Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO – UNIFIEO FÁBIO GONÇALES FACULDADE DE DIREITO CONDOMÍNIO E OUTRAS FORMAS DE AGRUPAMENTO SOCIAL OSASCO 2016 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO – UNIFIEO FÁBIO GONÇALES FACULDADE DE DIREITO CONDOMÍNIO E OUTRAS FORMAS DE AGRUPAMENTO SOCIAL Trabalho de Curso apresentado ao Centro Universitário FIEO – UNIFIEO como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. ORIENTADOR(A): Ms. REGIANE COIMBRA MUNIZ DE GÓES CAVALCANTI OSASCO 2016 3 CURSO DE DIREITO Título do Trabalho de Curso: Condomínio e outras formas de agrupamento social Autor(a): Fábio Gonçales Banca Examinadora: 1º 2º APROVAÇÃO:___________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Nota do 1º Examinador: __________ Média: __________ Nota do 2º Examinador: __________ 4 AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus, por ter permitido e por ter me concedido a oportunidade de iniciar, cursar e concluir esse curso universitário! Agradeço também à minha família, à minha noiva, aos meus amigos, colegas e professores, por toda a ajuda, paciência, companheirismo, por, enfim, todo o aprendizado que adquiri em cada momento juntos; aprendizados estes que levo e que levarei comigo daqui em diante. Muito obrigado! O que sou hoje devo a cada um de vocês! 5 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de conclusão a todos os que fizeram e que fazem parte dessa jornada de dez semestres de curso e que contribuíram para que essa fosse concluída. Ao longo desse tempo fiz muitos amigos, com os quais vivi momentos que serão lembrados por toda a minha vida. Em especial, dedico este trabalho à minha professora orientadora Regiane, por ser, para mim, referência de pessoa humana e de profissional, e por ter me dado, por meio disso, a inspiração necessária para concluir este curso. 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 9 2. O CONDOMÍNIO EM GERAL ......................................................... 11 2.1. Comunhão de direitos ............................................................... 11 2.2. Conceito de condomínio e a parte ideal ................................... 11 2.3. O condomínio e suas classificações ........................................ 12 2.4. Direitos e deveres dos condôminos ......................................... 13 2.5. A administração do condomínio ............................................... 18 2.6. A extinção do condomínio ........................................................ 19 3. CONDOMÍNIOS ESPECIAIS .......................................................... 21 3.1. Reflexão sobre os direitos de vizinhança ................................ 21 3.2. Condomínio em paredes, cercas, muros e valas ..................... 22 3.3. Condomínio edilício ................................................................... 22 3.3.1. A origem dos condomínios edilícios ..................................... 23 3.3.2. Natureza jurídica ..................................................................... 24 3.3.3. Constituição e incorporação imobiliária ............................... 25 3.3.3.1. Convenção de condomínio e regimento interno ................ 27 3.3.4. Direitos e deveres dos condôminos ...................................... 28 3.3.5. Administração do condomínio ............................................... 32 3.3.6. Despesas de condomínio e as áreas comuns ....................... 33 3.3.6.1. Obras e reformas .................................................................. 35 3.3.7. Infrações e penalidades .......................................................... 36 3.3.7.1. Desvio de uso ....................................................................... 37 7 3.3.7.2. Privatização de áreas de uso comum ................................. 38 3.3.8. Extinção ................................................................................... 38 4. OUTRAS MANIFESTAÇÕES CONDOMINIAIS ............................. 40 4.1. Loteamentos condominiais fechados – bolsão residencial .... 40 4.2. Time-Sharing - multipropriedade .............................................. 42 4.3. Shopping centers, clubes de campo e cemitérios ................... 44 5. CONCLUSÃO ................................................................................. 46 6. BIBLIOGRAFIA 7. ANEXOS 8 RESUMO Este trabalho tem o objetivo de buscar o conceito de condomínio, bem como as suas diferentes formas, considerando os modos de criação, de administração e de extinção. Será considerada também a importância e a relevância dos direitos de vizinhança para o estabelecimento do convívio harmônico entre os condôminos, e os diferentes tipos de agrupamento ou aglomeração social que estão surgindo, tendo base o condomínio, com o avanço da sociedade e com o aumento de suas necessidades. Palavras chave: condomínio; formas; agrupamento; social. 9 1. INTRODUÇÃO Cada vez mais presentes nas rotinas, os chamados ou considerados “condomínios” vão além dos conjuntos de prédios que estão tomando conta das grandes cidades. Levando em conta a diminuição do espaço útil, o aumento da população, e a corrida incessante por diminuição de custos, por comodidade e por segurança, os condomínios se tornaram úteis e presentes de muitas formas no dia-a-dia das pessoas. Mesmo tendo se tornado comum, o ato de compartilhar a posse de um mesmo bem com alguma ou algumas pessoas não é considerado simples ou fácil, muito pelo contrário. Observando os diferentes modos de agir e as diferentes necessidades que cada pessoa tem, os condomínios acabam tomando proporções extremamente complexas, dotados de regras e de normas que norteiam todos e quaisquer tipos de comportamentos dos chamados condôminos, a fim de se estabelecer entre eles uma convivência harmoniosa, e que não prejudique ou beneficie um em função de outro. Além das questões disciplinares, também houve a necessidade de se estipular regras sobre a criação desses condomínios, sobre as formas de extinção, sobrea administração, em comum acordo com todos os condôminos, e também sobre a administração dos gastos que tudo isso acaba gerando. Em suma, o tema a respeito de condomínio exige atenção para uma série de peculiaridades que serão trazidas à lume por força desse trabalho. Há questões extremamente controvertidas para as quais será necessário pesquisar nas entranhas da jurisprudência e de lá trazer o sumo do entendimento. A ideia é mostrar que o condomínio, por ter se tornado comum na vida de grande parte da sociedade, tomou grandes proporções jurídicas, e por isso, acaba sendo um dos responsáveis por gerar grande parte das demandas de nosso sistema judiciário. Mas, como entender o funcionamento do condomínio? Como identificar o que faz parte do condomínio e como os condomínios se formaram? Como estão se formando na atualidade e em diferentes áreas; e como estão originando diferentes tipos de comunidades de pessoas? Esse trabalho tem o 10 objetivo de responder a essas questões e de buscar o entendimento geral sobre essa fascinante e intrigante criação do direito, denominada “condomínio”. 11 2. O CONDOMÍNIO EM GERAL 2.1. Comunhão de direitos Duas ou mais pessoas podem adquirir os mesmos direitos e deveres em indeterminadas esferas de suas vidas. Seja em relações profissionais ou afetivas, obrigacionais ou solidárias, existem pessoas que vivenciam as mesmas situações ou que compartilham, para trabalhar ou para habitar, de um mesmo espaço, e que por isso acabam tendo em comum os mesmos direitos. Entre essas pessoas existe a denominada comunhão de direitos. A comunhão de direitos, conforme definição de Sílvio de Salvo Venosa, pode existir entre pessoas que possuem direitos idênticos à mesma coisa ou conjunto de bens, sendo esses exercidos ao mesmo tempo e de forma concorrente1. Deste modo, o condomínio, que sendo considerado em sua essência pode ser definido como a posse simultânea de duas ou mais pessoas sobre um mesmo bem, é modalidade de comunhão, e tem como objeto uma coisa, sendo de outra natureza quando o objeto for diferente. Sem comunhão de direitos não há condomínio. Logo, esta se torna requisito essencial para a sua constituição. 2.2. Conceito de condomínio e a parte ideal A existência de condomínio está diretamente relacionada à posse simultânea, de uma ou mais pessoas, sobre uma mesma coisa. Segundo Clóvis Beviláqua, “Condomínio, ou compropriedade, é o direito de propriedade, exercido por mais de uma pessoa, conjuntamente, sobre uma coisa, cabendo a cada uma o mesmo poder jurídico, idealmente na totalidade e nas mínimas partes da coisa.”2 1 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. São Paulo: Atlas, 2015. 351 p. 2 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das coisas – História do Direito Brasileiro – Direito Civil. Brasília: SEEP, 2003. 251 p. 12 Para Maria Helena Diniz, tem-se condomínio “quando a mesma coisa pertence a mais de uma pessoa, cabendo a cada uma delas igual direito, idealmente, sobre o todo e cada uma das partes” 3, ou seja, quando os direitos elementares do proprietário pertencerem a mais de um titular, existirá o condomínio, ou domínio comum de um bem 4; sendo cada titular desse direito denominado condômino. Porém, o objeto do direito do condômino, no condomínio geral, é a parte ideal e a não a coisa toda, conforme Paulo Lôbo (2015, p. 206) explana: O condômino é titular da parte ideal, ou seja, sem determinação na coisa comum. A proporção da parte ideal é fundamental para determinação futura, na divisão ou extinção do condomínio, ou para o direito de preferência à aquisição da parte ideal de outro condômino, ou para aquisição dos frutos, ou para tomada de decisões sobre a coisa comum. Portanto, cada condômino não pode se apoderar da totalidade da coisa, nem dispor dela com exclusividade, já que só existe condomínio quando há comunhão de direitos entre os condôminos. Dividindo-se ou se extinguindo o condomínio, a parte ideal deixa de existir e se transforma em coisa unitária5. 