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Aula 002 – Direito Processual Civil I correto jurisdição ação processo

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AULA 002 – DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 
 
JURISDIÇÃO, AÇÃO E PROCESSO: A TRILOGIA ESTRUTURAL DO 
DIREITO PROCESSUAL 
 
Jurisdição, ação e processo são institutos que se interligam para 
formar o que em doutrina se denomina “trilogia estrutural do processo”, nomenclatura 
desenvolvida pelo argentino Ramiro Podetti, segundo o qual o estudo do processo devia 
estar fundamento em uma consideração unitária e subordinada desses conceitos, 
unitária “porque ninguno delos três puede tener existência independiente” e 
subordinada, porque a ideia de cada um desses termos constitui pressuposto lógico do 
entendimento que se deva formar acerca do outro.1 
 
 
 
 
 
 
1. O DIREITO DE AÇÃO E DEFESA 
 
Segundo Dinamarco2 o direito de ação pode ser definido como “o 
direito de obter do Estado-Juiz um pronunciamento a respeito de uma pretensão trazida 
a juízo (decisão de mérito), independentemente de esse pronunciamento ser favorável 
ou desfavorável àquele que o tiver pedido. Tal é a teoria abstrata da ação, que surgiu 
na Alemanha e Áustria na segunda metade do século XIX e sucedeu a teoria 
imamentista e a teoria da ação como direito concreto.” 
Adotando o Código de Processo Civil a teoria abstrata, se pode dizer 
que o direito de ação está ligado ao direito de obter um pronunciamento jurisdicional de 
 
1 PODETTI, Ramiro. Teoria y Tecnica del Proceso Civil Y Trilogia Estructuralde la Ciência del Proceso Civil.Buenos Aires: Ediar 
Soc. Anón. Editores, 1963,p. 338/339, nº 2 
2 DINAMARCO, Cândido Rangel, LOPES, Bruno Carilho, Teoria geral do Novo Processo Civil, Malheiros, 2017, p. 115 
 
 
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mérito, portanto não se trata de um direito absoluto posto que submetido a determinadas 
exigências, tratadas como condições da ação. Novamente na lição de Dinamarco3: 
Em resumo. Na teoria de Liebman, que o novo 
Código de Processo Civil adota, o direito de ação é direito a 
obter o pronunciamento do juiz sobre uma pretensão, ou sobre 
o mérito, ainda quando o autor não tenha razão no plano do 
direito material. Estando presentes as duas condições da ação 
(interesse de agir e legitimidade) o juiz pronuncia sim uma 
sentença de mérito mas julga a causa contrariamente aos 
interesses do autor (improcedência da demanda). Quando uma 
das condições faltar o juiz nega-se a julgar a pretensão do 
autor, porque nesse caso ele não terá o direito de ação. O 
interesse de agir e a legitimidade ad causam incluem-se entre 
os pressupostos de admissibilidade do julgamento do mérito 
(infra, n. 126). Segundo está no art. 485, inc. VI, do Código de 
Processo Civil, "o juiz não resolverá o mérito quando( ... ) 
verificar a ausência de legitimidade ou de interesse processual" 
No Código de Processo Civil de 1973 eram três as condições da ação: 
a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade ad causam. 
Contudo, desde a admissibilidade do divórcio na Itália o próprio Liebmam deixou de 
considerar a possibilidade jurídica do pedido como condição da ação processual o que 
restou materializado pelo atual Código de Processo Civil que não mais o prevê como 
condição da ação (CPC, art. 485, VI), de forma que eventual vedação abstrata do 
ordenamento jurídico à pretensão da parte deverá ser analisada como mérito4. 
 
3 Op cit. P. 115/116 
4 APELAÇÃO. DIREITO DAS SUCESSÕES. SENTENÇA QUE EXTINGUIU O PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO 
POR AUSÊNCIA DE POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. VIGÊNCIA DO ANTIGO CPC. O antigo Código de Processo 
estipulava três condições da ação: possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade da parte. Consagrava-se a 
tese no sentido que a ausência de qualquer uma dessas condições acarretava julgamento do feito sem exame de mérito. Já o 
Novo Código de Processo Civil excluiu a possibilidade jurídica do pedido do rol das condições da ação, de maneira que o 
reconhecimento da sua inexistência gera sentença de mérito (art. 485, IV, NCPC). Não se olvida que a sentença foi proferida 
ainda sob a vigência do antigo CPC, e este é quem a regulamenta e confere fundamento de validade pois o processo civil é pautado 
pelo princípio do tempus regit actum. Então, é processualmente válida a sentença extintiva do feito sem julgamento do mérito por 
falta de possibilidade de agir, pois proferida antes do NCPC. Mesmo assim, e adentrando no ponto deste recurso, as postulações da 
apelante (tanto na inicial quanto no recurso) devem ser veiculadas em instrumentos próprios dentro do processo de inventário (pois 
são pedidos que envolvem o processo de sucessão). Nada foi comprovado neste feito a... ensejar a anulação pretendida. Outrossim, 
não há falar em gratuidade de justiça, pois ela foi negada na origem, ocorrendo a preclusão. Sem mencionar que não há demonstração 
 
 
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Exemplificando: O §1º do art. 42 do ECA (Lei 8.069/90) afirma que 
não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando, ou seja, afirma que é 
juridicamente impossível o pedido de adoção formulado pelos avós, no CPC revogado, 
seria caso de extinção sem julgamento do mérito por impossibilidade jurídica do pedido, 
no atual, seria caso de improcedência do pedido de adoção. 
São, no atual CPC duas as condições da ação: 
 
 Interesse de agir: 
 
Segundo Humberto Theodoro Júnior5 o interesse de agir “é 
instrumental e secundário, surge da necessidade de obter por meio do processo a 
proteção ao interesse substancial. Entende-se, dessa maneira, que há interesse 
processual “se a parte sofre um prejuízo, não propondo a demanda, e daí resulta que, 
para evitar esse prejuízo, necessita exatamente da intervenção dos órgãos 
jurisdicionais”. 
 
O interesse de agir se fundamenta no trinômio: utilidade – necessidade 
– adequação 
 
 
 
 
 
 
A utilidade estará presente sempre que o provimento jurisdicional seja 
capaz de promover efetivamente um resultado útil ao demandante “operando uma 
 
de que o cenário econômico da apelante tenha sido alterado. APELO IMPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70068621036, 
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 13/07/2017) 
5 JÚNIOR, Humberto Theodoro, Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, Ed. Forense, 56ª ed. 2016, p 226 
 
 
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melhora em sua situação de vida6” se a tutela jurisdicional não representa qualquer 
resultado útil ao demandante não há interesse de agir7. 
A necessidade do provimento jurisdicional consiste naquilo que torna 
necessária a intervenção do Estado-Juiz para a resolução do conflito “sob pena de, se não 
o fizermos, vermo-nos na contingência de não podermos ter satisfeita uma pretensão 
(o direito de que nos afirmamos titulares)”8. Por exemplo, carece de interesse jurídico a 
parte que postula judicialmente a concessão de benefício previdenciário sem que tenha 
postulado administrativamente a proteção previdenciária. De acordo com julgado do 
Supremo Tribunal Federal, "a ameaça ou lesão a direito aptas a ensejarem a 
necessidade de manifestação judiciária do estado só se caracterizam após o prévio 
requerimento administrativo, o qual não se confunde com o esgotamento das 
instâncias administrativas, consoante firmado pelo plenário da corte no julgamento 
de repercussão geralreconhecida nos autos do re 631.240, Rel. Min. Roberto 
Barroso." (STF Re: 839.353 MA, Relator: Min. Luiz Fux, data de julgamento: 
04/02/2015, data de publicação: DJE-026 divulg. 06/02/2015 e public. 09/02/2015). 
Já a adequação consiste na adaptação da pretensão posta em juízo a 
uma das múltiplas espécies de provimentos e tutelas previstos na legislação processual. 
Por exemplo para o ajuizamento de um mandado de segurança9 (Lei 12.016/09) se 
 
