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Mara Rúbia Ribeiro Welferinger
NEUROPEDAGOGIA
Ficha catalográfica 
Welferinger, Mara Rúbia Ribeiro.
 Neuropedagogia Mara Rúbia Ribeiro Welferinger/. – 
São Luís: UemaNet, 2017
 ... p 103
 ISBN: 
 1. Neuropedagogia. 2.Neurociências. 3. Aprendizagem 
I.Título 
 CDU: 331.45(094.5)
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet
Campus Universitário Paulo VI, Tirirical - São Luís-MA
Fone-fax (98) 2106-8970
http://www.uema.br
http://www.uemanet.uema.br
Edição
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet 
Coordenadora do UemaNet
Profª. Ilka Márcia Ribeiro de Sousa Serra
Coordenadora Pedagógica de Designer Educacional
Profª. Maria das Graças Nery Ferreira 
Coordenadora Administrativa de Designer Educacional 
Cristiane Costa Peixoto
Professora Conteudista
Mara Rúbia Ribeiro Welferinger
Designer Pedagógico
 Lidiane Saraiva Ferreira Lima
Designer Educacional
Clecia Assunção Silva 
Revisoras de Linguagem
Layla Magalhães Araújo
Lucirene Ferreira Lopes
Editoração Digital/Capa
Luis Macartney Serejo dos Santos
Governador do Estado do Maranhão
Flávio Dino de Castro e Costa
Reitor da Uema
Prof. Gustavo Pereira da Costa
Vice-reitor da Uema
Prof. Walter Canales Sant’ana
Pró-reitor de Administração
Prof. Gilson Martins Mendonça
Pró-reitor de Extensão e Assuntos Estudantis 
Prof. Paulo Henrique Aragão Catunda
Pró-reitora de Graduação
Profª. Andréa de Araújo
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação
Prof. Marcelo Cheche Galves
Pró-reitor de Planejamento
Prof. Antonio Roberto Coelho Serra
APRESENTAÇÃO
1.1. Neurociências e neurocientistas .......................................................... 11
1.2. Pesquisas e Descobertas em Neurociências ....................................... 14
1.3. Origem do conceito de Neuropedagogia .............................................. 17
1.4. Por que Neuropedagogia? ................................................................... 23
1.5. A neuropedagogia atualmente: a batalha entre conceitos ................... 25
UNIDADE I: ORIGEM E HISTÓRICO DA NEUROPEDAGOGIA
SUMÁRIO
2.1 O Cérebro um sistema de conexão: o papel do corpo caloso .................... 32
2.2 Componentes de base: ............................................................................... 37
2.3 Exigências físicas do cérebro: movimento, oxigênio e alimentação ............. 62
2.4 Nossas capacidades, conceitos-chave: potencialidade, conectividade e 
 plasticidade ..................................................................................................69 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................74
5Neuropedagogia
UNIDADE II: NOSSO CÉREBRO HOJE 
3.1 Problemas a serem resolvidos ..................................................................... 79
3.2 Colocando em perspectiva ............................................................................101
UNIDADE III: RUMO A UMA NEURO APRENDIZAGEM
Neuropedagogia? Do que se trata?
 A Neuropedagogia é um conceito que foi criado na França pela pedagoga 
e linguísta Hélène Trocmé Fabre*. É uma passarela entre as neurociências e a 
pedagogia.
 A Neuropedagogia aborda a aprendizagem sob um novo enfoque, partindo 
de dois elementos que nos são inerentes: nosso cérebro e nossa capacidade 
para aprender, tendo como objetivo final a autonomia daquele que aprende. 
NEUROPEDAGOGIA RUMO A UMA NEURO 
APRENDIZAGEM
NEURO
CÉREBRO APRENDER
PEDAGOGIAE
E
A contribuição das 
Neurociências 
Uma nova abordagem 
da pedagogia
Fonte: Eleborado por Mara Welferinger
* Ver o quadro com um pequeno resumo dos trabalhos de Hélène Trocmé-Fabre.
APRESENTAÇÃO
Neuropedagogia Neuropedagogia6 7
 Trata-se de uma abordagem sistêmica, transdisciplinar, integradora. Logo, 
essa disciplina não se destina a uma área específica, mas a todos os que se 
sentem engajados com o ato de aprender. Como diz a referida autora, precisamos 
repetir com insistência “Nascemos para aprender” e aprendemos ao longo de 
nossa existência. Aprendemos com nosso corpo inteiro regido por nosso cérebro. 
Consciente ou não, ambos, cientista ou o comum dos mortais possuem um sistema 
nervoso central e praticam o aprender, que é considerado como a mais antiga das 
profissões. A lógica do Vivente é antes de tudo aprender! 
 Nosso cérebro ainda é um fabuloso mistério. Nós estamos infinitamente longe 
de obter todas as respostas sobre o potencial que se encontra encerradas nele e 
sobre o potencial do verbo aprender, porém atualmente, com os avanços científicos 
das neurociências e das ciências cognitivas “já temos informações suficientes para 
tentar compreender esse mistériol”.
 Na Universidade Estadual do Maranhão, a neuropedagogia como disciplina 
caminha de maneira natural e legítima, ao lado da Filosofia. A preocupação de 
ambas consiste em desenvolver no ser humano valores fundamentais que formam 
o pensamento crítico, porque somente este ajuda a ser livre e autônomo. 
 Este e-Book foi organizado em três Unidades, levando em consideração os 
rítmos do Vivente que são, na maioria dos casos, rítmos de estrutura ternária : rítmo 
cardíaco, rítmo respiratório, rítmos cerebrais (vigília, sono e sonho)... O ternário 
permite o ritmo. O ritmo, que vem do verbo grego pεĩν (rhein), “fluir, escorrer”, 
permite à duração “fluir”. 
 É necessário esclarecer que a neuropedagogia será abordada aqui, 
tomando respaldo nos trabalhos da referida linguísta e pedadoga e que fora alguns 
acréscimos feitos por mim, o essencial do trabalho é um resumo de alguns temas 
tratados por ela.
 Este e-Book contará um pouco da história e da origem do conceito de 
“neuropedagogia”, os avanços das pesquisas em neurociências. Nele também 
falaremos sobre nossos recursos, sobre o funcionamento de nosso cérebro, sobre 
nossas capacidades e sobre os problemas que precisam ser resolvidos.
 Sem perder de vista o caráter abrangente do assunto, fizemos a opção de 
organizá-lo, da maneira mais simples possível, esperando que desperte em você, 
aluno/aprendente, o desejo de explorar, descobrir, compreender, criar e sobre 
tudo questionar.
Hélène Trocmé-Fabre é uma renomada especialista da aprendizagem, 
doutora em Linguística, em Letras e Ciências Humanas. Autora de vários 
livros e artigos de referência sobre a Ciência da Educação, métodos de ensino 
e aprendizagem de línguas.
Livros publicados:
Apprendre Aujourd’hui (Aprender Hoje), 1994;
Né pour apprendre (Nascemos para Aprender), série de 7 videofilmes, 1994 ;
Réinventer le Métier d’Apprendre (Reinventar o Ofício de Aprender), 1999 ;
J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002 ;
L’Arbre du Savoir-Apprendre ( A Árvore do Saber-Aprender), 2003 ;
Le Langage du Vivant (A Linguagem do Vivente), 2013.
A autora traduziu do inglês para o francês, vários autores engajados em 
pesquisas sobre a cognição, a aprendizagem e a comunicação como, por 
exemplo, Tony Buzan, Use your head (Une tête bien faite – Use sua cabeça); 
L. V. Williams, Teaching for the two-sided mind (Deux cerveaux pour apprendre 
– Dois cérebros para aprender); E. de Bono, Thinking Course (Réfléchir mieux 
– Refletir melhor); Charles Hampden-Tuner, Maps of tthe Mind (L’Atlas de 
notre cerveau – O Atlas do nosso cérebro); Francisco Varela e Humberto R. 
Maturana, The Tree of Knowledge (L’Arbre de la Connaissance – A Árvore do 
Conhecimento).
Caro estudante,
Além do texto com as informações do conteúdo da disciplina, estamos lhe 
apresentando os ícones, elementos gráficos que ampliam as formas de linguagem 
e simplificam a organização e a leitura hipertextual. Você deve clicá-los para ter 
acesso às informaçôesque cada um representa. Observe os significados:
Objetivos:
• Adquirir conhecimentos sobre as neurociências; 
• Descobrir os mecanismos do funcionamento do cérebro; e
• Refletir sobre o papel das neurociências na aprendizagem.
1.1 Neurociências e neurocientistas
 Atualmente, nosso cérebro tornou-se o centro das atenções. Sua história e a 
maneira como ele funcionam vem despertando o interesse de um grande número de 
cientistas e da maioria das disciplinas que se reúnem sob o termo de Neurociências. 
 As neurociências fazem referência a toda uma categoria de setores ou áreas 
de exploração do sistema nervoso central (SNC), tanto a morfologia cerebral como 
a fisiologia, as relações entre a organização cerebral e os processos mentais, ou 
ainda os distúrbios e as terapias. 
 A história das neurociências está ligada ao conceito de neurônio, forjado por 
Waldeyer. Ela se impôs nos anos 50 com a neurobiologia que orientou as pesquisas 
para o nível celular.
SUGESTÃO DE LEITURA – indica outras leituras, 
contendo temas relacionados com o conteúdo do 
texto;
ABC ou Glossário – define uma palavra, termo ou
expressão utilizada no texto;
Saiba mais – traz informações, curiosidades ou 
notícias acrescentadas ao texto e relacionadas ao 
tema estudado.
ORIGEM E HISTÓRICO DA 
NEUROPEDAGOGIA
UNIDADE I
ÍCONES
Neuropedagogia
Fi
gu
ra
 2
 -
 I
m
ag
em
 d
e 
ne
ur
ôn
io
Terminaçôes do axônio
Corpo 
Bainha de mielina
Dendrito
Mitocôndria
Célula schwann
Nodo de Rainvier
Núcleo
axônio
 É um imenso campo de estudo, onde os pontos de pesquisas são diversos, 
como o funcionamento do cérebro (desde os aspectos mais elementares: molecular, 
celular e sináptico); a sensação, a percepção, a aprendizagem, a memória, a atenção, 
as emoções, o sono, o envelhecimento, as doenças neurológicas e psiquiátricas, o 
estresse, o comportamento, além das funções cognitivas1.