2.3. O condomínio e suas classificações Conforme o Código Civil de 20026, quanto à origem, o condomínio pode ser voluntário ou necessário. É voluntário quando duas ou mais pessoas fazem a aquisição de um mesmo bem7, ou quando se resultar do acordo de vontade dos consortes, nascendo de um negócio jurídico pelo qual duas ou mais pessoas adquirem ou colocam um bem em comum para dele usar e gozar8; e é necessário 3 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. São Paulo: Saraiva, 2014. 235 p. 4 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das coisas – sinopses jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2014, 166 p. 5 LÔBO, Paulo. Direito civil: coisas. São Paulo: Saraiva, 2015. 206 p. 6 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil, em sua estrutura de capítulos e seções, capítulo VI, Do Condomínio Geral, Seção I, Do Condomínio Voluntário, Seção II, Do Condomínio Necessário. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 7 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 353 p. 8 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 236 p. 13 quando, segundo Venosa, ocorrem fenômenos jurídicos e naturais que estabelecem condomínio sem ou contra a vontade dos sujeitos. No artigo 1.327 do Código Civil Brasileiro9 é estipulado que condomínio necessário é aquele por meação de paredes, cercas, muros e valas, que será abordado em item específico. Quanto à forma, temos o condomínio pro indiviso, caracterizado quando dois ou mais sujeitos detêm partes iguais ou desiguais, sobre a mesma coisa, a qual pode ser jurídica ou materialmente indivisível ou divisível. É denominado pelo Código Civil como condomínio geral (LÔBO, 2015, p. 206). Já o pro diviso, segundo Carlos Roberto Gonçalves, é aquele em que há mera aparência de condomínio, porque cada condômino encontra-se em parte certa e determinada da coisa, agindo como dono exclusivo da porção ocupada10. Nesse sentido, Maria Helena Diniz define condomínio pro diviso, como àquele “em que a comunhão existe juridicamente, mas não de fato, já que cada comproprietário tem uma parte certa e determinada do bem”, como em edifícios de apartamentos, por exemplo. No que tange à sua necessidade, temos o condomínio ordinário ou transitório e o permanente. Gonçalves traz o condomínio transitório como o convencional, que pode ser extinto a qualquer momento pela vontade de qualquer condômino. Já o permanente é o legal, que perdura enquanto durar a situação que o originou. Por fim, pode ainda ser objeto do condomínio, a comunhão universal ou a particular. Segundo Diniz, será universal se atender à totalidade do bem, incluindo frutos e rendimentos; e particular se for restrito “a determinadas coisas ou efeitos, ficando livres os demais, como ocorre no condomínio de paredes, tapumes e de águas”11. 2.4. Direitos e deveres dos condôminos Com relação aos direitos, dispõe o artigo 1.314 do Código Civil12 que cada condômino pode: usar da coisa conforme a sua destinação, e sobre ela exercer 9 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.327, “O condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas regula-se pelo disposto neste Código.” 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 10 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 166 p. 11 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 237 p.12 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.314, caput, “Cada condômino pode usar da coisa conforme a 14 todos os direitos compatíveis com a indivisão; reivindicá-la de terceiro; defender a sua posse; e alhear a respectiva parte indivisa ou gravá-la. Nesse sentido, Paulo Lôbo complementa que: Cada condômino tem os direitos da propriedade sobre a parte ideal, de usar, fruir e dispor, como ocorre com o titular da propriedade exclusiva da coisa. Pode doar, permutar, dar em pagamento, gravar de ônus real a parte ideal, ou deixá-la em testamento, e, observando o direito de preferência dos demais condôminos, aliená-los a terceiros. A faculdade legal é ampla (CC, art. 1314), podendo o condômino usar da coisa conforme sua destinação, exercer todos os direitos compatíveis, reivindicar a coisa toda de terceiros, não apenas sua parte ideal, defender sua posse, alienar e gravar. A reivindicação da coisa toda contra terceiro não necessita de consentimento dos demais condôminos, mas entende-se (STJ, REsp 1.015.652) que limita- se a coisa julgada apenas ao condômino que intentar a ação, não inibindo futura ação reivindicatória pelos demais. Cada parte ideal transfere-se aos herdeiros do titular, quando for aberta a sucessão hereditária deste, sem qualquer preferência para os demais condôminos13. Tal preceito pode ser observado no julgado abaixo: Ação de imissão na posse - Cerceamento de defesa - Inocorrência Imóvel em condomínio - Coproprietário que pode, sozinho, defender a integralidade da propriedade contra terceiros - Art. 1.314, CC - Litisconsórcio facultativo - Art. 46, I, CPC/1973 vigente à época da distribuição do feito - Sentença mantida Recurso improvido. (...) Como constou acertadamente do decisum ora recorrido, não há qualquer prova da existência de herdeiros e, neste contexto, podem os autores defender a propriedade contra terceiros na sua integralidade, como autoriza o artigo 1.314 do Código Civil. Na lição de Francisco Eduardo Loureiro: “Duas são as características básicas do condomínio. A primeira é a cotitularidade dominial sobre uma mesma coisa. A segunda é o sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-lo de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.” 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 13 LÔBO, Paulo, op. cit., 211 p. 15 regime jurídico de cotas ou partes ideais sobre a coisa, cabendo a cada condômino uma fração ou percentagem sobre o todo, sem que o direito incida sobre uma parte fisicamente determinada. Os direitos dos condôminos, assim, são qualitativamente iguais, porque incidem em partes ideais sobre a totalidade da coisa, embora possam ser qualitativamente distintos, proporcionais à força de seus quinhões.” Sobre o direito dos condôminos, continua o Ilustre doutrinador e magistrado: “Finalmente, o último dos direitos dos condôminos é reivindicar a coisa comum de terceiros. Decorre do direito de sequela, de perseguir a coisa em poder de quem injustamente se encontra. Em relação a terceiros, o condômino age como se fosse proprietário pleno. Pode ajuizar ações petitórias em geral contra terceiros, tanto reivindicatória como imissão de posse ou publicianas, todas fundadas no ius possidendi, independentemente da anuência dos demais coproprietários. O pedido não se limita à devolução da parte ideal do autor da demanda, mas da coisa por inteiro, em benefício próprio e dos demais condôminos.”14 Pode o condômino exercer sobre a coisa todos os direitos compatíveis com a indivisão, não podendo impedir que os demais consortes se utilizem também de seus direitos, na proporção da cota de cada um e de acordo com a destinação do bem15. Porém, é pertinente lembrar que, o condômino mesmo com o direito de usar, fica impedido de alterar a destinação da coisa sem o aval dos outros condôminos. Isso significa, segundo Gonçalves, que não pode ser alterada “a substância da coisa nem o modo como é tradicionalmente usada”. Duas são as responsabilidades que decorrem do direito de usar e gozar de coisa sob condomínio. Para Diniz, a primeira é que “o condomínio é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação ou divisão da 14 Recurso de apelação nº. 0001704-79.2014.8.26.0318 – TJSP – Relator Des. Eduardo Sá Pinto Sandeville – DJ: 25/08/2016 15 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 167 p. 16 coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita”16. Isto é assim, ainda segundo Diniz17, porque as despesas com conservação e com a divisão do bem aproveitam a todos, e todos, por esta razão, devem suportá-las na proporção das suas respectivas quotas que, na falta de convenção, se presumem iguais18. A segunda é que cada consorte responde aos demais pelos frutos que percebeu da coisa comum, sem o consenso dos outros, bem como pelos danos que lhes cause19. Dando ênfase e a fim de elucidar o tema, vale considerar as seguintes jurisprudências: PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. RECURSO ADESIVO. PROTOCOLO EM VARA DIFERENTE. CONHECIMENTO. PRESCRIÇÃO. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. IMÓVEL. COTITULARIDADE. RATEIO DE DESPESAS. ART. 1315 DO CÓDIGO CIVIL. INCIDÊNCIA. COMODATO. USUCAPIÃO DE CONDÔMINO. PAGAMENTO DE ALUGUERES. (...) 3.Para fins de ressarcimento das despesas havidas com IPTU e condomínio, realizadas por uma parte, sem a contribuição da outra, considera-se o prazo prescricional de 3 (três) anos, previsto no art. 206, § 3º, inciso IV, do Código Civil, hipótese de enriquecimento sem causa. 4. Uma vez demonstrada a cotitularidade dos direitos patrimoniais incidentes sobre imóvel, possuindo ambas as partes 50% (cinquenta por cento) dos referidos direitos, após separação judicial, incide o disposto no art. 1315 do Código Civil, segundo o qual “O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer com as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita. 16 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.315, caput. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 17 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 239 p. 18 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.315, parágrafo único: “Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos”. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 19 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.319. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 17 5. O condômino tem legitimidade para usucapir em nome próprio, desde que exerça a posse exclusiva com animus domini e sejam atendidos os requisitos legais da usucapião. 6. Demonstrada a configuração e o fim do comodato, viável o pagamento dos aluguéis. 