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As repercussões da descoberta e colonização das Américas no pensamento europeu do Século XVI

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As repercussões da descoberta e colonização das Américas no pensamento europeu do Século XVI.
Conforme aponta Tzvetan Todorov, os conquistadores espanhóis pertencem, historicamente, a um período de transição “entre uma Idade Média dominada pela religião e a época moderna, que coloca os bens materiais no topo de sua escala de valores”. (TODOROV, T. op. cit., p. 40.)
A conquista, na prática, foi marcada por esses dois aspectos: “os cristãos vêm ao Novo Mundo imbuídos de religião e levam, em troca, metais preciosos e riquezas. ”
Ou seja, acompanhando esta visão, podemos notar um caráter meramente econômico que foi habilmente validado por uma desculpa evangelizadora e cristã, nesse caso, consideravam justa uma guerra contra qualquer um que se opusesse aos desejos do Rei ou da religião, e assim justificavam a pilhagem e os massacres de civilizações “rebeldes” em nome da expansão do evangelho, porém levavam em troca todo ouro que pudessem conseguir, transformando dessa forma a deficitária Coroa Espanhola em um estado rico e próspero.
O debate entre Sepúlveda e Las Casas, é certo, envolve questões que atravessam toda a modernidade. De um lado, o etnocentrismo, a imposição de verdades universais e a intolerância diante dos valores do outro, tal como enunciado pelo primeiro autor. De outro, a defesa intransigente, por parte de Las Casas, da autodeterminação dos povos e do respeito à diversidade. Sem hesitar, pode-se reconhecer naquele confronto de ideias e práticas sociais, ocorrido em meados do século XVI, o prenúncio de problemas que, ainda hoje, restam irresolutos. Mais que isso, as críticas e denúncias de Bartolomé de Las Casas revelam, com clareza, o “nascimento de uma sociedade corroída em seus próprios fundamentos, desequilibrada, perpetuamente condenada à injustiça”.
Não há contradição alguma, nesse sentido, em dizer que a época das luzes foi marcada por muito mais trevas do que qualquer período anterior da história humana...( BRUIT, H. H. op. cit., p. 58.)
Já Michel de Montaigne, ao dissertar sobre os canibais da época, demonstra uma certa compreensão a diversidade cultural dos nativos ameríndios, o autor considera que apesar de considerar bárbaros os hábitos de canibalismo cometidos pelos nativos, pondera que “há mais barbárie em comer um homem vivo que morto” referindo-se ao comportamento do dito civilizado (MONTAIGNE, M. 1533 – 1592)
Hodiernamente, deparamo-nos com uma situação similar. Ao que parece, a perda de referenciais éticos, morais ou jurídicos chegou a tal ponto que o discurso imperialista oficial sequer se preocupa em defender a veracidade das justificativas utilizadas para seus atos.
Emerge, nesse contexto, o antigo e renitente discurso da negação do outro e do desrespeito à diversidade. Em nome de Deus e da “liberdade” territórios nacionais são invadidos, povos são subjugados e pessoas morrem todos os dias. Assim como os índios sofreram (e ainda sofrem) na pele esse amálgama, os iraquianos, afegãos, palestinos, dentre outros, vivem hoje as misérias de uma guerra sem sentido. (Carvalho, L. B. Direito e Barbárie na conquista da América Indígena p,16)
Se ainda hoje discute-se a correção da expressão “descobrimento” para o encontro de novas terras e populações no expansionismo Ibérico dos séculos XIV e XV, este também foi um é marco na História, como sendo o começo dos tempos modernos. Importa destacar o choque entre duas culturas tão diferentes, no momento da chegada do europeu à América. Do embate dessas culturas resultou um processo de mútuas influências. Enquanto o invasor europeu impôs seus padrões, em contrapartida absorveu traços culturais dos índios. A chegada europeia ao Novo Mundo é visivelmente ponto de partida para as grandes mudanças sociais que se seguiram no século seguinte.

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