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SEÇÃO II

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SEÇÃO II
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO
 
VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
- em edifícios, cada morador tem direito de vetar a entrada ou permanência de alguém em sua unidade, bem como nas áreas comuns (desde que, nesse caso, não atinja o direito de outros condôminos).
 
- no caso de habitações coletivas, prevalece o entendimento de que, havendo oposição de um dos moradores, persistirá a proibição.
 
- havendo divergência entre pais e filhos, prevalecerá a intenção dos pais, exceto se a residência for de propriedade de filho maior de idade.
 
- os empregados têm direito de impedir a entrada de pessoas estranhas em seus aposentos, direito que não atinge o proprietário da casa.
 
Formas qualificadas
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite (ausência de luz solar), ou em lugar ermo (local desabitado, onde não há circulação de pessoas), ou com o emprego de violência (contra pessoas ou coisas)ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.
 
Causas de aumento de pena
§ 2º - Aumenta-se a pena de 1/3, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.
 
Excludentes de ilicitude (ou antijuridicidade)
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para  efetuar prisão ou outra diligência;
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
 
------------------------------------------------------------------------------------------------
Artigo 5°, XI, CF - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.
------------------------------------------------------------------------------------------------
 
A expressão "casa"
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
 
I - qualquer compartimento habitado (ex.: casas, apartamentos, barracos de favela etc.);
 
II - aposento ocupado de habitação coletiva (ex.: quarto de hotel, cortiço etc.);
 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (ex.: consultório, escritório, parte interna de uma oficina; não há crime no ingresso às partes abertas desses locais, como recepção, salas de espera etc.).
 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do § anterior (aposento ocupado de habitação coletiva);
 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
 
 
 SEÇÃO III
DOS CRIMES CONTRA A
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA
 
VIOLAÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
 
- trata a lei de proteger a carta, o bilhete, o telegrama, desde que fechados, decorrência do princípio constitucional que diz ser "inviolável o sigilo de correspondência"; apesar do texto constitucional não descrever qualquer exceção, é evidente que tal princípio não é absoluto, cedendo quando houver interesse maior a ser preservado, como, por ex., no caso de leitura de correspondência de preso, permitida nas hipóteses descritas no artigo 41, § único, da LEP, para se evitar motins ou planos de resgate de detentos etc.; também não haverá crime quando o curador abre uma carta endereçada a um doente mental, ou o pai abre a carta dirigida a um filho menor.
 
SONEGAÇÃO OU DESTRUIÇÃO DE CORRESPONDÊNCIA
§ 1º - Na mesma pena incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega (faz com que não chegue até a vítima) ou destrói;
 
VIOLAÇÃO DE COMUNICAÇÃO TELEGRÁFICA, RADIOELÉTRICA OU TELEFÔNICA
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação  telefônica entre outras pessoas;
------------------------------------------------------------------------------------
Artigo 5°, XII, CF - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (hipóteses enumeradas na Lei n° 9.296/96: indícios razoáveis de autoria ou participação do interceptando em infração penal; que a prova não possa ser feita por outro meio; que o crime seja apenado com reclusão).
------------------------------------------------------------------------------------
 
IMPEDIMENTO DE COMUNICAÇÃO OU CONVERSAÇÃO
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;
 
INSTALAÇÃO OU UTILIZAÇÃO DE ESTAÇÃO DE APARELHO RADIOELÉTRICO
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal.
 
Causas de aumento de pena
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
 
Formas qualificadas
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
 
Ação penal
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
 
CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar (dar rumo diverso do correto), sonegar (se apropria e esconde), subtrair(furtar) ou suprimir (destruir) correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos.
 
- para a existência do crime, é preciso que haja, pelo menos, possibilidade de dano (patrimonial ou moral); caso não haver poderá existir, conforme o caso, o crime do artigo 151.
 
Ação penal
§ único - Somente se procede mediante representação.
 
 
 
SEÇÃO IV
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS
 
DIVULGAÇÃO DE SEGREDO
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é  destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
 
§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
 
§ 2º - Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
 
VIOLAÇÃO DO SEGREDO PROFISSIONAL
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja  revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
§ único - Somente se procede mediante representação.
 
TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
 
 
CAPÍTULO I
DO FURTO
 
FURTO
 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
 
- subtrair: abrange tanto a hipótese em que o bem é tirado da vítima quanto aquela em que ele é entregue espontaneamente, e o agente, sem permissão, retira-o da esfera de vigilância daquele.
 
- a subtração de cadáver humano ou de parte dele pode tipificar o "furto", desde que o corpo pertença a alguém e tenha destinação específica (ex.: subtração de cadáver pertencente a uma faculdade de medicina ou a um laboratórioque esteja sendo utilizado em estudos ou pesquisas); fora dessas hipóteses, o crime será o de "subtração de cadáver ou parte dele", previsto no artigo 211.
 
 
- a consumação do "furto" se dá quando a coisa é retirada da esfera de disponibilidade do ofendido e fica em poder tranqüilo, mesmo que passageiro do agente.
 
- o agente tenta furtar uma carteira e enfia a mão no bolso errado, no caso da vítima não tiver portando ela é crime impossível.
 
- o "furto de uso" não é crime, é ilícito civil, mas o agente deve devolver a coisa no mesmo local e estado em que se encontrava por livre e espontânea vontade, sem ser forçado por terceiro.
 
- o "furto famélico" afasta a ilicitude por estado de necessidade, mas a conduta deve ser inevitável.
 
- o "furto de bagatela" ("princípio da insignificância"): o valor da coisa é inexpressivo, juridicamente irrelevante (ex.: furtar uma agulha); ocasiona a exclusão da tipicidade.
 
- um ladrão furta outro ladrão, o primeiro proprietário sofrerá dois furtos, pois a lei penal não protege a posse do ladrão.
 
- no caso da "trombada", se ela só serviu para desviar a atenção da vítima ("furto qualificado" pelo arrebatamento ou destreza), se houve agressão ou vias de fato contra a vítima ("roubo").
------------------------------------------------------------------------------------------------
- furto / roubo: o 1° é crime simples, tem apenas um objeto material, que é a coisa, enquanto o 2° é crime complexo, tem 2 objetos materiais, a coisa e a pessoa.
 
- furto qualificado (destruição ou rompimento de obstáculo) / roubo: no 1° a violência é praticada contra coisa (obstáculo), enquanto no 2° ela é praticada contra pessoa.
 
- furto qualificado (fraude) / estelionato: no 1° a fraude é empregada para iludir a atenção ou vigilância do ofendido, que nem percebeu que a coisa lhe está sendo subtraída; enquanto que no 2°, a fraude antecede o apossamento da coisa e é a causa de sua entrega ao agente pela vítima.
 
- furto / estelionato: no 1° o agente subtrai a coisa da vítima, enquanto que no 2° ela entrega a coisa mediante fraude.
 
- furto / apropriação indébita: no 1° o agente subtrai a coisa da vítima, enquanto que no 2° ele tem a posse da coisa e depois se apropria dela.
 
- a pessoa que devolve intencionalmente troco errado para outra, prática o crime de "furto".
Causas de aumento de pena (furto noturno)
§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
 
- noite: ausência de luz solar; repouso noturno: período em que as pessoas de uma certa localidade descansam, dormem, devendo a análise ser feita de acordo com as características da região (rural, urbana etc.); somente se aplica ao "furto simples"; prevalece o entendimento de que o aumento só é cabível quando a subtração ocorre em casa ou em alguns de seus compartimentos (não tem aplicação se ele é praticado na rua, em estabelecimentos comerciais etc.) e em local habitado (excluem-se as casas desabitadas, abandonadas, residência de veraneio na ausência dos donos, casas que estejam vazias em face de viagem dos moradores etc.).
 
Causas de diminuição de pena (furto privilegiado)
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
 
- autor primário (aquele que não é reincidente; a condenação anterior por contravenção penal não retira a primariedade) e coisa de pequeno valor (aquela que não excede a um salário mínimo): presente os 2, o juiz deve considerar o privilégio, se 1 ele pode considerar; há sérias divergências acerca da possibilidade de aplicação do privilégio ao "furto qualificado", sendo a opinião majoritária no sentido de que ela não é possível porque a gravidade desse delito é incompatível com as conseqüências muito brandas do privilégio, mas existe entendimento de que deve ser aplicada conjuntamente, já que a lei não veda tal hipótese.
 § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico (energia térmica, mecânica, nuclear, genética - ex.: subtração de sêmen).
 
Formas qualificadas (furto qualificado)
§ 4º - A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
 
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
 
- destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa: a violência deve ser contra o obstáculo e não contra a coisa; a simples remoção do obstáculo e o fato de desligar um alarme não qualificam o crime.
 
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
 
- abuso de confiança: que a vítima, por algum motivo, deposite uma especial confiança no agente (amizade, parentesco, relações profissionais etc.) e que o agente se aproveite de alguma facilidade decorrente dessa confiança para executar a subtração - ex.: furto praticado por empregada que trabalha muito tempo na casa; se o agente pratica o furto de uma maneira que qualquer outra pessoa poderia tê-lo cometido, não haverá a qualificadora.
 