7. Preliminar de não conhecimento do recurso adesivo rejeitada. Prejudicial de prescrição rejeitada. Recurso adesivo não provido. Apelação não provida.20 COISA COMUM. ARBITRAMENTO DE ALUGUÉIS. Sentença de parcial procedência, com arbitramento dos aluguéis. Reforma em parte. Imóvel financiado perante a CDHU. Direitos à aquisição futura, não à propriedade imediata. Direitos de posse, cabendo ao condômino que não exerce a posse aluguéis pela porção ideal (art. 1.199 c/c art. 1.319, CC). Dever de arcar com as despesas do imóvel, na proporção de suaporção ideal (art. 1.315, CC). Aluguéis devidos à apelada, compensáveis com metade das despesas de financiamento do imóvel e de IPTU, despesas decorrentes do imóvel, que devem ser arcadas por ambos os condôminos. Recurso provido em parte.21 Pode cada consorte, ainda, alhear a respectiva parte indivisa ou gravá-la. O primeiro direito sofre a restrição contida no art. 504 (CC), que prevê o direito de preempção ou preferência em favor dos demais condôminos. O preterido poderá, depositando o valor correspondente ao preço, “haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência”. Conta-se esse prazo da data em que teve ciência inequívoca da venda (STF-RTJ, 57:322, 59:591). Preceitua o art. 1.793, § 2° , do Código Civil que “é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente”. Tem-se entendido que, se a cota ideal é alienada, com localização do quinhão, descrição das divisas e confrontações, tal venda será condicional e só prevalecerá se, na divisão futura, coincidir o quinhão atribuído ao vendedor com o que havia alienado ao adquirente. Do contrário, ficará desfeita. 20 Recurso adesivo – Processo nº. APC 20130111706489 – TJ-DFT – Relator Des. Flávio Rostirola – DJ: 09/09/2015, 537 p. 21 Recurso de apelação nº. 0015892-97.2009.8.26.0077 – TJ-SP – Relator Des. Carlos Alberto de Salles – DJ: 04/02/2014 18 O art. 1.314 do Código Civil menciona ainda que o condômino pode gravar sua parte indivisa. Pode, portanto, dá-la em hipoteca. Nesse mesmo sentido proclama o art. 1.420, § 2°: “A coisa comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em garantia real, na sua totalidade, sem o consentimento de todos; mas cada um pode individualmente dar em garantia real a parte que tiver”. O dever de concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, na proporção de sua parte, bem como a responsabilidade pelas dívidas contraídas em proveito da comunhão, são impostos ao condômino nos arts. 1.316 a 1.318.22 2.5. A administração do condomínio A administração do condomínio, por conta da comunhão de direitos sobre um bem comum, é atribuída a todos os condôminos em conjunto, mas pode ser entregue a um deles ou a terceiro, de acordo com a decisão majoritária deles. Para Lôbo, “os condôminos têm de se reunir para deliberar a respeito. Não há critério de preferência para ser administrador, podendo ser, inclusive, o que detiver menor parte ideal.”23. Os condôminos podem usar a coisa comum pessoalmente. Se não o desejarem ou por desacordo tal não for possível, então resolverão se a coisa deve ser administrada, vendida ou alugada. Para que ocorra a venda, basta a vontade de um só condômino. Só não será vendida se todos concordarem que se não venda (CC, arts. 1.320 e 1.322). Neste caso, a maioria deliberará sobre a administração ou locação da coisa comum. A maioria será calculada não pelo número, senão pelo valor dos quinhões, e as deliberações só terão validade quando tomadas por maioria absoluta (art. 1.325, § 1°), isto é, por votos que representem mais de metade do valor total. Não sendo possível alcançar maioria absoluta, decidirá o juiz, a requerimento de qualquer condômino, ouvidos os outros (art. 1.325, § § 2°). Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este avaliado judicialmente (art.1.325, § 3°)24. Na escolha do administrador, é fundamental que todos os consortes sejam convocados e que se documente a deliberação assemblear que elegeu administrador, bem como decidiu o destino da coisa comum25. Venosa ainda complementa se referindo à obrigatoriedade das deliberações, sendo tomadas por 22 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 168 p. 23 LÔBO, Paulo, op. cit., 209 p. 24 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 170 p. 25 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 364 p. 19 maioria absoluta. Se não for possível obter essa maioria absoluta, deverá o juiz decidir a matéria, conforme o já mencionado artigo 1.325 do Código Civil. Quanto aos frutos da coisa comum, se não houver estipulação em contrário ou disposição de última vontade, estes serão partilhados na proporção dos quinhões, conforme o disposto em artigo 1.326 do Código Civil. 2.6. A extinção do condomínio A extinção do condomínio pode se dar de diferentes modos, dependendo da indivisibilidade da coisa a que se refere, podendo ser a divisibilidade ou indivisibilidade da coisa, físicas ou jurídicas. A divisibilidade, para Paulo Lôbo, é ditada por circunstâncias naturais ou econômicas. Assim, dá o exemplo de uma casa, que é materialmente divisível, mas que economicamente pode não ser, quando houver redução considerável do valor de cada parte ou comprometimento de sua finalidade. Já as coisas juridicamente indivisíveis são as que assim se tornaram por força da vontade das partes contratantes ou da lei, ainda que possam se naturalmente divididas26. Quando a coisa for divisível, a extinção se dá, de forma mais adequada, pela divisão. O Código civil facilita a extinção do condomínio, quando se refere ao artigo 1.320, que em seu caput diz: “a todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.”27. Carlos Roberto Gonçalves esclarece que a divisão pode ser amigável ou judicial, somente sendo admitida a primeira forma, por escritura pública, se todos os condôminos forem maiores e capazes. Se um deles for menor, ou se não houver acordo, será necessária a divisão judicial (GONÇALVES, 2014, p. 169), já que o artigo 1.321, do Código Civil, determina que se apliquem à divisão, no que couber, as regras de partilha da herança28. 26 LÔBO, Paulo, op. cit., 218 p. 27 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.320. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 28 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.321, “Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as regras de partilha de herança (arts. 2.013 a 2.022).” 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 20 Tanto a divisão amigável como a judicial têm efeito declaratório e não constitutivo, pois tão somente declaram a porção real de propriedade correspondente à fração ideal de cada comproprietário, substituindo-se o estado de compropriedade pelo de propriedade.29 A ação de divisão, normatizada pelo Código de Processo Civil a partir do artigo 58830, pode ser proposta a qualquer tempo, sendo a sentença retroativa à data do início da comunhão, produzindo efeitos ex tunc31. Se a coisa é indivisível, o condomínio só poderá extinguir-se pela alienação da coisa comum. Descreve o artigo 1.322 do Código Civil32 que, “quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior”. Versa o parágrafo único: “Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias na coisa comum e participam todos do condomínio em partes iguais, realizar-se-á licitação entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa àquele que ofereceu maior lanço, proceder-se-á à licitação entre os condôminos, a fim de que a coisa seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço, preferindo, em condiçõesiguais, o condômino ao estranho”. Se todos quiserem vender, a venda será feita amigavelmente. Se houver divergência e um ou mais condôminos quiserem vender, observar-se-á o rito estabelecido nos artigos 720 e 730 e seguintes do Código de Processo Civil. A alienação, depois de avaliado o bem, será feita em hasta pública, durante a qual o condômino poderá manifestar o seu direito de preferência33. 29 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 248 p. 30 BRASIL. Vade Mecum compacto / obra coletiva. Dispõe o Código de Processo Civil em seu artigo 588, “A petição inicial será instruída com os títulos de domínio do promovente e conterá: (I) a indicação da origem da comunhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imóvel; (II) o nome, o estado civil, a profissão e a residência de todos os condôminos, especificando- se os estabelecidos no imóvel com benfeitorias e culturas; (III) as benfeitorias comuns.”. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 31 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 169 p. 32 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.322. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 33 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 169-170 p. 21 3. CONDOMÍNIOS ESPECIAIS 3.1. Reflexão sobre os direitos de vizinhança Antes de serem iniciados os estudos dos condomínios especiais, é pertinente realizar uma reflexão sobre o comportamento de pessoas que compartilham o uso de áreas comuns. Com a criação de conglomerados em que algumas ou várias pessoas passam a dispor da utilização de uma mesma propriedade, embora em cotas proporcionais de um todo, surgem inúmeras questões que são ocasionadas em decorrência dessa proximidade, e que podem estar relacionadas ao modo com que essas pessoas utilizam esses espaços. Para que seja estabelecida uma convivência harmoniosa entre todas essas pessoas, surgem os direitos de vizinhança, que são compostos por direitos, deveres e sanções, e que se referem à normatização de práticas relacionadas à utilização do espaço comum e a interferências prejudiciais à segurança, ao sossego, e à saúde, conforme estipulado no artigo 1.277 do Código Civil. É importante perceber, de plano, que os chamados direitos de vizinhança são direitos de convivência decorrentes da proximidade ou interferência entre prédios, não necessariamente da contiguidade. Os edifícios e construções em geral servem de utilidade ao homem. Os danos e desassossegos ocasionados por um prédio a outro decorrem, em última análise, de fatos ou atos jurídicos, na classificação estudada na Parte Geral. As regras de vizinhança têm por objetivo harmonizar a vida em sociedade e o bem-estar, sem deixar à margem as finalidades do direito de propriedade.34 Com a criação dos direitos de vizinhança, se estabeleceu a regulamentação de soluções para situações que geram impasses entre pessoas que comungam de mesma propriedade, em virtude de cada uma, apesar desse compartilhamento, ter diferentes interesses e objetivos particulares. Com a observância a essas regras, é estabelecida a possibilidade de ser alcançada a paz social entre essas pessoas. 