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Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 19401 
 
Código Penal 
 
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere 
o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte lei: 
 
Código Penal 
 
Histórico — Do ponto de vista legislativo a existência do 
Direito Penal no Brasil inicia-se com o Livro V das Ordenações 
Filipinas (Rei Felipe II), de 1603, aqui vigente até o ano de 
1830. Tal regramento é típico da época, prevendo penas 
corporais, degradantes, de morte, banimento e misturando normas 
éticas e religiosas com as puramente criminais. É tudo bem 
representativo do Direito Penal da vingança pública e com 
tratamento desigual entre as pessoas em razão da origem social. 
Com o advento da Independência tivemos o Código Criminal do 
Império, em 16 de dezembro de 1830, embasado no Projeto Bernardo 
Pereira de Vasconcelos, o qual sofreu a influência do Código 
Penal da França (1810), do Código Penal da Baviera (1813) e do 
Código Penal de Nápolis (1819). Foi uma normatização bastante 
avançada e que chegou a inspirar os novos Códigos Penais da 
Espanha (1848) e de Portugal (1852). 
Novo estatuto criminal entre nós surgiu com o advento da 
República (1889), através do Decreto de 11 de outubro de 1890. 
Com má redação, falhas e lacunas fez surgir copiosa legislação 
extravagante, findando com uma Consolidação das Leis Penais por 
Decreto de 14 de dezembro de 1930. 
Em 1937, durante a ditadura do Estado Novo, procurou-se elaborar 
um novo Código Penal, o qual nasceu do Projeto Alcântara 
Machado. Originariamente o novo Código Penal foi instituído 
através do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, com 
fulcro no artigo 180 da então vigente Constituição dos Estados 
Unidos do Brasil, outorgada em 10 de novembro de 1937.
2
 
Posteriormente, nos idos da década de 60, teve início movimento 
no sentido de dotar o País de novo Código para a área criminal 
e, no ano de 1963, o insigne Professor Nelson Hungria 
desincumbiu-se da grave e espinhosa missão que lhe confiara o 
Poder Executivo ao apresentar um anteprojeto de Código Penal 
para o Brasil. 
Esse trabalho passou pelo crivo de não poucos debates e 
conferências por todo o País e uma ilustre comissão revisora — 
da qual participara o próprio autor e os não menos doutos 
Professores Anibal Bruno, da Faculdade de Direito do Recife, e 
Heleno Cláudio Fragoso — praticamente reelaborou todo o 
anteprojeto e que, infelizmente, jamais teve divulgada a sua 
conclusão. 
No ano seguinte à apresentação do anteprojeto Nelson Hungria, os 
militares instalaram-se no Poder, através de golpe de estado, e 
persistiram na idéia de dotar o País duma legislação criminal 
1 Publicado no Diário Oficial da União, de 31 de dezembro de 1940. 
2 Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937: 
“Art. 180 – Enquanto não se reunir o Parlamento Nacional, o Presidente da 
República terá o poder de expedir decretos-lei sobre todas as matérias da 
competência legislativa da União.” 
inteiramente nova. Iniciaram-se, assim, estudos visando a 
elaboração dos Códigos reguladores da matéria, quais sejam: 
Penal, Processual Penal, Penal Militar, Processual Penal Militar 
e Lei de Execução Penal. 
O novo Projeto para o Código Penal — cuja revisão final esteve a 
cargo dos Professores Benjamin Moraes Filho, Heleno Cláudio 
Fragoso e Ivo D'Aquino — foi então apresentado à Junta Militar 
que exercia o Poder Executivo, a qual, com base no artigo 3º, do 
Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com 
o § 1º, do artigo 2º, do Ato Institucional nº 5, de 13 de 
dezembro de 1968, transformou-o em Código através do Decreto-Lei 
nº 1.004, de 21 de outubro de 1969, com vigência prevista para o 
dia 1º de janeiro do ano seguinte. 
Tal Código, bastante avançado e de excelente redação, teve sua 
vigência adiada por leis posteriores e findou por ser revogado 
em decorrência da Lei nº 6.578, de 11 de outubro de 1978. 
O Código Penal, conforme visto ut retro, instituído através do 
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, continua em 
vigor. Sofreu, durante os anos da sua existência, várias 
alterações no texto primitivo, dentre as quais podemos anotar 
algumas provenientes das seguintes Leis: nº 5.346, de 1967; nº 
6.416, de 1977; nº 7.209, de 1984; nº 9.268, nº 9.269, nº 9.281, 
nº 9.318 e nº 9.426, estas de 1996; nº 10.028, de 2000; nº 
10.268, de 2001; nº 10.467, de 2002; nº 10.695, nº 10.741 e nº 
10.803, todas de 2003; nº 11.035, de 2004; nº 11.106, de 2005; 
nº 11.340, de 2006; nº 11.466 e nº 11.596, ambas de 2007; nº 
11.923, nº 12.012, nº 12.015, e nº 12.033, estas de 2009; e nº 
12.234, de 5 de maio de 2010. 
A primeira Lei a que nos referimos, nº 5.346, de 3 de novembro 
de 1967, altera dispositivos do Código Penal, visando a proteger 
serviços de utilidade pública, e para tanto trás mudanças aos 
artigos 163, 180 e 265 do Código Penal. 
Já Lei nº 6.416, de 24 de maio de 1977, reajustou o padrão 
monetário previsto no Codex pelo então vigorante Cruzeiro, na 
proporção de 1:2.000 (artigo 4º) e fez republicar o Diploma 
Penal, com as modificações resultantes (artigo 5º). 
Por seu turno, a Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984, veio 
alterar substancialmente toda a Parte Geral do Código em 
questão. Dentre as principais inovações tivemos: a) 
cancelamento, tanto na Parte Especial, quanto na legislação 
criminal extravagante, a expressão multa de, a qual fora 
substituída por apenas multa, permitindo, por essa via, a 
aplicação do novel artigo 49; b) quando da fixação da pena o 
Juiz passa obrigatoriamente a sopesar o comportamento da vítima 
(art. 59); c) aplicação de atenuante inominada (art. 66); d) 
previsão das penas restritivas de direitos (prestação de 
serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e a 
limitação de fim de semana (art. 43 e incisos I, II e III); e) 
cumprimento das penas privativas de liberdade através dos 
regimes progressivos fechado, semi-aberto e aberto (art. 33 e §§ 
1º a 3º); f) nova formatação do concurso de pessoas (art. 29); 
g) conceito amplo da omissão como causa do resultado (art. 13); 
h) acolhimento do sistema vicariante em substituição ao obsoleto 
sistema do duplo binário. A vigência do texto inovado, por força 
do artigo 5º, da Lei 7.209/84, deu-se às 24 horas do dia 12 de 
Janeiro de 1985. 
A Lei nº 9.268, de 1º de abril de 1996, alterou a redação do 
artigo 51, caput, do Código Penal, revogando os dois parágrafos 
ali constantes, e passando a considerar a multa pecuniária, no 
campo criminal, efetivamente aplicada e com trânsito em julgado, 
como dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que respeita 
à interrupção e suspensão prescricionais. Fato este, por sinal, 
a ser observado conjuntamente com a modificação efetuada na 
redação do artigo 114, do mesmo ordenamento, especificamente no 
que respeita à prescrição de tal tipo de apenação. Ao depois, 
tendo em vista a total incompatibilidade da recém introduzida 
redação do artigo 51 do CP, com a então disposição do artigo 
182, este da Lei de Execução Penal,
3
 e que tratava da conversão 
da pena de multa em pena privativa de liberdade, revogou este 
último. A mesma Lei altera o disposto no parágrafo 2º, in fine, 
do artigo 78 do Código em tela, tornando obrigatória, quando da 
suspensão condicional da pena, a aplicação cumulativa das 
vedações de freqüência a determinados locais, ausência à Comarca 
sem autorização judicial e o comparecimento mensal obrigatório 
ao Juízo para informar e justificar atividades. Alfim, modifica 
a redação do artigo 92 do Código sub oculi, tornando mais severa 
a reprimenda para com aqueles que venhama utilizar-se 
abusivamente do Poder ou violem deveres para com a Administração 
Pública. 
Através da Lei nº 9.269, de 2 de abril de 1996, foi alterada a 
redação do parágrafo 4º do artigo 159 do Diploma Penal, 
substituindo-se, aí, a figura de quadrilha ou bando pela do 
concurso e possibilitando o benefício de redução da pena em 
favor do concorrente delator que venha a contribuir, com o seu 
ato, a libertação do seqüestrado. 
A Lei nº 9.281, de 4 de julho de 1996, revoga os parágrafos 
únicos dos artigos 213 e 214 do Código Penal, os quais tinham 
sido introduzidos pela Lei nº 8.069/90. 
No que se refere à Lei nº 9.318, de 4 de dezembro de 1996, vem 
esta alterar a alínea h, do inciso II, do artigo 61, do Código 
Penal, que passou a ter a seguinte redação: contra criança, 
velho, enfermo ou mulher grávida. 
De outra banda, a Lei nº 9.426, de 24 de dezembro de 1996, inova 
no que diz respeito ao transporte de veículo automotor entre 
Estados-Membros ou sua retirada do País, na figura do furto — 
caso em que funciona como qualificadora — e na do roubo — 
hipótese em que passa a ter a qualidade de causa especial de 
aumento de pena —. Introduz uma outra qualificadora, a 
manutenção da vítima de roubo em poder do agente, restringindo-
lhe a liberdade de locomoção. Ademais, inclui mais duas ações — 
transportar e conduzir — ao núcleo do crime de receptação e 
institui a receptação qualificada, com nada menos que doze 
condutas típicas, dificultando bastante a atuação do comércio de 
peças provenientes do mundo criminoso. Procurando coibir de 
maneira mais eficaz a adulteração de identificação de chassis de 
veículos automotores, cria, inclusive, novo recorte criminal e 
torna mais severa a apenação de funcionários públicos envolvidos 
no esquentamento da documentação dos mesmos. 
Por força do artigo 2º da Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, 
tivemos o acrescentamento de mais um parágrafo, o 3º, ao artigo 
3 Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. 
140 do Código Penal. Com vigor a partir da sua publicação o novo 
item versa sobre uma nova modalidade de injúria, isto é, aquela 
cometida através de ofensa à raça, à cor da pele, à etnia, à 
religião, ou à origem do indivíduo. 
Também tivemos o advento da Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998, 
a qual, cuidando de corrupção, adulteração, falsificação ou 
alteração de alimento, bebida e produto destinado a fim 
terapêutico ou medicinal, produziu alterações nos artigos 272 
usque 277, do Código Penal. Interessante é observar que o texto 
enviado à sanção presidencial, apesar de enunciar que incluía na 
classificação dos delitos considerados hediondos os crimes 
contra a saúde pública, nenhum dispositivo concreto neste 
sentido continha em seu corpo. A escorregadela acabou por 
resultar no advento da Lei nº 9.695, de 20 de agosto de 1998, 
passando esta a considerar como hediondas as ações descritas no 
artigo 273 e parágrafos, do Código em questão. 
Diversas outras leis seguiram-se na busca de adaptar a 
legislação criminal às novas necessidades da sociedade. É o caso 
da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, apelidada “Maria da 
Penha”. Esta apresenta-se como reflexo da luta feminina em nosso 
País. Como não poderia deixar de ser, em vista do momento em que 
veio á luz, ela mais representou um protocolo de intenções que 
qualquer outra coisa. Foi um avanço na luta feminista, sem 
dúvida. Mas encontra-se eivada de lugares comuns, lacunas, 
sonhos, imprecisões jurídicas, exageros, unilateralismos e 
juízos preconcebidos, a exemplo do todo ser masculino é hostil e 
criminoso. É até compreensível que assim tenha sido. Afinal, 
infelizmente, passamos por uma fase onde somos representados por 
um Legislativo ideologicamente vazio e ávido por palanque; um 
Executivo eminentemente populista e com pretensões de vender a 
imagem de popular; consistimos num povo despolitizado, 
analfabeto funcional e desconcertado; e tangido por u’a mídia 
especializada em vender a violência e a panacéia das 
penalizações severas e que nada mais gera que uma inflação 
legislativa inócua. Em que pese o lugar comum, temos que dizer: 
é o preço da Democracia. Tudo se passa como se tivéssemos 
esquecido o fundamental: a educação, a justiça social e a 
seriedade no exercício da função pública. 
Já Lei nº 11.596, de 29 de novembro de 1997, introduz alterações 
no que respeita às regras prescricionais, mudando o inciso IV do 
art. 117 do Código Penal, para definir como causa interruptiva 
da prescrição a publicação da sentença ou acórdão condenatório 
recorrível. 
Posteriormente a Lei nº 11.923, de 17 de abril de 2009, 
acrescenta mais um parágrafo (o 3º) ao art. 158 do Código Penal, 
tipificando o chamado seqüestro relâmpago. 
Por sua vez, a Lei nº 12.012, de 6 de agosto de 2009, introduz o 
art. 349-A ao Código Penal, criminalizando o ingresso de pessoa 
portando aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou 
similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. 
Logo a seguir a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, altera o 
Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei n
o
 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940, o qual passa a intitular-se “Dos Crimes Contra 
a Dignidade Sexual”, modificando e revogando os diversos 
dispositivos aí contidos. 
Mais adiante a Lei nº 12.033, de 29 de setembro de 2009, 
modificando a redação do parágrafo único do art. 145 do Código 
Penal, torna pública condicionada a ação penal em razão da 
injúria referente a raça, cor, etnia, religião, origem ou a 
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. 
Por fim, a Lei nº 12.234, de 5 de maio de 2010, alterando os 
arts. 109 e 110 do Decreto-Lei n
o
 2.848, de 7 de dezembro de 
1940, exclui a prescrição retroativa. 
 