6 Dinamarco, op. Cit. P. 117 
7 APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. VACÂNCIA DO CARGO DE VEREADOR. CONVOCAÇÃO DE 
SUPLENTE. ALEGAÇÃO DE ILEGALIDADE DO ATO. DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA. PRETERIÇÃO. LEGISLATURA DE 
2.013 A 2.016 FINDA. PERDA SUPERVENIENTE DO INTERESSE DE AGIR. AUSÊNCIA DE UTILIDADE DO PROCESSO. 
DENEGAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA. - O interesse de agir corresponde à necessidade, à utilidade e à adequação do 
processo ajuizado para fins de proteção e resguardo da pretensão deduzida judicialmente. - Verificando-se que o suposto direito líquido 
e certo do impetrante se vinculava à já finda legislatura do ano de 2.013/2.016, não mais se afigura útil o presente mandado de 
segurança, que objetivava a sua posse em cargo vago de vereador do Município de Salinas, para o qual concorreu nas eleições do ano 
de 2.012. - Perda superveniente do interesse de agir. Denegação do mandado de segurança. Art. 6º, § 5º, da Lei nº 12.016/09 c/c art. 
485, inciso VI, do Código de Processo Civil de 2.015. (TJMG, ProcessoAC 10570160025682001 MG Orgão Julgador Câmaras Cíveis 
/ 4ª CÂMARA CÍVEL Publicação 23/05/2017 Julgamento 18 de Maio de 2017 Relator Ana Paula Caixeta) 
8 Arruda Alvim, apud, JÚNIOR, HUMBERTO THEODORO , p. 224 
9 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. 
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. PORTARIA 483, DE 20/4/2016, DO MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA. 
DECLARAÇÃO DA TERRA INDÍGENA MURUTINGA/TRACAJÁ COMO DE POSSE PERMANENTE DO GRUPO 
INDÍGENA MURA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. 1. Não se mostra 
adequada a via do mandado de segurança para examinar o alegado direito líquido e certo à suspensão dos efeitos da portaria do 
Ministro de Estado da Justiça, na qual a Terra Indígena Murutinga/Tracajá foi declarada de posse permanente do grupo indígena Mura. 
2. Necessária dilação probatória para fins de verificação da exata situação jurídica de cada uma das propriedades dos filiados do 
sindicato impetrante, de forma seja possível atestar que as áreas em questão foram ocupadas pacificamente por não indígenas em datas 
anteriores à promulgação da Constituição Federal de 1988. 3. Na mesma linha de consideração, citam-se os precedentes em casos 
análogos envolvendo demarcação de terra indígena: (STJ) AgInt no MS 22.808/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, DJe 
14/02/2017; MS 15.822/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, DJe 01/02/2013; MS 14.447/DF, Rel. Min. Teori Albino 
Zavascki, Primeira Seção, DJe 30/03/2010; (STF) MS 31240 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 09-09-2014; MS 31245 
AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 04-09-2015. 4. Ademais, conforme bem observado pela União, o mandado de 
segurança é via incabível para tutelar a efetividade de eventual ação de conhecimento a ser ajuizada na primeira instância da Justiça 
Federal. 5. Agravo interno não provido.(STJ, AgInt no MS 22.800/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA 
SEÇÃO, julgado em 24/05/2017, DJe 30/05/2017) 
 
 
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demanda a alegação de um “direito líquido e certo” para a impetração, a execução de 
título executivo extrajudicial demanda que o autor apresente um documento que possui a 
qualidade de “título executivo” (CPC, art. 784). 
 
 Legitimidade ad causam 
 
A legitimidade ad causam consiste é a titularidade ativa e passiva da 
ação, como afirmava Liebman, ou como dizia Buzaid, é a pertinência subjetiva para a 
ação. Segundo Arruda Alvim10, “estará legitimado o autor quando for o possível titular 
do direito pretendido, ao passo que a legitimidade do réu decorre do fato de ser ele a 
pessoa indicada, em sendo procedente a ação, a suportar os efeitos oriundos da 
sentença”. 
Essa relação de pertinência entre o demandante e o direito material deve 
ser analisada de acordo com a teoria da asserção (in statu assertionis) sob a assertiva 
lançada na inicial ou defesa, de modo que, se à luz destas estavam presentes as condições 
da ação diante das afirmações da parte, mas, no julgamento da ação se observa que estas 
afirmações não se concretizaram é caso de julgamento de improcedência e não de 
extinção sem o julgamento do mérito. Como lecionam Marinoni e Arenhart11: 
"(...) o fato é que as condições da ação, por 
dizerem respeito ao direito material fazem com que a 
afirmação da ausência de uma delas seja, na realidade, um caso 
de afirmação macroscópica de falta de amparo do autor 
perante o direito material. Ora, se no processo individual, 
exceto hipóteses excepcionais, o juiz afirma que o autor não tem 
legitimidade para a causa porque não é titular do direito 
material, ele está afirmando que o autor não tem direito 
material a ser postulado.") 
O STJ não destoa desse entendimento: 
 
10 Apud Humberto Theodoro, op. Cit. P. 228 
11 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo de Conhecimento. 5. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2006, p. 64 
 
 
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.(...) 2. Conforme entendimento desta Corte, as 
condições da ação, dentre as quais se insere a possibilidade jurídica 
do pedido e o interesse processual, devem ser verificadas pelo juiz 
à luz das alegações feitas pelo autor na inicial. Trata-se da aplicação 
da teoria da asserção. (...) (REsp n. 1.052.680⁄RS, Relatora 
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
27⁄9⁄2011, DJe 6⁄10⁄2011). 
Destaco que Candido Dinamarco e Bruno Lopes12 formulam 
substanciosa crítica a adoção da teoria do estado de asserção: 
“Bem analisada, porém, essa teoria sustenta 
uma arbitrária transformação de algo que de início seria uma 
condição para julgar o mérito e a partir de determinado 
momento seria motivo para julgar a demanda improcedente - 
com o julgamento do mérito, pois. Na realidade, porém, uma 
condição da ação é sempre uma condição da ação, ou seja, 
requisito para a existência do direito de ação, sendo arbitrária 
essa distinção que leva em conta o comportamento do autor, de 
modo que poderia este, dissimulando na petição inicial a 
verdadeira situação de fato, transformar uma questão 
preliminar em uma questão de mérito, como em uma milagrosa 
transformação da água em vinho.” 
Ausentes as condições do art. 485, VI do CPC, o direito de ação inexiste 
em dado caso concreto, sendo, portando, o demandante carente do direito de ação. A 
carência de ação é matéria de ordem pública e pode ser arguida a qualquer tempo e 
grau de jurisdição13, desde que respeitado o art. 9º do CPC, oportunizando-se à parte 
manifestação prévia sobre a questão. 
 
 
12 Op cit p. 119 
13 PROCESSUAL CIVIL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO Nº 3/STJ. OMISSÃO. EXISTÊNCIA. ILEGITIMIDADE ATIVA. 
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. SANEAMENTO DO VÍCIO NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. POSSIBILIDADE. 
PRECEDENTES. 1. A ausência de legitimidade ativa, por se tratar de uma das condições da ação, é matéria de ordem pública 
cognoscível a qualquer tempo e grau, sendo insuscetível de preclusão nas instâncias ordinárias. Precedentes do STJ. 2. Embargos de 
declaraçãoacolhidos, com efeitos infringentes. (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 608.253/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL 
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 21/06/2017) 
 
 
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 Elementos da ação 
 
Não se deve confundir as condições da ação, com os elementos da 
ação, que tem por finalidade a individualização da cada ação, evitando-se a sua repetição, 
o que tem grande relevância nos institutos da coisa julgada e da litispendência (CPC, art. 
337, §1º), pois somente se poderá considerar como repetida a ação em que houver a 
tríplice identidade (partes, pedido e causa de pedir) dos elementos da ação (CPC, art. 337, 
§2º), o que implica na extinção do processo sem resolução do mérito (CPC, art. 485, V). 
 
 
 
 
 
 
São elementos da ação: 
 
 Partes: 
São aqueles que participam da relação jurídica de direito processual, a 
regra é que sejam partes aqueles legitimados pela relação jurídica de direito material, 
contudo, é possível, em determinadas situações que aquele que não participa da relação 
jurídica de direito material seja legitimado para atuar como parte na relação jurídica de 
direito processual. A essa situação se dá o nome de legitimação extraordinária, e tem 
previsão no art. 18 do Código de Processo Civil14. 
São exemplos de legitimação extraordinária a atuação do Ministério 
Público, da Defensoria Pública, de associações e demais legitimados (Lei n.º 7.347/854, 
art. 5º) por meio de ação civil pública ou ação coletiva na defesa de interesses difusos 
coletivos e individuais homogêneos15, ou a impetração de mandado de segurança 
 
14 Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo 
ordenamento jurídico. Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir 
como assistente litisconsorcial 
15 Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título 
coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para 
efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por 
 
 
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coletivo (CF, art. 5º, LXX) por partido político com representação no Congresso 
Nacional, organização sindical ou entidade de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus 
membros ou associados, e, ainda, o ajuizamento por qualquer cidadão de ação popular 
(CF, art. 5º LXXIII e Lei 4.717/65) que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou 
de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e 
ao patrimônio histórico e cultural. 
Em todos esses casos a parte processual será distinta da parte material, 
de forma que atuam os legitimados postulando, em nome próprio, direito material alheio, 
ou seja, são partes processuais, sem serem partes materiais. 
 