34 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 302 p. 22 3.2. Condomínio em paredes, cercas, muros e valas Em decorrência da essência dos direitos de vizinhança, em alguns casos se faz necessária a divisão de propriedades limítrofes, que pode ser estabelecida por muros, cercas, valas, podendo ser de concreto, cimento, madeira, cerca viva etc.. Caso essas obras ocorram nas linhas divisórias dos imóveis, é originado condomínio, já que os proprietários limítrofes concorrem em igualdade de condições para realizarem a separação, tornando-se proprietários em comum das obras, conforme o artigo 1.297 do Código Civil. No entanto, conforme Venosa ressalta, se um dos confrontantes pretender extremar o prédio com um muro ou parede, por exemplo, poderá fazê-lo, ainda que sem anuência do vizinho, intimando-o posteriormente para que concorra com as despesas proporcionais. A partir daí tem-se um condomínio forçado, criado pela vontade unilateral, mas decorrente da lei.35 O artigo 1.328 do Código Civil dispõe ainda sobre o direito de adquirir a divisão em duas partes (meação) nos muros, valas ou similares já construídos que estejam estipulando a divisão dos prédios, mediante o pagamento de metade do valor das obras. O preço será fixado por perícia em juízo, às custas de ambos os confinantes, se não houver acordo (artigo 1.329 do Código Civil). Enquanto o vizinho que pretender a divisão não pagar ou depositar o preço da meação, não poderá ser feito uso da obra divisória (artigo 1.330 do Código Civil). 3.3. Condomínio edilício A definição de condomínio edilício pode ser representada, segundo Carlos Roberto Gonçalves, pela característica da “apresentação de uma propriedade comum ao lado de uma propriedade privativa. Cada condômino é titular, com exclusividade, da unidade autônoma (apartamento, escritório, sala, loja, sobreloja, garagem) e titular de partes ideais das áreas comuns (terreno, estrutura do prédio, telhado etc.) (CC, art. 1.331).” 35 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 369 p. 23 Para que se possa entender como se formou e como se operacionaliza essa modalidade de condomínio tão comum, e ao mesmo tempo tão complexa, é necessário considerar aspectos relacionados à origem, natureza jurídica e características relacionadas. 3.3.1. A origem dos condomínios edilícios Esse tipo de condomínio, conforme Maria Helena Diniz, “surgiu após a 1ª Guerra Mundial, ante a crise de habitação36, quando, com o desenvolvimento das cidades e consequentemente valorização dos terrenos urbanos, houve a necessidade de melhor aproveitar o solo.”. No Brasil, o primeiro diploma a tratar do condomínio edilício ou em edificações, também chamado de horizontal, foi o Decreto-Lei n. 5.481, de 1928. Posteriormente passou a ser regido pela Lei n. 4.591, de 16 de dezembro de 1964, com as alterações da Lei n. 4.864, de 29 de novembro de 1965. Para Carlos Roberto Gonçalves, as principais inovações trazidas pela referida legislação foram: a) compõe- se a lei de dois títulos, cuidando o primeiro do condomínio e o segundo das incorporações; b) permitiu o condomínio em prédios de um pavimento; c) ao determinar, no parágrafo único do art. 4°, que o adquirente responde pelos débitos do alienante, atribuiu o caráter de propter rem a essas obrigações; d) estabeleceu a obrigatoriedade da existência de uma convenção de condomínio e de um regulamento; e) determinou que a representação do condomínio fosse feita pelo síndico; f) cuidou das incorporações na segunda parte, visando impedir que o incorporador cause prejuízo aos condôminos, especialmente proibindo reajuste de preços, se não convencionados expressamente37. O novo Código Civil, apesar de expressa remissão à lei especial, que continua em vigor, contém dispositivos regrando os direitos e deveres dos condôminos, bem como a competência das assembleias e dos síndicos. Nesses assuntos, a referida Lei n. 4.591, de 1964, aplica-se apenas subsidiariamente. 36 BARROS MONTEIRO, Washington. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 1978. v. 3, p. 224 Apud. DINIZ, Maria Helena, op. cit., 251-2 p. 37 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 175 p. 24 3.3.2. Natureza jurídica No que tange à natureza jurídica das relações existentes entre condôminos, existem várias teorias, sendo a de Planiol, Ripert,Baudry-Lacantinerie38 a mais acertada, por verem em condomínio em edifícios de apartamentos uma mistura de propriedade individual e de condomínio. As propriedades individuais são os apartamentos ou terraços de cobertura, por exemplo, em que cada condômino é proprietário de forma exclusiva, cabendo a ele o livre exercício dos direitos da propriedade (direito de usar – jus utendi –; direito de fruir – jus fruendi –; direito de dispor – jus abutendi – e; o direito de reaver – jus reivindicandi), mesmo que sem o consentimento dos demais condôminos. Essa ideia de individualidade e de exclusividade também pode ser percebida quando levamos em conta os efeitos tributários, em que, conforme o artigo 11 da Lei nº. 4.591/64, cada unidade autônoma é tratada como prédio isolado, contribuindo o respectivo condômino, diretamente, com as importâncias relativas aos impostos e taxas federais, estaduais e municipais, na forma dos respectivos lançamentos. É importante ainda considerar que os direitos de vizinhança acabam restringindo os direitos de propriedade, conforme Sílvio de Salvo Venosa nos ensina com maestria: O direito de usar da unidade autônoma encontra limites apenas nos princípios de ordem natural de vizinhança, de um lado, e de outro nos ordenamentos particulares do condomínio. À margem desse direito, em quase tudo igual à propriedade exclusiva individual, coloca-se, portanto, a disciplina dirigida às partes comuns do edifício. Nesse aspecto, existe efetivamente condomínio.39 Já as propriedades de condomínio são as utilizadas em conjunto por todos os condôminos e que não são passíveis de divisão, como por exemplo, o solo em se que constrói o prédio, o telhado, as escadas, os elevadores, os corredores, a guarita, etc. Conclui-se, portanto, que condomínio edilício é caracterizado juridicamente, e de acordo com o artigo 1.331 do Código Civil de 2002, pela composição de 38 PLANIOL e RIPERT, Traité pratique de droit civil, v. 30, n. 319; Baudry –Lacantinerie, Traité théorique et pratique de droit civil, v. 6, n.986; Apud. DINIZ, Maria Helena, op. cit., 253 p. 39 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 373 p. 25 propriedades distintas e exclusivas ao lado do condomínio de partes do edifício, forçosamente comuns. Porém, “essa comunidade condominial de natureza real dúplice não pode ser considerada simplesmente pessoa jurídica, pois de fato faltam-lhes vários requisitos, e a lei não se manifesta expressamente nesse sentido.”40. Entretanto está legitimado a atuar em juízo, ativa e passivamente, representado pelo síndico, conforme artigo 75, IX, do Código de Processo Civil41: “Serão representados em juízo, ativa e passivamente: o condomínio, pelo administrador ou síndico”. Deste modo, o condomínio atua na vida negocial como qualquer pessoa jurídica, dentro de seu âmbito de atuação, tendo, portanto, existência formal. 3.3.3. Constituição e incorporação imobiliária Todo condomínio em edificações deve ter, obrigatoriamente, o ato de instituição, a Convenção de Condomínio e o Regimento Interno.42 Conforme os ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, o ato de instituição está previsto no art. 1.332 do Código Civil e pode resultar de ato entre vivos ou testamento, com inscrição obrigatória no Registro de Imóveis, devendo conter, além do disposto em lei especial, a individualização de cada unidade, a determinação da fração ideal atribuída a cada uma relativamente ao terreno e partes comuns, e o fim a que se destinam. De acordo com que o ensina Maria Helena Diniz43, um condomínio em edifícios de apartamentos pode ser instituído em razão de: a) Destinação do proprietário do edifício, mediante escritura pública, sendo que a venda das unidades autônomas pode ser realizada antes ou depois de concluída a obra. É o próprio dono do prédio que, no período de sua construção ou 40 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 373 p. 41 BRASIL. Vade Mecum compacto / obra coletiva. Dispõe o Código de Processo Civil em seu artigo 75, IX. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 42 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 176 p. 43 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 257/8 p. 26 após este, constitui esse condomínio especial, ao vender as frações em que dividiu o edifício; b) Testamento; c) Constituição do regime por vários herdeiros, após a homologação da partilha, se o bem, objeto da herança, for um edifício; d) Arrematação em hasta pública, doação, ou compra de frações do edifício; e) Sentença Judicial em ação de divisão; e f) Incorporação imobiliária, que é o negócio jurídico que tem o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações compostas de unidades autônomas (Lei nº. 4.591/64, art. 28, parágrafo único). Em regra, os apartamentos são vendidos na planta. Economicamente, a incorporação é um empreendimento que objetiva conseguir capital necessário para a construção do prédio, pela venda antecipada dos apartamentos. Conforme as considerações da Lei nº. 4.591/64, em seu artigo 29, o incorporador, pessoa física ou jurídica, comerciante ou não, compromete-se a construir o edifício e a entregar as unidades adquiridas a cada adquirente, considerando prazo e condições estipuladas. Isso ocorre em função do incorporador fazer vendas antecipadas, sendo a operação realizada sob a forma de promessa de venda, devidamente registrada (Art. 32, § 2º, da Lei nº. 6.015/73 e art. 35, § 4º, da Lei 4.591/64). Considerando ainda a análise da Lei sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias, o artigo 31 elenca quem poderá ser considerado incorporador: “A iniciativa e a responsabilidade das incorporações imobiliárias caberão ao incorporador, que sòmente poderá ser: a) o proprietário do terreno, o promitente comprador, o cessionário dêste ou promitente cessionário com título que satisfaça os requisitos da alínea a do art. 32; b) o construtor (Decreto número 23.569, de 11-12-33, e 3.995, de 31 de dezembro de 1941, e Decreto-lei número 8.620, de 10 de janeiro de 1946) ou corretor de imóveis (Lei nº 4.116, de 27-8-62). 