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ALEX BRETAS 2015 K I T KIT EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA 50 ferramentas para quem quer sair da caixa da educação Projeto gráfico: ADRIANA PESSOA BARBOSA Diagramação: ACÁCIA DE ALMEIDA Revisão: ANA LUIZA ROCHA DO VALLE Um agradecimento especial aos mais de 60 apoiadores mensais do Unlock que ajudaram a tornar este livro uma realidade. Agradeço também à Mayara Freitas, à Mariana Baldi e à Valeria Gianella, pelas importantes ajudas e contribuições. Licença Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional Você tem a liberdade de: Compartilhar: copiar, distribuir e transmitir a obra. Remixar: criar obras derivadas. Sob as seguintes condições: Atribuição: você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que este concede qualquer aval a você ou ao seu uso da obra). Uso não comercial: você não pode usar esta obra para fins comerciais. Compartilhamento pela mesma licença: se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente. Renúncia: qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais. SUMÁRIO 06Apresentação do Kit 09O Menininho 13APRENDER CONSIGO MESMO 14Pensar, Sentir e Querer 19Quatro degraus da aprendizagem 23Silêncio 27Mantras 31Árvore da Vida 35Jornada do Herói 78EXPERIMENTAR NOVAS LENTES 79Biomimética 83Permacultura 90Teoria U 95Jornadas de Aprendizagem 100Pedagogia da Cooperação 1061 dia na vida 110RPG 114Leitura Objetivada 117Intervenções e Performances CRIAR E FORTALECER LAÇOS 43 42 World Café 48Open Space 54Pro Action Café 59Aquário 64Objeto da Fala 69Compartilhamento Biográfico 75Pé de Galinha . SUMÁRIO 121 DESPERTAR O MELHOR DO OUTRO 135Microaula 122Perguntas poderosas 139Cartas 127Pedir e Oferecer 143Personamimética 131Mentoria 146GERAR ENGAJAMENTO 147Comprometimento Público 151Contar Histórias 159Rituais 155Manifestos 164Jogo Oasis 171Investigação Apreciativa 176Matriz SOAR 181Cenários Futuros 192 COCRIAR ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM 193Hackerspaces 254Palavras Finais 205Ocupações Criativas 197Do It Yourself Labs 257Notas 210Encontros Intergeracionais 201Comunidades de Aprendizagem 216VIABILIZAR PERCURSOS AUTÔNOMOS 217Pay What You Want 221Financiamento Coletivo 226Prototipação 230Captação Empoderada 234 COMEÇAR, ORGANIZAR, DECIDIR 235Processo Decisório em Grupo 241Matriz Certezas, Suposições e Dúvidas 245Mapas Mentais 249Matriz Urgente- Importante 186Dragon Dreaming 6Kit Educação Fora da Caixa Apresentação do KIT Assim como este texto de apresentação – que foi escrito durante, e não no final –, as ferramentas de aprendizagem a seguir surgiram no interior de outro processo. Em 2014, iniciei meu doutorado informal sobre novas formas de aprendizagem de jovens e adultos, batizado de Educação Fora da Caixa. A primeira entrega desse percurso seria um livro recheado com os resultados da minha pesquisa: relatos, projetos inspiradores, diálogos teórico-filosóficos, histórias... Só que, ao me dar conta, fui capturado por uma necessidade súbita de escrever ferramentas. Utensílios que, se por um lado podem ser considerados inovações educacionais, por outro resgatam elementos ancestrais da aprendizagem humana. Paul Feyerabend, filósofo do conhecimento, acreditava que um dos atributos mais importantes para o desenvolvimento da humanidade seria a pluralidade de modos de vida. Jeitos diferentes de se viver e se fazer as coisas. O Kit serve exatamente a esse propósito: celebrar a diversidade como um dos principais pilares da sabedoria de nossa espécie. Para viabilizar o Kit, criei uma campanha de financiamento coletivo recorrente no Unlock, uma plataforma que faz com que projetos encontrem apoiadores mensais. Praticamente um mecenato contemporâneo. Todas as ferramentas foram publicadas no blog da Educação Fora da Caixa antes de virem parar aqui, na medida em que iam sendo produzidas. Três vezes por semana, durante quatro meses. Este livro é dedicado aos mais de 60 apoiadores que acreditaram na relevância desse trabalho. O “livro mãe” da Educação Fora da Caixa continua sendo escrito. O Kit, tendo surgido antes, é a primeira entrega mais robusta do projeto. Um filho nascido de surpresa. Tenho convicção que as ferramentas do Kit poderão ajudar pessoas que, assim como eu, resolveram embarcar em percursos de aprendizagem independentes. Ou que estão pensando em fazer isso. 7Kit Educação Fora da Caixa Apresentação do KIT O Kit também pode ser útil a educadores, consultores e facilitadores, lideranças, empreendedores, pesquisadores, estudantes e entusiastas por uma nova educação. Ao escrever as ferramentas, parti principalmente de minhas experiências como facilitador de processos e pesquisador de inovações educacionais. A curadoria foi feita a partir do critério da diversidade: há ferramentas de origem africana, europeia, indígena, australiana, indiana, norte-americana e brasileira. Aqui convivem ciência, arte, filosofia, mitologia, antroposofia, sabedoria indígena e aborígene, antropologia e espiritualidade. Também me preocupei com a aderência dos materiais a uma visão de aprendizagem livre – que não significa ausência total de método, e sim um “banquete” de metodologias livremente escolhidas, como nos ensinou Paul Feyerabend. Cada um se serve do que quiser. Minha curiosidade também foi um critério essencial para selecionar o que eu iria escrever. Cada uma dessas ferramentas é uma pérola; investigá-las foi um profundo deleite. No limite, toda a pesquisa dos materiais partiu de minha própria realidade, relativa. É como dizem: todo ponto de vista é somente a vista de um ponto. Ao testar as ferramentas com suas próprias mãos, você provavelmente terá impressões diferentes das que eu tive. Não há nenhum problema nisso, pelo contrário. Quero te fazer um convite: escolha dentre as 50 ferramentas a que te chamou mais atenção. Uma só. Faça com que ela ganhe vida: teste-a no mundo real, modifique, customize de acordo com seus desejos, contextos, suas ideias e necessidades. A principal diferença entre uma caixa de ferramentas e um livro de receitas é que receita a gente segue e ferramenta é pra gente inventar. Com ferramentas inventamos novas realidades porque elas nos fazem mais confiantes para começar a agir. Não deixe que o mundo das ferramentas te prenda: utilize-as a seu serviço e de sua comunidade, e não o contrário. 8Kit Educação Fora da Caixa Apresentação do KIT Como dizia o poeta pantaneiro Manoel de Barros, “tudo que não invento é falso”. A história a seguir é ao mesmo tempo um alerta e um convite para que você saboreie livremente o Kit. Boas experimentações! Alex Bretas www.alexbretas.com.br 9Kit Educação Fora da Caixa O Menininho (Helen Buckley) Uma vez um menininho foi para a escola. Ele era só um menininho E a escola era bem grande. Mas quando o menininho Descobriu que ele podia ir até sua sala Andando direto da porta da frente Ele ficou feliz; E a escola não parecia Tão grande como antes. Numa manhã Quando o menininho já tinha conhecido melhor a escola, O professor disse: “Hoje nós vamos desenhar”. “Que bom!”, pensou o menininho. Ele gostava de desenhar de tudo; Leões e tigres, Galinhas e vacas, Trens e barcos; E ele pegou sua caixa de giz E começou a desenhar. Mas a professora disse, “Espere!” “Não é hora de começar!” E então ela esperou até que todos parecessem prontos. “Agora”, disse a professora, “Nós vamos desenharflores”. “Que bom!”, pensou o menininho, Ele gostava de fazer flores muito bonitas, Com o seu giz rosa e laranja e azul. Mas a professora disse “Espere!” “Eu vou te ensinar como fazer”. 10Kit Educação Fora da Caixa E era uma flor vermelha, de galho verde. “Olhem só”, disse a professora, “Agora vocês já podem começar”. O menininho olhou para a flor que a professora desenhou E depois olhou para a sua flor. Ele gostava mais da sua flor, Mas ele não disse isso. Ele apenas virou a folha E fez uma flor igualzinha à da professora. Vermelha, de galho verde. Noutro dia Quando o menininho tinha conseguido abrir A porta da frente da escola sozinho, A professora disse: “Hoje nós vamos trabalhar com argila”. “Que bom!”, pensou o menininho; Ele gostava de argila. Ele podia fazer todo tipo de coisa com argila: Cobras e bonecos de neve, Elefantes e ratos, Carros e caminhões E ele começou a amassar e espremer Sua bola de argila. Mas a professora disse, “Espere!” “Não é hora de começar!” E então ela esperou até que todos parecessem prontos. “Agora”, disse a professora, “Nós vamos fazer um prato”. “Que bom!” pensou o menininho, Ele gostava de fazer pratos. E ele começou a fazer pratos De todas as formas e tamanhos. O Menininho (Helen Buckley) 11Kit Educação Fora da Caixa Mas a professora disse “Espere!” “Eu vou te ensinar como fazer”. E ela mostrou a todo mundo como fazer Um prato bem fundo. “Olhem só”, disse a professora, “Agora vocês já podem começar”. O menininho olhou para o prato da professora; E depois olhou para o seu prato. Ele gostava mais do seu prato, Mas ele não disse isso. Ele apenas enrolou sua argila de novo E fez um prato bem fundo igualzinho ao da professora. Beeeeem fundo. Não demorou muito E o menininho aprendeu a esperar, A assistir E a fazer as coisas igualzinho à professora. Não demorou muito E ele não fazia suas próprias coisas mais. E então O menininho e sua família Foram morar em outra casa, Numa outra cidade, E o menininho Teve que ir para uma outra escola. Essa escola era ainda maior Do que a primeira. E não tinha uma porta da frente Que ia direto pra sua sala. Ele precisava dar alguns longos passos E andar num corredor bem grande Pra chegar na sua sala. E no primeiro dia O Menininho (Helen Buckley) 12Kit Educação Fora da Caixa Lá estava ele, E a professora disse: “Hoje nós vamos desenhar”. “Que bom!” pensou o menininho. E ele esperou a professora Dizer o que deveria ser feito. Mas a professora não disse uma palavra. Apenas andou um pouco pela sala. Quando ela veio até ele Ela perguntou, “Você não quer desenhar?” “Sim”, disse o menininho. “O que é que nós vamos fazer?” “Eu não vou saber até você fazer”, disse a professora. “Como é que eu devo desenhar?” perguntou o menininho. “Do jeito que você quiser”, disse a professora. “Com qualquer cor?” perguntou o menininho. “Qualquer cor”, respondeu a professora. “Se todos nós fizermos o mesmo desenho, E usarmos as mesmas cores, Como eu saberia quem fez o quê, E qual é qual?” “Eu não sei”, disse o menininho, E começou a fazer uma flor vermelha, de galho verde1. O Menininho (Helen Buckley) 13Kit Educação Fora da Caixa Aprender consigo mesmo O que se aprende ao olhar para dentro? 14Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer O equilíbrio entre pensamentos, emoções e atitudes Os arquétipos são sabedorias surgidas na infância da humanidade. De certo modo, podem ser entendidos como imagens que estão presentes no nosso inconsciente coletivo desde os tempos antigos. Para a antroposofia2 – uma filosofia e ciência espiritual sistematizada inicialmente por Rudolf Steiner – os arquétipos têm uma grande importância por permitirem uma compreensão ampliada a respeito dos fenômenos psíquicos e sociais. Uma dessas imagens arquetípicas é a do ser humano trimembrado, dotado das dimensões do Pensar, do Sentir e do Querer. O Pensar, Sentir e o Querer são consideradas ferramentas da alma porque dão forma e concretizam nossa experiência de vida. “O Nascimento do Homem Novo”. Leunam Max. Fonte: Imagética Digital. 15Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer Por quê? Entender melhor como nós operamos essas três capacidades é um passo firme de autoconhecimento. Pense um pouco nas pessoas que você conhece: existem aquelas que expõem de forma acurada um raciocínio e formulam conceitos com facilidade. Em geral, essas pessoas são ancoradas no Pensar. Há aqueles mais sensitivos, que falam muito das emoções e são mais sonhadores, isto é, têm a dimensão do Sentir aflorada. Existem ainda as pessoas completamente voltadas para a ação, mas que costumam refletir pouco quanto às consequências do que fazem. São voltadas para o Querer. Um processo de aprendizagem focado no desenvolvimento humano, segundo a antroposofia, precisará buscar o equilíbrio entre essas três dimensões. A Pedagogia Waldorf, por exemplo, baseia-se justamente nisso. Reflita um pouco: como você se enxerga no Pensar, Sentir e Querer? Ao tomar consciência do arquétipo do ser humano trimembrado, torna- se mais fácil pensar e propor soluções educativas que deem conta da integralidade das pessoas. Além disso, trata-se de uma forma de perceber a si mesmo que pode ajudar muito em percursos de aprendizado autônomos. Para que o conhecimento encontre a sabedoria, é necessário que encarar a aprendizagem de forma uma – isto é, equilibrando pensamentos, sentimentos e intenções/atitudes. 16Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer Como? As faculdades do Pensar, Sentir e Querer podem ser associadas respectivamente à mente, ao coração e aos membros. A mente trabalha com percepções, conceitos, argumentos e ideias; o coração vibra por meio das emoções, vivências, do humor, do astral e dos valores; os membros conectam-se com as vontades, intenções, motivações, a energia e as ações. Pensar Quando pensamos, necessariamente estamos visualizando o passado. No entanto, não tratamos de fatos, e sim de nossas percepções sobre os Fonte: Programa Germinar, turma de Belo Horizonte, MG, 2013. 17Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer fatos. O cérebro trabalha somente com o imaterial, o que significa que para todas as coisas físicas com as quais fazemos contato com os nossos sentidos, nossa mente cria representações. O cérebro é a parte mais fria do corpo humano, o que sinaliza para algumas das características do pensar: racionalidade, lógica e clareza. Usualmente pode ser que tentemos ler os outros por meio da dimensão do Pensar. O risco, neste caso, é utilizarmos as representações do nosso passado para “enquadrar” a outra pessoa. A tomada de consciência no nível do Pensar ocorre ao nos abrirmos para compreender de fato as experiências, a biografia e a visão de mundo do outro, evitando julgamentos baseados nos nossos pensamentos. Sentir O Sentir está intimamente ligado ao tempo presente e é bastante volátil, de modo que frequentemente alternamos entre as polaridades de simpatia e antipatia. Nossos sentimentos fazem a ponte entre o pensar (cabeça) e o querer (membros). A temperatura do Sentir é quente e sua localização no corpo humano é no sistema rítmico, composto pelo coração, sistema circulatório e pulmões. Para trabalhar a dimensão do Sentir é necessário ter uma percepção mais apurada do que se passa em si e no outro: por um lado, entender como podemos melhorar nossa autopercepção e comunicar assertivamente nossas emoções; por outro, procurar ter plena atenção para acessarmos sentimentos que vêm à tona de maneira fugaz. Uma peça-chave para lidar bem com o nível do Sentir é buscar desenvolver a empatia. Aqui, empatia pode ser entendida como a suspensão de nossas reações habituais de julgamento (simpatia e antipatia) ao acessarmos as experiências do outro.Melhoramos nossa empatia ao percebermos e frearmos nossas reações imediatas, praticando a escuta cuidadosa. 18Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer Querer A dimensão do Querer conecta-se com o futuro e está localizada no sistema metabólico-motor (músculos, mãos, sistema digestório, pernas etc). Ela pode ser considerada uma polaridade em relação ao nível do Pensar: se este trabalha por meio da “desmaterialização” do mundo físico, o Querer dá forma concreta às imagens e representações da nossa mente. O nível metabólico é a matriz do inconsciente: nossos instintos e desejos mais escondidos (até de nós mesmos). Por isso, compreender os quereres de si e do outro não é fácil: requer experiências capazes de revelar as intenções e necessidades mais profundas. Duas perguntas importantes são: o que está por trás dos pensamentos e sentimentos envolvidos em dada situação? Por que quero isso? Ainda que o Querer possa ser trabalhado por meio da conversa e da escuta, suas manifestações não costumam vir por meio da fala. A intuição desempenha um papel fundamental. Para aplicar o Pensar, Sentir e Querer a contextos educativos, uma possibilidade é associá-los aos seus “objetos de trabalho”. O Pensar conecta-se fortemente ao conteúdo; o Sentir é muito influenciado pelas nossas interações; e o Querer trabalha com procedimentos e formatos. O balanceamento e o fluir entre esses três elementos são essenciais para propiciar estratégias pedagógicas adequadas. As ferramentas contidas neste livro podem ser bastante úteis para ajudar a pensar diferentes alternativas de conteúdo, interação e procedimento, de modo a atender distintas necessidades educativas. Para mergulhar • “Educação Integral”, Cosme D. B. Massi. Educacional. Link • “Waldorf integra o querer, o pensar e o sentir”, Ana Elizabeth Diniz. O Tempo. Link 19Kit Educação Fora da Caixa Quatro degraus da aprendizagem Enxergar como ocorre o aprendizado Os quatro degraus da aprendizagem, conhecidos também como quatro estágios da competência, são uma forma de enxergar o progresso que fazemos ao aprender algo novo. Imagine uma escada com quatro degraus: a incompetência inconsciente, a incompetência consciente, a competência consciente e a competência inconsciente. Trata-se de um padrão comum aos processos de aprendizado. Quando o entendemos, isso nos ajuda a aprendermos a aprender. Fonte: Fotos e Fotos. 20Kit Educação Fora da Caixa Quatro degraus de aprendizagem Por quê? Existem várias formas de se entender como ocorrem os processos de aprendizagem. Os quatro estágios da competência conformam uma referência útil porque conseguem ser simples e amplos o suficiente para abarcar diversas situações que envolvem aprendizado. Ao escrever sobre os quatro degraus, optei por apresentá-los partindo de uma metáfora – a escada – para facilitar sua compreensão. O conhecimento a respeito dos quatro estágios de competência foi desenvolvido nos anos 70 por Noel Burch, nos Estados Unidos (há quem diga que Martin M. Broadwell escrevera sobre o assunto em 1969)3. Contudo, a sabedoria que inspirou o modelo é ancestral, já tendo sido manifestada em várias culturas e em diferentes épocas. Por isso, os quatro estágios podem ser tomados como um arquétipo, de modo que estão presentes na história da humanidade desde muito tempo atrás. Como? Igor Kokcharov. Fonte: Wikipedia. 