Surdos como campo de pesquisa. Assim, nesta unidade serão estudados os elementos 
que estimularam as percepções sobre a surdez e os surdos ao longo do tempo, tais 
como os movimentos históricos e sociais que influenciaram a constituição das 
comunidades surdas; os modos como se deram as inserções dos surdos na sociedade 
através das discussões sobre representatividade, trabalho e o uso da língua de sinais; 
por fim, discutiremos os tópicos vinculados à educação dos surdos e sua inserção como 
docentes nas instituições de ensino. Dessa maneira, a Unidade 1 aborda, brevemente, 
aquilo que precedeu e fomentou as inserções sociais, históricas e educacionais que 
resultaram no desenvolvimento dos Estudos Surdos dentro da linha dos Estudos 
Culturais em Educação.
Na Unidade 2 serão examinadas as questões de formação da identidade surda 
a partir dos contextos familiares e culturais, de modo a compreender os elementos 
específicos da formação identitária que trouxeram à baila as discussões sobre surdez, 
feitas pelas pessoas que constituem a comunidade surda e o povo surdo. Assim, nesta 
unidade, veremos os tópicos sobre a constituição da identidade em geral e da identidade 
surda em específico. Retomaremos estereótipos e perspectivas sobre a surdez; também 
discutiremos alguns dos processos familiares que estão envolvidos na composição das 
identidades e características da comunidade e do povo surdo; por fim, serão feitas as 
discussões sobre a delimitação e a perspectiva dos Estudos Surdos dentro dos Estudos 
Culturais em Educação. Além disso, veremos como o campo de pesquisa se expandiu 
para o desenvolvimento de estudos e pesquisas nos mais diversos campos em que 
os surdos estão inseridos como protagonistas e pesquisadores em parceria com os 
ouvintes que fazem parte da comunidade surda.
Para encerrar este livro didático, na Unidade 3 serão trazidas as perspectivas de 
estudos a partir do campo de pesquisa dos Estudos Surdos. Deste modo, a unidade tem 
como objetivo comentar, apresentar e discutir artigos, trabalhos de conclusão de curso, 
dissertações e teses inseridos nas pesquisas em Estudos Surdos referentes às áreas de 
Educação e Linguística. Desta forma, nós faremos um apanhado de temas e assuntos 
que são abordados nestas áreas no campo de pesquisa dos Estudos Surdos. No final 
da Unidade 3 serão discutidos temas atuais que poderão servir de objeto de estudos 
APRESENTAÇÃO
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
futuros em surdez, tais como, a presença de intérpretes em lives, apresentações 
musicais e outras expressões artísticas, televisionadas ou on-line; notícias, máscaras e o 
acesso à informação durante a pandemia; inclusão, escolas fechadas e surdez; e, ao fim, 
produções culturais surdas. Desta forma, a unidade pretende apresentar, brevemente, 
trabalhos existentes na área e apontar temáticas para estudos futuros.
Você vai perceber que este livro trará várias referências a diversos materiais de 
pesquisa e consulta, isso porque, para poder estudar e ampliar seu conhecimento sobre 
o campo de pesquisa dos Estudos Surdos, duas coisas são necessárias: sintetizar a base 
de conhecimentos que fizeram com que se chegasse a esta compreensão dos estudos 
culturais e a clareza quanto às possiblidades de pesquisa dentro deles. Assim, ao longo 
do livro serão colocados materiais, sugestões e exemplificações para o aprofundamento 
das discussões e estudos realizados.
Bons estudos e boa leitura!
Prof.a Mariana Correia
Prof. Cristian Hernando Sardo da Cunha
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e 
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes 
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você 
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar 
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só 
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
QR CODE
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativosdos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — HISTÓRICO DE COMPREENSÕES SOBRE O SURDO E A SURDEZ ................. 1
TÓPICO 1 — MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO ESTABELECIMENTO DE 
COMUNIDADES SURDAS .......................................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 HISTÓRICO DAS PERCEPÇÕES SOBRE A SURDEZ ...........................................................4
3 A COMPREENSÃO SOCIAL DE DEFICIÊNCIA E SURDEZ ...................................................6
4 POLÍTICAS PÚBLICAS E SURDEZ ....................................................................................10
5 A RELEVÂNCIA DAS COMUNIDADES SURDAS PARA O POVO SURDO ........................... 15
5.1 AS DEFINIÇÕES DE COMUNIDADE SURDA E POVO SURDO ..................................................... 15
5.2 AS VIVÊNCIAS EM COMUNIDADE E O ACOLHIMENTO AO POVO SURDO...............................17
RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 23
TÓPICO 2 — INSERÇÕES SOCIAIS: REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE 
TRABALHO E LÍNGUA ..........................................................................................................27
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27
2 O PODER E O PAPEL DA LÍNGUA NAS COMPREENSÕES SOBRE SURDEZ ................... 28
3 DIREITOS LINGUÍSTICOS E A APROPRIAÇÃO DA LÍNGUA E DA ESCRITA 
PELOS SURDOS ................................................................................................................... 32
3.1 LÍNGUA COMO PROBLEMA, DIREITO E RECURSO .......................................................................34
3.2 DIREITOS LINGUÍSTICOS INDIVIDUAIS ..........................................................................................34
3.3 DIREITOS LINGUÍSTICOS COLETIVOS ............................................................................................36
3.4 DIREITOS LINGUÍSTISCOS DOS SURDOS .....................................................................................36
3.5 DIREITOS LINGUÍSTICOS E ESCOLARIZAÇÃO DE SURDOS ......................................................38
4 REPRESENTATIVIDADE SURDA NA SOCIEDADE ........................................................... 40
5 TRABALHO, CONSUMO E SURDEZ .................................................................................. 49
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 56
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 58
TÓPICO 3 — O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO E A SURDEZ ..........................................59
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................59
2 PROPOSTAS EDUCACIONAIS PARA ATENDIMENTO AOS SURDOS ...............................59
2.1 ESCOLAS DE MODELO ORALISTA .....................................................................................................61
2.2 MODELO BIMODALISTA .....................................................................................................................62
2.3 A INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS NAS INSTITUIÇÕES REGULARES ...................................63
2.4 MODELO BILÍNGUE .............................................................................................................................65
3 LIBRAS NAS UNIVERSIDADES .........................................................................................67
4 INSERÇÃO DE PROFESSORES SURDOS NAS INSTITUIÇÕES ........................................70
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................72
RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................75
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 77
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................79
UNIDADE 2 — A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE SURDA, CULTURA, FAMÍLIA E 
ESTUDOS CULTURAIS ....................................................................................................................... 83
TÓPICO 1 — A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE SURDA ................................................... 85
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 85
2 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ................................................................................... 85
3 IDENTIDADES SURDAS ................................................................................................... 90
3.1 IDENTIDADE SURDA ...........................................................................................................................93
3.2 IDENTIDADE SURDA HÍBRIDA .........................................................................................................96
3.3 IDENTITADE SURDA FLUTUANTE ................................................................................................... 97
3.4 IDENTIDADE SURDA EMBAÇADA ...................................................................................................98
3.5 IDENTIDADE SURDA DE TRANSIÇÃO ............................................................................................98
3.6 IDENTIDADE SURDA DE DIÁSPORA ...............................................................................................99
3.7 IDENTIDADES SURDAS INTERMEDIÁRIAS ..................................................................................100
4 “DUPLA DIFERENÇA” E SURDEZ ...................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................106
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................108
TÓPICO 2 — PROCESSOS FAMILIARES NA CONSTITUIÇÃO DA SURDEZ ........................111
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111
2 QUESTÕES SOBRE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E SURDEZ ........................................ 112
3 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA .........................................................................................117
4 OS SURDOS FILHOS DE PAIS OUVINTES ...................................................................... 119
5 CODAS: OS OUVINTES FILHOS DE PAIS SURDOS ........................................................126
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................133
TÓPICO 3 — OS ESTUDOS SURDOS NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS 