 Atualmente, praticamente todas as disciplinas colocaram o “chapéu neuro”. 
Alguns exemplos: a neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neurobiologia, 
neuropsicologia, neuropediatria, neuroendocrinologia, neurofísica, neuropsicologia 
etc. Elas fazem parte de uma familía maior, as ciências da bioevolução (paleontologia, 
antropologia, etnologia, genética, etologia etc).
1 CNRS, dossier d’actualité veille et analyses n° 80. Setembro, Neurosciences et éducation : la ba-
taille des cerveaux (a batalha dos cérebros)
Neuropedagogia
 Ela também está no centro das preocupações de muitos cientistas voltados 
para a busca de soluções e tratamentos para doenças, problemas e lesões no 
cérebro como, por exemplo, a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, os 
AVC, a dor crônica, o autismo, a depressão, os tumores cerebrais, as lesões da 
medula espinhal2 .
 Ela se enriqueceu a partir dos anos 50, com o avanço considerável provocado 
pela emergência de novas ciências e novas teorias como a cibernética de A. Wiener 
e de W. McCulloch, a teoria dos Sistemas e a Nova Comunicação, com a escola 
de Palo Alto, a termodinâmica, a física quântica e post-quântica, a cosmologia, a 
informática, a eletrônica... etc.3 
 O fascínio provocado pelas ciências de exploração cerebral parece ser 
compartilhado por um vasto público. Termos permanecido durante séculos na 
ignorância de nós mesmos, agora com o advento de todas essas novas ciências e 
novas tecnologias temos a sensação que podemos conhecer melhor nosso mundo 
interno. Mas, o desejo de conhecer melhor nosso funcionamento interno talvez seja 
uma necessidade diante do aumento das ameaças do meio ambiente.
 Um fenômeno interessante que surgiu com as neurociências foi à supressão 
de todos os tipos de fronteiras, entre continentes, entre disciplinas, entre ciências. 
As pesquisas são obrigadas a levar em conta o sentido de globalidade, de 
complexidade e de relatividade.
 Mas, a vida cerebral continua sendo um mistério embora atualmente as 
técnicas de imageamento/imagiologia nos permitam observar o funcionamento de 
um cérebro humano, em atividade, dando-nos a possibilidade para compreender 
os mecanismos fundamentais do ato de aprender e as correspondências entre 
atividades cognitivas e as ativações cerebrais.
2 Fonte : Society for neuroscience. University of Washington, citado por http://braincanada.ca/files/
Fiche_informations_FR.pdf
3 Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002.
Cérebro
Cerebelo
Tranca Encefálico
Medula Espinisal
Figura 1 - Sistema nervoso central
Sistema Nervoso Central
1110
Neuropedagogia Neuropedagogia12 13
 As pesquisas que exploram a química do cérebro estão em plena expansão. 
A descoberta dos neurotransmissores, da endorfina e das novas moléculas lança 
uma nova luz sobre o funcionamento cerebral. Através dos mecanismos reguladores 
do cérebro hormonal, os pesquisadores mostram conceitos de importância capital 
para o processamento da informação. Esses conceitos são palavras-chave 
indispensáveis para a compreensão dos nossos mecanismos de base. Citemos 
alguns: Precursor, receptor, reconhecimento, processo de maturação, re-captação, 
armazenamento, síntese local, retroação, inibição, pré-sináptico etc.4 
 Em 1971, nos Estados Unidos, diante da paixão e da correria rumo ao “neuro”, 
o biólogo Francis Otto Schmitt, junto com uma equipe de pesquisadores decidiram 
criar um projeto chamado “The neurosciences Research Program” (NRP).
 De um simples programa de pesquisa, essa nova abordagem sobre o cérebro 
transformou-se em uma verdadeira disciplina com suas práticas e discursos e uma 
nova comunidade de especialistas, os neurocientistas. Porém, esse conceito só 
entrou no imaginário popular na década de 1990, chamada a década do cérebro.5 
 Na verdade, neurociência era uma palavra nova para uma nova visão de 
como as pesquisas sobre o cérebro deveriam ser conduzidas, na esperança de 
acabar com o debate sobre o dualismo espírito-cérebro e permitir os grandes 
avanços sociais e individuais.
 No primeiro artigo sobre as neurociências, publicado em Nature, em 1970, 
Otto Schmitt explica que as neurociências englobam as ciências do cérebro 
e do comportamento e que atuam em quatro níveis: molecular, celular, neural 
e comportamental. Resumindo: o termo “neuro” reuniria as ciências de base do 
cérebro, incluindo a psicologia e a psiquiatria.
4 HélèneTrocmé-Fabre, Op.Cit., 2002.
5 Joelle M Abi-Rached et Nikolas Rose, Historiciser les neurosciences (Historizar as neurociências), 
2014. https://scholar.harvard.edu/files/jabirached/files/abirached_rose_chap2_-_moutaud_chamak.
pdf
6 Joelle M. Abi-Rached et Nikolas Rose, Op. Cit. 2014.
7 Francis O. Schmitt, Promising trends in Neuroscience, 1970, Nature n° 227, citado por Rached e 
N. Rose.
 O objetivo inicial era descrever os “acontecimentos” cerebrais como a 
cognição ou as emoções, em termos moleculares, ou seja, em termos de neurônios, 
moléculas, receptores, neurotransmissores e outros elementos moleculares e 
celulares.
 Como explica M. Abi-Rached e Nikolas Rose, esse projeto “neurocientífico” 
tinha também outro objetivo, baseado na crença de um conhecimento universal 
do cérebro, além dos diversos mecanismos subjacentes: celular, molecular, 
comportamental, linguístico, psicológico que era unificar o objeto de estudo que 
parecia disperso por meio das disciplinas e escolas de pensamento. Essa abordagem 
era guiada pela crença profunda na possibilidade de melhorar o bem-estar humano 
e social graças à ciência6 .
 Segundo esses mesmos pesquisadores, ainda em 1990, Otto Schmitt 
ressaltava a função social das neurociências e a possibilidade de resolver os 
problemas psicológicos, comportamentais, sociais (drogas, violência, esquizofrenia, 
retardo mental, problemas genéticos etc.).
“As neurociências nos trazem a esperança que uma melhorcompreensão das 
origens biológicas da natureza humana poderá favorecer as perspectivas de bem-
estar social e até mesmo de sobrevivência da vida humana neste planeta”7. 
Figura 3 - A química do cérebro
Neuropedagogia14 15Neuropedagogia
aprendizagem, reorganização e adaptação) que permite ao cérebro humano realizar 
performances extraordinárias;
Os anos 1990: considerado como a década do cérebro. Desenvolvimento da 
biologia molecular. Identificação e clonagem de neuromediadores, receptores e 
canais iônicos. Melhor compreensão da fisiologia intracelular e dos mecanismos 
intrínsecos dos neurônios. Atualização e desenvolvimento da imagiologia funcional 
do cérebro que permite ver o cérebro humano em ação. Em 1992, foram observadas 
as primeiras imagens do cérebro através do IRMf (Imagem por Ressonância 
Magnética Funcional);
1996 – Primeiro transplante de neurônios em pacientes com distúrbio neurolológico 
hereditário, caracterizado pela falta de coordenação e movimentos corporais 
anormais. (George Huntington é um médico americano, 1850-1916) (equipe de 
científicos franco/belga);
1999 – Descoberta da capacidade de divisão de certas células dentro do cérebro 
adulto;
2000 – Arvid Carlsson, Paul Greengard e Eric Kandel – Prêmio Nobel de Fisiologia 
e Medicina para o conjunto de seus trabalhos e contribuição na descoberta, 
envolvendo a comunicação e transmissão de sinais entre células nervosas no 
cérebro e o papel da dopamina na doença de Parkinson;
2000 – Descoberta das células-tronco;
Anos 2000 – Emergência da noção de « big data » ou « megadados » para 
armazenar e processar a massa de dados disponíveis na Internet, incluindo os 
dados da Biologia e os da Neurobiologia;
2001 – Publicação da sequência do genoma humano;
2003 – Laureados com o Nobel de Fisiologia e Medicina, os cientistas Peter Mansfield 
e Paul Lauterbur por seus trabalhos sobre o IRM, iniciados nos anos 1970;
2004 – Richard Axel e Linda Buck – Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por seus 
trabalhos sobre a decodificação genética dos receptores de odores e a organização 
do sistema olfatório;
8 http://www.frcneurodon.org/comprendre-le-cerveau/a-la-decouverte-du-cerveau/un-siecle-de-neu-
rosciences/
 Durante esse período (décadas de 60 e 70), os investimentos na pesquisas 
em ciência fundamental foram consideráveis, sobretudo nas pesquisas sobre o 
cérebro. Esses anos foram marcados pela corrida à superioridade técnico-científica. 
Tudo o que era suscetível de trazer benefícios sociais significativos era facilmente 
financiado.
 Ainda segundo esses autores, o que começou como um simples programa 
acabou por criar uma nova categoria de especialistas, os neurocientistas, mas 
também uma nova disciplina com suas subdisciplinas (neurociências celular, 
molecular, cognitiva etc.) e novas plataformas para traduzir os produtos epistêmicos 
(conhecimentos, técnicas, práticas etc.) em aplicações socialmente e clinicamente 
significantes. Em 1973, Amherst College foi à primeira instituição a propor diplomas 
em neurociências.
 A virada “neuro”, só se realizou plenamente durante a década do cérebro. O 
que é importante ressaltar é a crença e o desejo de intervir no cérebro para melhorar 
a saúde e o bem-estar dos seres humanos individualmente e coletivamente.
1.2 Pesquisas e Descobertas em Neurociências 
AGUMAS DESCOBERTAS EM NEUROCIÊNCIAS 
 A explosão dos conhecimentos sobre nosso órgão de aprendizagem vem 
do avanço das descobertas em neurociências ocasionado pelo avanço das novas 
tecnologias. Os anos abaixo relacionados são alguns elementos de referências para 
nos situar no espaço-tempo. Essas informações, a seguir, provêm do [site] que está 
na nota de rodapé de n° 8 “compreender o cérebro, um século de neurociências”8.
