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Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 19401 Código Penal O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte lei: Código Penal Histórico — Do ponto de vista legislativo a existência do Direito Penal no Brasil inicia-se com o Livro V das Ordenações Filipinas (Rei Felipe II), de 1603, aqui vigente até o ano de 1830. Tal regramento é típico da época, prevendo penas corporais, degradantes, de morte, banimento e misturando normas éticas e religiosas com as puramente criminais. É tudo bem representativo do Direito Penal da vingança pública e com tratamento desigual entre as pessoas em razão da origem social. Com o advento da Independência tivemos o Código Criminal do Império, em 16 de dezembro de 1830, embasado no Projeto Bernardo Pereira de Vasconcelos, o qual sofreu a influência do Código Penal da França (1810), do Código Penal da Baviera (1813) e do Código Penal de Nápolis (1819). Foi uma normatização bastante avançada e que chegou a inspirar os novos Códigos Penais da Espanha (1848) e de Portugal (1852). Novo estatuto criminal entre nós surgiu com o advento da República (1889), através do Decreto de 11 de outubro de 1890. Com má redação, falhas e lacunas fez surgir copiosa legislação extravagante, findando com uma Consolidação das Leis Penais por Decreto de 14 de dezembro de 1930. Em 1937, durante a ditadura do Estado Novo, procurou-se elaborar um novo Código Penal, o qual nasceu do Projeto Alcântara Machado. Originariamente o novo Código Penal foi instituído através do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, com fulcro no artigo 180 da então vigente Constituição dos Estados Unidos do Brasil, outorgada em 10 de novembro de 1937. 2 Posteriormente, nos idos da década de 60, teve início movimento no sentido de dotar o País de novo Código para a área criminal e, no ano de 1963, o insigne Professor Nelson Hungria desincumbiu-se da grave e espinhosa missão que lhe confiara o Poder Executivo ao apresentar um anteprojeto de Código Penal para o Brasil. Esse trabalho passou pelo crivo de não poucos debates e conferências por todo o País e uma ilustre comissão revisora — da qual participara o próprio autor e os não menos doutos Professores Anibal Bruno, da Faculdade de Direito do Recife, e Heleno Cláudio Fragoso — praticamente reelaborou todo o anteprojeto e que, infelizmente, jamais teve divulgada a sua conclusão. No ano seguinte à apresentação do anteprojeto Nelson Hungria, os militares instalaram-se no Poder, através de golpe de estado, e persistiram na idéia de dotar o País duma legislação criminal 1 Publicado no Diário Oficial da União, de 31 de dezembro de 1940. 2 Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937: “Art. 180 – Enquanto não se reunir o Parlamento Nacional, o Presidente da República terá o poder de expedir decretos-lei sobre todas as matérias da competência legislativa da União.” inteiramente nova. Iniciaram-se, assim, estudos visando a elaboração dos Códigos reguladores da matéria, quais sejam: Penal, Processual Penal, Penal Militar, Processual Penal Militar e Lei de Execução Penal. O novo Projeto para o Código Penal — cuja revisão final esteve a cargo dos Professores Benjamin Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragoso e Ivo D'Aquino — foi então apresentado à Junta Militar que exercia o Poder Executivo, a qual, com base no artigo 3º, do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § 1º, do artigo 2º, do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, transformou-o em Código através do Decreto-Lei nº 1.004, de 21 de outubro de 1969, com vigência prevista para o dia 1º de janeiro do ano seguinte. Tal Código, bastante avançado e de excelente redação, teve sua vigência adiada por leis posteriores e findou por ser revogado em decorrência da Lei nº 6.578, de 11 de outubro de 1978. O Código Penal, conforme visto ut retro, instituído através do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, continua em vigor. Sofreu, durante os anos da sua existência, várias alterações no texto primitivo, dentre as quais podemos anotar algumas provenientes das seguintes Leis: nº 5.346, de 1967; nº 6.416, de 1977; nº 7.209, de 1984; nº 9.268, nº 9.269, nº 9.281, nº 9.318 e nº 9.426, estas de 1996; nº 10.028, de 2000; nº 10.268, de 2001; nº 10.467, de 2002; nº 10.695, nº 10.741 e nº 10.803, todas de 2003; nº 11.035, de 2004; nº 11.106, de 2005; nº 11.340, de 2006; nº 11.466 e nº 11.596, ambas de 2007; nº 11.923, nº 12.012, nº 12.015, e nº 12.033, estas de 2009; e nº 12.234, de 5 de maio de 2010. A primeira Lei a que nos referimos, nº 5.346, de 3 de novembro de 1967, altera dispositivos do Código Penal, visando a proteger serviços de utilidade pública, e para tanto trás mudanças aos artigos 163, 180 e 265 do Código Penal. Já Lei nº 6.416, de 24 de maio de 1977, reajustou o padrão monetário previsto no Codex pelo então vigorante Cruzeiro, na proporção de 1:2.000 (artigo 4º) e fez republicar o Diploma Penal, com as modificações resultantes (artigo 5º). Por seu turno, a Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984, veio alterar substancialmente toda a Parte Geral do Código em questão. Dentre as principais inovações tivemos: a) cancelamento, tanto na Parte Especial, quanto na legislação criminal extravagante, a expressão multa de, a qual fora substituída por apenas multa, permitindo, por essa via, a aplicação do novel artigo 49; b) quando da fixação da pena o Juiz passa obrigatoriamente a sopesar o comportamento da vítima (art. 59); c) aplicação de atenuante inominada (art. 66); d) previsão das penas restritivas de direitos (prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e a limitação de fim de semana (art. 43 e incisos I, II e III); e) cumprimento das penas privativas de liberdade através dos regimes progressivos fechado, semi-aberto e aberto (art. 33 e §§ 1º a 3º); f) nova formatação do concurso de pessoas (art. 29); g) conceito amplo da omissão como causa do resultado (art. 13); h) acolhimento do sistema vicariante em substituição ao obsoleto sistema do duplo binário. A vigência do texto inovado, por força do artigo 5º, da Lei 7.209/84, deu-se às 24 horas do dia 12 de Janeiro de 1985. A Lei nº 9.268, de 1º de abril de 1996, alterou a redação do artigo 51, caput, do Código Penal, revogando os dois parágrafos ali constantes, e passando a considerar a multa pecuniária, no campo criminal, efetivamente aplicada e com trânsito em julgado, como dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que respeita à interrupção e suspensão prescricionais. Fato este, por sinal, a ser observado conjuntamente com a modificação efetuada na redação do artigo 114, do mesmo ordenamento, especificamente no que respeita à prescrição de tal tipo de apenação. Ao depois, tendo em vista a total incompatibilidade da recém introduzida redação do artigo 51 do CP, com a então disposição do artigo 182, este da Lei de Execução Penal, 3 e que tratava da conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade, revogou este último. A mesma Lei altera o disposto no parágrafo 2º, in fine, do artigo 78 do Código em tela, tornando obrigatória, quando da suspensão condicional da pena, a aplicação cumulativa das vedações de freqüência a determinados locais, ausência à Comarca sem autorização judicial e o comparecimento mensal obrigatório ao Juízo para informar e justificar atividades. Alfim, modifica a redação do artigo 92 do Código sub oculi, tornando mais severa a reprimenda para com aqueles que venhama utilizar-se abusivamente do Poder ou violem deveres para com a Administração Pública. Através da Lei nº 9.269, de 2 de abril de 1996, foi alterada a redação do parágrafo 4º do artigo 159 do Diploma Penal, substituindo-se, aí, a figura de quadrilha ou bando pela do concurso e possibilitando o benefício de redução da pena em favor do concorrente delator que venha a contribuir, com o seu ato, a libertação do seqüestrado. A Lei nº 9.281, de 4 de julho de 1996, revoga os parágrafos únicos dos artigos 213 e 214 do Código Penal, os quais tinham sido introduzidos pela Lei nº 8.069/90. No que se refere à Lei nº 9.318, de 4 de dezembro de 1996, vem esta alterar a alínea h, do inciso II, do artigo 61, do Código Penal, que passou a ter a seguinte redação: contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida. De outra banda, a Lei nº 9.426, de 24 de dezembro de 1996, inova no que diz respeito ao transporte de veículo automotor entre Estados-Membros ou sua retirada do País, na figura do furto — caso em que funciona como qualificadora — e na do roubo — hipótese em que passa a ter a qualidade de causa especial de aumento de pena —. Introduz uma outra qualificadora, a manutenção da vítima de roubo em poder do agente, restringindo- lhe a liberdade de locomoção. Ademais, inclui mais duas ações — transportar e conduzir — ao núcleo do crime de receptação e institui a receptação qualificada, com nada menos que doze condutas típicas, dificultando bastante a atuação do comércio de peças provenientes do mundo criminoso. Procurando coibir de maneira mais eficaz a adulteração de identificação de chassis de veículos automotores, cria, inclusive, novo recorte criminal e torna mais severa a apenação de funcionários públicos envolvidos no esquentamento da documentação dos mesmos. Por força do artigo 2º da Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997, tivemos o acrescentamento de mais um parágrafo, o 3º, ao artigo 3 Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. 