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Kit Educação Fora da Caixa - Dinâmicas

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Prévia do material em texto

ALEX BRETAS 
2015
K
I
T
KIT EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA 
50 ferramentas para quem quer sair da caixa da educação
Projeto gráfico: 
ADRIANA PESSOA BARBOSA
Diagramação: 
ACÁCIA DE ALMEIDA
Revisão: 
ANA LUIZA ROCHA DO VALLE
Um agradecimento especial aos mais 
de 60 apoiadores mensais do Unlock 
que ajudaram a tornar este livro uma 
realidade. Agradeço também à Mayara 
Freitas, à Mariana Baldi e à Valeria 
Gianella, pelas importantes ajudas e 
contribuições.
Licença Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional
Você tem a liberdade de:
Compartilhar: copiar, distribuir e transmitir a obra.
Remixar: criar obras derivadas.
Sob as seguintes condições:
Atribuição: você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante 
(mas não de maneira que sugira que este concede qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).
Uso não comercial: você não pode usar esta obra para fins comerciais.
Compartilhamento pela mesma licença: se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você 
poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente.
Renúncia: qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão 
do titular dos direitos autorais.
SUMÁRIO
06Apresentação 
do Kit
09O Menininho
13APRENDER 
CONSIGO MESMO
14Pensar, Sentir e 
Querer
19Quatro degraus da 
aprendizagem
23Silêncio
27Mantras
31Árvore da Vida
35Jornada do Herói
78EXPERIMENTAR 
NOVAS LENTES
79Biomimética
83Permacultura
90Teoria U
95Jornadas de 
Aprendizagem
100Pedagogia da 
Cooperação
1061 dia na vida
110RPG
114Leitura Objetivada
117Intervenções e 
Performances
CRIAR E 
FORTALECER 
LAÇOS
43
42
World Café
48Open Space
54Pro Action Café
59Aquário
64Objeto da Fala
69Compartilhamento 
Biográfico
75Pé de Galinha
. SUMÁRIO
121
DESPERTAR O 
MELHOR DO 
OUTRO
135Microaula 
122Perguntas 
poderosas 
139Cartas
127Pedir e Oferecer
143Personamimética 
131Mentoria
146GERAR 
ENGAJAMENTO
147Comprometimento 
Público
151Contar Histórias 
159Rituais
155Manifestos
164Jogo Oasis
171Investigação 
Apreciativa
176Matriz SOAR
181Cenários Futuros
192
COCRIAR 
ESPAÇOS DE 
APRENDIZAGEM 
193Hackerspaces
254Palavras Finais
205Ocupações 
Criativas
197Do It Yourself Labs
257Notas
210Encontros 
Intergeracionais
201Comunidades de 
Aprendizagem
216VIABILIZAR PERCURSOS 
AUTÔNOMOS
217Pay What You 
Want
221Financiamento 
Coletivo 
226Prototipação
230Captação 
Empoderada
234
COMEÇAR, 
ORGANIZAR, 
DECIDIR 
235Processo Decisório 
em Grupo
241Matriz Certezas, 
Suposições e Dúvidas
245Mapas Mentais
249Matriz Urgente-
Importante
186Dragon Dreaming
6Kit Educação Fora da Caixa
Apresentação do KIT
Assim como este texto de apresentação – que foi escrito durante, e não 
no final –, as ferramentas de aprendizagem a seguir surgiram no interior 
de outro processo. Em 2014, iniciei meu doutorado informal sobre novas 
formas de aprendizagem de jovens e adultos, batizado de Educação Fora 
da Caixa. A primeira entrega desse percurso seria um livro recheado com 
os resultados da minha pesquisa: relatos, projetos inspiradores, diálogos 
teórico-filosóficos, histórias...
Só que, ao me dar conta, fui capturado por uma necessidade súbita 
de escrever ferramentas. Utensílios que, se por um lado podem ser 
considerados inovações educacionais, por outro resgatam elementos 
ancestrais da aprendizagem humana. Paul Feyerabend, filósofo do 
conhecimento, acreditava que um dos atributos mais importantes para o 
desenvolvimento da humanidade seria a pluralidade de modos de vida. 
Jeitos diferentes de se viver e se fazer as coisas. O Kit serve exatamente a 
esse propósito: celebrar a diversidade como um dos principais pilares da 
sabedoria de nossa espécie.
Para viabilizar o Kit, criei uma campanha de financiamento coletivo 
recorrente no Unlock, uma plataforma que faz com que projetos 
encontrem apoiadores mensais. Praticamente um mecenato 
contemporâneo. Todas as ferramentas foram publicadas no blog da 
Educação Fora da Caixa antes de virem parar aqui, na medida em que iam 
sendo produzidas. Três vezes por semana, durante quatro meses. Este 
livro é dedicado aos mais de 60 apoiadores que acreditaram na relevância 
desse trabalho.
O “livro mãe” da Educação Fora da Caixa continua sendo escrito. O Kit, 
tendo surgido antes, é a primeira entrega mais robusta do projeto. Um filho 
nascido de surpresa. Tenho convicção que as ferramentas do Kit poderão 
ajudar pessoas que, assim como eu, resolveram embarcar em percursos de 
aprendizagem independentes. Ou que estão pensando em fazer isso.
7Kit Educação Fora da Caixa
Apresentação do KIT
O Kit também pode ser útil a educadores, consultores e facilitadores, 
lideranças, empreendedores, pesquisadores, estudantes e entusiastas 
por uma nova educação. Ao escrever as ferramentas, parti principalmente 
de minhas experiências como facilitador de processos e pesquisador 
de inovações educacionais. A curadoria foi feita a partir do critério da 
diversidade: há ferramentas de origem africana, europeia, indígena, 
australiana, indiana, norte-americana e brasileira. Aqui convivem ciência, 
arte, filosofia, mitologia, antroposofia, sabedoria indígena e aborígene, 
antropologia e espiritualidade.