Parte Geral 
Título I 
Da Aplicação da Lei Penal 
 
Anterioridade da lei 
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena 
sem prévia cominação legal. 
 
Notícia — A redação contida na Lei nº 7.209, de 11 de julho de 
1984, conservou integralmente o anterior artigo de número 
idêntico do Decreto-Lei nº 2.848/40. 
 
Tema — Por Direito Penal vamos entender o conjunto de normas 
jurídicas relativo ao fenômeno criminógeno e sua conseqüente 
pena ou medida de segurança. Estamos a falar, aqui, de Direito 
Criminal positivo. 
De outra banda a expressão Direito Penal também é entendida como 
Ciência Penal e ao que preferimos denominar Ciência Criminal, 
por ser mais abrangente e própria à matéria. Temos, portanto, 
que a Ciência do Direito Criminal é o conhecimento sistemático, 
compreendendo exegese, dogmática e crítica, das normas e 
princípios que os informam. 
Aclarados tais conceitos, passemos, agora, à análise do nosso 
Código Penal. 
O presente mandamento contém em si dois princípios fundamentais, 
o da reserva legal (também chamado da legalidade) e o da 
anterioridade. Encontra-se, desta forma, em perfeita consonância 
com o artigo 5º, da Constituição Federal, quando reza, não haver 
crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia 
cominação legal,
4
 bem como não poder retroagir a lei penal, 
salvo para benefício do réu.
5
 Resguardados, portanto, encontram-
se os decorrentes princípios da irretroatividade e da 
taxatividade legais, quer pelo Código Penal, quer pela 
Constituição Federal. 
Pelo princípio da reserva legal torna-se inadmissível a 
interpretação analógica ou extensiva da lei criminal como, 
aliás, entende o Colendo Tribunal de Justiça do Estado de São 
Paulo.
6
 Sobre o tema, o douto Luiz Vicente Cernicchiario, ensina 
não ser possível pactuar-se “com garantia meramente formal. 
Insuficiente apenas a lei anterior à conduta.Impõe-se descrição 
específica, individualizadora do comportamento delituoso. Em 
outras palavras, a garantia há de ser real, efetiva. Uma lei 
genérica, amplamente genérica, seria suficiente para, 
4 Inciso XXXIX. 
5 Inciso XL. 
6 TJSP, 5ª CCrim, v. u., em 26/set/90, ApCrim 95.260-3, Rel. Des. Lobo Júnior 
— RT 672/308. 
respeitando o princípio da legalidade, definir-se como delito 
qualquer prejuízo ao patrimônio ou a outro bem jurídico. Não 
estaria, porém, resguardado, efetivamente, o direito de 
liberdade. Qualquer conduta que conduzisse àquele resultado 
estaria incluída no rol das infrações penais”.7 
No que pertine à irretroatividade, porém, é de lembrar que ela 
pode sofrer exceção, permitindo a aplicação da lei nova a fato 
praticado anteriormente, desde que seja ela mais benigna (lex 
mitior) em relação ao réu. 
 
Jurisprudência 
 
Princípio da Reserva Legal – Entorpecente. “Substância não catalogada 
como entorpecente em Portaria do DIMED/MS é inidônea para a 
caracterização dos crimes previstos na Lei 6.368/76. Impossível a 
interpretação extensiva do art. 36 da referida lei sob pena de se 
atentar contra o princípio da reserva legal, prevista no art. 1º do CP 
e art. 5º da CF.”8 
 
Princípio da Reserva Legal – Código Penal Militar – Apresentação 
Tardia. “O silêncio do Código Penal Militar no tocante às 
apresentações tardias que ultrapassem dez dias — art. 190 — não 
autoriza construção jurisprudencial no sentido do enquadramento da 
hipótese em tipo diverso — o do art. 187 daquele Código. 
Insubsistência constitucional — ‘não há crime sem lei anterior que o 
defina, nem pena sem prévia cominação legal’ — inciso XXXIX do art. 5º 
da Carta de 1988 — do verbete nº 01 do Superior Tribunal Militar: 
"Desclassifica-se para o art. 187, do Código Penal Militar, a deserção 
especial prevista no art. 190, do mesmo diploma legal, quando o 
infrator se apresenta ou é capturado depois de decorridos mais de dez 
dias da prática do ato delituoso, não se configurando afronta ao art. 
437, alínea ‘a’, do Código de Processo Penal Militar”.9 
 
Princípio da Reserva Legal – Pena de Multa. “O art. 652, letra ‘d’, da 
CLT, autoriza o Magistrado a aplicar multas, mas não a criá-las, já 
que esta tarefa é competência exclusiva do Poder Legislativo. Assim, 
as multas que o Poder Judiciário pode aplicar são aquelas 
estabelecidas em lei abstrata e preexistente, não podendo criá-las 
para fazer incidir no caso concreto, pois que tal caracterizaria 
usurpação da competência legislativa e desatenderia ao princípio da 
anterioridade legal — Nullum Crimem, Nulla Poena Sine Praevia Lege, 
garantido pelo art. 5º, inciso XXXIX, da Carta Constitucional.”10 
 