- fraude: é o artifício, o meio enganoso usado pelo agente, capaz de reduzir a vigilância da vítima e permitir a subtração do bem - ex.: o uso de disfarce ou de falsificações; a jurisprudência vem entendendo existir o "furto qualificado" mediante fraude na hipótese em que alguém, fingindo-se interessado na aquisição de um veículo, pede para experimentá-lo e desaparece com ele.
 
- escalada: é a utilização de via anormal para adentrar no local onde o furto será praticado; a jurisprudência vem exigindo para a concretização dessa qualificadora o uso de instrumentos, como cordas, escadas ou, ao menos, que o agente tenha necessidade de realizar um grande esforço para adentrar no local (transpor um muro alto, janela elevada, telhado etc.); a escavação de túnel é utilização de via anormal; quem consegue ingressar no local do crime pulando um muro baixo ou uma janela térrea não incide na forma qualificada.
 
- destreza: é a habilidade física ou manual que permite ao agente executar uma subtração sem que a vítima perceba que está sendo despojada de seus bens; tem aplicação quando a vítima traz seus pertences junto a si, pois apenas nesse caso é que a destreza tem relevância (no bolso do paletó, em uma bolsa, um anel, um colar etc.); se a vítima percebe a conduta do sujeito, não há a qualificadora, haverá "tentativa de furto simples"; se a conduta do agente é vista por terceiro, que impede a subtração sem que a vítima perceba o ato, há "tentativa de furto qualificado" pela destreza; se a subtração é feita em pessoa que esta dormindo ou embriagada, existe apenas "furto simples", pois não é necessário habilidade para tal subtração.
 III - com emprego de chave falsa;
 
- chave falsa: é a imitação da verdadeira, obtida sem autorização; qualquer instrumento, com ou sem forma de chave, capaz de abrir uma fechadura sem arrombá-la (ex.: grampos, "mixas", chaves de fenda, tesouras etc.); não se aplica essa qualificadora na chamada "ligação direta".
 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
 
- concurso de duas ou mais pessoas: basta saber que o agente não agiu sozinho; prevalece na jurisprudência o entendimento de que qualificadora atinge todas as pessoas envolvidas na infração penal, ainda que não tenham praticado atos executórios e mesmo que uma só tenha estado no "locus delicti"; não pode haver concurso do crime de "quadrilha ou bando" (artigo 288) com o "furto qualificado", só como o "furto simples".
 
- se forem reconhecidas duas ou mais qualificadoras, uma delas servirá para qualificar o "furto" e as demais serão aplicadas como "circunstâncias judiciais", já que o artigo 59 estabelece que, na fixação da pena-base, o juiz levará em conta as circunstâncias do crime, e todas as qualificadoras do § 4° referem-se aos meios de execução (circunstâncias) do delito.
 
 
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outroEstado ou para o exterior.
 
- somente terá aplicação quando, por ocasião do "furto", já havia intenção de ser efetuado tal transporte, sendo assim, uma pessoa que não teve qualquer participação anterior no "furto" é contratada posteriormente para efetivar o transporte responde pelo crime de "receptação", e não pelo "furto qualificado", que somente existirá para os verdadeiros responsáveis pela subtração; se o serviço de transporte já havia sido contratado antes da subtração, haverá "furto qualificado" também para o transportador, pois este, ao aceitar o encargo, teria estimulado a prática do "furto" e, assim, concorrido para o delito; o agente quer levar o veículo, mas não consegue, não incide a qualificadora; a tentativa somente é possível se o agente, estando próximo da divisa, apodera-se de um veículo e é perseguido de imediato até que transponha o marco divisório entre os Estados, mas acaba sendo preso sem que tenha conseguido a posse tranqüila do bem.
 
