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1 Unidade 6: Campos magnéticos Unidade 6 – Campos magnéticos 6.1. O que produz um campo magnético? 6.2. A definição 𝐵𝐵? 6.3. Campos cruzados: A descoberta do elétron; 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall; 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular; 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente; 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente; 6.8. O Momento magnético dipolar. 2 Estrutura do conteúdo 6.1. O que produz um campo magnético? 3 Os campos magnéticos podem ser produzidos de duas formas: Partículas eletricamente carregadas em movimento (ordenado), o que constitui uma corrente elétrica (discutido na próxima unidade). Partículas elementares, como os elétrons, que possuem um campo magnético intrínseco (interno), o qual é uma propriedade básica como a massa e a carga elétrica. • Obs.) Toda partícula elementar possui um campo magnético interno (spin) que é "parecido" com o campo magnético produzido por uma partícula carregada que gira em torno de um dado eixo. 6.1. O que produz um campo magnético? 4 Em certos materiais os campos magnéticos dos elétrons se combinam para produzir um campo magnético nas vizinhanças do material. Esta combinação é o motivo pelo qual um ímã permanente, possui um campo magnético permanente. Em outros materiais os campos magnéticos dos elétrons se cancelam e o campo magnético em torno do material é nulo. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 5 Nosso primeiro trabalho nesta unidade será definir o campo magnético 𝐵𝐵. Para isso, vamos usar o fato experimental de que quando uma partícula com carga elétrica se move, na presença de um campo magnético, uma força magnética �⃗�𝐹𝐵𝐵 age sobre a partícula. • Em princípio, medimos a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 que age sobre a partícula, quando ela passa pelo ponto no qual 𝐵𝐵 está sendo medido, com várias velocidades e direções. Depois de executar vários experimentos, desse tipo, poderemos afirmar que: • Para todas as direções de �⃗�𝑣 o módulo de �⃗�𝐹𝐵𝐵 é proporcional a �⃗�𝑣 sen𝜙𝜙, onde 𝜙𝜙 é o ângulo entre 𝐵𝐵 e �⃗�𝑣. A força �⃗�𝐹𝐵𝐵 medida é zero quando 𝜙𝜙 = 0. A força �⃗�𝐹𝐵𝐵 medida é máxima quando 𝜙𝜙 = 90°. • A direção de �⃗�𝐹𝐵𝐵 é sempre perpendicular à direção de �⃗�𝑣. Isto sugere que a definição de 𝐵𝐵 está envolvida em um produto vetorial. Uma forma de definir um campo magnético 𝐵𝐵 seria como uma grandeza vetorial cuja direção coincide com a direção da velocidade �⃗�𝑣 quando a força é zero ou cuja direção é perpendicular a direção da velocidade �⃗�𝑣 quando a força é máxima. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 6 Depois de medir �⃗�𝐹𝐵𝐵 para �⃗�𝑣 perpendicular a 𝐵𝐵, definimos o módulo de 𝐵𝐵 em termos do módulo da força: 𝐵𝐵 = �⃗�𝐹𝐵𝐵 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 , onde 𝑞𝑞 é a carga da partícula. Podemos expressar esses resultados através da seguinte equação vetorial: �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵, ou seja, a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 que age sobre a partícula é igual à carga 𝑞𝑞 multiplicada pelo produto vetorial da velocidade �⃗�𝑣 pelo campo magnético 𝐵𝐵. Usando a equação anterior, para o produto vetorial, podemos escrever o módulo de �⃗�𝐹𝐵𝐵 na forma �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙, onde 𝜙𝜙 é menor o ângulo entre as direções da velocidade �⃗�𝑣 e do campo magnético 𝐵𝐵. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 7 Definição da força magnética: De acordo com a Equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙, o módulo da força �⃗�𝐹𝐵𝐵 que age sobre uma partícula, na presença de um campo magnético, é proporcional à carga 𝑞𝑞 e à velocidade 𝑣𝑣 da partícula. Assim, a força magnética também deve ser zero se a carga é zero ou se a partícula está parada. Além disso, a força magnética também é zero se �⃗�𝑣 e 𝐵𝐵 são paralelos (𝜙𝜙 = 0°) ou antiparalelos (𝜙𝜙 = 180°). Por outro lado, a força magnética será máxima quando �⃗�𝑣 e 𝐵𝐵 forem perpendiculares. A partir do produto vetorial �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵 obtemos a orientação de �⃗�𝐹𝐵𝐵, o qual resulta em um vetor, mutuamente, perpendicular aos vetores �⃗�𝑣 e 𝐵𝐵. De acordo com a regra da mão direita (figura ao lado), o polegar da mão direita aponta na direção de �⃗�𝑣 × 𝐵𝐵, enquanto os outros dedos apontam de �⃗�𝑣 para 𝐵𝐵. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 8 Se a carga 𝑞𝑞 é positiva, a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 tem o mesmo sinal que �⃗�𝑣 × 𝐵𝐵 ; Assim, para 𝑞𝑞 positiva �⃗�𝐹𝐵𝐵 aponta no mesmo sentido que o polegar (figura abaixo). Se a carga 𝑞𝑞 é negativa, a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 e o produto vetorial �⃗�𝑣 × 𝐵𝐵 têm sinais contrários; Assim, para 𝑞𝑞 negativa �⃗�𝐹𝐵𝐵 aponta no sentido contrário ao do polegar (figura abaixo). 6.2. A definição de 𝑩𝑩 9 No entanto, seja qual for o sinal da carga, a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 que age sobre uma partícula carregada que se move com velocidade �⃗�𝑣 na presença de um campo magnético 𝐵𝐵 é sempre perpendicular a �⃗�𝑣 e 𝐵𝐵. Desta forma, a componente de �⃗�𝐹𝐵𝐵 na direção de �⃗�𝑣 é sempre nula. Isso significa que �⃗�𝐹𝐵𝐵 não pode mudar a velocidade escalar �⃗�𝑣 da partícula. No entanto, a força �⃗�𝐹𝐵𝐵 pode mudar a direção de �⃗�𝑣 , ou seja, a trajetória da partícula. • Para compreender melhor o significado desta mudança de trajetória, considere a figura abaixo, que mostra os rastros de dois elétrons (𝑒𝑒−) e um pósitron (𝑒𝑒+) em uma câmara de bolhas submetida a um campo magnético dirigido para fora do plano do slide. • A trajetória curva das três partículas estão de acordo com a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 10 A unidade de 𝐵𝐵 no SI é o 𝑛𝑛𝑒𝑒𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛/(𝑐𝑐𝑛𝑛𝑐𝑐𝑐𝑐𝑛𝑛𝑐𝑐𝑐𝑐 𝑥𝑥 𝑐𝑐𝑒𝑒𝑛𝑛𝑚𝑚𝑛𝑛 𝑝𝑝𝑛𝑛𝑚𝑚 𝑠𝑠𝑒𝑒𝑠𝑠𝑐𝑐𝑛𝑛𝑠𝑠𝑛𝑛). Por conveniência, essa unidade é chamada de tesla (𝑇𝑇):1 𝑛𝑛𝑒𝑒𝑠𝑠𝑐𝑐𝑡𝑡 = 1 𝑇𝑇 = 𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛(𝑐𝑐𝑛𝑛𝑐𝑐𝑐𝑐𝑛𝑛𝑐𝑐𝑐𝑐)(𝑐𝑐𝑛𝑛𝑛𝑛𝑚𝑚𝑛𝑛/𝑠𝑠𝑛𝑛𝑠𝑠𝑐𝑐𝑛𝑛𝑠𝑠𝑛𝑛) = 1 𝑁𝑁𝐴𝐴𝑐𝑐. A tabela abaixo mostra os campos magnéticos observados em algumas situações. O campo magnético na superfície da Terra é da ordem de 10−4 𝑇𝑇. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 11 Linhas de campo magnético: Podemos representar o campo magnético através de linhas de campo. • A direção da tangente a uma linha de campo magnético em qualquer ponto fornece a direção de 𝐵𝐵 nesse ponto. • O espaçamento entre linhas representa o módulo de 𝐵𝐵. Quanto mais intenso o campo, mais próximas estão as linhas, e vice-versa. A Figura abaixo mostra as linhas de campo magnético nas proximidades de um ímã em forma de barra. Todas as linhas passam pelo interior do ímã e formam curvas fechadas. O campo magnético externo é mais intenso perto das extremidades superior e inferior do ímã, o que se reflete em um menor espaçamento entre as linhas. 6.2. A definição de 𝑩𝑩 12 As linhas de campo entram no ímã por uma das extremidades e saem pela outra. A extremidade pela qual as linhas saem é chamada de pólo norte do ímã. A outra extremidade, pela qual as linhas entram, recebe o nome de pólo sul. Como um ímã tem dois pólos, dizemos que possui um dipolo magnético. Obs.) Não existe monopolo magnético. A Figura abaixo mostra dois tipos comuns de ímãs: o ímã em forma de ferradura e o ímã em forma de C. Seja qual for a forma dos ímãs, quando colocamos dois ímãs próximos um do outro sempre observamos o seguinte: Pólos magnéticos de nomes diferentes se atraem e de mesmo nome se repelem. 13 Exemplo 28-1: Um campo magnético uniforme 𝐵𝐵, de módulo 1,2𝑐𝑐𝑇𝑇, está orientado verticalmente para cima no interior de uma câmara de laboratório. Um próton com uma energia cinética de 5,3𝑀𝑀𝑒𝑒𝑀𝑀 entra na câmara movendo-se horizontalmente de sul para norte. Qual é a força experimentada pelo próton ao entrar na câmara? A massa do próton é 1,67 × 10−27 𝑘𝑘𝑠𝑠.(Despreze o campo magnético da Terra) 6.2. A definição de 𝑩𝑩 6.3. Campos cruzados: A descoberta do elétron 14 Tanto um campo elétrico 𝐸𝐸 como um campo magnético 𝐵𝐵 podem exercer uma força sobre uma partícula com carga elétrica. Quando as linhas dos dois campos são mutuamente perpendiculares, dizemos que se trata de campos cruzados. Vamos agora discutir o que acontece quando uma partícula com carga elétrica se move em uma região na qual existem campos cruzados. Na Figura abaixo, partículas carregadas são emitidas, por um filamento aquecido em uma das extremidades de um tubo evacuado, e aceleradas por uma diferença de potencial 𝑀𝑀. • Depois de passarem por uma fenda no anteparo 𝐴𝐴, formam um feixe estreito. • Em seguida, passam por uma região onde existem campos 𝐸𝐸 e 𝐵𝐵 cruzados e atingem uma tela fluorescente 𝑇𝑇, onde produzem um ponto luminoso. 