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pONTA gROSSA - pARANÁ 2014 CURSO DE ESpECIALIZAÇÃO EM gESTÃO pÚBLICA pLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DE pOLÍTICAS SOCIAIS Planejamento e Gestão Estratégica Aparecida do Rocio Freitas Neuza Corte de Oliveira CRÉDITOS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220 3163 www.nutead.org 2014 Governo do Estado do Paraná Carlos Alberto Richa Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia João Carlos Gomes Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Fernanda Bernardi Vieira Richa Secretaria de Estado da Administração e da Previdência Dinorah Botto Portugal Nogara Reitores Prof. Dr. Carlos Luciano Sant’Ana Vargas – UEPG Prof. Drª Nádina Aparecida Moreno – UEL Prof. Dr. Júlio Santiago Prates Filho – UEM Prof. Dr. Aldo Nelson Bona – UNICENTRO Coordenação Pedagógica Prof. Drª Solange de Moraes Barros – UEPG Prof. Ms. Liza Holzmann – UEPG Prof. Drª. Lenir Mainardes da Silva – UEPG Prof. Dr ª. Rosiléa Clara Werner – UEPG Prof. Ms. Adnilson José da Silva – UNICENTRO Prof. Drª. Vera Suguihiro – UEL Prof. Drª. Celene Tonella – UEM Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Prof. Drª. Leide Mara Schmidt Prof. Ms. Cleide Aparecida Faria Rodrigues Nosso cotidiano está repleto de avanços tecnológicos, diferentes expressões culturais e mudanças sociais. Apesar de tantas novidades, nossa sociedade ainda convive com problemas básicos na área da saúde, da educação, assistência social, direitos humanos e tantas outras áreas. Por certo, de diferentes maneiras, os problemas vividos e noticiados tem estreita relação com a área da gestão pública. Diferentes explicações são dadas para o enfrentamento da questão social. Pensar e buscar alternativas às demandas sociais é uma tarefa dos gestores e funcionários públicos do Estado do Paraná. Assim foi criado o Curso de Especialização em Gestão Pública com ênfase em: Sistema Único da Assistência Social, Sistema Único da Saúde, Direitos Humanos e Cidadania, Gestão Escolar e Planejamento e Avaliação de Políticas Públicas oferecendo quinhentas e sessenta vagas aos servidores públicos das diversas secretarias envolvidas, e ainda duzentas e sete vagas a residentes técnicos com ênfase no Sistema Único da Assistência Social. O curso tem por objetivo habilitar profissionais já inseridos na área pública e egressos de diferentes áreas para atuarem em órgãos e empresas públicas, na prestação de serviços profissionais ou que pretendem trabalhar em projetos, convênios e serviços, no âmbito da administração pública. Um projeto construído a muitas mãos, coordenado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, em parceria com a Universidade Estadual de Maringá – UEM, Universidade Estadual de Londrina - UEL, Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO, Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI, Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social – SEDS e Secretaria da Administração e da Previdência – Escola de Governo. Nosso desafio é colaborar na qualificação de gestores públicos para o Estado do Paraná, melhorando o planejamento, a execução e a avaliação das políticas públicas. Bom Estudo! Prof.ª Drª Lenir Mainardes da Silva (coord.da residência) Prof.ª MS. Liza Holzmann (coord.de tutoria) Prof. Drª. Solange de Moraes Barros (coord.pedagógica) pRefáCIO Freitas, Aparecida do Rocio F866 Planejamento e gestão estratégica / Aparecida do Rocio Freitas ; Neuza Corte de Oliveira. Ponta Grossa : UEPG/NUTEAD, 2014. 87p. ; il. Curso de Especialização em Gestão Pública. Planejamento e Avaliação de Políticas Sociais. 1. Planejamento estratégico. 2. Gestão estratégica. 3. Gestão pública. I. Oliveira, Neuza Corte. II. T. CDD: 658.4 Ficha Catalográfica Elaborada pelo Setor Tratamento da Informação BICEN/UEPG SUMáRIO ■ PALAVRAS DO PROFESSOR 7 ■ OBJETIVOS E EMENTA 9 GeSTãO públICa 11 ■ SEÇÃO 1 - Bases do atual contexto da Gestão Pública brasileira 13 ■ SEÇÃO 2 - Princípios norteadores da Gestão Pública brasileira 22 ■ SEÇÃO 3 - Políticas Públicas 27 ■ SEÇÃO 4 - Modelo de Excelência em Gestão Pública 36 planejaMenTO eSTRaTÉGICO 45 ■ SEÇÃO 1 - Fundamentos do Planejamento Estratégico 47 ■ SEÇÃO 2 - Etapas do Planejamento Estratégico 51 ■ SEÇÃO 3 - Planejamento Estratégico e Participação 61 GeSTãO eSTRaTÉGICa 65 ■ SEÇÃO 1 - Fundamentos da Gestão Estratégica 67 ■ SEÇÃO 2 - O processo de Implantação da Estratégica e o Monitoramento 70 ■ SEÇÃO 3 - Mecanismos de controle e avaliação 72 ■ PALAVRAS FINAIS 81 ■ REFERêNCIAS 83 ■ NOTAS SOBRE AS AUTORAS 87 palavRaS DOS pROfeSSOReS A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do (s) respectivo (s) autor (es). O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia desta obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sanções previstas no Código Penal, artigo 184, Parágrafos 1º ao 3º, sem prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie. Prezado (a) estudante! A abordagem apresentada para esta disciplina não constitui um esgotamento do tema. Não é essa a intenção. Mas sim, provocar uma reflexão dos aspectos essenciais para a compreensão do Planejamento e Gestão Estratégica, nos níveis de governo – federal, estadual e municipal. Nesse sentido, as bases para o entendimento do tema deste livro foram lançadas na disciplina de Planejamento Estratégico Governamental, portanto, nesta etapa, o objetivo é ampliar o conhecimento referente ao Processo de Planejamento Estratégico, incluindo a Gestão Pública. Constitui-se, assim, o título desta disciplina Planejamento e Gestão Estratégica. Por meio do estudo desta disciplina, você vai compreender o processo evolutivo pelo qual a sociedade brasileira conquistou um Estado democrático que se configura entre burocrático e gerencial. Esse contexto, de caráter gerencial, guiada à gestão por resultados, propiciou a mudança cultural de orientação da gestão pública brasileira. Desse modo, busca-se através desta disciplina, que vocês assimilem os princípios, mecanismos e instrumentos operacionais de modernização da administração pública gerencial, entendendo o planejamento e gestão estratégica, fazendo uso dos mesmos para potencializar a gestão das organizações públicas. Bons estudos! Professora Aparecida e Professora Neuza ObjeTIvOS e eMenTa ObjetivOs • Contextualizar o Planejamento e Gestão Estratégica como parte do processo administrativo integrado às demais funções organizacionais e ao ambiente. • Fazer uma reflexão das bases do atual contexto e dos Princípios norteadores da Administração Pública brasileira. • Caracterizar as etapas do Processo de Planejamento Estratégico. • Apresentar os conceitos fundamentais da Gestão Estratégica e dos respectivos mecanismos de controle e avaliação. ementa Estudo do conjunto de ações fundamentais da Gestão Pública brasileira. Fundamentos do Planejamento Estratégico. Processo e planejamento da Gestão Estratégica. Gestão pública Aparecida do Rocio Freitas Neuza Corte de Oliveira Un id ad e IAo finalizar esta unidade você deverá ser capaz de: • Refletir sobre as bases do atual contexto da Gestão Pública brasileira. • Compreender os princípios norteadores da Gestão Pública brasileira. • Entenderos fundamentos das Políticas Públicas. • Descrever os elementos constitutivos de um Modelo de Excelência em Gestão Pública. • Conceituar gestão pública. ROteiRO De estUDOs ObjetivOs De estUDOs • SEÇÃO 1: Bases do atual contexto da Gestão Pública brasileira • SEÇÃO 2: Princípios norteadores da Gestão Pública brasileira • SEÇÃO 3: Políticas Públicas • SEÇÃO 4: Modelo de Excelência em Gestão Pública 12 unidade i 13 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a paRa InÍCIO De COnveRSa Para iniciar a Unidade I, primeiramente, você vai encontrar uma breve abordagem das bases do atual contexto da Gestão Pública brasileira, tendo como marco histórico a última Reforma Administrativa do Estado, período este, de surgimento do Modelo Gerencial. Em seguida, apresentam-se os princípios que regem a Administração Pública, os quais estão consubstanciados nas ideias centrais norteadoras das ações administrativas, previstos no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Com base na Constituição Federal, o Estado deve criar mecanismos que correspondam a direitos assegurados constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais, ou seja, as Políticas Públicas. Nesse sentido, identificar as necessidades dos cidadãos e criar mecanismos de controle, eficiência e transparência é, sem dúvida, um dos maiores desafios do setor público brasileiro, portanto, estritamente de natureza gerencial, o que faz buscar um modelo de excelência em gestão focado em resultados e orientado para o cidadão. Diante do cenário apresentado, apreende-se que a evolução da Gestão Pública acompanha as transformações ocorridas no papel do Estado e as alterações de objetivos do governo. Assim, Gestão Pública