Também me preocupei com a aderência dos materiais a uma visão de 
aprendizagem livre – que não significa ausência total de método, e sim 
um “banquete” de metodologias livremente escolhidas, como nos ensinou 
Paul Feyerabend. Cada um se serve do que quiser.
Minha curiosidade também foi um critério essencial para selecionar o que 
eu iria escrever. Cada uma dessas ferramentas é uma pérola; investigá-las 
foi um profundo deleite. No limite, toda a pesquisa dos materiais partiu 
de minha própria realidade, relativa. É como dizem: todo ponto de vista é 
somente a vista de um ponto. Ao testar as ferramentas com suas próprias 
mãos, você provavelmente terá impressões diferentes das que eu tive. 
Não há nenhum problema nisso, pelo contrário.
Quero te fazer um convite: escolha dentre as 50 ferramentas a que te 
chamou mais atenção. Uma só. Faça com que ela ganhe vida: teste-a no 
mundo real, modifique, customize de acordo com seus desejos, contextos, 
suas ideias e necessidades.
A principal diferença entre uma caixa de ferramentas e um livro de 
receitas é que receita a gente segue e ferramenta é pra gente inventar. 
Com ferramentas inventamos novas realidades porque elas nos fazem 
mais confiantes para começar a agir. Não deixe que o mundo das 
ferramentas te prenda: utilize-as a seu serviço e de sua comunidade, e não 
o contrário.
8Kit Educação Fora da Caixa
Apresentação do KIT
Como dizia o poeta pantaneiro Manoel de Barros, “tudo que não invento é 
falso”. A história a seguir é ao mesmo tempo um alerta e um convite para 
que você saboreie livremente o Kit.
Boas experimentações!
Alex Bretas
www.alexbretas.com.br
9Kit Educação Fora da Caixa
O Menininho
(Helen Buckley)
Uma vez um menininho foi para a escola.
Ele era só um menininho
E a escola era bem grande.
Mas quando o menininho
Descobriu que ele podia ir até sua sala
Andando direto da porta da frente
Ele ficou feliz;
E a escola não parecia
Tão grande como antes.
Numa manhã
Quando o menininho já tinha conhecido melhor a escola,
O professor disse:
“Hoje nós vamos desenhar”.
“Que bom!”, pensou o menininho.
Ele gostava de desenhar de tudo;
Leões e tigres,
Galinhas e vacas,
Trens e barcos;
E ele pegou sua caixa de giz
E começou a desenhar.
Mas a professora disse, “Espere!”
“Não é hora de começar!”
E então ela esperou até que todos parecessem prontos.
“Agora”, disse a professora,
“Nós vamos desenharflores”.
“Que bom!”, pensou o menininho,
Ele gostava de fazer flores muito bonitas,
Com o seu giz rosa e laranja e azul.
Mas a professora disse “Espere!”
“Eu vou te ensinar como fazer”.
10Kit Educação Fora da Caixa
E era uma flor vermelha, de galho verde.
“Olhem só”, disse a professora,
“Agora vocês já podem começar”.
O menininho olhou para a flor que a professora desenhou
E depois olhou para a sua flor.
Ele gostava mais da sua flor,
Mas ele não disse isso.
Ele apenas virou a folha
E fez uma flor igualzinha à da professora.
Vermelha, de galho verde.
Noutro dia
Quando o menininho tinha conseguido abrir
A porta da frente da escola sozinho,
A professora disse:
“Hoje nós vamos trabalhar com argila”.
“Que bom!”, pensou o menininho;
Ele gostava de argila.
Ele podia fazer todo tipo de coisa com argila:
Cobras e bonecos de neve,
Elefantes e ratos,
Carros e caminhões
E ele começou a amassar e espremer
Sua bola de argila.
Mas a professora disse, “Espere!”
“Não é hora de começar!”
E então ela esperou até que todos parecessem prontos.
“Agora”, disse a professora,
“Nós vamos fazer um prato”.
“Que bom!” pensou o menininho,
Ele gostava de fazer pratos.
E ele começou a fazer pratos
De todas as formas e tamanhos.
O Menininho 
(Helen Buckley)
11Kit Educação Fora da Caixa
Mas a professora disse “Espere!”
“Eu vou te ensinar como fazer”.
E ela mostrou a todo mundo como fazer
Um prato bem fundo.
“Olhem só”, disse a professora,
“Agora vocês já podem começar”.
O menininho olhou para o prato da professora;
E depois olhou para o seu prato.
Ele gostava mais do seu prato,
Mas ele não disse isso.
Ele apenas enrolou sua argila de novo
E fez um prato bem fundo igualzinho ao da professora.
Beeeeem fundo.
Não demorou muito
E o menininho aprendeu a esperar,
A assistir
E a fazer as coisas igualzinho à professora.
Não demorou muito
E ele não fazia suas próprias coisas mais.
E então
O menininho e sua família
Foram morar em outra casa,
Numa outra cidade,
E o menininho
Teve que ir para uma outra escola.
Essa escola era ainda maior
Do que a primeira.
E não tinha uma porta da frente
Que ia direto pra sua sala.
Ele precisava dar alguns longos passos
E andar num corredor bem grande
Pra chegar na sua sala.
E no primeiro dia
O Menininho 
(Helen Buckley)
12Kit Educação Fora da Caixa
Lá estava ele,
E a professora disse:
“Hoje nós vamos desenhar”.
“Que bom!” pensou o menininho.
E ele esperou a professora
Dizer o que deveria ser feito.
Mas a professora não disse uma palavra.
Apenas andou um pouco pela sala.
Quando ela veio até ele
Ela perguntou, “Você não quer desenhar?”
“Sim”, disse o menininho.
“O que é que nós vamos fazer?”
“Eu não vou saber até você fazer”, disse a professora.
“Como é que eu devo desenhar?” perguntou o menininho.
“Do jeito que você quiser”, disse a professora.
“Com qualquer cor?” perguntou o menininho.
“Qualquer cor”, respondeu a professora.
“Se todos nós fizermos o mesmo desenho,
E usarmos as mesmas cores,
Como eu saberia quem fez o quê,
E qual é qual?”