Observe :
1985 – 2000: Destaque e estudo da plasticidade cerebral (capacidade de 
14
Neuropedagogia Neuropedagogia16 17
2008 – Primeira estimulação profunda para o TOC (Transtorno Obsessivo-
Compulsivo). Esse método foi utilizado para tratar a doença de Parkinson ;
2010 – Avanços da optogenética. Termo que se refere às proteínas codificadas 
que respondem à luz para monitorar e controlar a atividade específica dos circuitos 
neurais ;
2012 – Robert Lefkowitz e Brian Kobilka – Prêmio Nobel de Química por suas 
descobertas dos receptores acoplados às proteínas G, particularmente abundantes 
no sistema nervoso ;
2013 – A Europa decide financiar (1,2 bilhões de euros) por um período de dez 
anos, o “Human Brain Project” que visa simular o funcionamento do cérebro, por 
computador. No mesmo ano, os Estados Unidos lança o “Brain Initiative”, dotado de 
3 bilhões de dólares em dez anos, para mapear o funcionamento dos neurônios ; 
2014 – Yasuo Kurimoto e sua equipe fazem o primeiro transplante de célula-tronco 
para tratar a DMRI (Degeneração/Degenerescência Macular Relacionada à Idade) ;
2014 – John O’Keefe, May-Britt Moser e Edvard Moser – Prêmio Nobel de Fisiologia 
e Medicina por sua descoberta do sistema de posicionamento espacial dentro do 
cérebro “place cells”, no hipocampo e “grid cells” no córtex entorhinal. Espécie de 
GPS Mental ;
2014 – Eric Betzig, Stefan W. Hell e William E. Moerner – Prêmio Nobel de Química 
pela invenção da “nanoscopia”, métodos de imagem em microscopia óptica que 
permite observar o funcionamento de objetos de tamanho inferior a 200 nm, ou 
seja, nano-estruturas celulares.
 Esses são apenas alguns exemplos de descobertas, mas os pesquisadores 
em neurociências do mundo inteiro aceleram suas pesquisas. Desde que os 
cientistas se colocaram sobre o “chapéu neuro”, transformando-se em uma “grande 
família”, compartilhando suas experiências, fazendo uma análise coletiva de suas 
hipóteses e “erros”, os avanços têm sido consideráveis e cada dia surge novas 
descobertas.
9 A Brief History of the science of learning: Part 2 (1970s-present). Tracey Tokuhama-Espinosa, 
Director of IDEA (Instituto de Enseñanza y Aprendizaje or Teaching and Learning Institute), and Pro-
fessor of Education and Neuropsychology at the of the University of San Francisco in Quito, Ecuador.
10 H. Trocmé-Fabre, 2002 ; T. Tokuhama-Espinosa, 2011; Renato M.E. Sabbatini, Neurônios e sinap-
ses (A história de sua descoberta), 
http://www.cerebromente.org.br/n17/history/neurons1_p.htm
1.3 Origem do conceito de Neuropedagogia
 
 O conceito de neuropedagogia é relativamente recente, mas suas raízes 
estão fixadas em uma longa história passada. Como sabemos aprendizagem, 
pedagogia, educação, ensino e didática são termos que existem desde a Grécia 
antiga, talvez mesmo antes. A diferença é que esses conceitos são abordados hoje 
à luz das novas descobertas sobre o cérebro. 
 Nos Estados Unidos ela surgiu sob o nome de MBE (Mind, Brain and the 
Education Science = Mente, Cérebro e Ciência da Educação). As pesquisas de 
Tracey Tokuhama-Espinosa oferecem um panorama relevante sobre como evoluiu 
a história do cérebro e da aprendizagem9.
 Foi somente na segunda metade do século XIX e início do século XX que 
surgiram as descobertas mais significativas sobre o funcionamento do cérebro. 
Por exemplo, as descobertas sobre as funções específicas, por Paul Broca 
(1862) e Carl Wernicke (1874),correspondendo a produção e a compreensão da 
linguagem. Inclusive, essas áreas são chamadas áreas de Broca e de Wernick 
respecticvamente. Broca e Wernicke descobriram que a maioria das pessoas (90% 
destros e 70% canhotos) tem uma área principal no lobo frontal esquerdo (Broca) 
e outra área principal no lobo parietal esquerdo (Wernicke) para tratar a linguagem. 
Em 1909, Korbinian Brodman recenseou as áreas do cérebro e fez um mapa geral. 
Em 1911, Santiago Ramón y Cajal faz uma descoberta sobre o papel das sinapses 
ou conexões entre neurônios. Ele mostrou que o neurônio era a unidade estrutural 
e funcional de base do cérebro10.Neuropedagogia Neuropedagogia18 19
 No final do século XIX, o alemão Heinrich Waldeyer, continuando as 
pesquisas de Santiago Ramón y Cajal, cria o termo neurônio para designar 
as células nervosas e o inglês Charles Scott Sherrington propõe o conceito de 
synapses, para designar a junção funcional que existe entre os neurônios. Esses 
cientistas influenciaram as neurociências, dando uma nova visão sobre a natureza 
do cérebro e da aprendizagem.
 Nesse contexto, surgiram outras teorias científicas sobre o assunto, como a 
da biologia da aprendizagem, cujo foco era a influência da natureza ou da cultura 
sobre a aprendizagem e a inteligência. A questão subjacente era saber se somos 
dependentes dos genes que recebemos de nossos pais ou da maneira como fomos 
criados. Esse debate está na origem do controverso tema da eugenia e dos diversos 
problemas éticos decorrentes, como por exemplo, a discriminação de pessoas por 
categorias, etiquetadas como sendo aptas ou não para a reprodução. 
 Em 1896, James Mark Baldwin elabora uma teoria sugerindo que o 
comportamento constante de um indivíduo ou de um grupo influencia sua capacidade 
de aprendizagem, não estando limitado exclusivamente aos fatores genéticos, ou 
seja, quando uma aprendizagem é benéfica à sobrevivência da espécie, ela será 
inscrita nos genes e transmitida às gerações futuras.
 Em seguida surgiram inúmeras outras teorias, tentando conectar o 
comportamento à biologia, como, por exemplo, a do Behaviorismo (Pavlov, Hull e 
Skinner). Essa teoria é bastante conhecida, quando Pavlov fez sua experiência com 
cães, descobrindo assim os princípios de base do comportamento. Nessa teoria dos 
reflexos condicionados, todas as respostas comportamentais do indivíduo seriam 
determinadas pela a entrada sensorial.
 Em 1949, Donald Hebb, psicólogo canadense, lança um livro intitulado The 
Organization of Behavior (A Organização do Comportamento), que se tornou um 
livro de referência mundial na área da neuropsicologia. Hebb critica a teoria do 
estímulo-resposta de Pavlov, porque segundo ele Pavlov não leva em conta, além 
dos estímulos (aferências sensoriais), outros fenômenos intrínsecos que também 
intervêm no comportamento, como a generalização perceptiva (estímulos sensoriais 
diferentes podendo determinar um mesmo comportamento).
 Ele está na origem do conceito de “assembleias neuronais” (cell assembly), 
ou seja, certas conexões sinápticas entre grupo de neurônios quando reforçadas, 
levam os circuitos formados por esses neurônios a agirem como uma entidade 
única.
 Segundo ele, os neurônios, mesmo estando distantes uns dos outros 
colaboram mutuamente no processo da informação dentro do cérebro. Ele considera 
essas assembleias neuronais como sendo unidades funcionais de base do cérebro 
e, por exemplo, ele sugere que mesmo na ausência de estímulos externos, uma 
assembleia neuronal pode sustentar a atividade cerebral autônoma.
 A frase “neurons wire together if the fire together” de Siegrid Löwel é sempre 
associada ao postulado de Hebb. Resumindo: Si dois neurônios são ativados ao 
mesmo tempo, as sinapses entre esses neurônios serão reforçadas. A regra de 
Hebb continua a ser um dos fatores determinantes para se saber quais as sinapses 
que serão reforçadas em uma rede de neurônios. 
 A sinapse de Hebb é fundamental para a nossa compreensão global da 
plasticidade do cérebro e para a aprendizagem, porque esta última se apoia sobre 
a plasticidade dos circuitos de nosso cérebro, ou seja, a capacidade dos neurônios 
de alterar de forma durável a eficácia de sua transmissão sináptica11. Nesse 
mesmo contexto, Jean Piaget elabora um novo quadro teórico de referência para a 
psicologia, chamado o Construtivismo.
 Para Piaget a inteligência humana é de inspiração biológica e evolucionista. 
O pensamento é uma forma de adaptação do organismo a seu meio ambiente. 
A inteligência se desenvolve por etapas sucessivas: sensório-motor (0 a 2 anos), 
correspondendo a passagem de uma atividade reflexa a uma atividade voluntária; 
pré-operatória (2 a 6 anos), caracterizada pelas funções semióticas e utilização dos 
significantes, por sinais ou símbolos, mas também caracterizada pela incapacidade de 
controlar as operações reversíveis; operações concretas (8 a 12 anos), caracterizada 
pela capacidade que tem a criança para objetivar, dominar as operações lógico-
11 Stanislas Dehaene, Le Code de La Cosncience ( O Código da Consciência), Ed. Odile Jacob, 2014; 
Tokuhama-Espinosa, Op. Cit, 2011 e, Bruno Dubuc, http://lecerveau.mcgill.ca/flash/i/i_07/i_07_
cl/i_07_cl_tra/i_07_cl_tra.html
Neuropedagogia Neuropedagogia20 21
matemáticas e a seriação (capacidade de classificar os objetos de acordo com a 
forma, a cor, tamanho etc). Essas operações concretas são ações internalizadas, 
reversíveis, organizadas em sistemas e se refere aos objetos; a fase das operações 
formais ou do pensamento hipotético-deductível (11/12 a 14/15 anos) é considerada 
por Piaget como a última fase do desenvolvimentoto cerebral 12.
 Esse modelo de fase após fase, linear e cumulativo, porque sistematicamente 
ligado a ideia de aquisição e de progresso foi bastante contestado pelas recentes 
pesquisas que mostram que os bebês já possuem uma capacidade cognitiva 
bastante complexa que foi ignorada por Piaget e que não se restringe a um 
funcionamento estritamente sensório-motor. Conclusão: parece que a inteligência, 
em vez de seguir uma linha ou um plano que leva do sensório-motor ao abstrato, 
ela prefere avançar de maneira singular e não linear.