27 c) o ente da Federação imitido na posse a partir de decisão proferida em processo judicial de desapropriação em curso ou o cessionário deste, conforme comprovado mediante registro no registro de imóveis competente. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011).”44 A finalidade das unidades, uso residencial ou não, é de suma importância, sobretudo porque pode caracterizar desvio de uso por parte do proprietário ou possuidor. Silvio de Salvo Venosa complementa lembrando que “em razão dessas finalidades específicas, haverá uma convenção de condomínio e um regulamento próprio que devem ser obedecidos.”45 3.3.3.1. Convenção de condomínio e regimento interno A Convenção de Condomínio é um documento escrito e que deve ser registrado em Cartório de Registro de Imóveis, para ser oponível contra terceiros. Contém os direitos e deveres de cada condômino, e deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais. É considerada ato de constituição do condomínio, como versa o artigo 1.333 do Código Civil: “A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção. Parágrafo único: Para ser oponível contra terceiros, a convenção do condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.”.4644 BRASIL. Vade Mecum compacto / obra coletiva. Dispõe a Lei de Condomínio em Edificações – Lei nº. 4.591 de 16-12-1964 – em seu artigo 31. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 45 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 378 p. 46 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.333. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 28 A convenção deve conter, no mínimo, conforme Paulo Lôbo nos mostra47: a) a definição da quota ou taxa condominial, para cobertura das despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio; b) a forma de administração do condomínio, que pode ser direta ou com a participação de empresa especializada e o modo de escolha e de substituição do síndico e subsíndico, se houver; c) a assembleia geral – suas competências, formas de convocação e quóruns para deliberação; d) a existência ou não de conselho fiscal, com suas competências, composição e modos de eleição e substituição; e) as modalidades de sanções que serão aplicadas aos moradores, condôminos ou locatários, e os órgãos encarregados de aplicá-las; f) o regimento interno, que complementa a convenção, contendo regras detalhadas e específicas sobre o uso das coisas comuns, sendo disponibilizado aos condôminos em quadros, no andar térreo, no hall de entrada do prédio. 3.3.4. Direitos e deveres dos condôminos Mesmo com o exercício dos direitos de propriedade sobre a unidade autônoma, aos condôminos cabem direitos e deveres. Importante destacar, inicialmente, que todos os deveres e direitos enumerados pelo Código Civil têm como base de sua existência os direitos de vizinhança. Como já foi dito, a consideração aos direitos de vizinhança se torna primordial para que seja alcançada uma convivência harmoniosa entre todos os condôminos, já que existem interesses e necessidades diferentes entre eles. Deste modo, para garantir que todos possam usufruir de seus direitos sem que haja interferência entre o exercício de um e outro, é absolutamente necessária a criação de regras aplicáveis a todos os condôminos. O artigo 1.335 estipula os direitos do condômino: “I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades; 47 LÔBO, Paulo, op. cit., 226 p. 29 II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização dos demais compossuidores; III - votar nas deliberações da assembleia e delas participar, estando quite.”48 Nos direitos dos condôminos, como ressalva Venosa, “há, portanto, uma adaptação do direito de propriedade à particularidade dessa modalidade de convivência social49.” Venosa (2015, p. 388) ainda continua a explicação, agora no tocante aos efeitos da inadimplência: “Não estando quite com as contribuições condominiais, o condômino não pode votar ou participar das assembleias, segundo o texto da lei, não podendo ser nelas admitido. Havendo dúvidas sobre essa situação, cabe ao condomínio provar que pagou todo o devido”. Porém, mesmo sendo inadimplente, não pode o condômino ser privado de utilizar as áreas comuns do condomínio, conforme menciona o seguinte julgado: Indenização por danos morais. Condômino inadimplente que foi proibido de utilizar a piscina do condomínio. Ação julgada procedente. Danos morais fixados em R$ 2.500,00. Apelação do réu. Repetição da tese de defesa. Alegação de que o condômino estava inadimplente e que a decisão de proibição de áreas comuns foi ratificada pela Assembléia Geral dos Condôminos. Descabimento. Inteligência do art. 1.335 CC. Norma cogente. Vedação Ilícita. Dano moral configurado. Valor mantido. Obediência aos Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade. Sentença mantida. Recurso improvido. 48 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.335. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 49 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 388 p. 30 [...] Não é lícito privar o condômino inadimplente do uso das áreas comuns destinadas ao lazer, vez que os meios de coerção ao cumprimento da obrigação de adimplir a taxa condominial são estritamente aqueles previstos em lei. Dever de indenizar. Verba fixada no equivalente a 05 (cinco) salários mínimos vigentes nesta data, considerando-se que indenização será sacado do caixa comum. Apelo provido.” (Apelação nº 0019870- 14.2012.8.26.0292; Rel. Des. José Malerbi; 35 ª Câmara; j. 02.12.13).50 Já os deveres que cabem ao condômino estão contidos no art. 1.336 do Código Civil: “I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004) II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes.”51 Comecemos pelo principal dever do condômino, que, por explicações de Silvio de Salvo Venosa52, é uma obrigação propter rem, ou seja, que se vincula à 50 Recurso de apelação nº. 0019533-67.2013.8.26.0008 – TJSP – Relator Des. Francisco Occhiuto Júnior – DJ: 21/07/2016 51 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.336. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 52 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 386 p. 31 unidade condominial, que é o de “concorrer com a quota-parte que lhe couber no rateio para as despesas do condomínio. Esse dever é considerado a razão da própria sobrevivência da estrutura condominial. O condomínio inadimplente acarreta prejuízos, prejudicando toda a sua estrutura. A fixação de despesas será determinada de acordo com a fração ideal do terreno ou de sua área na unidade autônoma.” Pertinente mencionar que a convenção pode estabelecer outros parâmetros de divisão para contribuição com as despesas. Ainda considerando esse dever, o artigo 1.336, em seu § 1º, estabelece que “o condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito.”53 Sobre os deveres elencados pelo artigo em estudo, Paulo Lôbo explica: Não pode o condômino realizar obras em sua unidade autônoma que comprometa a segurança do prédio, edificado em andares sucessivos. O condômino pode realizar modificações internas na unidade [...] com observância ao que estiver disposto na convenção do condomínio. Mas não pode modificar ou mesmo afetar as partes estruturais do prédio, tais como vigas, colunas e até mesmo paredes, quando estas sejam estruturais ou de sustentação.54 Maria Helena Diniz completa as explicações ensinando que, dentre os deveres dos condôminos, assim como elenca o artigo 1.336 do Código Civil, existe o de não praticar qualquer ato atentatório aos bons costumes ou prejudicial ao sossego ou prejudicar a higiene ou limpeza do condomínio;55 e ainda lembra do artigo 1.340 do Código Civil, que trata das despesas referentes a partes comuns de uso exclusivo de um condômino, ou de alguns deles (como loja, escadaria, hall de TV, entre outros), cabendo a quem dessas partes se servir. 53 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobracoletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.336, § 1º. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 54 LÔBO, Paulo, op. cit., 239 p. 55 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 261 p. 32 3.3.5. Administração do condomínio De acordo com os ensinamentos de J. Nascimento Franco56, e de acordo com o disposto nos artigos 22 a 27 da Lei nº. 4.591/64 ficam estabelecidos como órgãos administrativos do condomínio a Assembleia Geral dos condôminos, o síndico, o (ou os) subsíndico(s) e o Conselho Consultivo. Além desses órgãos é facultada à Convenção prever a eleição de subsíndicos e definir suas atribuições e a duração de seu mandato (artigo 22, § 6º, da Lei nº. 4.591/64). A administração do condomínio é o conjunto de órgãos criados pela lei e pela Convenção para zelar pelas coisas comuns e gerir os negócios do condomínio.57 Em relação ao síndico, cujo mandato não pode exceder dois anos, podendo ser reeleito, compete-lhe, segundo Carlos Roberto Gonçalves58, dentre outras atribuições, “representar ativa e passivamente o condomínio, em juízo ou fora dele. Pode ser condômino ou pessoa física ou jurídica estranha ao condomínio”. O síndico é assessorado por um Conselho Consultivo, constituído de três condôminos, com mandatos que também não podem exceder a dois anos, permitida a reeleição. Esse conselho tem por objetivo auxiliar o síndico na solução de problemas do condomínio e de cumprir as demais funções que lhe forem atribuídas pela convenção, conforme o parágrafo único do artigo 23 da Lei nº. 4.591/64. Uma das incumbências do síndico é, anualmente, convocar a assembleia dos condôminos (considerando o disposto em artigos 1.348, I, e 1.350, caput, do Código Civil), que também pode ser solicitada por ¼ dos condôminos caso o síndico não o faça (artigo 1.350, § 1º do Código Civil). Compete à assembleia, além das matérias inscritas na ordem do dia, aprovar, por maioria dos presentes, o orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos e a prestação de contas, conforme o mencionado no art. 1.350 do Código Civil. “As decisões da assembleia, tomadas, em cada peso, pelo quorum que a Convenção fixar, obrigam todos os condôminos, 56 FRANCO, J. Nascimento. Condomínio – 3. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 19 p. 57 BARCELOS DE MAGALHÃES, Roberto. Teoria e prática do condomínio. Rio de Janeiro: José Konfino, 1966. 194 p. Apud. FRANCO, J. Nascimento, op. cit., 19 p. 58 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 179 p. 33 mesmo os vencidos e os que não compareceram.”59 O artigo 1.355 do Código Civil estipula que as assembleias gerais extraordinárias também podem ser convocadas pelo síndico ou por ¼ dos condôminos que representem o condomínio. Carlos Roberto Gonçalves ensina que a “Convenção de Condomínio e o Regimento Interno só podem ser modificados em assembleia geral extraordinária, pela aprovação de dois terços dos votos dos condôminos” e conclui dizendo que “a assembleia é o órgão máximo do condomínio, tendo poderes, inclusive, para modificar a própria Convenção; sujeita-se somente à lei e às disposições estabelecidas nesta, podendo ser controlada pelo Judiciário.”60 3.3.6. Despesas de condomínio e as áreas comuns Em geral, conforme o estipulado em artigo 9º, § 3º, “c”, da Lei 4.591/64, a disciplina de áreas comuns, como quadras esportivas, salas de jogos e de ginástica, churrasqueiras, jardins, piscinas, entre outros itens que possam vir a existir em uma comunidade de prédios, sejam residenciais ou não, deve caber à convenção ou regulamento; porém, o Código Civil também faz menção a algumas matérias, como é o caso do terraço, por exemplo. O artigo 1.331, § 5º do Código Civil diz que “o terraço de cobertura é parte comum, salvo disposição contrária da escritura de constituição do condomínio.”61, e o artigo 1.344 diz que “ao proprietário do terraço de cobertura incumbem as despesas da sua conservação, de modo que não haja danos às unidades imobiliárias inferiores.”62. Deste modo, Sílvio de Salvo Venosa63 explica que, “se o terraço for área comum, caberá ao condomínio sua manutenção. Quando, no entanto, houver danos estruturais, mesmo que o terraço pertença à unidade de cobertura, os reparos deverão caber ao condomínio, sempre com ação de regresso, se couber, ao construtor.”. Em se tratando de despesas alusivas às áreas comuns, além do artigo 1.336, que, em seu inciso I estipula que esses custos são de responsabilidades de todos os 59 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 180 p. 60 GONÇALVES, Carlos Roberto, op. cit., 180 p. 61 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.331, § 5º. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 62 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.344. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 63 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 398 p. 34 condôminos, na forma proporcional à quota parte de cada um; outro ponto tratado no Código Civil é o das despesas relacionadas a partes comuns de uso exclusivo de um condômino, ou de alguns deles, como por exemplo, loja, escadarias e antena coletiva. Elas são de responsabilidade de quem delas se servir, em consonância com o artigo 1.340, do Código Civil. No que tange às vagas de garagens, é importante considerar também o que leciona Sílvio de Salvo Venosa, que diz que “a garagem ligada à unidade autônoma, pode também ser considerada uma unidade autônoma se corresponder à fração ideal do terreno.”, e ainda ensina que: Além desse aspecto, deve ser demarcada e identificada em planta detalhada presente no memorial e registrada no cartório imobiliário com descrição na especificação de condomínio64. Se não preenchidos esses requisitos, as garagens são consideradas áreas comuns do edifício, tipicamente uma garagem coletiva65. Outra questão levantada por Venosa66 está na problemática relacionada à inexistência de vagas demarcadas, sendo a garagem de uso comum. “Por vezes o incorporador institui verdadeiras vagas-fantasmas, garagens que não permitem acomodação de veículos a todos os condôminos, como assegurados nos contratos.” O autor diz que, nesses casos a responsabilidade “é do incorporador, que deve responder por perdas e danos, sendo legitimado o condomínio ou o condômino prejudicado por essa ação.”. O artigo 1.338 dispõe sobre a questão da locação de vaga de estacionamento, em que “resolvendo o condômino alugar área no abrigo para veículos, preferir-se-á, em condições iguais, qualquer dos condôminos a estranhos, e, entre todos, os possuidores.”67. Já o artigo 1.339, § 2º do mesmo Código diz que “é permitido ao condômino alienar parte acessória de sua unidade imobiliária a outro condômino, só podendo fazê-lo a terceiro se essa faculdade constar do ato 64 LOPES, João Batista. Condomínio. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, 64 p. Apud VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 398 p. 65 FRANCO, J. Nascimento; GONDO, Nisske. Condomínio em edifícios. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, 46 p. Apud VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 398 p. 66 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 401 p. 67 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.338. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 35 constitutivo do condomínio, e se a ela não se opuser a respectiva assembleia geral.”.68 Nas mesmas condições de utilização são enquadrados os armários ou compartimentos de depósito, que, quandonão demarcados, devem ter critérios de rodízio e de sorteio que não assumam caráter definitivo e que não concedam vantagens indevidas a alguns condôminos em detrimento de outros69. 3.3.6.1. Obras e reformas Quanto à realização de obras, dispõe o artigo 1.341, do Código Civil: “A realização de obras no condomínio depende: I - se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos; II - se úteis, de voto da maioria dos condôminos. § 1o As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas, independentemente de autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer condômino. § 2o Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e importarem em despesas excessivas, determinada sua realização, o síndico ou o condômino que tomou a iniciativa delas dará ciência à assembleia, que deverá ser convocada imediatamente. § 3o Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários, que importarem em despesas excessivas, somente poderão 68 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.339, § 2º. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 69 LOPES, João Batista, op. cit., 68, p. Apud VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 401 p. 36 ser efetuadas após autorização da assembleia, especialmente convocada pelo síndico, ou, em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer dos condôminos. § 4o O condômino que realizar obras ou reparos necessários será reembolsado das despesas que efetuar, não tendo direito à restituição das que fizer com obras ou reparos de outra natureza, embora de interesse comum.”70 Destarte, Maria Helena Diniz71 complementa: A realização de obras em partes comuns, em acréscimos às já existentes, a fim de lhes proporcional uma melhor utilização (por exemplo, construindo piscina, ou playground; colocando sistema de segurança moderno; ampliando o salão de festas; aumentando número de vagas na garagem), dependerá da aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos. E não serão permitidas construções, nas partes comuns, que possam prejudicar o uso, por qualquer condômino, das partes próprias ou comuns (CC, art. 1.342), que poderá embargá-las ou requerer a sua demolição. Referente ao artigo 1.343 do Código Civil é importante destacar que, em condomínios edilícios, para que sejam construídos novos pavimentos, ou, em solo comum, novos prédios com novas unidades imobiliárias, é necessária a aprovação de unanimidade dos condôminos. 3.3.7. Infrações e penalidades O artigo 1.332 do Código Civil versa sobre a instituição do condomínio, tendo em seus incisos o que deve constar em documento de registro para tornar essa instituição válida. O inciso III diz que deve ser estipulada a finalidade a que se destina o condomínio edilício e, nesse sentido, analisando a Lei 4.591/64, em seu artigo 10, é encontrado o que é defeso a qualquer condômino, sendo, entre outras ações, a de “destinar a unidade a utilização diversa de finalidade do prédio, ou usá- 70 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. Dispõe o Código Civil em seu artigo 1.341. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 71 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 274 p. 37 la de forma nociva ou perigosa ao sossego, à salubridade e à segurança dos demais condôminos”, e a de “embaraçar o uso das partes comuns.”72. Isso quer dizer que tais condutas são consideradas infrações, por irem de encontro ao que foi exigido para a constituição do condomínio. Serão vistos a seguir detalhes sobre essas infrações. 3.3.7.1. Desvio de uso De acordo com o que diz J. Nascimento Franco73 “o desvio de destinação do edifício constitui uma das mais graves infrações da lei e da Convenção de Condomínio.”