“Eu não sei”, disse o menininho,
E começou a fazer uma flor vermelha, de galho verde1.
O Menininho 
(Helen Buckley)
13Kit Educação Fora da Caixa
Aprender consigo mesmo
O que se aprende ao olhar para dentro?
14Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer
O equilíbrio entre pensamentos, emoções e atitudes
Os arquétipos são sabedorias surgidas na infância da humanidade. De 
certo modo, podem ser entendidos como imagens que estão presentes no 
nosso inconsciente coletivo desde os tempos antigos. Para a antroposofia2 
– uma filosofia e ciência espiritual sistematizada inicialmente por Rudolf 
Steiner – os arquétipos têm uma grande importância por permitirem uma 
compreensão ampliada a respeito dos fenômenos psíquicos e sociais. Uma 
dessas imagens arquetípicas é a do ser humano trimembrado, dotado das 
dimensões do Pensar, do Sentir e do Querer.
O Pensar, Sentir e o Querer são consideradas ferramentas da alma porque 
dão forma e concretizam nossa experiência de vida.
“O Nascimento do Homem Novo”. Leunam Max. Fonte: Imagética Digital.
15Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer 
Por quê?
Entender melhor como nós operamos essas três capacidades é um 
passo firme de autoconhecimento. Pense um pouco nas pessoas que 
você conhece: existem aquelas que expõem de forma acurada um 
raciocínio e formulam conceitos com facilidade. Em geral, essas pessoas 
são ancoradas no Pensar. Há aqueles mais sensitivos, que falam muito 
das emoções e são mais sonhadores, isto é, têm a dimensão do Sentir 
aflorada. Existem ainda as pessoas completamente voltadas para a ação, 
mas que costumam refletir pouco quanto às consequências do que fazem. 
São voltadas para o Querer.
Um processo de aprendizagem focado no desenvolvimento humano, 
segundo a antroposofia, precisará buscar o equilíbrio entre essas três 
dimensões. A Pedagogia Waldorf, por exemplo, baseia-se justamente 
nisso. Reflita um pouco: como você se enxerga no Pensar, Sentir e Querer?
Ao tomar consciência do arquétipo do ser humano trimembrado, torna-
se mais fácil pensar e propor soluções educativas que deem conta da 
integralidade das pessoas. Além disso, trata-se de uma forma de perceber 
a si mesmo que pode ajudar muito em percursos de aprendizado 
autônomos. Para que o conhecimento encontre a sabedoria, é necessário 
que encarar a aprendizagem de forma uma – isto é, equilibrando 
pensamentos, sentimentos e intenções/atitudes.
16Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer 
Como?
As faculdades do Pensar, Sentir e Querer podem ser associadas 
respectivamente à mente, ao coração e aos membros. A mente trabalha 
com percepções, conceitos, argumentos e ideias; o coração vibra por meio 
das emoções, vivências, do humor, do astral e dos valores; os membros 
conectam-se com as vontades, intenções, motivações, a energia e as 
ações.
Pensar
Quando pensamos, necessariamente estamos visualizando o passado. 
No entanto, não tratamos de fatos, e sim de nossas percepções sobre os 
Fonte: Programa Germinar, turma de Belo Horizonte, MG, 2013.
17Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer 
fatos. O cérebro trabalha somente com o imaterial, o que significa que 
para todas as coisas físicas com as quais fazemos contato com os nossos 
sentidos, nossa mente cria representações.
O cérebro é a parte mais fria do corpo humano, o que sinaliza para 
algumas das características do pensar: racionalidade, lógica e clareza. 
Usualmente pode ser que tentemos ler os outros por meio da dimensão 
do Pensar. O risco, neste caso, é utilizarmos as representações do nosso 
passado para “enquadrar” a outra pessoa.
A tomada de consciência no nível do Pensar ocorre ao nos abrirmos para 
compreender de fato as experiências, a biografia e a visão de mundo do 
outro, evitando julgamentos baseados nos nossos pensamentos.
Sentir
O Sentir está intimamente ligado ao tempo presente e é bastante volátil, 
de modo que frequentemente alternamos entre as polaridades de 
simpatia e antipatia. Nossos sentimentos fazem a ponte entre o pensar 
(cabeça) e o querer (membros).
A temperatura do Sentir é quente e sua localização no corpo humano é no 
sistema rítmico, composto pelo coração, sistema circulatório e pulmões. 
Para trabalhar a dimensão do Sentir é necessário ter uma percepção mais 
apurada do que se passa em si e no outro: por um lado, entender como 
podemos melhorar nossa autopercepção e comunicar assertivamente 
nossas emoções; por outro, procurar ter plena atenção para acessarmos 
sentimentos que vêm à tona de maneira fugaz.
Uma peça-chave para lidar bem com o nível do Sentir é buscar desenvolver 
a empatia. Aqui, empatia pode ser entendida como a suspensão de nossas 
reações habituais de julgamento (simpatia e antipatia) ao acessarmos 
as experiências do outro.Melhoramos nossa empatia ao percebermos e 
frearmos nossas reações imediatas, praticando a escuta cuidadosa.
18Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer 
Querer
A dimensão do Querer conecta-se com o futuro e está localizada no 
sistema metabólico-motor (músculos, mãos, sistema digestório, pernas 
etc). Ela pode ser considerada uma polaridade em relação ao nível do 
Pensar: se este trabalha por meio da “desmaterialização” do mundo físico, 
o Querer dá forma concreta às imagens e representações da nossa mente.
O nível metabólico é a matriz do inconsciente: nossos instintos e desejos 
mais escondidos (até de nós mesmos). Por isso, compreender os quereres 
de si e do outro não é fácil: requer experiências capazes de revelar as 
intenções e necessidades mais profundas. Duas perguntas importantes 
são: o que está por trás dos pensamentos e sentimentos envolvidos 
em dada situação? Por que quero isso? Ainda que o Querer possa ser 
trabalhado por meio da conversa e da escuta, suas manifestações 
não costumam vir por meio da fala. A intuição desempenha um papel 
fundamental.