CULTURAIS .........................................................................................................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1352 AFINAL, O QUE É CULTURA? ..........................................................................................136
3 ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM A CULTURA SURDA ..............................................138
4 OS ESTUDOS CULTURAIS COMO LUGAR DOS ESTUDOS SURDOS .............................143
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................146
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................149
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 151
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................154
UNIDADE 3 — PERSPECTIVAS EM PESQUISA DENTRO DOS ESTUDOS SURDOS ................159
TÓPICO 1 — A PESQUISA EM ESTUDOS SURDOS ............................................................. 161
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 161
2 DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DE PESQUISA............................................................162
3 PESQUISADORAS BRASILEIRAS NO CAMPO DOS ESTUDOS SURDOS .......................165
4 COLEÇÃO ESTUDOS SURDOS ........................................................................................ 174
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................182
TÓPICO 2 — PANORAMA DE PESQUISA EM ESTUDOS SURDOS .....................................185
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................185
2 INTERDISCIPLINARIDADE EM ESTUDOS SURDOS.......................................................186
3 ESTUDOS SURDOS: PERSPECTIVAS DE PESQUISA .................................................... 191
3.1 LINGUÍSTICA ....................................................................................................................................... 192
3.2 EDUCAÇÃO ......................................................................................................................................... 197
3.3 ESTUDOS CULTURAIS .................................................................................................................... 202
4 REVISTAS, PERIÓDICOS E FONTES DE PESQUISA ...................................................... 203
RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................... 206
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 208
TÓPICO 3 — ENCAMINHAMENTOS PARA PESQUISA EM ESTUDOS DE SINAIS ................. 211
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 211
2 AS LIVES EM TEMPOS DE PANDEMIA: ENTRETENIMENTO E DIVULGAÇÃO 
DE TEMÁTICAS SURDAS .................................................................................................212
2.1 AS LIVES DE ENTRETENIMENTO E A PRESENÇA DO INTÉRPRETE ...................................... 213
2.2 AS LIVES PARA DIVULGAÇÃO DE TEMAS SURDOS .................................................................218
3 NOTÍCIAS, MÁSCARAS E ACESSO À INFORMAÇÃO ..................................................... 220
4 ENSINO NÃO PRESENCIAL E A SURDEZ EM TEMPOS DE PANDEMIA......................... 225
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 228
RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................231
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 233
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 235
1
UNIDADE 1 - 
HISTÓRICO DE COMPREENSÕES 
SOBRE O SURDO E A SURDEZ
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• apresentar um breve histórico das percepções sociais sobre a surdez e discutir a 
compreensão da sociedade sobre a surdez e o surdo;
• avaliar o papel das instituições de surdos para a constituição da comunidade surda;
• perceber quais são os elementos definidores da comunidade surda e do povo surdo;
• discutir o papel da língua de sinais como elemento importante nas definições sobre 
surdez;
• apontar elementos referentes à aquisição da língua e da escrita pelos surdos;
• debater elementos sobre direitos linguísticos de grupos minoritários, representatividade 
surda, mercado de trabalho, consumo e surdez;
• retomar aspectos educacionais referentes à surdez, bem como métodos de ensino e 
inserção de professores surdos nas instituições de ensino.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO ESTABELECIMENTO DE 
COMUNIDADES SURDAS
TÓPICO 2 – INSERÇÕES SOCIAIS: REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE 
TRABALHO E LÍNGUA
TÓPICO 3 – O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO E A SURDEZ
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
MOVIMENTOS HISTÓRICOS DO 
ESTABELECIMENTO DE 
COMUNIDADES SURDAS
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
Prezado acadêmico! Seja bem-vindo ao início de nossa jornada. Começaremos 
este tópico discutindo alguns dos aspectos que fazem parte da história e das vivências 
das pessoas surdas ao longo da História da humanidade. Depois, nós discutiremos 
brevemente as concepções sociais que perpassam a visão do deficiente auditivo e do 
surdo dentro do contexto de pertencimento ou não a uma sociedade que enxerga de 
modo distorcido as pessoas que não se enquadram num mundo de maioria ouvinte.
Também serão debatidas algumas das políticas públicas que fizeram e fazem 
referência aos surdos, de modo a compreender como o nosso país percebeu e percebe 
os surdos a partir da lente das leis, institutos e modos de proteção ou compreensão do 
surdo como parte do povo brasileiro, mesmo que não utilizando a língua majoritária para 
comunicação. Na continuidade, nos debruçaremos sobre o papel das associações de 
apoio, amparo e socialização na criação e manutenção de comunidades surdas.
Por fim, estudaremos os conceitos de comunidade e povo surdo de maneira a 
compreender que eles trazem aproximações e distanciamentos importantes para as 
delimitações a seguir sobre a identidade surda.
É necessário que sejam retomadas estas questões para que, ao longo deste livro 
didático, fique claro como cada um destes aspectos teve seu papel na compreensão 
que se delimitou para o desenvolvimento de Estudos Surdos. Ou seja, é preciso estudar, 
mesmo que brevemente, elementos que fizeram com que os surdos ganhassem projeção 
em suas lutas, espaço nas instituições e papel de protagonismo nos estudos sobre si.
4
Neste livro didático foram inseridos QRcodes para facilitar o acesso aos 
links externos sugeridos ao longo do texto, para acessar os conteúdos, 
fazer a leitura do código com a câmera de seu smartphone através de 
qualquer um dos Apps leitores de QRcode disponíveis.
2 HISTÓRICO DAS PERCEPÇÕES SOBRE A SURDEZ
A História é sempre escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, social 
ou até mesmo linguístico, ou seja, os registros que chegam até os tempos atuais, 
normalmente são aqueles feitos pelas pessoas que detinham o poderde fazer estes 
registros. Deste modo, normalmente, temos maior acesso àquilo que as pessoas com 
maior domínio da escrita e das maneiras de registro escolheram manter e passar 
adiante, por isso, a maioria dos registros existentes dão conta da História vinculada à 
visão ouvinte sobre o mundo e os acontecimentos.
Logo, as demais pessoas que fazem parte deste mesmo mundo, porém em 
menor número, acabam aparecendo apenas através da compreensão que a maioria tem 
sobre as minorias. Devido a isso, a professora Karin Strobel (2008a) coloca que o passado, 
o presente e o futuro do surdo são controlados pela visão dos sujeitos ouvintes, numa 
relação de poder em que o colonizador ouvinte dominou ao longo de muitos séculos as 
lentes sobre as quais os surdos seriam registrados, avaliados e percebidos pela história 
oficial, a autora continua a compreensão de colonização ao destacar que os surdos 
acabaram por suportar massacres físicos, torturas, tormentos e o papel de cobaias para 
muitos experimentos médicos.
Em outras palavras, Strobel (2008) faz um paralelo entre os colonizadores que 
chegam a uma terra já habitada por outro povo e dominam, massacram e torturam 
para fazer com que esse povo seja regrado a partir das regras do dominador. Assim, a 
professora traz à baila uma percepção de violência e dominação ouvinte sobre a história 
dos surdos que faz com que haja um apagamento dos contextos surdos ao longo da 
história oficial.
Apesar desse contexto, Strobel (2008a, p. 13) destaca que:
Os sujeitos surdos existem em todos os tempos, o nosso estilo 
[surdo] de compartilhar os interesses semelhantes e a língua de 
sinais é tão antigo quanto o mundo. Deixamos traços abundantes, 
marcas diferentes, mas dispersas, pois muitas ocorrências nem 
foram tomadas como objeto a serem representadas em história 
e, entretanto, nossas histórias permanecem ainda adormecidas 
esperando para serem despertas.
NOTA
5
Assim, a professora chama a atenção para a existência dos sujeitos surdos ao 
longo da história e como a história oficial os deixam fora da história, mas que também 
podem ser encontrados vestígios, partes, ocorrências a serem descobertas. Desta 
maneira, os surdos são vistos como partícipes da história que tiveram suas histórias 
não destacadas, mas que estão postas ao longo do tempo através de vestígios dentro 
da história oficial.
Prezado acadêmico! Como você pôde ler acima, não entramos em detalhes 
quanto a uma linha do tempo específica da história dos surdos, pois este 
não é objetivo do livro de estudos, que você tem em mãos. Caso queira se 
aprofundar com mais detalhes em períodos históricos e acontecimentos, 
a professora Karin Strobel et al. (2011, s.p.) disponibilizou um Cronograma 
da História dos Surdos feito por seus alunos de graduação da UFSC em 
seu blog “Vamos mudar a realidade surda”. Este material é bastante 
abrangente, pois vai desde 300 a.C. até o ano de 2011, por isso, é um 
material interessante para acesso rápido a informações relevantes sobre a 
história dos surdos. A seguir está colocado o primeiro dos dezessete slides 
do cronograma para que você tenha noção de como as informações estão 
colocadas no material disponibilizado pela professora. O endereço para 
acesso aos demais slides é o seguinte:
http://karinfeneis.blogspot.com/2011/06/linha-do-tempo-das-lutas-surdas.html.