Prefeito Municipal – Não-recolhimento de Contribuições Previdenciárias 
– Crime Próprio de Particular. “I – É vedada a interpretação 
integrativa de norma penal em prejuízo do acusado. II – Princípio 
constitucional da legalidade (art. 5º, XXXIX, CF/88), insculpido no 
art. 1º do CP/40: ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem 
pena sem prévia cominação legal’. III – A falta de recolhimento de 
contribuição previdenciária por Prefeito Municipal no exercício do 
cargo é figura atípica penalmente irrelevante. IV – A legislação 
previdenciária não arrola o Chefe do Executivo Municipal como sujeito 
7 Luiz Vicente Cernicchiaro, Direito Penal na Constituição, São Paulo, RT, 
1991, 2ª ed., 1991, p. 14. 
8 TJSP, 5ª CCrim, julg. 26/set/90 – ApCrim 95.260-3 – Rel. Des. Lobo Júnior — 
RT 672/308. 
9 STF, 2ª T, v. u., publ. em 17/dez/93 – HC 70440-9-PA – Rel. Min. Marco 
Aurélio — COAD 64753 
10 TRT da 24ª R, publ. em 16/dez/93 – RO 3838/93 – Rel. Juiz Amaury Rodrigues 
— COAD 65567 
ativo do delito previsto no art. 95, letra d, da Lei 8.212/91. V – 
Denúncia rejeitada pelo art. 43, I, do CPP/41.”11 
 
Jogo do Bicho – Tipicidade. “O Dec.-lei 6.259/44 continua em vigor e o 
‘jogo do bicho’ segue sendo ilícito penal punível. Não pode o juiz 
negar tipicidade a fato que o Direito Penal considera contravenção sob 
o fundamento de que a conduta apenada não contrasta com o sistema 
axiológico e os padrões culturais da sociedade brasileira. Ao Poder 
legislativo — não ao Judiciário — cabe descriminalizar as condutas 
que, eventualmente, deixem de representar um desvalor. Enquanto não o 
fizer, permanece a ilicitude formal e material do comportamento.”12 
 
Jogo do Bicho – Fato Típico – Inaplicabilidade Pelo Acatamento 
Popular. “A contravenção do ‘jogo do bicho’, em nosso País, pelo menos 
em relação aos ‘apostadores’ e ‘cambistas’, tornou-se infração 
totalmente fora de moda e apêndice do pensamento do legislador ao 
tempo mais ou menos remoto em que foi elaborada a lei. Hoje, não mais 
se justifica, uma vez que, quando um fato, embora típico, se ajusta às 
exigências próprias das concepções da cultura de um povo, não mais tem 
razão de ser considerado antijurídico.”13 
 
Lei penal no tempo 
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa 
de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os 
efeitos penais da sentença condenatória. 
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer 
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos 
por sentença condenatória transitada em julgado. 
 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 manteve a integralidade do caput do 
artigo 2º da anterior Parte Geral do Código Penal. No que 
respeita ao parágrafo único, contudo, opera-se importante 
alteração. Isto, porquanto eliminaram-se duas restrições até 
então existentes à aplicação da lex mitior: a) apenas aos fatos 
ainda não definitivamente julgados; ou b) se já com trânsito em 
julgado, tão-somente em relação à pena aplicada. 
Como já afirmamos, por ocasião da apreciação do artigo 1º do CP, 
a Carta Política de 1988 estabelece, no inciso XL, do artigo 5º, 
que a lei criminal não retroagirá, salvo se estiver a beneficiar 
o réu, recepcionando, assim, o presente mandamento. 
 
Tema — O espírito do presente artigo é a regra da 
irretroatividade da lei criminal, já explicitado no preceito 
anterior; temperada, agora, pela retroatividade sempre que se 
trate de lei mais branda em relação ao acusado, vale dizer, 
aplicação do princípio da benignidade. Por via de conseqüência, 
aplica-se a retroatividade se a lei nova descriminaliza o fato 
(abolitio criminis) ou traz benefício ao réu (lex mitior); e 
ainda se aplica a mesma lei, mesmo após cessada a sua vigência 
(ultra-atividade), se a posterior é mais rigorosa e o fato 
verificou-se na vigência da anterior. 
Sobre a aplicação da lei criminal no tempo, o Professor Júlio 
Fabbrini Mirabete, ensina-nos que em “caso de vigência de três 
11 TRF da 4ª R, 1ª Sec, julg. Em 11/out/95, APen 95.04.13805/PR, Rel. Juíza 
Tânia Terezinha Cardoso Escobar, DJ de 16/nov/95, p. 78.811 — in A 
Constituição na Visão dos Tribunais, São Paulo, Saraiva, 1997, vol. 1, p. 92. 
12 TACrim/SP, Rel. Dante Busana — RT 611/359. 
13 TACrim/SP, Rel. Juiz Renato Talli — RT 605/331. 
leis sucessivas, deve-se ressaltar que sempre será aplicada a 
lei mais benigna entre elas: a posterior será retroativa quanto 
às anteriores e a antiga será ultrativa em relação àquelas que a 
sucederem. Se, entre as leis que se sucedem, surge uma 
intermediária mais benigna, embora não seja nem a do tempo do 
crime nem daquele em que a lei vai ser aplicada, essa lei 
intermediária mais benévola deve ser aplicada ex vi do art. 2º, 
parágrafo único, do CP.”14 
A aplicação da lei posterior mais benéfica aos casos concretos é 
da exclusiva alçada do Juiz da Execução, a teor do inciso I, do 
artigo 66, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.Em não 
havendo, na Comarca, um Juiz especializado nesse mister, a 
competência passa automaticamente a ser daquele que prolatou a 
Sentença, por inteligência do artigo 65 da mesma Lei de 
regência. 
 
Jurisprudência 
 
Direito Intertemporal – Matéria Substantiva – Irretroatividade da Lei 
Penal. “Em matéria criminal, o Direito Intertemporal leciona que, 
quando a matéria é substantiva, a regra é a não retroação da nova lei, 
salvo para beneficiar o réu — inciso XL, do art. 5º, da CF e, quando a 
matéria for adjetiva, aplica-se imediatamente a todos os casos. A Lei 
8.072/90 tem em seu bojo matéria substantiva e adjetiva; logo, esta 
tem aplicação a todos os casos — passados, presentes e futuro, e 
aquela somente aos novos casos, por mais gravosa que a precedente.”15 
 
Retroatividade da Lex Mitior – Execução Penal. “O princípio da 
retroatividade da ‘lex mitior’, que alberga o princípio da 
irretroatividade de lei mais grave, aplica-se ao processo de execução 
penal e, por conseqüência, ao livramento condicional, art. 5º, XL, da 
CF e parágrafo único do art. 2º do Código Penal — Lei 7.209/84. Os 
princípios da ultra e da retroatividade da ‘lex mitior’ não autorizam 
a combinação de duas normas que se conflitam no tempo para se extrair 
uma terceira que mais beneficie o réu. Tratamento desigual a situações 
desiguais mais exalta do que contraria o princípio da isonomia.”16 
 
Lei Penal – Retroatividade. “Admite-se a retroatividade da lei penal, 
a ponto de alcançar fatos anteriores, no que se mostre mais favorável 
ao agente — artigo 2º, parágrafo único, do CP. Separáveis as partes 
das normas em conflito, possível é a aplicação do que nelas 
transpareça como mais benigno. Isto ocorre relativamente à regência do 
crime continuado. Datando o delito de época anterior à reforma de 
1984, cumpre observar a redação primitiva do § 2º do artigo 51 do CP 
(anterior à reforma de 1984) e não a mais gravosa, atinente aos crimes 
dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave 
ameaça à pessoa, introduzida no sistema jurídico via parágrafo único 
do artigo 71 do citado Código. Constatada a retroatividade prejudicial 
ao agente, impõe-se a concessão da ordem.17 
 
Abolitio Criminis – Trancamento de Ação Penal. “A Lei 8.866/94 retirou 
do campo da ilicitude penal a conduta descrita no art. 95, d, da Lei 
14 Júlio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Atlas, 5ª ed., 1990, vol. 
I, p. 69 
15 STJ, 6ª T, publ. em 24/mai/93, HC 1638-4-MG, Rel. Min. Pedro Acioli — COAD 
62570 
16 STF, 2ª T, v. u., publ. em 30/out/92, HC 68416-5-DF, Rel. Min. Paulo 
Brossard — COAD 61125 
17 STF, 2ª T, HC 69.033-5/SP, Rel. Min. Marco Aurélio — RJ 177/139. 
8.212/91. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixou de 
considerar crime.”18 
 
Lex Mitior e Vacatio Legis – Princípio Constitucional da Benignidade. 
“A lei penal mais benigna, em razão dos princípios inscritos no art. 
5º, XL e § 1º, da CF, tem aplicação imediata, não se sujeitando ao 
período de vacatio legis. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que 
revoga o Código de Menores, muito embora esteja com suas regras gerais 
sustadas em razão do período de vacatio, na parte em que beneficia o 
agente deve ser imediatamente aplicado, em razão da incidência do 
princípio constitucional da benignidade. Em razão deste entendimento, 
as pessoas internadas há mais de três anos ou que nesta situação 
tenham completado 21 anos de idade devem ser compulsoriamente 
libertadas.19 
 
Lei excepcional ou temporária 
Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o 
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a 
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 
 
Notícia — O artigo 3º permaneceu exatamente com a mesma redação 
anterior contida no Decreto-Lei nº 2.848/40. Acrescentou-se 
apenas a rubrica. 
 