21Kit Educação Fora da Caixa Quatro degraus de aprendizagem Suponhamos que você quer aprender a cozinhar. Se olharmos para esse processo por meio dos quatro degraus da aprendizagem, ficaria assim: Incompetência inconsciente É quando nem nos damos conta do quão ignorantes somos. Não reconhecemos o quanto teremos que nos esforçar caso queiramos aprender algo. Por isso, você já se acha um hábil cozinheiro e não percebe o valor de praticar e ler mais sobre o assunto. Para passar à próxima fase, é preciso ser sensibilizado. Incompetência consciente De repente, você começa a sair com alguém que lhe fala que o seu macarrão com legumes está completamente malcozido e destemperado. Não é fácil aceitar a crítica, mas agora você pelo menos sabe que não sabe. Nesta fase a ficha cai. Passamos a reconhecer o valor de aprender algo. Para subir de degrau, o fundamental é errar e reelaborar. Competência consciente Você já consegue fazer alguns pratos saborosos. Ao sair com outra pessoa (a primeira acabou te dispensando...) você monta um cardápio árabe completo, mas passa todo o tempo na cozinha certificando-se de que tudo vai sair do jeito que você planejou. Finalmente passamos a entender ou fazer bem algo, mas temos que ficar pensando naquilo exaustivamente. Dividimos os processos em partes menores para nos sentirmos mais seguros, e ainda assim precisamos estar concentrados o tempo todo. 22Kit Educação Fora da Caixa Pensar, Sentir e Querer Para chegar à última etapa, o mais importante é praticar. Competência inconsciente Você passou a praticar tanto que se tornou chef de cozinha! Nesta fase, incorporamos a habilidade e deixamos de nos preocupar ao exercê-la. Fazemos tudo de forma natural e automática e somos reconhecidos como pessoas que “sabem o que estão fazendo”. O mais importante nessa etapa é compartilhar o que se sabe. Existem autores que propõem, ainda, um quinto estágio que pode ser chamado de “competência reflexiva”4. Trata-se de ultrapassar a inconsciência da quarta fase para dar lugar a uma postura mais informada, de alguém que “sabe do que sabe”. Chegar no quinto degrau é importante para ampliarmos nossa capacidade de compartilhar o que aprendemos. Os quatro degraus da aprendizagem integram um modelo que pode ser útil a qualquer um interessado em aprender. Gestores também podem aproveitá-lo para criar ambientes favoráveis à aprendizagem. Subir de degrau fica mais fácil quando conseguimos enxergar a escada! Para mergulhar • “Os quatro estágios da competência em qualquer tarefa”, Fabio Bracht. Papo de Homem. Link • “Four stages of competence”. Wikipedia. Link • “Conscious competence learning model”. Businessballs.com. Link 23Kit Educação Fora da Caixa Silêncio Silenciar vai muito além da calma Ficar em silêncio pode propiciar mais espaço interno para a aprendizagem. Desde pequenos momentos durante o dia a longas meditações, a prática do silêncio é uma aliada em potencial em diversos momentos. Geralmente associado às tradições filosóficas orientais, o ato de permanecer conscientemente em silêncio (externo e interno) tem ganhado legitimidade também nas culturais ocidentais. Por quê? Temos cada vez menos oportunidades de nos manter em silêncio. No prédio onde moro, os ruídos externos são constantes durante todo o dia. Na minha cabeça, os sons internos (julgamentos e preocupações) parecem não querer desaparecer. Com a internet e os smartphones, as Inner Silence Medidation Retreat, New Year’s 2013. Fonte: Youtube. 24Kit Educação Fora da Caixa Silêncio possibilidades de interação ampliaram-se exponencialmente. O sossego tornou-se mais difícil: nas viagens, nos locais públicos, no trabalho... Tudo isso revela também uma reação de igual força, mas oposta. Há diversos movimentos em defesa da importância de momentos de silêncio. E não são somente religiões ou correntes espiritualistas. De acordo com Paul Haider5, os efeitos do silêncio para a saúde são abundantes: • Diminuição da pressão arterial, fazendo com que encaremos melhor os desafios cotidianos; • Recarga da mente, de modo a ampliar nossas capacidades cognitivas; • Aumento da capacidade de manter o foco no que importa; • Redução dos níveis de cortisol e adrenalina, fazendo-nos sentir mais calmos; • Fortalecimento do sistema imunológico, aumentando nossas defesas naturais; etc. Além dos benefícioscorpóreos e mentais, ressalta-se a capacidade do silêncio em nos fazer imergir no nosso mundo interno. Silenciar-se pode ser um ótimo exercício de propriocepção, a habilidade de perceber as sensações e acontecimentos do próprio corpo. Com isso, ganhamos maestria sobre ele. Juliana Vilarinho, da Brahma Kumaris, afirma que existem dois níveis de maestria que podem ser trabalhados por meio do silêncio6: “O primeiro é ser máster dos órgãos dos sentidos. Ser máster do corpo físico. O segundo passo da maestria é ser mestre dos órgãos sutis — mente, intelecto e sanskaras (termo em sânscrito cujo significado se assemelha ao subconsciente)” Tornar-se mestre soberano do próprio corpo, inclusive de suas dimensões mais escondidas, tem um efeito claro sobre a qualidade de nossas decisões e atitudes. Por isso, o silêncio merece ser experimentado. 25Kit Educação Fora da Caixa Silêncio Como? É curioso como tantos professores vivem pedindo silêncio nas salas de aula e não o têm. O silêncio genuíno poderia ser de grande valia nas escolas. No entanto, o que estamos tratando aqui não tem nada a ver com ficar quieto impositivamente para que alguém possa “professar”. Praticar o silêncio é útil quando se faz por vontade própria. No início, alguns instantes bastam; depois, cinco minutos, dez, e assim se evolui aos poucos. Respire. Inspire fundo e convide o ar para se retirar devagar, como se ele estivesse na casa de um amigo querido e não quisesse ir embora. Feche os olhos, e respire mais duas ou três vezes. Esteja num lugar silencioso de preferência, mas o essencial é criar o silêncio dentro de si. Vá percebendo o que acontece com você. Como você está? De verdade, como está o seu corpo? Nota alguma sensação? O que você está sentindo? Quais pensamentos aparecem? (um amigo me disse certa vez para meditar imaginando uma praia, e cada onda era um pensamento. Por serem ondas, rapidamente os pensamentos iam embora...) Caminhar silenciosamente também pode ser um bom exercício de meditação. Juliana Vilarinho recomenda que não desviemos o olhar das pessoas durante o silêncio: encontre-as com os olhos e sorria para elas. Ficar em silêncio em grupo também pode ser uma experiência poderosa, assim como fazer refeições silenciosamente na companhia de outras pessoas. Para alguns, até mesmo pequenos instantes sem palavras em grupo podem soar aterrorizantes: parece que algo está errado. No entanto, honrar os silêncios coletivos é uma ótima forma de potencializar a sabedoria de um grupo. É preciso saber, contudo, a razão: se as pessoas estão em silêncio porque querem, ou se estão sendo silenciadas. Um caminho que pode facilitar a conexão com o mundo interno durante o silêncio é a escrita. Não se trata de escrever sobre o que está fora, e sim de 26Kit Educação Fora da Caixa Silêncio relatar o que se passa por dentro. Nesse caso, é importante não julgar o que vier: se você sente raiva ou frustração, se tem pensamentos dos quais não se orgulha ou que te fazem mal, aceite-os para que então possam ir embora. Não tente racionalizá-los ou encontrar qualquer explicação ou justificativa. Existem diversas oportunidades de se experimentar o poder do silêncio em retiros e imersões. Uma delas é a meditação Vipassana, de origem budista e cuja tradução quer dizer “ver a realidade como ela se apresenta”. Os cursos de Vipassana costumam durar 10 dias nos quais o silêncio é praticado integralmente. No Brasil, vários locais oferecem Vipassana: um deles é o Centro de Meditação Dhamma Santi, em Miguel Pereira, RJ. Incorporar o silêncio na vida cotidiana pode ser uma ótima forma não só de tranquilizar a si, como também apaziguar quem nos rodeia. Como Juliana Vilarinho afirma, ficar cara a cara com nosso mundo interno “é uma jornada muito bonita que nem sempre temos a oportunidade de experimentar”7. Para mergulhar • “The Health Benefits of Silence”, Paul Heider. OMTimes. Link • “Nós testamos: retiro de Vipassana”, Bruno Amado. Personare. Link • “Dicas de como praticar silêncio”, Juliana Vilarinho. Brahma Kumaris. Link 27Kit Educação Fora da Caixa Mantras Energia em forma de som: significado e intenção Mantras são sons de poder místicos cantados repetidamente e cuja origem remete ao hinduísmo. São encontrados até hoje em diferentes religiões e caminhos espirituais, os quais acreditam que sua vibração sonora pode ter diversos efeitos benéficos sobre nosso corpo e nossa mente. Há várias possibilidades de significado para a palavra mantra, mas uma delas refere-se à “liberação da mente”: Man em sânscrito quer dizer mente, e Tra significa libertação. Por quê? Costuma-se associar os mantras a práticas meditativas, mas os efeitos de sua entoação vão muito além de esvaziar a mente, segundo as tradições espirituais que os praticam (o hinduísmo, o budismo e o jainismo, por Fonte: Asia-Pictures. 