DICAS
6
FIGURA 1 – INÍCIO DO CRONOGRAMA DA HISTÓRIA DOS SURDOS
FONTE: Strobel et al. (2011, s.p.)
3 A COMPREENSÃO SOCIAL DE DEFICIÊNCIA E SURDEZ
Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos 
são um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as 
pessoas ouvintes. Deste modo, a percepção que os ouvintes, como maioria dentro da 
mesma sociedade em que a minoria surda está inserida, tem peso e importância na 
percepção que os próprios surdos têm de si.
 
Isso porque a nossa visão sobre nós mesmos é moldada por inúmeros 
atravessamentos nos quais a percepção do outro sobre nós também é relevante. Ou 
seja, a percepção que o grupo dos surdos tem sobre si é perpassada pela visão que a 
sociedade, majoritariamente ouvinte, tem sobre os surdos, pois é sob o olhar do outro 
que nosso olhar sobre nós mesmos também se constitui.
Em uma compreensão que relaciona a compreensão social dos ouvintes e dos 
surdos dentro da história Sá (2006, p. 3) destaca que:
7
Em síntese, a história dos surdos, contada pelos não surdos, é mais 
ou menos assim: primeiramente os surdos foram “descobertos” 
pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem 
“educados” e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando não 
mais se pôde isolá-los, porque eles começaram a formar grupos 
que se fortaleciam, tentou-se dispersá-los, para que não criassem 
guetos. A história comum dos surdos é uma história que enfatiza a 
caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes 
adversidades”. A história tradicional enfatiza que os resultados 
apresentados geralmente são pequenos, mas são enobrecidos pelos 
esforços dispendidos para consegui-los.
Neste trecho, Sá (2006) destaca um resumo da história dos surdos narrada pelos 
ouvintes em que os passos são: descoberta, isolamento, dispersão, esforço enorme e 
resultados pobres. Dessa maneira, Sá (2006) chama a atenção para um outro aspecto 
da relação entre surdos e não surdos (ouvintes), aqueles em que os primeiros são tidos 
como as pessoas que necessitam de auxílio e supervisão para se tornarem membro da 
sociedade. A autora também destaca a noção de que são necessários grandes esforços 
para pequenos avanços, sempre partindo da história tradicional em que os resultados 
atingidos são pequenos, mas valem a pena pelo esforço para atingi-los.
Em outras palavras, a autora nos apresenta a concepção de que para o surdo ser 
parte da sociedade, na visão da história tradicionalmente narrada, sempre é necessária 
a intervenção do não surdo e mesmo que os avanços em direção a uma norma 
estabelecida sejam poucos são mais importantes do que ser uma pessoa socialmente 
isolada, um exemplo disso, é a insistência na oralização e na leitura labial, processos 
pouco eficientes e práticos para os surdos, mas enaltecidos quando alguém consegue 
fazê-los com certa correção.
Nesta perspectiva, é importante trazer à discussão aquilo que Sá (2006, p. 3) 
coloca sob o título de “As expectativas sociais para com os surdos” em que:
[...] a sociedade vê a surdez como uma deficiência que futuramente 
há de ser abolida através dos “consertos” neurocirúrgicos prometidos 
pela pesquisa médica, ou pela engenharia genética, ou pela 
prevenção a doenças (principalmente as que surgem mais nas 
classes desfavorecidas). O aparecimento da surdez muitas vezes 
é visto como um mal, um contágio, resultante das más condições 
sanitárias da classe desfavorecida ou da falta de cuidados familiares 
ou médicos, ou mesmo como uma fatalidade, como “castigo, punição, 
ou situação a que se estaria exposto pela purgação de culpas, da 
própria pessoa ou dos que a cercam” (Sá; Ranauro, 1999, p. 59).
É mais difícil ver citado o fato de que os surdos surgem aleatoriamente 
nas sociedades. É certo que cada surdez e cada surdo têm uma 
história pessoal, como a tem qualquer pessoa, mas, geralmente 
a surdez é encarada de maneira pejorativa, como fruto uma falha, 
uma culpa, uma pobreza, uma fatalidade. Na verdade, sabe-se que 
a surdez estritamente genética é bastante incomum, mas cientistas 
afirmam que 25% da população humana carregam o gen da surdez.
8
Logo, a autora continua dando destaque à visão social de que a surdez seria, 
para a sociedade majoritariamente ouvinte, a ausência da audição, uma fatalidade, 
algo a ser evitado a todo custo cirúrgico, genético ou preventivo. Dito de outro modo, a 
sociedade vê o surdo como alguém que não tem algo, a audição, e precisa ter modo de 
obter este algo ou um simulacro disso para ser integrado à sociedade. Um símbolo desta 
percepção sobre o surdo é, também, a denominação generalizadade “surdo-mudo” 
ou “mudinho”, ainda muito utilizada e difundida em grande parte da população que 
desconhece ou não compreende as diversas formas como a surdez pode ser vivenciada.
Inserida na mesma linha de percepção apresentadas por Sá (2006), Strobel 
(2008a) elabora um quadro em que compara as percepções históricas sobre os surdos 
a partir de três aspectos: o historicismo, ou seja, aquilo que é referido na História; a 
História camuflada, em outras palavras, o que está inserido nas entrelinhas da percepção 
historicamente aceita e, por fim, a História Cultural, isso quer dizer, a História que leva 
em conta a percepção cultural do povo sobre o qual a História geral tem apenas uma 
visão parcial.
QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE HISTORICISMO, HISTÓRIA CAMUFLADA 
E HISTÓRIA CULTURAL
Historicismo História camuflada História cultural
Os surdos narrados como 
deficientes e patológicos.
Os surdos narrados como 
‘coitadinhos’ que precisam 
de ajuda para se promover, 
se integrar.
Os surdos narrados como 
sujeitos com experiências 
visuais.
Os surdos são categorizados 
em graus de surdez.
Os surdos têm capacidade, 
mas são dependentes.
As identidades surdas são 
múltiplas e multifacetadas.
A educação deve ter um 
caráter clinico-terapêutico 
e de reabilitação.
A educação como caridade, 
os surdos ‘precisam’ de 
ajuda para apoio escolar, 
porque tem dificuldades de 
acompanhar.
A educação de surdos 
deve ter consideração à 
diferença cultural.
A língua de sinais é 
prejudicial aos surdo.
A língua de sinais é usada 
como apoio ou recurso.
A língua de sinais é a 
manifestação da diferença 
linguística-cultural relativa 
aos surdos.
FONTE: Strobel (2008a, p. 78)
Ao lermos o comparativo estabelecido no Quadro 1, fica evidente um 
entendimento histórico da surdez como uma capacidade reduzida, uma dificuldade a ser 
superada e um problema médico. Já na perspectiva da História Cultural, o tratamento 
é de respeito às diferenças e multiplicidades de percepção dos surdos, bem como a 
compreensão cultural múltipla e não excludente, dito de outro modo, a compreensão 
cultural evidencia um respeito às vivências específicas, não pretendendo o apagamento 
das características culturais, vendo o surdo como um indivíduo complexo e completo 
em si, sem a necessidade de se estabelecer uma norma, quase sempre inatingível para 
ser alcançada por eles.
9
Estes modos de compreender o surdo marcam todas as formas como são 
pensadas as políticas públicas, a educação, a inserção e a percepção do surdo enquanto 
cidadão que vive dentro de uma sociedade que o enxerga não como alguém capaz, 
mas como alguém que necessita de auxílio para se tornar capaz. Ou seja, apenas com 
a modificação da compreensão da história na perspectiva cultural é que poderão ser 
repensados os modelos de ensino, aprendizagem, inserção social e inserção no mercado 
de trabalho para o povo surdo.
Logo, a visão da história cultural dos surdos é de extrema importância para que 
a sociedade modifique sua percepção histórica e social em relação aos surdos. Por isso, 
os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito necessários 
para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições.
A tese da professora surda Karin Strobel tem o título de “Surdos: vestígios culturais não 
registrados na história”, foi defendida em 2008, e apresenta muitas reflexões, informações, 
histórias e percepções importantes para as discussões que serão efetuadas neste livro 
didático, vale a pena a leitura. Leia a seguir uma parte do resumo apresentado pela autora:
 RESUMO
A presente pesquisa consiste em um estudo empregando pro-
cedimento das análises narrativas e pesquisas teóricas etnogra-
fias que possibilitou a coleta de dados sobre a cultura do povo 
surdo. Nas análises narrativas possibilitou a reflexão sobre as 
práticas ouvintistas nas escolas de surdos e resistências do 
povo surdo contra esta prática, procurando resgatar a cultura 
surda na história. Nas pesquisas teóricas observou-se o papel 
fundamental da língua de sinais, o reconhecimento da cultura 
surda e a construção de sua identidade. Estas metodologias 
ressaltam a importância da participação dos povos surdos para 
a construção da história cultural (STROBEL,2008a, p. 10).