Tema — O mandamento em tela representa a exceção da regra geral 
do princípio da benignidade e orientador do artigo anterior. 
A excepcionalidade e a temporariedade são características, em 
essência, da própria situação e momento que fazem surgir 
regramentos extraordinários e com o alcance próprio a eles 
atribuídos. Assim, uma lei excepcional é sempre a resposta do 
Legislador a um momento de turbulência e anormalidade sociais e 
determinada a vigorar apenas enquanto perdurar tais condições 
objetivas. A lei temporária traz no seu próprio bojo o lapso de 
sua vigência. 
O princípio da retroatividade contido no artigo 2º, portanto, 
torna-se inoperante ante às leis excepcionais ou temporárias por 
uma questão de lógica jurídica. Como bem assenta o saudoso 
Mestre Celso Delmanto, “elas perderiam toda a sua força 
intimidativa, caso o agente já soubesse, de antemão, que, após 
cessada a anormalidade (no caso das leis excepcionais) ou findo 
o período de vigência (das leis temporárias), acabaria impune 
pela aplicação do princípio da retroatividade.”20 
 
Jurisprudência 
 
Medida Provisória – Definição de Crimes e Penas. “A medida provisória 
definidora de crimes e respectivas penas, por ter força de lei advinda 
da Constituição Federal (art. 62), revoga as disposições em contrário, 
principalmente leis mais benignas, ainda que provisoriamente, não 
havendo conflito aparente de normas. Mesmo que revogada a lei, não 
gera abolitio criminis, porque, ainda que temporária, guarda eficácia, 
18 TRF 5ª R, 2ª T, HC 533/PE, Rel. Juiz Araken Mariz — DJU 24/nov/95. 
19 TARS, 3ª CCrim, julg. em 25/set/90, HC 290090976, Rel. Juiz Vladimir 
Giacomuzzi — RT 667/330 
20 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 8. 
aplicando-se aos fatos praticados durante sua vigência, conforme o 
art. 3º do CP.21 
Nota - A posição esposada neste julgamento pelo Tribunal de Alçada do 
Estado do Rio Grande do Sul não parece ser das mais acertadas. Isto 
porque a CF, a teor do inciso XXXIX, do artigo 5º, veda a edição de 
medida provisória em matéria criminal. Celso Delmanto, sobre o tema, 
reporta-se à ação direta de inconstitucionalidade intentada pela 
Procuradoria-Geral da República, contra as Medidas Provisórias nºs 153 
e 156.22 
 
Lei Excepcional – Ultratividade. “Tratando-se de crime previsto em lei 
excepcional, o princípio que prevalece é o da ultratividade, inscrito 
no art. 3º do Código Penal. Por força dele, embora cessadas as 
condições que determinaram a criação da figura delituosa de existência 
transitória, como é a infração da norma penal em branco — transgredir 
tabelas de preços — a norma penal continuará a aplicar-se aos fatos 
praticados durante sua vigência.”23 
 
Tabelamento de Preços – Descumprimento. “A nível penal, o 
descumprimento, em si, do congelamento de preços mostra-se 
irrelevante. Notadamente tratando-se de mercadoria não essencial ao 
consumo popular, como chocolate e bombons. Não se concebe que alguém 
vá explorar a economia popular com artigos tais, supérfluos, por serem 
guloseimas, com eles especulando para obter vantagem.”24 
 
Tempo do crime 
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 
 
Notícia — A problemática do tempus delicti não constava da 
antiga redação da Parte Geral do Código Penal, surgindo, 
portanto, como novidade advinda da Lei nº 7.209/84. 
 
Tema — Muito se tem debatido acerca da fixação do momento em que 
ocorre o ilícito. A questão não é puramente acadêmica ou 
irrelevante e apresenta fundamental importância no que respeita 
a vários aspectos: a) determinação da competência; b) 
verificação da leivigorante no momento do crime; c) aplicação 
de eventual benefício, tal qual a anistia, por exemplo. 
Encontramos três posições doutrinárias que buscam soluções para 
a questão, resultando nas seguintes teorias: a) da atividade; b) 
do resultado; e c) mista ou da ubiqüidade. A primeira admite 
como momento da ocorrência delituosa aquele em que o agente 
pratica o ato, comissivo ou omissivo, independentemente de 
quando ou onde venha a ocorrer o resultado daí decorrente. A 
segunda, pelo contrário, somente tem o ilícito como concretizado 
no instante em que vem a ocorrer o resultado danoso. A última, 
tem a prática criminosa plenamente caracterizada tanto com a 
conduta quanto com o resultado. 
O nosso Código Penal, como se vê pelo inscrito no artigo 4º, no 
que respeita ao tempus delicti, adota a teoria da atividade, 
21 TARS, 5ª CCrim, v. u., em 5/set/90 – RHC 632.841-6 – Rel. Juiz Ribeiro dos 
Santos — RT 666/316. 
22 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 4. 
23 TACrim/SP, Rel. Juiz Fernando Prado — RT 473/351. 
24 TACrim/SP, Rel. Juiz Walter Teodósio — RT 612/321 
repelindo claramente o momento do resultado por ocasião da parte 
final do mandamento. 
 
Jurisprudência 
 
Tempo do Crime – Descaminho – Competência. “O descaminho — CP, art. 
334, caput — é crime instantâneo de efeito permanente. Não se confunde 
com o crime permanente. A consumação ocorre no local em que o tributo 
deveria ser pago. Pouco importa o local da apreensão da mercadoria. 
Orientação majoritária diversa da E. 3ª Seção, STJ, a que acompanho, 
visando a evitar oscilação da jurisprudência.”25 
 
Tempo do Crime – Descaminho – Conflito de Competência. “Mercadoria 
estrangeira, provavelmente adquirida no Paraguai, foi apreendida em 
São Paulo. O juiz federal de São Paulo, por entender que o crime se 
consumou no momento em que a mercadoria entrou no território nacional 
(Paraná), remeteu os autos ao juiz federal de Foz do Iguaçu, que 
suscitou o conflito. Aplicável é o art. 71 do CPP. In casu, o crime 
(descaminho) pode ser classificado de eventualmente permanente. Assim, 
a competência se firma pela prevenção.”26 
 
Tempo do Crime – Descaminho – Consumação. “Consuma-se o crime de 
descaminho, previsto no caput do art. 334 da Lei Penal, com o ingresso 
no país de produtos estrangeiros, sem o pagamento do imposto devido, 
não se exigindo, para tanto, a destinação comercial ou industrial da 
mercadoria.”27 
 
Uso de Documento Falso – Consumação – Competência. “O crime de Uso de 
Documento Falso (CP, art. 304), consuma-se no local onde foi 
utilizado. Enquanto não empregado para o fim útil, não é praticada a 
conduta típica.”28 
 
Territorialidade 
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, 
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no 
território nacional. 
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do 
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de 
natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer 
que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, 
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a 
bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade 
privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou 
em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil. 
 
Notícia — O caput e os parágrafos contidos do artigo 5º, agora 
decorrentes da Lei nº 7.209/84, tornou o instituto bem mais 
claro e preciso do que anteriormente fazia o artigo 4º do 
Decreto-Lei nº 2.848/40. 
25 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 25/set/95 – ConComp 13767-5-PR – Rel. Min. 
Vicente Cernicchiaro — COAD 71779. 
26 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 9/out/95 – ConComp 12006-3-PR – Rel. Min. Adhemar 
Maciel — COAD 71775. 
27 TRF da 5ª R, 1ª T, v. u. publ. em 19/mai/95 – ApCrim 893-PE – Rel. Juiz 
Francisco Falcão — COAD 71161. 
28 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 28/ago/95 – ConComp 10236-7-MG – Rel. Min. 
Vicente Cernicchiaro — COAD 71592. 
 