 Nesse mosaico de ideias, aparece Lev S. Vygotsky, filósofo, epistemologista 
e psicólogo russo. Se Piaget considera que o entorno social só influencia de maneira 
“marginal” o desenvolvimento cognitivo, Vygotsky, ao contrário, considera que a 
criança cresce em interação estreita com dois aspectos da cultura: as ferramentas 
que ela produz, por exemplo, a língua oral e escrita, e as interações sociais entre 
adultos e crianças e entre crianças. A popularidade de Vygotsky na educação é 
tal que ele se tornou o porta-voz da pedagogia ativa, encarnando a ruptura com a 
pedagogia e a psicologia tradicional. 
 Sua principal tese teve o efeito notável na psicologia mundial dos anos 20 
e 30. Como ele lia fluentemente inglês, francês e alemão, tudo que era publicado 
não lhe escapava. Vygotsky, dando a volta em torno das pesquisas científicas da 
época e das interpretações teórica propostas concluiu que as relações sociais não 
são um fator de desenvolvimento psíquico, entre outros, elas são a fonte e a origem 
do desenvolvimento das funções psíquicas da criança que surgem primeiro no meio 
coletivo, depois se tornam funções psíquicas integradas à personalidade13. 
 Um dos conceitos mais conhecidos de Vygotsky é o conceito de Zona 
Próxima de Desenvolvimento, ou área potencial de desenvolvimento cognitivo, 
onde a criança aprende por meio da interação social com outros que têm mais 
experiências, mais conhecimentos. Segundo Vygotsky, a criança faz primeiro com 
a ajuda de outro, para em seguida realizar de maneira autônoma.
 Continuando os trabalhos de Vygotsky, Alexander Luria deu um grande 
impulso à psicologia histórico-cultural. Um de seus questionamentos era saber 
como a cultura, por meio da linguagem, influenciava o pensamento.
Alexander Luria é um renomado neurologista e psicólogo de origem russa, 
como Vygotsky. Luria contribuiu de maneira considerável para o conhecimento 
da memória. Estudou durante mais de quarenta anos os diferentes aspectos 
do processo mnêmico, ao nível celular, molecular e morfofisiológico. Ele 
optou por um conceito mais preciso do que o do rastro mnêmico, ou seja, a própria 
estrutura da atividade mnêmica. Luria confirmou o papel do sistema límbico, 
sobretudo do hipocampo no “armazenamento” e na consolidação das impressões 
corticais e na conservação das impressõesprocedentes da experiência direta14. 
 Suas experiências como, por exemplo, os dois pacientes citados abaixo, a 
memória sinestesicamente perfeita, prodigiosa de Chereshevsky e a incapacidade 
de se lembrar de Zasetsky (que foi atingido por uma bala no cortex parieto-ociptal 
esquerdo), levaram Luria a concluir que existiam vários tipos de memória. Luria 
contribuiu amplamente para memória como um conceito plural “memórias”15.
 Entre os anos 60 e 80 surgiu à teoria do “ambiente enriquecido” elaborada 
por Mark Rosenzweig, Marian Diamond e Arnold Scheibel, entre outros, que até hoje 
é fonte de controvérsias, ou seja, o mito da necessidade de estímulo precoce, entre 
0 e 3 anos de idade suscetível de assegurar o desenvolvimento ideal do cérebro. 
Segundo essa teoria os três primeiros anos de vida seriam cruciais e determinariam 
o que o humano iria ser no futuro.
12 T. Tokuhama-Espinosa, 2011; H. Trocmé-Fabre, 2002.
13 Ludmila Chaiguerova, Yure Zinchenko e Fréderic Yvon, « Vygotsky, une théorie du développement 
et de l’éducation », 2011. http://www.unige.ch/fapse/leforcas/files/9214/2608/9943/Vygotsky_1-428.
pdf
14 H. Trocmé-Fabre, Op. Cit., 2002.
15 Alexandre Luria, L’homme dont le monde volait en éclats (O homem cujo o mundo se fragmenta-
va), 1995.
Neuropedagogia Neuropedagogia22 23
 Em 1997, a partir dessa teoria do “ambiente enriquecido” William Greenough, 
fazendo experiências com ratos, pode observar que a densidade sináptica podia 
aumentar quando indivíduos eram colocados em um ambiente complexo, por 
exemplo, no caso da experiência com outros ratos e diversos objetos a serem 
explorados. Quando esses ratos foram submetidos a um teste de aprendizagem 
em um labirinto ficou demonstrado que eles passavam o teste com sucesso e mais 
rapidez que os outros ratos que se encontravam em ambientes pobres. Resumindo: 
a lógica da sinaptogênese é que, quanto mais sinapses disponíveis houver, mais a 
atividade e a comunicação neurais potenciais serão elevadas, mais será possível 
aprender melhor. 
 John Bruer (filósofo americano) afirmou inúmeras vezes que os estudos 
efetuados sobre esse assunto dos três anos cruciais não permitem formular 
princípios fundamentais sobre a maneira de melhorar a educação. Como ele diz 
“as crianças precisam de alguém para cuidar delas. As primeiras experiências são 
importantes, mas não decide tudo para o resto da vida. As crianças não precisam 
de “estímulos especiais” para se desenvolverem normalmente16.
 No meio de todas essas pesquisas e controvérsias, a aprendizagem ganha 
um espaço importante. Ao mesmo tempo, o interesse por parte dos pesquisadores 
aumenta no que se refere a certos aspectos envolvidos na aprendizagem como a 
atenção, a memória, motivação e as emoções.
16 John T. Bruer, Tout est-il joué avant 3 ans? (Tudo já está determinado antes dos 3 anos ?), Ed. 
Odile Jacob, 2002.
1.4 Por que Neuropedagogia ?
 
 França, na década de 70, Hélène Trocmé-Fabre, uma dessas vozes em 
permanente questionamento procura novos caminhos para o ato de aprender. Ao 
longo de sua experiência como professora, em contato permanente com diferentes 
parceiros da situação de aprendizagem, ela pode constatar que apesar de todos os 
meios utilizados, como a renovação dos conteúdos, as ferramentas e as diversas 
abordagens metodológicas, os problemas de assimilação de novos conhecimentos 
e os problemas relativos ao “como aprender”, a atenção e a motivação, entre outros 
continuavam sendo ignorados.
 Mas ela observava também que os parceiros do sistema educacional tomavam 
consciência de que havia uma lacuna entre os recursos dos”aprendentes” e suas 
realizações; entre os esforços que todos faziam e os resultados obtidos; entre as 
expectativas de uns e de outros e os objetivos alcançados. Essa constatação levou-a 
concluir que era preciso mudar de atitude sobre a “aquisição de conhecimentos”. O 
sistema educacional continuava voltado somente para os conteúdos, dando muito 
pouco interesse ao “processo” de aprendizagem, aos recursos perceptivos e ao perfil 
do aluno. Para ela não existe aprendizagem humana possível, sem compreensão 
de si mesmo, sem compreensão do mundo que nos cerca, sem disponibilidade 
para com seu próprio ser.
 No início dos anos 80, encorajada e respaldada pelas pesquisas inovadoras 
sobre o funcionamento do cérebro, mas também pela abordagem sistêmica que já se 
desenvolviam nos Estados Unidos e em vários lugares do planeta, Hélène Trocmé-
Fabre decide focar sua tese de doutourado sobre os avanços da neurociências e o 
envolvimento delas na aprendizagem. 
 A pesquisadora cria o conceito de “neuropédagogie” (neuropedagogia), 
estabelecendo assim um diálogo entre nosso cérebro (neuro) e a pedagogia ( a 
arte de aprender). 
Neuropedagogia Neuropedagogia24 25
 Em 1987, Hélène Trocmé-Fabre publica pela primeira vez o livro J’apprends, 
donc je suis, une introduction à la neuropédagogie (Aprendo, logo existo, uma 
introdução à neuropedagogia) e que foi lançado em 2016 no Brasil. 
 Nosso cérebro, como afirma Hélène Trocmé-Fabre é nosso órgão de 
aprendizagem por excelência, a pedagogia mais do que qualquer outra disciplina 
encontra sua legitimidade sob o prefixo “neuro”. Embora ela ainda seja considerada, 
por muitos, como uma disciplina para professores e que esse conceito tenha se 
desgastado com o tempo, é mais do que urgente resituá-la, valorizá-la como uma 
transdisciplina, por meio, entre e para além das disciplinas porque seu objeto 
principal é o aprender, nossa capacidade fundamental 17.
17 Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002.
18 Albert Camus, Sur une philosophie de l’expression (Sobre uma filosofia da expressão), ensaio, 
1944.
 A neuropedagogia, como diz Hélène Trocmé-Fabre é um apelo para que 
retornemos às raízes biológicas da aprendizagem. Um apelo por uma aprendência 
bionômica, ou seja, que rege a vida. Um apelo por uma aprendizagem/aprendência 
ecológica, que leva em conta as relações daquele que aprende com seu meio 
ambiente. Um apelo por uma emergência do ser e sua transposição para além da 
própria existência porque nascemos para aprender e para descobrir nosso próprio 
potencial na duração.
 Cada ser humano, seja qual for sua idade, sua origem, sua hereditariedade, 
seu passado, seu futuro… tem um direito fundamental: o de desenvolver sua 
inteligência, sua capacidade para compreender o mundo que o cerca, e para saber 
quem ele é.
 É necessário repetir com insistência: a natureza equipou-nos para aprender, 
para captar o que vemos, ouvimos e ressentimos. Mas, o mecanismo só poderá 
funcionar bem se não estivermos sobrecarregados por aquilo que cremos saber… 
A aprendizagem é um nascimento que deve ser feito sem precipitação, a seu 
rítmo e na hora exata.
1.5 A neuropedagogia atualmente 
“Não nomear bem o objeto é aumentar o sofrimento do mundo”. 
Albert Camus18 16
1.5.1 A batalha entre conceitos APRENDER ?
EDUCAR ? ENSINAR ? INSTRUIR ?
TROCMÉ-FABRE, Héléne.J’apprends,done je suis(Aprendo, logo 
existo)Tradução:Mara Welperinger.Paris:Ed. d’ Organissation,2002.
Neuropedagogia Neuropedagogia26 27
 Atualmente, a “neuropedagogia” vem sendo substituída pelo conceito 
de “neuroeducação”. Porém algumas perguntas que vêm à mente precisam ser 
esclarecidas: Trata-se realmente de educar? O que colocamos sob o conceito 
de “educar”? O que leva os parceiros da situação educacional a preferirem 
“neuroeducação”, em vez de “neuropedagogia”?