. O autor continua com seus ensinamentos: Para impedir que a infração ocorra, ou para restabelecer o uso compatível com a finalidade para a qual foi construído o edifício, deve o síndico tomar todas as providências cabíveis, inclusive judiciais, contra os infratores, sejam condôminos, seu familiares, inquilinos e prepostos, com fundamento no artigo 10, III, da Lei nº. 4.591/64, sobretudo quando o desvio põe em risco a tranquilidade e a segurança dos demais condôminos. Pode ser considerado desvio de uso quando, em um prédio residencial, é comercializado apartamento, que assim, passa a receber maior número de pessoas, o que não só implica no aumento de gastos condominiais relacionados à energia elétrica, por exemplo, mas também à segurança dos outros condôminos, tanto por não se ter controle de quem frequenta o apartamento, como pelo fato de um escritório ser mais atrativo a assaltos, em comparação a residências. Igualmente ilegal, como também lembra J. Nascimento Franco74, “é a alteração de destinação das áreas de uso comum, salvo autorização assemblear por quorum estabelecido na convenção.”. O autor ainda conclui: O que se proíbe é o desvio de uso, ou o superuso das unidades autônomas, como, por exemplo, quando se transforma um apartamento em casa de cômodos ou “repúblicas” incompatíveis com a categoria e a destinação do edifício. Nesses casos, cabível é ajuizamento de ação ordinária, de caráter 72 BRASIL. Vade Mecum compacto / obra coletiva. Dispõe a Lei de Condomínio em Edificações – Lei nº. 4.591 de 16-12-1964 – em seu artigo 10, III e IV. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 73 FRANCO, J. Nascimento, op. cit., 159 p. 74 FRANCO, J. Nascimento, op. cit., 160 p. 38 cominatório, nos termos do art. 287, combinado com os arts. 644 e 645, CPC75, com a finalidade de se restabelecer o uso normal do apartamento, com a aplicação de multa diária até o cumprimento da sentença. 3.3.7.2. Privatização de áreas de uso comum Conforme entendimento predominante em Tribunais, somente “havendo autorização regular dos condôminos, ou expressa previsão no instrumento de instituição do condomínio, pode ser concedido o uso exclusivo de áreas e coisas pertencentes à coletividade condominial.”76 Ainda conforme J. Nascimento Franco, que ensina com destreza: Destinadas ao uso da coletividade condominial, a privatização ou utilização exclusiva depende da previsão expressa no instrumento de instituição do condomínio, ou, se posterior a esse documento, da anuência dos condôminos, concedida através de deliberação assemblear, tomada por unanimidade ou por quorum estabelecido pela Convenção. Daí vem que, faltando licença expressa da massa condominial ou do instituidor do condomínio, tudo o que se implantar numa aera comum é suscetível de ser demolido, arcando o infrator com as despesas judiciais e com a obrigação de indenizar perdas e danos sofridos pelo condomínio.77 3.3.8. Extinção Assim como tudo o que é criado pelo direito e pelo homem, o condomínio edilício pode extinguir-se, mesmo sendo criado sem prazo determinado. Maria Helena Diniz cita em seus ensinamentos quais são os casos de extinção dessa modalidade de condomínio78: “ a) desapropriação do edifício, caso em que a indenização será repartida na proporção do valor das unidades imobiliárias, conforme o artigo 1.358 do Código Civil; 75 Menções ao Código de Processo Civil de 1973. Artigos respectivos correspondentes no Código vigente: Para o artigo 287 não há artigo específico que corresponda ao mencionado. Podem ser analisados os artigos 139, IV, 536 e 537; para o artigo 644 não há artigo específico que corresponda ao mencionado, mas podemser analisados os artigos 497 e 536, caput; para o artigo 645, o correspondente é o artigo 814. 76 FRANCO, J. Nascimento, op. cit., 178 p. 77 FRANCO, J. Nascimento, op. cit., 175/6 p. 78 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 281/282 p. 39 b) confusão, se todas as unidades autônomas forem adquiridas por uma só pessoa; c) destruição do imóvel por qualquer motivo, como, por exemplo, incêndio total (CC, art. 1.357, 1ª parte); d) demolição voluntária do prédio, por razões urbanísticas ou arquitetônicas, ou por condenação do edifício pela autoridade pública, por motivo de insegurança ou insalubridade (Lei n. 6.709/79, art. 1º) ou por ameaça de ruína (CC, art. 1.357, 1ª parte); e) alienação a uma só pessoa natural ou jurídica ou reconstrução de todo o prédio, com aprovação dos condôminos, que representem metade mais uma das frações ideais. Deliberada a reconstrução, o condômino poderá eximir-se do pagamento das despesas respectivas, alienando seus direitos aos outros condôminos, mediante avaliação judicial de sua cota-parte. SE a venda se der, haverá preferência ao condômino em relação ao estranho e o preço alcançado será repartido entre os condôminos, proporcionalmente ao valor de suas unidades imobiliárias (CC, art. 1.357, §§ 1º e 2º).” Em outras palavras, Paulo Lôbo conclui: Extingue-se o condomínio quando a edificação for totalmente destruída ou se houver destruição parcial que comprometa sua substância e suas finalidades. A destruição pode ter origem em fatos da natureza, tais como terremotos, maremotos, inundações. Pode ter sido originada de atos humanos, como a reforma de unidade que comprometeu a estrutura do prédio, levando-o ao desabamento ou o comprometimento irremediável de fundações, que recomendam a destruição. Nessas situações, os condôminos poderão deliberar pela reconstrução ou venda, sendo que o quórum exigível é de metade mais uma das frações79. 79 LÔBO, Paulo, op. cit., 243 p. 40 4. OUTRAS MANIFESTAÇÕES CONDOMINIAIS Como bem lembra Sílvio de Salvo Venosa80, “a atualidade criou realidades em matéria de condomínio que não se amoldam ao condomínio tradicional, bem como refogem à tipicidade regulada pela Lei nº. 4.591/64 e também aos dispositivos do condomínio edilício do vigente Código.”. Vejamos quais são essas modalidades de manifestações condominiais. 4.1. Loteamentos condominiais fechados – bolsão residencial Os chamados “bolsões residenciais” são, conforme definição de Maria Helena Diniz81, bairros urbanizados para fins residenciais ou recreativos; ou conjuntos “de casas em vilas fechadas por portão de acesso à via pública protegido por muro e portaria, que controla a passagem.”. Ainda segundo os ensinamentos, os bolsões residenciais podem conter clubes de campo dotados de vias públicas e de praças particulares e áreas de lazer pertencentes ao domínio privado autorregulamentando por convenções assembleares. Por se tratar de condomínios criados com o fechamento de ruas do município, surgem várias questões relacionadas ao direito de ir e de vir dos munícipes, dos custos e da responsabilidade pela manutenção dessas áreas. Em relação ao pagamento de taxas de segurança, iluminação e de manutenção em geral, fica entendido, segundo decisão do Supremo Tribunal de Justiça82, que quem não fizer parte de associação de moradores que presta esses serviços, não fica sujeito a arcar com as respectivas taxas, por inexistir vínculo obrigacional. É possível verificar tal aplicação no julgado abaixo. APELAÇÃO – PRELIMINARES - Ilegitimidade passiva e falta de fundamentação da decisão apelada – Inocorrência - Réus que comprovadamente são proprietários de terrenos 80 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 416 p. 81 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 284 p. 82 Julgamento dos Recursos Especiais 1280871/SP e 1439163/SP pela Eg. Segunda Seção do STJ - Relator para o acórdão o Ministro Marco Buzzi (j. em 11/03/2015, DJe 22/05/2015). 41 localizados no loteamento relativo à associação-autora - Pretensão derivada de alegado enriquecimento ilícito, ante serviços oferecidos no loteamento em que estão inseridos lotes de sua propriedade - Legitimidade configurada - Sentença bem fundamentada, que solucionou adequadamente as questões postas à jurisdição, contemplando o artigo 93, IX, da Constituição Federal e 161 do Código de Processo Civil - Preliminares afastadas. LOTEAMENTO COBRANÇA DE TAXAS DE MANUTENÇÃO Ressalvada posição pessoal do Relator, adequa-se o entendimento ao preconizado em sede de recurso repetitivo pelo Superior Tribunal de Justiça. Impossibilidade de cobrança de taxas de contribuição para associação de quem dela não faz parte. Sentença reformada, condenando a autora nas verbas sucumbenciais.83 A regulamentação sobre a implantação e criação dos loteamentos é feita pelos municípios. Na cidade de São Paulo / SP, por exemplo, em análise do Decreto Municipal de nº. 43.692/2003, que trata dessas considerações, é estipulado no artigo 12, § 1º, I, que as manifestações sobre o custeio de implantação caberá aos proprietários interessados, bem como a juntada de documentos e da estimativa de custos para a implantação do Bolsão e do respectivo cronograma de pagamento. Ademais, o decreto também define os padrões para aprovação e para realização, pela Prefeitura, de estudos de viabilização da implantação de bolsões, respeitando o Plano Diretor, no caso, do Município de São Paulo. Analisando agora a Lei municipal nº. 4.455/2010, juntamente com o Decreto de nº. 10.527/2011, ambos do Município de Osasco / SP, que também tratam da criação de bolsões, no artigo 1º, § 2º da referida Lei são definidos os padrões de vias que podem ser fechadas para formarem bolsões residenciais: “É vedado o fechamento de bolsões residenciais cujas vias sirvam de passagem a outros bairros, 83 Recurso de apelação nº. 0001850-61.2006.8.26.0299 – TJSP – Relator Des. João Carlos Saletti – DJ: 30/08/2016 42 bem como às áreas públicas caracterizadas como áreas institucionais, praças, áreas verdes, áreas de lazer, sistemas de recreio, ou equipamentos públicos.”84 Portanto, é concluído que, para que seja criado bolsão residencial, é necessária a observância, pelos proprietários interessados, dos parâmetros municipais que toleram essa criação, bem como, pela Administração, dos impactos que serão gerados aos demais munícipes por tal implantação. 