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DISCIPLINA: GESTÃO E MAPEAMENTO DE PROCESSOS AULA 5 Prof. Roberto Candido Pansonato 2 1. INTRODUÇÃO Vimos nas rotas passadas, como identificar desperdícios e valor na cadeia produtiva, vimos também como mapear os processos através de algumas ferramentas apresentadas (fluxograma, BPM, SIPOC, cadeia de valor, VSM, etc). Cada uma com suas particularidades, todas possuem um objetivo em comum: identificar pontos no processo que necessitam ser corrigidos ou possibilidades de melhoria. Se não for deste modo, não teria sentido estarmos despendendo recursos (tempo, conhecimentos, técnicas, etc.) para chegarmos a lugar nenhum. O estado futuro (ou To-Be), é a representação gráfica da solução de melhoria de um processo. 2. PROBLEMATIZAÇÃO A segunda maior rede internacional de restaurantes do mundo, o Mc Donald’s (atrás apenas da rede Subway), opera em mais de 100 países, cada qual com seus costumes e culturas diferentes. Só no Brasil, a rede possui mais de 1.000 pontos de venda. Entre os motivos de sucesso da rede, alguns estão sustentados por melhorias. Dentre os princípios de melhoria utilizados pelo McDonald’s que pode-se afirmar que são pontos de referência da marca, podemos destacar: I) Minimização do envolvimento de pessoas e foco em liderança. II) Processo de terceirização e redução de custos com fornecedores. III) Padronização dos processos e redução no tempo de ciclo. IV) Padronização dos processos e foco na cozinha saudável. a) ( ) As alternativas I e III estão corretas; b) ( ) Somente a alternativa I está correta; c) ( x ) Somente a alternativa III está correta; d) ( ) As alternativas II e IV estão corretas; e) ( ) Somente a alternativa IV está correta. 3 Análise Uma das vantagens competitivas do MacDonald’s em relação a outras redes de restaurantes é o nível de padronização dos processos: tempos reduzidos e similares de atendimento, padrões rigorosos de prestação de serviços e níveis de qualidade praticamente idênticos entre todas as unidades. Portanto, a padronização dos processos e a redução do tempo de ciclo são os princípios de melhoria de destaque desta rede. Em qualquer lugar do mundo onde haja um MacDonald’s, o processo de atendimento e o tempo de ciclo (cada vez menor) serão os mesmos. Estes princípios conferem uma certa estabilidade no processo, ocasionando poucas variações. 3. OBJETIVOS DA AULA 3.1 Conhecimento efetivo: assimilar os elementos específicos para análise e implantação de projetos de melhorias contínuas. 3.2 Conhecimento Conceitual: diferenciar os conceitos de projetos de melhoria contínua e de projetos de inovação. 3.3 Conhecimento Procedural: atuação e tipos de indicadores e princípios para implantação de projetos. 3.4 Conhecimento Metacognitivo: compreender como se deve agir estrategicamente para criar projetos de melhoria contínua e obter os resultados programados. 3.5 Quanto ao Processo Cognitivo 3.5.1 – Lembrar os princípios para análise dos processos de negócio. 3.5.2 – Entender como as análises de processo impactam no direcionamento assertivo para implantação dos projetos de melhoria contínua. 3.5.3 – Aplicar os princípios de análise baseados nos indicadores. 4 3.5.4 – Analisar os indicadores e os elementos da dinâmica do profissional de mapeamento de processos. 3.5.5 – Avaliar as possibilidades de implantação de projetos diferenciando melhoria contínua e inovação. 3.5.6 –Desenvolver projetos de implementação de projetos de melhoria suportado em que “o processo certo produzirá os resultados certos”. 5 L e m b r a r E n te n d e r A p li c a r A n a li s a r A v a li a r C r ia r E fe ti v o / F a c tu a l A s s im il a r o s e le m e n to s e s p e c íf ic o s p a r a a n á li s e e i m p la n ta ç ã o d e p r o je to s d e m e lh o r ia s c o n tí n u a s 1 - L e m b r a r o s p r in c íp io s p a r a a n á li s e d o s p r o c e s s o s d e n e g ó c io . C o n c e it u a l/ P r in c íp io s D if e r e n c ia r o s c o n c e it o s d e p r o je to s d e m e lh o r ia c o n tí n u a e d e p r o je to s d e i n o v a ç ã o . 2 - E n te n d e r c o m o a s a n á li s e s d e p r o c e s s o im p a c ta m n o d ir e c io n a m e n to a s s e r ti v o p a r a im p la n ta ç ã o d o s p r o je to s d e m e lh o r ia c o n tí n u a . P r o c e d u r a l/ P r o c e d im e n to s A tu a ç ã o e t ip o s d e i n d ic a d o r e s e p r in c íp io s p a r a i m p la n ta ç ã o d e p r o je to s . 3 - A p li c a r o s p r in c íp io s d e a n á li s e b a s e a d o s n o s in d ic a d o r e s . M e ta c o g n it iv o C o m p r e e n d e r c o m o s e d e v e a g ir e s tr a te g ic a m e n te p a r a c r ia r p r o je to s d e m e lh o r ia c o n tí n u a e o b te r o s r e s u lt a d o s p r o g r a m a d o s . 