Tema — O conceito de territorialidade encontra-se intimamente 
ligado ao de soberania, a qual é elemento fundamental e sine qua 
non para a plena existência do Estado. 
Magistra o Lente Dalmo de Abreu Dalari que, partindo de um 
ângulo puramente jurídico, podemos admitir o “conceito de 
soberania como o poder de decidir em última instância sobre a 
atributividade das normas, vale dizer, sobre a eficácia do 
direito. Como fica evidente, embora continuando a ser uma 
expressão de poder, a soberania é poder jurídico utilizado para 
fins jurídicos. Partindo do pressuposto de que todos os atos dos 
Estados são passíveis de enquadramento jurídico, tem-se como 
soberano o poder que decide qual a regra jurídica aplicável em 
cada caso, podendo, inclusive, negar a juridicidade da norma.”29 
Evidente que cada Estado aplica suas próprias leis no espaço 
físico que lhe diz respeito, impossibilitando-se, em 
decorrência, que seja concorrentemente ali aplicada lei 
alienígena. Ocorre, entretanto, que a ocorrência, apuração e 
apenação dum determinado fato delituoso possa interessar a mais 
de um Estado. Neste caso, estar-se-á ante a questão da eficácia 
da lei no espaço e cujas regras disciplinadoras encontram-se nos 
princípios da territorialidade, da defesa, da nacionalidade, da 
justiça universal e da representação, como indicado por Celso 
Delmanto.30 
A regra geral enunciado pelo Código Penal, no comando ora 
ressaltado, é o da territorialidade. Vale dizer, a legislação 
criminal brasileira é aplicada a todo crime verificado em 
qualquer ponto do nosso território — natural (terrestre, 
fluvial, marítimo e aéreo) ou artificial (embarcações e 
aeronaves) — independentemente da nacionalidade dos 
protagonistas do mesmo. 
Tratando-se de embarcações e aeronaves oficiais brasileira, o 
parágrafo 1º as considera como extensão do território nacional, 
independentemente de onde se encontrem, incluindo-se, aí, 
aquelas que pertençam ou estejam a serviço do Estado brasileiro. 
No que respeita às embarcações e às aeronaves estrangeiras de 
natureza privada também será aplicada a lei brasileira aos 
crimes nelas ocorridos na hipótese de encontrarem-se no interior 
dos limites do nosso território, quer paradas quer em movimento. 
Existem ressalvas à aplicação da lei brasileira, nos casos 
previstos na cabeça do artigo — convenções, tratados e regras de 
direito internacional —, implicando dizer que adotamos a regra 
da territorialidade temperada. 
Nesse ponto devemos lembrar que participamos do Tribunal Penal 
Internacional, o qual teve o seu Estatuto promulgado entre nós 
através do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002, após a 
aprovação do texto pelo Congresso Nacional através do Decreto 
Legislativo nº 112, de 6 de junho também de 2002. 
O mencionado Tribunal tem sua sede em Haia, na Holanda. 
A criação e funcionamento do Tribunal Penal Internacional 
patenteia a necessidade do mundo atual de apurar e julgar os 
29 Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, São Paulo, 
Saraiva, 19ª ed., 1995, p. 68. 
30 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 11. 
crimes contra a humanidade, como é o caso do genocídio, 
escravidão, tortura, agressão sexual, escravatura sexual, 
desaparecimento forçado de pessoas, crimes de guerra e de graves 
agressões contra etnias e nações específicas.Adota-se no TPI os mesmos princípios fundamentais que orientam o 
nosso ordenamento jurídico, podendo-se anotar os seguintes: 
nullum crimen sine lege e Nulla poena sine lege (art. 1º do CP); 
ne bis in idem, impedindo-se que alguém venha a ser julgado por 
atos pelos quais já tenha sido condenado ou absolvido; 
irretroatividade, não se considerando criminalmente responsável 
alguém por uma conduta anterior ao estabelecimento do tipo 
penal; irresponsabilidade penal, relativamente aos menores de 18 
anos de idade; juiz natural, significando dizer que o julgamento 
será realizado por Juiz previamente estabelecido no cargo; 
promotor natural, proibindo a figura do promotor de exceção; 
responsabilidade penal individual, implicando em competência 
para julgar pessoas individualmente ou em conjunto; irrelevância 
da função social, permitindo-se a responsabilização de chefes de 
Estado ou de Governo, Ministros, Parlamentares e outras 
autoridades, sem qualquer privilégio ou imunidade; 
imprescritibilidade, significando que a ação criminosa jamais 
terá extinta a punibilidade pelo decurso de tempo; 
universalidade, através do qual os Estados-Partes colocam-se 
integralmente sob a jurisdição da Corte; complementariedade, 
tendo em vista que o TPI somente julgará aqueles que vierem a 
incorrer em crimes de sua competência e que a lei do Estado-
Parte mostrar-se omissa com relação ao crime. 
Em relação às penas o Tribunal Penal Internacional prevê a 
aplicação das penas de prisão até ao limite máximo de 30 anos; 
perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições 
pessoais do condenado justificarem; bem como multa e perda de 
produtos e de bens. 
Na hipótese de ser necessário julgar brasileiro ante o TPI será 
ele requisitado, não havendo extradição.
31
 Isto porque a 
extradição é o ato através do qual um Estado entrega a outro 
Estado um cidadão para ser julgado ou para cumprir pena; 
diversamente, na requisição temos a entrega do nacional para que 
ele seja julgado pelo Tribunal do qual é membro o Estado-Parte. 
 
Jurisprudência 
 
Navio Mercante Estrangeiro – Crime Nele Cometido – Aplicação da Lei 
Penal Brasileira. “Ao crime cometido em águas territoriais do Brasil a 
bordo de navio mercante de outra nacionalidade se aplica a lei penal 
brasileira, afastada a incidência do art. 301 do Código de Bustamante, 
por importar a sua prática em perturbação da tranqüilidade do nosso 
País, tanto mais quando os países de nacionalidade do autor e vítima e 
da bandeira do navio não são signatários da Convenção de Havana de 
1928.”32 
 
Lugar do crime 
31 A extradição encontra-se regulada pela Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 
1980, entre os artigos 76 a 94. 
32 STJ, 6ª T, v. u., em 11/nov/90 – RHC 6.853 – BA – Rel. Min. Dias Trindade — 
RT 665/353. 
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a 
ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu 
ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Notícia – A matéria era abordada antes pelo artigo 4º, do 
Decreto-Lei nº 2.848/40, tendo, agora, recebido redação 
inteiramente nova através da Lei nº 7.209/84 . 
 
Tema — Como foi visto anteriormente, no que respeita ao tempus 
delicti, o Código Penal adotou a teoria da atividade (artigo 
4º). Agora, cuidando do locus delicti commissi, passa a albergar 
a teoria da ubiqüidade (ou mista, ou da unidade, como também é 
conhecida), cuja amplitude estabelece como local do crime aquele 
em que se verifica a ação ou omissão criminosa, bem como outro 
qualquer em que se venha a produzir o resultado. Bem observa o 
inesquecível Nelson Hungria: “O crime, como uma unidade, se 
entende praticado onde quer que ocorra qualquer momento do seu 
iter ou onde se realiza o summatum opus. É, de todas as teorias, 
a menos vulnerável. Não exige transigências de soberania e, se 
não evita conflitos positivos de jurisdição, elimina os 
negativos, conjurando o desconforto de eventual impunidade do 
agente. Esta, a sua inquestionável vantagem sobre as outras.”33 
Como reconhece a unanimidade dos autores, a questão, regra 
geral, não suscita maiores indagações. Mesmo no momento em que 
delitos são praticados à distância e envolvem sítios de 
jurisdições diversas a aparente complexidade decorrente apenas 
exige um pouco mais de atenção. 
No que respeita ao aparente conflito do presente mandamento com 
o disposto no artigo 70, do Código de Processo Penal — falado do 
lugar em que se consumar o delito —, prevalece o disposto no 
Código Penal, como já entendeu o Colendo Tribunal de Justiça do 
Estado do Rio Grande do Sul
34
 e o Augusto Supremo Tribunal 
Federal.
35
 
Na hipótese de não consumação do ilícito, em decorrência de 
interrupção involuntária em território nacional, durante o 
transcorrer do iter — isto é, na tentativa —, o autor do fato 
será alcançado pela lei brasileira porquanto o mandamento se 
refere ao resultado que deveria produzir-se. Por outro lado, se 
tal interrupção verifica-se ainda em território estrangeiro, 
nenhum resultado produzindo no Brasil, o agente não estará sob 
os rigores da lei brasileira. Como bem assenta o Mestre Nelson 
Hungria, com a precisão de sempre, para que se aplique a nossa 
lei imprescindível é que “o crime haja tocado o território 
nacional”.36 
Merece anotar-se, aqui, a observação do Professor Julio Fabbrini 
Mirabete, de ter sido o Legislador infeliz “ao não se referir 
como na lei anterior ao resultado parcial. É possível que a ação 
ocorra fora do território e que o agente não pretenda que o 
resultado se produza no país, mas neste ocorra parte do 
resultado. Como a lei se refere à ‘parte’ da ação ou da omissão, 
33 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 
4ª ed., Vol. I, Tomo I, p. 154. 
34 RT 599/371 
35 RTJ 114/10 
36 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 
4ª ed., Vol. I, Tomo I, pp. 156-157. 
mas não à ‘parte’ do resultado, e esta não possa ser confundida 
com ‘todo’ o resultado, o dispositivo não abrangeria essa 
hipótese. Entretanto, consulta melhor aos interesses nacionais a 
interpretação de que parte do resultado é também resultado, 
aplicando-se a lei brasileira no caso de resultado parcial no 
Brasil.”37 
Alfim é de observar-se que a regra do presente artigo 6º aplica-
se aos casos de crimes complexos, mesmo que apenas o delito-meio 
tenha sua concretização no território nacional; igualmente nos 
ilícitos habituais, ou de natureza permanente ou, ainda, 
continuada, desde que algum dos seus elementos constitutivos 
tenha sido praticado nas mesmas condições espaciais. Já no que 
respeita aos crimes conexos, segundo a advertência do Professor 
Damásio de Jesus, “não tem aplicação a teoria da ubiqüidade, uma 
vez que não constituem um fato unitário (...) Assim, se um furto 
é cometido no estrangeiro, e a receptação, no Brasil, a 
competência nacional só abrange o segundo crime. Nestes termos, 
preceitua o art. 303 do Código de Bustamante: ‘Se se trata de 
delitos conexos em territórios de mais de um Estado contratante, 
só ficará subordinado à lei de cada um o que for cometido no 
território’”.38 
 