140 do Código Penal. Com vigor a partir da sua publicação o novo item versa sobre uma nova modalidade de injúria, isto é, aquela cometida através de ofensa à raça, à cor da pele, à etnia, à religião, ou à origem do indivíduo. Também tivemos o advento da Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998, a qual, cuidando de corrupção, adulteração, falsificação ou alteração de alimento, bebida e produto destinado a fim terapêutico ou medicinal, produziu alterações nos artigos 272 usque 277, do Código Penal. Interessante é observar que o texto enviado à sanção presidencial, apesar de enunciar que incluía na classificação dos delitos considerados hediondos os crimes contra a saúde pública, nenhum dispositivo concreto neste sentido continha em seu corpo. A escorregadela acabou por resultar no advento da Lei nº 9.695, de 20 de agosto de 1998, passando esta a considerar como hediondas as ações descritas no artigo 273 e parágrafos, do Código em questão. Diversas outras leis seguiram-se na busca de adaptar a legislação criminal às novas necessidades da sociedade. É o caso da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, apelidada “Maria da Penha”. Esta apresenta-se como reflexo da luta feminina em nosso País. Como não poderia deixar de ser, em vista do momento em que veio á luz, ela mais representou um protocolo de intenções que qualquer outra coisa. Foi um avanço na luta feminista, sem dúvida. Mas encontra-se eivada de lugares comuns, lacunas, sonhos, imprecisões jurídicas, exageros, unilateralismos e juízos preconcebidos, a exemplo do todo ser masculino é hostil e criminoso. É até compreensível que assim tenha sido. Afinal, infelizmente, passamos por uma fase onde somos representados por um Legislativo ideologicamente vazio e ávido por palanque; um Executivo eminentemente populista e com pretensões de vender a imagem de popular; consistimos num povo despolitizado, analfabeto funcional e desconcertado; e tangido por u’a mídia especializada em vender a violência e a panacéia das penalizações severas e que nada mais gera que uma inflação legislativa inócua. Em que pese o lugar comum, temos que dizer: é o preço da Democracia. Tudo se passa como se tivéssemos esquecido o fundamental: a educação, a justiça social e a seriedade no exercício da função pública. Já Lei nº 11.596, de 29 de novembro de 1997, introduz alterações no que respeita às regras prescricionais, mudando o inciso IV do art. 117 do Código Penal, para definir como causa interruptiva da prescrição a publicação da sentença ou acórdão condenatório recorrível. Posteriormente a Lei nº 11.923, de 17 de abril de 2009, acrescenta mais um parágrafo (o 3º) ao art. 158 do Código Penal, tipificando o chamado seqüestro relâmpago. Por sua vez, a Lei nº 12.012, de 6 de agosto de 2009, introduz o art. 349-A ao Código Penal, criminalizando o ingresso de pessoa portando aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. Logo a seguir a Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o qual passa a intitular-se “Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual”, modificando e revogando os diversos dispositivos aí contidos. Mais adiante a Lei nº 12.033, de 29 de setembro de 2009, modificando a redação do parágrafo único do art. 145 do Código Penal, torna pública condicionada a ação penal em razão da injúria referente a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Por fim, a Lei nº 12.234, de 5 de maio de 2010, alterando os arts. 109 e 110 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940, exclui a prescrição retroativa. Parte Geral Título I Da Aplicação da Lei Penal Anterioridade da lei Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Notícia — A redação contida na Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984, conservou integralmente o anterior artigo de número idêntico do Decreto-Lei nº 2.848/40. Tema — Por Direito Penal vamos entender o conjunto de normas jurídicas relativo ao fenômeno criminógeno e sua conseqüente pena ou medida de segurança. Estamos a falar, aqui, de Direito Criminal positivo. De outra banda a expressão Direito Penal também é entendida como Ciência Penal e ao que preferimos denominar Ciência Criminal, por ser mais abrangente e própria à matéria. Temos, portanto, que a Ciência do Direito Criminal é o conhecimento sistemático, compreendendo exegese, dogmática e crítica, das normas e princípios que os informam. Aclarados tais conceitos, passemos, agora, à análise do nosso Código Penal. O presente mandamento contém em si dois princípios fundamentais, o da reserva legal (também chamado da legalidade) e o da anterioridade. Encontra-se, desta forma, em perfeita consonância com o artigo 5º, da Constituição Federal, quando reza, não haver crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, 4 bem como não poder retroagir a lei penal, salvo para benefício do réu. 5 Resguardados, portanto, encontram- se os decorrentes princípios da irretroatividade e da taxatividade legais, quer pelo Código Penal, quer pela Constituição Federal. Pelo princípio da reserva legal torna-se inadmissível a interpretação analógica ou extensiva da lei criminal como, aliás, entende o Colendo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 6 Sobre o tema, o douto Luiz Vicente Cernicchiario, ensina não ser possível pactuar-se “com garantia meramente formal. Insuficiente apenas a lei anterior à conduta.Impõe-se descrição específica, individualizadora do comportamento delituoso. Em outras palavras, a garantia há de ser real, efetiva. Uma lei genérica, amplamente genérica, seria suficiente para, 4 Inciso XXXIX. 5 Inciso XL. 6 TJSP, 5ª CCrim, v. u., em 26/set/90, ApCrim 95.260-3, Rel. Des. Lobo Júnior — RT 672/308. respeitando o princípio da legalidade, definir-se como delito qualquer prejuízo ao patrimônio ou a outro bem jurídico. Não estaria, porém, resguardado, efetivamente, o direito de liberdade. Qualquer conduta que conduzisse àquele resultado estaria incluída no rol das infrações penais”.7 No que pertine à irretroatividade, porém, é de lembrar que ela pode sofrer exceção, permitindo a aplicação da lei nova a fato praticado anteriormente, desde que seja ela mais benigna (lex mitior) em relação ao réu. Jurisprudência Princípio da Reserva Legal – Entorpecente. “Substância não catalogada como entorpecente em Portaria do DIMED/MS é inidônea para a caracterização dos crimes previstos na Lei 6.368/76. Impossível a interpretação extensiva do art. 36 da referida lei sob pena de se atentar contra o princípio da reserva legal, prevista no art. 1º do CP e art. 5º da CF.”8 Princípio da Reserva Legal – Código Penal Militar – Apresentação Tardia. “O silêncio do Código Penal Militar no tocante às apresentações tardias que ultrapassem dez dias — art. 190 — não autoriza construção jurisprudencial no sentido do enquadramento da hipótese em tipo diverso — o do art. 187 daquele Código. Insubsistência constitucional — ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal’ — inciso XXXIX do art. 5º da Carta de 1988 — do verbete nº 01 do Superior Tribunal Militar: "Desclassifica-se para o art. 187, do Código Penal Militar, a deserção especial prevista no art. 190, do mesmo diploma legal, quando o infrator se apresenta ou é capturado depois de decorridos mais de dez dias da prática do ato delituoso, não se configurando afronta ao art. 437, alínea ‘a’, do Código de Processo Penal Militar”.9 Princípio da Reserva Legal – Pena de Multa. “O art. 652, letra ‘d’, da CLT, autoriza o Magistrado a aplicar multas, mas não a criá-las, já que esta tarefa é competência exclusiva do Poder Legislativo. Assim, as multas que o Poder Judiciário pode aplicar são aquelas estabelecidas em lei abstrata e preexistente, não podendo criá-las para fazer incidir no caso concreto, pois que tal caracterizaria usurpação da competência legislativa e desatenderia ao princípio da anterioridade legal — Nullum Crimem, Nulla Poena Sine Praevia Lege, garantido pelo art. 5º, inciso XXXIX, da Carta Constitucional.”10 Prefeito Municipal – Não-recolhimento de Contribuições Previdenciárias – Crime Próprio de Particular. “I – É vedada a interpretação integrativa de norma penal em prejuízo do acusado. II – Princípio constitucional da legalidade (art. 5º, XXXIX, CF/88), insculpido no art. 1º do CP/40: ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal’. III – A falta de recolhimento de contribuição previdenciária por Prefeito Municipal no exercício do cargo é figura atípica penalmente irrelevante. IV – A legislação previdenciária não arrola o Chefe do Executivo Municipal como sujeito 7 Luiz Vicente Cernicchiaro, Direito Penal na Constituição, São Paulo, RT, 1991, 2ª ed., 1991, p. 14. 