4 - A n a li s a r o s in d ic a d o r e s e o s e le m e n to s d a d in â m ic a d o p r o fi s s io n a l d e m a p e a m e n to d e p r o c e s s o s . 5 - A v a li a r a s p o s s ib il id a d e s d e i m p la n ta ç ã o d e p r o je to s d if e r e n c ia n d o m e lh o r ia c o n tí n u a e in o v a ç ã o . D im e n s ã o d o C o n h e c im e n to D e s c r iç ã o D im e n s õ e s d o P r o c e s s o C o g n it iv o 6 - D e s e n v o lv e r p r o je to s d e im p le m e n ta ç ã o d e p r o je to s d e m e lh o r ia s u p o r ta d o e m q u e “ o p r o c e s s o c e r to p r o d u z ir á o s r e s u lt a d o s c e r to s ” . C o m p e tê n c ia 6 4. PRINCÍPIOS DE ANÁLISE DE MELHORIA CONTÍNUA (VÍDEO 2) 4.1 - Descrição e contextualizaçãoA análise dos processos de negócio é o ponto de partida para a introdução de melhorias. Como já foi mencionado em rotas anteriores, o processo correto (ou o mais próximo disto) proporcionará um produto ou serviço correto. Portanto, quanto mais se conhece os processos de negócio, mais possibilidades de atuar nos mesmos para aperfeiçoa-los (nível de excelência). Para Miller (2003), a análise dos processos de negócio tem por objetivo ampliar a compreensão das características de processo, de forma a possibilitar uma posterior melhoria e padronização (quando necessária e desejada). No entanto, como se pode implantar alguma melhoria sem que se tenha claro onde estamos e onde queremos chegar? Neste momento é necessário que se tenha alguns indicadores básicos que nos permitam enxergar a situação atual dos processos. Para isto os mesmos devem ser medidos. Esta ação (a de medir os processos) é fundamental para quem queira administrar algo. Segundo frase de Deming (1900-1993): “não se gerencia o que não se mede; não se mede o que não se define; não se define o que não se entende; não há sucesso no que não se gerencia”. Neste contexto pode-se entender que medir as condições do processo é primordial para o sucesso de qualquer organização. Uma das formas para demonstrar as medições de processos é a utilização de indicadores. Os indicadores têm relação direta com os objetivos que se pretende alcançar. Por exemplo, se após um mapeamento de processos concluiu-se que o foco principal seria a redução de custos, devemos tomar como partida indicadores financeiros. Por outro lado, se foi constatado problemas com velocidade de um determinado processo e deseja-se aumentar esta velocidade, devemos utilizar indicadores relativos a tempo de ciclo (peças por hora, ou tempo padrão para realização de um determinado serviço, por exemplo). 7 Para se ter um ponto de partida na análise dos processos de negócio, é importante que se analise os mesmos. A seguir veremos alguns indicadores básicos: tempo, custo, valor agregado e qualidade. 4.1.1 – Análise de Tempo Na competitividade acirrada que se observa no mundo corporativo, o fator tempo é um diferencial de sucesso para qualquer organização. Para Miller (2003) é possível, por meio da construção de um fluxo-cronograma (um fluxograma específico com demonstração dos tempos de ciclo, tal qual um diagrama vertical, visto na rota anterior), obter informações importantes a respeito de quais atividades devem ser priorizadas para análise de tempo. A análise de tempo leva em consideração não somente os tempos de ciclos, mas também os tempos de processamento de toda a cadeia de valor (lead time). A priori, o ponto de partida para análise deve ser o ponto de restrição do processo (ou ponto gargalo). É obvio que, resolvendo um ponto de restrição (ponto “A”, por exemplo), a restrição moverá para outro ponto (ponto “B”), e assim consecutivamente, tornando-se um ciclo contínuo para melhoria do fluxo de processo. 4.1.2 – Análise do custo O foco principal do mapeamento não é a aplicação direta sobre custos. O resultado do mapeamento, pode sim direcionar para um trabalho de redução de custos na elaboração do estado futuro (To-Be) em função da evidência de custos nas atividades de um processo. O mais importante é a compreensão dos processos do negócio. Para aplicação de um método que se baseia em custo, sugere-se utilizar o método “ABC” (Activity Based Costing), ou custo baseado nas atividades, que se baseia nas seguintes premissas: foco nas atividades, visualização das atividades de mais alto custo e visualização de atividades que não agregam valor. 