é um instrumento que o Estado dispõe para pôr em prática as opções políticas do governo. Onde, o objetivo da gestão pública é o bem comum da coletividade administrada. SeçãO 1 baSeS DO aTUal COnTeXTO Da GeSTãO públICa bRaSIleIRa O processo de evolução da Gestão Pública brasileira é marcado por transformações no papel do Estado e das mudanças de objetivos dos governos. Nesse sentido, delimitou-se a exposição desta seção, a partir da última reforma do Estado que é fundamentada no modelo gerencial. O que consiste o modelo gerencial? Diante de uma crise fiscal enfrentada pelo Estado, a proposta do modelo gerencial chegou à administração pública brasileira por meio da reforma administrativa de 1995, como uma alternativa para combater a crise fiscal e a exaustão financeira por meio da redução de gastos, ajuste fiscal e privatizações. Essa reforma propunha, também, superar a insatisfação advinda do modelo burocrático, que até então oferecia baixa qualidade na prestação de serviços públicos prestados aos cidadãos. (Fadul e Silva, 2008). Essa reforma se baseava em um conjunto de políticas reformistas que deveria atingir tanto a estrutura administrativa pública, enfatizando a adoção de práticas gerenciais, como setores da produção de bens para o mercado, com privatizações de empresas e serviços públicos. (Fadul e Silva, 2008). Empenhado, efetivamente, em mudar o modelo de administração pública brasileira, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE, 1997), para tratar de assuntos especificamente referentes a essa reforma. Para o então presidente da república, a administração pública gerencial é: baseada em conceitos atuais de administração e eficiência, voltada para o controle dos resultados e descentralizada para poder chegar ao cidadão, que, numa sociedade democrática, é quem dá legitimidade às instituições e que, portanto, se torna ‘cliente privilegiado’ dos serviços prestados pelo Estado. (BRASIL, 1995). uem Highlight uem Highlight uem Highlight uem Realce 14 unidade i 15 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a Desse modo, em 1995, teve início no Brasil a Reforma da Gestão Pública ou reforma gerencial do Estado, com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Estado e o envio para o Congresso Nacional da emenda da administração pública que se transformaria, em 1988, na Emenda 19, nos primeiros quatro anos do governo Fernando Henrique Cardoso, pelo ministro, Luiz Carlos Bresser Pereira, a qual foi executada ao nível federal. Quando ocorreu a extinção do MARE, a gestão passou para o Ministério do Planejamento e Gestão, ao mesmo tempo em que estados e municípios passavam também a fazer suas próprias reformas. (BRESSER PEREIRA apud BRASIL, 1995). Na busca por uma gestão voltada para o gerenciamento, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento que tomou tal iniciativa, desde então, a Reforma da Gestão Pública de 1995 vem avançando no país, principalmente nos estados e municípios. Como a reforma da gestão pública é historicamente a segunda reforma administrativa relevante do Estado moderno, mais cedo ou mais tarde pressupõe que acontecerá em todos os países, ou seja, não há como retroceder. Para Bresser-Pereira (apud BRASIL, 1995), o objetivo da Reforma da Gestão Pública de 1995 foi contribuir para a formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficiente, e compreendia três dimensões: 1ª - uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da estrutura organizacional do aparelho do Estado, por meio da criação de novos formatos organizacionais, como as agências executivas, regulatórias e as organizações sociais; 2ª - uma dimensão gestão, definida pela maior autonomia e a introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores - a administração por resultados, a competição administrada por excelência e o controle social - em substituição parcial dos regulamentos rígidos, da supervisão e da auditoria, que caracterizam a administração burocrática; e 3ª - uma dimensão cultural, de mudança de mentalidade, visando passar da desconfiança generalizada que caracteriza a administração burocrática para uma confiança maior, ainda que limitada, própria da administração gerencial. Nesse sentido, Bresser-Pereira (apud BRASIL, 1995), um dos princípios fundamentais da Reforma de 1995 é de que o Estado, embora conservando e se possível ampliando sua ação na área social, deveria executar diretamente as tarefas que são exclusivas de Estado, que envolviam o emprego do poder de Estado, ou que aplicassem os recursos do Estado. Entre essas tarefas exclusivas do Estado, aponta as tarefas centralizadas de formulação e controle das políticas públicas e da lei, a serem executadas por secretarias ou departamentos do Estado. Com relação às tarefas de execução, que deviam ser descentralizadas seriam repassadas para as agências executivas reguladoras autônomas. Todos os demais serviços que a sociedade decide prover com os recursos dos impostos não deveriam ser realizados no âmbito da organização do Estado, por servidores públicos, mas sim, ser contratados com terceiros. Tais como os serviços sociais e científicos, para os quais os respectivos mercados são particularmente imperfeitos, já que neles impera a assimetria de informações, portanto, deviam ser contratados com organizações públicas não-estatais de serviços, as ‘organizações sociais’, enquanto que os demais podiam ser contratados com empresas privadas. Assim teriam três formas gerenciais de controle: 1) controle social; 2) controle de resultados e 3) competiçãoadministrada. Nesse entender, devem ser aplicadas tanto às agências quanto às organizações sociais. Desse modo, pode-se dizer que a Reforma da Gestão Pública de 1995-98 não subestimou os elementos patrimonialistas e clientelistas ainda existentes em um Estado como o brasileiro, mas, ao invés de continuar se preocupando exclusivamente com eles, como fazia a reforma burocrática desde que foi iniciada nos anos 1930, avançou na direção de uma administração mais autônoma e mais responsabilizada perante a sociedade. Seu pressuposto é de que a melhor forma de lutar contra o clientelismo e outras formas de captura do Estado é dar um passo adiante e tornar o Estado mais eficiente e mais moderno. Qual é o objetivo da reforma do Estado? Conforme já mencionado, o objetivo da reforma é permitir que a administração pública torne-se mais eficiente e ofereça ao cidadão mais serviços, com maior qualidade. Ou seja, fazer mais e melhor com os recursos disponíveis. Nesse entendimento, a redução de custos será perseguida ao mesmo tempo em que se promove a contínua revisão e aperfeiçoamento das rotinas e processos de trabalho, simplificando procedimentos, desburocratizando e estabelecendo metas e indicadores uem Highlight uem Highlight uem Highlight uem Highlight uem Highlight uem Highlight uem Highlight Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 16 unidade i 17 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a de desempenho e de satisfação do cidadão. (BRESSER-PEREIRA apud BRASIL, 1995). De outro lado, a reforma do aparelho do Estado é fundamental para assegurar a estabilidade do Plano Real. O governo precisa coibir o desperdício e racionalizar o gasto público. Com a reforma, o governo quer impedir que os gastos aumentem, consumindo os recursos do Estado, sem que haja uma contrapartida de eficiência e qualidade nos serviços prestados. Porém, verifica-se que a atual Constituição impõe obstáculos de difícil remoção para a aplicação de políticas voltadas para a cobrança de desempenho do serviço público, como também para a racionalização das despesas. (BRESSER-PEREIRA apud BRASIL, 1995). Assim, a melhoria da eficiência exigirá também a descentralização dos serviços, aproximando-os da sociedade e do cidadão, retirando do Estado atividades que podem ser melhor executadas por entidades públicas apoiadas pelo Estado. Também é indispensável redefinir os mecanismos de controle convencionais, voltados para o controle de processos, burocratizado e ineficaz, redirecionando-os para a avaliação de resultados. Segundo MARE (1997), a implementação de Organizações Sociais foi uma estratégia central do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Cujo propósito, em termos mais genéricos era permitir e incentivar a publicização, ou seja, a produção não-lucrativa pela sociedade de bens ou serviços públicos não-exclusivos de Estado. Com efeito, a crescente absorção de atividades sociais pelo denominado terceiro setor (de serviços não-lucrativos) tem sido uma marca recorrente em processos de reforma do Estado nas democracias contemporâneas. Trata-se de um movimento que é portador de um novo modelo de administração pública, baseado no estabelecimento de alianças estratégicas entre Estado e sociedade, quer para atenuar disfunções operacionais daquele, quer para maximizar os resultados da ação social em