Você pode ter acesso à íntegra da tese no seguinte endereço: 
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91978.
QRCODE 1 - LINK PARA TESE STROBEL (2018)
DICAS
10
4 POLÍTICAS PÚBLICAS E SURDEZ
É necessário termos em mente que as políticas públicas em surdez são 
permeadas pela visão histórica e social tida sobre os surdos, desta forma, nenhuma das 
políticas que trouxeram direitos à comunidade e ao povo surdo forma resultado apenas 
da boa vontade social ou política, mas também, e principalmente, são frutos de muitas 
lutas das lideranças surdas, das associações e instituições que têm uma percepção de 
inserção social do surdo como parte da população que tem características culturais 
próprias, como diversos outros grupos sociais.
Além disso, as Políticas Públicas refletem as percepções sociais sobre as 
normas sobre as quais elas versam, dito de outro modo, ao se analisar as leis é possível 
observar qual a ideia que está inserida nas entrelinhas das políticas oficiais sobre 
a surdez, os surdos e os direitos sociais e linguísticos deles. Logo, a compreensão das 
principais políticas sobre surdez em âmbito nacional é relevante para este livro didático 
porque os Estudos Surdos são perpassados, também, pelos atravessamentos propostos 
pelas Políticas Públicas existentes e o modo como elas delineiam tópicos relevantes 
para a comunidade surda.
Nesta compreensão e com o objetivo de observar como as Políticas Públicas 
tratam esses tópicos, Fernandes (2019) elenca as legislações específicas em nível 
nacional, estadual e municipal entre 2002 e 2018, de modo a analisar como as políticas 
públicas “[...] apresentam a surdez, como delineiam e constroem modelos e práticas de 
ensino voltadas aos surdos” (FERNANDES, 2019, p. 7). A seguir está o quadro em que são 
listadas as leis em âmbito federal:
QUADRO 2 – LEGISLAÇÃO RELEVANTE 2002 A 2018
LEGISLAÇÃO IDENTIFICAÇÃO DA NORMA
Lei nº 10.436/2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras
Decreto nº 5626/2005 Regulamenta a Lei nº 10.436
Política Nacional de Educação Especial 
na Perspectiva da Educação Inclusiva 
(BRASIL, 2008)
Documento norteador da educação especial na 
perspectiva da educação inclusiva.
Resolução nº 4/2009
Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento 
Educacional Especializado na Educação Básica, 
modalidade Educação Especial.
Decreto nº 6.949/2009
Promulga a Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência.
Decreto nº 7.611/2011
Dispõe sobre a educação especial, o atendimento 
educacional especializado.
Lei nº 13.005/2014 Plano Nacional de Educação – PNE
Lei nº 13.146/ 2015 Lei Brasileira de Inclusão – LBI
FONTE: Adaptado de Fernandes (2019, p. 75)
11
Em 30 de setembro de 2020 foi lançado o Decreto nᵒ 10.502, que delimita a Política Nacional 
de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, este documento representa 
um sério problema ao dar como alternativa a volta das escolas e das classes especiais. 
Ou seja, retira a prioridade da inclusão nas escolas regulares, o que pode ser utilizado em 
grande parte para a perda dos avanços obtidos em direção ao acolhimento dos alunos 
com Necessidades Educacionais Especiais nas escolas regulares.
 
Ainda ocorrerão inúmeras discussões sobre este material, pois o decreto 
acaba indo de encontro a outros documentos e acordos oficiais.
O acesso ao documento está disponível no link: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10502.
htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%2010.502%2C%20DE%20
30,Aprendizado%20ao%20Longo%20da%20Vida.
Além desta legislação, Fernandes (2019), também, destaca a importância 
de documentos de comunidades e associações de surdos que ecoaram as Políticas 
Públicas do períodode 2002 a 2018:
QUADRO 3 – DOCUMENTOS DAS COMUNIDADES SURDAS E ÓRGÃSO 
REPRESENTATIVOS 2002 A 2018
DOCUMENTOS DAS COMUNIDADES SURDAS E SEUS ORGÃOS REPRESENTATIVOS
Nota de esclarecimento da FENEIS (em resposta à nota técnica nº 5/2011/MEC/SECADI/GABI)
Nota Oficial: Educação de Surdos na Meta 4 do PNE (FENEIS, 2013)
Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Portarias nº 1.060/2013 e nº
91/2013 do MEC/SECADI (BRASIL, 2014).
Relatório da ASSUCAMP (CAMPINAS, 2016)
FONTE: Fernandes (2019, p. 76)
O período de 2002 a 2018 foi escolhido pela autora devido à legislação 
que regulamentou o uso da Libras ter sido disposta em 2002.
NOTA
NOTA
12
A abreviatura LP faz referência à Língua Portuguesa em sua modalidade 
escrita e oral.
QUADRO 4 – VISÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
EIXOS DE ANÁLISE PERCEPÇÃO
Surdos: deficientes ou 
minoria linguística?
O surdo aparece hora como deficiente ora como minoria 
linguística, o que traz problemas ao juntar as propostas de 
bilinguismo com aquelas de uso da LP e superação das 
deficiências. Ou seja, a legislação é ambivalente e trata o 
surdo de duas formas distintas.
Educação: bilíngue ou 
inclusão radical (exclusão)?
Confusão entre as propostas de educação bilíngue e o 
modo como ela efetivamente deve ser feita, acabando 
por deixar sem ser repensado o ambiente em que se dá 
a aprendizagem e que o simples estar junto com um 
professor de Libras ou um intérprete não é inclusão, mas 
reforça a exclusão.
Libras: língua de instrução ou 
língua instrumental?
Confusão do conceito de língua e seu papel na 
constituição do sujeito faz com que a Libras seja 
uma língua instrumental através da qual se chega à 
compreensão do que está sendo dito em LP.
Português: língua majoritária 
ou segunda língua?
“[...] a Língua Portuguesa ainda é considerada a norma, 
a majoritária, a indispensável aos surdos e não como 
uma segunda língua como os surdos reivindicam” 
(FERNANDES, 2019, p. 121).
Docência: ensino ou 
tradução?
“Embora o Decreto nº 5626/2005 reconheça a priori-
dade na formação do professor surdo para o ensino de 
Libras, no momento da contratação essa prerrogativa 
ainda está distante de se tornar uma realidade” (FER-
NANDES, 2019, p. 130).
FONTE: Adaptado de Fernandes (2019)
Deste modo, a pesquisadora volta a sua atenção para as leis, decretos e 
resoluções relevantes e faz uma análise qualitativa de como elas evidenciam aspectos 
relevantes para e sobre a comunidade surda. A fim de sintetizar aquilo que a autora traz, 
a seguir é apresentado um quadro com os principais tópicos abordados e a percepção 
das autoras acerca do modo como as políticas públicas demonstram compreender os 
seis eixos de análise relevantes destacados pela pesquisadora:
NOTA
13
O quadro colocado acima apresenta apenas uma síntese das conclusões de 
Fernandes (2019), contudo, já permite com que percebamos que, mesmo as Políticas 
Públicas voltadas ao surdo apresentam não apenas divergências de compreensão dos 
aspectos relevantes, mas também se confundem e contradizem no entendimento dos 
conceitos e elementos importantes para a educação de surdos. Ou seja, as leis existem, 
mas ainda são confusas e não demonstram uma real aproximação ou entendimento 
daquilo que a comunidade e o povo surdo necessitam.
Mandelblatt (2014, p. 6) estudou a legislação específica pelo viés das Ciências 
Políticas, e chegou à seguinte conclusão: “[É] Verificada forte divergência entre a política 
de educação inclusiva adotada pela maioria dos governos estaduais e municipais e os 
anseios por uma educação bilíngue, defendida por grande parte da comunidade surda 
brasileira”. Ou seja, não apenas as políticas se contradizem, como elas não estão de 
acordo com os desejos e necessidades da comunidade surda.