 Pedido 
 
O pedido consiste na pretensão do autor, que é levada ao Estado-Juiz 
para que esse preste a tutela jurisdicional. Na lição de Humberto Theodoro16: “O pedido, 
como objeto da ação, equivale à lide, isto é, à matéria sobre a qual a sentença de mérito 
tem de atuar. É o bem jurídico pretendido pelo autor perante o réu. É também pedido, 
no aspecto processual, o tipo de prestação jurisdicional invocada (condenação, 
execução, declaração, cautela etc.).” 
O pedido pode ser dividido em dois: 
 
a) pedido imediato, que é a pretensão da tutela jurisdicional, é a 
pretensão dirigida ao Estado-Juiz para tira-lo do estado de inércia (CPC, art. 2º); 
b) Pedido mediato, que é o bem da vida que pretende a parte lhe seja 
outorgado pelo Estado-Juiz, é a pretensão material que busca ver satisfeita. 
Para fins de tríplice identidade (CPC, art. 337, §2º) é necessário que 
tanto o pedido mediato como imediato se repitam, assim, se, por exemplo, a parte repete 
sob novo veículo processual pretensão de direito material (pedido mediato) já exercida 
 
circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza 
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica 
base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. 
16 Ob cit, p. 242 
 
 
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anteriormente em outro veículo (pedido imediato), como é o caso do autor que, após 
extinção de execução de título executivo por reconhecimento da prescrição da pretensão 
executiva de um cheque (Lei 7.357/85, art. 59) ajuíza ação monitória (CPC, art. 700) com 
base no mesmo título. Nesse caso a pretensão material (cheque) é a mesma, mas o pedido 
imediato (tutela jurisdicional) é distinto17. 
É o pedido que limita o provimento que o Estado-Juiz pode 
entregar, em respeito ao princípio da congruência (ou adstrição) previsto no art. 492 do 
Código de Processo Civil18, assim não é permitido ao juiz conceder nada a mais (ultra 
petita) ou diferente do que foi pedido (extra petita). Deve ainda enfrentar o julgamento 
de todos os pedidos vertidos na exordial, ainda que os negue, sob pena de julgamento 
infra petita. 
O novo Código de Processo Civil, no art. 322, §2º, permite ao juiz a 
interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio 
da boa-fé, de forma que é possível que o magistrado conceda algo com base na 
interpretação de toda a petição inicial ou defesa. 
 
 Causa de pedir (causa petendi) 
 
A causa de pedir, segundo Alexandre Freitas Câmara “ é o conjunto de 
fatos em que se funda a pretensão deduzida em juízo pelo demandante. Observe-se que 
a causa de pedir é formada exclusivamente por fatos (já que o direito processual civil 
brasileiro adota, a respeito da causa de pedir, a chamada teoria da substanciação).” A 
causa de pedir pode ser remota ou próxima: 
 Causa de Pedir Remota é a descrição fática da situação que 
fundamenta a pretensão. 
 Causa de Pedir Próxima é a indicação direito invocado pela 
parte. 
 
17 Contratos bancários. Ações monitórias e ações de execução. Tramitação de demandas que têm por objeto os mesmos contratos. 
Litispendência não configurada. Pedidos diversos. Ausência da tríplice identidade. Extinção afastada. Recurso provido, com 
determinação. (TJSP, Processo APL 91066085420098260000 SP 9106608-54.2009.8.26.0000 Orgão Julgador12ª Câmara de Direito 
Privado Publicação 19/03/2013, Julgamento 13 de Março de 2013, Relator Tasso Duarte de Melo) 
18 Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou 
em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. 
 
 
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Com base justamente na teoria da substanciação, a causa de pedir é 
composta pelos fatos e fundamentos jurídicos (CPC, atr. 319, III). A princípio, bastaria à 
parte indicar os fatos, cabendo ao Estado-Juiz lhes dar a consequência jurídica, tendo vista 
o princípio do iura novit curia (o Juiz conheceo direito) e do brocardo da mihi factum, 
dabo tibi ius (me dá os fatos, e eu te darei o direito). Nesse sentido: 
CONVÊNIO COM O SUS. LEGITIMIDADE 
DO MUNICÍPIO. MATÉRIA NÃO ALEGADA NA PETIÇÃO 
INICIAL. TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO. 1. No direito 
brasileiro vige a teoria da substanciação, segundo a qual o julgador 
somente está vinculado aos fatos, podendo atribuir-lhes a 
qualificação jurídica adequada, aplicando-se os brocardos "iuri 
novit curia" e "mihi factum dabo tibi ius". 2. Não foge aos limites 
objetivos da lide a alegação de que o Município deve responder aos 
termos da demanda pois o atendimento médico ocorreu em hospital 
privado, porém conveniado ao SUS. 3. Agravo regimental 
desprovido. (STJ, AgRg no AREsp 183.305/RJ, Rel. Ministra 
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 
24/09/2013, DJe 30/09/2013) 
Assim, a fundamentação jurídica apresentada pelo autor não vincula o 
juiz, que poderá, desde de que não altere os fatos, aplicar fundamentação jurídica distinta 
das partes 
 
O DIREITO DE DEFESA 
 
Ao lado do direito de ação está o direito de defesa, que compreende o 
“conjunto de faculdades oferecidas ao réu para opor resistência à pretensão do autor.”19 
É por meio do direito de ação que autor delimita o objeto do processo, que salvo a hipótese 
de reconvenção (CPC, art. 343) ou pedido contraposto (ex art. 31 da Lei n. 9.099/1995), 
não é ampliado pela defesa, contudo, mesmo na defesa pede o réu a tutela jurisdicional 
para fins de que /seja reconhecida a improcedência do pedido. 
 
19 Dinamarco, ob. Cit. P. 119 
 
 
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A defesa é ao mesmo tempo direito (CF, art. 5º, LV) e ônus do réu, que 
se não for exercido implica da ocorrência da revelia se não for apresentada defesa alguma, 
hipótese em que incidirá o art. 344 do CPC: 
Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será 
considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de 
fato formuladas pelo autor. 
Além do ônus de apresentar defesa, possui o requerido o ônus da 
impugnação específica devendo na contestação, apresentar toda a matéria de defesa, 
expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor (CPC, art. 
336), manifestando-se precisamente sobre todas as alegações de fato constantes da 
petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas (CPC, art. 341), salvo se: I 
- não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver 
acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III - estiverem em 
contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. 
O parágrafo único do art. 341 ao afirmar que o ônus da impugnação 
especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador 
especial, permite que esses agentes do processo procedam a defesa do réu por meio de 
negativa geral, ou seja, controvertendo os fatos, sem impugnação específica. 
No processo, a defesa pode ser realizar sob duas formas: Defesa 
processual e defesa de mérito. 
As defesas processuais buscam impedir (peremptórias) ou retardar 
(dilatórias) o julgamento de mérito devendo ser alegadas como matéria preliminar, 
conforme o art. 337 do CPC20. Humberto Theodoro esclarece a diferença entre defesas 
processuais peremptórias e dilatórias: 
“São peremptórias as que, uma vez acolhidas, 
levam o processo à extinção, como a de inépcia da inicial, 
ilegitimidade de parte, litispendência, coisa julgada, 
perempção etc. (art. 485).108 Aqui, o vício do processo é tão 
 
20 Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; 
II - incompetência absoluta e relativa; III - incorreção do valor da causa; IV - inépcia da petição inicial; 
V - perempção; VI - litispendência; VII - coisa julgada; VIII - conexão; IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta 
de autorização; X - convenção de arbitragem; XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII - falta de caução ou de 
outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. 
 
 
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profundo que o inutiliza como instrumento válido para obter a 
prestação jurisdicional. 
São dilatórias as defesas processuais que, 
mesmo quando acolhidas, não provocam a extinção do 
processo, mas apenas causam ampliação ou dilatação do curso 
do procedimento. Assim, quando se alega nulidade da citação, 
incompetência do juízo, conexão de causas, deficiência de 
representação da parte ou falta de autorização para a causa, ou 
ausência de caução ou de outra prestação que a lei exige como 
preliminar (art. 335, I, II, VIII, IX e XII), em todos esses casos 
a defesa provoca apenas uma paralisação temporária do curso 
normal do procedimento, enquanto o obstáculo processual não 
seja removido.Superado o impasse, a relação processual 
retoma sua marcha regular rumo à solução de mérito, que é o 
objetivo final do processo.”21 
 
Já as defesas de mérito, podem ser divididas em: 
 
a) Defesas indiretas de mérito: É a defesa indireta de mérito, aquela 
onde o réu não nega o conteúdo dos fatos alegados pelo autor, mas apresenta outros fatos, 
de natureza impeditiva, modificativa ou extintiva do direito alegado pelo autor, como a 
prescrição, decadência, compensação, confusão ou direito de retenção. 
b) Defesas diretas de mérito: Ocorrem sempre que o réu atacar os 
próprios fatos alegados pelo autor, negando a sua ocorrência; ou ainda quando atacar as 
suas consequências jurídicas. 
 