Jurisprudência 
 
Lugar do Crime – Tentativa – Teoria da Umbiqüidade. “Competente a 
justiça da Itália para julgar o crime de tentativa de tráfico 
internacional, se era o lugar onde a ação deveria produzir o resultado 
— art. 6º, parte final, do Cód. Penal Brasileiro — mesmo que o crime 
já tenha sido punido na Suíça, eis que os momentos distintos de um 
fato único são considerados crimes distintos — art. 36, II, ‘a’, I, da 
Convenção única de Nova Iorque, de 1961, promulgadapelo Dec. 54.216, 
de 1964, e art. 79 da Lei 6.815, de 1980. É competente a justiça da 
Itália para julgar o crime de associação para o tráfico de 
entorpecentes. Não é necessário que o Estado requerente encaminhe o 
conjunto probatório para viabilizar o deferimento do pedido de 
extradição, bastando serem aplicáveis ao extraditando as suas leis 
penais e estar a prisão autorizada por autoridade competente, art. 78, 
I e II, da Lei 6.815, de 1980. De resto, o extraditando confessou o 
crime. Os tipos penais de tráfico e de associação para o tráfico — 
arts. 12 e 14 da Lei dos Tóxicos — são autônomos, têm diferentes 
pressupostos e podem ser punidos em concurso material.”39 
 
Extraterritorialidade 
Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no 
estrangeiro: 
I – os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito 
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa 
pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação 
instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
37 Júlio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Atlas, 8ª ed., 1994, vol. 
I, p. 76 
38 Damásio Evangelista de Jesus, Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 18ª ed., 
1994, 1º vol., p. 113. 
39 STF, Pleno, v. u., publ. em 4/set/92 – Extr 544-8 – Rel. Min. Paulo 
Brossard — COAD 60863 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado 
no Brasil; 
II – os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a 
reprimir; 
b) praticados por brasileiros; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercante 
ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí 
não sejam julgados. 
§ 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei 
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 
§ 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira 
depende do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei 
brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí 
cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro 
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais 
favorável. 
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por 
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as 
condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 aproveita, para o presente preceito, 
o texto do artigo 5º da primitiva Parte Geral do CP, 
retrabalhando-o por inteiro e onde reúne as alíneas b e c, na 
primeira; renomeia a d, como c; e acrescenta uma inusitada letra 
d; tudo, no inciso I; no item II, acrescenta a alínea c. 
 
Tema — No que respeita aos crimes cometidos no estrangeiro, por 
— ou contra — brasileiros, o nosso Diploma Penal adota o 
princípio da extraterritorialidade. Em alguns casos, os 
descritos no inciso I, a extraterritorialidade é incondicionada. 
Em outros, ela é condicionada às hipóteses do item II. Dentre as 
incondicionadas, decorrem do princípio da defesa as descritas 
nas alíneas a, b e c; e, do princípio da justiça universal, a 
contida na letra d. Nos casos de extraterritorialidade 
condicionada (inciso II), o embasamento encontra-se nos 
princípios da justiça universal (alínea a), da nacionalidade 
(letra b), da representação (letra c). Importante anotar que a 
efetivação da extraterritorialidade condicionada depende do 
preenchimento dos requisitos elencados nas alíneas a a e, do § 
2º. Mais: em se tratando da hipótese do § 3º, exige-se, ainda, 
as condições das letras a e b do referido parágrafo. 
Deve-se alembrar nesta passagem que entre nós prevalece o 
princípio da não-extradição em relação ao brasileiro nato. Tal 
princípio aplica-se igualmente ao brasileiro naturalizado, 
exceto na hipótese de cometimento de crime comum cuja prática 
tenha ocorrido anteriormente à naturalização, bem como no caso 
de envolvimento com tráfico ilícito de drogas não permitidas. 
Esse comando encontra-se estabelecido no inciso LI do artigo 5º 
da Constituição Federal. 
Em sede de Direito Interestatal é importante anotar que o Estado 
brasileiro encontra-se submetido ao Tribunal Penal 
Internacional, com sede em Haia, por força do parágrafo 4º do 
artigo 5º da Carta Política, acrescentamento advindo da Emenda 
Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004. 
 
Jurisprudência 
 
Extradição – Critérios Para Concessão. “Demonstrada a legalidade do 
pedido, à luz da lei extradicional brasileira, único padrão de análise 
das demandas apoiadas em garantia de reciprocidade, encontrando o 
delito atribuído ao extraditando correspondente na legislação penal 
pátria e não estando extinta a punibilidade, é de ser deferida a 
extradição.”40 
 
Extradição – Fato não Considerado Ilícito no Brasil. “Não sendo o fato 
considerado crime no Brasil, não obstante o ser pelas leis do Estado 
requerente, falta pressuposto legal para que o Judiciário brasileiro, 
pelo órgão competente, autorize a extradição.”41 
 
Tráfico de Tóxico. “A concordância do extraditando não justifica seja 
suprimido o controle de legalidade do pedido, regido por normas de 
ordem pública. O extraditando, nacional da República requerente, foi 
processado por introdução e venda na Alemanha e na Suíça de cocaína, 
remetida do Brasil, no período compreendido entre agosto de 1991 e 
maio de 1992, o que legitima, pela proximidade cronológica e natureza 
do delito, a presunção de inocorrência da prescrição, admitida pela 
jurisprudência e necessária, na hipótese, em razão da falta de juntada 
do texto legal pertinente. Firma-se, pelo princípio da ubiqüidade, 
adotada naquela República, a competência territorial de sua Justiça, 
quanto ao tráfico que resultou na venda de droga em Berlim e 
Karlsruhe, bem como em Berna, em virtude, nesse último caso, de a 
introdução na Suíça ter ocorrido a partir da Alemanha. A competência 
extraterritorial, quanto ao tráfico envolvendo apenas o Brasil e a 
Suíça, é de ser reconhecida, considerando não apenas o princípio da 
justiça universal (art. 7º, II, a, do CP), mas especialmente a 
conjugação de vários outros fatores, como a conexão entre os delitos, 
a impossibilidade de o acusado — de nacionalidade alemã — ser 
extraditado para responder por tais fatos perante a Justiça suíça, e a 
circunstância territorial do Brasil, diante da ausência de qualquer 
medida de persecução penal quanto aos fatos, cede à República 
requerente, onde, no curso do processo, foi decretada a prisão 
preventiva do extraditando. Requisitos configurados, inclusive no 
tocante à promessa de reciprocidade (art. 91 da Lei nº 6.815/80). 
Pedido de extradição deferido.”42 
 
Extradição – Habeas Corpus – Língua Estrangeira. “É inquestionável o 
direito de súditos estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação de 
habeas corpus, eis que esse remédio constitucional — por qualificar-se 
como verdadeira ação popular — pode ser utilizado por qualquer pessoa, 
independentemente da condição jurídica resultante de sua origem 
nacional. A petição com que impetrado o habeas corpus deve ser 
redigida em português, sob pena de não-conhecimento do writ 
constitucional (CPC, art. 156, c/c CPP, art. 3º), eis que o conteúdo 
40 STF, Pleno, v. u., em 28/mai/80 – Extr. 374-7 – Rel. Min. Soares Muñoz — RT555/455 
41 STF, Pleno, em 11/nov/82 – Extr. 392-5 – Rel. Min. Clóvis Ramalhete — RT 
564/396. 
42 STF, Pleno, publ. em 18/mar/94 – Extr 595-2 – Rel. Min. Ilmar Galvão — RJ 
199/134. 
dessa peça processual deve ser acessível a todos, sendo irrelevante, 
para esse efeito, que o juiz da causa conheça, eventualmente, o idioma 
estrangeiro utilizado pelo impetrante. A imprescindibilidade do uso do 
idioma nacional nos atos processuais, além de corresponder a uma 
exigência que decorre de razões vinculadas à própria soberania 
nacional, constitui projeção concretizadora da norma inscrita no art. 
13, caput, da Carta Federal, que proclama ser a língua portuguesa ‘o 
idioma oficial da República Federativa do Brasil'. Não há como admitir 
o processamento da ação de habeas corpus se o impetrante deixa de 
atribuir à autoridade apontada como coatora a prática de ato concreto 
que evidencie a ocorrência de um específico comportamento abusivo ou 
revestido de ilegalidade. O exercício da clemência soberana do Estado 
não se estende, em nosso direito positivo, aos processos de 
extradição, eis que o objeto da indulgentia principis restringe-se, 
exclusivamente, ao plano dos ilícitos penais sujeitos à competência 
jurisdicional do Estado brasileiro. O Presidente da República — que 
constitui, nas situações referidas no art. 89 do Estatuto do 
Estrangeiro, o único árbitro da conveniência e oportunidade da entrega 
do extraditando ao Estado requerente — não pode ser constrangido a 
abster-se do exercício dessa prerrogativa institucional que se acha 
sujeita ao domínio específico de suas funções como Chefe de Estado.”43 
 
Extradição – Conflito Entre a Lei e o Tratado. “Na colisão entre a lei 
e o tratado prevalece este, porque contém normas específicas. O prazo 
de 60 dias fixado no Tratado de Extradição Brasil-Estados Unidos, 
cláusula VIII, conta-se do dia da prisão preventiva ao em que foi 
apresentado o pedido formal da extradição. A detenção anterior, para 
outros fins, não é computada.”44 
 
Pena cumprida no estrangeiro. 
Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no 
Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, 
quando idênticas. 
 
Notícia — O artigo 8º, oriundo da Lei nº 7.209/84, repete 
integralmente o texto contido no artigo 6º do Decreto-Lei nº 
2.848/40. 
 