Assim, as Políticas Públicas que tratam sobre a surdez ecoam as visões histó-
ricas e sociais sobre os surdos, pois trazem em seu cerne ainda aquelas percepções do 
surdo enquanto deficiente a ser “consertado”, ou apresentam políticas que não levam 
em conta as diferentes realidades ou não explicitam como devem ser feitas as adequa-
ções e garantias de direito sobre as quais versam.
O trabalho de Fernandes (2019) tem um viés bem ligado à Educação, até por ser 
exatamente esta a linha de pesquisa em que foi apresentado. Caso você tenha interesse 
em um ponto de vista mais ligado diretamente à compreensão política, recomendamos a 
tese de Mendelblatt (2014, p.6):
RESUMO
Este trabalho objetiva avaliar a relação entre as metas 
expressas nos textos das políticas públicas que, no Brasil do 
século XXI, incidem sobre os alunos surdos e as implicações da 
implementação dessas políticas nas nossas escolas. Com esse 
escopo, procura-se apurar até que ponto o Estado brasileiro 
está sendo capaz de garantir e respeitar os direitos de cidadania 
dessa parcela da população, assegurando aos estudantes 
surdos educação que atenda às suas especificidades e 
propicie acesso e apropriação do conhecimento escolar em 
condições de equidade face aos alunos ouvintes. Para tanto, 
analisam-se documentos relativos à questão, contextualiza-se 
sua construção, focalizam-se os discursos neles contidos e em 
que se constituíram, examinam-se dados censitários e busca-
se, na observação das práticas escolares, verificar como, 
DICAS
14
por que e com quais derivações e consequências as ações 
propostas estão, atualmente, traduzidas no cotidiano que 
caracteriza o ensino desses aprendizes. Ancorada na dimensão 
política e socioantropológica da surdez como diferença, na 
perspectiva sócio-histórico-cultural do desenvolvimento 
humano e nos estudos, por parte da Sociologia da Educação, 
da relação do sistema escolar com as desigualdades 
sociais, a moldura teórica, de base política, interage e se 
complementa com aportes da Educação de Surdos. Na 
teia construída com esses elementos, e trabalhando-se 
a partir da Abordagem do Ciclo de Políticas, investigam-
se os processos macro e micropolíticos, observando-se a 
trajetória das políticas elaboradas, destacando se progressos 
e conquistas alcançadas e apresentando-se sugestões para 
lidar com eventuais desigualdades reproduzidas, criadas ou 
desencadeadas pelas ações desenvolvidas. Verificada forte 
divergência entre a política de educação inclusiva adotada 
pela maioria dos governos estaduais e municipais e os anseios 
por uma educação bilíngue, defendida por grande parte da 
comunidade surda brasileira, delineiam-se algumas diretrizes 
para melhor enfrentamento dos temas aqui pesquisados e 
recomenda-se a coexistência de escolas bilíngues ao lado das 
escolas inclusivas, ensejando à parcela surda da população 
brasileira a experiência democrática da opção entre uma e 
outra modalidade de ensino.
Palavras-chave: Políticas Públicas Educacionais; Cidadania; 
Desigualdade de Oportunidades; Educação de Surdos.
MANDELBLATT, Janete. Políticas Públicas, (Des)igualdade de Oportunidades e 
Ampliação da Cidadania no Brasil: o caso da educação de surdos (1990-2014). 2014. Tese 
(Doutorado em Ciências Políticas) Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Universidade 
Federal Fluminense. Niterói. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/
handle/123456789/185212/MANDELBLATT%20Janete%202014%20%28tese%29%20UFF.
pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 23 set. 2020.
QRCODE 2 - LINK PARA TESE MANDELBLATT
15
5 A RELEVÂNCIA DAS COMUNIDADES SURDAS PARA O 
POVO SURDO
Até esta parte do livro didático, discutimos como a História percebe os surdos, 
como a sociedade os enxerga, e partindo destes aspectos, de que maneira as Políticas 
Públicas acabam por ecoar as visões sobre os surdos. Ou seja, até aqui vimos como o 
olhar do não surdo atravessa a História, a Sociedade e as Políticas Públicas acabando por 
direcionar, em certa medida, o jeito que o próprio surdo se percebe dentro desta sociedade 
majoritariamente ouvinte.
Nesta parte das discussões, começaremos a estudar as formas como os surdos 
conseguiram manter sua identidade, cultura e união, apesardo ponto de vista Histórico, 
da Sociedade e das visões, por vezes conflitantes, das Políticas Públicas. Além disso, os 
espaços de socialização, agrupamento e as instituições de acolhimento para as pessoas 
surdas também são necessárias para que as Leis sejam modificadas, pois são as ações 
coletivas que criam a pressão necessária para isso.
Inicialmente serão apresentadas as definições de comunidade surda e povo 
surdo, depois, discutiremos, brevemente, o papel que as instituições e grupos que 
fazem comunidade surda têm para o povo surdo; por fim, serão elencadas algumas das 
entidades de apoio e agrupamento de surdos.
5.1 AS DEFINIÇÕES DE COMUNIDADE SURDA E 
POVO SURDO
Muitas vezes nos referimos às pessoas surdas de modo geral, fazendo 
referência apenas àquelas que não fazem parte do grupo dos ouvintes, desta maneira, 
separamos de modo simplista as pessoas apenas através da característica da audição 
ser presente ou não. Este modo de pensar reproduz aquela ideia histórica e social em 
que os surdos seriam apenas um grupo de pessoas separado dentro da sociedade em 
que a audição inexiste.
Logo, este raciocínio é reducionista e deixa de fora uma infinidade de 
possibilidades para compreender tanto as pessoas surdas quando os indivíduos que 
se relacionam com os surdos e têm, em vários graus e diferentes configurações, uma 
ligação com os traços que caracterizam culturalmente as peculiaridades ligadas aos 
surdos. Dito de outro modo, separar a sociedade em surdos e não surdos ou surdos 
e ouvintes ou ainda não ouvintes e ouvintes, deixa de fora muitas pessoas que têm 
diversos tipos de relações e compreensões culturais para com os surdos.
16
Para delimitar melhor as relações culturais, pessoais e sociais existentes entre 
as pessoas que compõem a sociedade, Strobel (2009, p. 6, grifos da autora) conceitua 
os seguintes termos:
CONCEITO
Povo Surdo e a Comunidade Surda
O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, 
tradições em comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou 
seja, constrói sua concepção de mundo através da visão.
A comunidade surda, na verdade não é só de surdos, já que tem 
sujeitos ouvintes junto, que são família, intérpretes, professores, 
amigos e outros que participam e compartilham os mesmos 
interesses em comuns em um determinado localização que podem 
ser as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e outros.
A partir deste modo de delimitar as relações, percebe-se que as pessoas surdas 
ou ouvintes fazem parte das discussões e das vivências surdas que estão dentro da 
comunidade surda. Já povo surdo são aqueles “[...] sujeitos surdos que não habitam 
no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, por um código ético de 
formação visual, independente do grau de evolução linguística, tais como a língua de 
sinais, a cultura surda e quaisquer outros laços” (STROBEL, 2008, p. 13).
Logo, o que caracteriza o povo surdo não é o nascimento em determinado 
território, mas a maneira como se dá a organização através das experiências visuais, 
linguísticas e culturais, ou seja, uma visão de mundo compartilhada que está além das 
fronteiras físicas. Dito de outro modo, o povo surdo não tem uma nação ou um lugar 
de origem, por isso, um surdo americano, canadense ou brasileiro será parte do povo 
surdo independente da língua e da cultura, pois a sua formação de vivência se dá pela 
interpretação visual da realidade.
Também, Strobel (2008a, p. 29) coloca que “O povo surdo não tem um país, mas 
metaforicamente, ele tem uma história, seu mundo diferente ao de ouvinte. Respeitando 
a língua de sinais e os seus valores culturais é uma porta aberta para o mundo dos 
surdos”. Ao mesmo tempo, os surdos estão inseridos dentro do seu povo de nascimento 
delimitado pelas fronteiras, origens e experiências culturalmente compartilhadas pelos 
demais habitantes do seu local de nascimento ou criação. Pode-se afirmar que este 
duplo pertencimento é uma das peculiaridades que explica e justifica a complexidade e 
dificuldade de uma real inserção dos surdos dentro da sociedade ouvinte, porque ele é ao 
mesmo tempo parte de dois povos diferentes, vivendo sempre nas fronteiras intangíveis 
das características compartilhadas pelos demais integrantes do povo surdo global, do 
povo surdo local, da comunidade surda e do povo ao qual pertence por nascimento.