2. A JURISDIÇÃO E O PODER DE CONCRETIZAR O DIREITO 
 
 
21 Ob cit. P. 1019/1020 
 
 
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O Estado tem o poder e a obrigação de realizar o Direito, resolvendo 
os conflitos de interesses e preservando a paz social. A essa função estatal dá-se o nome 
de jurisdição. 
Ocorre que a jurisdição só age se provocada (uma de suas características 
é justamente a inércia). O meio de se provocar a jurisdição é a ação, direito público 
subjetivo a um pronunciamento estatal que solucione o litígio. 
O resultado da atividade jurisdicional é alcançado com a edição da 
norma reguladora do caso concreto, ou seja, com a sentença ou acórdão que, com 
característica de imutabilidade, vai reger o conflito de interesses. Ocorre que o 
estabelecimento dessa lei de regência do caso concreto não se dá aleatoriamente, ao 
talante do juiz. A outorga da prestação jurisdicional, isto é, a resposta à provocação da 
parte cujo direito afirma ter sido ferido ou ameaçado, deve seguir um método previamente 
estabelecido, composto por regras e princípios frutos de um debate democrático. A esse 
meio, método ou sistema que deve ser observado para o exercício da jurisdição dá-se o 
nome de processo. 
Em curtas palavras, pode-se afirmar que a jurisdição é provocada 
mediante o direito de ação e será exercida por meio daquele complexo de atos que é 
o processo. 
 
 
 
 
 
Destarte, para a exata compreensão do fenômeno processual, em um 
sentido lato, devemos estudar cada um dos institutos que o integram. 
 
Conceito de jurisdição 
 
 
 
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O Estado moderno, para melhor atingir o seu objetivo, que é o bem 
comum, dividiu seu poder soberano em três: Poder Legislativo, PoderExecutivo e 
Poder Judiciário. 
 
 
 
 
 
 
 
A cada Poder corresponde uma função estatal. Assim, ao Legislativo 
compete a estruturação da ordem jurídica; ao Executivo, a administração; e ao Judiciário, 
a composição dos litígios nos casos concretos. 
À função de compor os litígios, de declarar e realizar o Direito, dá-
se o nome de Jurisdição. 
Contudo, é possível dizer que os demais poderes também, em certa 
medida realizam o direito ao caso concreto, então, qual a diferencia essencial da 
jurisdição para a administração ou a legislação? É a definitividade, isso significa 
dizer que a jurisdição somente é controlada pela própria jurisdição. 
Por isso a afirmação de Niklas Luhmann22 de que a jurisdição se 
encontra no centro do sustenta que os tribunais se encontram no centro do sistema 
jurídico, sendo tudo mais periférico: 
“Talvez possamos tomar como ponto de 
partida o fato não-questionado de que só o sistema jurídico 
coage os Tribunais à decisão, por conseguinte nem o legislador 
nem as partes privadas contratantes o fazem 24. Com base 
nessa regra, os Tribunais constituem o centro do sistema 
jurídico. Tudo mais, inclusive a legislação, representa a 
periferia. Embora a lei possa coagir a organização 
 
22 A posição dos tribunais no sistema jurídico. Revista da AJURIS - n. 49 - Julho/1990. Disponível em https://goo.gl/QNGi2J, acesso 
em 20/02/2017 
 
 
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administrativa do sistema político a decisões sobre 
requerimentos e, por conseguinte, à fundamentação de uma 
coação legal para a decisão, isso não passa de uma obrigação 
legal para a ação, similar à obrigação para uma declaração 
testemunhal e sujeita ao controle e à sanção por parte do 
Tribunal. Em última instância toda e qualquer coação legal 
para a decisão se resume na proibição da recusa da prestação 
jurisdicional (Verbot der Justizverweigerung).” 
Partindo-se de uma visão clássica, a jurisdição pode ser visualizada sob 
três enfoques distintos: como poder, porquanto emana da soberania do Estado, que 
assumiu o monopólio de dirimir os conflitos; como função, porque constitui obrigação 
do Estado prestar a tutela jurisdicional quando chamado; finalmente, como atividade, 
uma vez que a jurisdição atua por meio de uma sequência de atos processuais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jurisdição, portanto, é o poder, a função e a atividade exercidos de 
desenvolvidos, respectivamente, por órgãos estatais previstos em lei, com a finalidade de 
tutelar direitos individuais e coletivos. Uma vez provocada, atua no sentido de, em caráter 
definitivo, compor litígios ou simplesmente realizar direitos materiais previamente 
acertados, o que inclui a função de acautelar os direitos a serem definidos ou realizados, 
substituindo, para tanto, a vontade das pessoas ou entes envolvidos no conflito. 
Quando se fala em aplicar a norma ao caso concreto, se está limitando 
a atividade jurisdicional ao conteúdo meramente declaratório (Le juge est la bouche de la 
loi), mais adequado seria a afirmar que a jurisdição concretiza as normas gerais e 
 
 
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abstratas, já que a jurisdição é atividade criativa pois cria regra jurídica ao caso concreto 
que é posto ao judiciário. Como leciona Humberto Ávila23: 
“É preciso substituir a convicção de que o 
dispositivo identifica-se com a norma, pela constatação de que 
o dispositivo é o ponto de partida da interpretação; é necessário 
ultrapassar a crendice de que a função do intérprete é 
meramente descrever significados, em favor da compreensão 
de que o intérprete reconstrói sentidos.” 
Por isso que não basta a simples aplicação da lei ao caso concreto para 
que os escopos (jurídico, político e social) da jurisdição se realizem, o juiz deve encontrar 
e concretizar norma geral e abstrata em respeito aos valores da Constituição Federal e dos 
Direitos Humanos. Novamente Humberto Ávila24: 
“Isso não quer dizer que o intérprete é livre 
para fazer as conexões entre as normas e os fins a cuja 
realização elas servem. O ordenamento jurídico estabelece a 
realização de fins, a preservação de valores e a manutenção ou 
a busca de determinados bens jurídicos essenciais à realização 
daqueles fins e a preservação desses valores. O interprete não 
pode desprezar esses pontos de partida.” 
O farol guia do aplicador do direito devem de ser sempre a 
concretização dos valores constitucionais que fundamentam a República e dos Direitos 
Humanos. 
 
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
Chama-se de jurisdição contenciosa25 “aquela função que o Estado 
desempenha na pacificação ou composição dos litígios” mas há outras situações em que 
o Estado-Juiz é chamado à intervir não para resolver conflitos, mas sim como 
 
23 ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios - da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 5' ed. São Paulo: Malheiros Ed., 2006, 
p. 34. 
24 Op. Cit. P. 35 
25 Júnior, Humberto Theodoro, op. Cit. P. 182 
 
 
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administrador público de interesses privados, como são as situações do art. 725 do CPC26, 
exercendo a chamada de jurisdição voluntária ou graciosa. 
Há grande divergência se a jurisdição voluntária, justamente por não 
envolver a solução de conflitos de interesse no caso concreto, se poderia enquadrar no 
conceito de jurisdição ou se seria mera atividade administrativa dos juízes. Contudo, 
como esclarece Dinamarco27: 
“havendo procedimentos a observar ( arts. 
719 ss.), estando presente o contraditório, devendo ser 
motivadas as decisões e sentenças ali proferidas, operando o 
duplo grau de jurisdição e prevalecendo os padrões ditados 
pela garantia do devido processo legal, o que se tem ali é 
autêntico exercício da jurisdição.” 
O atual Código de Processo Civil dispõe no Capítulo XV do Livro I da 
Parte Especial sobre os “procedimentos de jurisdição voluntária” (NCPC, arts. 719 a 770). 
A respeito da adoção da expressão “procedimento” em lugar de “processo” esclarece 
Humberto Theodoro Júnior28: 
“A terminologia do legislador tem sido 
considerada correta, posto que, não havendo lide, não se pode 
falar em processo, mas apenas em procedimentos. Os sujeitos 
desses procedimentos, pela mesma razão, não são chamados 
partes, e sim interessados.” 
São características da jurisdição voluntária 
a) busca a administração pública de interesses privados e não a 
aplicação do direito controvertido no caso concreto com a substituição da vontade das 
partes; 
 