8 TJSP, 5ª CCrim, julg. 26/set/90 – ApCrim 95.260-3 – Rel. Des. Lobo Júnior — RT 672/308. 9 STF, 2ª T, v. u., publ. em 17/dez/93 – HC 70440-9-PA – Rel. Min. Marco Aurélio — COAD 64753 10 TRT da 24ª R, publ. em 16/dez/93 – RO 3838/93 – Rel. Juiz Amaury Rodrigues — COAD 65567 ativo do delito previsto no art. 95, letra d, da Lei 8.212/91. V – Denúncia rejeitada pelo art. 43, I, do CPP/41.”11 Jogo do Bicho – Tipicidade. “O Dec.-lei 6.259/44 continua em vigor e o ‘jogo do bicho’ segue sendo ilícito penal punível. Não pode o juiz negar tipicidade a fato que o Direito Penal considera contravenção sob o fundamento de que a conduta apenada não contrasta com o sistema axiológico e os padrões culturais da sociedade brasileira. Ao Poder legislativo — não ao Judiciário — cabe descriminalizar as condutas que, eventualmente, deixem de representar um desvalor. Enquanto não o fizer, permanece a ilicitude formal e material do comportamento.”12 Jogo do Bicho – Fato Típico – Inaplicabilidade Pelo Acatamento Popular. “A contravenção do ‘jogo do bicho’, em nosso País, pelo menos em relação aos ‘apostadores’ e ‘cambistas’, tornou-se infração totalmente fora de moda e apêndice do pensamento do legislador ao tempo mais ou menos remoto em que foi elaborada a lei. Hoje, não mais se justifica, uma vez que, quando um fato, embora típico, se ajusta às exigências próprias das concepções da cultura de um povo, não mais tem razão de ser considerado antijurídico.”13 Lei penal no tempo Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Notícia — A Lei nº 7.209/84 manteve a integralidade do caput do artigo 2º da anterior Parte Geral do Código Penal. No que respeita ao parágrafo único, contudo, opera-se importante alteração. Isto, porquanto eliminaram-se duas restrições até então existentes à aplicação da lex mitior: a) apenas aos fatos ainda não definitivamente julgados; ou b) se já com trânsito em julgado, tão-somente em relação à pena aplicada. Como já afirmamos, por ocasião da apreciação do artigo 1º do CP, a Carta Política de 1988 estabelece, no inciso XL, do artigo 5º, que a lei criminal não retroagirá, salvo se estiver a beneficiar o réu, recepcionando, assim, o presente mandamento. Tema — O espírito do presente artigo é a regra da irretroatividade da lei criminal, já explicitado no preceito anterior; temperada, agora, pela retroatividade sempre que se trate de lei mais branda em relação ao acusado, vale dizer, aplicação do princípio da benignidade. Por via de conseqüência, aplica-se a retroatividade se a lei nova descriminaliza o fato (abolitio criminis) ou traz benefício ao réu (lex mitior); e ainda se aplica a mesma lei, mesmo após cessada a sua vigência (ultra-atividade), se a posterior é mais rigorosa e o fato verificou-se na vigência da anterior. Sobre a aplicação da lei criminal no tempo, o Professor Júlio Fabbrini Mirabete, ensina-nos que em “caso de vigência de três 11 TRF da 4ª R, 1ª Sec, julg. Em 11/out/95, APen 95.04.13805/PR, Rel. Juíza Tânia Terezinha Cardoso Escobar, DJ de 16/nov/95, p. 78.811 — in A Constituição na Visão dos Tribunais, São Paulo, Saraiva, 1997, vol. 1, p. 92. 12 TACrim/SP, Rel. Dante Busana — RT 611/359. 13 TACrim/SP, Rel. Juiz Renato Talli — RT 605/331. leis sucessivas, deve-se ressaltar que sempre será aplicada a lei mais benigna entre elas: a posterior será retroativa quanto às anteriores e a antiga será ultrativa em relação àquelas que a sucederem. Se, entre as leis que se sucedem, surge uma intermediária mais benigna, embora não seja nem a do tempo do crime nem daquele em que a lei vai ser aplicada, essa lei intermediária mais benévola deve ser aplicada ex vi do art. 2º, parágrafo único, do CP.”14 A aplicação da lei posterior mais benéfica aos casos concretos é da exclusiva alçada do Juiz da Execução, a teor do inciso I, do artigo 66, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.Em não havendo, na Comarca, um Juiz especializado nesse mister, a competência passa automaticamente a ser daquele que prolatou a Sentença, por inteligência do artigo 65 da mesma Lei de regência. Jurisprudência Direito Intertemporal – Matéria Substantiva – Irretroatividade da Lei Penal. “Em matéria criminal, o Direito Intertemporal leciona que, quando a matéria é substantiva, a regra é a não retroação da nova lei, salvo para beneficiar o réu — inciso XL, do art. 5º, da CF e, quando a matéria for adjetiva, aplica-se imediatamente a todos os casos. A Lei 8.072/90 tem em seu bojo matéria substantiva e adjetiva; logo, esta tem aplicação a todos os casos — passados, presentes e futuro, e aquela somente aos novos casos, por mais gravosa que a precedente.”15 Retroatividade da Lex Mitior – Execução Penal. “O princípio da retroatividade da ‘lex mitior’, que alberga o princípio da irretroatividade de lei mais grave, aplica-se ao processo de execução penal e, por conseqüência, ao livramento condicional, art. 5º, XL, da CF e parágrafo único do art. 2º do Código Penal — Lei 7.209/84. Os princípios da ultra e da retroatividade da ‘lex mitior’ não autorizam a combinação de duas normas que se conflitam no tempo para se extrair uma terceira que mais beneficie o réu. Tratamento desigual a situações desiguais mais exalta do que contraria o princípio da isonomia.”16 Lei Penal – Retroatividade. “Admite-se a retroatividade da lei penal, a ponto de alcançar fatos anteriores, no que se mostre mais favorável ao agente — artigo 2º, parágrafo único, do CP. Separáveis as partes das normas em conflito, possível é a aplicação do que nelas transpareça como mais benigno. Isto ocorre relativamente à regência do crime continuado. Datando o delito de época anterior à reforma de 1984, cumpre observar a redação primitiva do § 2º do artigo 51 do CP (anterior à reforma de 1984) e não a mais gravosa, atinente aos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, introduzida no sistema jurídico via parágrafo único do artigo 71 do citado Código. Constatada a retroatividade prejudicial ao agente, impõe-se a concessão da ordem.17 Abolitio Criminis – Trancamento de Ação Penal. “A Lei 8.866/94 retirou do campo da ilicitude penal a conduta descrita no art. 95, d, da Lei 14 Júlio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Atlas, 5ª ed., 1990, vol. I, p. 69 15 STJ, 6ª T, publ. em 24/mai/93, HC 1638-4-MG, Rel. Min. Pedro Acioli — COAD 62570 16 STF, 2ª T, v. u., publ. em 30/out/92, HC 68416-5-DF, Rel. Min. Paulo Brossard — COAD 61125 17 STF, 2ª T, HC 69.033-5/SP, Rel. Min. Marco Aurélio — RJ 177/139. 8.212/91. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixou de considerar crime.”18 Lex Mitior e Vacatio Legis – Princípio Constitucional da Benignidade. “A lei penal mais benigna, em razão dos princípios inscritos no art. 5º, XL e § 1º, da CF, tem aplicação imediata, não se sujeitando ao período de vacatio legis. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que revoga o Código de Menores, muito embora esteja com suas regras gerais sustadas em razão do período de vacatio, na parte em que beneficia o agente deve ser imediatamente aplicado, em razão da incidência do princípio constitucional da benignidade. Em razão deste entendimento, as pessoas internadas há mais de três anos ou que nesta situação tenham completado 21 anos de idade devem ser compulsoriamente libertadas.19 Lei excepcional ou temporária Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Notícia — O artigo 3º permaneceu exatamente com a mesma redação anterior contida no Decreto-Lei nº 2.848/40. Acrescentou-se apenas a rubrica. Tema — O mandamento em tela representa a exceção da regra geral do princípio da benignidade e orientador do artigo anterior. A excepcionalidade e a temporariedade são características, em essência, da própria situação e momento que fazem surgir regramentos extraordinários e com o alcance próprio a eles atribuídos. Assim, uma lei excepcional é sempre a resposta do Legislador a um momento de turbulência e anormalidade sociais e determinada a vigorar apenas enquanto perdurar tais condições objetivas. A lei temporária traz no seu próprio bojo o lapso de sua vigência. O princípio da retroatividade contido no artigo 2º, portanto, torna-se inoperante ante às leis excepcionais ou temporárias por uma questão de lógica jurídica. Como bem assenta o saudoso Mestre Celso Delmanto, “elas perderiam toda a sua força intimidativa, caso o agente já soubesse, de antemão, que, após cessada a anormalidade (no caso das leis excepcionais) ou findo o período de vigência (das leis temporárias), acabaria impune pela aplicação do princípio da retroatividade.”20 Jurisprudência Medida Provisória – Definição de Crimes e Penas. “A medida provisória definidora de crimes e respectivas penas, por ter força de lei advinda da Constituição Federal (art. 62), revoga as disposições em contrário, principalmente leis mais benignas, ainda que provisoriamente, não havendo conflito aparente de normas. Mesmo que revogada a lei, não gera abolitio criminis, porque, ainda que temporária, guarda eficácia, 18 TRF 5ª R, 2ª T, HC 533/PE, Rel. Juiz Araken Mariz — DJU 24/nov/95. 19 TARS, 3ª CCrim, julg. em 25/set/90, HC 290090976, Rel. Juiz Vladimir Giacomuzzi — RT 667/330 20 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. (atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 8. aplicando-se aos fatos praticados durante sua vigência, conforme o art. 3º do CP.21 Nota - A posição esposada neste julgamento pelo Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul não parece ser das mais acertadas. Isto porque a CF, a teor do inciso XXXIX, do artigo 5º, veda a edição de medida provisória em matéria criminal. Celso Delmanto, sobre o tema, reporta-se à ação direta de inconstitucionalidade intentada pela Procuradoria-Geral da República, contra as Medidas Provisórias nºs 153 e 156.22 Lei Excepcional – Ultratividade. “Tratando-se de crime previsto em lei excepcional, o princípio que prevalece é o da ultratividade, inscrito no art. 3º do Código Penal. Por força dele, embora cessadas as condições que determinaram a criação da figura delituosa de existência transitória, como é a infração da norma penal em branco — transgredir tabelas de preços — a norma penal continuará a aplicar-se aos fatos praticados durante sua vigência.”23 Tabelamento de Preços – Descumprimento. “A nível penal, o descumprimento, em si, do congelamento de preços mostra-se irrelevante. Notadamente tratando-se de mercadoria não essencial ao consumo popular, como chocolate e bombons. Não se concebe que alguém vá explorar a economia popular com artigos tais, supérfluos, por serem guloseimas, com eles especulando para obter vantagem.”24 Tempo do crime Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Notícia — A problemática do tempus delicti não constava da antiga redação da Parte Geral do Código Penal, surgindo, portanto, como novidade advinda da Lei nº 7.209/84. Tema — Muito se tem debatido acerca da fixação do momento em que ocorre o ilícito. A questão não é puramente acadêmica ou irrelevante e apresenta fundamental importância no que respeita a vários aspectos: a) determinação da competência; b) verificação da leivigorante no momento do crime; c) aplicação de eventual benefício, tal qual a anistia, por exemplo. Encontramos três posições doutrinárias que buscam soluções para a questão, resultando nas seguintes teorias: a) da atividade; b) do resultado; e c) mista ou da ubiqüidade. A primeira admite como momento da ocorrência delituosa aquele em que o agente pratica o ato, comissivo ou omissivo, independentemente de quando ou onde venha a ocorrer o resultado daí decorrente. A segunda, pelo contrário, somente tem o ilícito como concretizado no instante em que vem a ocorrer o resultado danoso. A última, tem a prática criminosa plenamente caracterizada tanto com a conduta quanto com o resultado. O nosso Código Penal, como se vê pelo inscrito no artigo 4º, no que respeita ao tempus delicti, adota a teoria da atividade, 21 TARS, 5ª CCrim, v. u., em 5/set/90 – RHC 632.841-6 – Rel. Juiz Ribeiro dos Santos — RT 666/316. 22 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. (atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 4. 23 TACrim/SP, Rel. Juiz Fernando Prado — RT 473/351. 24 TACrim/SP, Rel. Juiz Walter Teodósio — RT 612/321 repelindo claramente o momento do resultado por ocasião da parte final do mandamento. Jurisprudência Tempo do Crime – Descaminho – Competência. “O descaminho — CP, art. 334, caput — é crime instantâneo de efeito permanente. Não se confunde com o crime permanente. A consumação ocorre no local em que o tributo deveria ser pago. Pouco importa o local da apreensão da mercadoria. Orientação majoritária diversa da E. 3ª Seção, STJ, a que acompanho, visando a evitar oscilação da jurisprudência.”25 Tempo do Crime – Descaminho – Conflito de Competência. “Mercadoria estrangeira, provavelmente adquirida no Paraguai, foi apreendida em São Paulo. O juiz federal de São Paulo, por entender que o crime se consumou no momento em que a mercadoria entrou no território nacional (Paraná), remeteu os autos ao juiz federal de Foz do Iguaçu, que suscitou o conflito. Aplicável é o art. 71 do CPP. In casu, o crime (descaminho) pode ser classificado de eventualmente permanente. Assim, a competência se firma pela prevenção.”26 Tempo do Crime – Descaminho – Consumação. “Consuma-se o crime de descaminho, previsto no caput do art. 334 da Lei Penal, com o ingresso no país de produtos estrangeiros, sem o pagamento do imposto devido, não se exigindo, para tanto, a destinação comercial ou industrial da mercadoria.”27 Uso de Documento Falso – Consumação – Competência. “O crime de Uso de Documento Falso (CP, art. 304), consuma-se no local onde foi utilizado. Enquanto não empregado para o fim útil, não é praticada a conduta típica.”28 Territorialidade Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Notícia — O caput e os parágrafos contidos do artigo 5º, agora decorrentes da Lei nº 7.209/84, tornou o instituto bem mais claro e preciso do que anteriormente fazia o artigo 4º do Decreto-Lei nº 2.848/40. 25 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 25/set/95 – ConComp 13767-5-PR – Rel. Min. Vicente Cernicchiaro — COAD 71779. 26 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 9/out/95 – ConComp 12006-3-PR – Rel. Min. Adhemar Maciel — COAD 71775. 27 TRF da 5ª R, 1ª T, v. u. publ. em 19/mai/95 – ApCrim 893-PE – Rel. Juiz Francisco Falcão — COAD 71161. 28 STJ, 3ª S, v. u. publ. em 28/ago/95 – ConComp 10236-7-MG – Rel. Min. Vicente Cernicchiaro — COAD 71592. Tema — O conceito de territorialidade encontra-se intimamente ligado ao de soberania, a qual é elemento fundamental e sine qua non para a plena existência do Estado. Magistra o Lente Dalmo de Abreu Dalari que, partindo de um ângulo puramente jurídico, podemos admitir o “conceito de soberania como o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas, vale dizer, sobre a eficácia do direito. Como fica evidente, embora continuando a ser uma expressão de poder, a soberania é poder jurídico utilizado para fins jurídicos. Partindo do pressuposto de que todos os atos dos Estados são passíveis de enquadramento jurídico, tem-se como soberano o poder que decide qual a regra jurídica aplicável em cada caso, podendo, inclusive, negar a juridicidade da norma.”29 Evidente que cada Estado aplica suas próprias leis no espaço físico que lhe diz respeito, impossibilitando-se, em decorrência, que seja concorrentemente ali aplicada lei alienígena. Ocorre, entretanto, que a ocorrência, apuração e apenação dum determinado fato delituoso possa interessar a mais de um Estado. Neste caso, estar-se-á ante a questão da eficácia da lei no espaço e cujas regras disciplinadoras encontram-se nos princípios da territorialidade, da defesa, da nacionalidade, da justiça universal e da representação, como indicado por Celso