28Kit Educação Fora da Caixa Mantras exemplo). A principal premissa por trás dos mantras sustenta que as palavras carregam e desencadeiam efeitos energéticos. Existe um nível relacionado ao significado – sentido que historicamente se atribui às combinações de sons – e outro que se refere à intenção, isto é, nossa motivação pessoal ao dizermos cada palavra. Ambos os níveis se baseiam na energia. Ao recitar um mantra, criamos uma vibração sonora que traz consigo seu “caminho energético”, isto é, uma marca no inconsciente coletivo operada pelas gerações anteriores que entoaram o mesmo canto. Isso contribui para que o mantra provoque de fato os efeitos que lhe são apregoados. Se somarmos a isso uma forte intenção pessoal, os efeitos tendem a se ampliar. Acredita-se que o mantra seja uma forma de energizar o prana ou a energia essencial de cada ser humano. O mestre místico sufi Vilayat Inayat Khan explica da seguinte forma8: “A prática do mantra literalmente amassa a carne do corpo com a repetição de sons. As células delicadas dos complexos feixes de nervos são submetidas a um martelar constante, um ataque à carne pelas vibrações do som divino”. Existem cantos para facilitar a meditação, para adormecer ou despertar, para desenvolver chakras específicos, para obter clareza, conquistar amigos e até mesmo para curar doenças. Alguns mantras também são utilizados em plantas, animais e na água com o intuito de harmonização e energização. As tradições espirituais orientais há muito tempo são estudadas pelo Ocidente. Atualmente, suas práticas têm ganhado grande relevância nos campos mais racionais e científicos – basta ver o movimento de mindfulness norte-americano. Os mantras estão inseridos neste bojo. 29Kit Educação Fora da Caixa Mantras Como? Os mantras, assim como outras práticas meditativas, têm sido utilizados com sucesso em escolas. No Centro de Apoio O Visconde, zona oeste de São Paulo, as mais de 100 crianças matriculadas começaram a fazer ioga e meditação todos os dias. Os reflexos positivos na convivência entre os educandos foram nítidos, e alguns até chegam a melhorar suas notas. Os mantras podem auxiliar-nos em questões do cotidiano, seja como apoio em alguma decisão ou atitude que precisemos tomar ou simplesmente nos fazendo mais resilientes. Algumas correntes espirituais acreditam que os mantras devem ser repetidos 108 vezes e utilizam um instrumento chamado japamálá para ajudar na contagem. No site do Centro de Yoga Vajrapani é possível encontrar uma extensa lista de mantras indianos com efeitos diversos. Os cantos podem ser Japamálá. Fonte: Rufi Sora. 30Kit Educação Fora da Caixa Mantras recitados individualmente ou em grupo e em voz baixa ou alta, desde que haja repetição — necessária para que a energia atue. Selecionei dois cujos efeitos têm relação direta com a aprendizagem: • Mantra para alcançar sucesso nos estudos, na músicae nos empreendimentos artísticos Om Eim Saraswatiyei Swaha Om e saudações ao princípio feminino Saraswati. • Mantra para adquirir confiança e força interior Om Eim Hrim Klim Chamundayei Vichei Namaha Om e saudações àquela que irradia poder e sabedoria. A tradição espiritual indiana aposta na transcendência da mente. O Ocidente insiste em sua supervalorização. O aprendizado que os mantras propõem tem mais a ver com harmonização e sabedoria e menos com conhecimento racional. Para mergulhar • “Mantra”. Wikipédia. Link • “Mantras indianos”. Centro de Yoga Vajrapani. Link • “Mantras, Healing Music and Sounds”. Spiritual Journeys. Link 31Kit Educação Fora da Caixa Árvore da Vida Todos sabemos desenhar uma árvore, não é? A Árvore da Vida é uma metodologia desenvolvida por Ncazelo Ncube em Uganda, no contexto de um trabalho com crianças em situação de vulnerabilidade. O objetivo, no início, era reconectar essas crianças com suas famílias, seus valores e sua herança cultural. A partir das metáforas dos elementos de uma árvore (raízes, solo, caule, galhos, flores, frutos, sementes), cada pessoa é convidada a desenhar uma árvore que represente sua vida, a apreciar as “árvores” dos outros, a falar sobre seus desafios pessoais e a celebrar o melhor de cada um. Fonte: Giacomelli Blog. 32Kit Educação Fora da Caixa Árvore da Vida Por quê? A natureza, desde o início da nossa história, é fonte de significado. De acordo com a facilitadora e consultora Lígia Pimenta, a Árvore da Vida pretende “construir o território de identidade e o sentido de pertencimento e resgatar a conexão dos indivíduos com o lugar em que estão inseridos no mundo” 9. Ela pode ser muito útil, ainda, para fortalecer o autoconhecimento de indivíduos, os vínculos de um grupo e a missão de uma organização. Como? A Árvore da Vida é uma ferramenta narrativa e dialógica que pode ter diferentes aplicações, desde a utilização com crianças em escolas e ONGs até o trabalho com executivos de empresas. É possível aproveitá-la tanto de modo individual como coletivo — neste caso, a metáfora da floresta é acionada. Abaixo segue um exemplo de aplicação com jovens e adultos que busca promover momentos de reflexão e autoconsciência entre os participantes. Trata-se de uma versão mais simples e adaptada de uma atividade que geralmente tem quatro momentos, “A Árvore da Vida”, “A Floresta da Vida”, “As Tempestades da Vida” e “Certificados e Músicas”10. Você vai precisar de folhas sulfite, post-its e canetas coloridas. Lápis de cor e giz de cera também podem ser utilizados. Convide as pessoas para pensar em algum tipo de árvore que faça sentido em suas vidas. Peça a elas para desenhá-la da forma mais expressiva que puderem. Separe alguns minutos para que os participantes reflitam sobre os significados daquela árvore para si mesmos. Oriente-os a escrever sucintamente o que eles veem de significado em cada componente da árvore. Se quiser, você pode comentar um pouco sobre as possibilidades 33Kit Educação Fora da Caixa Árvore da Vida de sentido de cada uma das partes: • Raízes: representam as heranças e as tradições. Uma raiz é uma estrutura nutritiva essencial para que cada um tenha se tornado o que é no presente; • Solo: é o aqui e agora, podendo aludir a todas as características do nosso viver atual: trabalho, família, casa, cidade, projetos dos quais participamos, etc; • Caule: são as habilidades, competências, valores, qualidades e saberes que carregamos conosco. É o eixo de sustentação que nos permite construir o futuro que desejamos; • Galhos: representam as esperanças, expectativas, desejos e sonhos em relação à vida; • Flores: significam o olhar para o que já se tem de bom, para as conquistas em curso e as pequenas vitórias. Podem se referir também ao que sentimos que está mais vivo em nós; • Frutas: são os presentes que recebemos ao longo da vida, ou seja, atos de cuidado e amor que podem ser de cunho material ou não. Também podem representar o valor que nós entregamos ao mundo com as nossas ações; • Folhas: podem se referir às pessoas, parceiros, amigos, grupos e instituições que marcaram nossa vida. • Sementes: simbolizam o nosso legado, ou o que queremos plantar para que floresça no futuro. Peça às pessoas para encontrar uma dupla e apresentar a árvore a ela (de cinco a dez minutos cada apresentação). Entregue post-its a cada dupla para que os participantes possam anotar pensamentos, ideias, lembranças e associações enquanto falam e escutam. Ao final, cada um procura uma nova dupla e repete o processo. Depois, mais uma vez — a cada rodada, a ideia é que as pessoas se enxerguem melhor a partir do contato com o outro. Após as apresentações, monte um círculo de cadeiras e convide as pessoas para uma roda de conversa. Você pode propor perguntas como 34Kit Educação Fora da Caixa Árvore da Vida “como vocês se sentiram ao desenhar a árvore?”, como se sentiram compartilhando-a com as outras pessoas?”, “como se sentiram escutando as apresentações?”, “o que chamou mais a atenção em todo o processo?” etc. Existem diversas outras possibilidades de aplicação, como desenhar a árvore atual e a árvore desejada, criar coletivamente a árvore do grupo ou da organização a partir do “bosque” de árvores individuais, dentre outras. As metáforas da natureza são de fácil assimilação e, por isso, podem levar a descobrimentos poderosos. Para mergulhar • Árvore da Vida, Lígia Pimenta. Grupo de Voluntariado Empresarial. Link • “Tree of Life”. Psychosocial Wellbeing Series. REPSSI. Link 35Kit Educação Fora da Caixa Jornada do Herói Herói é aquele que se transforma e aprende A jornada do herói é um padrão narrativo identificado por Joseph Campbell em diversas histórias antigas e contemporâneas da humanidade. Campbell, um estudioso da mitologia, investigou sistematicamente mitos e histórias de culturas distintas e observou um “fio condutor” entre elas. Posteriormente Christopher Vogler, roteirista de Hollywood, sumarizou as descobertas de Joseph Campbell num memorando elaborado para os estúdios Disney. O documento influenciou intensamente roteiros de cinema e ajudou a disseminar o trabalho de Campbell pelo mundo. Hoje, a jornada do herói é tomada como base para uma variedade de histórias de ficção. “What Makes a Hero?” Matthew Winkler. Fonte: Youtube. 36Kit Educação Fora da Caixa Jornada do Herói Por quê? A jornada do herói costuma ser apresentada por meio de 12 momentos bem definidos, que juntos conformam um ciclo. Ao chegar ao final de sua jornada o herói, no entanto, não retorna no mesmo patamar que originou sua busca. Cada um dos doze passos ajuda a conformar um trajeto cujo propósito, no limite, é a transformação daquele que ousou iniciar a jornada. Esse movimento cíclico pode ser compreendido por meio da figura da espiral. A cada jornada, o herói parte do seu mundo comum para explorar um novo universo. Após vencer uma série de desafios, ele retorna ao mundo conhecido tendo desenvolvido seus poderes, com novos papéis a desempenhar e, principalmente, com muitas histórias e conhecimentos a serem compartilhados. Qualquer semelhança com a trajetória de um percurso de aprendizagem 37Kit Educação Fora da Caixa não é mera coincidência. Yaacov Hetch, educador israelense pioneiro das escolas democráticas, sistematizou uma teoria educativa que denominou de “aprendizagem pluralista”11. Em suma, uma das premissas desse modelo é que, ao mesmo tempo em que construímos conhecimento, também se amplia proporcionalmente nossa “falta de conhecimento” (lack of knowledge). Por meio de percursos cíclicos de aprendizagem – também representados por uma espiral –, retornamos ao nosso mundo conhecendo mais, mas tambémnos questionando mais. Aplicando o modelo à jornada do herói, tem-se que cada vez que ele retorna de uma aventura, suas