26 Art. 725. Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de: I - emancipação; II - sub-rogação; III - alienação, 
arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, de órfãos e de interditos; IV - alienação, locação e administração da 
coisa comum; V - alienação de quinhão em coisa comum; VI - extinção de usufruto, quando não decorrer da morte do usufrutuário, 
do termo da sua duração ou da consolidação, e de fideicomisso, quando decorrer de renúncia ou quando ocorrer antes do evento que 
caracterizar a condição resolutória; VII - expedição de alvará judicial; VIII - homologação de autocomposição extrajudicial, de 
qualquer natureza ou valor. Parágrafo único. As normas desta Seção aplicam-se, no que couber, aos procedimentos regulados nas 
seções seguintes. 
27 Ob cit p. 81 
28 Ob cit p. 186www.profrogeriocunha.com.br 
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b) não resolve conflito de interesses antagônicos, ou seja, se a pretensão 
envolver a conflito de interesses, não se poderá adotar a via do art. 725 do CPC.29 
c) não há partes, mas interessados 
d) não há processo, mas sim procedimento 
e) juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo 
adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna (equidade)30 
 
Características da jurisdição 
 
1 – Unidade: a jurisdição, dizem os clássicos, é função exclusiva do 
Poder Judiciário, por intermédio de seus juízes (art. 1º), os quais decidem 
monocraticamente ou em órgãos colegiados, daí porque se diz que ela é una. A 
distribuição funcional da jurisdição em órgãos (Justiça Federal, Justiça do Trabalho, 
Varas Cíveis, Varas Criminais, entre outros) tem natureza meramente de divisão 
administrativa e organização do trabalho. 
A jurisdição é una, ou seja, é função monopolizada dos juízes, os quais 
integram uma magistratura nacional, não obstante um segmento seja pago pela União 
(magistratura federal e trabalhista, por exemplo) e outro pelos Estados-membros 
(magistrados estaduais). 
 
2 – Secundariedade: a jurisdição é o derradeiro recurso (ultima 
ratio), a última trincheira na busca da solução dos conflitos, de forma que “o Estado 
realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido primariamente exercida, de 
 
29 Conforme Nelson Nery Junior, em Código de Processo Civil Comentado, pp. 1384 e 1390, 4.ª ed., São Paulo, RT, 1999, os princípios 
fundamentais da jurisdição voluntária “São diferentes dos que inspiram a jurisdição contenciosa, tendo em vista a própria natureza 
peculiar da Administração Pública de interesses privados. A relação jurídica que se forma entre os interessados é unilateral, pois aqui 
não se trata de decidir o litígio, mas sim de dar-lhes assistência protetiva. O juiz integra o ato ou o negócio jurídico privado, 
homologando-o, autorizando-o, aprovando-o. (...) Mero pedido de alvará não pode substituir o contencioso. Por ser simples 
autorização judicial para se praticar determinado ato, não tem preceito cominatório para obrigar alguém a fazer ou deixar 
de fazer alguma coisa (RT 578/95, 563/111)”. 
30 Requerimento de expedição de alvará para venda de imóvel de interditado, para prover sua subsistência. Interessado que faleceu 
logo após sentença que deferiu a expedição de alvará e o recolhimento de custas. Expedição de alvará que não se demonstra mais 
necessária. Recolhimento de custas que não se justifica. Procedimento de jurisdição voluntária em que se permite a apreciação por 
equidade. Decretação de extinção do pedido de expedição de alvará. Recurso provido. (TJSP, AI 2384738120168260000 SP 2238473-
81.2016.8.26.0000 Órgão Julgador 4ª Câmara de Direito Privado Publicação 05/07/2017 Julgamento 5 de Julho de 2017 Relator 
Teixeira Leite). 
 
 
 
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maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica submetida à 
decisão.”31 
3 – Substitutividade: Consiste na circunstância de o Estado, ao 
apreciar o pedido, substituir a vontade das partes, aplicando ao caso concreto a “vontade” 
da norma jurídica. Em suma, o poder judiciário ao compor o litígio substitui a vontade 
das partes. 
Em razão da substitutividade, a jurisdição é espécie de 
heterocomposição dos conflitos, gênero que se contrapõe à autocomposição (solução do 
litígio pelos próprios sujeitos da relação material, como se dá na conciliação e transação). 
4 – Imparcialidade: para ser legítimo o exercício da jurisdição, é 
imprescindível que o Estado – Juízo – ou melhor, aqueles agentes que, em decorrência da 
lei, integrarão o órgão jurisdicional (juiz, escrivão, oficial de justiça, contador) – atue com 
imparcialidade. No exercício da jurisdição deve predominar o interesse geral de 
administração da justiça, devendo os agentes estatais zelar para que as partes tenham igual 
tratamento e igual oportunidade de participar na formação do convencimento daquele que 
criará a norma que passará a reger o conflito de interesses. 
5 – Criatividade: agindo em substituição à vontade dos conflitantes, o 
Estado, ao final do processo, criará uma norma individual que passará a regular o caso 
concreto, inovando a ordem jurídica. A essa norma dá-se o nome de sentença (quando a 
decisão é prolatada por juiz singular) ou acórdão (quando a decisão emana de órgão 
colegiado). 
6 – Inércia: a jurisdição é atividade equidistante e desinteressada 
do conflito e, por isso, num primeiro momento, só age se provocada pelas partes, por 
intermédio de seus advogados (art. 2º). Evidentemente, uma vez provocada, age por 
impulso oficial, de ofício. 
A própria lei prevê exceções à regra da inércia da jurisdição. O atual 
Código de Processo Civil reduziu em muito a possibilidade do juiz instaurar processos de 
ofício, limitando, por exemplo à restauração de autos (CPC, Art. 712), alienação 
judicial (Art. 730) , decretar a falência de empresa sob regime de recuperação judicial 
(art. 73 e 74 da Lei 11.101/2005); a execução trabalhista inicia-se por ato do juiz (art. 878 
 
31 Humberto, p. 174 
 
 
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da CLT), assim como a execução penal (art. 105 da Lei de Execução Penal); o habeas 
corpus também pode ser concedido de ofício (art. 656, § 2º, do CPP). Não há mais a 
possibilidade o inventário ser instaurado de ofício pelo juiz (CPC, art. 616). 
7 – Definitividade: traço marcante e distintivo da jurisdição em relação 
às demais funções estatais (administrativa e executiva) e meios de pacificação social é a 
aptidão para a definitividade, quer dizer, a suscetibilidade para se tornar imutável. A 
essa característica de definitividade da jurisdição dá-se o nome de coisa julgada, instituto 
que será estudado mais adiante. 
 
PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO: 
 
 INÉRCIA: O Estado-Juiz só atua se for provocado. Ne procedat 
iudex ex officio, ou seja, o juiz não procede de ofício 
 INVESTIDURA: O Estado exerce a jurisdição por seus órgãos 
constitucionalmente definidos e esse função jurisdicional é exercida por agentes políticos 
que preencham rigorosos critérios legais (aprovação em concurso de provas e títulos, três 
anos de prática jurídica, formação em direito; ou nomeados pelo chefe do Poder 
Executivo para ingresso pelo quinto constitucional ou em tribunais superiores). 
 TERRITORIALIDADE: Por se tratar de um ato de poder, o juiz 
exerce a jurisdição dentro de um limite espacial sujeito à soberania do Estado. Além desse 
limite ao território do Estado, sendo numerosos os juízes de um Estado, normalmente o 
exercício da jurisdição que lhes compete é delimitado à parcela do território, conforme a 
organização judiciária da Justiça em que atua, sendo as áreas de exercício da autoridade 
dos juízes divididas na Justiça Federal em seções judiciárias e na Justiça Estadual em 
comarcas. 
 INDELEGABILIDADE: Cada poder da República tem as 
atribuições e o conteúdo fixados constitucionalmente, vedando-se aos membros de tais 
Poderes por deliberação, ou mesmo mediante lei, alterar o conteúdo de suas funções. 
Aplica-se a hipótese aos juízes, que não podem delegar a outros magistrados, ou mesmo 
a outros Poderes ou a particulares, as funções que lhes foram atribuídas pelo Estado, já 
 
 
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que tais funções são do poder estatal, queas distribui conforme lhe convém, cabendo ao 
juiz apenas seu exercício. 
 INEVITABILIDADE: Este princípio traduz-se na imposição da 
autoridade estatal por si mesma por meio da decisão judicial. Quando provocado o 
exercício jurisdicional, as partes sujeitam-se a ela mesmo contra a sua vontade, sendo 
vedado à autoridade pronunciar o non liquet em seu oficio jurisdicional. O Estado deve 
decidir a questão, não se eximindo de sentenciar “alegando lacuna ou obscuridade da lei” 
(CPC, art. 140). 
 INAFASTABILIDADE: Consagrando expressamente o princípio 
da indeclinabilidade (ou da inafastabilidade, também chamado de princípio do controle 
jurisdicional por Cintra, Grinover e Dinamarco), dispõe o artigo 5º, inciso XXXV, da 
Constituição Federal que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito”. 
 JUIZ NATURAL: Trata-se de princípio que garante ao cidadão o 
direito de não ser subtraído de seu Juiz, conforme as regras previamente definidas na 
Constituição ou na lei de organização judiciária. 
É possível a indicação de magistrados para atuação em sistema de 
mutirão, ou tal viola o juiz natural? Segundo o Supremo Tribunal Federal não há violação 
quando o juiz for indicado mediante designação de natureza genérica, fundada em 
critérios abstratos e predeterminados, previstos em lei32. É a hipótese do art. 36 da Lei de 
Organização Judiciária do Paraná que permite que o Presidente do Tribunal de Justiça, 
ouvido o Corregedor-Geral da Justiça, poderá designar Juízes de Direito de primeiro grau 
de jurisdição para proferir sentenças em outros Juízos. 
 