8 4.1.3 – Análise do valor agregado Como foi mencionado em rotas anteriores, o termo valor agregado refere- se a algo que agrega valor ao cliente (que ele esteja disposto a pagar). Para analisar o valor agregado em um fluxo de processo, é necessário identificar as atividades que realmente agregam valor sob a perspectiva do cliente. Durante esta análise, vamos encontrar os seguintes tipos de atividades: Valor Real Agregado (VRA): atividades que certamente agregam valor as saídas previstas pelo cliente; Valor Empresarial Agregado (VEA): atividades realizadas para realização do produto ou serviço que não agregam valor direto ao cliente, mas precisam ser realizadas; Sem Valor Agregado (SVA): Atividades que não agregam valor ao cliente e tampouco são necessárias, portanto devem ser eliminadas. Segundo Müller (2003), nos processos empresariais, menos de 30% do custo está nas atividades de valor agregado (VRA). De acordo com Harrington, citado por Müller (2003), outro fator preocupante é a diferença observada em alguns processos entre o tempo das atividades que agregam valor (VRA) e o tempo total do ciclo (lead time), que seria algo em torno de 5% (lembram-se do exemplo da fila do banco apresentado na rota sobre desperdícios e valor?). Através de um trabalho criterioso e constante contra os desperdícios, pode-se obter uma minimização das atividades de valor empresarial agregado (VEA) e a eliminação das atividades sem valor agregado (SVA). 4.1.4 – Análise da qualidade De acordo com Ishikawa (1993), a preocupação mais importante no controle de qualidade deve estar centrada no atendimento dos requisitos do cliente e na prevenção de reincidências. 9 Partindo do pressuposto que “o processo certo produzirá os resultados certos”, a análise da qualidade deve passar pelas atividades e consequentemente pelos processos de uma organização. Para esta análise, podem ser utilizadas técnicas e ferramentas básicas da gestão da qualidade: Folha de verificação: tabelas ou planilhas simples usadas para facilitar a coleta e análise de dados. Local onde se registram os dados dos itens a serem verificados, permitindo uma rápida percepção da realidade; Os “5 porques”: tem como finalidade desenvolver especialidade técnica nas pessoas que conduzem a análise, encontrando-se a causa raiz; Diagrama de causa e efeito (também conhecido como diagrama espinha de peixe ou diagrama de Ishikawa): a partir de um efeito conhecido, esta ferramenta auxilia na identificação das possíveis causas que provocaram algum problema de qualidade (por exemplo). Gráfico de Pareto: utilizado para identificar, entre as causas levantadas, aquelas que determinam a maioria dos problemas de perda da qualidade. Histograma: método gráfico para representar a dispersão (variação) de um conjunto de dados; Gráficos de dispersão (ou correlação): permitem analisar a relação entre duas variáveis (por exemplo, a redução de preço com o aumento da concorrência ou, o tempo de estudo x notas dos alunos, etc.). Cartas de controle (ou gráficos de controle): funciona como um “termômetro”, permitindo que se acompanhe o andamento de um processo ao longo do tempo com o intuito de monitorar e identificar as causas das variações na qualidade de um produto ou serviço. Das ferramentas acima, as três primeiras ajudam na análise da situação problema (coleta de dados e busca da(s) causa(s) raiz). O gráfico de Pareto auxilia a identificar as causas que impactam na perda da qualidade. 10 As três últimas ferramentas da lista (histograma, gráficos de dispersão e cartas de controle), são ferramentas baseadas em estatísticas. Podem ser empregadas em pontos específicos do processo para acompanhar e controlar indicadores de qualidade. 4.1.5 – Indicadores Nos parágrafos acima, foi discutido alguns tipos de análises de processo baseado em indicadores. Também foivisto, uma frase atribuída a Deming relativa a que “não se gerencia aquilo que não se mede” (resumo). Quando falamos em medir um determinado processo, estamos falando no posicionamento real de um processo em relação a um indicador qualquer. Utilizando-se de um exemplo muito simples, a meta de controle da temperatura do corpo humano é mantê-la abaixo dos trinta e sete graus centígrados. Em caso de alguma anomalia no ser humano que causem um aumento desta temperatura, tanto ações para redução da temperatura quanto o seu monitoramento (verificação a cada uma hora, por exemplo), devem ser realizados, levando-se em conta o indicador de temperatura que prevê a “meta” de no máximo trinta e sete graus centígrados. Pode-se então conceituar indicadores como: instrumentos de gestão essenciais nas atividades de monitoramento e avaliação das organizações, assim como seus projetos, programas e políticas, pois permitem acompanhar o alcance das metas, identificar avanços, melhorias de qualidade, correção de