- o reconhecimento desta afasta a aplicação das qualificadoras do § 4°, já que o delito é um só, e as penas previstas em abstrato são diferentes; mas por elas se referirem ao meio de execução do delito, poderão ser apreciadas como "circunstâncias judiciais" na fixação da pena-base (art. 59).
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
“Dignidade” tem o sentido de decência, compostura, respeito.
1.1-ESTUPRO (ART.213,CP) – CONCEITO LEGAL
“Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.”
A objetividade jurídica do crime é a liberdade para o ato sexual.
1.2-Sujeito ativo – Na primeira modalidade somente o homem pode cometer o delito. Na segunda modalidade o sujeito ativo é qualquer pessoa.
1.3-Sujeito passivo – Na primeira modalidade somente a mulher, na segunda modalidade é qualquer pessoa (PROSTITUTA, GAROTO DE PROGRAMA, VIRGEM, PROMÍSCUA, HONESTA SEXUALMENTE, ETC).
1.4-Tipo objetivo – “Constranger” é obrigar, coagir, forçar a vítima ao ato sexual. “Violência” é a prática de lesão corporal ou homicídio contra a vítima.
“Grave ameaça” é a intimidação psíquica, a violência moral.
“Conjunção carnal” é o relacionamento sexual normal, com coito vagínico. Introductio ou intromissio penis in vaginam.
“Ato libidinoso” é todo ato destinado ao prazer sexual, para satisfazer a libido sexual. Exemplos: apalpação dos seios, coito oral, coito anal, etc.
1.5-Modalidades: na primeira parte a violência é empregada para a extorsão da conjunção carnal. A mulher é obrigada a manter o coito vagínico.
Na segunda parte do dispositivo, o crime pode ser praticado de duas formas: 1ª) o agente obriga a vítima a praticar um ato libidinoso diverso da conjunção carnal. A vítima, neste caso, tem um comportamento ativo no ato sexual. Exemplo: o agente obriga a vítima a masturbá-lo.
Na 2ª forma do crime, o comportamento da vítima é passivo no ato sexual. A vítima é obrigada a permitir que com ela se pratique o ato libidinoso. Exemplo: a vítima é obrigada a manter sexo anal com o acusado.
1.6- Consumação – Na primeira parte do art. 213, a consumação se dá com a introdução do pênis na vagina da vítima, total ou parcial, podendo ou não haver ejaculação.
Na segunda parte do art. 213, o delito se consuma quando a vítima pratica ou permite que com ela se pratique o ato libidinoso. Nesta hipótese, basta o toque físico eficiente para gerar a lascívia do acusado e o constrangimento da vítima.
Não há necessidade que a vítima coagida realize o ato sexual com o agente do crime, pode ser com um terceiro, ou ainda em si mesma como no caso de automasturbação.
Comete ainda o crime de estupro a pessoa que se deparando com uma pessoa despida,obriga essa pessoa a permanecer nua para contemplá-la.
Esse crime somente pode ser cometido de modo doloso. Rogério Greco cita um caso que poderia ser tomado por modalidade culposa.
1.7- Qualificação – As modalidades qualificadas estão previstas nos §§ 1º e 2º do art. 213. São formas preterdolosas do delito. Ler.
RESULTADO QUALIFICADOR E QUALIFICADORA: “Se da conduta resulta”, ou seja, se da violência ou grave ameaça resulta lesão corporal ou morte, haverá aumento de pena naqueles termos. Na 1ª parte do § º há um resultado qualificador e na 2ª parte uma qualificadora (ser a vítima menor de 18 anos e maior de 14).
Quando o estupro é cometido no dia em que a vítima completa 14 anos, Damásio de Jesus entende que deve incidir a qualificadora do
§1º, a despeito da lei não prever.
O resultado qualificador pode se dar por dolo ou culpa (exceto quando o legislador deixa claro a exclusão do dolo como fez no §3º do art. 129).
Há quem sustente que deve existir nos delitos sexuais, para a configuração do resultado qualificador, a incidência somente de culpa. Se existir dolo haveria concurso de crimes entre homicídio ou lesão corporal.
EXEMPLO: “Um homem ao tentar estuprar uma mulher, derruba a vítima que bate a cabeça em uma pedra e morre. A corrente doutrinária majoritária entende haver ocorrido a modalidade qualificada do crime do parágrafo segundo. Uma corrente minoritária entende haver tentativa qualificada de estupro.
Na hipótese de estupro de menor de 18 e maior de 14 anos vier a ocorrer morte da vítima, aplica-se a pena do § 2º.
1.7- CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PREVISTAS NOS ARTS. 234-A e 226.
A) Nos crimes contra a dignidade sexual a pena é aumentada:
1- De metade se do crime resultar gravidez.
2- De um sexto até a metade, se o agente transmitir à vítima doença sexualmente transmissível, de que sabe ou deveria saber ser portador.
3- De quarta parte, quando o crime é cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas.
4- De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio ou irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.
1.8- AÇÃO PENAL – (ART. 225) A ação penal será pública condicionada a representação.
No parágrafo único, a ação penal será pública incondicionada, se a vítima é menor de 18 anos ou pessoa vulnerável.
1.9- SEGREDO DE JUSTIÇA – Segundo o art. 234-B Os processos que apuram crimes contra a dignidade sexual correrão em segredo de justiça.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
1) Não haverá concurso de crimes se o agente realizar conjunção carnal e outro ato libidinoso diverso com a vítima. Vicente Greco Filho minoritariamente defende a possibilidade de existir concurso entre as duas modalidades de estupro. Todavia, o juiz deve levar em consideração este comportamento duplo a quando da dosimetria da pena.
2) Somente ocorrerá concurso se o agente cometer novamente o ato sexual em outro cenário, em outras circunstâncias.
3) O dissenso da vítima deve ser durante todo o ato sexual, assim como a cessação do consentimento para o ato sexual pode ocorrer a qualquer momento, impedindo o autor de prosseguir o ato, incorrendo no delito se prosseguir.
4) O estupro em qualquer de suas modalidades é considerado crime hediondo.
5) Para a prática do crime, não é necessário o contato físico. Exemplo: A, um homem, ameaça B, uma mulher, com uma arma de fogo e obriga a vítima a se despir em sua frente, o que lhe confere prazer sexual, comete o delito consumado (Guilherme de Souza Nucci).
2- Violação Sexual Mediante Fraude (conceito legal – art. 215)
“Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”.
Pena: reclusão de 2 a 6 anos.
2.1- Objetividade Jurídica – a liberdade sexual.
2.2- Sujeito ativo – na modalidade “ter conjunção carnal”, o delito é próprio, somente pode ser praticado pelo homem. Na segunda modalidade, qualquer pessoa pode ser autora do crime.
2.3- Sujeito passivo – Na primeira modalidade é a mulher. Na segunda modalidade é qualquer pessoa.
2.4- Tipo Objetivo – “ato libidinoso”, e “conjunção carnal”, já foram explanados no art. 213, CP. “Fraude” é o ardil, o engano, o artifício. Um verdadeiro estelionato sexual.
Dianteda fraude, a vontade da vítima é viciada, pois se conhecesse a realidade, a vítima não consentiria o ato sexual. Exemplos: a simulação de casamento; um homem penetra no quarto de uma mulher fingindo ser seu esposo. O caso dos gêmeos Cosme e Damião em que um se faz passar pelo outro.
“Outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vítima” deve ser um meio análogo à fraude. Exemplo: embriaguez incompleta da vítima.
2.5- Consumação – Na modalidade conjunção carnal, a consumação ocorre nos mesmos moldes do crime de estupro; Na segunda modalidade, com a realização do ato libidinoso.
A tentativa é admitida.
2.6- Elemento subjetivo – somente pode ser praticado dolosamente.
Se existir finalidade econômica, aplica-se também a multa.
2.7- Causas de aumento da pena: (art. 234-A). Ler.
ASSÉDIO SEXUAL (ART. 216-A)
“Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
1- Objetividade Jurídica – é a liberdade sexual.
2-Sujeito ativo e passivo é qualquer pessoa. O agente deve se encontrar em uma posição de superioridade hierárquica ou ascendência em relação à vítima, decorrente de cargo, emprego ou função.
A vítima deve se encontrar em uma posição de subalternidade em relação ao agente.
“Constranger” é coagir. O constrangimento pode ser por qualquer meio de comunicação (verbal, escrito ou mímica). O constrangimento não pode ser físico.
A vantagem e o favorecimento podem ser de diversas ordens, desde que tenham um cunho sexual.
Não se exige que o ato sexual seja de relevo.
A vantagem ou o favorecimento podem ser para o próprio agente ou para terceiro, ainda que sem o conhecimento deste. Se o terceiro tem ciência do constrangimento, poderá responder como partícipe do delito.
Não é preciso que o agente obtenha o que pretendia, basta o intuito.
3- Consumação – Ocorre no momento em que o agente realiza a ação de constranger, independentemente de obter ou não o favor sexual buscado. Na hipótese do constrangimento ter sido por escrito, admite-se a forma tentada.
OBS. No art. 216-A foi acrescentado pela lei 12.015, o §2º, com a seguinte redação: “a pena é aumentada em até um terço, se a vítima é menor de 18 anos.”
A doutrina critica essa formula por não prever um mínimo de aumento, somente o máximo é previsto.
3- Estupro de Vulnerável (art. 217-A) “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos”. Reclusão de 8 a 15 anos.
(Parte 2 de 17)
3.1- Introdução – o dispositivo visou substituir a presunção de violência existente na legislação anterior, tratando a matéria de modo claro, prevenindo interpretações divergentes.
3.2- Objetividade jurídica - a liberdade sexual e o desenvolvimento sexual.
3.3- Sujeito ativo – Na primeira modalidade somente o homem. Na segunda é qualquer pessoa. Sujeito passivo deve ser pessoa vulnerável.
3.4- Tipo objetivo – O núcleo do tipo penal é o verbo “ter”, que difere do verbo “constranger” empregados no art. 213. Ou seja, não se exige, nesta forma especial de estupro, que o agente empregue violência ou grave ameaça. CONJUNÇÃO CARNAL E ATO LIBIDINOSO FORAM CONCEITUADOS NO ESTUDO DO CRIME DE ESTUPRO (ART. 213).
Mesmo que sem violência ou grave ameaça, mesmo a vítima consentindo o ato sexual, ainda assim haverá o crime.