 O verbo “educar” tomou um espaço enorme no panorama da aprendizagem, 
colocando um véu sobre quase todos os outros verbos envolvidos com o aprender, 
como por exemplo, o próprio verbo aprender, o verbo instruir, o verbo ensinar. A 
dificuldade talvez venha do fato de não sabermos exatamente o que colocar sob 
esses conceitos. Nós não somos capazes de definir com clarezaqual é o papel 
de cada um, quem é quem na história. Nós, os pais, queremos que nossos filhos 
sejam “educados”, queremos que eles sejam “instruídos”, queremos que eles sejam 
“ensinados”. E diante da organização da sociedade atual, por razões múltiplas, 
delegamos cada vez mais essa tarefa à Instituição Educacional. 
1.5.2	 Mas,	educar	é	tarefa	de	quem	afinal?
 Antigamente com frequência, mas ainda hoje ouvimos a expressão “a 
educação vem do berço”, no sentido de que educar era da incumbência dos pais. 
Estes deveriam “entregar” à sociedade um ser “já com as regras de bases”, ou seja, 
as regras de comportamento ético, do respeito aos outros, de respeito às coisas 
e do respeito de si mesmo. Valores que aprendemos independente de nosso grau 
de instrução, de nosso grau de ensino e de nossa condição social. Somente aos 
7 anos ou até mesmo mais tarde para alguns países, as crianças iam para escola 
para serem instruídas. Atualmente, nós entregamos nossos filhos à sociedade 
cada vez mais cedo para serem ao mesmo tempo educados e instruídos.
 Será que quando deixamos a educação de nossos filhos nas mãos da 
Instituição, mesmo sendo uma Instituição Educacional, não cometemos um erro de 
apreciação, de percepção, de conceituação? 
 Será que é o papel da Instituição e dos professores, educar nossos filhos? 
O sistema educacional da maneira como ele é organizado só poderá instruir e 
é o que ele faz se observarmos a etimologia de “instruir” = amontoar materiais, 
ajuntar. O aluno/aprendente vai amontoando conhecimentos, na maioria dos casos 
desconectados uns dos outros, com um único objetivo um diploma no final.
 O interessante nessa batalha de conceitos, é o lugar do verbo ensinar. 
O verbo ensinar tentou realizar a proeza de reunir “educar e instruir”. Porém, 
vemos por inúmeros exemplos que os resultados não foram alcançados, apesar 
de todos os esforços e de todos os investimentos. Os professores estão mais 
desencorajados. O verbo ensinar caiu em uma armadilha, ficando entre uma 
Instituição desastrosamente burocrática e cada vez mais exigente e uma educação 
com pais totalmente impotentes diante das imensas transformações do mundo 
atual. 
 O conceito de “ensinar” ao longo do tempo foi se tornando um conceito “fora 
do solo” e tão flexível que acabou se adaptando a qualquer uso, perdendo seu 
verdadeiro sentido. 
 Provavelmente, será preciso esclarecer o papel de cada um desses 
conceitos e reajustar a linguagem/língua para podermos encontrar soluções para 
pais desarmados, professores infelizes, alunos desamparados. 
Figura 4 - Onde se encontra o Professor
Onde se encontra o professor?
Neuropedagogia Neuropedagogia28 29
E o aprender?
 Educar, instruir, ensinar, se eles são pertinentes, eles nunca poderão ser outra 
coisa que uma faceta do verbo aprender. Logo, é para esse conceito que temos 
que voltar o nosso olhar. O Ministério da Educação ganharia muito e provavelmente 
encontraria o verdadeiro sentido se ele fosse chamado de Ministério do Aprender. 
 Hélène Trocmé-Fabre estava pelo menos uns vinte anos à frente, quando 
ela preparou sua tese sobre a Neuropedagogia, onde seu maior centro de interesse 
era o aprender. Mas, como ela diz: “Em um sistema educacional sobrecarregado 
de certezas não é possível mudar as mentalidades de um dia para outro”19. Apesar 
de toda a sua pertinência o conceito de “neuropedagogia” ainda tem encontrado 
dificuldades para ser aceito, os interessados preferindo substituí-lo pelo conceito 
de “neuroeducação”. 
 A preferência pelo termo “neuroeducação” vem, provavelmente, do fato 
desse termo entrar no molde já pré-estabelecido. Mudar é talvez correr o risco de 
perder o controle e o ser humano, como podemos constatar, sempre foi atraído pela 
vontade de controlar. Ele buscará infinitamente meios, palavras, conceitos que o 
levam nessa direção.
 Logo, “neuropedagogia?”ou “neuroeducação?” Somente o futuro determinará 
a prevalência. 
Resumindo: Nesta Unidade, compartilhamos uma reflexão em torno do conceito de 
Neurociências. Ressaltamos o impacto das pesquisas e descobertas que conduziu 
ao conceito de Neuropedagogia. Como pudemos observar as novas ciências 
que estudam o cérebro humano se tornaram atualmente imprescindíveis para a 
aprendizagem. Essa é uma das razões que nos levou a dar enfoque ao cérebro 
e a nossa capacidade inata que é a capacidade para aprender. O conhecimento 
desses dois conceitos, cérebro e aprender, nos deram a possibilidade de esclarecer 
ao mesmo tempo os conceitos de educar, instruir e ensinar.
18 Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), Ed. d’Organisation, 2002.
 Nosso cérebro e o verbo aprender são dois elementos fundamentais que nos 
pertencem inteiramente. Por isso foi importante e urgente mostrar, respaldando-se 
nas Neurociências, como eles funcionam e como eles se articulam. É totalmente 
surpreendente saber que foi preciso três revoluções (quântica, biológica e 
informática) para tomarmos conhecimento desse fato.
 Portanto, nosso intuito foi convidar o leitor aluno/aprendente a conhecer 
essas descobertas e esse novo campo, tornando-se explorador de seu próprio 
questionamento, esperando que estando consciente dessa riqueza que nos 
pertence, desperte nele uma grande alegria e uma enorme sede para conhecer 
mais.
REFERÊNCIAS
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neurociências), 2014.
BRUER,John T. Tout est-il joué avant 3 ans? (Tudo já está determinado antes dos 
3 anos ?), Ed. Odile Jacob, 2002.
CNRS, dossier d’actualité veille et analyses n° 80. Setembro, Neurosciences et 
éducation : la bataille des cerveaux (a batalha dos cérebros).
CHAIGUEROVA, Ludmila; ZINCHENKO, Yure; YVON, Fréderic. « Vygotsky, 
une théorie du développement et de l’éducation (Vygotsky, uma teoria do 
desenvolvimento e da educação),MGU, 2011.
http://www.unige.ch/fapse/leforcas/files/9214/2608/9943/Vygotsky_1-428.pdf
DEHAENE, Stanisla. Le Code de la Conscience ( O Código da Consciência), Ed. 
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DUBUC, Bruno. http://lecerveau.mcgill.ca/flash/i/i_07/i_07_cl/i_07_cl_tra/i_07_cl_
tra.html
FOURNIER,Martine. Jean Piaget et l’intelligence de l’enfant (Jean Piaget e a 
inteligência da criança).
Neuropedagogia 30
Objetivos:
• Conhecer alguns elementos de base que compõem a dinâmica do funcionamento 
cerebral;
• Identificar nossas capacidades, nossas possibilidades e nossas conexões para 
sermos capazes de desenvolvê-las melhor; e
• Articular os elementos da dinâmica do cérebro e os recursos para uma 
aprendizagem eficiente.
“Nossa mente não funciona como uma câmera ou uma máquina. Qualquer 
percepção é uma criação e toda a memória é uma re-criação”. 
Oliver Sacks, Um antropólogo em Marte, 2003.
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Figura 1 - Máquina
NOSSO CÉREBRO HOJE
UNIDADE IIhttp://lewebpedagogique.com/paumier/wp-content/blogs.dir/228/files/piaget.pdf
GODAUX, Emile. Cent milliards de neurones, Ed. Labor, 1990
https://portail.umons.ac.be/FR/universite/facultes/fmp/services/neurosci/
Documents/Cent_milliards_de_neurones.pdf
LURIA,Alexandre. L’homme dont le monde volait en éclats (O homem cujo o 
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______________.Le Langage du Vivant (A Linguagem do Vivente), Ed. 
HDiffusion, 2013.
_____________.Réinventer le métier d’apprendre (Reinventar o Ofício de 
Aprender), Ed. d’Organisation, 1999. 
SABBATINI, Renato M.E. Neurônios e sinapses (A história de sua descoberta), 
http://www.cerebromente.org.br/n17/history/neurons1_p.htm
TOKUHAMA-ESPINOSA,Tracey. A Brief History of the science of learning: Part2
http://traceytokuhama.com/index.php?option=com_tz_
portfolio&view=article&id=226:a-brief-history-of-the-science-of-learning-part-2&catid=24&Itemid=336
TROCMÉ-FABRE, Hélène. J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), Ed. 
d’Organisation, 2002.
UNIVERSITY OF WASHINGTON ,Society for neuroscience., citado por http://
braincanada.ca/files/Fiche_informations_FR.pdf
https://scholar.harvard.edu/files/jabirached/files/abirached_rose_chap2_-_
moutaud_chamak.pdf
VERGNAUD,Gérard. Lev Vygotski : pédagogue et penseur de notre temps (Lev 
Vygotski : pedagogo e pensador de nosso tempo), Ed. Hachette Education, 2000, 
Paris.
Neuropedagogia Neuropedagogia32 33
20 https://www.todamateria.com.br/sistema-nervoso/
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sistemanervoso2.php
http://lecerveau.mcgill.ca/flash/d/d_01/d_01_cr/d_01_cr_ana/d_01_cr_ana.html
21 O mundo, segundo Albert Jacquard (Conferência em Vanosc-Ardêche, Jean Dornac, Jun 2004). 
http://www.ethologie.info/revue/spip.php?article15
 Nosso potencial e as características do funcionamento de nosso cérebro não 
podem mais ficar nas mãos, exclusivamente, dos especialistas, porque se trata da 
compreensão de nós mesmos e dos Outros. Conhecendo nossos recursos, seremos 
capazes de administrá-los e desenvolvê-los melhor. Este é o grande caminho para 
a Autonomia.
 Nós possuímos uma reserva ilimitada de possibilidades, de configurações, 
de conexões, de estados mentais. Essa realidade cerebral traduz a riqueza, a 
diversidade e a unicidade do cérebro humano (não existem dois cérebros iguais em 
toda a humanidade). Os avanços das neurociências e das novas tecnologias nos 
proporcionam hoje essa oportunidade. Precisamos agarrá-la com urgência, para 
que não permanecermos na superfície desse conhecimento.