problemas, necessidades de mudança etc. Segue abaixo algumas recomendações para elaboração de indicadores: Objetividade: forma simples e direta; Clareza: de fácil compreensão; Preciso: evitar duplicidade de informações; Viabilidade: devem medir resultados, não intenções (algo mensurável); 11 Representatividade: estatisticamente representativa do universo analisado; Visualização: permitir interpretação rápida (uso de gráficos, por ex.); Ajuste: adaptado a realidade do processo e da empresa; Alcance: possibilitar analise das causas, não apenas dos efeitos; Resultados: devem relatar fielmente o que está ocorrendo na organização; Exemplos de indicadores: INDICADOR CONCEITO FÓRMULA Margem líquida Mede o percentual que a empresa obtém de lucro em relação ás vendas Índice de reclamação de clientes Mede a evolução das reclamações de clientes Despesas administrativas Mede o desempenho das despesas administrativas que compõem a formação do lucro líquido Produtividade ($) Mede a produtividade de cada processo em termos de custo Eficiência operacional Mede a utilização da capacidade total Resultado líquido Vendas líquidas Despesas administrativas Receita líquida Receita real do processo Custo total do processo Horas trabalhadas Horas disponíveis Número de reclamações recebidas Número de unidades vendidas 12 5. MELHORIA DOS PROCESSOS (VÍDEO 3) Melhorar os processos da organização é fator crítico para o sucesso institucional de qualquer organização, seja pública ou privada, desde que realizada de forma sistematizada e que seja entendida por todos na organização. Segue abaixo, uma série de doze princípios propostos por Harrington (1993) para agilizar a dinâmica do profissional em mapeamento de processos: 1) Eliminação da burocracia; 2) Eliminação da duplicidade; 3) Avaliação do valor agregado (ava); 4) Simplificação; 5) Redução do tempo de ciclo; 6) Tornar os processos a prova de erros; 7) Modernização; 8) Linguagem simples; 9) Padronização; 10) Parceria com fornecedores; 11) Aperfeiçoamento do quadro geral; 12) Automação e/ou mecanização de processos: soluções em tecnologia da informação. A intenção da apresentação destes princípios é a de proporcionar ao administrador os caminhos que devem ser seguidos para se ter qualidade e agilidade nos processos (modernizá-los, reduzi-los e simplificá-los), corrigi-los no que for necessário e melhorá-los continuamente. 5.1 – Texto Leitura Obrigatória Leia os capítulos 3.3, 4, 4.1 e 4.2 do livro Gestão por Processos com suporte em Tecnologia da Informação, disponível na biblioteca virtual do sistema UNICO, faça o exercício proposto (4.1) e responda as questões para reflexão (pág. 48). 13 5.2 – Vídeo – 7 a 10 min. 5.3 – Quiz Analise e responda: 1) Para se ter um ponto de partida na análise dos processos de negócio, é necessário que se analise os mesmos. Uma empresa, para controlar a qualidade, utiliza três ferramentas. A ferramenta X contém um conjunto de itens que podem aparecer em determinado processo e cuja ocorrência ou não ocorrência devem ser assinaladas, geralmente, em forma de tabelas. A ferramenta Y é um gráfico de barras que ordena as frequências de ocorrência. A ferramenta Z é um diagrama com o formato de espinha de peixe, que facilita a visualização das causas de determinado problema. Considerando o que foi descrito, avalie as seguintes afirmações. I. A ferramenta X é a Folha de Verificação, cujo uso facilita as ações de coletar, organizar e classificar dados, localizar defeitos e identificar a relação de causa e efeito. II. A ferramenta Y é o Diagrama de Pareto, que mostra a informação e torna evidente priorização dos problemas, além de separar as causas críticas das triviais. III. A ferramenta Z é o Diagrama de Ishikawa, que apresenta a relação entre os resultados de um processo (efeito) e seus fatores (causas). É correto o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( x) I, II e III. c) ( ) I e III, apenas. d) ( ) II e III, apenas. e) ( ) II, apenas. 14 2) Conforme visto em princípios de análise de melhoria contínua, em um trecho da frase de Deming é dito que “não se gerencia (ou se administra) aquilo que não se mede”. Isto remete a elaboração de indicadores. Partindo desse pressuposto, dê uma resposta ao problema abaixo: Em um restaurante, se produzem 6.400 refeições por mês e o consumo de energia elétrica é de 12.000 kWh por mês. O proprietário precisa estabelecer uma meta de consumo e quer utilizar estes dados como base para criar um indicador de energia elétrica por refeição. Como seria o indicador ideal para demonstrar / prever o consumo em função de cada refeição produzida? a) ( ) 0,53 KWh por refeição b) ( ) 213 refeições por KWh mês