 
32 PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DESIGNAÇÃO DE 
MAGISTRADO. ATO GENÉRICO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. RECURSO 
DESPROVIDO. I – A designação de juiz para atuar, de forma genérica, em uma determinada Vara, não 
ofende o princípio do juiz natural. II – Configura nulidade processual apenas a designação específica, 
casuística, de Magistrado para atuar em determinado feito. III – Diante do pedido de afastamento do Juiz 
titular, por motivo de foro íntimo, o processo deve ser encaminhado para o outro Juiz, designado pelo 
Tribunal de Justiça, ante o acúmulo de processos, para ter exercício naquela Vara. IV - Recurso improvido” 
(RHC n. 89.890, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 02.03.2007) e 
monocraticamente, AI n. 816.820-RS, Relatora a Minstra Ellen Gracie, DJe de 06.05.2011 e RE n. 634.938-
RJ, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 17.02.2011 
 
 
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EQUIVALENTES JURISDICIONAIS: 
 
Equivalentes jurisdicionais são técnicas de solução de conflito que não 
são jurisdicionais. Equivalem à jurisdição porque servem para resolver conflitos. O ideal 
seria que a jurisdição fosse a última ratio do sistema de acesso à justiça, de forma que 
prevalecesse um sistema multiportas com várias opções de realização do direito. Sobre 
o sistema multiportas ouça-se Lorencini33: 
A metáfora das portas remete a que todos os 
meios alternativos estejam disponíveis em um só lugar 
[juntamente com os meios oficiais]. Em geral, depois de 
apresentado um formulário pelo requerente, o requerido é 
também chamado e igualmente preenche um formulário igual. 
Esses formulários são encaminhados pelo funcionário ao 
julgador que, então, designa uma audiência para as partes para 
dar-lhes conhecimento acerca do meio indicado. [...] Dois 
pontos são centrais: quem exerce a triagem e o meio trilhado. 
[...] A escolha do meio pode, assim, dependendo do programa, 
ser feita pelo autor, pelo réu, ou por ambos, de forma 
consensual. Pode, ainda, ser mecanicamente feita por um 
funcionário do tribunal, por um perito externo ou, ainda, pelo 
próprio julgador. No caso de pluralidade de autores, prevalece 
o critério da maioria. Nas hipóteses em que a escolha cabe a 
uma pessoa que não as partes, elas respondem a um 
questionário detalhado que, entre outras coisas, discrimina (i) 
a quantidade de partes envolvidas, (ii) os 59 fatos e as possíveis 
questões daí advindas, (iii) pedidos (iv) relacionamento entre as 
partes, (v) a natureza das questões a resolver e sua natureza. 
Essa análise objetiva é seguida de um outro formulário no qual 
a parte expõe o seu objetivo, respondendo sua expectativa com 
 
33 LORENCINI, Marco Antonio Garcia Lopes. Prestação jurisdicional pelo Estado e meios alternativos de solução de controvérsias: 
convivência e formas de pacificação social. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006 
 
 
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relação à (i) celeridade, (ii) confidencialidade, (iii) o interesse 
em preservar o relacionamento com a parte contrária, (iv) 
disposição em negociar com a parte contrária.” 
A Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça sobre a Política 
Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do 
Poder Judiciário priorizando os meios alternativos de resolução de conflitos, que na sua 
maioria são equivalente jurisdicionais. 
 
São equivalentes jurisdicionais: 
 
a) AUTOTUTELA: Em regra, é proibida, tanto que representada no 
direito penal pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões (CPB, art. 345), 
quando cometido por particular, ou abuso de autoridade (Lei 4.898/65, art. 4º) porque nos 
remete ao tempo da barbárie, já que um dos conflitantes impõe a solução do conflito ao 
outro. 
A autotutela somente se legitima excepcionalmente pela 
impossibilidade da onipresença do Estado-Juiz, por isso a sua admissibilidade há de ser 
expressa em lei, como por exemplo, na legítima defesa (CC, art. 188, I), no desforço 
incontinenti nas ações possessórias (CC, Art. 1.210), no direito de greve (Lei 7.783/89), 
direito de retenção (CC, Art. 1.219), retenção de bagagens pelo hotel (CCB, art. 1.467, 
I). 
b) AUTOCOMPOSIÇÃO: As partes conflitantes chegam à solução do 
conflito, sem imposição de uma vontade sobre a outra, podendo ocorrer 
extrajudicialmente ou em juízo. No Código de Processo Civil há uma clara opção pelos 
meios alternativos de resolução de conflitos, tanto que existem vários dispositivos que a 
incentivam: 
 Art. 3º, §2º: O Estado promoverá, sempre que possível, a solução 
consensual dos conflitos; 
 Art. 3º, § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de 
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, 
 
 
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defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo 
judicial 
 Art. 139, V: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as 
disposições deste Código, incumbindo-lhe: V - promover, a qualquer tempo, a 
autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; 
 Art. 154, VI- Incumbe ao oficial de justiça: VI - certificar, em 
mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, na ocasião 
de realização de ato de comunicação que lhe couber. 
 Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução 
consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de 
conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, 
orientar e estimular a autocomposição. 
 Art. 221, § único: suspensão dos prazos durante a execução de 
programa instituído pelo Poder Judiciário para promover a autocomposição; 
 Art. 334. O réu o réuserá citado e intimado não mais para contestar 
, mas para a audiência de conciliação ou de mediação; 
 Art. 334, §5º, somente na expressa manifestação de interesse de 
ambas as partes não se realiza a audiência de conciliação; 
 Art. 381, II, admissão de produção antecipada de provas quando a 
prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio 
adequado de solução de conflito 
 Art. 515, II e II a decisão homologatória de autocomposição 
(judicial ou extrajudicial) é título executivo judicial 
 Art. 515, §2º- A autocomposição judicial pode envolver sujeito 
estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo 
 Art. 725, VIII, possibilidade das partes submetem ao judiciário 
homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou valor; 
 Art. 932, I, possibilidade de homologação de autocomposição em 
grau de recurso 
Há três espécies de autocomposição: 
 
 
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b.1) transação (CPC, art. 487, III “a”): forma mais tradicional, na 
qual a solução é dada pelas partes, sendo que cada uma delas faz concessões recíprocas; 
b.2) renúncia (artigo 487, III, "c", CPC): não há concessões 
recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do autor que abdica de sua pretensão; 
b.3) submissão (artigo 487, III, "a", CPC): também não se 
vislumbram concessões recíprocas, mas apenas unilateral por parte do réu, sendo 
designada como reconhecimento da procedência do pedido. 
 
c) MEDIAÇÃO: Há intervenção de um terceiro que se põe no conflito 
para auxiliar as partes a chegarem à autocomposição. Ressalte-se que o mediador não 
decide, apenas estimula a autocomposição. 
O Código de Processo Civil traz importante regra de distinção entre a 
mediação e a conciliação, ao explicitar as funções desempenhadas pelo mediador e pelo 
conciliador : 
Art. 165. 
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente 
nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, 
poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de 
qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as 
partes conciliem. 
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente 
nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará 
aos interessados a compreender as questões e os interesses em 
conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da 
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que 
gerem benefícios mútuos. 
Além da previsão no Código de Processo Civil a Lei nº 13.140/15 
dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre 
a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. 
 