perguntas crescem na medida dos novos saberes e experiências acumuladas. Talvez seja por isso que o herói sempre anseia por embarcar numa nova jornada. Se todos nós temos um “quê” de herói, a jornada pode ser uma boa lente para compreendermos nossos próprios caminhos de aprendizado. Como? Fonte: Não Me Condene. Jornada do Herói 38Kit Educação Fora da Caixa Os 12 passos da jornada do herói podem ser ordenados da seguinte maneira: Pense em histórias como Matrix, Star Wars e Harry Potter, cujos enredos seguem de forma muito próxima esse caminho. Há também uma divisão em três atos – Apresentação, Conflito e Resolução – detalhados abaixo: Ato I — Apresentação Mundo comum É o mundo conhecido, habitual do herói. Não há surpresas: o herói é apresentado em sua vida banal. Chamado à aventura O herói ouve de algo ou alguém um chamado para iniciar sua jornada. O chamado tem um propósito urgente e intransferível. Recusa do chamado O herói recebeu o chamado, mas escolhe por não o escutar, geralmente porque sente medo. Encontro com o mentor (ou ajuda sobrenatural) Algo ou alguém surge para o herói e uma relação de apoio é estabelecida. O mentor geralmente é uma figura sábia, que guia o herói durante parte de sua jornada. É possível haver vários mentores. Travessia do primeiro limiar É a entrada do herói no mundo desconhecido, a aceitação do chamado. Representa um momento crucial, de tal modo que o herói não pode mais voltar atrás. Jornada do Herói 39Kit Educação Fora da Caixa Ato II — Conflito O ventre da baleia (testes, aliados e inimigos) Uma vez no mundo desconhecido, a aventura tem início. O herói é testado, conquista aliados e luta contra os primeiros inimigos, e com isso aprende as “regras do jogo” do novo universo. Aproximação da caverna oculta O herói chega no local mais perigoso da jornada, onde se encontra o que lhe causa mais medo. Provação suprema Momento em que o herói enfrenta sua ameaça mais temida. Durante a luta, o herói precisa morrer – seja literal ou metaforicamente – para então renascer capaz de derrotar seu maior inimigo. Depois de quase perder, ele enfim vence a batalha. Recompensa Após derrotar seu maior inimigo, o herói obtém uma recompensa, geralmente representada por um elixir ou algum outro objeto. A recompensa pode também vir na forma de novos aprendizados e de reconhecimento. Ato III — Resolução Caminho de volta O herói precisa retornar ao mundo conhecido, mas a volta não será fácil. Seus inimigos preparam-lhe um golpe final. Ressurreição Ao fazer a viagem de retorno para o seu mundo, o herói é surpreendido e precisa enfrentar a batalha final. Nessa luta, ele precisa aplicar todos os aprendizados que teve durante a jornada. Ao conseguir a vitória, o herói renasce, isto é, transforma-se de dentro para fora. O renascimento Jornada do Herói 40Kit Educação Fora da Caixa representa a purificação necessária para que ele possa retornar ao mundo comum. Retorno com o elixir O herói retorna ao seu mundo e carrega consigo a recompensa da jornada. Tendo feito todo o percurso, ele agora é capaz de colher os frutos. O herói goza de mais liberdade, compartilha seus aprendizados e faz algo em retribuição à sua comunidade. Existem muitos outros detalhes e entendimentos possíveis da jornada. Uma complementação interessante é a descrição dos arquétipos (personagens simbólicos) que surgem durante o trajeto. Ao tomar contato com os 12 passos, que pontes poderiam ser feitas com a educação? Acredito que a jornada do herói pode ser encarada como uma metáfora do nosso próprio percurso de desenvolvimento. É possível, por exemplo, fazer a si próprio as seguintes questões: Quais chamados eu tenho escutado? Quais tenho me recusado a escutar? Quem poderiam ser meus mentores? O que é importante para que eu cruze o limiar e inicie minha jornada? Quem são meus aliados e quais são meus desafios? Do que eu tenho mais medo? Como eu poderia renascer para enfrentar o que me ameaça? Que recompensas eu poderia ter ao embarcar numa jornada? Quais sabedorias eu quero compartilhar com os habitantes do meu mundo? Todas essas perguntas poderiam ser feitas à luz da jornada do herói. Ao compreender o paradoxo da aprendizagem conforme elucidado por Yaacov Hetch (mais conhecimento = mais questionamento), fica claro que a jornada nunca termina. Aprender é pra vida toda. Jornada do Herói 41Kit Educação Fora da Caixa Para mergulhar: • “A Jornada do Herói descomplicada em 12 passos” [vídeo]. Cabine Literária. Youtube. Link • “A Jornada do Herói Mitológico”, Luiz Eduardo Ricón. II Simpósio RPG e Educação. Link • Arquétipos da Jornada do herói. Heróis e Mitos. Link • “A Jornada de Lucy (1ª parte)”, André Camargo. Obvious. Link • “A Jornada de Lucy (2ª parte)”, André Camargo. Link • “The Hero Archetype in Literature, Religion, and Popular Culture”. Tat’s box. Link Jornada do Herói 42Kit Educação Fora da Caixa Criar e fortalecer laços Como transformar convivência em aprendência? 43Kit Educação Fora da Caixa World Café Fazendo emergir nossa inteligência coletiva O World Café é uma abordagem de conversação em grupo bastante utilizada em todo o mundo. Criada por Juanita Brown e David Isaacs, a técnica é muito útil para estimular a criatividade de um conjunto de pessoas por meio da interação e, assim, gerar (ou trazer à tona) sua inteligência coletiva. Desde quando o primeiro World Café ocorreu na Califórnia, em 1995, a utilização da abordagem foi sendo ampliada progressivamente. No site da comunidade global do World Café há um mapa com os registros de algumas de suas aplicações: Fonte: The World Café. 44Kit Educação Fora da Caixa World Café O World Café caracteriza-se pelos seguintes elementos: • É baseado em perguntas que estimulam os participantes a se engajarem em conversas significativas; • Há a disposição de grupos de quatro ou cinco pessoas em mesas redondas no estilo de um Café; • São realizadas rodadas de conversa de 20 a 30 minutos cada que, ao se sucederem, originam o fenômeno da “polinização cruzada”, isto é, a conexão de ideias entre os participantes; • Escolhe-se livremente um “anfitrião” para cada mesa, que permanecerá sentado durante as rodadas e atualizará os novos convidados sobre os principais insights da rodada anterior; • As pessoas são encorajadas a escrever, desenhar e rabiscar as ideias em cartolinas, post-its e até nas próprias toalhas de mesa; • Há ao final um momento de compartilhamento – chamado de colheita – com todos os participantes juntos, geralmente dispostos num formato circular, em que se conta o que mais chamou atenção nas conversas das mesas. Fonte: ProJourno. 45Kit Educação Fora da Caixa Por quê? Você já foi a um evento ou discussão e sentiu que seria muito mais produtivo se as pessoas pudessem simplesmente conversar entre si, mais do que assistirem a palestras? Uma das premissas básicas do World Café é que todos têm conhecimento para compartilhar. Cada um traz consigo seu leque de histórias, perspectivas, sonhos, ideias e sabedorias. Neste sentido, o Café torna possível quebrarmos a lógica broadcasting do “um para muitos” e enfatizar a visão sistêmica, por meio de conversas baseadas na horizontalidade e na colaboração. Outro aspecto do World Café é seu potencial de engajamento. Na medida em que os participantes vão trocando de mesa, é como se a distância entre eles diminuísse. O World Café funciona como uma metáfora de nossas conversas cotidianas, que se cruzam formando redes de interação em escalas cada vez maiores. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que se nutre umambiente de intimidade (nas mesas), o engajamento cresce por meio das conexões entre perspectivas distintas (em todo o grupo). Ao final de um bom World Café, geralmente as pessoas não vão embora, elas permanecem na sala conversando. Isso é um ótimo indicativo de mobilização. O fato de a abordagem poder conjugar um grande número de participantes com interações mais íntimas em cada uma das mesas junta o melhor de dois mundos. Já houve Cafés com mais de 1000 pessoas sobre os mais variados assuntos. Por mais que conversar seja algo trivial, testar uma nova forma de interação pode trazer resultados interessantes justamente pelo fato de se cuidar com carinho do processo. Como? O World Café funciona muito bem com grupos de 16 a até milhares de pessoas, desde que elas estejam genuinamente interessadas nas perguntas feitas. Numa sala de aula, por exemplo, é possível criar um Café para que os educandos dialoguem sobre suas questões e ideias a respeito World Café 46Kit Educação Fora da Caixa de um tema (é interessante que eles também participem da definição do que vai ser conversado). Ao sistematizar a abordagem, Juanita Brown e a comunidade global do World Café apontaram seis diretrizes a serem consideradas por quem pretende anfitriar um Café12: • Tenha consciência do propósito do seu World Café; • Crie um espaço receptivo e hospitaleiro; • Crie perguntas relevantes para os participantes; • Estimule as contribuições de todos; • Conecte perspectivas distintas; • Promova a escuta conjunta e compartilhe as descobertas. A utilização dos Cafés pode servir ainda a fins de pesquisa, no sentido de engajar diferentes públicos em diálogos frutíferos. Imagine, por exemplo, que você está estudando comunidades quilombolas: propor um World Café com a presença de representantes de comunidades distintas poderia ser uma ótima forma de fazer emergir os aspectos mais sutis do tema. Como a interação é a tônica do processo, abre-se espaço para o inesperado. Existem várias formas de aplicar o World Café, desde seu uso em políticas