geral. Assim, o propósito central do Projeto Organizações Sociais é proporcionar um marco institucional de transição de atividades estatais para o terceiro setor e, com isso, contribuir para o aprimoramento da gestão pública estatal e não-estatal. Nesse sentido, a reforma do Estado deve ser entendida dentro do contexto da redefinição do papel do Estado, que deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento. No plano econômico o Estado é essencialmente um instrumento de transferências de renda, que se torna necessário dada a existência de bens públicos e de economias externas, que limitam a capacidade de alocação de recursos do mercado. Para realizar essa função redistributiva ou realocadora, o Estado coleta impostos e os destina aos objetivos clássicos de garantia da ordem interna e da segurança externa, aos objetivos sociais e maior justiça ou igualdade, e aos objetivos econômicos de estabilização e desenvolvimento. (MARE, 1997). Outro processo que se insere no quadro mencionado anteriormente é o movimento em direção ao setor público não-estatal, no sentido de responsabilizar-se pela execução de serviços que não envolvem o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado, como é o caso dos serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica, o qual recebeu o nome de publicização. Desse modo, o Estado abandona o papel de executor ou prestador direto de serviços, mantendo-se, entretanto, no papel de regulador e provedor ou promotor destes, principalmente dos serviços sociais, como educação e saúde, que são essenciais para o desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano. Como promotor desses serviços, o Estado continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a participação da sociedade. Você sabe o que é publicização? Publicização é o movimento em direção ao setor público não- estatal, no sentido de responsabilizar pela execução de serviços que não envolvem o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado. Segundo MARE (1997), a estratégia da reforma do Estado se apóia na publicização dos serviços não-exclusivos do Estado, ou seja, na sua absorção por um setor público não-estatal, onde, uma vez fomentados pelo Estado, assumirão a forma de organizações sociais. Essa forma de parceria entre sociedade e Estado, além de viabilizar a ação pública com mais agilidade e maior alcance, torna mais fácil e direto o controle social, mediante a participação, nos conselhos de administração, dos diversos segmentos beneficiários envolvidos. Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 18 unidade i 19 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a As organizações nesse setor gozam de uma autonomia administrativa muito maior do que aquela possível dentro do aparelho do Estado. Em compensação, seus dirigentes são chamados a assumir uma responsabilidade maior, em conjunto com a sociedade, na gestão da instituição. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (MARE, 1997) distingue quatro setores estatais, em relação aos quais elabora diferentes diagnósticos e proposições, são eles: • Setor Estratégico, que corresponde aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público e ao Poder Executivo. Trata-se do governo, em sentido amplo, é nele que as leis e as políticas públicas são definidas e seu cumprimento é cobrado. É, portanto, o setor onde as decisões estratégicas são tomadas. • Setor de Atividades Exclusivas, no qual são prestados serviços que só o Estado pode realizar, ou seja, aqueles em que se exerce o poder de regulamentar, fiscalizar e fomentar. • Setor de Serviços Não-Exclusivos, onde o Estado atua simultaneamente com outras organizações públicas não- estatais e privadas. As instituições desse setor não possuem o poder de Estado,porém, o Estado se faz presente porque envolvem direitos humanos fundamentais, como educação saúde, ou porque possuem economias externas relevantes e não podem ser apropriados via do mercado, exemplos, as universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus. • Setor de Produção de Bens e Serviços para o Mercado, corresponde à área de atuação das empresas estatais do segmento produtivo ou do mercado financeiro, os quais são caracterizados pelas atividades econômicas voltadas para o lucro que ainda permanecem no aparelho do Estado, exemplo, as do setor de infra-estrutura. É importante mencionar que a diferença entre eles são as formas de propriedade, ainda que se considerem apenas duas, a propriedade estatal e a propriedade privada, além destas, em uma sociedade capitalista, existe uma terceira, a intermediária, a propriedade pública não-estatal, constituída por organizações sem fins lucrativos (OS) que não são propriedade de nenhum indivíduo ou grupo, voltadas diretamente para o atendimento do interesse público. O Núcleo Estratégico corresponde ao governo, em sentido lato, é onde se definem as leis e as políticas públicas, onde as decisões estratégicas são tomadas, e é também responsável por cobrar o seu cumprimento. Corresponde aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público e, no Poder Executivo, ao Presidente da República, aos ministros e aos seus auxiliares e assessores diretos, responsáveis pelo planejamento e formulação das políticas públicas. É ainda o centro onde se definem a lei e as políticas públicas e se garante o seu cumprimento. No Núcleo de Atividades Exclusivas, são prestados serviços que só o Estado pode realizar. Nesse setor é exercido o poder extroverso do Estado, que se materializa no poder de regulamentar, fiscalizar, fomentar, cobrar e fiscalizar tributos, no poder de polícia, na prestação de serviços previdenciários básicos, etc. Integram-no as forças armadas, a polícia, a agência arrecadadora de impostos e também as agências reguladoras, as agências de fomento de financiamento e controle dos serviços sociais e da seguridade social. São objetivos, relativamente aos serviços não-exclusivos: 1) transferir para o setor público não-estatal os serviços não-exclusivos que estejam sendo executados no âmbito estatal, por meio de um programa de publicização, possibilitando a absorção, por entidades qualificadas como organizações sociais. 2) Dar maior autonomia e flexibilidade, bem como, maior responsabilidade para os dirigentes desses serviços. 3) Focar no cidadão-usuário, como também, ter controle social direto desses serviços por parte da sociedade, por meio dos seus conselhos de administração. Fortalecer práticas de adoção de mecanismos que privilegiem a participação da sociedade, tanto na formulação, quanto na avaliação do desempenho da organização social, viabilizando o controle social e 4) alcançar maior parceria entre o Estado e a sociedade baseada em resultados. Destarte, o objetivo central da publicização dos serviços não- exclusivos do Estado é aumentar a eficiência e a qualidade dos serviços, atendendo melhor o cidadão-cliente com o menor custo. Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 20 unidade i 21 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a Qual a relação da publicização e as organizações sociais? As atividades estatais publicizáveis são aquelas não-exclusivas de Estado, correspondem aos setores onde o Estado atua simultaneamente com outras organizações privadas, tais como educação, saúde, cultura e proteção ambiental. Nesse entender, as Organizações Sociais (OS) são um modelo de organização pública não-estatal destinado a absorver atividades publicizáveis mediante qualificação específica. Trata-se de uma forma de propriedade pública não-estatal, constituída pelas associações civis sem fins lucrativos, que não são propriedade de nenhum indivíduo ou grupo e estão orientadas diretamente para o atendimento do interesse público. (OLAK e NASCIMENTO, 2008). Assim, pode-se dizer que as OS são um modelo de parceria entre o Estado e a sociedade. O Estado continuará a fomentar as atividades publicizadas e exercerá sobre elas um controle estratégico, o qual exigirá resultados necessários para atingir os objetivos das políticas públicas, portanto, o contrato de gestão é o instrumento que regulará as ações das OS. As Organizações Sociais não são negócio privado, mas instituições públicas que atuam fora da Administração Pública, para melhor se aproximarem das suas clientelas, aprimorando seus serviços e utilizando com mais responsabilidade e economicidade os recursos públicos. Para Azevedo (2014), a organização social (OS) é uma qualificação, um título, que a Administração outorga a uma entidade privada, sem fins lucrativos, para que ela possa receber determinados benefícios do Poder Público (dotações orçamentárias, isenções fiscais, etc.), para a realização de seus fins, que devem ser necessariamente de interesse da comunidade. Segundo o MARE (1997), as organizações sociais são um modelo de parceria entre o Estado e a sociedade. O Estado continua fomentando e