6.3. Campos cruzados: A descoberta do elétron 15 As forças a que as partículas são submetidas na região dos campos cruzados podem desviá-las do centro da tela. Como vimos, a força a que é submetida uma partícula de carga negativa na presença de um campo elétrico tem o sentido contrário ao do campo. Assim, para o arranjo da Figura anterior, as partículas que são desviadas para cima pelo campo elétrico 𝐸𝐸 e para baixo pelo campo magnético 𝐵𝐵 devem possuir carga negativa. Portanto, com o procedimento seguinte é possível descobrir a natureza (sinal) da carga elétrica da partícula responsável pelo ponto luminoso na tela. Faça 𝐸𝐸 = 0 e 𝐵𝐵 = 0 e registre a posição na tela 𝑇𝑇 do ponto luminoso causado pelo feixe sem nenhum desvio. Aplique o campo 𝐸𝐸 registre a nova posição do ponto na tela. Na figura anterior, a força elétrica e magnética sempre estão em oposição, de forma que é possível fazer com que o ponto volte à posição inicial, mantendo o campo 𝐸𝐸 e ajustando o valor do campo 𝐵𝐵. • Medindo a distancia entre as posições, com e sem a aplicação dos campos, encontramos o valor (módulo) da deflexão da partícula carregada. O sentido da deflexão, após a aplicação dos campos, depende do sinal da carga das partículas. Na figura anterior, se o sentido da deflexão é para cima, logo após a aplicação do campo elétrico, o sinal da carga elétrica será negativo. 6.3. Campos cruzados: A descoberta do elétron 16 O valor (módulo) da deflexão de uma partícula carregada, que se move na presença de um campo elétrico uniforme 𝐸𝐸 criado por duas placas, no momento em que deixa a região entre as placas, é dada por 𝑦𝑦 = 𝑞𝑞 𝐸𝐸 𝐿𝐿22𝑐𝑐 �⃗�𝑣 2 , Onde �⃗�𝑣 é a velocidade da partícula, 𝑐𝑐 é a massa, 𝑞𝑞 é a carga e 𝐿𝐿 é o comprimento das placas. Quando os dois campos são ajustados para que a força elétrica e a força magnética se cancelem mutuamente, 𝑞𝑞 𝐸𝐸 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen 90° = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 ou �⃗�𝑣 = 𝐸𝐸 𝐵𝐵 . Assim, os campos cruzados permitem medir a velocidade das partículas. 6.3. Campos cruzados: A descoberta do elétron 17 Utilizando as duas equações anteriores podemos mostrar que os campos cruzados também permitem medir a razão 𝑐𝑐/ 𝑞𝑞 das partículas que estão sendo investigadas. 𝑐𝑐 𝑞𝑞 = 𝐵𝐵 2𝐿𝐿22𝑦𝑦 𝐸𝐸 . O experimento, mostrado no arranjo da figura anterior, foi realizado por J. J. Thomson em 1897 na Universidade de Cambridge e levou à descoberta do elétron. 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall 18 Como acabamos de ver, um feixe de elétrons (partículas carregadas negativamente) no vácuo pode ser desviado por um campo magnético. Se os elétrons movem-se, agora, no interior de um fio de cobre (condutor), também podem ser desviados por um campo magnético. Esse efeito, conhecido como efeito Hall, permite verificar se os portadores de carga em um condutor têm carga positiva ou negativa, além de medir o número de portadores por unidade de volume do condutor. A Figura ao lado mostra uma fita de cobre de largura 𝑠𝑠 percorrida por uma corrente (𝑖𝑖) cujo sentido convencional é de cima para baixo na figura. Os portadores de carga responsáveis pela corrente são os elétrons que se movem (com velocidade chamada de deriva �⃗�𝑣𝑠𝑠) no sentido oposto ao convencional. Na figura, de baixo para cima. No instante mostrado na Figura, um campo magnético externo 𝐵𝐵, que aponta para dentro da parede, acaba de ser ligado. De acordo com a Figura, uma força magnética �⃗�𝐹𝐵𝐵 age sobre os elétrons, desviando-os para o lado direito da fita. 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall 19 Com o passar do tempo os elétrons se movem para a direita, acumulando-se na borda direita da fita, deixando cargas positivas não compensadas em posições fixas da borda esquerda. A separação de cargas positivas e negativas produz um campo elétrico 𝐸𝐸 no interior da fita que aponta para a direita como mostra a figura ao lado. O campo produzido exerce uma força �⃗�𝐹𝐸𝐸 sobre os elétrons, desviando-os para a esquerda. Os elétrons continuam a se acumular na borda direita da fita, até que a força exercida pelo campo elétrico sobre os elétrons equilibre exatamente a força exercida pelo campo magnético. Quando isso acontece, as forças �⃗�𝐹𝐸𝐸 e �⃗�𝐹𝐵𝐵 têm módulos iguais e sentidos opostos. Assim, os elétrons passam a se mover em linha reta em direção ao alto com velocidade �⃗�𝑣𝑠𝑠 e o campo elétrico 𝐸𝐸 para de aumentar. 