Delmanto.30 A regra geral enunciado pelo Código Penal, no comando ora ressaltado, é o da territorialidade. Vale dizer, a legislação criminal brasileira é aplicada a todo crime verificado em qualquer ponto do nosso território — natural (terrestre, fluvial, marítimo e aéreo) ou artificial (embarcações e aeronaves) — independentemente da nacionalidade dos protagonistas do mesmo. Tratando-se de embarcações e aeronaves oficiais brasileira, o parágrafo 1º as considera como extensão do território nacional, independentemente de onde se encontrem, incluindo-se, aí, aquelas que pertençam ou estejam a serviço do Estado brasileiro. No que respeita às embarcações e às aeronaves estrangeiras de natureza privada também será aplicada a lei brasileira aos crimes nelas ocorridos na hipótese de encontrarem-se no interior dos limites do nosso território, quer paradas quer em movimento. Existem ressalvas à aplicação da lei brasileira, nos casos previstos na cabeça do artigo — convenções, tratados e regras de direito internacional —, implicando dizer que adotamos a regra da territorialidade temperada. Nesse ponto devemos lembrar que participamos do Tribunal Penal Internacional, o qual teve o seu Estatuto promulgado entre nós através do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002, após a aprovação do texto pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo nº 112, de 6 de junho também de 2002. O mencionado Tribunal tem sua sede em Haia, na Holanda. A criação e funcionamento do Tribunal Penal Internacional patenteia a necessidade do mundo atual de apurar e julgar os 29 Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, São Paulo, Saraiva, 19ª ed., 1995, p. 68. 30 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. (atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 11. crimes contra a humanidade, como é o caso do genocídio, escravidão, tortura, agressão sexual, escravatura sexual, desaparecimento forçado de pessoas, crimes de guerra e de graves agressões contra etnias e nações específicas.Adota-se no TPI os mesmos princípios fundamentais que orientam o nosso ordenamento jurídico, podendo-se anotar os seguintes: nullum crimen sine lege e Nulla poena sine lege (art. 1º do CP); ne bis in idem, impedindo-se que alguém venha a ser julgado por atos pelos quais já tenha sido condenado ou absolvido; irretroatividade, não se considerando criminalmente responsável alguém por uma conduta anterior ao estabelecimento do tipo penal; irresponsabilidade penal, relativamente aos menores de 18 anos de idade; juiz natural, significando dizer que o julgamento será realizado por Juiz previamente estabelecido no cargo; promotor natural, proibindo a figura do promotor de exceção; responsabilidade penal individual, implicando em competência para julgar pessoas individualmente ou em conjunto; irrelevância da função social, permitindo-se a responsabilização de chefes de Estado ou de Governo, Ministros, Parlamentares e outras autoridades, sem qualquer privilégio ou imunidade; imprescritibilidade, significando que a ação criminosa jamais terá extinta a punibilidade pelo decurso de tempo; universalidade, através do qual os Estados-Partes colocam-se integralmente sob a jurisdição da Corte; complementariedade, tendo em vista que o TPI somente julgará aqueles que vierem a incorrer em crimes de sua competência e que a lei do Estado- Parte mostrar-se omissa com relação ao crime. Em relação às penas o Tribunal Penal Internacional prevê a aplicação das penas de prisão até ao limite máximo de 30 anos; perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado justificarem; bem como multa e perda de produtos e de bens. Na hipótese de ser necessário julgar brasileiro ante o TPI será ele requisitado, não havendo extradição. 31 Isto porque a extradição é o ato através do qual um Estado entrega a outro Estado um cidadão para ser julgado ou para cumprir pena; diversamente, na requisição temos a entrega do nacional para que ele seja julgado pelo Tribunal do qual é membro o Estado-Parte. Jurisprudência Navio Mercante Estrangeiro – Crime Nele Cometido – Aplicação da Lei Penal Brasileira. “Ao crime cometido em águas territoriais do Brasil a bordo de navio mercante de outra nacionalidade se aplica a lei penal brasileira, afastada a incidência do art. 301 do Código de Bustamante, por importar a sua prática em perturbação da tranqüilidade do nosso País, tanto mais quando os países de nacionalidade do autor e vítima e da bandeira do navio não são signatários da Convenção de Havana de 1928.”32 Lugar do crime 31 A extradição encontra-se regulada pela Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, entre os artigos 76 a 94. 32 STJ, 6ª T, v. u., em 11/nov/90 – RHC 6.853 – BA – Rel. Min. Dias Trindade — RT 665/353. Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Notícia – A matéria era abordada antes pelo artigo 4º, do Decreto-Lei nº 2.848/40, tendo, agora, recebido redação inteiramente nova através da Lei nº 7.209/84 . Tema — Como foi visto anteriormente, no que respeita ao tempus delicti, o Código Penal adotou a teoria da atividade (artigo 4º). Agora, cuidando do locus delicti commissi, passa a albergar a teoria da ubiqüidade (ou mista, ou da unidade, como também é conhecida), cuja amplitude estabelece como local do crime aquele em que se verifica a ação ou omissão criminosa, bem como outro qualquer em que se venha a produzir o resultado. Bem observa o inesquecível Nelson Hungria: “O crime, como uma unidade, se entende praticado onde quer que ocorra qualquer momento do seu iter ou onde se realiza o summatum opus. É, de todas as teorias, a menos vulnerável. Não exige transigências de soberania e, se não evita conflitos positivos de jurisdição, elimina os negativos, conjurando o desconforto de eventual impunidade do agente. Esta, a sua inquestionável vantagem sobre as outras.”33 Como reconhece a unanimidade dos autores, a questão, regra geral, não suscita maiores indagações. Mesmo no momento em que delitos são praticados à distância e envolvem sítios de jurisdições diversas a aparente complexidade decorrente apenas exige um pouco mais de atenção. No que respeita ao aparente conflito do presente mandamento com o disposto no artigo 70, do Código de Processo Penal — falado do lugar em que se consumar o delito —, prevalece o disposto no Código Penal, como já entendeu o Colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 34 e o Augusto Supremo Tribunal Federal. 35 Na hipótese de não consumação do ilícito, em decorrência de interrupção involuntária em território nacional, durante o transcorrer do iter — isto é, na tentativa —, o autor do fato será alcançado pela lei brasileira porquanto o mandamento se refere ao resultado que deveria produzir-se. Por outro lado, se tal interrupção verifica-se ainda em território estrangeiro, nenhum resultado produzindo no Brasil, o agente não estará sob os rigores da lei brasileira. Como bem assenta o Mestre Nelson Hungria, com a precisão de sempre, para que se aplique a nossa lei imprescindível é que “o crime haja tocado o território nacional”.36 Merece anotar-se, aqui, a observação do Professor Julio Fabbrini Mirabete, de ter sido o Legislador infeliz “ao não se referir como na lei anterior ao resultado parcial. É possível que a ação ocorra fora do território e que o agente não pretenda que o resultado se produza no país, mas neste ocorra parte do resultado. Como a lei se refere à ‘parte’ da ação ou da omissão, 33 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 4ª ed., Vol. I, Tomo I, p. 154. 