 Não podemos mais ignorar o mais fantástico de todos os “maestros”, 
regendo essa extraordinária e extravagante sinfonia do nosso corpo se regulando, 
na sua relação com o meio ambiente, adaptando-se na sua relação com os Outros, 
evoluindo, na sua relação consigo mesmo, que é como diz Hélène Trocmé-Fabre, 
a mais justa definição do aprender.
 Para muitos o tema que segue parece evidente e conhecido. Mas nosso 
objetivo é partir daqueles que ainda não sabem. Serão apenas breves informações. 
Os interessados pelo assunto poderão encontrar milhares de outras informações, 
nos livros especializados e em vários sites na Internet. 
 O que precisamos saber em primeiro lugar é que nosso organismo é um 
sistema, composto de vários outros sistemas (sanguíneo, digestivo, endócrino, 
linfático, muscular, respiratório... e o sistema nervoso...). Este último é composto 
de dois outros sistemas: O sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. 
O sistema nervoso central é composto do encéfalo (cérebro, cerebelo e tronco 
cerebral) e da medula espinhal. O sistema nervoso periférico é constituído dos 
nervos cranianos e da coluna vertebral, partindo da medula espinhal. 
 No que se refere a este e-Book, abordaremos somente o sistema nervoso 
central. O sistema nervoso central é o centro de processamento das “ informações”. 
É a sede dos nossos pensamentos, nossas emoções, nossa memória, nossa 
percepção etc.
2.1 O Cérebro um sistema de conexão2O o papel do corpo 
caloso
 
 Cem bilhões de neurônios quando um bebê humano vem ao mundo! Cem bilhões 
é muito! Mas, o mais impressionante é que essa quantidade não acaba nesse número. 
Uma vez que o bebê nasce ele vai fazer proliferar conexões entre seus neurônios e 
quando esse humano atinge a puberdade, ele chega com uma coleção de 10.000 
conexões por neurônio. Logo, para esses cem bilhões isso fará um milhão de bilhões de 
conexões21.
 Esses cálculos efetuados por Albert Jacquard, matemático e geneticista francês 
mostra o potencial que temos a nossa disposição. 
 Como ele diz é simplesmente fabuloso o que temos dentro de nosso cérebro. Se 
tivéssemos que contar somente nossos neurônios, cem bilhões?!!!... levaria muito tempo. 
E se tivéssemos que contar nossas conexões, um milhão de bilhões de conexões, é 
melhor nem começar, nunca chegaríamos ao final. Iríamos precisar viver muitas vidas, 
só contando.
 Neste e-Book, tentaremos abordar o funcionamento de nosso cérebro e mostrar 
alguns elementos que compõem essa dinâmica. Queremos deixar claro aqui que não 
somos especialistas do sistema nervoso, mas pensamos que precisamos ter um melhor 
conhecimento dos mecanismos cerebrais envolvidos no ato de aprender para podermos 
ser autor e ator de nossa história.
 Nosso cérebro é uma estrutura biológica complexa segundo Hélène Trocmé-
Fabre, nosso sistema educacional tem a tendência de utilizar somente um de seus níveis 
que é o cortical (o intelectual). Ignorar a complexidade do cérebro é empobrecê-lo.
Neuropedagogia Neuropedagogia34 35
 O cérebro ocupa a maior parte do encéfalo e está no comando do sistema 
nervoso. Ele tem o controle de todos os órgãos do corpo, das funções motoras e 
cognitivas e da produção hormonal. Ele se divide em dois hemisférios (esquerdo 
e direito) e quatro lobos (frontal, parietal, temporal e ocipital). Ele é composto de 
células cerebrais, as células da glia e os neurônios que recebem e transmitem as 
informações.
Figura 4 - Células da Glia
22 Oliver Sacks, L’Oeil de l’esprit (O Ôlho do Espírito), Ed. du Seuil, 2012.
23 http://lecerveau.mcgill.ca/flash/d/d_01/d_01_cr/d_01_cr_ana/d_01_cr_ana.html 
 Oliver Sacks, neurologista britânico, diz que o cérebro é muito mais 
do que um conjunto de módulos autônomos onde cada um seria imprescindível 
para uma função mental específica. Cada uma dessas áreas funcionalmente 
especializadas deve interagir com dezenas ou centenas de outras, sua integração 
total cria uma espécie de orquestra da mais alta complexidade que reúne centenas 
de instrumentos diferentes, onde a partição e o repertório mudam continuamente22. 
Figura 3 - Corpo caloso
 Mas, o cérebro, embora tendo um papel fundamental, ele é uma parte de 
um todo, porque ele está continuamente em interação com o resto do corpo. Ele 
assegura, ao mesmo tempo, as funções vitais, controlando a frequência cardíaca, 
a temperatura corporal, a respiração etc., e as funções ditas “superiores”, como a 
linguagem, o raciocínio ou a consciência.
 Os principais componentes do tecido cerebral são as células gliais e 
os neurônios (células nervosas ). O neurônio é considerado como a unidade 
funcional de base do cérebro, por causa de sua importante interconectividade e 
sua especialização em termos de comunicação. Os neurônios estão organizados 
em redes funcionais localizadas em diferentes áreas do cérebro.
 O cérebro evolui e se desenvolve durante toda a vida. Esse desenvolvimento 
depende, ao mesmo tempo, da biologia e da experiência. As tendências genéticas 
interagem com a experiência para determinar a estrutura e o funcionamento do 
cérebro a cada momento. É essa interação constante que faz que cada cérebro 
seja único23.
 Reunindo os dois hemisférios cerebrais, encontramos o corpo caloso. O corpo 
caloso é um grande feixe de fibras nervosas através do qual, os dois hemisférios 
se comunicam. Milhões e milhões de axones (fibras nervosas, prolongamento 
do neurônio que conduz o sinal elétrico do corpo celular em direção das áreas 
Neuropedagogia Neuropedagogia36 37
24 H. Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), p. 67, 2016.
25 A. LURIA (1973); Cf WABER (1982) e EPSTEIN (1978), citados por Trocmé-Fabre, Op.Cit. 2002.
sinápticas) colocam em relação regiões semelhantes ou não semelhantes dos 
hemisférios cerebrais. As regiões conectadas por fibras calosas são chamadas áreas 
associativas. A rede de fibras é gigantesca. As áreas associativas representam 80% 
do córtex cerebral. Porém, o mais importante a ressaltar aqui é que nosso corpo 
caloso não é um feixe de fibras nervosas que separa os dois hemisférios cerebrais, 
mas um feixe de fibras nervosas que reúne os dois hemisférios cerebrais.
 Ele desempenhaum papel muito importante na coordenação dos movimentos 
dos membros. O corpo caloso é totalmente mielinizado por volta do décimo ano (a 
mielina é uma substância que serve para isolar e proteger as fibras nervosas). 
 A mielinização começa na extremidade posterior do corpo caloso, na área 
visual e se propaga de trás para frente, em direção dos lobos frontais. Segundo 
Hélène Trocmé-Fabre é só quando o processo estiver bastante avançado para 
reunir os dois hemisférios em sua totalidade, que as tarefas complexas de abstração 
poderão ser realizadas24.
 O processo pode ser mais lento com certas crianças. A diferença entre uma 
criança considerada “retardada” e uma criança considerada “superdotada” (PAH = 
Portador de Altas Habilidades) consiste no tempo que ambas levarão para assimilar 
uma informação e adaptá-la. Esse tempo pode variar de três meses (para a criança 
superdotada) e um ano e meio e às vezes, até dois anos para a criança “retardada”. 
Por outro lado, na idade de onze anos, o crescimento cerebral não seria o mesmo 
para as meninas e os meninos. Esse impulso seria duas vezes mais forte nas 
meninas do que os rapazes. Aos quinze anos ocorreria o contrário25.
 Trata-se, portanto de adaptar os conteúdos dos programas e a pedagogia 
para que nenhuma categoria de aprendentes perca a confiança ou percam o 
interesse pelas atividades escolares que não correspondem às suas aptidões. Do 
mesmo modo, visto que o desenvolvimento cerebral não se faz de maneira regular, 
mas por impulsos seguidos de pausas, a pedagogia deveria se adaptar aos períodos 
de repouso para consolidar os conhecimentos, desenvolver uma aprendizagem 
experimental, um ensino por tutoria etc.
 Segundo Hélène Trocmé-Fabre, a linguagem do corpo caloso (4 milhões 
de mensagens por minuto !) não recebe a devida atenção do mundo médico-
educacional. Essa forma de conexão parece ser utilizada preferencialmente pelos 
canhotos do que pelos destros. No mundo ocidental feito para destros é indispensável 
informar os interessados que ainda recebem uma etiqueta que os incomodam. O 
corpo caloso é o canal por onde passa uma informação que já foi processada.
 Os professores e os pais não devem esquecer que possuímos uma reserva 
ilimitada, de possibilidades, configurações, conexões, estados mentais, o que 
traduz a riqueza, a diversidade e a singularidade do cérebro humano.
2.2 Componentes de base
2.2.1 Os dois hemisférios, os neurônios, as sinapses, neurotransmissores, 
as células da glia, impulso nervoso etc (Ver os esquemas (A e B)
 Os dois hemisférios: o equilíbrio do poder (Contraria sunt complementa)
 Cada hemisfério cerebral cuida de um lado do corpo. O controle é cruzado. 
O hemisfério direito cuida do lado esquerdo e o hemisfério esquerdo cuida do lado 
direito. Eles estão sempre buscando o equilíbrio, embora de acordo com a situação, 
eles procedam de maneira diferente.
 O diálogo entre eles é feito através do corpo caloso. Quando há uma ruptura 
de simetria (usando aqui os termos de Nicolescu Basarab) nesse diálogo, um dos 
dois hemisférios toma o “controle”, inibindo a intervenção do outro, para poder dar 
uma resposta adaptada ao que está sendo solicitado.