controlando, estrategicamente, as atividades. Isso significa que o Estado estabelece metas e cobra resultados. A gestão de recursos, das Organizações Sociais, não está sujeita às normas que regulam a gestão de recursos humanos, orçamento e finanças, compras e contratos na Administração Pública, portanto, ganham agilidade e qualidade na seleção, contratação, manutenção e desligamento de funcionários, que, enquanto celetistas, estão sujeitos a plano de cargos e salários e regulamento próprio de cada OS, ao passo que as organizações estatais estão sujeitas às normas do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos, a concurso público, tabela salarial do setor público. Verifica-se também que nas Organizações Sociais a um expressivo ganho de agilidade e qualidade nas aquisições de bens e serviços, uma vez que o regulamento de compras e contratos não se sujeita ao disposto na Lei nº 8.666 e ao SIASG. Isso reflete, sobretudo, na conservação do patrimônio público cedido à OS ou patrimônio porventura adquirido com recursos próprios. Do ponto de vista da gestão orçamentária e financeira, as vantagens do modelo de organizações sociais são significativas: os recursos consignados no Orçamento Geral da União para execução do contrato de gestão com as Organizações Sociais constituem receita própria da Organização Social, cuja alocação e execução não se sujeitam aos ditames da execução orçamentária, financeira e contábil governamentais operados no âmbito do SIAFI e sua legislação pertinente; sujeitam-se a regulamento e processos próprios. Em relação à gestão organizacional, em geral, a vantagem evidente do modelo Organizações Sociais é o estabelecimento de mecanismos de controle finalísticos, ao invés de meramente processualísticos, como no caso da Administração Pública. A avaliação da gestão de uma Organização Social dar-se-á mediante a avaliação do cumprimento das metas estabelecidas no contrato de gestão,ao passo que nas entidades estatais o que predomina é o controle dos meios, sujeitos a auditorias e inspeções das CISETs e do TCU. Em síntese, percebe-se que visando a melhoria da gestão pública, a reforma do Estado fundamentada no modelo gerencial define suas funções como exclusivas e não-exclusivas, ou seja, na primeira, a execução das atividades é de responsabilidade do Estado e, na segunda, há parceria do Estado com a iniciativa privada para a execução das atividades. Nesse contexto, surge a publicização visando aumentar a eficiência na execução das atividades através da parceria entre o Estado e a sociedade. Assim, o Estado cobra os resultados. Esse modelo de gestão segue os princípios norteadores da Gestão Pública brasileira estabelecidos pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Evidencia-se pela finalidade que é proporcionar serviços excelentes de utilidade pública. Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 22 unidade i 23 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a SeçãO 2 pRInCÍpIOS nORTeaDOReS Da GeSTãO públICa bRaSIleIRa Os princípios que norteiam a Gestão Pública estão estabelecidos no art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, conforme segue: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Conforme se pode observar na figura 1, estes princípios têm como foco o usuário e, constituem o Modelo de Excelência da Gestão Pública para o Ministério do Planejamento. Fonte: BRASIL (2014). Como se caracteriza cada um desses princípios? Os princípios que norteiam a Gestão Pública são assim caracterizados: Legalidade. O administrador público no cumprimento das suas atividades funcionais deve zelar pela observância da lei, devendo todos os seus atos serem fundamentados na legalidade, ou seja, só poderá desempenhar suas funções dentro do limite que a lei assim o permitir. A legalidade significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. Dessa forma, pode-se afirmar que, o princípio da legalidade tem atuação sobre o agente público para que ele haja de forma lícita; assim, enquanto no Direito Civil é permitido ao indivíduo praticar quaisquer atos não proibidos por lei, conforme o princípio da autonomia da vontade, no Direito Administrativo, seus sujeitos só podem praticar aquilo que a lei permite expressamente. Isso significa que a administração direta e indireta só atuará por força de norma autorizadora. (FERRACINI, 1999, p.43). Portanto, nenhum resultado poderá ser considerado bom, nenhuma gestão poderá ser reconhecida como de excelência à revelia da lei. Impessoalidade. Todos os atos do administrador público devem ser dirigidos com a finalidade única de promover o bem comum, sendo inadmissível a ele, usar a administração pública para, através desta, obter vantagem própria ou favorecer terceiros. A finalidade de toda e qualquer atividade administrativa deve ser sempre o de promover o interesse coletivo e o direito. A cortesia, a rapidez no atendimento, a confiabilidade e o conforto são valores de um serviço público de qualidade e devem ser agregados a todos os usuários indistintamente. Daí a importância das regras constitucionais que obrigam a administração pública a realizar concursos públicos para o preenchimento de cargos ou empregos públicos e a abrir licitações públicas antes da contratação de obras, serviços e compras. (DI PIETRO; 2005 p. 71). Portanto, todos os usuários de organização pública são preferenciais, são pessoas muito importantes. Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 24 unidade i 25 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a Moralidade. O Princípio da moralidade impõe ao administrador público uma conduta de acordo com padrões éticos de probidade, decoro e boa fé. Essa conduta é de suma importância para a validade dos atos administrativos. Nesse sentido, está diretamente relacionado ao conceito de bom gestor, aquele que objetiva o melhor e mais útil para o interesse público. Segundo Meirelles (2005, p.88), cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto não é o mesmo que a atender na sua letra e no seu espírito. Além de atender à legalidade, o ato do administrador público deve conformar-se com a moralidade e a finalidade administrativas para dar plena legitimidade à sua atuação. Administração legítima só é aquela que se reveste de legalidade e probidade administrativa, no sentido de que tanto atende as exigências da lei como se conforma com os preceitos da instituição pública. Publicidade. Pelo princípio da publicidade, o comportamento da Administração Pública deverá ser pautado pela transparência, não se admitindo o ocultamento dos assuntos de interesse dos administrados, preservando-se, contudo, assuntos sigilosos nos casos de segurança nacional, particulares, íntimos, resguardados pela Constituição Federal. Este princípio torna obrigatória a divulgação de atos, contratos e outros instrumentos celebrados pela administração pública direta e indireta para conhecimento, controle e início de seus efeitos. O instrumento oficial é o jornal, público ou privado. Geralmente, são utilizados Diários Oficiais. O princípio da publicidade também se liga à obrigatoriedade da gestão democrática do Estado. Se a administração pública não administra para si, mas para os cidadãos, detentores primeiros da soberania popular, a ela se impõe que torne público todos os seus atos dando conta das razões de seu agir. (MOTTA, 2002, p. 30). Eficiência. O Administrador público no exercício de suas funções, deverá também observar o princípio da eficiência, segundo o qual, consiste em promover a consecução hábil e útil dos resultados almejados no atendimento ao interesse público, ou seja, buscar a melhor relação entre qualidade do serviço e a qualidade do gasto. Esses princípios estão materializados em idéias centrais norteadoras das ações administrativas, através dos quais, são estabelecidas as diretrizes que devem ser observadas pelo gestor público no exercício de suas funções, não podendo delas se desviar mesmo que esses artifícios objetivem alcançar o fim social. Portanto, o gestor que desrespeitar tais princípios, incide nos crimes previstos em lei de improbidade e responsabilidade administrativa. A doutrina jurídica brasileira define cinco gêneros de improbidade: improbidade trabalhista, improbidade disciplinar, improbidade penal, improbidade civil e improbidade político-administrativa. (COSTA, 2006). Para o objetivo deste trabalho, interessa-nos a improbidade político- administrativa, ou, simplesmente, improbidade administrativa. Em que consiste a improbidade administrativa? Genericamente, improbidade administrativa é o ato que violenta a moralidade pública. No entendimento de Pazzaglini Filho; Rosa e Fazzio Jr. (1999, p. 143), a improbidade é mais que mera atuação desconforme com singela e fria letra da lei. É a conduta denotativa de subversãodas finalidades administrativas, seja pelo uso nocivo (ilegal e imoral) do Poder Público, seja pela