 
 
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Na forma do art. 166 do Código de Processo Civil, a mediação e a 
conciliação serão regidos pelos seguintes princípios: 
 Da independência; 
 Da imparcialidade; 
 Da autonomia da vontade; 
 Da confidencialidade; 
 Da oralidade; 
 Da informalidade; 
 Da decisão informada. 
Já pelo art. 2º da Lei 13.140 a mediação será regida pelos seguintes 
princípios: 
 Da imparcialidade do mediador; 
 Da isonomia entre as partes; 
 Da oralidade; 
 Da informalidade; 
 Da autonomia da vontade das partes; 
 Da busca do consenso; 
 Da confidencialidade; 
 Da boa-fé. 
Além da mediação judicial, prevista no Código de Processo Civil a Lei 
13.140/15 admite também a figura da mediação extrajudicial (Art. 21) onde poderá 
funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança 
das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer 
tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se (Art. 9º). Já a 
figura do mediador judicial somente poderá ser exercido por pessoa capaz, graduada há 
pelo menos dois anos em curso de ensino superior e que tenha obtido capacitação em 
escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de 
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, de acordo 
com os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto 
com o Ministério da Justiça. 
 
 
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Ainda que haja processo arbitral ou judicial em curso, as partes poderão 
submeter-se à mediação, hipótese em que requererão ao juiz ou árbitro a suspensão do 
processo por prazo suficiente para a solução consensual do litígio (Art. 16). Para reforçar 
a utilidade da mediação, estabelece o § único do art. 17 da Lei 13.140/15 que enquanto 
transcorrer o procedimento de mediação, ficará suspenso o prazo prescricional. 
Outro elemento importante da mediação é a previsão legal de que o 
termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo 
extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial (art. 20, § 
único). 
Procedimento da mediação34 
 
34 Fonte: http://www.camarasensatus.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FLUXOGRAMA-MEDIA%C3%87%C3%83O.jpg 
 
 
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d) ARBITRAGEM: É o equivalente jurisdicional mais polêmico no 
que tange à sua natureza. Fredie Didier Jr. e Humberto Teodoro Jr. , por exemplo, entende 
que a arbitragem é jurisdição privada e não equivalente jurisdicional. Já, Luiz Guilherme 
Marinoni e Daniel Mitidiero entendem que a arbitragem não é jurisdição porque não é 
estatal. Nela tem-se um terceiro que decide e impõe sua decisão. No Direito Brasileiro, a 
decisão arbitral, em regra, não pode ser discutida no Poder Judiciário, nem precisa de 
homologação para ser exigida. 
A arbitragem, no Brasil, é regulamentada pela Lei n. 9.307/1996 e com 
as reformas promovidas pela Lei 13.129/15 passou a admitir também a instituição da 
arbitragem em relação à administração pública direta e indireta, que poderá utilizar-se 
da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis. 
De acordo com o art. 3º da Lei de Arbitragem compreende tanto a 
cláusula compromissória como o compromisso arbitral: 
 Cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes 
em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os eventuais litígios 
eventualmente derivados do contrato, devendo necessariamente ser escrita (Art. 4º). A 
cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato (Art. 8º). Serão chamadas 
de vazias – quando não contemplam os elementos mínimos necessários para instituição 
da arbitragem e cheias quando contiverem todos os elementos necessários à arbitragem 
(número de árbitros (ímpar); a sede da arbitragem; a lei aplicável; o idioma da arbitragem, 
(partes estrangeiras) as regras para a arbitragem, etc.) 
 Compromisso arbitral é o instrumento de que se valem os 
interessados para, de comum acordo, atribuírem a terceiro (denominado árbitro) a solução 
de pendências entre eles já existentes, ou seja, difere da cláusula compromissória por ser 
posterior ao conflito. Conforme a Lei n°9.307/96, pode ser de duas espécies: judicial (Lei 
n°9.307/96, art. 9°, §1°, quando já discutido o conflito perante o judiciário) ou 
extrajudicial (Lei n°9.307/96, art. 9°, §2°, se ainda não existir demanda ajuizada) 
Segundo Didier35 são características da arbitragem no direito brasileiro: 
 
35 Didier Jr., Fredie. Curso de direito processualcivil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento 
I. 17. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. v. I. p. 172 
 
 
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“a) há a possibilidade de escolha da norma de 
direito material a ser aplicada (art. 2°, §§ 1 o e 2°, Lei n. 9.307/1 
996): as partes podem escolher qual a regra a ser aplicável, 
podendo ainda convencionar que o julgamento se realize com 
base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e na s 
regras internacionais de comércio; 
b) árbitro (art. 13, Lei n. 9.307/1996): dois são 
os requisitos exigidos pela lei para o exercício das funções de 
árbitro: ser pessoa física e ser capaz. Os árbitros têm o status 
de juiz de direito e de fato, sendo equiparados aos servidores 
públicos para efeitos penais; 
c) desnecessidade de homologação judicial da 
sentença arbitral (art. 31, Lei n .9.307/1996), que produz efeitos 
imediatamente; 
d) a sentença arbitral é título executivo 
judicial (art. 31, Lei n. 9.307/1 996; art. 515, VIl, CPC): o 
árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar nenhuma 
providência executiva; e) possibilidade de reconhecimento e 
execução de sentenças arbitrais produzidas no exterior (art. 34 
e segs., Lei n. 9.307/1 996).” 
A sentença arbitral somente pode ser analisada pelo Poder Judiciário 
em relação a sua validade (arts. 32 e 33, caput, Lei n. 9 . 307/ 1 996) não podendo ser 
reformada em relação ao seu mérito, devendo a ação anulatória ser proposta em 90 dias 
após o recebimento da intimação da sentença arbitral ou seu aditamento (art. 33, § 1 °, 
Lei n. 9. 307/1 996). 
É admissível a cláusula compromissória em contratos de adesão, 
como é o caso dos contratos de consumo? Apesar da previsão do art. 51, VII , do Código 
de Defesa do Consumidor, o Superior Tribunal de Justiça entende que “Não haverá 
nulidade da cláusula se o fornecedor demonstrar que não impôs a utilização 
 
 
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compulsória da arbitragem, ou também pela ausência de vulnerabilidade que justifique 
a proteção do consumidor.”36 
O Código de Processo Civil passou a prever também a possibilidade de 
expedição pelos árbitros de “cartas arbitrais” (Art. 237, IV) para que órgão do Poder 
Judiciário pratique ou determine o cumprimento, na área de sua competência territorial, 
de ato objeto de pedido de cooperação judiciária formulado por juízo arbitral, inclusive 
os que importem efetivação de tutela provisória, destacando, em relação à esta última que 
pelo art. 22-A da Lei 9.307/97 a concessão de medida cautelar ou de urgência deverá ser 
feita pelo Poder Judiciário se ainda não instituída a arbitragem, e não pelo árbitro que 
somente após a instituição da arbitragem (Art. 22-B) poderá deferi-la. 
 