PESSOA VULNERÁVEL é aquela menor de 14 anos ou portadora de doença mental ou deficiência mental, que não possui discernimento para a prática do ato sexual ou ainda o que não pode, por qualquer motivo, oferecer resistência (art. 217-A, §1º).
Não incorre no crime o agente que mantém relação sexual com a vítima no dia de seu aniversário de 14 anos, porque a lei se refere a “ menor de 14 anos.” A idade da vítima é provada pela certidão de nascimento ou outro documento idôneo.
A vulnerabilidade pode ser relativa ou absoluta. Pergunta Nucci: Pode-se considerar, o menor de 13 anos, absolutamente vulnerável, a ponto de seu consentimento para a prática sexual ser completamente inoperante, ainda que tenha experiência sexual comprovada?
Ou será possível considerar relativa a vulnerabilidade em alguns casos especiais, avaliando-se a o grau de conscientização do menor para a prática sexual?
Ele entende que essas perguntas devem ser formuladas quanto ao menor entre 12 e 14 anos, já que a criança (menor de 12 anos) a vulnerabilidade deve ser absoluta.
Por curiosidade, na Espanha e na Argentina o limite mínimo de idade é 13 anos.
Depois que a vítima completa 14 anos, somente poderá ser vítima de crime sexual nas seguintes hipóteses:
Se o ofendido, embora voluntário o ato, encontra-se em situação de prostituição (art. 218, §2º, I)
Se o ato sexual for praticado sem o seu consentimento (art. 213 ou 215).
Quanto a enfermidade mental ou deficiência mental pode-se sustentar o mesmo: deve-se avaliar a falta de discernimento (caráter absoluto) ou discernimento incompleto (caráter relativo), aplicando-se conforme a situação o art. 215 (violação sexual mediante fraude) ou o art. 217§1º (estupro de vulnerável). Neste caso, não importa a idade do ofendido.
A enfermidade mental deve ser provada pericialmente.Não basta alegar.
Se o agente for enganado quanto a idade da vítima ou as circunstâncias do caso concreto (altura, compleição física, desenvoltura, comportamento, etc.) levarem o agente a presumir que a vítima tem mais de 14 anos, poderá haver erro de tipo (ART. 20, CP).
Quanto a enfermidade mental ou deficiência mental pode-se sustentar o mesmo.
Pode uma pessoa, mesmo portadora de doença mental ou deficiência mental manter relação sexual e isso não configurar o crime em estudo, como no caso de uma pessoa portadora de epilepsia.
A impossibilidade de resistência da vítima é exemplificada quando uma pessoa por debilidade orgânica ou velhice, excepcional esgotamento, sono mórbido, desmaio, embriaguez, em coma num hospital, anestesiada, hipnotizada, etc., não reúne condições de resistir ao ato.
3.5- Consumação – Ocorre nos mesmos moldes do crime de estupro (art. 213, CP).
3.6- Modalidades Qualificadas: Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave, a reclusão passa a ser de 10 a 20 anos (§1º). Se resulta morte, a pena é de 12 a 30 anos.
3.6- Causas de aumento de pena: Estão previstas no art. 234-A E 226, CP:
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PREVISTAS NOS ARTS. 234-A e 226.
A PENA É AUMENTADA:
1- De metade se do crime resultar gravidez.
2- De um sexto até a metade, se o agente transmitir à vítima doença sexualmente transmissível, de que sabe ou deveria saber ser portador.
3- De quarta parte, quando o crime é cometido mediante concurso de duas ou mais pessoas.
4- De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio ou irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.
3.7- Ação Penal – Tendo em vista a vulnerabilidade da vítima, a ação penal é pública incondicionada (art. 225). O processo deverá correr em segredo de justiça.
3.8- Concurso de Crimes – pode ocorrer entre o art. 217-A e lesão corporal (art. 129,CP) ou ameaça (art. 147) se foram estes os meios empregados pelo agente.
4.1-CORRUPÇÃO DE MENORES ( NUCCI DENOMINA este CRIME DE “MEDIAÇÃO DE VULNERÁVEL PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM” –(ART. 218)
“Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem.” Reclusão de 2 a 5 anos.
“Induzir” é incutir a idéia na cabeça da vítima ou convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal. Exemplos do crime: Induzir a vítima a realizar um ensaio fotográfico exibindo-se para a satisfação sexual de alguém;
Com a mesma finalidade, exibi-la durante um banho; induzir à automasturbação da vítima; a ficar deitada sem roupas; danças eróticas semi-nua; streaptease, etc.
Trata-se de uma modalidade especial de lenocínio (ato de tirar proveito da sexualidade alheia), onde o sujeito presta assistência à libidinagem de outrem. (COMPARAR COM O ART. 227).A mediação para servir a lascívia de outrem envolvendo apenas adultos é crime vetusto e de raríssima aplicação que já deveria ter sido revogado do CP.
Não satisfeito de manter esse tipo penal, o legislador ainda criou a “mediação de vulnerável para servir a lascívia de outrem”.
Aquele que desafoga na vítima sua libidinagem responde por estupro de vulnerável (art. 217-A).Trata-se de uma exceção pluralística à teoria monista.
Se A induz (dar idéia) a menor de 14 anos B a ter conjunção carnal com C, responderá pelo art. 218, enquanto C deve ser processado como incurso no art. 217-A (estupro de vulnerável). O partícipe moral tem pena mínima de 2 anos, enquanto aquele que realizou o ato sexual tem pena mínima de 8 anos.
A consequência dessa falta de bom senso será a possibilidade de aplicar por analogia in bonam parte, ao partícipe em geral do estupro de vulnerável a figura privilegiada do art. 218, uma vez que não tem sentido em punir o indutor com pena de 2 a 5 anos e o instigador com pena de 8 a 15 anos.
Criou-se uma figura privilegiada e inadequada para a participação moral em relacionamento sexual de menor de 14 anos, prejudicando a aplicação da figura de estupro de vulnerável.
Lascívia é a concupiscência, a luxúria, a sensualidade, a libidinagem.
Exige-se que o sujeito passivo seja induzido a satisfazer a lascívia de determinada pessoa. Se o induzimento é para que a vítima satisfaça a libidinagem de indeterminado número de pessoas, o crime será o do art. 218-B (favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável).
4.2- Objetividade Jurídica – é a dignidade sexual e o desenvolvimento sexual normal da vítima, prevenindo seu ingresso precoce na vida sexual.
4.3- Sujeito Ativo e passivo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Sujeito passivo é o menor de 14 anos. Se a vítima tem mais de 14 anos, o crime será o do art. 227, CP.
O crime se consuma quando a vítima satisfaz a lascívia de um terceiro.
Corrupção de menores no ECA.
4.4- Ação penal é pública incondicionada e deve correr em segredo de justiça (art. 234-A).
5-SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE (ART. 218-A)
Essa figura é inédita no Código Penal.
“Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer a lascívia de outrem.”
Para a configuração do crime, o agente deve praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso na presença do menor de 14 anos, com a finalidade de satisfazer a lascívia de outrem. A presença do menor no ato sexual é motivo de prazer para um terceiro.
O menor não pratica nenhum ato sexual, mas apenas assiste essas práticas. “Lascívia” é a sensualidade, luxúria, concupiscência.
Busca-se punir a conduta da pessoa sexualmente desequilibrada, cuja satisfação da lascívia advém da presença de menor de 14 anos durante a prática do ato libidinoso isolado ou em conjunto com outrem.
O agente do crime não tem qualquer contato físico com o menor de 14 anos nem o obriga a se despir ou a adotar qualquer conduta sexualmente atrativa, pois se assim fizesse estaria cometendo estupro de vulnerável.
O núcleo do tipo prevê a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso, destinado ao prazer sexual, para satisfação de lascívia própria ou de terceiro.
O menor de 14 anos a tudo assiste. O tipo penal menciona o termo presença e o verbo presenciar, dando margem a interpretação de que o menor deveria estar fisicamente no local onde o ato sexual se desenvolve.
Não deveria ser assim, pois a evolução tecnológica já propicia a presença – estar em determinado lugar ao mesmo tempo em que algo ocorre – por meio de aparelho apropriado (web Can). Logo, o menor pode a tudo assistir ou presenciar através de TV ou monitores.
A conduta do agente pode consistir em praticar o ato sexual na presença do menor ou simplesmente induzir (dar a idéia) o menor a presenciar o ato de terceiro. O menor não precisa ter consciência da libidinosidade do ato praticado
Nessa última medida, por cautela, deveria o legislador ter inserido os verbos instigar e auxiliar. Porém, se algum deles se configurar, torna-se viável inserir o autor como partícipe do ato sexual de qualquer modo.
4.2- Objetividade Jurídica – é a dignidade sexual e o desenvolvimento sexual normal da vítima.
4.3- Sujeito Ativo e passivo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do crime. Sujeito passivo é o menor vulnerável.
6- FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL (ART. 218-B)
“Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.”
Pena: Reclusão de 4 a 10 anos.
EXPLORAÇÃO SEXUAL é expressão nova na legislação penal que significa tirar proveito ou enganar alguém para lucrar.
Cuida-se de modalidade especial de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, que tem por vítima a pessoa vulnerável. A vulnerabilidade pode ser relativa ou absoluta, conforme exposto no art. 217-A.
Menores de 18 anos e maiores de 14 vulnerabilidade relativa. Menores de 14 anos,vulnerabilidade absoluta.
Se a vítima tem menos de 14 anos, o crime poderá ser o de estupro de pessoa vulnerável (art. 217-A).
Quanto ao relacionamento sexual do vulnerável, está vedado quando a pessoa tiver menos de 14 anos (estupro de vulnerável), porém somente está proibido para os que possuem menos de 18 anos quando envolver prostituição ou outra forma de exploração sexual.
As pessoas enfermas ou deficientes mentais também se submetem à análise da vulnerabilidade relativa ou absoluta:
1) enfermos e deficientes que não têm a menor compreensão e discernimento em relação ao ato sexual, a vulnerabilidade é absoluta (estupro de vulnerável).
2) enfermos e deficientes que têm relativa compreensão e discernimento em relação ao ato sexual, a vulnerabilidade é relativa. Pode configurar-se o crime do art. 215, se não houver pagamento pelo ato, ou o art. 218-B, quando no cenário da prostituição.
Nucci entende que a vulnerabilidade relativa deve inserir, dependendo do caso, os menores com idade entre 12 e 13 anos.
Na modalidade “submeter”, a vítima é subjugada pelo agente, sujeitando-se à prostituição ou a outra forma de exploração sexual (Exs: pornografia, turismo sexual, etc.).
“Induzir’ é semear na mente da vítima a idéia de prostituir-se. “Atrair” é chamar a atenção da vítima para essa atividade, concedendo-lhe alguma vantagem como presentes, viagens, etc.
Na modalidade “facilitação”, o agente pode proporcionar meios para o exercício da prostituição (carro, apartamento, roupas), ou mesmo conseguindo clientes para a vítima.Neste caso a vítima já vive na prostituição.
Pode ainda o crime ser cometido quando o agente impede ou dificulta a vítima de abandonar a prostituição. A vítima se encontra no exercício da atividade, sendo impedida pelo agente de abandoná-la ou quando o agente dificulta o abandono.
A vítima com doença mental ou com deficiência mental se deixa explorar sexualmente, sem que ninguém mantenha com ela conjunção carnal ou ato libidinoso. Por exemplo: tirar fotos eróticas, trabalhar em casa de prostituição, em casa de disque-sexo, etc.
Se ocorrer ato sexual poderá ocorrer o crime do art. 217-A (estupro de vulnerável).
O tipo é misto alternativo: a prática de uma só conduta configura o crime. Porém, a prática de mais de um verbo mantém o crime único.
A prostituição e a exploração sexual são elementos normativos do tipo, implicando em exercício do comércio do sexo ou sexo obtido mediante engodo.
Portanto, deve existir prova de habitualidade, ou seja, de que o comércio sexual instalou-se na vida da vítima, ainda que por breve tempo.
Se uma pessoa realizou ato sexual uma única vez mediante paga não há prostituição porque não existe habitualidade.
§2º: Incorre nas mesmas penas quem:
I- pratica conjunçãocarnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18anos e maior de 14 anos na situação descrita no caput do artigo 218-B.
II- o proprietário, gerente ou responsável pelo local (hotel, motel, boate, danceteria, etc.) em que se verifiquem as práticas referidas no caput do artigo 218-B.
Ler §3º do artigo em estudo.
6.1- Objetividade Jurídica – a dignidade sexual, no que concerne a moralidade sexual e o desenvolvimento sexual.
6.2- Sujeito Ativo – qualquer pessoa.
6.3- Sujeito passivo – é a pessoa vulnerável.
6.4- Consumação – Ocorre com a realização da conduta descrita no núcleo do tipo penal.
Arts.219,220, 221,222, 223 e 224 foram revogados do Código Penal.
Capítulo III – Do Rapto
Art. 219 Revogado.
Art.220 Revogado.
Art. 221 Revogado.
Art. 222 Revogado
Capítulo IV – Disposições Gerais
1-Art. 223 Revogado
2-Art. 224 Revogado
3-AÇÃO PENAL art. 225
“Nos crimes definidos nos capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação”.
Parágrafo Único: “procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 anos ou pessoa vulnerável.”
Observação: Em caso de estupro de pessoa adulta, ainda que cometido com violência a ação penal é pública condicionada à representação.
AUMENTO DE PENA –ART. 226: A pena é aumentada:
De quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de duas ou mais pessoas;
De ½ se o agente é ascendente, descendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.
Capítulo V - Do Lenocínio e do Tráfico de Pessoa para Fim de Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual
1- Lenocínio: é o fato de prestar assistência a libidinagem de outrem, ou dela tirar proveito. Estão incluídos no lenocínio os seguintes crimes:
Mediação para servir a lascívia de outrem (art. 227).
Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art.228).
Não tem denominação. Era denominado de Casa de prostituição (art.229).
Rufianismo (art.230).
Tráfico Internacional de Pessoa Para Fim de Exploração Sexual (art.231)
Tráfico Interno de Pessoa Para Fim de Exploração Sexual (art.231-A)
1.1- Mediação para Servir a Lascívia de Outrem (art. 227):
“Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem”.
LER §§1º, 2º, e 3º DO ART. 227.
A mediação para servir a lascívia de outrem envolvendo apenas adultos é crime vetusto e de raríssima aplicação que já deveria ter sido revogado do CP.
Não satisfeito de manter esse tipo penal, o legislador ainda criou a “mediação de vulnerável para servir a lascívia de outrem”.
1.2- Objeto Jurídico: a disciplina da vida sexual, de acordo com os bons costumes, a moralidade pública e a organização da família.
1.3- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
1.4- Sujeito Passivo: é a pessoa que satisfaz a lascívia de outrem.
Lascívia é a concupiscência, sensualidade, luxúria, a libidinagem.
2- Favorecimento da Prostituição ou Outra Forma de Exploração Sexual:
“Art. 228 – Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual,facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone”.
A prostituição não é crime.
Consiste no ato de se entregar sexualmente a quem solicita, mediante recebimento de um preço. Exige-se habitualidade e indeterminado número de parceiros.
Outra forma de exploração sexual é outra maneira de se tirar proveito, abusar ou lucrar com a lascívia alheia. Ex. Violação sexual fraudulenta (art. 215) assédio sexual (art. 216-A), etc.
2.1- Objeto Jurídico: é o interesse social que a função sexual se exerça normalmente, de acordo com os bons costumes.
2.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
2.3- Sujeito Passivo: qualquer pessoa. Não importa a condição pessoal da vítima, mesmo a meretriz pode ser sujeito passivo.
Não pode ser pessoa já prostituída no caso de induzir ou instigar. Seria hipótese de crime impossível por absoluta impropriedade do objeto.
2.4- Ler: figuras típicas qualificadas dos §§ 1º, 2º e 3º.
CRÍTICAS: Perdeu-se a oportunidade de extirpar da legislação penal brasileira esse delito. O delito é basicamente inaplicável, pois envolve adultos e, portanto, a liberdade sexual plena.
A prostituição não é delito e a atividade de induzimento, atração, facilitação, impedimento, (por argumento), ou dificultação (por argumento) também não tem o menor sentido ser crime.
O mais (a prostituição não é crime); o menos (dar a idéia ou atrair à prostituição) formalmente é delito. Há lesão ao princípio da intervenção mínimo e ao princípio da ofensividade.
3- Este artigo não tem denominação. Era chamado de Casa de Prostituição antes da lei 12.015/2009:
“Art. 229 – Manter por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente”.
Só existe o delito se o lugar se dedicar exclusivamente à prostituição. Ainda que ocorra em motéis, hotéis, casas de massagens, saunas, boates, bares, danceterias, ou cinemas, estes locais não são estabelecimentos destinados à prostituição, exclusivamente.
Exige-se habitualidade. Só um ato não configura o crime. Logo, não tem tentativa e nem pode o autor ser preso em flagrante.
Se houver concurso com o crime do art. 228 deve-se aplicar o princípio da consunção. O fato mais grave (manter o estabelecimento) absorve o menos grave (facilitar a prostituição).
3.1- Sujeito Ativo: é a pessoa que mantém o estabelecimento em que ocorra exploração sexual.
3.2- Sujeito Passivo: são as pessoas que praticam a prostituição ou se entregam a lascívia alheia e a sociedade.
Não alcança os motéis e os hotéis de alta rotatividade, locais em que há prática de libidinagem, porém sua manutenção não é dirigida à prostituição.
Este crime pode ser condicionado à prova da existência do crime de Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art.228). Desse modo funcionaria como crime assessório ou parasitário.
4-Rufianismo:
“Art. 230 – Tirar proveito da prostituição alheia participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem exerça”.
4.1- Sujeito Ativo: é o rufião, podendo ser qualquer pessoa.
4.2-Sujeito Passivo: é a pessoa que exerce a prostituição (homem ou mulher).
4.3-Elementos objetivos do tipo:
O rufião pode tirar proveito da prostituição alheia de duas formas:
Participando diretamente dos lucros da prostituta.
Fazendo por ela sustentar no todo ou em parte.
Se a prostituta sustenta filhos ou pais, não há o crime.
Se sustentar outros parentes somente haverá o crime se os parentes tiverem direito a alimentos.
Deve haver habitualidade no rufianismo. Não há delito se o agente aufere, ocasionalmente, proveito da prostituição da vítima.
Qualificação: proceder leitura extra-classe do art. 230, §§ 1º e 2º.
5-TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS PARA FIM DE EXPLORAÇÃO SEXUAL:
“Art. 231 – Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro”.
O tráfico de pessoas é crime internacional.
5.1- Objeto Jurídico: é a dignidade sexual, protegendo-a contra lenões internacionais.
5.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa, em geral o crime é praticado por várias pessoas.
5.3- Sujeito Passivo: é qualquer pessoa.
5.4- Tipo Objetivo: o tráfico de pessoas admite duas modalidades de conduta:
a) Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que nele venha exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual.
b) Promover ou facilitar a saída de pessoa que vá exercer essas atividades no estrangeiro.
Leitura Extra-Classe:
- Figuras típicas qualificadas. Art. 231, § 1º, 2º e 3º do art. 231 do CP.
6-TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS (ART. 231 – A)
“Art. 231 – Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”.
6.1-Objetividadejurídica – é a dignidade sexual, os bons costumes.
6.2-Sujeitos do crime – qualquer pessoa.
LER OS §§ 1º, 2º, 3º DO ART. 231
É uma modalidade do art. anterior. A diferença é que neste delito a ação é cometida no interior do país e não em âmbito internacional.