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall 20 O campo elétrico entre as bordas da fita está associado a uma diferença de potencial de Hall dada por 𝑀𝑀 = 𝐸𝐸 𝑠𝑠. Ligando um voltímetro às bordas da fita, na figura anterior, podemos medir essa diferença de potencial e descobrir em qual das bordas o potencial é maior. Supondo que os portadores de carga responsáveis pela corrente 𝑖𝑖 tivessem carga positiva, como mostra a figura ao lado, se moveriam de cima para baixo. Neste caso, os portadores seriam desviados para a borda da direita devido a força magnética �⃗�𝐹𝐵𝐵 e o potencial seria maior na borda da direita, o que não estaria de acordo com a leitura do voltímetro. A leitura obtida indica, portanto, que os portadores de carga responsáveis pela corrente têm carga negativa. 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall 21 Agora vamos mostrar como efeito Hall permite medir o número de portadores por unidade de volume do condutor. Quando as forças elétrica e magnética estão em equilíbrio temos 𝑒𝑒 𝐸𝐸 = 𝑒𝑒 �⃗�𝑣𝑠𝑠 𝐵𝐵 . Por definição, a velocidade de deriva �⃗�𝑣𝑠𝑠 é dada por �⃗�𝑣𝑠𝑠 = 𝐽𝐽𝑛𝑛𝑒𝑒 = 𝑖𝑖𝑛𝑛𝑒𝑒𝐴𝐴 , Onde 𝐽𝐽 = 𝑖𝑖/𝐴𝐴 é a densidade de corrente na fita, 𝐴𝐴 é a área da seção reta da fita e 𝑛𝑛 é a concentração de portadores de carga (número portadores por unidade de volume). Combinando as equações anteriores, obtemos 𝑛𝑛 = 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝐴𝐴 �⃗�𝑣𝑠𝑠 = 𝐵𝐵 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝐴𝐴 𝐸𝐸 = 𝐵𝐵 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝑐𝑐𝑠𝑠 𝐸𝐸 = 𝐵𝐵 𝑖𝑖 𝑒𝑒𝑐𝑐𝑀𝑀 , onde 𝑐𝑐 = 𝐴𝐴/𝑠𝑠 é a espessura da fita. Esta equação permite calcular o valor de 𝑛𝑛 a partir de grandezas conhecidas. 22 Exemplo 28-2: A Figura abaixo mostra um cubo de metal de lado 𝑠𝑠 = 1,5 𝑐𝑐𝑐𝑐 que se move no sentido positivo do eixo 𝑦𝑦 com uma velocidade constante �⃗�𝑣 de módulo4,0𝑐𝑐/𝑠𝑠. Na região existe um campo magnético uniforme 𝐵𝐵 de módulo 0,050 𝑇𝑇 no sentido positivo do eixo. a) Em que face do cubo o potencial é menor e em que face é maior por causa da influência do campo magnético? b) Qual é a diferença de potencial entre as faces de maior e menor potencial elétrico? 6.4. Campos cruzados: O efeito Hall 23 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular A Figura abaixo mostra um feixe de elétrons, lançado por um canhão de elétrons, em uma câmara que contém uma pequena quantidade de gás. Os elétrons se movem no plano da parede comvelocidade 𝑣𝑣, em uma região na qual existe um campo magnético uniforme 𝐵𝐵 dirigido para fora do plano da parede. • Em consequência, uma força magnética �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵 age continuamente sobre os elétrons. • Como �⃗�𝑣 e 𝐵𝐵 são perpendiculares, a força magnética é máxima e faz com que os elétrons descrevam uma trajetória circular. • A trajetória é visível na fotografia porque alguns dos elétrons colidem com átomos do gás presente na câmara, fazendo-os emitir luz. Usando a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵 é fácil mostrar que, olhando na mesma direção do vetor 𝐵𝐵, • Só é possível a rotação de uma partícula negativa se for no sentido anti-horário e de uma partícula positiva no sentido horário. 24 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular Estamos interessados em determinar os parâmetros que caracterizam o movimento circular desses elétrons ou de qualquer outra partícula de carga 𝑞𝑞 e massa 𝑐𝑐 que se mova com velocidade �⃗�𝑣 perpendicularmente a um campo magnético uniforme 𝐵𝐵. Como 𝜙𝜙 = 90°, o módulo da força que age sobre partícula é �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 . De acordo com a segunda lei de Newton (�⃗�𝐹 = 𝑐𝑐�⃗�𝑡) aplicada ao movimento circular, �⃗�𝐹𝑐𝑐 = 𝑐𝑐 �⃗�𝑡𝑐𝑐 = 𝑐𝑐 �⃗�𝑣 2𝑚𝑚 , Temos que �⃗�𝐹𝑐𝑐 = �⃗�𝐹𝐵𝐵 → 𝑐𝑐 �⃗�𝑣 2𝑚𝑚 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 . Explicitando 𝑚𝑚, vemos que o raio da trajetória circular é dado por 𝑚𝑚 = 𝑐𝑐 �⃗�𝑣 𝑞𝑞 𝐵𝐵 . • Observe que partículas velozes se movem em círculos grandes e partículas lentas se movem em círculos pequenos. 25 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular O período 𝑇𝑇 (tempo necessário para completar uma revolução) é igual ao comprimento da circunferência dividida pela velocidade: 𝑇𝑇 = 2𝜋𝜋𝑚𝑚 �⃗�𝑣 = 2𝜋𝜋 �⃗�𝑣 𝑐𝑐 �⃗�𝑣 𝑞𝑞 𝐵𝐵 = 2𝜋𝜋𝑐𝑐 𝑞𝑞 𝐵𝐵 , A frequência (número de revoluções por segundo) é dada por 𝑓𝑓 = 1 𝑇𝑇 = 𝑞𝑞 𝐵𝐵2𝜋𝜋𝑐𝑐 . A frequência angular do movimento é, portanto, 𝜔𝜔 = 2𝜋𝜋𝑓𝑓 = 𝑞𝑞 𝐵𝐵 𝑐𝑐 . Observe que as grandezas 𝑇𝑇, 𝑓𝑓 e 𝜔𝜔 não dependem da velocidade da partícula. Assim, independente da velocidade, todas as partículas com a mesma razão entre carga e massa 𝑞𝑞 𝑐𝑐 levam o mesmo tempo 𝑇𝑇 (o período) para completar uma revolução em um campo magnético uniforme. 