c) ( ) 1,87 refeições por KWh d) ( ) 1,87 KWh por refeição e) ( ) 56,25 refeições por KWh mês 6. IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE MELHORIA CONTÍNUA (VÍDEO 4) Dentre as estratégias adotadas pelas organizações para aumento de competitividade, uma delas refere-se a implantação de projetos de melhoria contínua. Conforme já abordado em rotas anteriores, existe uma certa confusão ao se referir aos conceitos de Produção Enxuta (ou Lean Manufacturing ou Sistema Toyota de Produção). Não é raro encontrar no meio empresarial a associação do termo produção enxuta como sinônimos de métodos específicos tais como: kaizen, troca-rápida, kanban, 5S, poka-yoke, mapeamento do fluxo de valor, trabalho padronizado, etc.. O que ocorre é que entre as ferramentas da manufatura (produção) enxuta, não existe nenhuma maneira sistemática de ligar um problema da organização á uma ferramenta 15 específica para eliminá-lo. Como mencionado na rota de aprendizagem número quatro, a falta de visão holística e a aplicação de ferramentas de forma desestruturadas são as principais causas de implantações mal sucedidas do sistema Toyota de Produção (Shook, 2002). Outros fatores, além do mencionado acima, também são responsáveis pelo fracasso de alguns projetos de melhoria. Entre eles podemos destacar: gestão inapropriada, definição incorreta do objetivo, falta de comprometimento da equipe, não entendimento da cultura lean, etc.. É de suma importância que o gestor absorva esta cultura e utilize as ferramentas lean de forma sistêmica para implantação dos projetosde melhoria contínua. De acordo com Shein (2009, p.03) a definição de cultura dentro de uma organização é a seguinte: Cultura organizacional é o padrão de suposições básicas que um dado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionou bem o suficiente para ser considerado válido e, portanto, para ser ensinado a novos membros como sendo a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação aqueles problemas . Portanto, o sucesso de implantação de projetos de melhoria devem ter como base uma cultura que dê respaldos as dificuldades que irão aparecer no decorrer do processo, pois como veremos a seguir, projetos de melhoria contínua exigem muito esforço e compromissos contínuos. 16 O planejamento de fatores relacionados a implantação de melhoria contínua aumenta o potencial de sucesso e efetividade dos mesmos. Reduzi- los e simplificá-los, corrigi-los no que for necessário e melhorá-los continuamente. 6.1 Melhoria contínua Muito tem se falado sobre melhoria contínua, mas como isto realmente se aplica nas organizações? Para Imai (1996), melhoria contínua (kaizen), implica no envolvimento de todos, do gerente ao operador, com foco no aperfeiçoamento de processos e orientação para inovações incrementais que demandam menor investimento e tempo de implantação e aspectos humanos como motivação, comunicação, treinamento, trabalho em equipe, envolvimento e autodisciplina. Em alguns momentos ocorrem alguns equívocos entre projetos de melhoria contínua e inovação, no entanto há características distintas entre ambos. A melhoria contínua (kaizen) significa pequenos melhoramentos realizados no estado atual (As-Is) provenientes de esforços contínuos. Por outro lado, inovação envolve um melhoramento drástico no estado atual (As- Modelo Iceberg de STP (Fonte: Liker 2005) 17 Is), como resultado de um grande investimento em nova tecnologia e/ou investimento. A tabela abaixo ilustra estas diferenças. Descrição Melhoria Contínua Inovação Efeito Longo prazo e duradoura Curto prazo Ritmo Pequenos progressos Grandes progressos Estrutura de tempo Contínua e incremental Intermitente e não incremental Mudança Gradual e constante Repentina e passageira Envolvimento Todos Poucos “defensores” selecionados Enfoque Coletivismo, esforços em grupo, enfoque sistêmico Individualismo, ideias e esforços individuais Método Manutenção e melhoramento Refugo e retrabalho Estímulo Know-how e atualizações convencionais Avanços tecnológicos, novas invenções e teorias Exigências práticas Investimento menor, porém maior esforço de manutenção Investimento maior, porém menor esforço de manutenção Orientação do esforço Pessoas Tecnologia Critérios de avaliação Processo e esforços para busca de melhores resultados Lucro Vantagem É útil na economia de crescimento gradual Adapta-se melhor à economia de crescimento rápido A tabela acima apresenta de forma clara as principais diferenças entre projetos de melhoria contínua e projetos de inovação. Pelo fato de necessitar de muito esforço, persistência, disciplina e trabalho em equipe, e também gerar resultados de uma forma mais