3. PROCESSO, PROCEDIMENTO E A RELAÇÃO JURÍDICA 
PROCESSUAL 
 
 
36 DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. CONTRATO DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO. CONTRATO DE 
ADESÃO. CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. POSSIBILIDADE, RESPEITADOS DETERMINADAS EXCEÇÕES. 1. Um dos 
nortes a guiar a Política Nacional das Relações de Consumo é exatamente o incentivo à criação de mecanismos alternativos de solução 
de conflitos de consumo (CDC, art. 4°, § 2°), inserido no contexto de facilitação do acesso à Justiça, dando concretude às denominadas 
"ondas renovatórias do direito" de Mauro Cappelletti. 2. Por outro lado, o art. 51 do CDC assevera serem nulas de pleno direito "as 
cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem". 
A mens legis é justamente proteger aquele consumidor, parte vulnerável da relação jurídica, a não se ver compelido a consentir com 
qualquer cláusula arbitral. 3. Portanto, ao que se percebe, em verdade, o CDC não se opõe a utilização da arbitragem na resolução de 
conflitos de consumo, ao revés, incentiva a criação de meios alternativos de solução dos litígios; ressalva, no entanto, apenas, a forma 
de imposição da cláusula compromissória, que não poderá ocorrer de forma impositiva. 4. Com a mesma ratio, a Lei n. 9.307/1996 
estabeleceu, como regra geral, o respeito à convenção arbitral, tendo criado, no que toca ao contrato de adesão, mecanismos para 
proteger o aderente vulnerável, nos termos do art. 4°, § 2°, justamente porque nesses contratos prevalece a desigualdade entre as partes 
contratantes. 5. Não há incompatibilidade entre os arts. 51, VII, do CDC e 4º, § 2º, da Lei n. 9.307/96. Visando conciliar os normativos 
e garantir a maior proteção ao consumidor é que entende-se que a cláusula compromissória só virá a ter eficácia caso este aderente 
venha a tomar a iniciativa de instituir a arbitragem, ou concorde, expressamente, com a sua instituição, não havendo, por conseguinte, 
falar em compulsoriedade. Ademais, há situações em que, apesar de se tratar de consumidor, não há vulnerabilidade da parte a justificar 
sua proteção. 6. Dessarte, a instauração da arbitragem pelo consumidor vincula o fornecedor, mas a recíproca não se mostra verdadeira, 
haja vista que a propositura da arbitragem pelo policitante depende da ratificação expressa do oblato vulnerável, não sendo suficiente 
a aceitação da cláusula realizada no momento da assinatura do contrato de adesão. Com isso, evita-se qualquer forma de abuso, na 
medida em o consumidor detém, caso desejar, o poder de libertar-se da via arbitral para solucionar eventual lide com o prestador de 
serviços ou fornecedor. É que a recusa do consumidor não exige qualquer motivação. Propondo ele ação no Judiciário, haverá negativa 
(ou renúncia) tácita da cláusula compromissória. 7. Assim, é possível a cláusula arbitral em contrato de adesão de consumo quando 
não se verificar presente a sua imposição pelo fornecedor ou a vulnerabilidade do consumidor, bem como quando a iniciativa da 
instauração ocorrer pelo consumidor ou, no caso de iniciativa do fornecedor, venha a concordar ou ratificar expressamente com a 
instituição, afastada qualquer possibilidade de abuso. 8. Na hipótese, os autos revelam contrato de adesão de consumo em que fora 
estipulada cláusula compromissória. Apesar de sua manifestação inicial, a mera propositura da presente ação pelo consumidor é apta 
a demonstrar o seu desinteresse na adoção da arbitragem - não haveria a exigível ratificação posterior da cláusula -, sendo que o 
recorrido/fornecedor não aventou em sua defesa qualquer /das exceções que afastariam a jurisdição estatal, isto é: que o 
recorrente/consumidor detinha, no momento da pactuação, condições de equilíbrio com o fornecedor - não haveria vulnerabilidade da 
parte a justificar sua proteção; ou ainda, que haveria iniciativa da instauração de arbitragem pelo consumidor ou, em sendo a iniciativa 
do fornecedor, que o consumidor teria concordado com ela. Portanto, é de se reconhecer a ineficácia da cláusula arbitral. 9. Recurso 
especial provido. (STJ, REsp 1189050/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/03/2016, 
DJe 14/03/2016) 
 
 
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É essencial que se faça a distinção entre os conceitos elementares de 
processo, procedimento e autos. 
 
  Processo: na definição de Elpídio Donizeti37 processo “é a relação 
jurídica que se estabelece entre autor, juízo e réu (afora eventuais terceiros, como o 
assistente e o denunciado à lide), com vistas ao acertamento, certificação, realização 
ou acautelamento do direito substancial subjacente; sob a perspectiva extrínseca, é o 
meio, o método ou o instrumento para definição, realização ou acautelamento de 
direitosmateriais.” 
 
Processo é um instrumento abstrato, materialização de uma relação 
jurídica que envolve todos os sujeitos do processo que são os titulares de faculdades, 
ônus, poderes e deveres nessa relação jurídica. Mas ainda que abstrato, o processo não é 
um fim em si mesmo, pois ainda que dissociado da relação jurídica de direito material 
deve sempre ser instrumento hábil para a sua materialização. 
Os sujeitos processuais serão parciais (partes) sempre que busquem do 
Estado-Juiz a satisfação de uma pretensão. Serão sujeitos imparciais (Juízes) aqueles que 
são designados pela Constituição para a resolução do conflito de interesses alheio. 
Ainda que não participantes da relação jurídico processual, também são 
considerados sujeitos processuais a advocacia (privada38 e pública39), a defensoria 
 
37 Ob cit p. 188 
38 Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo 
único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal. 
39 Art. 182. Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos, das pessoas ju 
 
 
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pública40, o Ministério Público quando atuar como fiscal da ordem jurídica41 , os 
auxiliares da justiça42 e os terceiros que intervêm no processo após a sua instauração, 
como é o caso do amicus curiae, já que todos exercem atividades coadjuvante na relação 
processual e representam apoio e auxílio indispensável ao exercício da tutela 
jurisdicional. 
 Procedimento: O processo envolve o exercício do poder 
jurisdicional pelo Estado, e como tal deve ser submetido ao controle de sua legalidade. É 
o procedimento que resguarda a legalidade do exercício do poder43. Assim, procedimento 
“é o modus faciendi, o rito, o caminho trilhado pelos sujeitos do processo. Enquanto o 
processo constitui o instrumento para a realização da justiça, o procedimento constitui 
o instrumento do processo, a sua exteriorização.44” Portanto, se o processo é abstrato o 
procedimento é concreto, pois representa a exteriorização daquela relação jurídica por 
meio de uma sucessão lógica e organizada de atos processuais cujo respeito representa 
limitação ao exercício do poder. 
 
 Autos: São o mero registro dos atos processuais que seriam abstratos 
e não poderiam ser conferidos se existentes somente na mente dos sujeitos do processo. 
Na atualidade todos os autos podem ser registrados de forma eletrônicas (CPC, art. 193). 
 
Como relação jurídica que é, o processo se estrutura por meio de 
pressupostos que são requisitos necessários para que possa essa relação jurídica se 
desenvolver de forma regular (eficaz) e válida. A esses requisitos se dá o nome de 
pressupostos processuais que representam matéria de ordem pública que pode e deve 
ser reconhecida em qualquer tempo e grau de jurisdição levando a extinção do processo 
sem julgamento do mérito (CPC, art. 485, IV). 
 
40 Art. 185. A Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais 
e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita. 
41 Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses 
previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: 
I - interesse público ou social; II - interesse de incapaz; III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Parágrafo único. A 
participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público. 
42 Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o 
escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o 
conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias 
43 Dinamarco ob cit p. 123 
44 Donizeti, ob cit p. 191 
 
 
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São pressupostos processuais de existência da relação processual: 
 
a) a existência um órgão investido de jurisdição: Somente um 
magistrado, devidamente investido de jurisdição, conforme a Constituição, pode exerce-
la, assim, é inexistente a relação processual angularizada por que já não é (aposentado) 
ou nunca foi magistrado (assessor, estagiário) 
b) capacidade de ser parte: é a aptidão genérica para figurar na relação 
processual, equivale a capacidade de direito dos artigos 1º e 2º do Código Civil Brasileiro. 
c) a existência de uma demanda: O judiciário é inerte, de modo que 
sem provocação do interessado não pode atuar (“nemo iudex sine actore; ne procedat 
iudex ex officio" ninguém é juiz sem autor; o juiz não deve proceder de ofício). 
d) A citação do réu: A relação processual pressupõe a participação de 
três agentes (actum trium personarum) sendo que o réu é convocado a comparecer ao 
processo por meio da citação (CPC, art. 238)45 sem a citação não se forma qualquer 
relação processual, por isso dizer-se que a ausência de citação é vício processual 
perpétuo que não se submete a qualquer prazo e momento dispensando até mesmo ação 
rescisória podendo ser atacado por meio de ação autônoma direta denominada querela 
nullitatis insanabilis que é a ação proposta para que seja reconhecida, em qualquer 
tempo, a inexistência de citação. A citação é tão importante no processo civil, que tanto 
a sua inexistência quanto a sua nulidade são vícios transrescisórios que são aqueles que 
por sua relevância na relação processual podem ser arguidos inclusive após o prazo para 
o ajuizamento da ação rescisória (CPC, art. 975), ou mesmo decorrido o prazo para 
impugnação (CPC, art. 525, §1º, I). 
Por se tratar de pressuposto de existência, se pode afirmar que se 
contenta o direito com a presença de um substantivo (juiz, parte e demanda) para os 
pressupostos de validade e desenvolvimento do processo se demandará também um 
adjetivo: 
 
a) órgão jurisdicional competente e imparcial: para a validade de 
uma relação processual se demanda não só a existência de um órgão jurisdicional, mas 
 
45 Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual. 
 
 
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que este seja competente, ou seja, que tenha atribuição segundo as regras constitucionais 
e legais para apreciar a questão posta. 
Justamente como garantia de sua imparcialidade são os juízes 
submetidos à regime jurídico diferenciado, portadores das garantias institucionais 
(CRFB, art. 99) da autonomia financeira e administrativa dos tribunais, dirigidas ao Poder 
Judiciário, e das garantias funcionais (CRFB, art. 95) da vitaliciedade, inamovibilidade 
e irredutibilidade de vencimentos. Além das prerrogativas, submetem-se os juízes à 
vedações de ordem constitucional (CRFB, art. 95, § único)46. Além disso, como forma de 
preservar a isenção do judiciário o Código de Processo Civil nos artigos 144 e 14547 prevê 
hipóteses legais em que por razões objetivas (impedimento) ou subjetivas (suspeição) 
deve o juiz ser afastado da condução do processo. 
b) petição inicial

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