 Apesar de serem complementares, eles não são simétricos. A linguagem, 
por exemplo, é tratada principalmente pelo hemisfério esquerdo, mas isso não é 
Neuropedagogia Neuropedagogia38 39
26 Roger Sperry e Michael Gazzaniga, citados por Justine Sergent, http://www.ipubli.inserm.fr/bitstre-
am/handle/10608/3906/MS_1989_10_746.pdf?sequence=1
27 J. L. Juan de Mendoza, Deux hémisphères, un cerveau (Dois hemisférios, um cérebro), 1998.
28 H. Trocmé-Fabre, Op. cit. 2002.
28 H. Trocmé-Fabre, Op. cit. 2002.
29 Justine Sergent, pesquisadora da Universidade McGill em Montreal, citada por Trocmé-Fabre, 
2002.
sistemático porque o hemisfério direito pode intervir quando necessário. Roger 
Sperry e Michael Gazzaniga mostaram que os hémisférios separados por uma 
calosotomia podiam funcionar de maneira independente, obtendo raciocínios 
distintos a partir das informações que cada hemisfério tinha acesso26.
Figura 7 - Os dois hemisférios vistos pelo hemisfério direito do autor
 Cada hemisfério tem sua especificidade. O hemisfério direito trata as 
informações visuais e espaciais que permitem a localização no espaço. Ele trabalha 
de maneira rápida, simultânea, sintética e global. Ele se apoia na experiência. Ele 
é intuitivo e parte da dedução. O hemisfério esquerdo encarrega-se das tarefas de 
compreensão e produção da linguagem. Ele trabalha de maneira lenta, precisa, 
analítica, detalhada, sequencial, lógica. Ele parte do detalhe rumo à complexidade27. 
 As atividades de cálculo, a escrita, a fala, a categorização, a diferenciação, 
a seleção, a compreensão semântica etc., são em geral reconhecidas como 
sendo específicas do hemisfério esquerdo. Quando este é danificado aparecem 
os problemas de sintaxe, de denominação, de percepção das sequências. Já a 
linguagem estereotipada, os sons não verbais, as melodias, os ruídos, os ritmos, as 
relações espaciais, a compreensão intuitiva… são reconhecidos como características 
do hemisfério direito. Quando este hemisfério é danificado, observamos que os 
problemas de percepção periférica, de entonação, de orientação espacial, ou então, 
mudanças de humor28. Por muito tempo, o hemisfério direito foi considerado como 
passivo e inferior ao hemisfério esquerdo. Com as novas pesquisas, o hemisfério 
direito vem sendo reabilitado.
 Os dois hemisférios analisam. Ambos são capazes de perceber os conjuntos, 
tanto o hemisfério direito como o hemisfério esquerdo são capazes de reconhecer 
as fisionomias, o que a maioria das pesquisas passadas atribuía somente ao 
hemisfério direito. Logo, é importante levar em conta a influência das características 
dos estímulos e do método utilizado29.
 Segundo Trocmé-Fabre, não somente é confirmada a necessidade de ir do 
global para o analítico, do contexto para o detalhe, do geral para o particular, mas 
os formadores são solicitados a construírem um programa de plena ocupação do 
cérebro, sobre a base da cooperação dos dois hemisférios. Observe, a seguir, a 
Figura 7:
Figura 5 Figura 6
Neuropedagogia 40
30 Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), Ed. d’Organisation, 2002].
* O esquema A, mostrando alguns elementos da nossa vida cerebral foi elaborado por Mara Welfe-
ringer.
31 http://lecerveau.mcgill.ca/flash/d/d_01/d_01_cl/d_01_cl_ana/d_01_cl_ana.html
Esquema A
Figura 8 - Exemplo de célula animal
Neuropedagogia 41
 Cada hemisfério contém o germe do outro. Eles são complementares e não 
opostos. Como no símbolo do Tai Chi, as áreas, clara e escura encontram em inter-
relação dinâmica entre elas. O predomínio de um é equivalente à supressão da 
diferença e à negação da realidade.
 A representação acima da complementaridade de nossos dois hemisférios e 
dos aspectos de nossa gestão mental foi inspirada pelo livro de C. Hampden-Turner 
onde o autor faz um mapa histórico do psiquismo e da cognição30. 
 Alguns elementos da nossa vida cerebral
As células do nosso cérebro
 O sistema nervoso é composto de dois tipos de células: as células da glia e 
os neurônios.
 Os neurônios, como todas as células do nosso organismo possuem uma 
membrana cercando um citoplasma e um núcleo (o corpo celular) onde se encontram 
os genes. 
 A atividade principal dos neurônios é transmitir a informação e para isso 
eles possuem dois tipos de prolongamentos que os distinguem de outras células. 
Esses prolongamentos são: os dendritos e os axônios. Os dendritos (vem do grego 
dendron = árvore) se dividem como ramos de uma árvore, captam a informação e 
a encaminham para o corpo da célula. O axônio em geral é bem comprido e único. 
Esse axônio encaminha a informação do corpo da célula para outros neurônioscom os quais ele faz conexões que são chamadas de sinapses. Os axônios podem 
também estimular outros tipos de células, como as dos músculos e das glândulas31. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 CÉLULAS DA GLIA 
 
 CÉREBRO SINAPSES 
 NEURÔNIO 
 NEUROTRANSMISSORES IMPULSO NERVOSO 
Noyau
Une cellule animale typlque
Mebrane
Cellularie
Organites
Cytoplasme
Dendrites
Un neurone
Axone
Neuropedagogia
Dendritos
Nucléolo
Axônio
Axônio
Nòdolu de Ranvier
Bainha de mielina
Corpo celular
Sinapse
Célula de Schwenn
Núcleo
Figura 10 - Exemplo de uma rede de neurônios
Neuropedagogia 4342
Terminaçôes do axônio
Corpo celular
Axônio
DendritosDendritos
 Os neurônios organizam-se entre eles, constituindo uma fantástica rede. 
 Essas células recebem e transmitem sinais de natureza eletroquímica. 
Os dendritos e os axônios asseguram a transmissão desses sinais. Os dendritos 
recebem os sinais e os axônios os transmitem.
 Todas as nossas sensações, nossos movimentos, nossos pensamentos 
e nossas emoções são o resultado da comunicação entre os neurônios. Essa 
comunicação é assegurada através de dois processos: a condução elétrica e a 
transmissão química.
 A condução elétrica permite ao impulso nervoso viajar rapidamente dentro 
do mesmo neurônio. Trata-se de uma breve variação elétrica que se propaga dos 
dendritos ao corpo celular até ao final do axônio. 
 A transmissão química efetua-se ao nível da sinapse. Ela permite transmitir 
o impulso nervoso de um neurônio para outro. Essa transmissão é chamada de 
transmissão química. Trata-se da difusão de moléculas químicas entre os neurônios, 
permitindo ao impulso elétrico passar para o próximo neurônio. 
Figura 9 - Exemplo de neurônio Segundo Bruno Dubuc, biólogo e pesquisador canadense, não devemos 
confundir a condução elétrica do impulso nervoso dentro dos neurônios com as 
sinapses elétricas. Estas podem transmitir o sinal elétrico diretamente de um 
neurônio para o outro 32.
32 Bruno Dubuc, http://lecerveau.mcgill.ca/
Como funciona a comunicação dos neurônios?
 Os neurônios se comunicam entre eles graças a eletricidade e a química. 
 Os neurônios se comunicam, usando a eletricidade quando se trata do 
mesmo neurônio e usando a química quando se trata de passar de um neurônio 
para o outro. 
 Eles recebem as informações sob forma elétrica, nessa super arborescência, 
os dendritos, indo até o âmago/núcleo da célula neuronal, onde elas são processadas. 
O neurônio desencadeia então um novo sinal elétrico que vai se propagar a quase 
400km/h, ao longo de filamento. No final desse filamento se encontra um fabuloso 
Neuropedagogia Neuropedagogia44 45
Figura 11 - Comunicação entre neurônios
Figura 12 - Células da glia
Axônio 
Axônio 
Capilar 
Astrócito
Oligodendrócito
Bainha de mielina
conjunto de conexões orgânicas que são chamadas de sinapses. São pontos de 
contato entre dois neurônios, são espaços microscópicos Figura 8- Corpo caloso
 de comunicação, através dos quais cada neurônio vai poder comunicar com outros 
milhões de neurônios. Os neurocientistas falam de bilhões e bilhões de conexões 
em nosso cérebro, comparáveis à quantidade infinita de grãos de areia.
 Quando o sinal elétrico chega à sinapse, ele libera nesse espaço de 
um milionésimo de milímetro, milhares de moléculas químicas, chamadas 
neurotransmissores. Esse contato libera uma cascata de tempestades elétricas que 
se propagam de neurônio em neurônio, através das sinapses. 
 Na realidade, essa operação sofisticada dura apenas um décimo de milhar 
de segundos e cada dia de nossa vida, esse fenômeno terá se reproduzido bilhões 
de vezes33.
33 E. Gaspar, Explose ton score au collège. Le cerveau et ses astuces… Réussir c’est facile ! Belin, 
2015. 
As células da glia
 Ouvimos falar menos das células da glia porque o papel delas na comunicação 
celular é menos evidente. Segundo estudos recentes, é provável que a quantidade 
de células da glia seja igual à quantidade de neurônios, aproximadamente 100 
bilhões.
 As células da glia são extremamente importantes porque sem elas os 
neurônios não poderiam funcionar corretamente. São elas que alimentam, dão 
apoio e protegem os neurônios. São elas que eliminam os resíduos deixados pela 
morte neuronal e aceleram a condução nervosa, agindo como um isolante de certos 
axônios.
As sinapses
 A sinapse é o ponto de junção entre dois neurônios
 A palavra sinapse refere-se ao lugar onde o axônio se encontra com 
o dendrito. A palavra vem do grego “syn” (conjunto) e “haptein (unir, tocar). Os 
neurônios apresentam duas maneiras bem diferentes de se unirem:
 A sinapse elétrica onde as células se tocam e são conectadas, através de 
pequenos orifícios, que permite ao impulso nervoso passar diretamente de uma 
para outra;
Neuropedagogia Neuropedagogia46 47
Figura 14- Neurotransmissores
34 Bruno Dubuc, http://lecerveau.mcgill.ca/ 35 http://lecerveau.mcgill.ca/flash/i/i_01/i_01_m/i_01_m_ana/i_01_m_ana.html
Figura 13 - Sinapse
axônio neurônio 1
recaptação 
neurotransmissores
neurotransmissor
 A sinapse química onde as células não se tocam e onde o influxo (impulso) 
nervoso precisa de moléculas específicas para passar de uma célula para outra;
 A sinapse química é formada pelo botão terminal do axônio, contendo 
mensageiros químicos que serão lançados através da fenda sináptica, antes de 
atingir o dendrito do próximo neurônio;
 Essas moléculas são os neurotransmissores que são liberados pelo neurônio 
pré-sináptico e que vai se fixar nos receptores situados em apenas algumas dezenas 
de nanômetros de distância;
 As sinapses químicas são menos rápidas do que as sinapses elétricas, mas, 
elas são mais flexíveis e maleáveis, uma característica preciosa na base de toda 
aprendizagem;
 Em uma sinapse química, o influxo (impulso) nervoso só pode circular em 
um único sentido, ao contrário da sinapse elétrica onde o impulso circula nos dois 
sentidos. Além do mais, a transmissão nervosa em uma sinapse química leva 0,5 
milisegundos, enquanto que com a sinapse elétrica esse tempo é quase inexistente.