Para aplicar o Pensar, Sentir e Querer a contextos educativos, uma 
possibilidade é associá-los aos seus “objetos de trabalho”. O Pensar 
conecta-se fortemente ao conteúdo; o Sentir é muito influenciado pelas 
nossas interações; e o Querer trabalha com procedimentos e formatos. 
O balanceamento e o fluir entre esses três elementos são essenciais para 
propiciar estratégias pedagógicas adequadas.
As ferramentas contidas neste livro podem ser bastante úteis para ajudar 
a pensar diferentes alternativas de conteúdo, interação e procedimento, 
de modo a atender distintas necessidades educativas.
Para mergulhar
• “Educação Integral”, Cosme D. B. Massi. Educacional. Link
• “Waldorf integra o querer, o pensar e o sentir”, Ana Elizabeth Diniz. O 
Tempo. Link
19Kit Educação Fora da Caixa
Quatro degraus da aprendizagem
Enxergar como ocorre o aprendizado
Os quatro degraus da aprendizagem, conhecidos também como quatro 
estágios da competência, são uma forma de enxergar o progresso 
que fazemos ao aprender algo novo. Imagine uma escada com quatro 
degraus: a incompetência inconsciente, a incompetência consciente, a 
competência consciente e a competência inconsciente.
Trata-se de um padrão comum aos processos de aprendizado. Quando o 
entendemos, isso nos ajuda a aprendermos a aprender.
Fonte: Fotos e Fotos.
20Kit Educação Fora da Caixa
Quatro degraus de aprendizagem
Por quê?
Existem várias formas de se entender como ocorrem os processos de 
aprendizagem. Os quatro estágios da competência conformam uma 
referência útil porque conseguem ser simples e amplos o suficiente para 
abarcar diversas situações que envolvem aprendizado. Ao escrever sobre 
os quatro degraus, optei por apresentá-los partindo de uma metáfora – a 
escada – para facilitar sua compreensão. 
O conhecimento a respeito dos quatro estágios de competência foi 
desenvolvido nos anos 70 por Noel Burch, nos Estados Unidos (há quem 
diga que Martin M. Broadwell escrevera sobre o assunto em 1969)3. 
Contudo, a sabedoria que inspirou o modelo é ancestral, já tendo sido 
manifestada em várias culturas e em diferentes épocas. Por isso, os quatro 
estágios podem ser tomados como um arquétipo, de modo que estão 
presentes na história da humanidade desde muito tempo atrás.
Como?
Igor Kokcharov. Fonte: Wikipedia.
21Kit Educação Fora da Caixa
Quatro degraus de aprendizagem
Suponhamos que você quer aprender a cozinhar. Se olharmos para esse 
processo por meio dos quatro degraus da aprendizagem, ficaria assim:
Incompetência inconsciente
É quando nem nos damos conta do quão ignorantes somos. Não 
reconhecemos o quanto teremos que nos esforçar caso queiramos 
aprender algo.
Por isso, você já se acha um hábil cozinheiro e não percebe o valor de 
praticar e ler mais sobre o assunto.
Para passar à próxima fase, é preciso ser sensibilizado.
Incompetência consciente
De repente, você começa a sair com alguém que lhe fala que o seu 
macarrão com legumes está completamente malcozido e destemperado. 
Não é fácil aceitar a crítica, mas agora você pelo menos sabe que não 
sabe.
Nesta fase a ficha cai. Passamos a reconhecer o valor de aprender algo. 
Para subir de degrau, o fundamental é errar e reelaborar.
Competência consciente
Você já consegue fazer alguns pratos saborosos. Ao sair com outra pessoa 
(a primeira acabou te dispensando...) você monta um cardápio árabe 
completo, mas passa todo o tempo na cozinha certificando-se de que tudo 
vai sair do jeito que você planejou.
Finalmente passamos a entender ou fazer bem algo, mas temos que ficar 
pensando naquilo exaustivamente. Dividimos os processos em partes 
menores para nos sentirmos mais seguros, e ainda assim precisamos 
estar concentrados o tempo todo.
22Kit Educação Fora da Caixa
Pensar, Sentir e Querer 
Para chegar à última etapa, o mais importante é praticar.
Competência inconsciente
Você passou a praticar tanto que se tornou chef de cozinha! Nesta fase, 
incorporamos a habilidade e deixamos de nos preocupar ao exercê-la. 
Fazemos tudo de forma natural e automática e somos reconhecidos como 
pessoas que “sabem o que estão fazendo”.
O mais importante nessa etapa é compartilhar o que se sabe.
Existem autores que propõem, ainda, um quinto estágio que pode 
ser chamado de “competência reflexiva”4. Trata-se de ultrapassar 
a inconsciência da quarta fase para dar lugar a uma postura mais 
informada, de alguém que “sabe do que sabe”. Chegar no quinto degrau 
é importante para ampliarmos nossa capacidade de compartilhar o que 
aprendemos.
Os quatro degraus da aprendizagem integram um modelo que pode ser 
útil a qualquer um interessado em aprender. Gestores também podem 
aproveitá-lo para criar ambientes favoráveis à aprendizagem. Subir de 
degrau fica mais fácil quando conseguimos enxergar a escada!
Para mergulhar
 • “Os quatro estágios da competência em qualquer tarefa”, Fabio
 Bracht. Papo de Homem. Link
 • “Four stages of competence”. Wikipedia. Link 
 • “Conscious competence learning model”. Businessballs.com. Link
23Kit Educação Fora da Caixa
Silêncio
Silenciar vai muito além da calma
Ficar em silêncio pode propiciar mais espaço interno para a 
aprendizagem. Desde pequenos momentos durante o dia a longas 
meditações, a prática do silêncio é uma aliada em potencial em diversos 
momentos. Geralmente associado às tradições filosóficas orientais, o 
ato de permanecer conscientemente em silêncio (externo e interno) tem 
ganhado legitimidade também nas culturais ocidentais.
Por quê?