omissão indevida de atuação funcional, seja pela inobservância dolosa ou culposa das normas legais. Decorre tanto da desonestidade e da deslealdade quanto da inidoneidade ou da incompetência do agente público no desempenho de suas atividades funcionais. Martins Júnior (2001, p. 113) vai além, afirmando que: Improbidade administrativa, em linhas gerais, significa servir-se da função pública para angariar ou distribuir, em proveito pessoal ou para outrem, vantagem ilegal ou imoral, de qualquer natureza, e por qualquer modo, com violação aos princípios e regras presidentes das atividades na Administração Pública, menosprezando os valores do cargo e a relevância dos bens, direitos, interesses e valores confiados à sua guarda, inclusive por omissão, com ou sem prejuízo patrimonial. A partir desse comportamento, desejado ou fruto de incúria, desprezo, falta de precaução ou cuidado, revelam-se a nulidade do ato por infringência aos princípios e regras, explícitos ou implícitos, de boa administração e o desvio ético do agente público e do beneficiário ou partícipe, demonstrando a inabilitação moral do primeiro para o exercício de função pública. Contudo, foi na Constituição Federal de 1988 – reflexo do fim do regime militar e dos movimentos sociais então substantivados – que os temas probidade e moralidade administrativa alcançaram maior destaque. Em seu art. 14, prevê as uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce 26 unidade i 27 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a hipóteses de inexigibilidade, e, em seu § 9º, dispôs que Lei complementar estabeleceria outros casos, a fim de proteger, entre outros, a probidade administrativa e a moralidade para exercício de mandato, considerada a vida pregressa do candidato; em seu art. 15, prevê a perda ou suspensão dos direitos políticos em casos de improbidade administrativa; tipifica a improbidade na administração como crime de responsabilidade do Presidente da República (art. 85, inciso V), e como corolário, eleva a moralidade administrativa ao status de princípio da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União (art. 37, caput). Embora com linguagem distinta, mas dentro dessa mesma ordem de ideias, o art. 55, § 1º, estabelece que perca o mandato o Deputado ou Senador cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar, definindo como uma de suas hipóteses a percepção de vantagens indevidas. Além disso, visando à tutela da probidade e da moralidade, a Constituição Federal de 1988 estabelece uma cadeia de dispositivos centrada no art. 37, § 4º – que define as sanções aplicáveis em caso de improbidade administrativa, a saber, suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário – e apoiada não apenas na instituição do Ministério Público (art. 127, caput), mas também por dispositivos na esfera política (o já mencionado art. 14, § 9º, e o art. 17, II e III), parlamentar (art. 54), de controle da administração – as Comissões Parlamentares de Inquérito e os tribunais de contas (respectivamente, art. 54, 70 e seguintes), legitimando também o cidadão a ajuizar ação popular com o objetivo de anular ato lesivo à moralidade administrativa (art. 5º, inciso LXXIII). Ferreira Filho (1991) enumera ainda outros dispositivos constitucionais instituídos com o objetivo de conter o fenômeno da corrupção: art. 70, parágrafo único, que determina prestação de contas por qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária; art. 37, inciso XXI, segundo o qual as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública. As bases plantadas na Constituição Federal foram consolidadas com a edição da Lei nº. 8.429, de 03.06.1992, mais conhecida por “Lei da Improbidade Administrativa”. Vale ressaltar também dois outros normativos editados visando a garantir a probidade e a moralidade na administração – esses, porém, em face do que dispõe o art. 5º, inciso II, da Constituição Federal, sem caráter coercitivo. O primeiro é o Decreto nº. 1.171/1994 (Código de Ética do Servidor Público Civil Federal), que estabeleceu os valores, vedações e proibições passíveis de observação por servidores públicos. Outro é o Código de Conduta da Alta Administração, aprovado em 2000, por ato do Presidente da República, estabelecendo regras básicas para evitar o conflito de interesses públicos e privados, bem como limitações às atividades profissionais posteriores ao exercício de cargo público. Trata-se de um código de adesão, cuja aceitação constitui pré-requisito à assunção de cargos públicos. Visando assegurar o cumprimento desses princípios e, proporcionar condições para o alcance dos resultados estabelecidos na lei, ou seja, o bem estar social, o Estado desenvolve políticas públicas. SeçãO 3 pOlÍTICaS públICaS Qual o conceito de Políticas Públicas? Para responder essa questão, primeiramente, é necessário contextualizar o surgimento das políticas públicas. A política pública surgiu como um subcampo significativo dentro da disciplina de Ciência Política entre os anos 1960 e 1970, afirma Sabatier (1995), que complementa informando que Daniel Lerner e Harold Lasswell são apontados por estudiosos como pioneiros em trabalhos sobre ela. Souza (2006) considera que a área de políticas públicas contou com quatro grandes “pais” fundadores: além de Laswell, Simon, Lindblom e Easton. A função que o Estado desempenha na sociedade brasileira sofreu inúmeras transformações ao passar do tempo. No século XVIII e XIX, seu principal objetivo era a segurança pública e a defesa externa em caso uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce 28 unidade i 29 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a de ataque inimigo. Entretanto, com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram. Nos dias atuais, é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem estar da sociedade. Para promover esse bem estar, o Estado desenvolve políticas públicas, as quais são entendidas como um conjunto de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico. Nesse entendimento, as políticas públicas correspondem a direitos assegurados constitucionalmente ou que se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos enquanto novos direitos das pessoas, comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais. Como exemplo de políticas públicas, menciona- se a educação e a saúde, os quais são direitos universais de todos os brasileiros. Para assegurar e promover estão instituídas pela própria Constituição Federal, por meio das políticas públicas de educação e saúde. O meio ambiente é também reconhecido como um direito de todos e a ele corresponde a Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela LeiFederal n.º 6.938. A água é concebida na Carta da República como bem de uso comum. Para proteger este bem e regulamentar seu uso múltiplo foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídrico mediante a Lei Federal nº 9.433. Com esse entendimento, verifica-se então que as políticas públicas podem ser formuladas principalmente por iniciativa dos poderes executivo, ou legislativo, separada ou conjuntamente, a partir de demandas e propostas da sociedade, em seus diversos seguimentos. Em razão disso, a participação da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas em alguns casos é assegurada na própria lei que as institui. Assim, no caso da Educação e da Saúde, a sociedade participa ativamente mediante os Conselhos em nível municipal, estadual e nacional. Audiências públicas, encontros e conferências setoriais são também instrumentos que vêm se afirmando nos últimos anos como forma de envolver os diversos seguimentos da sociedade em processo de participação e controle social. A Lei Complementar n.