Tema — O mandamento presente estabelece dois critérios a 
observar no que respeita à pena aplicada no exterior: 
quantitativo e qualitativo. Se qualitativamente idêntica à 
sanção aplicada no Brasil será ela abatida obrigatoriamente; se 
diversa quanto à qualidade, o abatimento em quantidade fica ao 
prudente critério do julgador. Como se vê inexiste dificuldade 
na sua aplicação. 
 
Eficácia de sentença estrangeira 
Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei 
brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser 
homologada no Brasil para: 
I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a 
outros efeitos civis; 
II – sujeitá-lo à medida de segurança. 
Parágrafo único. A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte 
interessada; 
43 STF, Pleno – HC 72.391-8 - Rel. Min. Celso de Mello — DJU 17/mar/95 
44 STF, Pleno, julg. em 18/mar/81 – HC 58.731-5 – DF – Rel. Min. Soares Muñoz 
— RT 554/434 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de 
extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a 
sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da 
Justiça. 
 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 renumerou, como 9º, o artigo 7º do 
Decreto-Lei nº 2.848/40, alterando-lhe o inciso II, em que 
suprime a referência às penas accessórias. 
 
Tema — Considerando a soberania nacional, as leis e as sentenças 
estrangeiras, em princípio, não têm exeqüibilidade em nosso 
País. Em casos especiais, contudo, a execução de determinadas 
decisões judiciais alienígenas podem produzir alguns efeitos 
entre nós, quando houver previsão legal, como no caso do 
presente mandamento. Para tanto, segundo inteligência do artigo 
105, inciso I, alínea i, da Constituição Federal, a competência 
para homologação da sentença estrangeira é do Superior Tribunal 
de Justiça. 
A teor dos artigos 159 e 1.525, do Código Civil, bem como dos 
artigos 63 e 64, do Código de Processo Penal, o autor de delito, 
mesmo cometido em território estrangeiro — desde que 
responsabilizado criminalmente e repercutindo o fato sobre 
interesses localizados no Brasil — fica obrigado a reparar o 
dano pelas regras jurídicas nossas, caso em que a sentença 
correspondente deverá ser devidamente homologada a partir de 
requerimento do interessado. 
É de lembrar, aqui, a observação de Celso Delmanto, no sentido 
de que “Embora não se trate, propriamente, de conseqüência de 
sentença penal condenatória estrangeira, esta pode vir a ter 
efeitos colaterais, especialmente previstos no CP: a. gerar 
reincidência (art. 63); b. pressuposto de extraterritorialidade 
condicionada (art. 7º, II, § 2º, d e e). Para tais decorrências, 
não é necessária a homologação, bastando a prova legal da 
existência da condenação estrangeira.”45 
 
Contagem de prazo 
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-
se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. 
 
Notícia — Através da Lei nº 7.209/84, passa a 10 o mandamento 
8º, da anterior Parte Geral do Código Penal, sem qualquer 
alteração redacional. 
 
Tema — Prazo é o lapso compreendido entre dois pontos na linha 
do tempo, um inicial e um final. 
Aparentemente existiria contradição entre a prescrição inicial 
deste preceito e a do § 1º, do artigo 798, do Código de Processo 
Penal. Ocorre, entretanto, que o Código Penal está dirigido para 
o direito substantivo, aplicando-se à contagem da pena e 
beneficiando, assim, o condenado com a contagem de um dia (o 
inicial). O mandamento adjetivo penal diz respeito, tão-somente, 
à contagem dos prazos processuais. 
45 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 15. 
Ressalte-se, ademais, que para a contagem de prazos é utilizado 
o calendário gregoriano, isto é, o comum, de forma que os meses 
e anos terão contados os seus dias de forma real quanto aos 
números deles. 
Observe-se que para cada figura delituosa corresponde uma pena e 
que, regra geral, diz respeito a um período de tempo (prazo) a 
ser cumprido em reclusão, detenção ou prisão simples. 
Ressalte-se que os prazos de cumprimento de pena são sempre 
inteiros, desprezando-se as frações de dias, forte no artigo 11 
do Código Penal. 
Vejamos um exemplo envolvendo contagem de prazo duma pena de 6 
anos, 8 meses e 20 dias. 
 
 dias meses anos 
A Pena 20 8 6 
B Início 
cumprimento 
15 10 2007 
C Cálculo 1 
(soma A + B) 
35 18 2013 
D Cálculo 2 
(transformação 
dia/mês/ano) 
35 (- 30dd [=1 
mês]) 
= 5 
18 + 1 (- 12 [=1 
ano]) 
= 7 
2013 + 
1 
= 2014 
E Cálculo 3 
(dedução dia 
inicial) 
5 – 1 [dia 
inicial] 
= 4 
 
F Final 
cumprimento 
4 7 2014 
 
Jurisprudência 
 
Prazo – Direito Material – Contagem. “Ao contrário do que se dá com os 
prazos processuais, na contagem dos previstos pelo Código Penal, o 
próprio dia do começo inclui-se no cálculo. Tal forma de contagem 
aplica-se a todos os prazos da lei material, tais como os de duração 
das penas, do sursis, do livramento condicional, da prescrição, da 
decadência, etc.”46 
 
Prazo Prescricional – Contagem. “A contagem dos prazos prescricionais, 
em matéria penal, obedece àregra estipulada no art. 10 do CP, que 
manda incluir no seu cômputo o dia inicial do lapso temporal 
prescritivo.”47 
 
Prazo – Forma de Contagem. “Considera-se mês o período de tempo 
contado do dia do início ao dia correspondente ao mês seguinte e não o 
período sucessivo de 30 dias completos. O juiz, tendo de condenar a um 
mês ou a um ano, não pode dizer, substitutivamente, 30 dias ou 365 
dias.”48 
 
Frações não computáveis da pena 
Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas 
restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, 
as frações de cruzeiro. 
 
46 TJSP, Rel. Des. Hélio Arruda — RT 612/297. 
47 TRF da 1ª R, 4ª T, publ. em 13/out/94 – RCrim. 94.01.02687-4 – DF – Rel. 
Juiz Nelson Gomes da Silva – RJ 208/135. 
48 TAGB, Rel. Juiz Jorge Alberto Romeiro — RT 465/371. 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 albergou o artigo 9º da anterior 
Parte Geral do Código Penal, passando ele a ser numerado como 
11. Aí se fez incluir as novas penas restritivas e se substitui 
a expressão frações de centavos por frações de cruzeiros. A 
instabilidade da nossa moeda, desde então, já nos levou a 
conhecer o cruzado (Decreto-Lei nº 2.283, de 27/fev/86), o 
cruzado novo (Medida Provisória nº 32/89 e Lei nº 7.730, de 
31/jan/89), novamente o cruzeiro (Medida Provisória nº 168/90 e 
Lei nº 8.024, de 12/abr/90), o cruzeiro real (Medida Provisória 
nº 336/93 e Lei nº 8.697, de 28/ago/93) e, finalmente, o real 
(Medida Provisória nº 542/94 e Lei nº 8.880, de 27/mai/94). 
 
Tema — O dispositivo não oferece maiores dificuldades quanto à 
sua aplicação dado à clareza da redação. Na aplicação de penas 
privativas de liberdade e restritivas de direitos contam-se as 
frações de ano e mês, desprezando-se, exclusivamente, as frações 
de dias, vale dizer, relativas a horas. Desta forma, verbi 
gratia, uma pena jamais poderá ser de 20 dias e 8 horas. Será, 
simplesmente, 20 dias. 
No que respeita à pena de multa, é ela aplicada em dias-multa, 
variando o valor de cada um deles entre o mínimo de um trigésimo 
e o máximo de cinco vezes o piso salarial mínimo vigente no 
País, na conformidade com o § 1º, do artigo 49 do CP. Aí, 
desprezam-se as frações, vale dizer, os centavos de real. 
 
Jurisprudência 
 
Pena de Multa – Frações. “Não se computam na pena de multa as frações 
de dia-multa, aplicando-se à mesma, por analogia in bonam partem, o 
princípio do art. 11 do CP, que manda serem desprezadas as frações de 
dia das penas privativas de liberdade.”49 
 
Pena de Multa – Extinção. “Extingue-se a pena de multa por 
impossibilidade jurídica e fática do pagamento, quando toda a 
reprimenda é uma fração de cruzeiro, não se podendo executar o que a 
lei expressamente manda desprezar (art. 11 do CP), e também, porque 
nem mesmo existe dinheiro equiparável à sua irrisoriedade.50 
 
Pena de Multa – Valor Irrisório. “A pena de multa cujo valor, ainda 
que irrisório, encontra expressão em moeda corrente não está incluída 
entre as causas de extinção da punibilidade elencadas no art. 107 do 
CP e, ainda que insignificante o montante, presente o caráter 
aflitivo, sendo inaplicável o art. 11 do referido diploma.”51 
 
Pena de Multa – Pequeno Valor. “Pequeno valor, mas ainda assim não 
alcançado pela regra do art. 11 do CP. Decisão que a considera 
extinta, cassada. Princípio de que de minimis non curat praetor 
inaplicável à espécie.”52 
 
Legislação especial 
49 TACrim/SP, Rel. Haroldo Luz — RT 702/362. 
50 TJSP, 3º CCrim, julg., em 14/out/91 – Ag 104.243-3/8 – Rel. Des. Carlos 
Bueno — RT 678/314 
51 TJSP, 3ª CFer, julg. em 9/jan/91 – Ag 96.920-3 – Rel. Des. Carlos Bueno — 
RT 671/313 
52 TJSP, 5ª CCrim, julg. em 27/fev/91 – Ag 97.460-3 – Rel. Des. Dirceu de 
Mello — RT 670/284. 
Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos 
incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo 
diverso. 
 