públicas até conversas estratégicas em empresas. Algumas dicas: • Trabalhe muito bem a construção das perguntas. Faça isso junto com alguns participantes do seu Café (eles saberão melhor do que ninguém se as questões são relevantes). • Não utilize o World Café caso sua intenção seja “transmitir” conhecimento ao grupo. Caso esse seja o objetivo, é melhor dar uma palestra ou uma aula. • No momento final da colheita, tenha uma forma de registrar visualmente a essência do que está sendo dito. Uma boa maneira de fazer isso é por meio da facilitação gráfica13. • Tenha atenção aos detalhes: as boas-vindas aos participantes, World Café 47Kit Educação Fora da Caixa a decoração das mesas, a qualidade do espaço etc. Uma música de fundo durante as conversas também pode ser interessante. • O World Café pode ser parte de uma programação mais ampla que contemple também outros momentos (palestras, vivências, reflexões etc). Que tal experimentar o poder da inteligência coletiva com os grupos dos quais você já faz parte? Para mergulhar • “Diálogos colaborativos: aprendizado, diversão e experiências”, Paulo Campos. Mochileiro Corporativo. Exame. Link • “World Café Para Viagem”. The World Café. Link • “A resource guide for the world café”, Juanita Brown e a comunidade do World Café. Link World Café 48Kit Educação Fora da Caixa Open Space Dando voz a todos O Open Space – traduzido por alguns como Tecnologia do Espaço Aberto – é uma forma de se realizar reuniões criativas partindo do que é mais importante para cada grupo. A ideia é que coletivos possam se auto organizar para interagir em torno de temas complexos, estratégicos e urgentes. Útil a encontros de algumas dezenas de participantes a reuniões com mais de mil pessoas, o Open Space caracteriza-se como uma abordagem autogerida, não proprietária e altamente interativa. Pelo fato de os próprios participantes proporem e decidirem toda a agenda, as conversas de um Open Space tendem a sustentar um grande nível de engajamento. Fonte: Wikipedia. 49Kit Educação Fora da Caixa Por quê? O norte-americano Harrison Owen – quem primeiro sistematizou o Open Space – inspirou-se em elementos de culturas diversas para propor o método. Notadamente, ao participar de um rito de uma aldeia situada na Libéria, ele percebeu como toda a organização transcorria sem nenhuma coordenação central. As pessoas se responsabilizavam por diferentes espaços e tarefas, outras ajudavam, e as informações fluíam de um lugar para o outro sem dificuldade. Aglutinando o poder da auto-organização com outras inspirações baseadas no diálogo, Owen “iniciou” o Open Space como um formato que potencializa a diversidade e o caos criativo. De certa forma, o método ajuda a tornar visível a complexidade das organizações e comunidades que dele se utilizam. Isso porque o Open Space busca eliminar as regras impostas e abrir espaço para o que emerge do grupo. Durante um Open Space, abandonamos o automatismo de sempre termos as respostas prontas. Trata-se menos da competência específica de um consultor ou palestrante e mais da capacidade de todos de cocriar. Dentre diversas abordagens úteis à cocriação, o Open Space é uma das que menos depende de um facilitador, o que contribui para a facilidade de sua aplicação. Open Space 50Kit Educação Fora da Caixa Como? Um Open Space sempre tem um tema central que interessa a todos os participantes, geralmente orientado para a ação (um novo projeto, por exemplo). Diversas conversas ocorrem simultaneamente e podem tratar de assuntos distintos, desde que haja conexão com o tema proposto. As reuniões funcionam melhor quando têm temas urgentes, complexos e que despertem a diversidade de pontos de vista. A agenda de um Open Space não é definida a priori: todas as pessoas juntas se reúnem no início e criam a pauta num grande círculo. Antes do início é preciso explicar os quatro princípios que guiam o Open Space: • “As pessoas que vierem são as pessoas certas”: abrir mão da Open Space Fonte: Vinyl Baustein. 51Kit Educação Fora da Caixa Open Space nossa expectativa em relação a quem deve vir na reunião. • “A hora que começar é a hora certa para começar”: abrir mão da nossa expectativa quanto ao horário de início das sessões: as coisas acontecem quando estão prontas para acontecer. • “O que acontecer é a única coisa que poderia ter acontecido”: abrir mão da nossa expectativa sobre como as interações devem acontecer e para onde a conversa deve fluir. • “Quando acabar, acabou”: abrir mão da nossa expectativa no que se refere à quando devemos terminar uma conversa. Se terminar antes é porque tudo já foi tratado; caso a interação se estenda, talvez seja realmente necessário. Além desses quatro princípios, o Open Space é regido pela lei dos dois pés. Em suma, ela reafirma a responsabilidade de cada um para com seu aprendizado e suas contribuições e confere a todos a liberdade de ir e vir. Assim, a ideia é que as pessoas participem do que realmente têm vontade, podendo sair de uma conversa sempre que entenderem que não estão fazendo a diferença ali. A lei dos dois pés permite o surgimento da figura das “abelhas” — os participantes que levam informações de um grupo a outro — e das “borboletas”, que podem optar por não participar de nenhum grupo para fazerem o que consideram mais importante. Às vezes, o encontro entre duas ou mais borboletas pode acabar inaugurando uma nova conversa. Após explicar os quatro princípios e a lei dos dois pés, o grupo começa a montar a agenda do Open Space. Todos são convidados a refletir por um momento em silêncio e em seguida, caso queiram, poderão oferecer sessões às quais queiram assumir responsabilidade.Uma parede já deve estar preparada com o esqueleto de uma tabela contendo os tempos e espaços reservados para as sessões. Um Open Space pode durar de duas horas a até vários dias. 52Kit Educação Fora da Caixa Open Space Exemplo de agenda de um Open Space. Após todos os espaços da agenda estarem ocupados, os participantes aproximam-se do mural para olharem as ofertas e decidirem de quais sessões querem participar. Em seguida, as pessoas encaminham-se para suas sessões iniciais e os trabalhos começam. O participante que ofertou uma interação na agenda é responsável por facilitar a sessão e registrar a essência do que está sendo discutido. É comum que a tarefa de registro seja “delegada” a algum outro participante, para que ninguém fique sobrecarregado. A preparação de um Open Space é muito importante. O facilitador e os proponentes do encontro devem zelar para que todas as pessoas que possam agregar perspectivas importantes para o tema sejam convidadas. O momento final, geralmente feito numa grande plenária, é a oportunidade de compartilhar os pontos cruciais de cada sessão e comentar sobre como foi o processo. Nessa hora, pode ser interessante utilizar um objeto da fala (veja mais detalhes na ferramenta de mesmo nome). Sala Principal Salão de Chá Lounge Biblioteca Jardim 8:30 - 9:30 Encontro da comunidade 9:30 - 11:30 11:00 - 13:00 13:00 - 14:00 Almoço 14:00 - 15:30 14:00 - 17:30 17:30 - 18:00 Convergência 53Kit Educação Fora da Caixa Open Space O Open Space pode ser aplicado em situações diversas, desde que haja um tema “quente” e um grupo disposto a experimentar uma forma de trabalho colaborativa. Em escolas, por exemplo, o método pode ser uma boa forma de elaborar novas estratégias e solucionar desafios; em organizações, o Open Space pode servir para engajar todos os funcionários e partes interessadas num novo projeto. Para mergulhar • “Open Space World”, versão em português. Link • “Textos sobre OST (Espaço Aberto)”. Instituto OST. Link • “Open Space: A User’s Guide”, Harrison Owen. Link 54Kit Educação Fora da Caixa Pro Action Café Apostando no poder que temos de nos ajudar O Pro Action Café é uma metodologia de conversação em grupo cujo propósito é desenvolver projetos e aprofundar ideias importantes para os participantes. Um Pro Action é capaz de transformar um grupo num “container” criativo, aproveitando a sabedoria coletiva que se revela nas interações. Criada por Ria Baeck e Rainer von Leoprechting, a abordagem surgiu na Bélgica a partir de uma mescla das técnicas Open Space e World Café. Fonte: Leadership for Sustainability. 