17
5.2 AS VIVÊNCIAS EM COMUNIDADE E O ACOLHIMENTO AO 
POVO SURDO
As comunidades surdas formam e são de grande importância para o acolhi-
mento, desenvolvimento e a inclusão social do povo surdo, de acordo com Pagnussat 
(2008, p. 1):
A inclusão social do surdo é um desafio que a sociedade enfrenta em 
tempos de mudança, e provoca muitos questionamentos, pois para 
que sujeitos, com e sem deficiência, possam exercer o direito pleno à 
cidadania, é indispensável que a escola e a sociedade aprimorem suas 
práticas, a fim de atender as individualidades. É ainda imprescindível 
destacarmos que, [...], as associações inserem o sujeito surdo na 
comunidade/sociedade que até então não o via como capaz e útil, 
como todo ser humano é.
Dessa forma, a autora destaca o papel de inserção social feito pelas associações 
de surdos, tornando possível o acolhimento e inserção na sociedade de um modo que 
acolhe e valoriza as diferenças. Strobel (2008a, p. 17) apresenta um relato em primeira 
pessoa sobre a importância de se sentir acolhido, respeitado e participante de uma 
comunidade em que suas características são não apenas aceitas como valorizadas:
Eu era revoltada com a minha condição de surdez, não aceitava a surdez 
achando que era castigo de Deus e me isolava, isto ocorria porque a 
escola oralista não me permitia ter identidade surda, procurando fazer 
com que eu aprendesse e fosse igual às pessoas ouvintes - minha 
mãe ficou preocupada com a minha revolta e isolação e ao se informar 
a respeito do povo surdo descobriu a existência de uma associação 
de surdos e me levou lá quando eu tinha 15 anos. [...] Ao ter contato 
com a comunidade surda, o meu mundo abriu as portas e eu pude 
explorar e expandir para fora tudo o que estava insuportavelmente 
sufocado dentro de mim.
Ou seja, a autora encontrou um modo de se abrir para o mundo, as vivências e as 
experiências que permitiram à autora “fazer as pazes” com a sua surdez e desenvolver 
seu potencial em direção a explorar as potencialidades sufocadas até então pela 
sociedade. Em relação à sua existência no Brasil, Strobel (2009b, s.p.) coloca que:
As Comunidades surdas no Brasil têm uma história longa. O povo surdo 
brasileiro deixou muitas tradições e histórias em suas organizações 
das comunidades surdas. As associações de surdos ao longo da 
história forneceram muitas atividades de lazer, esportivos e sociais. 
Associação iniciou diante de uma necessidade de povos surdos terem 
um espaço ao se unirem e resistirem contra as práticas ouvintistas que 
não respeitavam a cultura deles. No início as associações de surdos 
tinham exclusivamente o objetivo de natureza social devido ao baixo 
padrão de vida no século XVIII, os sujeitos surdos tinham o propósito 
18
de ajudar uns aos outros em caso de doença, morte e desemprego 
e, além disso, as associações se propunham a fornecer informações 
e incentivos através de conferências e entretenimentos relevantes. 
Hoje as associações de surdos fornecem muitas atividades de lazer, 
cultural, esportivos, sociais e outros.
Assim, o nascimento das associações de surdos foi devido a uma necessidade 
básica de sobrevivência, divulgação e lutas do povo surdo, logo, tinham um caráter 
assistencial básico para a organização de aspectos extremamente relevantes para a 
vivência em sociedade. Além disso, surgiram como um espaço de resistência às políticas 
que forçavam a oralidade e as práticas vinculadas à visão do surdo como o sujeito que 
tem uma falta ou deficiência. Isso porque é muito mais difícil ser sufocado quando muitas 
mãos dialogam, participam e lutam pelo espaço social compartilhado coletivamente.“Visto que uma associação é qualquer empreendimento formal ou informal que reúne 
pessoas ou sociedades com práticas comuns, visando ultrapassar dificuldades e gerar 
benefícios para seus associados” (PAGNUSSAT, 2018, p. 1):
Esses movimentos [as associações] se dão a partir dos espaços 
articulados pelos surdos, como as associações, as cooperativas, os 
clubes, onde “jovens e adultos surdos estabelecem o intercâmbio 
cultural e linguístico e fazem o uso oficial da Língua de Sinais” (FENEIS, 
1995a:10). Um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas 
é a Língua de Sinais, através da qual eles encontram oportunidades 
de compartilhar suas experiências e seus sonhos, e também um 
espaço de reafirmação da luta pelo direito ao uso dessa língua. 
Mas as questões discutidas pelos movimentos surdos se ampliam 
e diversificam, segundo suas realidades locais e nacionais. Algumas 
lutas são compartilhadas pelos grupos de surdos em diferentes 
regiões do mundo, sendo que sua articulação ao nível mundial está 
sob a coordenação da Federação Mundial de Surdos (Word Federation 
of the Deaf – WFD), com sede na Finlândia. A sua criação, em 1951, 
significou uma importante conquista de espaço político para as 
discussões e articulações das lutas das comunidades surdas (Souza, 
1998) (PAGNUSSAT, 2018, p. 1).
Neste trecho, a autora destaca um aspecto extremamente importante para a 
compreensão do papel das associações de surdos como parte da comunidade surda e 
para o povo surdo, o de ser o espaço em que a língua de sinais é o modo de comunicação, 
a língua materna, a língua de uso, ou seja, o espaço de resistência e luta linguística.
Tendo em vista que a língua de sinais é um dos principais, se não o principal, 
alicerce das lutas surdas por respeito e inclusão, a existências de locais e grupos de 
pessoas em que esta realidade linguística é respeitada e utilizada se torna de extrema 
importância para o povo surdo e as pessoas que fazem parte da comunidade surda.
19
O canal VISURDO é um canal do YouTube criado por dois irmãos surdos que apresen-
tam, desde 2010, diversos conteúdos sobre suas experiências e vivências como surdos 
de modo leve e engraçado sobre assuntos importantes sobre os surdos, a surdez e a 
comunidade surda. Um dos vídeos deles explica qual é o papel das associações de surdos, 
o QRcode colocado junto da imagem levará você diretamente para o vídeo: O que é asso-
ciação de surdos?
QRCODE 3 VÍDEO – O QUE É ASSOCIAÇÃO DE SURDOS?
FONTE: Visurdo (2019)
Strobel (2009b, s.p.) lista as principais comunidades surdas brasileiras:
1- Associações de Surdos: Uma associação de surdos surge em 
função de reunir sujeitos surdos que participam e compartilham os 
mesmos interesses em comuns, assim como costumes, história, 
tradições em comuns, em uma determinada localidade, geralmente 
em uma sede própria ou alugada, ou cedida pelo governo e outros 
espaços físicos. A Associação de Surdos representa importante 
espaço de articulação e encontro da comunidade surda. 
Importantes movimentos se originaram e ainda se resultam das 
reuniões e assembleias que ocorrem por todo o Brasil.
2- Federação Nacional de Educação de Surdos / FENEIS: é 
uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos com finalidade 
sociocultural, assistencial e educacional que tem por objetivo 
a defesa e a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira. É 
filiada à Federação Mundial dos Surdos. 
3- Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos / CBDS. Esta 
confederação organiza e regulamenta muitas práticas de muitas 
modalidades de esportes de povo surdos, também promove 
competições entre as associações de surdos e outros.
DICAS
20
4- Federação Estaduais Esportivas de Surdos promove intercâmbios 
de esportes dentre as várias associações de surdos do Estado.
5- Outras Instituições: associações de pais e amigos de surdos, 
Associações de intérpretes de Libras, escolas de surdos e outros.
6- Representantes religiosas: pastorais de surdos, Ministério de 
Keiraihaguiai, grupos de jovens de igrejas etc.
Desta forma, o papel das instituições que compõe a comunidade surda é de 
extrema importância para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação 
política, resistência linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do surdo 
como cidadão pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro. Elas trabalham para o 
acolhimento e desenvolvimento das potencialidades dos surdos dentro da sociedade 
e são redes de apoio mútuo e participação política extremamente importantes para as 
garantias de direitos, preservação e evolução da Libras e participação cidadã.
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Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A História é sempre escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, social 
ou até mesmo linguístico.
• Os surdos são vistos como partícipes da história que tiveram suas histórias não 
destacadas, mas que estão postas ao longo do tempo através de vestígios dentro da 
história oficial.
• Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos são 
um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as 
pessoas ouvintes.