 Cada neurônio pode fazer mais de mil sinapses com outros neurônios e 
como temos mais de cem bilhões de neurônios, isso significa que o cérebro humano 
contém aproximadamente 1.000.000.000.000.000 de sinapses. Cada milímetro 
cúbico de córtex contém meio bilhão!34
Os neurotransmissores
 Os neurotransmissores são moléculas que agem como « ferry » químicos, 
permitindo ao influxo/impulso nervoso passar de um neurônio para outro.
 Os neurotransmissores liberados na fenda sináptica podem ter dois efeitos 
opostos sobre o próximo neurônio.
 Alguns favorecem a propagação do influxo nervoso no interior do mesmo. Eles 
são excitadores.
Outros diminuem a probabilidade do neurônio de enviar um impulso. Eles são 
chamados neurotransmissores inibidores.
 É a forma específica do neurotransmissor que vai permitir que ele se fixe no 
bom lugar para produzir seu efeito.
 O neurotransmissor é como uma chave buscando a boa fechadura. Se sua 
forma é a boa para o neurônio seguinte, ele vai produzir um efeito nesse neurônio 35.
Neuropedagogia Neuropedagogia48 49
36 http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Histologia/epitelio29.php
http://lecerveau.mcgill.ca/flash/a/a_01/a_01_cl/a_01_cl_fon/a_01_cl_fon.html
Roland Lehoucq, La propagation de l’influx nerveux, Pour la Science, 2002. 
 http://www.pourlascience.fr/ewb_pages/a/article-la-propagation-de-l-influx-nerveux-27713.php
Extrait de « Neurophysologie » de G.BOURBONNAIS, Université de Laval, Canada, sur la communica-
tion nerveuse;
http://www.jpboseret.eu/biologie/index.php/systeme/systeme-nerveux/27-communication-nerveuse
Exemplo de tipos de neurotransmissores:A acetilcolina é um neurotransmissor excitador bem disseminado, que provoca 
uma contração muscular e estimula a excreção de certos hormônios. No sistema 
nervoso central, ele influi, entre outros, no estado de alerta, na atenção, na raiva, na 
agressividade, na sexualidade, na sede.
 A dopamina que participa no controle do movimento e da postura. Ele modula 
também o humor e a dependência.
 O GABA (ácido gama-aminobutírico) é um neurotransmissor inibidor muito 
disseminado nos neurônios do córtex. Ele participa na coordenação motora, na visão 
e em várias outras funções corticais. Ele regula também a ansiedade.
 O glutamato é um neurotransmissor excitador super importante. Ele está 
associado à aprendizagem e a memória.
O	Influxo	(impulso)	nervoso36 
 O impulso nervoso é um fenômeno de natureza elétrica que ocorre no sistema 
nervoso, propagando-se ao longo dos neurônios.
 Porém, essa eletricidade em nosso cérebro não é produzida por elétrons 
como nos fios elétricos de nossas casas. É o movimento de moléculas carregadas 
eletricamente por meio da membrana do neurônio que causa esse fenômeno.
 Essa condução de natureza particular é chamada de condução eletroquímica, 
ou seja, eletricidade feita com moléculas químicas.
 A membrana dos neurônios como a de todas as células possuem pequenos 
orifícios chamados canais. É por meio desses canais que as moléculas carregadas 
eletricamente atravessam a membrana. Mas, ao contrário das outras células, os 
canais da membrana dos neurônios se especializaram de tal maneira que eles 
conseguem coordenar o movimento dessas cargas elétricas através da membrana 
para produzir a condução nervosa.
 Essa sequência de acontecimentos da condução nervosa pode ser resumida 
da seguinte forma:
1. Em repouso, os canais da membrana do neurônio criam uma distribuição 
desigual de cargas: mais cargas negativas dentro e mais cargas positivas 
fora;
2. O impulso nervoso, abrindo ou fechando certos canais reverterá o potencial 
elétrico de ambos os lados da membrana: durante um breve instante dentro 
se torna mais positivo que fora; e
3. O potencial de repouso é rapidamente restaurado pelo trabalho dos outros 
canais. Mas, já na região vizinha, o fenômeno se repete, propagando assim 
o impulso nervoso ao longo do axônio do neurônio.
 É importante notar que a condução nervosa seria inútil sem o outro componente 
da comunicação neuronal que é a transmissão sináptica que permite ao impulso 
nervoso passar de um neurônio para outro. 
 Como os neurônios não se tocam ao nível de suas sinapses, eles precisam de 
mensageiros químicos chamados neurotransmissores para fazer passar o impulso 
nervoso de um neurônio para outro. Essa transmissão química do impulso nervoso 
leva o axônio e os dendritos a desenvolverem estruturas especializadas para facilitá-
la. Os dendritos possuem assim milhares de “espinhos” que brotam em sua superfície. 
É no sentido desses espinhos que se situam os botões terminais dos axônios, espécie 
de protuberâncias onde os neurotransmissores são excretados.
 A dupla natureza química e elétrica da nossa vida cerebral, e consequentemente, 
dos nossos meios de comunicação é explicada por J. D. Vincent, com os seguintes 
termos:
Neuropedagogia Neuropedagogia50 51
37 Hélène Trocmé-Fabre, J’apprends, donc je suis (Aprendo, logo existo), 2002.
Figura 15 - Impulso nervosoPara que haja vida é necessário organização e para que haja organização 
é preciso que haja comunicação, ou seja, troca de informações entre 
as células, e, no centro de uma mesma célula entre os elementos que 
a compõem. Há nos seres organizados dois modos de comunicação: o 
nervoso e o hormonal...37 
 Na comunicação neuronal há um termo técnico para descrever o impulso 
nervoso chamado de potencial de ação. Trata-se de uma despolarização breve e 
reversível que se propaga ao longo do axônio. 
 O potencial de ação que se estabelece na área da membrana estimulada 
perturba a área vizinha, levando à sua despolarização. O estímulo provoca, assim, 
uma onda de despolarizações e repolarizações que se propaga ao longo da membrana 
plasmática do neurônio.
 O exemplo mais citado para explicar o fenômeno do potencial de ação é o 
princípio da onda produzida pela torcida em um estádio. Algumas pessoas se levantam 
e se sentam em um mesmo movimento. Seus vizinhos fazem imediatamente a mesma 
coisa. Em seguida, os vizinhos dos vizinhos fazem também a mesma coisa, etc. 
Vemos então uma onda humana percorrer o estádio inteiro. O impulso nervoso que 
viaja nas fibras nervosas é um fenômeno semelhante. Quando a membrana de um 
neurônio é estimulada, ela se despolariza. Em seguida, numa fração de segundo, ele 
se repolariza. Imediatamente, quando o ponto estimulado está sendo repolarizado, o 
ponto vizinho sobre a membrana, por sua vez se despolariza. Em seguida se repolariza 
quando o ponto vizinho está se despolarizando etc. Uma onda de despolarização que 
se originou no ponto estimulado se propaga por toda a membrana do neurônio.
 O potencial de ação difere do potencial recepetor (potencial sináptico) em 
vários aspectos. Primeiro, porque esse potencial de ação não se propaga de 
maneira passiva, mas ativamente através dos canais iônicos especiais, sensíveis à 
voltagem, que possui o axônio e de um dispositivo específico que permite acelerar 
a propagação do potencial de ação.
 Segundo, esse processo também requer energia por parte do neurônio que 
dever garantir a manutenção da atividade das bombas iônicas que servem para 
reequilibrar as cargas elétricas de ambos os lados da membrana após a passagem 
do potencial de ação.
 Os potenciais de ação são de amplitude e de intensidade invariáveis. Sua 
formação funciona sob o modo do “ou tudo ou nada”. Ou seja, nada acontece se o 
estímulo não for suficientemente intenso para excitar o neurônio, desencadeando 
o potencial de ação. Abaixo do limite de excitação do neurônio, nada ocorre, porém, 
uma vez que a intensidade do estímulo desencadeador supera o limite de excitação, 
ele não faz nenhuma diferença entre um pouquinho acima do limite ou amplamente 
acima do limite. Um potencial de ação sempre se produzirá para uma determinada 
célula. Não existe potencial de ação mais forte ou mais fraco. Passou o limiar, ele é 
igual independente da intensidade do estímulo.
Neuropedagogia Neuropedagogia52 53
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 Um neurônio só pode transmitir a informação variando a frequência dos seus 
potenciais de ação, ou seja, pelo número de potenciais de ação emitidos em um 
segundo.
 As alterações do potencial de membrana do neurônio. Exemplos de três 
situações possíveis na comunicação entre neurônios:
1 O neurônio recebe o potencial excitador que não alcança o limite de excitação, 
logo não será possível gerar um novo impulso nervoso;
2 O neurônio recebe dois potenciais excitadores cuja soma não permite alcançar 
o limite de excitação do neurônio e produzir um novo impulso nervoso; e
3 O neurônio recebe dois potenciais excitadores cuja soma permite alcançar o 
limite de excitação do neurônio e produzir um novo potencial de ação.
 O potencial de ação é uma inversão temporária do potencial elétrico da 
membrana do axônio que dura apenas alguns milissegundos.
 Após a passagem do potencial de ação, há um breve período refratário 
durante o qual a membrana não pode mais ser estimulada. Esse fenômeno impede 
o potencial de ação de voltar, obrigando-o a prosseguir, como a chama que percorre 
um fio de pólvora.
 Os potenciais de ação são mensageiros essenciais para a linguagem 
neuronal.
 O impulso nervoso se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Os 
dendritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular. O axônio 
conduz o impulso em direção das extremidades, longe do corpo celular.
 Todas as nossas percepções, nossos pensamentos,

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