55Kit Educação Fora da Caixa Por quê? O Open Space é um método para se criar reuniões cujos elementos principais são o forte senso de urgência e a liberdade radical. Por outro lado, o World Café tem o poder de “polinizar” conversas e, assim, revelar os padrões existentes e gerar engajamento. O Pro Action Café é abastecido por ambos os formatos. É capaz, portanto, de acolher as vontades do grupo por meio de uma agenda cocriada, ao mesmo tempo em que propõe algumas perguntas para sustentar as conversas. Assim como as duas abordagens que lhe deram origem, o Pro Action Café altera a maneira habitual com que interagimos. Menos interrupções, mais escuta; ao invés de agendas impostas, convites para o diálogo; antes das respostas na ponta da língua, perguntas que fazem pensar. O que torna o Pro Action único, no entanto, é sua facilidade em revelar o potencial de ajuda mútua disponível em qualquer grupo. Pro Action Café Fonte: Metro HNL. 56Kit Educação Fora da Caixa Como? O Pro Action pode ser aplicado tanto de forma totalmente livre, com as pessoas trazendo seus projetos e questões, ou a partir de um tema ou contexto específico. No caso dos Círculos de Doutorandos Informais, por exemplo, orientamos os participantes a trazerem seus próprios projetos de aprendizagem. Para fazer um Pro Action Café você vai precisar de materiais como canetinhas coloridas, folhas grandes, papéis tamanho A4, post-its e tudo o mais que ajude as pessoas a rabiscarem suas ideias enquanto conversam. Encontrar um espaço que seja acolhedor, tranquilo e informal também é imprescindível para criar a atmosfera de um verdadeiro Café. No caso de grupos maiores, também será necessário montar um quadro num local visível a todos, de modo que funcione como o esqueleto da agenda a ser preenchido pelos participantes no início do encontro. O primeiro movimento é convidar as pessoas a compartilharem seus projetos ou questões (não é necessário que todos o façam, somente quem quiser). Cada um escreve numa folha o nome do projeto e, então, conta rapidamente do que se trata para os demais participantes. É preciso que o número de pessoas ofertando projetos seja menor do que o total de participantes: a proporção 1:4 é perfeita. Isso significa que, se o grupo tem 40 pessoas, então dez participantes poderão propor projetos. Isso é importante para que todos os grupos tenham por volta de quatro pessoas, um número ideal para equilibrar diversidade e intimidade em cada mesa. Após todas as questões e projetos terem sido compartilhados, todos os outros participantes encaminham-se para as mesas que desejarem. O facilitador deve cuidar para que o número de pessoas por grupo fique equilibrado. Neste momento, é importante que o facilitador fale um pouco sobre algumas diretrizes que guiarão as conversas: Pro Action Café 57Kit Educação Fora da Caixa Pro Action Café • Falas na primeira pessoa (eu), partindo das experiências dos participantes; • Utilização de um objeto da fala, como uma forma de tornar as conversas mais profundas; • “Escavar” a fala do outro procurando por padrões e significados mais profundos, fazendo perguntas de exploração; • Estimular os participantes a escreverem e desenharem nas folhas que estarão à sua disposição nas mesas. Após explicar as diretrizes, os diálogos começam. A ideia é que os participantes que propuseram projetos possam interagir com as demais pessoas do seu grupo de modo a ampliar suas ideias e insights. Um Pro Action Café tem geralmente três rodadas de conversação, cada uma guiada por uma pergunta distinta14: • Rodada 1: por quê/para quê? O que está por trás desta questão ou projeto? Qual é a missão que o projeto busca atender? • Rodada 2: o que não estamos vendo? O que falta para termos uma compreensão completa a respeito da questão ou do projeto? • Rodada 3: quais os próximos passos? Quais ajudas são necessárias? O que eu aprendi nessa conversa? Cada rodada dura em torno de 20 a 30 minutos e, ao final, as pessoas trocam de mesa. Permanecem apenas os “donos” dos projetos. As perguntas devem estar claras para os participantes e podem ser escritas em cartolinas afixadas nas paredes. Pode ser interessante uma pequena pausa entre as rodadas. Ao final, reúne-se as pessoas num círculo de cadeiras para conversar sobre como foi o processo. Quem propôs um projeto é convidado a falar sobre como percebeu a evolução de sua ideia inicial, e os demais participantes são estimulados a compartilhar suas impressões e insights. 58Kit Educação Fora da Caixa Pro Action Café O Pro Action Café é um processo vivo, e assim como as duas abordagens que o originaram, merece ser experimentado por qualquer grupo que deseja manifestar sua inteligência coletiva. Para mergulhar • “Verbete Draft: o que é Pro Action Café”, Isabela Mena. Projeto Draft. Link • “Pro Action Café”, Ria Baeck e Andries De Vos. Ning. Link • “Art of Hosting – Proaction Cafe” [vídeo]. Youtube. Link 59Kit Educação Fora da Caixa Aquário Diálogo focado e muito conhecimento compartilhado O Aquário é um formato de diálogo em grupo que busca tornar maisefetivos os papéis de fala e de escuta dos participantes. As pessoas são dispostas em dois círculos concêntricos (ou mais, a depender do número de participantes), de modo que somente quem está no círculo de dentro pode falar, e os demais exercem o poder da escuta. O nome Aquário representa metaforicamente o movimento físico que os participantes precisam fazer para “mergulhar” na conversa. Por quê? O idealizador das conversações em Aquário é desconhecido; há quem acredite que foi Peter Senge, consultor e autor de livros de aprendizagem organizacional. O problema que o Aquário busca resolver refere-se à Fonte: Festival Path 2015. 60Kit Educação Fora da Caixa dificuldade que alguns grupos têm de conversar: numa reunião comum, pode ser que algumas pessoas monopolizem a conversa. Por outro lado, outros participantes acabam optando por não falar por medo de serem interrompidos ou julgados, ou simplesmente porque seu ritmo está mais lento do que o do grupo. Neste sentido, o Aquário favorece a valorização de quem fala e de quem escuta porque propõe uma movimentação tangível entre esses papéis. É preciso se levantar e ocupar uma cadeira do círculo de dentro para falar. O fato de haver um número limitado de assentos no centro indica que a conversa tem um foco claro, embora a participação de todos continue sendo estimulada por meio de uma cadeira que sempre deve ficar vazia. Por haver uma grande quantidade de pessoas que escutam ativamente no círculo de fora, isso também reforça a qualidade do diálogo. Os círculos de fora também cumprem a função de minimizar o risco de alguém monopolizar a conversa. Caso isso aconteça, a pessoa estará em evidência e a probabilidade de que ela se dê conta é maior. Além disso, quem costuma ser muito calado também tende a se perceber mais, uma vez que a cadeira vazia “está sempre lá” para permitir as contribuições de todos. Desse modo, o Aquário promove o desenvolvimento da fala com intenção e da escuta com atenção. Outra razão para se experimentar o Aquário é o melhor aproveitamento do tempo. A frequência de interrupções inoportunas e distrações costuma ser bastante reduzida em comparação ao formato de reunião tradicional. Aquário 61Kit Educação Fora da Caixa Como? Para se realizar um Aquário, você precisará apenas de cadeiras e de algo para registrar a conversa, como um painel ou um cavalete flipchart. Uma pessoa, então, responsabiliza-se por criar um registro visual que vai sendo atualizado simultaneamente à conversa. Para iniciar o Aquário, o facilitador pode dar as boas-vindas aos participantes já sentado no círculo de dentro (isso ajuda as pessoas a compreenderem que aquele é o lugar da fala). Ele explica brevemente o tema do encontro, como ocorrerá a interação e convida as pessoas a entrarem no círculo de dentro. Pode ser interessante compartilhar uma pergunta-chave ou uma história que se conecte com o tema central. Os pontos principais que o facilitador precisa elucidar em relação ao funcionamento do Aquário são os seguintes: • O círculo de dentro é onde o diálogo acontecerá. • O círculo de fora exerce uma função igualmente importante, Aquário Fonte:Wikipedia. 62Kit Educação Fora da Caixa Aquário a da escuta. Todos que escutam são fundamentais para a qualidade da conversa. • O elemento de conexão entre o círculo de dentro e o de fora é a cadeira vazia, que poderá ser ocupada a qualquer momento, por qualquer pessoa. • A regra de ouro é: uma cadeira deve permanecer sempre vazia. Isso porque a possibilidade de todos participarem é crucial para se aproveitar ao máximo a sabedoria do grupo. • Não é preciso se preocupar com a movimentação de pessoas de um círculo para o outro. Isso ocorre de forma bastante orgânica, sem a necessidade de intervenções. Quando alguém ocupa a cadeira vazia, alguém do círculo de dentro sai. • Os pontos essenciais da conversa serão registrados num painel visível a todos. Após essa introdução, pode ser que demore um pouco para os primeiros participantes ocuparem as cadeiras do círculo de dentro. Não se preocupe com isso. Momentos de silêncio são importantes, e poderão acontecer também durante o diálogo. Em momentos específicos, quem está facilitando pode entrar na conversa e abastecê-la com comentários sobre o processo ou novas perguntas (logo após uma pausa, por exemplo). Quando chegar a hora de finalizar o diálogo, o facilitador entra no círculo de dentro e encerra o Aquário. As aplicações do Aquário são diversas, e é notável sua utilização por educadores. Trata-se de uma ótima maneira de engajar os educandos em uma conversa produtiva. Outra forma é aproveitá-lo em eventos, de modo que palestrantes e participantes tenham um canal direto de interação. No caso, uma variação que pode ser útil é orientar os palestrantes a permanecerem no círculo de dentro durante toda a conversa. O Aquário funciona muito bem com grupos a partir de 15 pessoas. A possibilidade de incluir mais de um círculo de fora (as outras cadeiras vão 63Kit Educação Fora da Caixa Aquário sendo posicionadas atrás do primeiro círculo) permite que um Aquário possa ter até 120 participantes, desde que haja microfones disponíveis. Organizações sociais, empresas e escolas têm utilizado o Aquário para potencializar a fala e a escuta de grupos, maximizando a qualidade das interações. Entre círculos de dentro e de fora, somos capazes de mergulhar mais fundo. Para mergulhar • “Ferramentas de diálogo”, Augusto de Franco. Escola de Redes. Link • “Fishbowl”. Knowledge Sharing Toolkit. Link • “Fishbowl (conversation)”. Wikipedia. Link 64Kit Educação Fora da Caixa Objeto da Fala O poder da escuta capaz de abrir corações Um objeto ou bastão da fala tem o objetivo de aprofundar diálogos por meio da explicitação das funções de fala e escuta. Quem segura o objeto pode falar, e quem não está com ele exerce a função de escutar. Geralmente utilizado em conversas de grupo, o objeto da fala costuma ser associado a diversos formatos de diálogo, como por exemplo o Círculo, o World Café ou o Pro Action Café. Por quê? A origem do objeto da fala remete a aldeias indígenas da América do Norte15. Desde tempos ancestrais, alguns povos utilizam bastões da fala em conselhos, círculos de contação de histórias, tomadas de decisão, Fonte: Festival Path 2015. 