lenta, muitas empresas abandonam esta modalidade, pois a maioria delas desejam resultados mais expressivos e imediatos. Comparação entre melhoria contínua e inovação (Fonte: Imai,1996) 18 Liker (2005) afirma que a melhoria contínua (kaizen) aprimora habilidades nos envolvidos, tais como: trabalhar de modo eficiente em pequenos grupos, auto gerenciar tarefas, resolver problemas, documentar e melhorar processos, coletar e analisar dados. Outra definição apropriada sobre os projetos de melhoria contínua é dada por Mesquita e Alliprandini (2003), que mencionam que várias empresas possuem atividades de melhoria contínua, mas que na maioria dos casos apenas ressaltam a aplicação de técnicas e ferramentas com pouca atenção aos comportamentos relacionados a cultura da empresa. Não se dá o devido cuidado as competências existentes na organização para se ter o aperfeiçoamento regular e sustentado dos processos de produção. Embora não haja consenso de como uma organização deva implantar um processo de melhoria contínua, reuni algumas citações de autores que considero relevantes: Valorizar o Conhecimento Profundo, fundamentado nos seus 14 princípios que abrangem a natureza da variação, a teoria estatística da falha até a psicologia da mudança (Deming); Usar o princípio de Pareto para definir os poucos problemas críticos e designar equipes para resolver esses problemas e incutir a perspectiva que um esforço de melhoria é impulsionado por muitas melhorias pequenas, passo a passo (Juran); Desenvolver a autonomia dos colaboradores para gerenciar a organização, buscar qualidade e melhorar o desempenho (Ishikawa). Para Harrington e Harrington (1997), estimam que deve haver mais de 100 diferentes ferramentas, métodos e técnicas de melhoria contínua. Segue abaixo alguns exemplos: 19 Ciclo PDCA. É uma continuidade do kaizen, age continuamente, logo que se obtém uma melhoria, e o resultado atual (As-Is) torna-se o alvo para mais melhorias (IMAI, 1996). A Norma NBR ISO 9001:2000 sugere a aplicação da metodologia PDCA para todos os processos dos sistemas de gestão da qualidade. 5S é uma das principais atividades do kaizen e é indispensável para um ambiente eficiente e enxuto (IMAI, 1996); Manutenção Produtiva Total (TPM) que é uma estratégia ampla, orientada para pessoas, máquinas e equipamentos, visando maximizar a eficiência do processo e a qualidade do produto. O foco recai sobre esforços dirigidos para eliminação de paradas de equipamentos através do envolvimento das pessoas. Manufatura Enxuta busca a redução dos custos associados aos desperdícios do sistema de produção para maximização dos lucros, geração de maior valor para o cliente final (LIKER, 2005). 6.2 Fatores críticos para implantação de projetos de melhoria contínua Tenho visto em muitas empresas um grande alvoroço quando se fala sobre implantação de projetos de melhoria contínua. Normalmente a alta direção forma uma equipe, mune as mesmas de todo tipo de ferramentas que de alguma forma estão ligadas ao conceito da Manufatura Enxuta e em curto espaço de tempo cobra os resultados do trabalho desta equipe. Infelizmente (ou felizmente, eu creio), os resultados não surgem como um passe de mágica, e o programa as vezes é abortado ou continua existindo somente para fornecer a ideia equivocada de se ter equipes que trabalham continuamente com kaizen. Alves, Souza e Ferraz (2007), baseados em revisão de literatura, indicam 5 fatores críticos que influenciam o sucesso dos projetos de melhoria: 20 Liderança, que é o compromisso da gerência com a implantação de um programa de melhoria. Esse compromisso é traduzido em comunicação, planejamento, execução e controle de mudança. Motivação, que se refere a manutenção do engajamento dos envolvidos e se relaciona com o incentivo à participação e a responsabilidade dos mesmos; Equipe e Treinamento, que engloba cinco aspectos: líder da equipe, composição da equipe; existência de um facilitador; presença de um grupo externo coordenando e apoiando as equipes para alcançar os objetivos do programa de melhoria; Metas e constância de propósito,que enfoca a busca de resultados; Disponibilidade, que se refere a dedicação dos envolvidos para realização das atividades. A seguir, serão apresentados os quatorze princípios de Deming. Estes princípios foram destacados do livro “Out of the Crisis” (Saia da Crise), de Willian Edwards Deming editado em 1986. Depois de participar ativamente da evolução do modelo japonês para administração da qualidade, pode-se dizer que Deming tem conhecimento e compreensão dos fatores críticos para implantação de projetos de melhoria contínua conforme dados abaixo: Os 14 Princípios de Deming 