º 131 (Lei da Transparência), de 27 de maio de 2009, quanto à participação da sociedade, assim determina: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; De acordo com esta Lei, todos os poderes públicos em todas as esferas e níveis da administração pública, estão obrigados a assegurar a participação popular, portanto, não é mais uma preferência política do gestor, mas uma obrigação do Estado e um direito da população. As políticas públicas normalmente estão constituídas por instrumentos de planejamento, execução, monitoramento e avaliação, encadeados de forma integrada e lógica, da seguinte forma: 1. Planos 2. Programas 3. Ações 4. Atividades. Os planos estabelecem diretrizes, prioridades e objetivos gerais a serem alcançados em períodos relativamente longos. Por exemplo, os planos decenais de educação tem o sentido de estabelecer objetivos e metas estratégicas a serem alcançados pelos governos e pela sociedade ao longo de dez anos. Os programas estabelecem, por sua vez, objetivos gerais e específicos focados em determinado tema, público, conjunto institucional ou área geográfica, o Programa Nacional de Formação de Administradores Públicos (PNAP) é um exemplo temático e de público. Ações visam o alcance de determinado objetivo estabelecido pelo Programa, e a atividade, por sua vez, visa dar concretude à ação. Howlett; Ramesh e Perl (2013, p.13) mencionam que estudos de Lasswell (1971) dividiu o processo da política pública em sete estágios, os quais, em sua visão descreviam não só como as políticas eram criadas, mas como deveriam ser geradas, ou produzidas: 1) informação; 2) promoção; 3) prescrição; 4) inovação; 50 aplicação; 6) término e 7) avaliação. Em seu constructo tal processo começa com a coleta de informações, o uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce 30 unidade i 31 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a processamento e a disseminação de informações pelos policy-makers. Em seguida, ele avança para a promoção de opções particulares pelos envolvidos na tomada da decisão política. No terceiro estágio, os tomadores de decisão prescrevem um curso de ação. No quarto, o curso de ação prescrito é invocado juntamente com um conjunto de sanções para penalizar aqueles que não cumprem essas prescrições. A política é então aplicada pelas cortes e pela burocracia e corre seu curso até chegar a seu término ou ser encerrada. Finalmente, os resultados políticos (policy results) são apreciados ou avaliados contra seus alvos e objetivos originais. Na figura 2 se pode observar, sinteticamente, a relação entre os estágios no ciclo da política pública e os principais atores envolvidos. Desse modo, verifica-se que para elaborar políticas públicas, isto é, para o processo de decisão à formulação e ao desenvolvimento de políticas, em especial nas fases de formulação e implementação, envolvem várias fases do ciclo de vida de uma política. Assinalando as condições necessárias para que os princípios, os objetivos e as metas de uma ação pública se tornem realidade. Trata-se de um esforço para explicar a difícil interação de intenções, construídas na fase de formulação de políticas, e ações, presentes na fase de implementação, isto é, o processo contínuo de reflexão para dentro e ação para fora, tão comum na rotina pública (VIANA, 1996). Para esse autor anteriormente citado, no desenvolvimento dos estágios no ciclo da política pública podem ocorrer variáveis que interfiram nesse processo, tais quais: o meio social e político; os autores participantes; as agências implementadoras e as políticas. O que constitui cada estágio no ciclo da política pública? Na Construção da agenda, entre os autores que a discutiram, Viana (1996, p.7) apresenta o ponto de partida de John W. Kindgdon (1984) que é a separação das fases das políticas em: elaboração da agenda; especificação de alternativas; escolha de uma alternativa (pelo presidente, Legislativo ou autoridade competente); e implementação da decisão. Segundo John, a primeira indagação a ser feita é por que alguns problemas e assuntos são colocados na agenda e outros não; por que certas alternativas são escolhidas e outras não. Dessa forma, a agenda é definida como o espaço de constituição da lista de problemas ou assuntos que chamam a atenção do governo e dos cidadãos. Kindgdon (1984) diferencia três tipos de agenda: sistêmica ou não- governamental, governamental e de decisão. A primeira contém a lista de assuntos que são, há anos, preocupação do país, considerada importante, porém, não relevante para o governo; a segunda inclui os problemas que merecem atenção especial do governo; a última, a lista dos problemas a serem decididos. O autor também afirma que um assunto pode sair da agenda sistêmica para a governamental quando há eventos dramáticos ou crises (seca ou enchentes, dentre outras), influência de um quadro de indicadores ou acumulação de informações e experiências, ou seja, a atenção governamental estaria em função desses três acontecimentos. Com relação a Formulação de políticas, Viana (1996, p.13) comenta que o processo de formulação de políticas pode ser visto como um diálogo entre intenções e ações, isto é, um processo contínuo de reflexão para dentro e ação para fora. Ressalta que as fases de elaboração do projeto (ou formulação) e implementação constituem os dois momentos importantes na formação das políticas, sendo fruto de diferentes processos e com diferentes funções sociais. Para a autora, as duas fases são distintas, a implementação caracteriza-se por mostrar resultados que servem de uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce 32 unidade i 33 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a ensinamentos para os formuladores. Nesse sentido, a clássica dicotomia entre administração e política pode ser vista, hoje, segundo essa separação, entre as fases de formulação e de implementação, poisaquela ocorre em um espaço político de trocas e indeterminações, conflitos e poder, enquanto esta se define em um espaço administrativo, concebido como um processo racionalizado de procedimentos e rotinas. Na fase de implementação de políticas, segundo Viana (1996, p.17), no processo de implementação, a quantidade de mudanças envolvidas influência, entre os participantes, os graus de consenso ou conflito em torno das metas e dos objetivos: quanto menor a quantidade de mudança, maior é o consenso obtido e vice-versa. O bom entrosamento entre formuladores e implementadores, e o conhecimento destes sobre as atividades pertinentes a cada fase e sobre o projeto são fundamentais para o êxito da política. Para Viana (1996, p.18), a execução de atividades depende da clareza com que as metas e objetivos são fixados e da consistência com que são comunicados, além da relação entre atividades que envolvem auxílios técnicos e de informação, como também, da escolha do tipo de controle (coercitivo, remunerativo ou normativo) e de acordo com o tipo de organização. Destaca ainda, as condições políticas, econômicas e sociais que dependem dos recursos econômicos disponíveis; do reflexo das condições econômicas e sociais; da opinião pública; da posição das elites; dos partidos de oposição; e da posição dos grupos privados não-institucionais. Em se tratando da avaliação da política pública, Franco e Cohen (1988) apud Viana (1996, p.29), expõem que as análises de políticas públicas podem ser de quatro tipos: investigação, investigação avaliativa, avaliação e monitoramento. Estes se diferenciam pelo momento em que são realizados (antes, durante ou depois da política); pelo objeto do estudo; pelos objetivos do estudo; pelas técnicas que empregam; e pela relação que estabelecem com a política. O quadro 1 estabelece as diferenças entre os tipos de estudo segundo os critérios mencionados. Para Viana (1996), há uma adequação entre os tipos de estudo e as fases das políticas. Assim, a fase de construção de agenda propicia estudos de processo decisório; a fase de formulação, de processo decisório e de custo-benefício e custo-efetividade; a fase de implementação, de processo decisório e de avaliação do processo de implementação (a chamada avaliação de processo); e a fase de avaliação, estudos avaliativos. Os estudos de avaliação, expõe Viana (1996, p.30), por sua vez, são de tipo específico, compreendendo a investigação avaliativa e a avaliação propriamente dita. Esta última pode abarcar dois tipos de estudo: a avaliação de processo e a de impacto. A avaliação de processo estuda a fase de implementação de determinada política. A avaliação de impacto estuda o efeito dos resultados de uma política. Ambas são avaliações ex post — ocorrendo durante e depois da fase de implementação. Enquanto que ex ante compreende o cálculo do custo-benefício e do custo- efetividade de uma política. Menciona que para visualizar os estudos de avaliação, deve-se partir de uma configuração que postule que toda política é composta de ações que ocorrem entre uma situação atual e Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce uem Realce uem Realce 34 unidade i 35 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a uma nova, da seguinte forma: situação atual; política/programa/projeto; situação nova. Nesse entender, a situação atual é retratada por diagnósticos que têm por finalidade descrever, explicar e projetar uma determinada realidade. Assim, para Viana (1996, p.30), o ciclo da política compreende: ideia — diagnóstico — projeto — avaliação ex ante — correção — implementação — avaliação de processo — correção — conclusão do projeto — avaliação ex post ou de impacto. A avaliação ex ante são o custo-benefício e o custo-efetividade (VIANA, 1996). Sendo que o custo-benefício é uma relação monetária entre os custos e os benefícios de uma política. Se os benefícios excederem o custo, a política é aceitável. Segundo a autora, para estabelecer uma relação de comparação, calcula-se o valor do custo-benefício de uma realidade com e sem política pública. Como os custos são efetuados antes e os benefícios aparecem depois, devem-se atualizar os valores pelo cálculo