Capítulo VI - Do ultraje público ao pudor
Dois crimes constituem este capítulo:
Ato obsceno – art. 233.
Escrito ou objeto obsceno – art.234.
Visa o legislador proteger o sentimento de moralidade sexual vigente numa sociedade em determinado momento.
1- Ato Obsceno: “Art. 233 – Praticar ato obsceno, em lugar público ou aberto ao público”.
1.1- Objeto Jurídico: é o pudor e a moralidade públicos.
1.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
1.3- Sujeito Passivo: a coletividade.
Ato Obsceno: é a manifestação corpórea, de cunho sexual, que ofende o pudor público.
Exemplos do crime:
Cópula praticada em jardim público.
Urinar em logradouro público, exibindo aos passantes o órgão sexual.
2- Escrito ou Objeto Obsceno:
“Art. 234 – Fazer, importar, exportar, adquirir, ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa, ou qualquer objeto obsceno”.
2.1- Objeto Jurídico: é a moralidade pública sexual.
2.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
2.3- Sujeito Passivo: a coletividade.
2.4- Objeto Material do Crime: pode ser:
Escrito Obsceno.
Desenho Obsceno.
Pintura Obscena.
Estampa Obscena.
Qualquer objeto obsceno (análogo aos anteriores).
2.5- Figuras típicas equiparadas: Ler art. 234, § único do CP.
CAPÍTULO VII (acrescentado pela Lei 12.015/2009)
Disposições Gerais
Aumento de Pena
Art. 234-A- Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I-vetado;
II-vetado;
III-de metade, se do crime resultar gravidez;
IV-de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.
Art. 234-B-Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
Título VII – Dos Crimes Contra a Família
Este título está dividido em quatro capítulos:
Dos Crimes Contra o Casamento.
Dos Crimes Contra o Estado de Filiação.
Dos Crimes Contra a Assistência Familiar.
Dos Crimes Contra o pátrio Poder, tutela e Curatela.
Capítulo I - Dos Crimes Contra o Casamento
1- Bigamia:
“Art. 235 – Contrair alguém, sendo casado, novo casamento”.
1.1- Objetividade Jurídica: é a ordem jurídica matrimonial.
1.2- Sujeito Ativo: é a pessoa casada. A pessoa que, não sendo casada, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo esta circunstância, incorre na pena do § 1º do art. 235.
1.3- Sujeito Passivo: é o Estado, o cônjuge do primeiro casamento e o do segundo, se de boa fé.
OBS: É elementar a existência e a vigência de casamento anterior.
1.4- Concurso de Crimes:
O delito de bigamia absorve o crime anterior de falsidade ideológica, pelo princípio da consunção.
A celebração de mais de um casamento, estando vigente o primeiro, não constitui crime continuado, mas sim concurso material de crimes.
2- Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Impedimento:
“Art. 236 – Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior”.
2.1- O tipo visa a evitar a realização de casamentos nulos. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo deste crime. Sujeito passivo é o estado e o cônjuge enganado.
O erro essencial está definido no art. 139, II do CC (proceder leitura).
2.2- Na segunda modalidade de conduta o CP exige que o agente tenha ocultado do outro contraente impedimento que não seja casamento anterior.
O impedimento é um dos previstos no art. 1.521, I a VII do CC, que tornam o casamento nulo ou anulável.
A ocultação de impedimento impediente não configura o crime, pois este não acarreta nulidade do casamento.
O crime se consuma com a realização do casamento. A tentativa é inadmissível.
2.3- A ação penal somente poderá ser proposta pelo cônjuge enganado.
3- Conhecimento Prévio de Impedimento:
“Art. 237 – Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta”.
3.1- Tutela a Lei penal a formação regular da família.
3.2- Sujeito Ativo: é a pessoa que contrai casamento, conhecendo a existência de impedimento absolutamente dirimente.
Se ambos os cônjuges conhecem a existência de tais impedimentos, serão co-autores.
3.3- Sujeito Passivo: são o Estado e o cônjuge inocente.
3.4- O crime se consuma com a realização do casamento.
4- Simulação de Autoridade para Celebração de Casamento:
“Art. 238 – Atribui-se, falsamente, autoridade para celebração de casamento”.
4.1- Objeto Jurídico: a regular formação da família.
4.2- Sujeito Ativo: pode ser qualquer pessoa.
4.3- Sujeito Passivo: é o Estado e o cônjuge de boa-fé.
Para a consumação do crime não é necessário que o pseudocasamento se realize, bastando que o agente se atribua, falsamente, autoridade para a celebração.
5- Simulação de Casamento:
“Art. 239 – Simular casamento, mediante engano de outra pessoa”.
5.1- Objetividade Jurídica: a norma penal protege a organização regular da família.
5.2- Sujeito Ativo: é um dos nubentes, mas pode ser também o magistrado e o oficial do registro civil.
5.3- Sujeito Passivo: é a pessoa iludida (um dos nubentes, ambos, os pais dos noivos),
5.4- Tipo Objetivo: simular é fingir, representar. A ação deve ser praticada mediante engano de outra pessoa interessada na realização do casamento.
O fim, normalmente, é o congresso carnal com o enganado, proveito econômico, etc.
6-Adultério:
“Art. 240 (Revogado pela Lei 11.106, de 28/03/2005).
.
Capítulo II - Dos Crimes Contra o Estado de Filiação
1-Registro de nascimento Inexistente:
“Art. 241 – Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente”.
1.1- Objetividade Jurídica: o objeto da tutela penal é a segurança do estado de filiação.
1.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
1.3- Sujeito Passivo: o Estado.
1.4- Tipo Objetivo: a conduta é promover, ou seja, provocar, originar. É irrelevante o meio ou finalidade do agente.
Fará parte necessariamente da conduta uma afirmação falsa perante o oficial encarregado do registro.
O crime de falsidade, contudo, é absorvido, pelo princípio da consunção.
O crime se consuma com a inscrição no registro civil do nascimento.
2- Parto Suposto, Supressão ou Alteração de Direito Inerente ao Estado Civil do Recém-Nascido:
“Art. 242 – Dar parto alheio como próprio, registrar como seu o filho de outrem, ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil”.
Trata-se de um tipo misto cumulativo: são previstas várias figuras típicas num mesmo dispositivo legal.
Caso o agente realize mais de uma conduta típica entre as previstas, responde por todas elas em concurso material.
2.1- Objetividade Jurídica: a segurança e a certeza do estado de filiação.
2.2- Sujeito Ativo: na modalidade “dar parto alheio como próprio”, só pode ser sujeito ativo a mulher.
Nas demais modalidades, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
2.3- Sujeito Passivo: é o Estado.
2.4- Tipo Objetivo: na modalidade “parto suposto”, a ação consiste em atribuir-se a maternidade de filho alheio.
A agente apresenta à sociedade uma criança nascida há pouco tempo como sua, sendo alheia.
Na modalidade “registro de filho alheio”, exige-se que o sujeito tenha promovido a inscrição no registro civil do nascimento de criança.
Existe o nascimento, mas o estado de filiação do menor é adulterado pelo registro falso dos agentes.
O crime também pode ser cometido pela ocultação do neonato ou pela sua substituição (troca física dos recém-nascidos).
È indispensável que sobrevenha uma alteração no estado civil do recém-nascido, que passa a usufruir um estado que não lhe compete.
3- Sonegação de Estado de Filiação:
“Art. 243 – Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerenteao estado civil”.
Trata-se de modalidade especial dos crimes de abandono de incapazes ou exposição ou abandono de recém-nascido.
É um tipo misto cumulativo, isto é, caso o agente realize mais de uma conduta típica dentre as previstas, responde por todas elas em concurso material.
3.1- Sujeito Ativo: na primeira modalidade (filho próprio), é o pai ou a mãe. Na segunda modalidade (filho alheio) é qualquer pessoa.
3.2- Sujeito Passivo: é o menor e o Estado.
3.3- Tipo Objetivo: a conduta é abandonar a criança em qualquer instituição pública ou particular que cuide de órfãos ou pessoas abandonadas.
O abandono em qualquer outro local que não uma instituição, caracteriza o crime previsto no art. 133 ou 134.
É necessário que o agente oculte a verdadeira filiação do menor ou lhe atribua outra qualquer, visando prejudicar direito inerente ao estado civil.
Capítulo III - Dos Crimes Contra a Assistência Familiar
Visam a proteção da família no que se refere à sua subsistência, à sua permanência como entidade congregada em seus aspectos material e moral.
1- Abandono Material:
“Art. 244 – Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou filho menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo”.
1.1- Não se trata na aplicação do art. 244 da prisão por dívida civil, proibida pela constituição.
É a prisão resultante de inadimplemento de obrigação alimentar.
1.2- Objetividade Jurídica: tutela a família em seu aspecto material.
1.3- Sujeito Ativo: são o cônjuge, os pais ou os descendentes da vítima, o devedor de pensão alimentícia ou o ascendente da vítima.
1.4- Sujeito Passivo: o Estado, o cônjuge, o filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, o ascendente inválido, o credor de pensão alimentícia e o ascendente ou descendente gravemente enfermo.
Quando o alimentante não tem condições de prover sequer seu próprio sustento, há exclusão do crime.
2- Entrega de Filho Menor à Pessoa Inidônea:
“Art. 245 – Entregar filho menor de dezoito anos à pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo”.
Ler §§ 1º e 2º.
2.1- Objetividade Jurídica: protege-se a assistência familiar e o direito dos filhos à sua formação sadia.
2.2- Sujeito Ativo: os pais.
2.3- Sujeito Passivo: o filho menor de 18 anos.
2.4- Figura Típica Qualificada: § 1º do art. 245.
2.5- Exemplo do Crime: entregar o filho menor de 18 anos à pessoa que sofra de doença contagiosa, ou a uma meretriz, a um conhecido traficante de drogas, etc.
3- Abandono Intelectual:
“Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar”.
3.1- Objetividade Jurídica: o interesse do Estado na instrução primária das crianças.