Temos cada vez menos oportunidades de nos manter em silêncio. No 
prédio onde moro, os ruídos externos são constantes durante todo o 
dia. Na minha cabeça, os sons internos (julgamentos e preocupações) 
parecem não querer desaparecer. Com a internet e os smartphones, as 
Inner Silence Medidation Retreat, New Year’s 2013. Fonte: Youtube.
24Kit Educação Fora da Caixa
Silêncio
possibilidades de interação ampliaram-se exponencialmente. O sossego 
tornou-se mais difícil: nas viagens, nos locais públicos, no trabalho...
Tudo isso revela também uma reação de igual força, mas oposta. Há 
diversos movimentos em defesa da importância de momentos de silêncio. 
E não são somente religiões ou correntes espiritualistas. De acordo com 
Paul Haider5, os efeitos do silêncio para a saúde são abundantes:
 • Diminuição da pressão arterial, fazendo com que encaremos 
melhor os desafios cotidianos;
 • Recarga da mente, de modo a ampliar nossas capacidades 
cognitivas;
 • Aumento da capacidade de manter o foco no que importa;
 • Redução dos níveis de cortisol e adrenalina, fazendo-nos sentir 
mais calmos;
 • Fortalecimento do sistema imunológico, aumentando nossas 
defesas naturais; etc.
Além dos benefícioscorpóreos e mentais, ressalta-se a capacidade do 
silêncio em nos fazer imergir no nosso mundo interno. Silenciar-se pode 
ser um ótimo exercício de propriocepção, a habilidade de perceber as 
sensações e acontecimentos do próprio corpo. Com isso, ganhamos 
maestria sobre ele. Juliana Vilarinho, da Brahma Kumaris, afirma que 
existem dois níveis de maestria que podem ser trabalhados por meio do 
silêncio6:
“O primeiro é ser máster dos órgãos dos sentidos. Ser máster do 
corpo físico. O segundo passo da maestria é ser mestre dos órgãos 
sutis — mente, intelecto e sanskaras (termo em sânscrito cujo significado 
se assemelha ao subconsciente)”
Tornar-se mestre soberano do próprio corpo, inclusive de suas dimensões 
mais escondidas, tem um efeito claro sobre a qualidade de nossas 
decisões e atitudes. Por isso, o silêncio merece ser experimentado.
25Kit Educação Fora da Caixa
Silêncio
Como?
É curioso como tantos professores vivem pedindo silêncio nas salas de 
aula e não o têm. O silêncio genuíno poderia ser de grande valia nas 
escolas. No entanto, o que estamos tratando aqui não tem nada a ver 
com ficar quieto impositivamente para que alguém possa “professar”. 
Praticar o silêncio é útil quando se faz por vontade própria. No início, 
alguns instantes bastam; depois, cinco minutos, dez, e assim se evolui aos 
poucos.
Respire. Inspire fundo e convide o ar para se retirar devagar, como se ele 
estivesse na casa de um amigo querido e não quisesse ir embora. Feche 
os olhos, e respire mais duas ou três vezes. Esteja num lugar silencioso de 
preferência, mas o essencial é criar o silêncio dentro de si. Vá percebendo 
o que acontece com você. Como você está? De verdade, como está o 
seu corpo? Nota alguma sensação? O que você está sentindo? Quais 
pensamentos aparecem? (um amigo me disse certa vez para meditar 
imaginando uma praia, e cada onda era um pensamento. Por serem 
ondas, rapidamente os pensamentos iam embora...)
Caminhar silenciosamente também pode ser um bom exercício de 
meditação. Juliana Vilarinho recomenda que não desviemos o olhar das 
pessoas durante o silêncio: encontre-as com os olhos e sorria para elas.
Ficar em silêncio em grupo também pode ser uma experiência poderosa, 
assim como fazer refeições silenciosamente na companhia de outras 
pessoas. Para alguns, até mesmo pequenos instantes sem palavras 
em grupo podem soar aterrorizantes: parece que algo está errado. No 
entanto, honrar os silêncios coletivos é uma ótima forma de potencializar 
a sabedoria de um grupo. É preciso saber, contudo, a razão: se as pessoas 
estão em silêncio porque querem, ou se estão sendo silenciadas.
Um caminho que pode facilitar a conexão com o mundo interno durante o 
silêncio é a escrita. Não se trata de escrever sobre o que está fora, e sim de 
26Kit Educação Fora da Caixa
Silêncio
relatar o que se passa por dentro. Nesse caso, é importante não julgar o que 
vier: se você sente raiva ou frustração, se tem pensamentos dos quais não 
se orgulha ou que te fazem mal, aceite-os para que então possam ir embora. 
Não tente racionalizá-los ou encontrar qualquer explicação ou justificativa.
Existem diversas oportunidades de se experimentar o poder do silêncio 
em retiros e imersões. Uma delas é a meditação Vipassana, de origem 
budista e cuja tradução quer dizer “ver a realidade como ela se apresenta”. 
Os cursos de Vipassana costumam durar 10 dias nos quais o silêncio é 
praticado integralmente. No Brasil, vários locais oferecem Vipassana: um 
deles é o Centro de Meditação Dhamma Santi, em Miguel Pereira, RJ.
Incorporar o silêncio na vida cotidiana pode ser uma ótima forma não 
só de tranquilizar a si, como também apaziguar quem nos rodeia. Como 
Juliana Vilarinho afirma, ficar cara a cara com nosso mundo interno “é 
uma jornada muito bonita que nem sempre temos a oportunidade de 
experimentar”7.
Para mergulhar
 • “The Health Benefits of Silence”, Paul Heider. OMTimes. Link 
 • “Nós testamos: retiro de Vipassana”, Bruno Amado. Personare. Link 
 • “Dicas de como praticar silêncio”, Juliana Vilarinho. Brahma 
Kumaris. Link 
27Kit Educação Fora da Caixa
Mantras
Energia em forma de som: significado e intenção
Mantras são sons de poder místicos cantados repetidamente e cuja 
origem remete ao hinduísmo. São encontrados até hoje em diferentes 
religiões e caminhos espirituais, os quais acreditam que sua vibração 
sonora pode ter diversos efeitos benéficos sobre nosso corpo e nossa 
mente. Há várias possibilidades de significado para a palavra mantra, mas 
uma delas refere-se à “liberação da mente”: Man em sânscrito quer dizer 
mente, e Tra significa libertação.