34 RT 599/371 35 RTJ 114/10 36 Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, Rio de Janeiro, Forense, 1958, 4ª ed., Vol. I, Tomo I, pp. 156-157. mas não à ‘parte’ do resultado, e esta não possa ser confundida com ‘todo’ o resultado, o dispositivo não abrangeria essa hipótese. Entretanto, consulta melhor aos interesses nacionais a interpretação de que parte do resultado é também resultado, aplicando-se a lei brasileira no caso de resultado parcial no Brasil.”37 Alfim é de observar-se que a regra do presente artigo 6º aplica- se aos casos de crimes complexos, mesmo que apenas o delito-meio tenha sua concretização no território nacional; igualmente nos ilícitos habituais, ou de natureza permanente ou, ainda, continuada, desde que algum dos seus elementos constitutivos tenha sido praticado nas mesmas condições espaciais. Já no que respeita aos crimes conexos, segundo a advertência do Professor Damásio de Jesus, “não tem aplicação a teoria da ubiqüidade, uma vez que não constituem um fato unitário (...) Assim, se um furto é cometido no estrangeiro, e a receptação, no Brasil, a competência nacional só abrange o segundo crime. Nestes termos, preceitua o art. 303 do Código de Bustamante: ‘Se se trata de delitos conexos em territórios de mais de um Estado contratante, só ficará subordinado à lei de cada um o que for cometido no território’”.38 Jurisprudência Lugar do Crime – Tentativa – Teoria da Umbiqüidade. “Competente a justiça da Itália para julgar o crime de tentativa de tráfico internacional, se era o lugar onde a ação deveria produzir o resultado — art. 6º, parte final, do Cód. Penal Brasileiro — mesmo que o crime já tenha sido punido na Suíça, eis que os momentos distintos de um fato único são considerados crimes distintos — art. 36, II, ‘a’, I, da Convenção única de Nova Iorque, de 1961, promulgadapelo Dec. 54.216, de 1964, e art. 79 da Lei 6.815, de 1980. É competente a justiça da Itália para julgar o crime de associação para o tráfico de entorpecentes. Não é necessário que o Estado requerente encaminhe o conjunto probatório para viabilizar o deferimento do pedido de extradição, bastando serem aplicáveis ao extraditando as suas leis penais e estar a prisão autorizada por autoridade competente, art. 78, I e II, da Lei 6.815, de 1980. De resto, o extraditando confessou o crime. Os tipos penais de tráfico e de associação para o tráfico — arts. 12 e 14 da Lei dos Tóxicos — são autônomos, têm diferentes pressupostos e podem ser punidos em concurso material.”39 Extraterritorialidade Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I – os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 37 Júlio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Atlas, 8ª ed., 1994, vol. I, p. 76 38 Damásio Evangelista de Jesus, Direito Penal, São Paulo, Saraiva, 18ª ed., 1994, 1º vol., p. 113. 39 STF, Pleno, v. u., publ. em 4/set/92 – Extr 544-8 – Rel. Min. Paulo Brossard — COAD 60863 d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II – os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiros; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercante ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Notícia — A Lei nº 7.209/84 aproveita, para o presente preceito, o texto do artigo 5º da primitiva Parte Geral do CP, retrabalhando-o por inteiro e onde reúne as alíneas b e c, na primeira; renomeia a d, como c; e acrescenta uma inusitada letra d; tudo, no inciso I; no item II, acrescenta a alínea c. Tema — No que respeita aos crimes cometidos no estrangeiro, por — ou contra — brasileiros, o nosso Diploma Penal adota o princípio da extraterritorialidade. Em alguns casos, os descritos no inciso I, a extraterritorialidade é incondicionada. Em outros, ela é condicionada às hipóteses do item II. Dentre as incondicionadas, decorrem do princípio da defesa as descritas nas alíneas a, b e c; e, do princípio da justiça universal, a contida na letra d. Nos casos de extraterritorialidade condicionada (inciso II), o embasamento encontra-se nos princípios da justiça universal (alínea a), da nacionalidade (letra b), da representação (letra c). Importante anotar que a efetivação da extraterritorialidade condicionada depende do preenchimento dos requisitos elencados nas alíneas a a e, do § 2º. Mais: em se tratando da hipótese do § 3º, exige-se, ainda, as condições das letras a e b do referido parágrafo. Deve-se alembrar nesta passagem que entre nós prevalece o princípio da não-extradição em relação ao brasileiro nato. Tal princípio aplica-se igualmente ao brasileiro naturalizado, exceto na hipótese de cometimento de crime comum cuja prática tenha ocorrido anteriormente à naturalização, bem como no caso de envolvimento com tráfico ilícito de drogas não permitidas. Esse comando encontra-se estabelecido no inciso LI do artigo 5º da Constituição Federal. Em sede de Direito Interestatal é importante anotar que o Estado brasileiro encontra-se submetido ao Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, por força do parágrafo 4º do artigo 5º da Carta Política, acrescentamento advindo da Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004. Jurisprudência Extradição – Critérios Para Concessão. “Demonstrada a legalidade do pedido, à luz da lei extradicional brasileira, único padrão de análise das demandas apoiadas em garantia de reciprocidade, encontrando o delito atribuído ao extraditando correspondente na legislação penal pátria e não estando extinta a punibilidade, é de ser deferida a extradição.”40 Extradição – Fato não Considerado Ilícito no Brasil. “Não sendo o fato considerado crime no Brasil, não obstante o ser pelas leis do Estado requerente, falta pressuposto legal para que o Judiciário brasileiro, pelo órgão competente, autorize a extradição.”41 Tráfico de Tóxico. “A concordância do extraditando não justifica seja suprimido o controle de legalidade do pedido, regido por normas de ordem pública. O extraditando, nacional da República requerente, foi processado por introdução e venda na Alemanha e na Suíça de cocaína, remetida do Brasil, no período compreendido entre agosto de 1991 e maio de 1992, o que legitima, pela proximidade cronológica e natureza do delito, a presunção de inocorrência da prescrição, admitida pela jurisprudência e necessária, na hipótese, em razão da falta de juntada do texto legal pertinente. Firma-se, pelo princípio da ubiqüidade, adotada naquela República, a competência territorial de sua Justiça, quanto ao tráfico que resultou na venda de droga em Berlim e Karlsruhe, bem como em Berna, em virtude, nesse último caso, de a introdução na Suíça ter ocorrido a partir da Alemanha. A competência extraterritorial, quanto ao tráfico envolvendo apenas o Brasil e a Suíça, é de ser reconhecida, considerando não apenas o princípio da justiça universal (art. 7º, II, a, do CP), mas especialmente a conjugação de vários outros fatores, como a conexão entre os delitos, a impossibilidade de o acusado — de nacionalidade alemã — ser extraditado para responder por tais fatos perante a Justiça suíça, e a circunstância territorial do Brasil, diante da ausência de qualquer medida de persecução penal quanto aos fatos, cede à República requerente, onde, no curso do processo, foi decretada a prisão preventiva do extraditando. Requisitos configurados, inclusive no tocante à promessa de reciprocidade (art. 91 da Lei nº 6.815/80). Pedido de extradição deferido.”42 Extradição – Habeas Corpus – Língua Estrangeira. “É inquestionável o direito de súditos estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação de habeas corpus, eis que esse remédio constitucional — por qualificar-se como verdadeira ação popular — pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente da condição jurídica resultante de sua origem nacional. A petição com que impetrado o habeas corpus deve ser redigida em português, sob pena de não-conhecimento do writ constitucional (CPC, art. 156, c/c CPP, art. 3º), eis que o conteúdo 40 STF, Pleno, v. u., em 28/mai/80 – Extr. 374-7 – Rel. Min. Soares Muñoz — RT555/455 41 STF, Pleno, em 11/nov/82 – Extr. 392-5 – Rel. Min. Clóvis Ramalhete — RT 564/396. 42 STF, Pleno, publ. em 18/mar/94 – Extr 595-2 – Rel. Min. Ilmar Galvão — RJ 199/134. dessa peça processual deve ser acessível a todos, sendo irrelevante, para esse efeito, que o juiz da causa conheça, eventualmente, o idioma estrangeiro utilizado pelo impetrante. A imprescindibilidade do uso do idioma nacional nos atos processuais, além de corresponder a uma exigência que decorre de razões vinculadas à própria soberania nacional, constitui projeção concretizadora da norma inscrita no art. 13, caput, da Carta Federal, que proclama ser a língua portuguesa ‘o idioma oficial da República Federativa do Brasil'. Não há como admitir o processamento da ação de habeas corpus se o impetrante deixa de atribuir à autoridade apontada como coatora a prática de ato concreto que evidencie a ocorrência de um específico comportamento abusivo ou revestido de ilegalidade. O exercício da clemência soberana do Estado não se estende, em nosso direito positivo, aos processos de extradição, eis que o objeto da indulgentia principis restringe-se, exclusivamente, ao plano dos ilícitos penais sujeitos à competência jurisdicional do Estado brasileiro. O Presidente da República — que constitui, nas situações referidas no art. 89 do Estatuto do Estrangeiro, o único árbitro da conveniência e oportunidade da entrega do extraditando ao Estado requerente — não pode ser constrangido a abster-se do exercício dessa prerrogativa institucional que se acha sujeita ao domínio específico de suas funções como Chefe de Estado.”43 Extradição – Conflito Entre a Lei e o Tratado. “Na colisão entre a lei e o tratado prevalece este, porque contém normas específicas. O prazo de 60 dias fixado no Tratado de Extradição Brasil-Estados Unidos, cláusula VIII, conta-se do dia da prisão preventiva ao em que foi apresentado o pedido formal da extradição. A detenção anterior, para outros fins, não é computada.”44 Pena cumprida no estrangeiro. Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Notícia — O artigo 8º, oriundo da Lei nº 7.209/84, repete integralmente o texto contido no artigo 6º do Decreto-Lei nº 2.848/40. Tema — O mandamento presente estabelece dois critérios a observar no que respeita à pena aplicada no exterior: quantitativo e qualitativo. Se qualitativamente idêntica à sanção aplicada no Brasil será ela abatida obrigatoriamente; se diversa quanto à qualidade, o abatimento em quantidade fica ao prudente critério do julgador. Como se vê inexiste dificuldade na sua aplicação. Eficácia de sentença estrangeira Art. 9º A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: I – obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II – sujeitá-lo à medida de segurança. Parágrafo único. A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 43 STF, Pleno – HC 72.391-8 - Rel. Min. Celso de Mello — DJU 17/mar/95 44 STF, Pleno, julg. em 18/mar/81 – HC 58.731-5 – DF – Rel. Min. Soares Muñoz — RT 554/434 b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Notícia — A Lei nº 7.209/84 renumerou, como 9º, o artigo 7º do Decreto-Lei nº 2.848/40, alterando-lhe o inciso II, em que suprime a referência às penas accessórias. Tema — Considerando a soberania nacional, as leis e as sentenças estrangeiras, em princípio, não têm exeqüibilidade em nosso País. Em casos especiais, contudo, a execução de determinadas decisões judiciais alienígenas podem produzir alguns efeitos entre nós, quando houver previsão legal, como no caso do presente mandamento. Para tanto, segundo inteligência do artigo 105, inciso I, alínea i, da Constituição Federal, a competência para homologação da sentença estrangeira é do Superior Tribunal de Justiça. A teor dos artigos 159 e 1.525, do Código Civil, bem como dos artigos 63 e 64, do Código de Processo Penal, o autor de delito, mesmo cometido em território estrangeiro — desde que responsabilizado criminalmente e repercutindo o fato sobre interesses localizados no Brasil — fica obrigado a reparar o dano pelas regras jurídicas nossas, caso em que a sentença correspondente deverá ser devidamente homologada a partir de requerimento do interessado. É de lembrar, aqui, a observação de Celso Delmanto, no sentido de que “Embora não se trate, propriamente, de conseqüência de sentença penal condenatória estrangeira, esta pode vir a ter efeitos colaterais, especialmente previstos no CP: a. gerar reincidência (art. 63); b. pressuposto de extraterritorialidade condicionada (art. 7º, II, § 2º, d e e). Para tais decorrências, não é necessária a homologação, bastando a prova legal da existência da condenação estrangeira.”45 Contagem de prazo Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam- se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Notícia — Através da Lei nº 7.209/84, passa a 10 o mandamento 8º, da anterior Parte Geral do Código Penal, sem qualquer alteração redacional. Tema — Prazo é o lapso compreendido entre dois pontos na linha do tempo, um inicial e um final. Aparentemente existiria contradição entre a prescrição inicial deste preceito e a do § 1º, do artigo 798, do Código de Processo Penal. Ocorre, entretanto, que o Código Penal está dirigido para o direito substantivo, aplicando-se à contagem da pena e beneficiando, assim, o condenado com a contagem de um dia (o inicial). O mandamento adjetivo penal diz respeito, tão-somente, à contagem dos prazos processuais. 45 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. (atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 15. Ressalte-se, ademais, que para a contagem de prazos é utilizado o calendário gregoriano, isto é, o comum, de forma que os meses e anos terão contados os seus dias de forma real quanto aos números deles. Observe-se que para cada figura delituosa corresponde uma pena e que, regra geral, diz respeito a um período de tempo (prazo) a ser cumprido em reclusão, detenção ou prisão simples. Ressalte-se que os prazos de cumprimento de pena são sempre inteiros, desprezando-se as frações de dias, forte no artigo 11 do Código Penal. Vejamos um exemplo envolvendo contagem de prazo duma pena de 6 anos, 8 meses e 20 dias. dias meses anos A Pena 20 8 6 B Início cumprimento 15 10 2007 C Cálculo 1 (soma A + B) 35 18 2013 D Cálculo 2 (transformação dia/mês/ano) 35 (- 30dd [=1 mês]) = 5 18 + 1 (- 12 [=1 ano]) = 7 2013 + 1 = 2014 E Cálculo 3 (dedução dia inicial) 5 – 1 [dia inicial] = 4 F Final cumprimento 4 7 2014 Jurisprudência Prazo – Direito Material – Contagem. “Ao contrário do que se dá com os prazos processuais, na contagem dos previstos pelo Código Penal, o próprio dia do começo inclui-se no cálculo. Tal forma de contagem aplica-se a todos os prazos da lei material, tais como os de duração das penas, do sursis, do livramento condicional, da prescrição, da decadência, etc.”46 Prazo Prescricional – Contagem. “A contagem dos prazos prescricionais, em matéria penal, obedece àregra estipulada no art. 10 do CP, que manda incluir no seu cômputo o dia inicial do lapso temporal prescritivo.”47 Prazo – Forma de Contagem. “Considera-se mês o período de tempo contado do dia do início ao dia correspondente ao mês seguinte e não o período sucessivo de 30 dias completos. O juiz, tendo de condenar a um mês ou a um ano, não pode dizer, substitutivamente, 30 dias ou 365 dias.”48 Frações não computáveis da pena Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. 46 TJSP, Rel. Des. Hélio Arruda — RT 612/297. 47 TRF da 1ª R, 4ª T, publ. em 13/out/94 – RCrim. 94.01.02687-4 – DF – Rel. Juiz Nelson Gomes da Silva – RJ 208/135. 48 TAGB, Rel. Juiz Jorge Alberto Romeiro — RT 465/371. Notícia — A Lei nº 7.209/84 albergou o artigo 9º da anterior Parte Geral do Código Penal, passando ele a ser numerado como 11. Aí se fez incluir as novas penas restritivas e se substitui a expressão frações de centavos por frações de cruzeiros. A instabilidade da nossa moeda, desde então, já nos levou a conhecer o cruzado (Decreto-Lei nº 2.283, de 27/fev/86), o cruzado novo (Medida Provisória nº 32/89 e Lei nº 7.730, de 31/jan/89), novamente o cruzeiro (Medida Provisória nº 168/90 e Lei nº 8.024, de 12/abr/90), o cruzeiro real (Medida Provisória nº 336/93 e Lei nº 8.697, de 28/ago/93) e, finalmente, o real (Medida Provisória nº 542/94 e Lei nº 8.880, de 27/mai/94). Tema — O dispositivo não oferece maiores dificuldades quanto à sua aplicação dado à clareza da redação. Na aplicação de penas privativas de liberdade e restritivas de direitos contam-se as frações de ano e mês, desprezando-se, exclusivamente, as frações de dias, vale dizer, relativas a horas. Desta forma, verbi gratia, uma pena jamais poderá ser de 20 dias e 8 horas. Será, simplesmente, 20 dias. No que respeita à pena de multa, é ela aplicada em dias-multa, variando o valor de cada um deles entre o mínimo de um trigésimo e o máximo de cinco vezes o piso salarial mínimo vigente no País, na conformidade com o § 1º, do artigo 49 do CP. Aí, desprezam-se as frações, vale dizer, os centavos de real. Jurisprudência Pena de Multa – Frações. “Não se computam na pena de multa as frações de dia-multa, aplicando-se à mesma, por analogia in bonam partem, o princípio do art. 11 do CP, que manda serem desprezadas as frações de dia das penas privativas de liberdade.”49 Pena de Multa – Extinção. “Extingue-se a pena de multa por impossibilidade jurídica e fática do pagamento, quando toda a reprimenda é uma fração de cruzeiro, não se podendo executar o que a lei expressamente manda desprezar (art. 11 do CP), e também, porque nem mesmo existe dinheiro equiparável à sua irrisoriedade.50 Pena de Multa – Valor Irrisório. “A pena de multa cujo valor, ainda que irrisório, encontra expressão em moeda corrente não está incluída entre as causas de extinção da punibilidade elencadas no art. 107 do CP e, ainda que insignificante o montante, presente o caráter aflitivo, sendo inaplicável o art. 11 do referido diploma.”51 Pena de Multa – Pequeno Valor. “Pequeno valor, mas ainda assim não alcançado pela regra do art. 11 do CP. Decisão que a considera extinta, cassada. Princípio de que de minimis non curat praetor inaplicável à espécie.”52 Legislação especial 49 TACrim/SP, Rel. Haroldo Luz — RT 702/362. 