1. Para a melhoria de produtos/serviços deve-se estabelecer uma constância de propósitos de forma a tornar a organização competitiva e mantê-la em atividade, assim como criar empregos; 21 2. “Adote a filosofia”. Segundo Deming as organizações ocidentais deveriam acordar para o “novo desafio”, pois agora estamos em uma nova era econômica onde se faz necessário que a administração ocidental assuma seu papel de liderança neste processo de transformação; 3. Deming defendia que a qualidade deve fazer parte do produto/serviço desde o início, ou seja, deveria ser eliminada a necessidade de inspeção (que só detecta as falhas depois que elas já ocorreram); 4. Para Deming o mais importante na aprovação de orçamentos não deveria ser o preço, mas a diminuição do custo total, para isso, deve-se desenvolver um fornecedor para cada matéria-prima ou insumo de forma a tornar o relacionamento mais duradouro, confiável e leal; 5. Outra forma de reduzir os custos deveria ser a busca constante por melhorias no processo/serviço de forma a aumentar produtividade e a qualidade; 6. “Institua treinamento no local de trabalho”. Manter uma mão-de-obra qualificada diminui os erros no processo por falha humana; 7. Deve ser instituída a “liderança”. As “chefias” habituais devem ser revistas. O objetivo do líder é proporcionar as condições adequadas para uma execução melhor do trabalho; 8. O medo deve ser eliminado a fim de possibilitar que todos trabalhem de forma eficaz e tranquila; 9. Todos devem trabalhar de forma conjunta. Os departamentos devem trabalhar juntos de forma a prever e evitar possíveis falhas; 10. Segundo Deming, deve ser eliminada qualquer alusão a metas do tipo “zero defeitos”, pois, elas servem apenas para causar inimizades e desmotivação, uma vez que a maioria das falhas encontra-se nos processos e não estão ao alcance da maioria dos trabalhadores; 22 11. Deve ser implantada a gestão por processos e substituídas todas as quotas na linha de produção. Elas devem ser substituídas pela liderança; 12. Possibilite que os colaboradores orgulhem-se de seu desempenho e mude os conceitos de responsabilidades de “números absolutos” para “qualidade” (abolição da avaliação anual de desempenho e da administração por objetivos). 13. A organização deve instituir um sólido programa de treinamento a fim de possibilitar o auto aprimoramento da equipe; 14. Todos devem estar envolvidos no processo de realização da transformação. Roda de Deming 23 Para saber se uma empresa está no caminho certo no que diz respeito a implantação de projetos de melhoria contínua, pode-se utilizar a tabela abaixo. No entanto, eventualmente os níveis de melhoria contínua propostos não descrevem exatamente a realidade vivida pelas organizações, pois cada organização tem sua própria experiência em relação à melhoria contínua. (BESSANT et al., 2001). 6.3 – Texto Leitura Obrigatória Leia os capítulos 5, 5.2, 5.3 e 5.4 do livro Gestão por Processos com suporte em Tecnologia da Informação, disponível na biblioteca virtual do sistema UNICO, e responda as questões para reflexão (pág. 62). 6.4 – Vídeo – 7 a 10 min. 6.5 – Quiz Analise e responda: 24 1) Eventualmente ocorrem alguns equívocos entre projetos de melhoria contínua e inovação, no entanto há características distintas entre ambos. A melhoria contínua (kaizen) significa pequenos melhoramentos realizados no estado atual (As-Is) provenientes de esforços contínuos. Por outro lado, inovação envolve um melhoramento drástico no estado atual (As-Is), como resultado de um grande investimento em nova tecnologia e/ou investimento. Baseado nestas afirmações, assinale a alternativa correta: I) Melhoria contínua envolve investimento menor, porém maior esforço de manutenção, enquanto que inovação envolve investimento maior, porém menor esforço de manutenção. II) Melhoria contínua envolve alta tecnologia, enquanto que inovação envolve foco na obtenção de lucro. III) Melhoria contínua é útil na economia de crescimento gradual e a inovação adapta-se melhor a economia de crescimento rápido. IV) Melhoria contínua deve ser empregada em organizações fabris, enquanto inovação deve ser utilizada no ambiente administrativo. a) ( x ) As alternativas I e III estão corretas; b) ( ) Somente a alternativa I está correta; c) ( ) Somente a alternativa III está correta; d) ( ) As alternativas II e IV estão corretas; e) ( ) Somente a alternativa IV está correta. 7. SÍNTESE DA ROTA 5 (VÍDEO 5) A importância do mapeamento de processos é crucial para as organizações, no entanto transformar dados e informações obtidas no mapeamento em projetos de melhoria é um grande desafio. A distância entre ter o conhecimento do que deve ser feito e efetivamente executar a melhoria é muito grande. 