26 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular Trajetórias helicoidais: Se a velocidade de uma partícula carregada tem uma componente paralela a direção do campo magnético (uniforme), a partícula descreve uma trajetória helicoidal cujo eixo tem a mesma direção do campo. • A Figura abaixo, por exemplo, mostra o vetor velocidade �⃗�𝑣 de uma dessas partículas separado em duas componentes, uma paralela a 𝐵𝐵 e outra perpendicular a 𝐵𝐵: �⃗�𝑣∥ = �⃗�𝑣 cos𝜙𝜙 e �⃗�𝑣⊥ = �⃗�𝑣 sen𝜙𝜙. 27 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular É a componente paralela que determina o passo 𝑝𝑝 da hélice matemática, ou seja, a distância entre as espiras sucessivas na trajetória helicoidal (veja Figura abaixo). Obs.) A hélice matemática é descrita como uma curva no espaço tridimensional que combina um movimento de rotação em torno de um ponto com um movimento de translação deste ponto. O raio da hélice é determinado substituindo �⃗�𝑣 , na equação 𝑚𝑚 = 𝑐𝑐 𝑣𝑣 𝑞𝑞 𝐵𝐵 , pela sua componente perpendicular �⃗�𝑣⊥ = �⃗�𝑣 sen𝜙𝜙. 28 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular A Figura abaixo, mostra uma partícula carregada que se descreve uma trajetória espiral na presença de um campo magnético não-uniforme. O espaçamento menor das linhas de campo nas extremidades mostra que o campo magnético é mais intenso nessas regiões. Se o campo em uma das extremidades for suficientemente intenso, a partícula será "refletida" de volta para o centro da região. Quando a partícula é refletida nas suas extremidades dizemos que está aprisionada em uma garrafa magnética. 29 Exemplo 28-3: A Figura abaixo ilustra o princípio de funcionamento de um espectrômetro de massa, que pode ser usado para medir a massa de íons. Um íon de massa 𝑐𝑐 (a ser medida) e carga 𝑞𝑞 é produzido na fonte 𝑆𝑆 e acelerado pelo campo elétrico associado a uma diferença de potencial 𝑀𝑀. O íon entra em uma câmara de separação na qual existe um campo magnético uniforme 𝐻𝐻 perpendicular à sua trajetória. O campo faz com que o íon descreva uma trajetória semicircular antes de atingir um detector situado na superfície inferior da câmara. Suponha que 𝐵𝐵 =80.000𝑐𝑐𝑇𝑇, 𝑀𝑀 = 1000,0 𝑀𝑀 e os íons de carga 𝑞𝑞 = +1,6022 × 10−19 𝐶𝐶 atinjam o detector em um ponto situado a uma distância 𝑥𝑥 = 1,6254𝑐𝑐 do ponto de entrada na câmara. Qual é a massa 𝑐𝑐 dos íons em unidades de massa atômica (𝑐𝑐)? (1𝑐𝑐 = 1,6605 ×10−27 𝑘𝑘𝑠𝑠). 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular 30 Exemplo 28-4: Um elétron com uma energia cinética de 22,5 𝑒𝑒𝑀𝑀 penetra em uma região onde existe um campo magnético 𝐵𝐵 de módulo 4,55 × 10−4𝑇𝑇. O ângulo entre a direção de 𝐵𝐵 e a direção da velocidade �⃗�𝑣 do elétron é 65,5°. Qual é o passo da trajetória helicoidal do elétron? 6.5. Uma partícula carregada em movimento circular 31 Quando discutimos o efeito Hall, vimos que um campo magnético exerce uma força lateral sobre os elétrons que se movem no interior do condutor que está imerso no campo magnético. Essa força é transmitida para o condutor, já que os elétrons não podem deixá-lo. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente Na figura o sentido da corrente é invertido, e o fio de cobre vertical se encurva para a esquerda. Na figura, um fio de cobre vertical, que não conduz corrente e está preso nas duas extremidades, é colocado no espaço entre os pólos de um ímã permanente, cujo campo magnético é dirigido para fora do papel. Na figura uma corrente dirigida para cima passa a circular no fio de cobre vertical, que se encurva para a direita. 32 A figura abaixo mostra o que acontece no interior do fio de cobre quando a corrente é dirigida para cima. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente Um dos elétrons se move para baixo com a velocidade de deriva �⃗�𝑣𝑠𝑠 . De acordo com a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙, neste caso com 𝜙𝜙 = 90°, uma força �⃗�𝐹𝐵𝐵 de módulo 𝑒𝑒 �⃗�𝑣𝑠𝑠 𝐵𝐵 age sobre o elétron. De acordo com a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞�⃗�𝑣 × 𝐵𝐵, a força aponta para a direita. Se na figura acima invertermos o sentido do campo magnético 𝐵𝐵 ou o sentido da corrente, a força exercida sobre o fio de cobre mudará de sentido e passará a apontar para a esquerda. Não importa se consideramos cargas negativas se movendo para baixo ou cargas positivas se movendo para cima: nos dois casos o sentido da força é o mesmo. 