do valor atual líquido dos benefícios sobre o valor atual líquido dos custos. O uso do custo-benefício é mais adequado aos projetos econômicos, pois seus benefícios são mais facilmente qualificáveis. A figura 3 demonstra os aspectos envolvidos na análise custo-benefício. Quanto ao custo-efetividade, por sua vez, não requer uma relação monetária, sendo, por isso, mais utilizado em projetos sociais. Ele pode ser assim definido: dado um montante limitado de recursos, estes devem ser aplicados de forma tal que permitam um maior número de unidades de resultados ou benefícios, qualquer que seja o valor da unidade de resultado, dado pela seguinte fórmula. Custo por unidade custo total de resultados = ______________________________ Ressalta-se que para avaliar uma política necessariamente devem ser efetuadas as duas análises, ou seja, a análise custo-benefício e a análise custo-efetividade. Uma não exclui a outra. Pois, o diagnóstico do real impacto de uma política se dá pelo balizamento entre os dois tipos de análises. As avaliações ex post podem ser de processos ou de impacto. Viana (1996) menciona que elas se distinguem pela natureza, modelo de avaliação, tamanho, métodos e lógica da avaliação. Na avaliação de processo é diferente da avaliação de impacto pelo objeto e objetivo do estudo. Seu objeto é a aferição da adequação entre meios e fins, considerando no contexto em que a política está sendo implementada, os aspectos organizacionais e institucionais, social, econômico e político. Enquanto o objetivo do estudo é permitir a correção do modelo de causalidade e, consequentemente, da implantação, visando reorientá-la em função dos objetivos propostos. Assim, pode-se escolher racionalmente entre alternativas que aumentem a eficiência das políticas. Como consequência, em razão dos escalões envolvidos na política: para os superiores, a avaliação permite uma alocação melhor dos recursos; para os administradores, a otimização da relação insumo/produto; e para os técnicos, maior conhecimento dos aspectos operativos que envolvem a política. (VIANA, 1996). A avaliação de impacto tem como objetivo medir os resultados dos efeitos de uma política. Exemplo, no caso de um produto como radiografia, que tem por efeito um diagnóstico, a avaliação de impacto mede, nesse nº de benefícios x proporção dos beneficiários que pertencem ao grupo focal Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce uem Realce 36 unidade i 37 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a caso, se houve a cura ou não da pessoa submetida a essa radiografia. Percebe-se, então, que a avaliação de impacto tem como objetivo determinar se houve modificação; a magnitude dessa modificação; quais segmentos afetou e em que medida; e quais foram as contribuições dos distintos componentes da política na realização de seus objetivos. (VIANA, 1996). O desenvolvimentodas políticas públicas proporciona condições ao Estado para exercer sua função que é promover o bem estar da sociedade. Nesse sentido, é necessário que a gestão pública seja pautada por um modelo de excelência. Você sabe quais são os elementos constitutivos de um Modelo de Excelência em Gestão Pública? SeçãO 4 MODelO De eXCelênCIa eM GeSTãO públICa Antes de conceituar gestão pública, considera-se necessário contextualizar e apresentar os elementos constitutivos do Modelo de excelência, que assegura o cumprimento dos princípios norteadores da gestão pública. Segundo o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (1997), a partir de meados do século XX, a grande aceleração das relações sociais e econômicas inviabilizou a continuidade de uma administração pública essencialmente burocrática. O modelo burocrático, na sua concepção, é dominado pelo determinismo e pela linearidade, em consequência disso, é um modelo mais adaptado a um ambiente relativamente estável, de poucas transformações e mudanças razoavelmente previsíveis. O mundo globalizado, de mudanças constantes e imprevisíveis, bem como os avanços tecnológicos, impôs barreiras ao modelo burocrático. Assim, a gestão pública passou a exigir maior agilidade, descentralização, e controle de resultados. (MARE,1997). Diante dessas mudanças surge então a necessidade de uma administração pública gerencial, a sociedade clama por moralidade, profissionalismo e excelência da administração pública, como também por melhor qualidade de vida e redução das desigualdades sociais. O cidadão gradualmente vem deixando de ser sujeito passivo e exige melhores serviços, mais transparência, honestidade, economicidade e efetividade no uso dos recursos públicos. Nesse aspecto, a busca pelo aperfeiçoamento e pela profissionalização da administração pública assume papel fundamental na medida em que procura minimizar o desempenho do Estado brasileiro, aproximando-o dos anseios da sociedade. Verifica-se então que o papel fundamental atribuído às organizações públicas no atual contexto é a de ampliar, de forma sistêmica e integrada as oportunidades dos cidadãos. O Estado tem o dever de estimular o desenvolvimento e a incorporação de novas tecnologias e inovações no setor público para que sejam criadas as condições necessárias ao atendimento crescente das demandas sociais. Para cumprir bem sua função, a administração pública – órgãos e entidades – deve possuir os recursos adequados e o capital humano necessário, de modo a atuar com eficiência, eficácia e efetividade em benefício da sociedade. Assim, faz-se necessário a mudança do paradigma essencialmente burocrático para um gerencial focado em resultados. Você lembra o que consiste o Modelo Gerencial? No começo desta unidade está exposto sobre esse modelo, mas, vale ressaltar alguns aspectos. O Modelo Gerencial surgiu como estratégia para reduzir custos e tornar mais eficiente a administração dos recursos sob a responsabilidade do Estado, tendo como foco os resultados e o atendimento das necessidades e interesses do cidadão. Para tanto, são empregados diversas ferramentas gerenciais, entre elas a mudança na postura estratégica das organizações públicas. Silmara Shigueta Realce uem Realce 38 unidade i 39 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a Nesse entendimento, os servidores devem estar alinhados com a organização e com as estratégias traçadas, implementar práticas que assegurem a utilização do capital intelectual de forma alinhada com a missão, objetivos estratégicos, valores organizacionais e metas da instituição, visando à maximização dos resultados e a coerência com os princípios que devem nortear as ações do setor público, são iniciativas necessárias e indispensáveis ao desenvolvimento de uma cultura orientada a resultados. Ferreira (2009) comenta que um dos maiores desafios do setor público brasileiro, de natureza gerencial, fez com que se buscasse um modelo de excelência em gestão focado em resultados e orientado para o cidadão. Esse modelo tem por objetivo guiar as organizações públicas em busca de transformação gerencial rumo à excelência e, ao mesmo tempo, permitir avaliações comparativas de desempenho entre organizações públicas brasileiras e estrangeiras. O que consiste o Modelo de Excelência da Gestão Pública? O modelo de excelência é a representação de um sistema de gestão que visa aumentar a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações executadas. É constituído por elementos integrados, que orientam a adoção de práticas de excelência em gestão com a finalidade de levar as organizações públicas brasileiras a padrões elevados de desempenho e de qualidade. O modelo foi concebido a partir da premissa de que a administração pública tem de ser excelente sem deixar de considerar as peculiaridades inerentes à sua natureza. (FERREIRA, 2009). Na figura 4 se pode evidenciar o ciclo da gestão pública enquanto parte do Modelo de Excelência da Gestão Pública para o Ministério do Planejamento. Para Ferreira (2009), a adoção de um modelo específico para a gestão pública tem como propósito considerar os princípios, os conceitos e a linguagem que caracterizam a natureza pública das organizações e que impactam na sua gestão, e inerentes à natureza das instituições públicas, que diferenciam das organizações da iniciativa privada, sem prejuízo do entendimento de que devem ser excelentes e eficientes. Esse mesmo autor salienta que, embora inspirada na iniciativa privada, o modelo gerencial deve impreterivelmente se adequar ao contexto político democrático no qual está inserido o setor público. A especificidade da organização governamental deriva, em primeiro lugar, da motivação que se guia: enquanto as empresas buscam o lucro, os gestores públicos devem atuar conforme o interesse público. É bem verdade que os políticos também se orientam pelo desejo de reeleição e que os burocratas podem ser capturados pelos interesses econômicos. Mas é a necessidade de se ter o crivo democrático que torna a ação de