4.2. Time-Sharing - multipropriedade Sílvio de Salvo Venosa define o sistema time-sharing ou time-share da propriedade. Segundo os seus ensinamentos, “o adquirente passa a ser titular de um imóvel, assegurando-se-lhe de determinado período anual para usar e gozar da coisa. Cuida-se de sistema destinado a locais de lazer.”85. Já Gustavo Teppedino traz a seguinte definição: Multipropriedade de forma genérica é a relação jurídica de aproveitamento econômico de uma coisa móvel ou imóvel, repartida em unidades fixas de tempo, de modo que diversos titulares possam, cada qual a seu turno, utilizar-se da coisa com exclusividade e de maneira perpétua86. Nesse sistema, todos os multiproprietários são condôminos, mas esse condomínio somente será exclusivo na unidade autônoma no tempo fixado em acordo. Por conta disso, Venosa levanta a questão da dificuldade de conceituação da multipropriedade como direito real, que, pode ser resolvida com o registro do empreendimento em nome da uma pessoa centralizadora dos contratos, denominada trustee, que concede e organiza a utilização periódica, sendo a relação dos multiproprietáriosde direito obrigacional para com o proprietário da coisa.87 Há um direito real de habitação periódica, como dizem os portugueses, democratizando o imóvel de férias, cujo administrador (trustee) o mantém em nome de um clube, concedendo e organizando o seu uso periódico. 84 OSASCO (Cidade). Lei nº 4.455 de 08-12-2010. Dispõe o artigo 1, § 2º. Disponível em: <http://leismunicipa.is/dqrli>. Acesso em: 25 out. 2016 85 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 418/9 p. 86 TEPPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993, 1 p. Apud VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 419 p. 87 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 420 p. 43 Todos os adquirentes são comproprietários de fração ideal, sofrendo limitações temporais e condominiais, sendo que a relação de tempo repartido fica estabelecida em regulamento.88 No que tange as despesas relacionadas ao imóvel, como a de condomínio, por exemplo, é entendido que, conforme decisão do Superior Tribunal de Justiça89, embora haja solidariedade entre os multiusuários como nos outros tipos de condomínio, ela não deve ser considerada na integralidade dos gastos relacionados ao imóvel, mas sim, proporcional ao período de fruição por cada multiusuário. O julgado abaixo evidencia tal preceito: EMENTA: COBRANÇA DESPESAS E ENCARGOS MULTIPROPRIEDADE OU “TIME SHARING” (“TIME SHARE”) ADMISSIBILIDADE REGIME JURÍDICO DE CONDOMÍNIO - MODALIDADE QUE APRESENTA PARTICULARIDADES QUE NÃO DESNATURAM A RELAÇÃO CONDOMINIAL SOLIDARIEDADE, ENTRETANTO, QUE NÃO PODE SER ADMITIDA, ANTE O PARCELAMENTO DA FRUIÇÃO E GOZO DO IMÓVEL EM PERÍODO DETERMINADO - RECENTE ORIENTAÇÃO DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE DEVE SER AMOLDADA AO CASO CONCRETO APELO PARCIALMENTE PROVIDO. [...] Na esteira do posicionamento adotado pelo Col. Superior Tribunal de Justiça, no Agravo de Instrumento 1.273.234-SP, em acórdão relatado pelo ilustre Ministro MASSAMI UYEDA, datado de 08.03.2010, entendendo que em determinadas hipóteses a disponibilidade da posse, seu uso e gozo, transfere a legitimidade passiva, de rigor o exame da matéria controvertida à luz da situação fática então apresentada. Referido entendimento não retira a legitimidade dos apelados 88 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 282 p. 89 Julgamento do Agravo de Instrumento 1.273.234-SP - Relator para o acórdão o Ministro Massami Uyeda (J. 08/03/2010). 44 em suportarem as despesas da unidade da qual são condôminos. Entretanto, não podem responder integralmente pelas despesas daquela unidade, mas sim somente pela proporção em que usufruem do imóvel, ou seja, 1/52. [...]90 Maria Helena Diniz, em seus ensinamentos, classifica a multipropriedade em quatro modalidades: a) a acionária ou societária, em que o multiproprietário se torna acionista do imóvel, com direito a aproveitar o imóvel social, por determinado período fixo de tempo; b) a do direito real de habitação periódica, em que o multiproprietário pode usar de um imóvel por prazo correspondente a uma semana no ano; c) a imobiliária ou de complexo de lazer, pela qual cada multiusuário tem uma quota ideal relativo ao solo, à edificação ou complexo de lazer e; d) a hoteleira, pela qual há direito de uso habitacional temporário de unidade ou apartamento de um hotel91. 4.3. Shopping centers, clubes de campo e cemitérios Em seus ensinamentos, Sílvio de Salvo Venosa92 também menciona como forma de condomínio os shopping centers, clubes de campo e os cemitérios. Vejamos: Os shopping centers, normalmente tratados do ponto de vista exclusivamente contratual, envolvendo os lojistas, também têm perfeitos contornos condominiais, quando cada unidade comercial é alienada a um titular. Estabelece-se aí o condomínio, subordinado a regras mercadológicas próprias. No caso, o contrato normativo do shopping funcionará como convenção condominial. Na prática, porém, com maior frequência, o administrador ou empreendedor mantém a propriedade de todo o imóvel, 90 Recurso de apelação nº. 0054474-06.2008.8.26.0000 – TJSP – Relator Des. Francisco Thomaz – DJ: 30/11/2011 91 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 283 p. 92 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 422 p. 45 dando as lojas em locação ou a outro título; daí a razão de avultar de importância a relação obrigacional locatícia no instituto e não o direito real. Inafastável também a aplicação analógica da lei condominial à espécie no que tange principalmente às despesas de condomínio e regime das partes comuns, entre outros aspectos. Sobre os clubes de campo, a exemplo do que ocorre com os loteamentos fechados e condomínios edilícios, os membros, ao adquirir lotes, passam a ter o direito de usufruir das áreas comuns do clube, cooperando entre si com os custos de manutenção dessas áreas. Outro fenômeno moderno é a existência de cemitérios privados. Há que se entender que os contratos concessivos do uso de sepulcros poderão possuir natureza real apenas se assim for considerado pela lei. A relação entre o administrador e titular do terreno do cemitério e o adquirente de espaço para sepultura é de locação ou comodato. Há também nesse fenômeno situações de direito condominial.93 Vale ressaltar que, conforme lembra Maria Helena Diniz, poderão ser aplicados os princípios do Código Civil e os da Lei 4.591/64, no que couber, à qualquer forma de condomínios assemelhados, conforme disposição do Enunciado nº. 89 do Conselho da Justiça Federal: “o disposto nos arts. 1.331 a 1.358 do novo Código Civil aplica-se,no que couber, aos condomínios assemelhados, tais como loteamentos fechados, multipropriedade imobiliária e clubes de campo.”.94 93 VENOSA, Sílvio de Salvo, op. cit., 422 p. 94 DINIZ, Maria Helena, op. cit., 285 p. 46 5. CONCLUSÃO A partir de um estudo aprofundado das questões que envolvem a posse simultânea de um mesmo bem por duas ou mais pessoas, e analisando a doutrina e a jurisprudência que versam sobre o tema, pode-se perceber que, diante de grande conteúdo jurídico, é inegável que os condomínios adquiriram grande relevância para a sociedade e tendem a adquirir muito mais. Fazendo parte, crescentemente, na vida de todos, os condomínios, por envolverem e por conterem entre os condôminos, diferentes formas de agir, de pensar e de considerar valores distintos, são regidos por uma série de regras que foram criadas para que os chamados “direitos de vizinhança”, que são pontuados por obrigações propter rem, que são as vinculadas à coisa, ou seja, cabem somente às pessoas que detém o uso das propriedades individuais e das áreas comuns, e só podem ser transferidas com a transmissão da posse ou da propriedade da coisa; e que contêm regras para uma convivência harmoniosa e saudável entre todos os que compartilham a posse – estivessem presentes em todas as relações que envolvessem a aglomeração de pessoas em um mesmo local, ou a administração simultânea de um mesmo bem. Vários tipos de condomínios foram sendo criados com o passar do tempo, a fim de atender às necessidades das pessoas e da sociedade em geral, que, de forma progressivamente corriqueira, acaba convivendo com a diminuição do espaço físico das cidades, e que busca mais segurança e comodidade no dia-a-dia. Diante de tamanha complexidade e de tantas especificações, esse fenômeno jurídico peculiar, que estabelece a criação de tantas comunidades populacionais, foi e está gradativamente sendo mais aceito pela sociedade, que, mesmo vivenciando conflitosrelacionados à convivência compartilhada, acaba adquirindo novos hábitos e incorporando conceitos de comunhão, que são percebidos e que podem ser aplicados em quaisquer esferas de relacionamentos, já que o convívio, o compartilhamento e a solidariedade são atributos inerentes e essenciais à vida em sociedade. 47 6. BIBLIOGRAFIA BARCELOS DE MAGALHÃES, Roberto. Teoria e prática do condomínio. Rio de Janeiro: José Konfino, 1966 BARROS MONTEIRO, Washington. Curso de direito civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1978 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das coisas – História do Direito Brasileiro – Direito Civil. Brasília: SEEP, 2003 BRASIL. Código civil e constituição federal e legislação complementar: miniobra coletiva. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013 BRASIL. Vade Mecum compacto / obra coletiva. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. São Paulo: Saraiva, 2014 FRANCO, J. Nascimento. Condomínio – 3. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001 FRANCO, J. Nascimento; GONDO, Nisske. Condomínio em edifícios. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das coisas – sinopses jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2014 LÔBO, Paulo. Direito civil: coisas. São Paulo: Saraiva, 2015 LOPES, João Batista. Condomínio. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994 48 OSASCO (Cidade). Lei nº 4.455 de 08-12-2010. Dispõe o artigo 1, § 2º. Disponível em: <http://leismunicipa.is/dqrli>. Acesso em: 25 out. 2016 PLANIOL e RIPERT, Traité pratique de droit civil, v. 30, n. 319; Baudry – Lacantinerie, Traité théorique et pratique de droit civil, v. 6, n. 986 TEPPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. São Paulo: Atlas, 2015 49 7. ANEXOS