Por quê?
Costuma-se associar os mantras a práticas meditativas, mas os efeitos de 
sua entoação vão muito além de esvaziar a mente, segundo as tradições 
espirituais que os praticam (o hinduísmo, o budismo e o jainismo, por 
Fonte: Asia-Pictures.
28Kit Educação Fora da Caixa
Mantras
exemplo). A principal premissa por trás dos mantras sustenta que as 
palavras carregam e desencadeiam efeitos energéticos. Existe um nível 
relacionado ao significado – sentido que historicamente se atribui às 
combinações de sons – e outro que se refere à intenção, isto é, nossa 
motivação pessoal ao dizermos cada palavra.
Ambos os níveis se baseiam na energia. Ao recitar um mantra, criamos 
uma vibração sonora que traz consigo seu “caminho energético”, isto é, 
uma marca no inconsciente coletivo operada pelas gerações anteriores 
que entoaram o mesmo canto. Isso contribui para que o mantra provoque 
de fato os efeitos que lhe são apregoados. Se somarmos a isso uma forte 
intenção pessoal, os efeitos tendem a se ampliar.
Acredita-se que o mantra seja uma forma de energizar o prana ou a 
energia essencial de cada ser humano. O mestre místico sufi Vilayat Inayat 
Khan explica da seguinte forma8:
“A prática do mantra literalmente amassa a carne do corpo com a 
repetição de sons. As células delicadas dos complexos feixes de nervos são 
submetidas a um martelar constante, um ataque à carne pelas vibrações 
do som divino”.
Existem cantos para facilitar a meditação, para adormecer ou despertar, 
para desenvolver chakras específicos, para obter clareza, conquistar 
amigos e até mesmo para curar doenças. Alguns mantras também são 
utilizados em plantas, animais e na água com o intuito de harmonização e 
energização.
As tradições espirituais orientais há muito tempo são estudadas pelo 
Ocidente. Atualmente, suas práticas têm ganhado grande relevância 
nos campos mais racionais e científicos – basta ver o movimento 
de mindfulness norte-americano. Os mantras estão inseridos neste bojo.
29Kit Educação Fora da Caixa
Mantras
Como?
Os mantras, assim como outras práticas meditativas, têm sido utilizados 
com sucesso em escolas. No Centro de Apoio O Visconde, zona oeste de 
São Paulo, as mais de 100 crianças matriculadas começaram a fazer ioga 
e meditação todos os dias. Os reflexos positivos na convivência entre os 
educandos foram nítidos, e alguns até chegam a melhorar suas notas.
Os mantras podem auxiliar-nos em questões do cotidiano, seja 
como apoio em alguma decisão ou atitude que precisemos tomar ou 
simplesmente nos fazendo mais resilientes. Algumas correntes espirituais 
acreditam que os mantras devem ser repetidos 108 vezes e utilizam um 
instrumento chamado japamálá para ajudar na contagem.
No site do Centro de Yoga Vajrapani é possível encontrar uma extensa 
lista de mantras indianos com efeitos diversos. Os cantos podem ser 
Japamálá. Fonte: Rufi Sora.
30Kit Educação Fora da Caixa
Mantras
recitados individualmente ou em grupo e em voz baixa ou alta, desde que 
haja repetição — necessária para que a energia atue. Selecionei dois cujos 
efeitos têm relação direta com a aprendizagem:
 • Mantra para alcançar sucesso nos estudos, na músicae nos 
 empreendimentos artísticos
 Om Eim Saraswatiyei Swaha
 Om e saudações ao princípio feminino Saraswati.
 • Mantra para adquirir confiança e força interior
 Om Eim Hrim Klim Chamundayei Vichei Namaha
 Om e saudações àquela que irradia poder e sabedoria.
A tradição espiritual indiana aposta na transcendência da mente. O 
Ocidente insiste em sua supervalorização. O aprendizado que os mantras 
propõem tem mais a ver com harmonização e sabedoria e menos com 
conhecimento racional.
Para mergulhar
 • “Mantra”. Wikipédia. Link
 • “Mantras indianos”. Centro de Yoga Vajrapani. Link 
 • “Mantras, Healing Music and Sounds”. Spiritual Journeys. Link 
31Kit Educação Fora da Caixa
Árvore da Vida
Todos sabemos desenhar uma árvore, não é? 
A Árvore da Vida é uma metodologia desenvolvida por Ncazelo Ncube 
em Uganda, no contexto de um trabalho com crianças em situação de 
vulnerabilidade. O objetivo, no início, era reconectar essas crianças com 
suas famílias, seus valores e sua herança cultural.
A partir das metáforas dos elementos de uma árvore (raízes, solo, caule, 
galhos, flores, frutos, sementes), cada pessoa é convidada a desenhar uma 
árvore que represente sua vida, a apreciar as “árvores” dos outros, a falar 
sobre seus desafios pessoais e a celebrar o melhor de cada um.
Fonte: Giacomelli Blog.
32Kit Educação Fora da Caixa
Árvore da Vida
Por quê?
A natureza, desde o início da nossa história, é fonte de significado. 
De acordo com a facilitadora e consultora Lígia Pimenta, a Árvore 
da Vida pretende “construir o território de identidade e o sentido de 
pertencimento e resgatar a conexão dos indivíduos com o lugar em que 
estão inseridos no mundo” 9. Ela pode ser muito útil, ainda, para fortalecer 
o autoconhecimento de indivíduos, os vínculos de um grupo e a missão de 
uma organização.
Como?
A Árvore da Vida é uma ferramenta narrativa e dialógica que pode ter 
diferentes aplicações, desde a utilização com crianças em escolas e ONGs 
até o trabalho com executivos de empresas. É possível aproveitá-la tanto 
de modo individual como coletivo — neste caso, a metáfora da floresta é 
acionada.