50 TJSP, 3º CCrim, julg., em 14/out/91 – Ag 104.243-3/8 – Rel. Des. Carlos Bueno — RT 678/314 51 TJSP, 3ª CFer, julg. em 9/jan/91 – Ag 96.920-3 – Rel. Des. Carlos Bueno — RT 671/313 52 TJSP, 5ª CCrim, julg. em 27/fev/91 – Ag 97.460-3 – Rel. Des. Dirceu de Mello — RT 670/284. Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. Notícia — A Lei nº 7.209/84 elegeu, como 12, o artigo 10 do Decreto-Lei nº 2.848/40. A única alteração redacional diz respeito ao verbo, porquanto se substitui dispõe por dispuser, sem qualquer repercussão prática. Tema — Além do Código Penal várias outras leis cuidam da área criminal, são as chamadas leis extravagantes. O Codex alberga, com o presente mandamento, o princípio da especialização, ou seja, a lei especial, ao tratar diferentemente uma matéria, sempre derroga as disposições genéricas anteriormente existentes, afinal a lei em questão além de específica é também mais moderna. Aplica-se, por exemplo, o dispositivo em comento, quando se trata de regras especiais contidas no Decreto-Lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais), Lei nº 5.478/68 (dispondo sobre alimentos), Lei nº 6.368/76 (cuidando da prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica), Decreto-Lei nº 1.001/69 (Código Penal Militar), Decreto-Lei nº 201/67 (tratando dos crimes de responsabilidade praticados por Prefeitos), Lei nº 7.492/86 (abordando os crimes perpetrados contra o sistema financeiro nacional), Lei 8.078/90 (cuidando dos crimes praticados em desfavor de crianças e adolescentes), e assim por diante. Adverte o eminente Celso Delmanto que “Além das regras contidas na parte geral do CP, nele também há regras inseridas na parte especial, como o conceito de funcionário público enunciado pelo art. 327 do CP. Por isso, se for necessário encontrar o conceito de funcionário público em alguma lei especial, a regra do art. 327 do CP será utilizada, salvo se a norma especial dispuser diferentemente.”53 Jurisprudência Crime Falimentar – Interdição Para o Exercício do Comércio. “A interdição para o exercício do comércio opera ex vi legis — art. 195 da Lei de Falências — e até mesmo independentemente de menção expressa, decorrente que é da eficácia mesma da sentença. Subsiste no novo sistema penal brasileiro, pois, além de mero efeito da sentença, deve-se atentar para o princípio insculpido no art., 12 do Código Penal, segundo o qual sua aplicação aos fatos incriminados por lei especial depende de esta não dispor de modo diverso.”54 Falência – Interdição Para o Exercício do Comércio. “Perante a Constituição vigente, a interdição para o exercício do comércio só pode ser pena, não mero efeito automático da condenação (art. 5º, XLVI, e). Todavia, havendo previsão legal (princípio da reserva legal) e tendo sido aplicada expressamente em sentença judicial (observância do devido processo legal), não ocorre ilegalidade ou 53 Celso Delmanto, Código Penal Comentado, Rio de Janeiro, Renovar, 3ª ed. (atualizada e ampliada por Roberto Delmanto), 1991, p. 17. 54 TJSP, 6ª CCrim, v. u. – ApCrim 124931-3 – Rel. Des. Luiz Betanho — COAD 65059. inconstitucionalidade, pois a lei especial podia prever tal pena e não foi intuito da reforma penal revogar a legislação especial, como se infere do art. 12 do CP.”55 Abuso de Autoridade – Pretensão Punitiva. Penas Privativas de Liberdade e Restritiva de Direitos – Multa – Prescrição. “Por não estabelecer a L. 4.898/65 prazo específico para prescrição da pretensão punitiva nos delitos de abuso de autoridade, incidem sobre esses crimes as normas gerais do CP, conforme dispõe o art. 12 do mesmo diploma legal. O prazo para decretação da prescrição da pretensão punitiva, antes do trânsito em julgado da sentença, é regulado pelo máximo da pena privativa de liberdade. Sendo a reprimenda fixada em seis meses, portanto inferior a um ano, opera-se a prescrição em dois anos. Prescrita a pena mais grave (privativa deliberdade), também estarão prescritas as reprimendas mais leves (restritiva de direito e multa), por serem estas acessórias, ainda que legalmente possam ser aplicadas de maneira autônoma.”56 Arrependimento Posterior – Código Penal Militar – Princípio da Especialidade. “O arrependimento posterior (CP, art. 16) não está previsto na legislação penal militar. Os benefícios previstos no CPM (arts. 72, III, b, e 240, § 2º) não caracterizam o arrependimento posterior a que se refere o art. 16 do CP. O arrependimento posterior (CP, art. 16) é causa de diminuição da pena e não mera atenuante.”57 Crime de Imprensa – Prescrição – Aplicação das Regras Gerais. “Aplica- se nos casos de delitos de imprensa a regra do Código Penal que define causas interruptivas da prescrição. (Art. 12 e Art. 117, I do CP).”58 Crime Eleitoral – Prescrição Penal – Aplicação Subsidiária do CP. “O regime jurídico da prescrição penal em tema de delitos eleitorais submete-se aos princípios e às normas gerais constantes do CP. Sendo omisso o Código Eleitoral a respeito da disciplina jurídica da prescrição penal, tem esta, na própria lei penal comum, o seu específico estatuto de regência.”59 Tóxico – Substituição de Pena Privativa de Liberdade Por Pena de Multa – Admissibilidade – Impossibilidade de Cumulação. “Incluída a multa substitutiva entre os preceitos gerais do Código Penal, é mais do que evidente que tal instituto, desde que não contrariado expressamente em qualquer lei penal, se estende supletivamente a todo Direito Penal não codificado. É por isso que tem inteiro cabimento à espécie do preceito secundário do art. 16 da Lei 6.368/76 (posse de entorpecente), porque a pena de seis meses, sendo aplicada, e o réu reunindo as condições de natureza subjetiva estabelecidas nos incs. II e III do art. 44 do CP, deve ser favorecido com tal hipótese. Neste caso, impossibilitada a cumulação da multa substitutiva com a pena pecuniária cominada no tipo 55 STJ, 5ª T, publ. em 2/out/89 – REsp 458 – SP – Rel. Min. Assis Toledo – RJ 147/108 — Síntese 500044. 56 TJMG, 3ª CCrim, publ. em 9/set/95 – ApCrim 33.379/9 – Rel. Des. Pinheiro Lago — Síntese 500033. 57 STF, 2ª T, publ. em 30/jun/95 – HC 71.782-9 – RJ – Rel. Min. Neri da Silveira — Síntese 500034. 58 STJ, 6ª T, publ. em 6/ago/90 – REsp 2.263 – SP – Rel. Min. Dias Trindade — RJ 157/151. 59 STF, Pleno, publ. em 16/set/94 – Inq 794-3 – DF – Rel. Min. Celso de Mello — RJ 206/121. especial, pois isto significaria evidente contradição com a própria idéia de suficiência e evidente exagero punitivo.”60 Tóxico – Substituição da Pena Privativa de Liberdade pela Pena de Multa – Admissibilidade. “A substituição da pena privativa pela multa imposta é incontestável, não só porque a lei não objeta, como também porque, ao contrário do que se pretende não se pode elevar a simples lei extravagante que é a Lei 6.368/76 à categoria da lei especial, só para impor situação diversa da prevista no art. 12 do CP, que por sinal, não conflita com a mencionada lei.” 61 Tóxico – Substituição de Pena Privativa de liberdade Pela de Multa – Inadmissibilidade. “Tratando-se de crimes definidos na Lei 6.368/76 (entorpecentes), inaplicável a substituição da pena privativa de liberdade pela multa (art. 60, § 2º, do CP) já que a lei de tóxicos é lei especial, e contém sistema próprio de penas.”62 Código Florestal – Pena de Multa – Parâmetro Para Cálculo. “As penas de multa estabelecidas pelo Código Florestal são calculadas tendo como parâmetro o valor do salário-mínimo, sistema que não sofreu modificação, atentando-se para os termos dos artigos 2º da Lei no 7.209/84 e 12 do Código Penal. A norma especial prevalece sobre a geral pelo seu próprio conteúdo. Portanto, não tem incidência o sistema de dias-multa, mas o de salário-mínimo.”63 Súmula 171 do STJ: “Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativas de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.” 60 TJSP, 6ª CCrim, julg. em 29/ago/90 – ApCrim 77.231-3 – Rel. Des. Márcio Bártoli — RT 663/277. 61 TJSP, 1ª CCrim, v. u. em 28/set/92 – ApCrim 116.907-3/1 – Rel. Des. Fortes Barbosa — RT 692/255. 62 TJSP, 2ª CCrim, julg. em 19/nov/90 – ApCrim 85.423-3 – Rel. Des. Weiss de Andrade — RT 670/277. 63 STJ, 5ª T – REsp 58.322-5 – PR – Rel. Min. Jesus Costa Lima — DJU 8/maio/95.
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