3.2- Sujeito Ativo: os pais.
3.3- Sujeito Passivo: o filho em idade escolar (de 7 a 14 anos).
Não há tipicidade quando os pais deixam de ministrar ao menor a educação primária por esta não existir na localidade em que residem, não tendo condições de arcar com as despesas de instrução do filho em escola particular (justa causa).
4- Abandono Moral:
“Art. 247 – Permitir alguém que menor de 18 anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
Freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
Freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
Resida ou trabalhe em casa de prostituição;
Mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública”.
4.1- Objetividade Jurídica: preservar a moral do menor concernente à sua formação de caráter.
4.2- Sujeito Ativo: pais, tutores e os que exercem poder sobre o menor.
4.3- Sujeito Passivo: é o menor de 18 anos, filho, tutelado ou confiado à guarda do sujeito ativo.
Capítulo IV - Dos Crimes Contra o Pátrio Poder, Tutela ou Curatela
1-Induzimento à Fuga, Entrega Arbitrária ou Sonegação de Incapazes:
“Art. 248 – Induzir menor de 18 anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem, sem ordem do pai, do tutor ou do curador, algum menor de 18 anos, ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclamante”.
1.1- Objetividade Jurídica: os direitos dos titulares do pátrio poder, tutela ou curatela.
1.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
1.3- Sujeito Passivo: pais, tutores, curadores e os incapazes.
2- Subtração de Incapazes:
“Art. 249 – Subtrair menor de 18 anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial”.
2.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
2.2- Sujeito Passivo: pais, tutores, curadores e os incapazes.
Título VIII - Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública
Compreende este Título três Capítulos:
Dos Crimes de Perigo Comum.
Dos Crimes Contra a Segurança dos Meios de Comunicação e Transportes e Outros Serviços Públicos.
Dos Crimes Contra a Saúde.
Capítulo I - Dos Crimes de Perigo Comum
1- Crime de Incêndio:
“Art. 250 – Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”.
1.1- Objetividade Jurídica: é a incolumidade pública exposta ao perigo.
1.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
1.3- Sujeito Passivo: a coletividade, o Estado e os titulares dos bens jurídicos lesados ou ameaçados.
1.4- Incêndio: é a combustão de qualquer matéria, com sua destruição total ou parcial, que por sua proporção e condições, pode propagar-se, expondo a perigo a incolumidade pública.
Não é qualquer fogo, mas o perigoso. Ex.: incêndio em uma turfeira.
A destruição de coisas determinadas pelo fogo não caracteriza o delito.
Se a intenção é matar o crime será do art. 121.
1.5- Incêndio Qualificado: ocorre quando o agente:
Comete o crime com intuito de obter vantagem pecuniária, em proveito próprio ou alheio. Ex: incendiar um compartimento para destruir um título de dívida.
Quando a ação do agente visa a obtenção de seguro, enquadra-se neste dispositivo. Não há concurso com o art. 171, § 2º, V.
Pratica o crime em casa habitada ou destinada a habitação.
Em edifício público ou destinado a uso público ou à obra de assistência social.
Em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo, em estação ferroviária ou aeródromo.
e) Em depósito de explosivo, combustível ou inflamável, em poço petrolífero ou galeria de mineração, lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Incêndio culposo – ler § 2º.
2- Explosão:
“Art. 251 – Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeito análogo”.
2.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
2.2- Sujeito Passivo: o Estado e o titular do bem lesado.
2.3- Tipo Objetivo: explodir é estourar; dinamite é a nitroglicerina em bebida em materiais sólidos; substâncias de efeitos análogos são a benzina, o trotil, gelatinas explosivas, fogos de artifícios, etc.
Proceder a leitura de explosão privilegiada, qualificada e culposa (§§ 1º, 2º e 3º do art. 251).
3- Uso de Gás Tóxico ou Asfixiante:
“Art. 252 – Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando gás tóxico ou asfixiante”.
3.1- Gás Tóxico: é toda substância que se encontra em estado gasoso ou que para ser utilizada deve passar ao estado de gás ou de vapor, empregada em razão de seu poder tóxico (V. Manzini).
3.2- Gás Asfixiante: é o que atua mecanicamente sobre as vias respiratórias, provocando sufocação, dificultando ou impedindo a respiração. Ex.: gás lacrimogêneo. Aliás, o uso abusivo do gás lacrimogêneo pela polícia, na repressão a movimentos populares, pode constituir o crime.
Ler forma culposa e qualificada.
4- Fabrico, Fornecimento, Aquisição, Posse ouTransporte de Explosivos ou Gás Tóxico ou Asfixiante:
“Art. 253 – Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou material destinado à sua fabricação”.
Substância explosiva deve-se entender a substância tecnicamente tal ou especificamente destinada a explodir, mediante sua própria desintegração (N. H.).
Sua natureza explosiva deve ser comprovada através de exame de corpo de delito.
Não pratica o crime aquele que, sem licença da autoridade, utiliza gás de cozinha (butano ou propano), ainda que tóxico, como combustível em automotor (Jurisprudência).
Na hipótese de explosão culposa, porém, o agente responde pelo artigo 251 (R. T.).
5- Inundação: “Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”. (art. 254).
5.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
5.2- Sujeito Passivo: a coletividade.
5.3- Inundação: é a invasão ou alagamento pela águas de lugar não destinados a conte-las.
5.4- Inundação Qualificada: quando ocorrer lesão corporal grave ou morte.
6- Perigo de Inundação:
“Art. 255 – Remover, destruir ou inutilizar, em prédio próprio ou alheio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, obstáculo natural ou obra destinada a impedir inundação”.
O artigo incrimina o que, eventualmente, poderia caracterizar atos preparatórios ou tentativa de crime de inundação.
O objeto material do crime é o obstáculo natural (ex.: ilha, margem, etc.) ou obra destinada a impedir inundação (barragem, reclusa, dique, comporta, etc.).
7- Desabamento ou Desmoronamento:
“Art. 256 – Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem”.
7.1- Objetividade Jurídica: é a incolumidade pública, colocada em grave risco pelo desabamento ou desmoronamento.
7.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
7.3-Sujeito Passivo: é a coletividade e a pessoa ameaçada ou lesada em sua vida, integridade corpórea ou patrimônio.
Desabamento: é a queda de construções ou obras construídas pelo homem (edifícios, pontes, etc.).
Desmoronamento: refere-se às partes do solo (desmoronamento de morro, de pedreira, etc.).
Ler forma culposa.
Exemplos do Crime: Obras de escavações vizinhas a prédios sem o necessário escoramento destes. Construção de vala próxima a prédio vizinho, causando a queda de parede deste.
Nada impede a responsabilidade de vários agentes (engenheiros, mestres de obra, operários, etc.).
Mas a simples execução de trabalhos determinados e orientados por princípios técnicos, ditados por profissionais e fora do alcance de modestos operários, não caracteriza a culpa destes, com conseqüente responsabilidade criminal.
8- Subtração, Ocultação ou Inutilização de material de Salvamento:
“Art. 257 – Subtrair, ocultar ou inutilizar, por ocasião de incêndio, inundação ou naufrágio ou outro desastre ou calamidade, aparelho, material ou qualquer meio destinado a serviço de combate ao perigo de socorro ou salvamento, ou impedir ou dificultar serviço de tal natureza”.
Salvamento: é o ato de impedir a morte de alguém.
Socorro: relaciona-se com a assistência que deve ser prestada imediatamente a quem foi vítima de dano à sua integridade física (B. Faria).
O objeto material do delito é o objeto ou coisa destinada a conjurar o perigo: extintor, mangueiras, salva-vidas, padiolas, medicamentos, ambulância. (M. N.).
8.1- Concurso: tendo o agente causado a situação de perigo (incêndio, inundação) responde por este delito em concurso material. Havendo furto ou dano ocorre concurso formal.
Ler art. 258.
9- Difusão de Doença ou Praga:
“Art. 259 – Difundir doença ou praga que possa causar dano à floresta, plantação ou animais de utilidade econômica”.
O dispositivo tutela a incolumidade pública, restrita aos bens econômicos mencionados no dispositivo, que fazem parte da riqueza nacional.
9.1- Sujeito Ativo: qualquer pessoa, inclusive o dono das plantações, dos animais, etc.
9.2- Sujeito Passivo: o Estado e o dono dos bens atingidos pela doença ou praga.
9.3-Difundir: espalhar.
9.4- Doença: é o processo patológico que provoca a morte, a destruição ou deterioração de plantas ou animais (ex.: febre aftosa, raiva, peste suína, difteria, peste de aves, sarna, brucelose, etc.).
9.5- Praga: é um mal que não representa o processo de desenvolvimento mórbido da doença.
É um surto maléfico e transeunte semelhante à epidemia. Ex.: filoxera, lagarta rosada, ácaros, nematódeos, piolho, criptógamo, etc.
É necessário que o mal (praga ou doença) tenha atingido certo número de plantas ou animais, não bastando a contaminação de poucos.
A difusão de doença que pode atingir a pessoa humana constitui crime mais grave (arts. 267, 268, 270, etc.).
Ler parágrafo único (tipo culposo).
Capítulo II - Dos Crimes Contra a Segurança dos meios de Comunicação e transportes e outros Serviços Públicos
1- Perigo de Desastre Ferroviário: (ler art. 260).
Desastre: é a lesão ou perigo de lesão à incolumidade física ou patrimonial coletiva, e não o que se relaciona com pessoas determinadas.
Ler Desastre Ferroviário culposo (art. 260, § 2º).
2- Atentado Contra a Segurança de Transporte Marítimo, Fluvial ou Aéreo:
“Art. 261 – Expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea”.
2.1- Objetividade Jurídica: tutela a incolumidade pública concernente à segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo.
2.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