33 Na figura anterior, considere um trecho do fio de comprimento 𝐿𝐿. Após um intervalo de tempo 𝑛𝑛 = 𝐿𝐿/ �⃗�𝑣𝑠𝑠 todos os elétrons de condução desse trecho passam pelo plano 𝑥𝑥𝑥𝑥. Assim, nesse intervalo de tempo uma carga dada por 𝑞𝑞 = 𝑖𝑖𝑛𝑛 = 𝑖𝑖 𝐿𝐿 �⃗�𝑣𝑠𝑠 passa pelo plano 𝑥𝑥𝑥𝑥. Substituindo na equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙, temos: �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑞𝑞 �⃗�𝑣 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙 = 𝑖𝑖 𝐿𝐿�⃗�𝑣𝑠𝑠 �⃗�𝑣𝑠𝑠 𝐵𝐵 sen 90° ou �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 𝐵𝐵 . • Está equação permite calcular a força magnética que age sobre um trecho de fio retilíneo de comprimento 𝐿𝐿 percorrido por uma corrente 𝑖𝑖 e submetido a um campo magnético 𝐵𝐵 perpendicular ao fio. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente 34 Se o campo magnético não é perpendicular ao fio (veja figura abaixo) a força magnética é dada por uma generalização da equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 𝐵𝐵 : �⃗�𝐹𝐵𝐵= 𝑖𝑖𝐿𝐿 × 𝐵𝐵. Onde 𝐿𝐿 é um vetor comprimento de módulo 𝐿𝐿 = 𝐿𝐿, cuja direção é a mesma do trecho de fio e o sentido é o mesmo da corrente (convencional). O módulo da força �⃗�𝐹𝐵𝐵 é dado por �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 𝐵𝐵 sen𝜙𝜙 , onde 𝜙𝜙 é o ângulo entre as direções de 𝐿𝐿 e 𝐵𝐵. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente O sentido de �⃗�𝐹𝐵𝐵 é sempre a do produto vetorial 𝐿𝐿 × 𝐵𝐵 porque tomamos a corrente 𝑖𝑖 como sendo uma grandeza positiva. De acordo com a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 × 𝐵𝐵 , a direção de �⃗�𝐹𝐵𝐵 é sempre perpendicular ao plano definido pelos vetores 𝐿𝐿 e 𝐵𝐵 , como mostra a figura ao lado. 35 Se o trecho do fio não é retilíneo e/ou o campo não é uniforme, podemos dividir mentalmente o trecho do fio em pequenos segmentos retilíneos e aplicar a equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 × 𝐵𝐵 a cada segmento. Nesse caso, a força que age sobre o trecho do fio como um todo é a soma vetorial das forças que agem sobre os segmentos em que foi dividido. No caso de segmentos infinitesimais, podemos escrever 𝑠𝑠�⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝑠𝑠𝐿𝐿 × 𝐵𝐵, e calcular a força total que age sobre um dado trecho de fio realizando uma integração. Ao aplicar a equação anterior pode ser útil ter em mente que não existem segmentos isolados de comprimento 𝑠𝑠𝐿𝐿 percorridos por corrente. Deve sempre haver um meio de introduzir corrente em uma das extremidades do segmento e retirá-la na outra extremidade. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente 36 Exemplo 28-6: Um fio horizontal retilíneo, feito de cobre, é percorrido por uma corrente 𝑖𝑖 = 28 𝐴𝐴. Determine o módulo e a orientação do menor campo magnético 𝐵𝐵 capaz de manter o fio suspenso, ou seja, equilibrar a força gravitacional. A massa específica linear (massa por unidade de comprimento) do fio é 46,6 𝑠𝑠/𝑐𝑐. 6.6. Força magnética em um fio percorrido por corrente 37 As forças que um campo magnético exerce sobre fios percorridos por correntes elétricas são responsáveis pelo funcionamento dos motores elétricos. A Figura abaixo mostra um motor simples, constituído por uma espira retangular percorrida por uma corrente e submetida a um campo magnético 𝐵𝐵. • As forças magnéticas �⃗�𝐹 produzem um torque na espira que tende a fazê-la girar em torno do eixo (central) do motor. • Um comutador inverte o sentido da corrente a cada meia revolução para que o torque tenha sempre o mesmo sentido. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 38 A figura anterior mostra como o efeito de um campo magnético sobre uma espira percorrida por corrente produz um movimento de rotação. Vamos analisar esse efeito: A Figura abaixo mostra uma espira retangular de lados 𝑡𝑡 e 𝑐𝑐 percorrida por uma corrente 𝑖𝑖 e submetida a um campo magnético uniforme 𝐵𝐵. A espira é colocada no campo de tal forma que os lados mais compridos, 1 e 3, estão sempre perpendiculares à direção do campo (que é para dentro do slide). O mesmo não acontece com os lados mais curtos, 2 e 4. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 39 Para definir a orientação da espira em relação ao campo magnético usamos um vetor normal 𝑛𝑛 que é perpendicular ao plano da espira. A figura abaixo ilustra o uso da regra da mão direita para determinar a direção e o sentido de 𝑛𝑛. • Quando os dedos da mão direita apontam na direção e sentido da corrente em um lado qualquer da espira, o polegar estendido aponta na direção e sentido do vetor normal 𝑛𝑛. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 40 Na Figura ao lado, o vetor normal da espira é mostrado fazendo um ângulo qualquer 𝜃𝜃 com a orientação do campo magnético 𝐵𝐵. Estamos interessados em calcular a força total e o torque total que agem sobre a espira nessa orientação. A força total que age sobre a espira é a soma vetorial das forças que agem sobre os quatro lados. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente • No caso do lado 2, o vetor 𝐿𝐿, na equação �⃗�𝐹𝐵𝐵 = 𝑖𝑖𝐿𝐿 × 𝐵𝐵, aponta no sentido da corrente e tem módulo 𝑐𝑐. O ângulo menor entre 𝐿𝐿 e 𝐵𝐵 para o lado 2 é 90°− 𝜃𝜃. Assim, o módulo da força que age sobre esse lado é �⃗�𝐹2 = 𝑖𝑖𝑐𝑐 𝐵𝐵 sen 90°− 𝜃𝜃 = 𝑖𝑖𝑐𝑐 𝐵𝐵 cos 𝜃𝜃 . 41 A força �⃗�𝐹4 que age sobre o lado 4 tem o mesmo módulo que �⃗�𝐹2 e o sentido oposto. Assim, �⃗�𝐹2 e �⃗�𝐹4 se cancelam e a força total associada aos lados 2 e 4 é zero. Além disso, como a direção das duas forças aplicadas tem a mesma direção do eixo de rotação da espira, o torque total produzido por essas forças, em relação a este eixo, também é zero. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 42 Para os lados 1 e 3, 𝐿𝐿 é sempre perpendicular a 𝐵𝐵 e o módulo das forças �⃗�𝐹1 e �⃗�𝐹3 é 𝑖𝑖𝑡𝑡 𝐵𝐵 , independentemente do valor de 𝜃𝜃. Como as duas forças têm sentidos opostos não tendem a mover a espira para cima ou para baixo. Entretanto, a direção das duas forças aplicadas é diferente da direção do eixo de rotação da espira e, portanto, o torque associado a essas forças, em relação ao eixo de rotação, não é zero. O torque tende a fazer a espira girar em um sentido tal que o vetor normal 𝑛𝑛 se alinhe com a direção do campo magnético 𝐵𝐵. Esse torque tem um braço de alavanca ⁄𝑐𝑐 2 sen𝜃𝜃 em relação ao eixo da espira. O módulo ⃗′ do torque produzido pelas forças �⃗�𝐹1 e �⃗�𝐹3 é portanto ⃗′ = 𝑖𝑖𝑡𝑡 𝐵𝐵 ⁄𝑐𝑐 2 sen𝜃𝜃 + 𝑖𝑖𝑡𝑡 𝐵𝐵 ⁄𝑐𝑐 2 sen 𝜃𝜃 ou ⃗′ = 𝑖𝑖𝑡𝑡𝑐𝑐 𝐵𝐵 sen𝜃𝜃 . 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 43 A espira única pode ser substituída por uma bobina de 𝑁𝑁 espiras enroladas tão juntas que se possa supor que todas têm aproximadamente as mesmas dimensões e estão no mesmo plano. Nesse caso, as espiras formam uma bobina plana, e um torque com o módulo dado pela equação ⃗′ = 𝑖𝑖𝑡𝑡𝑐𝑐 𝐵𝐵 sen𝜃𝜃 age sobre cada uma delas. • O módulo do torque total que age sobre a bobina é, portanto ⃗ = 𝑁𝑁 ⃗′ = 𝑁𝑁𝑖𝑖𝑡𝑡𝑐𝑐 𝐵𝐵 sen𝜃𝜃 = 𝑁𝑁𝑖𝑖𝐴𝐴 𝐵𝐵 sen𝜃𝜃 , onde 𝐴𝐴 (= 𝑡𝑡𝑐𝑐) é a área limitada pela bobina. O produto entre parênteses (𝑁𝑁𝑖𝑖𝐴𝐴) envolve as propriedades da bobina: o número de espiras, a corrente e a área. A equação anterior é válida qualquer que seja a forma geométrica (retangular, circular, triangular, etc) da bobina plana, mas o campo magnético deve ser uniforme. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 44 Exemplo 28-7: Os voltímetros e amperímetros analógicos funcionam medindo o torque exercido por um campo magnético sobre uma bobina percorrida por corrente. A leitura é feita através do movimento de um ponteiro ao longo de uma escala. A Figura ao lado mostra a estrutura de um galvanômetro, o dispositivo em que se baseiam tanto os amperímetros como os voltímetros analógicos. Suponha que a bobina tem 2,1 𝑐𝑐𝑐𝑐 de altura e 1,2 𝑐𝑐𝑐𝑐 de largura, possui 250 espiras e está montada de tal forma que pode girar em torno de um eixo (perpendicular ao papel) na presença de um campo radial uniforme de módulo 𝐵𝐵 =0,23 𝑇𝑇 . Para qualquer orientação da bobina o campo magnético que a atravessa é perpendicular ao vetor normal da bobina (e, portanto, paralelo ao plano da bobina). Uma mola 𝑀𝑀 produz um contratorque que equilibra o torque magnético, de modo que uma corrente constante 𝑖𝑖 na bobina resulta em uma deflexão angular constante 𝜙𝜙 . Quanto maior a corrente, maior a deflexão e, portanto, maior o torque que a mola precisa produzir. Se uma corrente de 100 𝜇𝜇𝐴𝐴 produz uma deflexão angular de 28°, qual deve ser a constante de torção 𝜅𝜅 da mola, definida na equação 𝜏𝜏 = −𝜅𝜅𝜙𝜙?. 6.7. Torque em uma espira percorrida por corrente 45 Uma bobina percorrida por corrente sofre um torque ao ser submetida a umcampo magnético. A bobina se comporta exatamente como um ímã em forma de barra, de forma que também possui um dipolo magnético. Para encontrarmos a equação vetorial do torque exercido sobre a bobina, por um campo magnético, podemos associar um momento dipolar magnético �⃗�𝜇 à bobina. O sentido de �⃗�𝜇 é o mesmo do vetor normal 𝑛𝑛 e, portanto, é dado pela regra da mão direita: • Quando os dedos da mão direita apontam no sentido da corrente na bobina, o polegar estendido aponta no sentido de �⃗�𝜇. Por definição, o módulo de �⃗�𝜇 é dado por �⃗�𝜇 = 𝑁𝑁𝑖𝑖𝐴𝐴, onde 𝑁𝑁 é o número de espiras da bobina, 𝑖𝑖 é a corrente na bobina e 𝐴𝐴 é a área limitada pelas espiras da bobina. A partir desta equação, com 𝑖𝑖 em amperes e 𝐴𝐴 em metros quadrados, vemos que a unidade de �⃗�𝜇 no SI é o ampère-metro quadrado (𝐴𝐴𝑐𝑐2). 