• A percepção que o grupo dos surdos tem sobre si é perpassada pela visão que a 
sociedade, majoritariamente ouvinte, tem sobre os surdos.
• A sociedade vê o surdo como alguém que não tem algo, a audição, e precisa ter modo 
de obter este algo ou um simulacro disso para ser integrado à sociedade.
• A visão da história cultural dos surdos é de extrema importância para que a sociedade 
modifique sua percepção histórica e social em relação aos surdos.
• Os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito necessários 
para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições.
• As políticas públicas em surdez são permeadas pela visão histórica e social tida 
sobre os surdos.
• As Políticas Públicas que tratam sobre a surdez ecoam as visões históricas e sociais 
sobre os surdos, pois trazem em seu cerne ainda aquelas percepções do surdo 
enquanto deficiente a ser “consertado”.
• Os espaços de socialização, agrupamento e as instituições de acolhimento para as 
pessoas surdas também são necessárias para que as Leis sejam modificadas.
• Muitas vezes nos referimos às pessoas surdas de modo geral, fazendo referência 
apenas àquelas que não fazem parte do grupo dos ouvintes.
• Este raciocínio é reducionista e deixa de fora uma infinidade de possibilidades para 
compreender tanto as pessoas surdas quando os indivíduos que se relacionam com 
os surdos.
RESUMO DO TÓPICO 1
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• Separar a sociedade em surdos e não surdos ou surdos e ouvintes ou ainda não 
ouvintes e ouvintes, deixa de fora muitas pessoas que têm diversos tipos de relações 
e compreensões culturais para com os surdos.
• O povo surdo é grupo de sujeitos surdos que tem costumes, história, tradições em 
comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua concepção 
de mundo através da visão.
• A comunidade surda, na verdade não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes 
juntos, que são família, intérpretes, professores, amigos e outros que participam e 
compartilham os mesmos interesses em comum em uma determinada localização, 
que podem ser as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e outros.
• O que caracteriza o povo surdo não é o nascimento em determinado território, mas 
a maneira como se dá a organização através das experiências visuais, linguísticas e 
culturais.
• As comunidades surdas formam e são de grande importância para o acolhimento, 
desenvolvimento e a inclusão social do povo surdo.
• A inclusão social do surdo é um desafio que a sociedade enfrenta em tempos de 
mudança, e provoca muitos questionamentos, pois para que sujeitos, com e sem 
deficiência, possam exercer o direito pleno à cidadania, é indispensável que a escola 
e a sociedade aprimorem suas práticas, a fim de atender às individualidades.
• O nascimento das associações de surdos foi devido a uma necessidade básica desobrevivência, divulgação e lutas do povo surdo.
• Um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas é a Língua de Sinais, através 
da qual eles encontram oportunidades de compartilhar suas experiências e seus 
sonhos.
• O papel das instituições que compõem a comunidade surda é de extrema importância 
para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação política, resistência 
linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do surdo como cidadão 
pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro.
23
1 De acordo com o quadro adaptado de Fernandes (2019), sobre visão das Políticas 
Públicas. 
Relacione, de forma correta, Coluna I, Eixos de Análise, à Coluna II, Percepção:
AUTOATIVIDADE
Coluna I
(1) Surdos: deficientes ou minoria 
linguística?
(2) Educação: bilíngue ou inclusão 
radical (exclusão)?
(3) Libras: língua de instrução ou língua 
instrumental?
(4) Português: língua majoritária ou 
segunda língua?
(5) Docência: ensino ou tradução?
Coluna II
( ) “[...] a Língua Portuguesa ainda é con-
siderada a norma, a majoritária, a indis-
pensável aos surdos e não como uma 
segunda língua como os surdos reivin-
dicam” (FERNANDES, 2019, p. 121).
( ) “Embora o Decreto nº 5626/2005 reco-
nheça a prioridade na formação do pro-
fessor surdo para o ensino de Libras, no 
momento da contratação essa prerroga-
tiva ainda está distante de se tornar uma 
realidade” (FERNANDES, 2019, p. 130).
( ) Confusão do conceito de língua e seu 
papel na constituição do sujeito faz com 
que Libras seja uma língua instrumental 
através da qual se chega à compreen-
são do que está sendo dito em LP.
( ) O surdo aparece hora como deficiente 
ora como minoria linguística o que traz 
problemas ao juntar as propostas de bi-
linguismo com aquelas de uso da LP e 
superação das deficiências. Ou seja, a 
legislação é ambivalente e trata o surdo 
de duas formas distintas.
( ) Confusão entre as propostas de educa-
ção bilíngue e o modo como ela efeti-
vamente deve ser feita, acabando por 
deixar sem ser repensado o ambiente 
em que se dá a aprendizagem e que o 
simples estar junto com um professor 
de Libras ou um intérprete não é inclu-
são, mas reforça a exclusão.
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Marque a alternativa que apresenta a CORRETA numeração da Coluna II:
a) ( ) 4, 5, 3, 2 e 1.
b) ( ) 3, 2, 5, 1 e 4.
c) ( ) 3, 1, 4, 2 e 5.
d) ( ) 3, 1, 5, 2 e 4.
e) ( ) 4, 5, 3, 1 e 2.
2 Diante do quadro de percepções sobre o surdo apresentado por Strobel (2008a), 
podemos concluir, sobre a História Cultural, que:
I- Os surdos narrados como sujeitos com experiências visuais.
II- As identidades surdas são múltiplas e multifacetadas.
III- A educação de surdos deve ter consideração à diferença cultural.
IV- A educação deve ter um caráter clínico-terapêutico e de reabilitação.
V- A língua de sinais é a manifestação da diferença linguística-cultural relativa aos 
surdos.
Dentre estas afirmações, quais estão CORRETAS?
a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) I, II, III e V.
c) ( ) II, III, IV e V.
d) ( ) I, III, IV e V.
e) ( ) I, II, IV e V.
3 De acordo com o estudo sobre os movimentos históricos do estabelecimento de 
comunidades surdas, do tópico um, analise as sentenças, classificando V para as 
verdadeiras e F para as falsas.
( ) A História nem sempre é escrita por aqueles que têm mais poder, seja econômico, 
social ou até mesmo linguístico.
( ) Mesmo que de modo minoritário e não registrado na História oficial, os surdos são 
um grupo que está em constante contato dentro da sociedade em que vivem as 
pessoas ouvintes.
( ) Os Estudos Surdos dentro da perspectiva dos Estudos Culturais são muito 
necessários para as discussões em estudo e pesquisa dentro das instituições.
( ) A inclusão social do surdo não é um desafio que a sociedade enfrenta, pois para 
que sujeitos, com e sem deficiência, possam exercer o direito pleno à cidadania, é 
irrelevante que a escola e a sociedade aprimorem suas práticas, a fim de atender 
as individualidades.
( ) O papel das instituições que compõem a comunidade surda é de extrema 
importância para o estabelecimento, manutenção, socialização, participação 
política, resistência linguística, organização civil e, por extensão, a inserção do 
surdo como cidadão pertencente ao povo surdo e ao povo brasileiro.
25
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V – V.
c) ( ) F – V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V – V.
e) ( ) V – F – V – F – V.
4 Segundo Strobel (2009, p. 6), descreva os conceitos de Povo Surdo e Comunidade 
Surda.
26
27
INSERÇÕES SOCIAIS: 
REPRESENTATIVIDADE, MERCADO DE 
TRABALHO E LÍNGUA
1 INTRODUÇÃO
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
No tópico anterior, nós estudamos como a História retrata o surdo, vimos de que 
modo a sociedade o enxerga, debatemos as contradições e a importâncias das Políticas 
Públicas e estudamos o conceito de comunidade surda e povo surdo, bem como 
discutimos de que modo as instituições que fazem parte da comunidade surda têm 
um papel de extrema importância para a união do povo surdo através dos espaços de 
conexão e resistência formados a partir da junção de pessoas vinculadas à comunidade 
surda. Também comentamos sobre a grande importância da língua de sinais como 
elemento definidor de uma nação surda que se organiza através das experiências e 
vivências visualmente constituídas.