2.3- Sujeito Passivo: o Estado. No caso de sinistro, vítimas são também todos os titulares dos bens jurídicos ofendidos.
2.4- Tipo Objetivo: os verbos utilizados pelo legislador se auto explicam.
Embarcação: ex.: navio, barco, lancha, barco de vela, etc.
Aeronave: ex.: avião, helicóptero, balão.
É imprescindível que se trate de embarcação ou aeronave destinada a transporte coletivo, caso contrário não se identifica o “perigo comum”.
A lei não inclui no tipo a navegação lacustre. O atentado a uma embarcação que navegue em um lago pode constituir outro delito (art. 262 ou 263).
Ler art. 261, § 1º, § 2º e 3º.
3- Atentado Contra a Segurança de Outro Meio de Transporte:
“Art. 262 – Expor a perigo outro meio de transporte público, impedir-lhe ou dificultar-lhe o funcionamento”.
3.1- O legislador penal tutela a incolumidade pública no aspecto da segurança dos meios de transporte público não expressamente protegidos pelo art. 261. Ex.: ônibus, embarcações lacustres, etc.
3.2- Sujeito Ativo: qualquer pessoa.
3.3- Sujeito Passivo: a coletividade.
3.4- Outro Meio de Transporte Público: é qualquer meio de transporte que não seja marítimo, aéreo ou fluvial, destinado ao atendimento da coletividade, pertencente à União, Estado ou Município.
3.5- Ler § 1º e § 2º do art. 262 (figura típica qualificada e modalidade culposa) e art. 263.
4- Arremesso de Projétil:
“Art. 264 – Arremessar projétil contra veículo, em movimento, destinado ao transporte público, por terra, por água ou pelo ar”.
4.1-Elementos Objetivos do Tipo:
4.1.1- Arremessar: significa lançar com ímpeto ou força.
4.1.2- Projétil: é qualquer sólido pesado que se move no espaço, abandonado a si mesmo depois de impulsionado.
4.1.3- Exige-se que o projétil seja lançado contra veículo em movimento, pouco importando a velocidade.
4.2- Resultado Qualificador: qualificam o crime a lesão corporal de qualquer natureza e a morte.
4.3- Consumação: ocorre com o lançamento do projétil ao veículo em movimento, ainda que não o consiga atingir.
5- Atentado Contra a Segurança de Serviço de Utilidade Pública:
“Art. 265 – Atentar contra a segurança ou funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública”.
5.1- Elementos Objetivos do Tipo:
Atentar: perturbar.
Qualquer outro de utilidade pública: com esta expressão a lei tutela todos os serviços de utilidade pública análogos aos exemplificados no artigo. Exemplo: limpeza pública,gás, etc.
5.2- Consumação: ocorre com a prática de qualquer ato idôneo a perturbar a segurança ou o funcionamento de serviço de utilidade.
5.3- Figura Típica Qualificada: parágrafo único do art. 265.
6- Interrupção ou Perturbação de Serviço Telegráfico ou Telefônico:
“Art. 266 – Interromper ou perturbar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o restabelecimento”.
Na primeira hipótese, o sistema de comunicação se encontra em funcionamento e o agente o interrompe ou perturba.
Na segunda, o serviço se encontra interrompido e o agente impede ou dificulta seu restabelecimento.
6.1- Qualificação: aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública.
Capítulo III - Dos Crimes Contra a Saúde Pública
A lei penal objetiva punir condutas que atentem contra a incolumidade pública, no que concerne à saúde do grupo social.
1-Epidemia: “Art. 267 – Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos”.
1.1- Objetividade Jurídica: o legislador tutela a saúde pública, isto é, a normalidade física, mental e orgânica de um número indeterminado de pessoas.
1.2- Elementos Objetivos do Tipo:
Causar epidemia: significa provocar doença que surge rápida, num local, e acomete, sucessiva ou simultaneamente, várias pessoas.
É necessário que os germes patogênicos disseminados pelo agente acometam de doença infecciosa um número considerável de pessoas.
Germes Patogênicos: são todos os micro-organismos capazes de produzir moléstias infecciosas.
1.3- Consumação: ocorre com o surgimento de inúmeras pessoas acometidas pela doença (epidemia).
1.4- Resultado Qualificador: se o fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro (§ 1º, art. 267).
1.5- Crime Culposo: Ler § 2º, art. 267 e penas.
2- Infração de Medida Sanitária Preventiva:
“Art. 268 – Infringir determinação do Poder Público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”.
O art. 268 é norma penal em branco.
2.1-Elementos Objetivos do Tipo:
Infringir: tem o sentido de violar, desrespeitar.
A determinação do Poder Público consta de Ato Normativo (ex.: lei, decreto, portaria), municipal, estadual ou federal.
2.2- Qualificação: ler parágrafo único do art. 268.
3- Omissão de Notificação de Doença:
“Art. 269 – Deixar, o médico, de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória”.
O crime é próprio, só pode ser cometido por médico.
Autoridade pública é a indicada nas leis e regulamentos, que indicarão também as doenças cuja notificação é compulsória.
A divulgação não configura o crime do art. 154 (Divulgação de segredo profissional), que contém o elemento normativo “sem justa causa”.
4- Envenenamento de Água Potável ou de Substância Alimentícia ou Medicinal:
“Art. 270 – Envenenar água potável de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo”.
4.1- Água Potável: é a própria para uso alimentar.
4.2- Substância Alimentícia: é toda substância sólida ou líquida destinada à alimentação.
4.3- Substância Medicinal: é a empregada na cura ou na prevenção de moléstias.
4.4- § 1º, art. 270 – Entrega a consumo e depósito de substância envenenada.
4.5- Modalidade Culposa: § 2º, art. 270.
5- Corrupção ou Poluição de Água Potável:
“Art. 271 – Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde”.
5.1- Elementos Objetivos do Tipo:
O crime é análogo ao do art. 270, tutelando apenas a água potável.
A conduta consiste em corromper (adulterar a composição da água) ou poluir (sujar) a água potável.
Se as águas nas quais recaem a conduta do agente não eram potáveis à época do fato, não se tipifica o crime.
Exige-se também que a água se destine ao uso de um número indeterminado de pessoas.
5.2- Modalidade Culposa: art. 271, parágrafo único.
Ler pena e ação penal.
6- Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Substância ou Produtos Alimentícios:
“Art. 272 – Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo”.
6.1- Tipo Objetivo:
Corromper: adulterar, infectar, estragar.
Adulterar: alterar a substância, piorando-a.
Falsificar: imitar enganosamente uma coisa.
Se o objeto material não for destinado ao consumo público, mas de certas pessoas, o crime caracterizado será o do art. 132 (Perigo para a vida ou a saúde de outrem).
6.2- Figuras Típicas Equiparadas: § 1º-A; §1º
Ler § 2º - Modalidade culposa.
7-6- Falsificação, Corrupção, Adulteração ou Alteração de Produto Destinado a Fins Terapêuticos ou Medicinais:
“Art. 273 – Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”.
Este crime (art. 273) pune a alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, que importe na redução do seu valor terapêutico (nocividade negativa).
Ler §1º; §1ºA e §1ºB
7.1- Elementos objetivos do tipo:
A conduta pode ser realizada por quatro por quatro formas:
A 1ª consiste na modificação da qualidade do produto. Embora ele continue sendo o mesmo, perde, em virtude da conduta criminosa, os atributos que o caracterizam. Ex.: alterações na composição química de um medicamento.
O crime ainda pode ser cometido pela supressão, total ou parcial, de qualquer elemento da composição normal do produto medicinal.
Pode o sujeito ativo praticar o delito substituindo um elemento por outro, de qualidade inferior, alterando assim o produto.
7.2- Forma Culposa: § 2º, art.273.
7.3- Forma Qualificada: art. 273 C/c art. 258 e 285.
8- Emprego de Processo Proibido ou de Substância Não Permitida: art. 274.
O dispositivo pune o fabrico de produtos em desobediência às determinações sanitárias destinadas a preservar a pureza, a higiene e a natureza dos produtos levados a consumo coletivo.
O dispositivo não se restringe a proteger as substâncias alimentícias ou medicinais, mas qualquer outra, como as referentes à perfumaria, à limpeza, etc.
8.1- Tipo Objetivo: a conduta típica é empregar no fabrico de qualquer produto processo ou substância vedados pela legislação sanitária.
O art. 274 é norma penal em branco, que deve ser complementado com as disposições legais (leis, decretos, regulamentos, etc.).
Revestimento: é o envoltório. Não só aquele que faz parte integrante do produto (revestimento de bolos, pastilhas, drágeas, etc.), mas também o invólucro de acondicionamento para a venda (caixas, latas, envelopes, etc.).
Gaseificação Artificial: processo utilizado na fabricação de refrigerantes ou de certas bebidas alcoólicas.
Matéria Corante: substância utilizada para dar cor aos alimentos.
Substância anti-séptica: utilizada para evitar a fermentação dos alimentos.
Substância conservadora: retarda ou impede a deterioração dos alimentos.
Ou qualquer outra não expressamente permitida pela legislação sanitária. Ex.: acidulantes, estabilizantes, flavorizantes, etc.
Basta que a substância ou processo empregado no fabrico de produto destinado ao consumo público não sejam expressamente permitidos pela legislação sanitária.
9- Invólucro ou Recipiente com Falsa Indicação:
“Art. 275 – Inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que a mencionada”.
9.1- Tipo Objetivo:
Inculcar: significa fazer falsa indicação.
Produto: é a coisa fabricada industrialmente ou manufaturada.
A falsa indicação deve estar no invólucro (tudo o que envolve, reveste o produto) ou recipiente (é o que contém, acondiciona-o). Ex.: envelopes, sacos, frascos, garrafas, latas, caixas, barricas, bisnagas, etc.
O agente afirma que determinado produto alimentício ou medicinal contém certa substância que, entretanto, não se encontra em sua composição, ou existe em quantidade menor que a indicada por ele.
10- Produto ou Substância nas Condições dos dois Artigos Anteriores:
“Art. 276 – Vender, expor

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