65Kit Educação Fora da Caixa cerimônias coletivas e até mesmo para ensinar crianças. Hoje, muitos grupos ao redor do mundo estão utilizando os objetos da fala para terem conversas mais significativas. Certa vez, participando do grupo de e-mails da comunidade Art of Hosting — uma rede global de anfitriões de conversas significativas —, li a seguinte pérola: “Talking piece = talk in peace” Em português a expressão perde o charme, mas uma tradução possível seria “objeto da fala = falar em paz”. Heather Plett, uma facilitadora de diálogo do Canadá, sustenta que quando uma conversa é guiada pelo objeto da fala, as pessoas tendem a falar com mais intenção. Além disso, os participantes são instigados a escutar atentamente e as pessoas se dispõem mais a respeitar as perspectivas de cada um16. Assim, o objeto da fala torna-se capaz de dissolver as interrupções, ampliar os silêncios geradores e, quase sempre, sustentar maiores doses de presença e vulnerabilidade nas conversas. Quando uma pessoa se mostra vulnerável e expõe suas fragilidades, isso causa uma reação imediata em quem escuta, abrindo os corações de todo o grupo. Heather Plett sumariza cinco motivos pelos quais deveríamos utilizar mais os objetos da fala17: • O objeto da fala convida-nos a escutar muito mais do que a falar; • O objeto da fala encoraja-nos a sair de uma postura de tentar resolver os problemas do outro; • O objeto da fala faz comque todas as vozes sejam iguais; • O objeto da fala convida-nos a estar mais presentes fisicamente na conversa; • O objeto da fala cria o silêncio necessário para que as falas venham do coração. Objeto da Fala 66Kit Educação Fora da Caixa Como? Num círculo de conversa, o objeto da fala pode ser utilizado de duas formas: passando de mão em mão ou sendo devolvido sempre ao centro do círculo quando alguém termina de falar. A primeira maneira é útil para aprofundar as percepções de cada um, ao passo que o segundo modo favorece as conexões entre as falas. O Co-Intelligence Institute, ao apresentar a prática dos círculos de escuta, acaba também descrevendo o uso do objeto da fala (no caso, passando de mão em mão)18: “Imagine que nós estamos fazendo um círculo de escuta. Eu, você e alguns amigos estamos sentados num círculo de cadeiras. Nós então contamos a algumas pessoas que estão chegando o que elas podem esperar. Quando todos temos clareza do que vai acontecer, nosso círculo começa. Nós sentamos em silêncio. Um bastão (ou outro objeto que caiba nas Objeto da Fala Fonte: Heather Plett. 67Kit Educação Fora da Caixa Objeto da Fala mãos) está posicionado no meio do círculo. Uma mulher que se sentiu tocada para falar pega o bastão. Ela o segura enquanto fala, e todos nós escutamos o que ela diz. Ninguém fala até que esteja segurando o bastão. Nós não nos deixamos levar pelo fluxo usual das conversações, em que uma pessoa adiciona comentários à fala do outro. Quando a mulher termina de falar, ela passa o bastão para o homem à sua esquerda, que permanece por um momento em silêncio. Depois de alguns minutos ele passa o bastão para a pessoa à sua esquerda e assim continua. O bastão segue contornando o círculo, com cada um de nós falando em turnos e o restante das pessoas escutando. Quando o tempo agendado para o nosso círculo acaba — ou quando o bastão completa uma volta e nenhum de nós fala — o bastão é devolvido para o centro e nosso círculo é finalizado”. Segundo George Pór, conversas circulares ancoradas por um objeto da fala podem ser úteis para fomentar comunidades de aprendizagem, tomar decisões, resolver conflitos, priorizar oportunidades, dentre outras aplicações. No contexto da educação escolar, o objeto da fala pode ser interessante para desde reuniões de professores até interações mais profundas na sala de aula. Em percursos independentes de aprendizagem, o objeto da fala pode ser aproveitado em atividades de pesquisa, como por exemplo entrevistas-diálogo ou grupos focais. Desde sua origem, os objetos da fala carregam consigo uma simbologia sagrada. Representam o poder da fala que vem do coração e o respeito pelas vozes de todos. Neste sentido, são como verdadeiros facilitadores. 68Kit Educação Fora da Caixa Objeto da Fala Para mergulhar • “Aprendendo a falar e a ouvir com o bastão da fala”, Mônica Alvarenga. Grupo Foco. Link • “O Bastão da Fala (utilizado nas reuniões dos grupos de apoio da AADA)”, Carol Locust. AADA – Associação de Apoio à Dermatite Atópica. Link • “Why we need more talking pieces”, Heather Plett. Link • “The ‘Talking Stick’ Circle: an ancient tool for better decision making and strengthening community”, George Pór. Terrapsych. com. Link 69Kit Educação Fora da Caixa Compartilhamento Biográfico Olhando com carinho para o nosso passado O compartilhamento biográfico é uma das atividades que compõem o trabalho biográfico, cujo maior expoente no Brasil é a médica antroposófica Gudrun Burkhard. O processo consiste em levantar os fatos de nossa biografia e compartilhá-las num pequeno grupo, de modo a se exercitar a escuta e a suspensão de julgamentos e interpretações. Geralmente conduzido em períodos de quatro a sete dias de imersão, o trabalho biográfico em grupo pode ser adaptado a diferentes contextos e demandas. 70Kit Educação Fora da Caixa Por quê? Cada biografia humana é um tesouro infindável de histórias, significados e potenciais aprendizados. Ancorada em extensos estudos biográficos realizados por Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, e por Bernard Lievegoed, antropósofo e médico holandês, Gudrun Burkhard tem dedicado sua vida à missão de disseminar o trabalho biográfico pelo mundo. Em seu livro “Tomar a Vida nas Próprias Mãos” ela diz: “Quando encontramos uma pessoa que há muito tempo não vemos, ocorre um fato interessante. Primeiro tentamos lembrar-nos de seu nome, de onde a conhecemos, há quantos anos isto ocorreu, e começamos a contar o que aconteceu em nossas vidas desde aquele último encontro. Contamos um pedaço de nossas biografias, e com isso a lembrança vai aparecendo, cada vez mais nítida, diante de nós. Se fizermos este levantamento da história da vida de maneira sistemática, estaremos então fazendo um trabalho biográfico”. Ainda segundo Gudrun, trabalhar a biografia não significa ficarmos algemados ao passado, e sim integrá-lo ao presente para que possamos viver com mais liberdade. Elaborar, integrar e aceitar o passado tornam- se, então, cruciais para que criemos conscientemente nosso futuro. No caso específico do compartilhamento biográfico – que responde apenas por uma pequena parte do universo dos trabalhos com a biografia –, o grupo aparece como elemento primordial. Escutar a história de vida de alguém com o apoio de mais algumas pessoas pode nos ajudar a perceber: • A diversidade e a riqueza de contextos em que cada pessoa está inserida, o que amplia nossa visão sistêmica e nossa capacidade de empatia; • A sabedoria do outro, expressa não apenas nos conhecimentos técnicos ou formais, mas principalmente na narrativa dos aprendizados informais; Compartilhamento Biográfico 71Kit Educação Fora da Caixa • As melhores maneiras de ajudar alguém num momento de crise, as quais geralmente tem a ver mais com escuta e acolhimento e menos com aconselhamentos; • A humanidade que nos une, por mais que sejamos diferentes. Como? Antes de se fazer um compartilhamento biográfico, é preciso que cada pessoa resgate individualmente sua biografia. Para tanto, a antroposofia toma como referência os setênios, períodos de sete em sete anos que contemplam diferentes fases do desenvolvimento humano. Há uma extensa bibliografia a respeito das fases da vida entendidas sob essa perspectiva, que não será tratada aqui. A forma mais simples de se conduzir um resgate biográfico é pedir a cada pessoa para rememorar acontecimentos e histórias de vida desde sua primeira lembrança (algumas variações focalizam determinado período ou contexto específico). Nesse momento, a divisão por setênios pode atuar de forma didática para ajudar a memória a trabalhar. Os participantes vão anotando as lembranças que vêm à mente, até chegarem nos dias atuais. Em seguida, é hora de preparar o campo para os compartilhamentos começarem. O grupo deve ser composto de três a cinco pessoas, e caso o número de participantes seja maior, mais grupos deverão ser formados. A duração do encontro dependerá das circunstâncias, mas é recomendável separar ao menos de duas a três horas para que as trocas não sejam superficiais. Ao orientar um grupo para o início do compartilhamento biográfico, é preciso ter em vista que se trata de um momento ao mesmo tempo muito potente e delicado. Também é necessário atentar que: • Cada pessoa compartilha somente o que quiser e se sentir à vontade com o grupo; Compartilhamento Biográfico 72Kit Educação Fora da Caixa • A escuta do grupo é o elemento mais importante a ser cuidado, de modo a se prezar pela suspensão de julgamentos e interpretações; • Não deve haver interrupções durante o relato do outro, a não ser no formato de perguntas; • Ao se fazer perguntas, é preciso saber distinguir o que é mera curiosidade
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