6.8. O Momento magnético dipolar 46 Usando a definição do módulo de �⃗�𝜇, a equação para o torque exercido por um campo magnético sobre uma bobina pode ser escrita na forma ⃗ = �⃗�𝜇 𝐵𝐵 sen 𝜃𝜃, onde 𝜃𝜃 é o ângulo entre os vetores �⃗�𝜇 e 𝐵𝐵. Em forma vetorial, essa equação se torna ⃗ = �⃗�𝜇 × 𝐵𝐵, A qual parece muito com a equação para o torque exercido por um campo elétrico sobre um dipolo elétrico ⃗ = �⃗�𝑝 × 𝐸𝐸. • Nos dois casos o torque exercido pelo campo é igual ao produto vetorial do momento dipolar pelo campo. Na presença de um campo magnético, um dipolo magnético possui uma energia potencial magnética que depende da orientação do momento dipolar em relação ao campo. No caso de dipolos elétricos, temos 𝑈𝑈 𝜃𝜃 = −�⃗�𝑝 � 𝐸𝐸. 6.8. O Momento magnético dipolar 47 Analogamente, podemos escrever, para o caso magnético 𝑈𝑈 𝜃𝜃 = −�⃗�𝜇 � 𝐵𝐵 = − �⃗�𝜇 𝐵𝐵 cos 𝜃𝜃. 6.8. O Momento magnético dipolar • A energia de um dipolo magnético tem o menor valor possível − ⃗ 𝐵𝐵 quando o momento dipolar magnético e o campo magnético apontam no mesmo sentido. • A energia de um dipolo magnético tem o maior valor possível ⃗ 𝐵𝐵 quando o momento dipolar magnético e o campo magnético apontam em sentidos opostos. Como sugere a equação anterior, vemos que a unidade de �⃗�𝜇 pode ser o 𝑗𝑗𝑛𝑛𝑐𝑐𝑐𝑐𝑒𝑒 𝑝𝑝𝑛𝑛𝑚𝑚 𝑛𝑛𝑒𝑒𝑠𝑠𝑐𝑐𝑡𝑡 (𝐽𝐽 𝑇𝑇 ) em vez do ampère-metro quadrado, sugerido pela equação �⃗�𝜇 = 𝑁𝑁𝑖𝑖𝐴𝐴. Quando um dipolo magnético, submetido a um torque produzido por uma força externa, muda de uma orientação inicial 𝜃𝜃𝑖𝑖, para uma orientação final 𝜃𝜃𝑓𝑓 o torque aplicado realiza um trabalho 𝑊𝑊𝑎𝑎 sobre o dipolo. Se o dipolo permanece em repouso antes e depois da mudança de orientação, o trabalho 𝑊𝑊𝑎𝑎 é dado por 𝑊𝑊𝑎𝑎 = 𝑈𝑈𝑓𝑓 − 𝑈𝑈𝑖𝑖 , onde 𝑈𝑈𝑓𝑓 e 𝑈𝑈𝑖𝑖 são dados pela equação 𝑈𝑈 𝜃𝜃 = − ⃗ � 𝐵𝐵. 48 Exemplo 28-8: A Figura abaixo mostra uma bobina circular de 250 espiras, com uma área 𝐴𝐴 de 2,52 × 10−4 𝑐𝑐2, percorrida por uma corrente de 100 𝜇𝜇𝐴𝐴. A bobina está em repouso em um campo magnético uniforme de módulo 𝐵𝐵 = 0,85 𝑇𝑇 , com seu momento dipolar magnético �⃗�𝜇 inicialmente alinhado com 𝐵𝐵. (a) Qual é o sentido da corrente na bobina da Figura? (b) Que trabalho o torque aplicado por um agente externo teria que realizar sobre a bobina para fazê-Ia girar de 90° em relação à orientação inicial, isto é, para tornar ⃗ perpendicular a 𝐵𝐵 com a bobina novamente em repouso? 6.8. O Momento magnético dipolar Bibliografia Básica KNIGTH, Randall D. Física uma abordagem estratégica. Eletricidade e Magnetismo Volume 3 2ª edição. Porto Alegre: Bookman, 2009; TIPLER, Paul A; MOSCA, Gene. Física para Cientistas e Engenheiros: Eletricidade e Magnetismo Vol.2 6ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 2009. SERWAY, R.A. e JEWETT JR., J.W., Princípios de Física: Eletromagnetismo Vol. 3. Editora Pioneira, 1ª ed., 2009. Bibliografia Complementar WALKER, J.R.; RESNICK, R.; HALLIDAY, D. Fundamentos de Física, Eletromagnetismo. Vol. 3, 8ª ed., Rio de Janeiro: LTC, 2009. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física III: Eletromagnetismo. Vol. 3, 12ª edição. São Paulo: Addison Weslley, 2008. NUSSENZWEIG, Moisés. Curso de Física Básica: Eletromagnetismo. Vol. 3, 4ª ed., Edgard Blücher Editora, 2002. 49 Número do slide 1 Número do slide 2 Número do slide 3 Número do slide 4 Número do slide 5 Número do slide 6 Número do slide 7 Número do slide 8 Número do slide 9 Número do slide 10 Número do slide 11 Número do slide 12 Número do slide 13 Número do slide 14 Número do slide 15 Número do slide 16 Número do slide 17 Número do slide 18 Número do slide 19 Número do slide 20 Número do slide 21 Número do slide 22 Número do slide 23 Número do slide 24 Número do slide 25 Número do slide 26 Número do slide 27 Número do slide 28 Número do slide 29 Número do slide 30 Número do slide 31 Número do slide 32 Número do slide 33 Número do slide 34 Número do slide 35 Número do slide 36 Número do slide 37 Número do slide 38 Número do slide 39 Número do slide 40 Número do slide 41 Número do slide 42 Número do slide 43 Número do slide 44 Número do slide 45 Número do slide 46 Número do slide 47 Número do slide 48 Bibliografia Básica