políticos e burocratas passível de controle público. Controle este, Silmara Shigueta Realce Silmara Shigueta Realce uem Realce uem Realce uem Realce 40 unidade i 41 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a presente nos arranjos da democracia representativa, nos mecanismos da democracia direta ou, recentemente, na participação dos cidadãos na avaliação e na gestão de políticas públicas, formas típicas do modelo gerencial. Esse tipo de controle democrático não encontra similar nas organizações privadas. Finalizando esta unidade, a partir dos fundamentos apresentados envolvendo a Gestão Pública, você terá a oportunidade de estudar a sua definição. O que é gestão pública? A Gestão Pública compreende todo e qualquer processo gerencial que tem por finalidade a execução de ações e políticas públicas assumidas, direta ou indiretamente, por um ente estatal. Portanto, Gestão Pública é a administração de organizações do setor público e abrange os processos de planejamento (formulação de objetivos e planos), de organização (educar e fazer / execução), de direção (coordenação e comando) e de controle (monitoramento, medição do desempenho, correção e melhoria) das ações governamentais, conforme apresentado na Figura 4. Na visão de Ferreira (apud SANTOS, 2006), a gestão pública está relacionada ao desempenho das funções de gerência pública dos negócios do governo. Diferenciando a gestão da administração públicapor ser a gestão associada a um período de tempo determinado – o mandato, enquanto que, a administração é exercida por tempo indeterminado. Ressalta-se que a Gestão Pública deve cumprir o que está estritamente estabelecido na lei, consequentemente, está subordinada à lei, todas as etapas do processo administrativo na esfera pública no qual, o planejamento e a gestão estratégica se inserem. O objetivo da gestão pública é o bem comum da coletividade administrado. Portanto, o processo de planejamento e gestão estratégica deve estar voltado à consecução desse objetivo. A partir dos fundamentos contextuais apresentados nesta unidade, você conseguiu compreender a abrangência do conceito de Gestão Pública? Então, busque refletir sobre o inter-relacionamento entre os assuntos abordados nas seções desta primeira unidade, visando formar o contexto em que o processo de planejamento e a gestão estratégica se inserem. Para sedimentar o conhecimento apreendido, faça as atividades no final da unidade e, após, busque debater sobre seus comentários. Nesta primeira unidade você foi conduzido a entender o conceito de gestão pública a partir do estudo: das bases do atual contexto da Gestão Pública brasileira, que compreende o Modelo Gerencial e, surgiu como estratégia para reduzir custos e tornar mais eficiente a administração dos recursos sob a responsabilidade do Estado, cujo foco é nos resultados; dos princípios norteadores da Gestão Pública brasileira que se constituem em legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, estão previstos no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e consubstanciam em ideias centrais norteadoras das ações administrativas, assim, o gestor não pode delas se desviar, sob pena prevista em lei de improbidade e responsabilidade administrativa aquele que desrespeitar; das Políticas Públicas que compreendem um conjunto de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado e visam assegurar determinado direito de cidadania; do Modelo de Excelência em Gestão Pública que consiste na representação de um sistema de gestão e visa aumentar a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações executadas, pois, é focado em resultados e orientado para o cidadão. Para finalizar esta unidade, você apreendeu que a gestão pública está relacionada ao desempenho das funções de gerência pública dos negócios do governo e associada a um período de tempo determinado – o mandato. Depreende-se desse entendimento que, a gestão pública desenvolve processos gerenciais compreendendo desde o planejamento até o controle das ações governamentais, nas esferas federal, estadual e municipal. uem Realce uem Realce uem Realce 42 unidade i 43 unidade i P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a 1. Disserte sobre as principais transformações propostas pelo modelo gerencial para a gestão pública brasileira. Descreva quais das transformações propostas você evidencia efetivamente implantadas. 2. Descreva e exemplifique os princípios norteadores da eficiência na Gestão Pública. 3. De que forma a sociedade pode intervir no planejamento e execução do Orçamento das Políticas Públicas? 4. Existe relação entre as Políticas Públicas e o processo de Planejamento e Gestão Estratégica? Justifique sua resposta. 5. Quais são os fundamentos da excelência em gestão pública? planejamento estratégico Aparecida do Rocio Freitas Neuza Corte de Oliveira Un id ad e IIAo finalizar esta unidade, você deverá ser capaz de: • Compreender os fundamentos do Planejamento Estratégico. • Descrever as etapas do Planejamento Estratégico. • Evidenciar a importância da participação na construção do Planejamento Estratégico. ROteiRO De estUDOs ObjetivOs De estUDOs • SEÇÃO 1: Fundamentos do Planejamento Estratégico • SEÇÃO 2: Etapas do Planejamento Estratégico • SEÇÃO 3: Planejamento Estratégico e Participação 46 unidade ii 47 unidade ii P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a Na Unidade I, você pode compreender o significado da gestão pública brasileira a partir dos fundamentos contextuais abordados, que subsidiam o cenário onde o processo de planejamento estratégico se insere. Essa temática é deveras relevante para o estudo da gestão pública, pois, para que uma organização cumpra com efetividade sua missão, é imprescindível que suas ações decorram de um planejamento organizado e permanente, baseado nas políticas e diretrizes públicas, às quais a organização se vincula, no conhecimento das expectativas de clientes e usuários, e levando em conta as condições e meios de que dispõe. Portanto, verifica-se que o planejamento estratégico é um importante instrumento de gestão para as organizações na atualidade, sejam elas públicas ou privadas e que o mesmo constitui uma das mais importantes funções administrativas. É por meio dele que o gestor e sua equipe estabelecem os parâmetros que vão direcionar a organização e atingir seus objetivos. Em consonância, o objetivo do planejamento é fornecer aos gestores e suas equipes, informações para a tomada de decisões, ajudando-os a atuar de forma proativa, ou seja, antecipando-se às mudanças. Elaborando uma relação entre as duas unidades, é fundamental conhecer o contexto onde está inserida a organização, ou seja, para que as ações resultantes de um planejamento se realizem, concretizando a implementação das políticas públicas formuladas, é imprescindível que cada servidor tenha plena consciência da missão institucional e pleno conhecimento dos resultados globais desejados. paRa InÍCIO De COnveRSa SeçãO 1 fUnDaMenTOS DO planejaMenTO eSTRaTÉGICO Em sentido amplo, é possível evidenciar que o atual contexto, aonde se inserem as organizações quer sejam do setor privado ou do setor público, caracterizam por ser dinâmico, complexo e competitivo. Assim, é imprescindível às organizações, estabelecer os resultados (fins) que pretendem alcançar e a trajetória (meios) para alcançá-los. O planejamento é a função da administração responsável pela definição dos objetivos e concepção de planos que integram e coordenam as ações. Por que planejar? A primeira coisa que vem à mente das pessoas quando se fala em planejamento é que ele é realizado por um grupo de pessoas extremamente burocratas que passam o tempo todo envolvidos com planilhas, gráficos e reuniões sem fim que não levam a lugar nenhum. A realidade, porém, mostra-se diferente. Planejar é algo comum que é realizado frequentemente por todos. Portanto, planejar faz parte do cotidiano do ser humano. Planeja-se o nascimento de filhos, entrar na faculdade, casamento, férias (quanto tempo ficar-se-á afastado de casa, para qual lugar ir, quanto gastar, qual o meio de transporte e outros). A grande diferença entre o planejamento individual e o organizacional está no processo de planejamento. Referindo-se ao indivíduo, em se tratando da vida particular, geralmente o planejamento depende de uma única pessoa e é mais simplificado, nas organizações, ele envolve um número maior de pessoas e precisa ser formalizado. Em relação às organizações, elas buscam no planejamento uma série de respostas para diversas situações institucionais como: a) Estabelecer foco e prioridades: assim elas conseguem otimizar a alocação de recursos nos pontos que são realmente importantes e que vão resultar em maiores agregações de valor. 48 unidade ii 49 unidade ii P la n e ja m e n to e G e st ã o e st ra té g ic a b) Identificar oportunidades de melhoria: para poder corrigir rumos