Abaixo segue um exemplo de aplicação com jovens e adultos que busca 
promover momentos de reflexão e autoconsciência entre os participantes. 
Trata-se de uma versão mais simples e adaptada de uma atividade que 
geralmente tem quatro momentos, “A Árvore da Vida”, “A Floresta da 
Vida”, “As Tempestades da Vida” e “Certificados e Músicas”10.
Você vai precisar de folhas sulfite, post-its e canetas coloridas. Lápis de cor 
e giz de cera também podem ser utilizados.
Convide as pessoas para pensar em algum tipo de árvore que faça sentido 
em suas vidas. Peça a elas para desenhá-la da forma mais expressiva que 
puderem. Separe alguns minutos para que os participantes reflitam sobre 
os significados daquela árvore para si mesmos. Oriente-os a escrever 
sucintamente o que eles veem de significado em cada componente da 
árvore. Se quiser, você pode comentar um pouco sobre as possibilidades 
33Kit Educação Fora da Caixa
Árvore da Vida
de sentido de cada uma das partes:
 • Raízes: representam as heranças e as tradições. Uma raiz é uma
 estrutura nutritiva essencial para que cada um tenha se tornado
 o que é no presente;
 • Solo: é o aqui e agora, podendo aludir a todas as características
 do nosso viver atual: trabalho, família, casa, cidade, projetos dos
 quais participamos, etc;
 • Caule: são as habilidades, competências, valores, qualidades
 e saberes que carregamos conosco. É o eixo de sustentação que 
 nos permite construir o futuro que desejamos;
 • Galhos: representam as esperanças, expectativas, desejos e
 sonhos em relação à vida;
 • Flores: significam o olhar para o que já se tem de bom, para as
 conquistas em curso e as pequenas vitórias. Podem se referir
 também ao que sentimos que está mais vivo em nós;
 • Frutas: são os presentes que recebemos ao longo da vida, ou
 seja, atos de cuidado e amor que podem ser de cunho material
 ou não. Também podem representar o valor que nós
 entregamos ao mundo com as nossas ações;
 • Folhas: podem se referir às pessoas, parceiros, amigos, grupos e 
 instituições que marcaram nossa vida.
 • Sementes: simbolizam o nosso legado, ou o que queremos
 plantar para que floresça no futuro.
Peça às pessoas para encontrar uma dupla e apresentar a árvore a ela 
(de cinco a dez minutos cada apresentação). Entregue post-its a cada 
dupla para que os participantes possam anotar pensamentos, ideias, 
lembranças e associações enquanto falam e escutam. Ao final, cada um 
procura uma nova dupla e repete o processo. Depois, mais uma vez — a 
cada rodada, a ideia é que as pessoas se enxerguem melhor a partir do 
contato com o outro.
Após as apresentações, monte um círculo de cadeiras e convide as 
pessoas para uma roda de conversa. Você pode propor perguntas como 
34Kit Educação Fora da Caixa
Árvore da Vida
“como vocês se sentiram ao desenhar a árvore?”, como se sentiram 
compartilhando-a com as outras pessoas?”, “como se sentiram escutando 
as apresentações?”, “o que chamou mais a atenção em todo o processo?” 
etc.
Existem diversas outras possibilidades de aplicação, como desenhar a 
árvore atual e a árvore desejada, criar coletivamente a árvore do grupo ou 
da organização a partir do “bosque” de árvores individuais, dentre outras.
As metáforas da natureza são de fácil assimilação e, por isso, podem levar 
a descobrimentos poderosos.
Para mergulhar
 • Árvore da Vida, Lígia Pimenta. Grupo de Voluntariado 
Empresarial. Link
 • “Tree of Life”. Psychosocial Wellbeing Series. REPSSI. Link
35Kit Educação Fora da Caixa
Jornada do Herói
Herói é aquele que se transforma e aprende
A jornada do herói é um padrão narrativo identificado por Joseph 
Campbell em diversas histórias antigas e contemporâneas da 
humanidade. Campbell, um estudioso da mitologia, investigou 
sistematicamente mitos e histórias de culturas distintas e observou um 
“fio condutor” entre elas.
Posteriormente Christopher Vogler, roteirista de Hollywood, sumarizou 
as descobertas de Joseph Campbell num memorando elaborado para 
os estúdios Disney. O documento influenciou intensamente roteiros de 
cinema e ajudou a disseminar o trabalho de Campbell pelo mundo. Hoje, a 
jornada do herói é tomada como base para uma variedade de histórias de 
ficção.
“What Makes a Hero?” Matthew Winkler. Fonte: Youtube.
36Kit Educação Fora da Caixa
Jornada do Herói
Por quê?
A jornada do herói costuma ser apresentada por meio de 12 momentos 
bem definidos, que juntos conformam um ciclo. Ao chegar ao final de sua 
jornada o herói, no entanto, não retorna no mesmo patamar que originou 
sua busca. Cada um dos doze passos ajuda a conformar um trajeto 
cujo propósito, no limite, é a transformação daquele que ousou iniciar 
a jornada. Esse movimento cíclico pode ser compreendido por meio da 
figura da espiral.
A cada jornada, o herói parte do seu mundo comum para explorar 
um novo universo. Após vencer uma série de desafios, ele retorna ao 
mundo conhecido tendo desenvolvido seus poderes, com novos papéis a 
desempenhar e, principalmente, com muitas histórias e conhecimentos a 
serem compartilhados.
Qualquer semelhança com a trajetória de um percurso de aprendizagem 
37Kit Educação Fora da Caixa
não é mera coincidência. Yaacov Hetch, educador israelense pioneiro das 
escolas democráticas, sistematizou uma teoria educativa que denominou 
de “aprendizagem pluralista”11. Em suma, uma das premissas desse 
modelo é que, ao mesmo tempo em que construímos conhecimento, 
também se amplia proporcionalmente nossa “falta de conhecimento” (lack 
of knowledge). Por meio de percursos cíclicos de aprendizagem – também 
representados por uma espiral –, retornamos ao nosso mundo 
conhecendo mais, mas tambémnos questionando mais.
