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1 Direito Penal II - Resumo AÇÃO PENAL: INTRODUÇÃO, ESPÉCIES, REPRESENTAÇÃO CRIMINAL E REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA Introdução Ao longo do tempo, o Estado suprimiu a autodefesa e tomou para si o direito de resolver os litígios entre os indivíduos. Ele assumiu o dever de distribuir justiça, criando tribunais e juízos para tornarem a proteção dos direitos e dos interesses individuais garantidos pela ordem jurídica de fato efetivos. Consequentemente, surgiu o direito do cidadão de invocar a atividade jurisdicional do Estado para solucionar os seus litígios e reconhecer os seus direitos. Na esfera criminal, a gente chama isso de direito de ação penal. Ação é o direito de invocar a prestação jurisdicional, ou seja, o direito de requerer em juízo a reparação de um direito violado. O Estado determina ao indivíduo que ele não pratique ações delituosas e assegura que só pode punir o indivíduo se ele violar a lei, dando origem ao ius puniendi. Uma vez violada a proibição legal, a sanção correspondente só pode ser imposta através do devido processo legal, que é a autolimitação que o próprio Estado se impõe para exercer o ius persequendi, ou seja, o direito subjetivo de promover a "persecução" do autor do crime. A ação penal constitui só uma fase da persecução penal, que pode ter início, por exemplo, com as investigações policiais – o inquérito policial –, sindicância administrativa e a Comissão Parlamentar de Inquérito. Essas investigações preliminares são só preparatórias de uma futura ação penal. A ação penal de fato só nasce em juízo, com o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, em caso de ação pública, ou de queixa, pelo particular, quando se tratar de ação penal privada. O recebimento, de uma ou de outra, marca o início efetivo da ação penal. Espécies de ação penal Em relação à legitimidade para propor a ação penal, ela se classifica em: o ação penal pública, que pode ser incondicionada e condicionada 2 o e ação penal privada: que pode ser exclusivamente privada e privada subsidiária da pública. Espécies de ação penal: ação penal pública O Ministério Público é o autor da ação penal pública, cf. art. 129, I, CF. Ela se inicia com o oferecimento da denúncia em juízo e deve conter a narração do fato criminoso, circunstanciadamente, a qualificação do acusado, a classificação do crime e o rol de testemunhas, cf. art. 41 do CPP. Ação pública incondicionada A regra geral é de que a ação penal é pública incondicionada. Em regra, os crimes previstos na Parte Especial do Código Penal, e também na legislação especial, são de ação pública incondicionada ou absoluta. Isso quer dizer que o Ministério Público não precisa de autorização ou manifestação de vontade de quem quer que seja para iniciar a ação. Basta constatar a caracterização da prática do crime para promover a ação penal. Nas mesmas circunstâncias, a autoridade policial, ao ter conhecimento da ocorrência de um crime de ação pública incondicionada, deve, de ofício, determinar a instauração de inquérito policial para apurar responsabilidades, nos termos do art. 52, I, do CPP. Ação pública condicionada A ação pública condicionada continua sendo iniciada pelo Ministério Público. Mas para propor a ação penal pública condicional é necessário que haja representação do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo, ou, ainda, de requisição do Ministro da Justiça. A ação continua pública, em determinados crimes, já que os efeitos são considerados mais gravosos aos interesses individuais, mas o Estado atribui ao ofendido o direito de avaliar a oportunidade e a conveniência de promover a ação penal. Na ação penal pública condicionada há uma relação de interesses complexa, do ofendido e do Estado. De um lado, o direito legítimo do ofendido de manter o crime ignorado e, de outro lado, o interesse público do Estado em punir o crime. Sem a representação do ofendido não tem ação, mas, se isso acontecer, iniciada a ação pública pela denúncia, ela prossegue até decisão final sob o comando do Ministério Público. Em alguns casos, o juízo de conveniência e oportunidade cabe ao Ministro da Justiça, que, na verdade, faz um juízo político sobre essa conveniência. Esses casos são restritos aos 3 o crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do Brasil, cf. art. 7º, §3º, CP o crimes praticados contra a honra do Presidente ou contra chefe de governo estrangeiro, cf. art. 145, parágrafo único, 1ª parte, também do CP. Espécies de ação penal: ação penal privada A ação penal privada vem sempre expressa no texto legal. Em qualquer das suas modalidades, é iniciada sempre através da queixa, que não se confunde com a notícia crime, que é realizada na polícia e é conhecida vulgarmente como "queixa". Ação penal de exclusiva iniciativa privada Nas hipóteses em que o interesse do ofendido é superior ao da coletividade, o Código atribui ao ofendido o direito privativo de promover a ação penal. No fundo, a ação continua pública, já que é administrada pelo Estado através da sua função jurisdicional. O que se permite ao particular é só a iniciativa da ação, nos limites do devido processo legal, que é de natureza pública. Essa iniciativa privada se exaure com a sentença condenatória, já que a execução penal é atribuição exclusiva do Estado. Ação privada subsidiária da pública A inércia do Ministro da Justiça possibilita que o ofendido ou quem tenha qualidade para representá-lo inicie a ação penal através de queixa, substituindo Ministério Público e a denúncia que iniciaria a ação penal. Vale dizer que o pedido de arquivamento, de diligências, de baixa dos autos, a suscitação de conflito de atribuições, entre outros atos, não configuram inércia e, consequentemente, não legitimam a propositura subsidiária de ação privada. Somente se depois de cinco dias para réus presos e de quinze para réus soltos não tiver tido nenhuma atividade ministerial vai haver a possibilidade legal de o ofendido propor ação penal. A ação penal não se transforma em privada, ou seja, ela mantem a sua natureza de pública, e, por isso, o querelante não pode desistir dela, nem renunciar, perdoar ou motivar a perempção. O Ministério Público poderá aditar a queixa, oferecer denúncia substitutiva, requerer diligências, produzir provas, recorrer e, a qualquer momento, se houver negligência do querelante, retomar o prosseguimento da ação (art. 29 do CPP). Na ação penal privada subsidiária, mesmo depois de esgotado o prazo decadencial do ofendido, o Ministério Público pode propor a ação penal, desde que ainda não se tenha havido prescrição. 4 Representação criminal e requisição do Ministro da Justiça A representação criminal é a manifestação de vontade do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo, visando a instauração da ação penal contra o ofensor. Nos casos expressamente previstos em lei, a representação constitui uma condição de procedibilidade para que o Ministério Público possa iniciar a ação penal. Como se trata de exceção à regra geral, ela vai vir expressa para cada tipo de delito que exigir essa condição. A representação não exige nenhuma formalidade, podendo ser manifestada por meio de petição escrita ou oral, e, nesse caso, deverá ser tomada por termo em cartório. A única exigência legal é que se trate de manifestação inequívoca da vontade do ofendido de promover a persecução penal. Em alguns casos a ação pública só pode ser iniciada mediante requisição do Ministro da Justiça. Essa requisição autoriza iniciar a ação, mas não vincula o Ministério Público. A requisição, ao contrário da representação, é irretratável, mesmo antes de iniciada a ação penal (art. 25, CP).
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