25 Nesta rota vimos que a análise dos processos de negócio é o ponto de partida para a introdução de melhorias, e os indicadores mostrarão em que direção deve-se seguir para alcançar os objetivos. Neste contexto, alguns indicadores básicos podem nos mostrar como agir através de análises sobre o mapeamento: análises de tempo, custo, valor agregado e qualidade. Na análise da qualidade foi mencionado a importância da aplicação das ferramentas da qualidade. Salientamos também algumas recomendações para elaboração de indicadores bem como alguns exemplos para serem utilizados como referência. A partir do momento em que se tem claramente os processos mapeados e se conhece claramente os indicadores, que nos guiarão na decisão de onde agir, temos recursos para iniciar as melhorias dos processos. Alguns princípios propostos por Harrington (1993) servem como roteiro para futura implantação de projetos de melhoria. E, falando sobre implantação de projetos de melhoria, mais uma vez foi enfatizado as dificuldades de se executa-los, principalmente levando-se em consideração a busca por resultados imediatos de algumas organizações através da aplicação de ferramentas da Produção Enxuta. Projeto de melhoria contínua ou inovação? Através da tabela comparativa proposta por Imai (1996), verificamos as diferenças entre as duas possibilidades de atuação nos processos. Definir que caminho deve ser tomado é uma decisão do administrador. Para o sucesso na implantação de projetos de melhoria, alguns fatores críticos devem ser levados em consideração tais quais: liderança, motivação, equipe e treinamento, metas claras e disponibilidade dos envolvidos. Os quatorze princípios de Deming nos auxiliam no sentido de refletir qual é o papel da administração no processo de transformação. 26 Por fim, para saber qual estágio uma empresa se encontra no que diz respeito a implantação de projetos de melhoria contínua, foi apresentado uma tabela para orientação de estágios.Encerro esta rota reforçando mais uma vez a frase: “O Processo certo produzirá os resultados certos”. 8. ESTUDO DE CASO Orientações a) Leia o estudo de caso atentamente através do link abaixo: http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/33855/MARI LIS%20ROCHA%20ALBUQUERQUE%20NECO.pdf?sequence=1 O estudo de caso é referente a implantação de um projeto de melhorias (“kaizen”) em uma empresa multinacional de grande porte em um setor administrativo. Muitas vezes, há um pré-conceito de que atividades de “kaizen” só funcionam em setores produtivos. Este estuda que felizmente esta afirmação não é correta. Os resultados obtidos pela empresa em um setor administrativo foram excelentes. Discorrendo sobre estes resultados, pode-se afirmar que a seguinte informação é correta: a) ( ) A estrutura para implantação de melhoria foi suportada unicamente por ferramentas da qualidade, entre elas: diagrama de pareto, diagrama de causa e efeito e módulo ABC. b) ( ) A implantação ocorreu através de informações mapeadas pela alta direção, que disseminou entre todos os departamentos, tanto produtivos como de administrativos. 27 c) ( x ) A base do programa para implantação de melhorias é sustentada por dez pilares técnicos que por sua vez são realizados através de sete passos de implementação baseados no PDCA. d) ( ) A base do programa para implantação de melhorias é sustentada por dez pilares técnicos baseados no estudo financeiro da empresa. e) ( ) A implantação ocorre com base nos quatorze princípios de Deming, ressaltando o foco na liderança e no “zero defeitos”. 8.1 Análise do Estudo de caso O trabalho realizado na empresa CNH mostrou que o planejamento através de pilares de sustentação do sistema de implantação de melhorias em um setor administrativo foi uma decisão acertada da empresa. Os dez pilares técnicos criados e a realização dos mesmos através de sete passos baseados no PDCA fortificou o programa e foi possível obter sucesso neste trabalho. REFERÊNCIAS DEMING, Willian Edwards. Saia da Crise. São Paulo: Futura, 2003. LIKER, Jeffrey K. O Modelo Toyota: 14 Princípios de Gestão do Maior Fabricante do Mundo. ed. Bookman, 2005. PAVANI JUNIOR, Orlando; SCUCUGLIA, Rafael; Mapeamento e Gestão por Processos – BPM. São Paulo: M.Books 2011. Revista Eletrônica Sistemas & Gestão. Disponível em: <http://www.revistasg.uff.br/index.php/sg/article/view/V7N1A7>. Acesso em: 13 set. 2016. STADLER, Adriano; MUNHOZ, Antônio; GUERREIRO, Karen; FERREIRA, Paula. Gestão de Processos com Suporte em Tecnologia da Informação. Curitiba: Intersaberes, 2013.
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