Notícia — A Lei nº 7.209/84 elegeu, como 12, o artigo 10 do 
Decreto-Lei nº 2.848/40. A única alteração redacional diz 
respeito ao verbo, porquanto se substitui dispõe por dispuser, 
sem qualquer repercussão prática. 
 
Tema — Além do Código Penal várias outras leis cuidam da área 
criminal, são as chamadas leis extravagantes. O Codex alberga, 
com o presente mandamento, o princípio da especialização, ou 
seja, a lei especial, ao tratar diferentemente uma matéria, 
sempre derroga as disposições genéricas anteriormente 
existentes, afinal a lei em questão além de específica é também 
mais moderna. 
Aplica-se, por exemplo, o dispositivo em comento, quando se 
trata de regras especiais contidas no Decreto-Lei nº 3.688/41 
(Lei das Contravenções Penais), Lei nº 5.478/68 (dispondo sobre 
alimentos), Lei nº 6.368/76 (cuidando da prevenção e repressão 
ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes 
ou que determinem dependência física ou psíquica), Decreto-Lei 
nº 1.001/69 (Código Penal Militar), Decreto-Lei nº 201/67 
(tratando dos crimes de responsabilidade praticados por 
Prefeitos), Lei nº 7.492/86 (abordando os crimes perpetrados 
contra o sistema financeiro nacional), Lei 8.078/90 (cuidando 
dos crimes praticados em desfavor de crianças e adolescentes), e 
assim por diante. 
Adverte o eminente Celso Delmanto que “Além das regras contidas 
na parte geral do CP, nele também há regras inseridas na parte 
especial, como o conceito de funcionário público enunciado pelo 
art. 327 do CP. Por isso, se for necessário encontrar o conceito 
de funcionário público em alguma lei especial, a regra do art. 
327 do CP será utilizada, salvo se a norma especial dispuser 
diferentemente.”53 
 
Jurisprudência 
 
Crime Falimentar – Interdição Para o Exercício do Comércio. “A 
interdição para o exercício do comércio opera ex vi legis — art. 195 
da Lei de Falências — e até mesmo independentemente de menção 
expressa, decorrente que é da eficácia mesma da sentença. Subsiste no 
novo sistema penal brasileiro, pois, além de mero efeito da sentença, 
deve-se atentar para o princípio insculpido no art., 12 do Código 
Penal, segundo o qual sua aplicação aos fatos incriminados por lei 
especial depende de esta não dispor de modo diverso.”54 
 
Falência – Interdição Para o Exercício do Comércio. “Perante a 
Constituição vigente, a interdição para o exercício do comércio só 
pode ser pena, não mero efeito automático da condenação (art. 5º, 
XLVI, e). Todavia, havendo previsão legal (princípio da reserva legal) 
e tendo sido aplicada expressamente em sentença judicial (observância 
do devido processo legal), não ocorre ilegalidade ou 
53 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. 
(atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 17. 
54 TJSP, 6ª CCrim, v. u. – ApCrim 124931-3 – Rel. Des. Luiz Betanho — COAD 
65059. 
inconstitucionalidade, pois a lei especial podia prever tal pena e não 
foi intuito da reforma penal revogar a legislação especial, como se 
infere do art. 12 do CP.”55 
 
Abuso de Autoridade – Pretensão Punitiva. Penas Privativas de 
Liberdade e Restritiva de Direitos – Multa – Prescrição. “Por não 
estabelecer a L. 4.898/65 prazo específico para prescrição da 
pretensão punitiva nos delitos de abuso de autoridade, incidem sobre 
esses crimes as normas gerais do CP, conforme dispõe o art. 12 do 
mesmo diploma legal. O prazo para decretação da prescrição da 
pretensão punitiva, antes do trânsito em julgado da sentença, é 
regulado pelo máximo da pena privativa de liberdade. Sendo a 
reprimenda fixada em seis meses, portanto inferior a um ano, opera-se 
a prescrição em dois anos. Prescrita a pena mais grave (privativa deliberdade), também estarão prescritas as reprimendas mais leves 
(restritiva de direito e multa), por serem estas acessórias, ainda que 
legalmente possam ser aplicadas de maneira autônoma.”56 
 
Arrependimento Posterior – Código Penal Militar – Princípio da 
Especialidade. “O arrependimento posterior (CP, art. 16) não está 
previsto na legislação penal militar. Os benefícios previstos no CPM 
(arts. 72, III, b, e 240, § 2º) não caracterizam o arrependimento 
posterior a que se refere o art. 16 do CP. O arrependimento posterior 
(CP, art. 16) é causa de diminuição da pena e não mera atenuante.”57 
 
Crime de Imprensa – Prescrição – Aplicação das Regras Gerais. “Aplica-
se nos casos de delitos de imprensa a regra do Código Penal que define 
causas interruptivas da prescrição. (Art. 12 e Art. 117, I do 
CP).”58 
 
Crime Eleitoral – Prescrição Penal – Aplicação Subsidiária do CP. “O 
regime jurídico da prescrição penal em tema de delitos eleitorais 
submete-se aos princípios e às normas gerais constantes do CP. Sendo 
omisso o Código Eleitoral a respeito da disciplina jurídica da 
prescrição penal, tem esta, na própria lei penal comum, o seu 
específico estatuto de regência.”59 
 
Tóxico – Substituição de Pena Privativa de Liberdade Por Pena de Multa 
– Admissibilidade – Impossibilidade de Cumulação. “Incluída a multa 
substitutiva entre os preceitos gerais do Código Penal, é mais do que 
evidente que tal instituto, desde que não contrariado expressamente em 
qualquer lei penal, se estende supletivamente a todo Direito Penal não 
codificado. É por isso que tem inteiro cabimento à espécie do preceito 
secundário do art. 16 da Lei 6.368/76 (posse de entorpecente), porque 
a pena de seis meses, sendo aplicada, e o réu reunindo as condições de 
natureza subjetiva estabelecidas nos incs. II e III do art. 44 do CP, 
deve ser favorecido com tal hipótese. Neste caso, impossibilitada a 
cumulação da multa substitutiva com a pena pecuniária cominada no tipo 
55 STJ, 5ª T, publ. em 2/out/89 – REsp 458 – SP – Rel. Min. Assis Toledo – RJ 
147/108 — Síntese 500044. 
56 TJMG, 3ª CCrim, publ. em 9/set/95 – ApCrim 33.379/9 – Rel. Des. Pinheiro 
Lago — Síntese 500033. 
57 STF, 2ª T, publ. em 30/jun/95 – HC 71.782-9 – RJ – Rel. Min. Neri da 
Silveira — Síntese 500034. 
58 STJ, 6ª T, publ. em 6/ago/90 – REsp 2.263 – SP – Rel. Min. Dias Trindade — 
RJ 157/151. 
59 STF, Pleno, publ. em 16/set/94 – Inq 794-3 – DF – Rel. Min. Celso de Mello 
— RJ 206/121. 
especial, pois isto significaria evidente contradição com a própria 
idéia de suficiência e evidente exagero punitivo.”60 
 
Tóxico – Substituição da Pena Privativa de Liberdade pela Pena de 
Multa – Admissibilidade. “A substituição da pena privativa pela multa 
imposta é incontestável, não só porque a lei não objeta, como também 
porque, ao contrário do que se pretende não se pode elevar a simples 
lei extravagante que é a Lei 6.368/76 à categoria da lei especial, só 
para impor situação diversa da prevista no art. 12 do CP, que por 
sinal, não conflita com a mencionada lei.” 61 
 
Tóxico – Substituição de Pena Privativa de liberdade Pela de Multa – 
Inadmissibilidade. “Tratando-se de crimes definidos na Lei 6.368/76 
(entorpecentes), inaplicável a substituição da pena privativa de 
liberdade pela multa (art. 60, § 2º, do CP) já que a lei de tóxicos é 
lei especial, e contém sistema próprio de penas.”62 
 
Código Florestal – Pena de Multa – Parâmetro Para Cálculo. “As penas 
de multa estabelecidas pelo Código Florestal são calculadas tendo como 
parâmetro o valor do salário-mínimo, sistema que não sofreu 
modificação, atentando-se para os termos dos artigos 2º da Lei no 
7.209/84 e 12 do Código Penal. A norma especial prevalece sobre a 
geral pelo seu próprio conteúdo. Portanto, não tem incidência o 
sistema de dias-multa, mas o de salário-mínimo.”63 
 
Súmula 171 do STJ: “Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas 
privativas de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da 
prisão por multa.” 
60 TJSP, 6ª CCrim, julg. em 29/ago/90 – ApCrim 77.231-3 – Rel. Des. Márcio 
Bártoli — RT 663/277. 
61 TJSP, 1ª CCrim, v. u. em 28/set/92 – ApCrim 116.907-3/1 – Rel. Des. Fortes 
Barbosa — RT 692/255. 
62 TJSP, 2ª CCrim, julg. em 19/nov/90 – ApCrim 85.423-3 – Rel. Des. Weiss de 
Andrade — RT 670/277. 
63 STJ, 5ª T – REsp 58.322-5 – PR – Rel. Min. Jesus Costa Lima — DJU 
8/maio/95.

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