Neste tópico, nós estudaremos o poder e o papel da língua nas compreensões 
sobre a surdez, logo, como o embate entre a língua ouvinte majoritária e a língua de 
sinais se entrecruzam para forjar as experiências linguísticas das comunidades e do 
povo surdo brasileiro, ou seja, como a LP e a Libras são percebidas dentro do contexto 
da surdez. Depois serão vistos alguns pontos sobre os direitos linguísticos dos povos 
que vivem em zonas de tensão linguística, como a existente entre os surdos e não 
surdos dentro da sociedade brasileira. Ainda dentro deste viés de compreensão da 
importância linguística, social e identitária da Libras, serão apontados elementos 
relevantes nas discussões sobre o aprendizado da língua e da escrita pelos surdos, de 
modo a perceber qual é a relação entre a LP oralizada e escrita e da Libras sinalizada 
e escrita, assim sendo, neste espaço discutiremos elementos de aquisição, expressão 
e compreensão linguística.
Por fim, neste tópico, também debateremos sobre a representatividade surda 
na sociedade, suas lideranças, lugares de fala e exercício de direitos como cidadãos 
brasileiros. Dentro desta perspectiva de participação ativa na sociedade, encerraremos 
o tópico com a análise de aspectos relacionados ao mercado de trabalho, consumo e 
surdez. Assim, este tópico tem como objetivo discutir aspectos linguísticos e sociais 
que perpassam o exercício da cidadania e o pertencimento à sociedade.
28
2 O PODER E O PAPEL DA LÍNGUA NAS COMPREENSÕES 
SOBRE SURDEZ
A língua tem o poder de fundar e estabelecer parâmetros de cidadania nas 
diferentes sociedades, isso porque a organização daquilo que constitui as diferentes 
estruturas sociais, como documentos, garantia de direitos, vivências estruturadas 
de escolarização e trabalho são perpassadas pelo modo como as pessoas interagem 
pela e através da língua. Isso porque a língua e a linguagem são códigos estruturados 
socialmente que, ao mesmo tempo em que são combinados socialmente, estruturam 
a própria língua e são arbitrários, ou seja, é este combinado social que atribui sentido à 
língua sentido que só existe por e através da língua. Estas características aparecem em 
todos os contextos.
Esta perspectiva é apresentada pela teoria de Saussure (2012), em que é 
apresentada a dicotomia entre a linguagem e a língua, em que a língua está inserida 
dentro do campo da linguagem, sendo a parte estruturada e socialmente organizada 
dela. Dito de outro modo, a linguagem é qualquer modo de interpretação, percepção 
e observação das coisas de uma forma que pode ser extremamente pessoal e difícil 
deexplicar, por exemplo, um quadro pode ser interpretado de inúmeros modos, pois 
a linguagem artística se presta a diferentes compreensões que são estruturadas de 
maneira extremamente pessoal e baseada nas vivências pessoais de cada um. Já a 
língua é uma parte da linguagem que é socialmente estruturada, convencionada 
e organizada de forma que todas as pessoas que utilizam aquela língua possam se 
comunicar e compreender as intervenções no mundo feitas através dela de modo a 
diminuir as possibilidades de confusão entre seus usuários.
Para exemplificar melhor estas características das línguas, vamos observar as 
seguintes palavras em LP e Libras:
livro
Para que a palavra livro fosse escrita, foi necessário colocar as letras numa 
ordem definida para que todo o grupo de usuários da LP possa ler esta sequência e 
a relacionar tanto ao som da palavra livro quanto ao objeto livro. Ao mesmo tempo, 
para que o usuário da Libras possa reconhecer a palavra livro em Escrita de Sinais, 
é necessário que este leitor conheça os elementos que compõem o sinal e consiga 
decodificar de modo a relacionar a palavra escrita ao sinal e ao objeto livro.
Desse modo, é este conhecimento anterior da língua escrita e da relação entre 
os fonemas e grafemas que permite a leitura do que está escrito, ou seja, é este 
conhecimento que se convencionou socialmente a chamar de livro, e é o modo de 
29
falar/sinalizar escrever esta palavra que faz com que estes conjuntos de grafemas 
remetam ao objeto livro. Dito de outra maneira, nada na palavra livro falada ou 
sinalizada ou na palavra livro escrita é diretamente relacionada ao objeto livro, pois a 
sequência de sons, logo, de grafemas escritos é apenas combinada socialmente e não 
vinculada ao objeto livro.
Você pode pensar que o sinal de livro até tem uma relação com abrir um livro, 
mas isso também não é bem assim, pois apenas a observação de ser algo que é aberto 
pode remeter a um sem fim de objetos que pode ser aberto em duas partes. Então, 
para que este sinal escrito realmente possa ser lido com livro é necessário que tanto 
quem escreveu quanto quem lê esta palavra escrita sabia o código utilizado, ou seja, é 
socialmente compartilhado pelas pessoas que comungam desta língua.
Assim, é através da língua compartilhada entre os usuários que as sociedades 
se estruturam e, por isso, a inserção linguística na modalidade falada e escrita tem um 
peso extremamente importante para que as pessoas possam exercer plenamente seus 
direitos, trabalhar, estudar e viver em sociedade.
No Livro Didático de Estudo de Sintaxe da Libras, esta discussão sobre 
língua e linguagem é encontrada de forma mais detalhada.
Então, assim, quando a sociedade brasileira, por exemplo, se estrutura majori-
tariamente em Língua Portuguesa na sua modalidade oral e escrita, os documentos, as 
vagas de emprego, as entrevistas, a televisão, o atendimento em bancos, repartições 
públicas e lojas, as formas de acesso à informação e à escola são estruturadas também 
em LP.
Logo, as pessoas que não compartilham com proficiência desta língua 
majoritária acabam por ter muito mais dificuldade de acesso a tudo que é oferecido no 
interior desta organização linguística social. Ou seja, é muito mais complexo ter acesso 
aos bens e serviços quando estes são oferecidos em uma língua sobre a qual a pessoa 
não tem domínio pleno.
Neste contexto complexo estão todas as pessoas que são pertencentes 
às minorias que utilizam outras línguas que não a língua majoritária do país, como 
os surdos, imigrantes e usuários de variedades linguísticas minoritárias (pomerano, 
NOTA
30
línguas indígenas etc.), além disso, os analfabetos e analfabetos funcionais também 
têm dificuldade de viver nesta sociedade em que a língua permeia todas as relações. 
Assim, para que todas as pessoas tenham direito de viver plenamente dentro de uma 
sociedade é necessário que a realidade linguística dos grupos sociais, que utilizam uma 
língua diferente da língua majoritária não apenas seja inserida, mas também respeitada 
como a língua de comunicação daquela parcela da comunidade.
É importante ressaltar que, para os surdos é ainda mais complicado o contexto 
linguístico social em que uma língua oral-auditiva tem prevalência, pois se torna muito 
mais complexo adquirir as habilidades linguísticas da língua majoritária. Dito de outro 
modo, a diferença entre a modalidade oral-auditiva e visuoespacial torna muito mais difícil 
a aquisição da língua majoritária por parte do povo surdo que vive dentro da sociedade.
Logo, exatamente por ser compartilhada socialmente, para que seja efetiva-
mente um instrumento de inserção social é que a Língua de Sinais, no caso do Brasil, 
a Libras é um dos aspectos mais importantes para a garantia dos direitos dos surdos 
e inserção na sociedade de modo pleno. Assim, as Políticas Públicas, que garantem 
o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão, além dos 
demais direitos linguísticos associados ao uso dela, são de grande importância para a 
comunidade e o povo surdo.
Na próxima parte deste Tópico 2 serão discutidos alguns aspectos 
relevantes quanto aos direitos linguísticos, por enquanto, é importante 
saber que estes são os direitos relacionados ao uso da língua por um 
determinado povo. Desse modo, em relação aos surdos são aqueles 
direitos relacionados ao uso da língua de sinais.
Devido à importância da conquista da legislação específica para a garantia de 
direitos linguísticos e inserção social, é colocada a seguir a Lei nº 10.436/2002:
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002.
Regulamento
Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras 
providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional 
decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão 
a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão 
a ela associados.
ESTUDOS FUTUROS
31
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – 
Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema 
linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical 
própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias 
e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral 
e empresas concessionárias de serviços públicos, formas 
institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de 
Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização 
corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de 
serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento 
e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de 
acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais 
estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão 
nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e 
de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua 
Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá 
substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.
Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Paulo Renato Souza
Fonte: BRASIL (2002)
Esta Lei é regulamentada pelo Decreto nᵒ 5626/2005, que também dispõe 
de elementos muito importantes sobre o uso e fomento à Libras em 
território nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 26 set. 2020.
Pode-se perceber que esta Lei abriu caminho para que a Libras fosse inserida 
nas discussões oficiais, nas instituições e nas

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