Aplicando o modelo à jornada do herói, tem-se que cada vez que ele 
retorna de uma aventura, suas perguntas crescem na medida dos novos 
saberes e experiências acumuladas. Talvez seja por isso que o herói 
sempre anseia por embarcar numa nova jornada. Se todos nós temos um 
“quê” de herói, a jornada pode ser uma boa lente para compreendermos 
nossos próprios caminhos de aprendizado.
Como?
Fonte: Não Me Condene.
Jornada do Herói
38Kit Educação Fora da Caixa
Os 12 passos da jornada do herói podem ser ordenados da seguinte 
maneira:
Pense em histórias como Matrix, Star Wars e Harry Potter, cujos enredos 
seguem de forma muito próxima esse caminho. Há também uma divisão 
em três atos – Apresentação, Conflito e Resolução – detalhados abaixo:
Ato I — Apresentação
Mundo comum
É o mundo conhecido, habitual do herói. Não há surpresas: o herói é 
apresentado em sua vida banal.
Chamado à aventura
O herói ouve de algo ou alguém um chamado para iniciar sua jornada. O 
chamado tem um propósito urgente e intransferível.
Recusa do chamado
O herói recebeu o chamado, mas escolhe por não o escutar, geralmente 
porque sente medo.
Encontro com o mentor (ou ajuda sobrenatural)
Algo ou alguém surge para o herói e uma relação de apoio é estabelecida. 
O mentor geralmente é uma figura sábia, que guia o herói durante parte 
de sua jornada. É possível haver vários mentores.
Travessia do primeiro limiar
É a entrada do herói no mundo desconhecido, a aceitação do chamado. 
Representa um momento crucial, de tal modo que o herói não pode mais 
voltar atrás.
Jornada do Herói
39Kit Educação Fora da Caixa
Ato II — Conflito
O ventre da baleia (testes, aliados e inimigos)
Uma vez no mundo desconhecido, a aventura tem início. O herói é 
testado, conquista aliados e luta contra os primeiros inimigos, e com isso 
aprende as “regras do jogo” do novo universo.
Aproximação da caverna oculta
O herói chega no local mais perigoso da jornada, onde se encontra o que 
lhe causa mais medo.
Provação suprema
Momento em que o herói enfrenta sua ameaça mais temida. Durante a 
luta, o herói precisa morrer – seja literal ou metaforicamente – para então 
renascer capaz de derrotar seu maior inimigo. Depois de quase perder, ele 
enfim vence a batalha.
Recompensa
Após derrotar seu maior inimigo, o herói obtém uma recompensa, 
geralmente representada por um elixir ou algum outro objeto. A recompensa 
pode também vir na forma de novos aprendizados e de reconhecimento.
Ato III — Resolução
Caminho de volta
O herói precisa retornar ao mundo conhecido, mas a volta não será fácil. 
Seus inimigos preparam-lhe um golpe final.
Ressurreição
Ao fazer a viagem de retorno para o seu mundo, o herói é surpreendido 
e precisa enfrentar a batalha final. Nessa luta, ele precisa aplicar todos 
os aprendizados que teve durante a jornada. Ao conseguir a vitória, o 
herói renasce, isto é, transforma-se de dentro para fora. O renascimento 
Jornada do Herói
40Kit Educação Fora da Caixa
representa a purificação necessária para que ele possa retornar ao mundo 
comum. 
Retorno com o elixir
O herói retorna ao seu mundo e carrega consigo a recompensa da 
jornada. Tendo feito todo o percurso, ele agora é capaz de colher os 
frutos. O herói goza de mais liberdade, compartilha seus aprendizados e 
faz algo em retribuição à sua comunidade.
Existem muitos outros detalhes e entendimentos possíveis da jornada. 
Uma complementação interessante é a descrição dos arquétipos 
(personagens simbólicos) que surgem durante o trajeto.
Ao tomar contato com os 12 passos, que pontes poderiam ser feitas com a 
educação? Acredito que a jornada do herói pode ser encarada como uma 
metáfora do nosso próprio percurso de desenvolvimento. É possível, por 
exemplo, fazer a si próprio as seguintes questões:
Quais chamados eu tenho escutado? Quais tenho me recusado a escutar? 
Quem poderiam ser meus mentores? O que é importante para que eu 
cruze o limiar e inicie minha jornada? Quem são meus aliados e quais são 
meus desafios? Do que eu tenho mais medo? Como eu poderia renascer 
para enfrentar o que me ameaça? Que recompensas eu poderia ter ao 
embarcar numa jornada? Quais sabedorias eu quero compartilhar com os 
habitantes do meu mundo?
Todas essas perguntas poderiam ser feitas à luz da jornada do herói. 
Ao compreender o paradoxo da aprendizagem conforme elucidado por 
Yaacov Hetch (mais conhecimento = mais questionamento), fica claro que 
a jornada nunca termina. Aprender é pra vida toda.
Jornada do Herói
41Kit Educação Fora da Caixa
Para mergulhar:
 • “A Jornada do Herói descomplicada em 12 passos” [vídeo]. 
 Cabine Literária. Youtube. Link
 • “A Jornada do Herói Mitológico”, Luiz Eduardo Ricón. II Simpósio
 RPG e Educação. Link
 • Arquétipos da Jornada do herói. Heróis e Mitos. Link 
 • “A Jornada de Lucy (1ª parte)”, André Camargo. Obvious. Link 
 • “A Jornada de Lucy (2ª parte)”, André Camargo. Link
 • “The Hero Archetype in Literature, Religion, and Popular 
 Culture”. Tat’s box. Link
Jornada do Herói
42Kit Educação Fora da Caixa
Criar e fortalecer laços 
Como transformar convivência 
em aprendência? 
43Kit Educação Fora da Caixa
World Café
Fazendo emergir nossa inteligência coletiva
O World Café é uma abordagem de conversação em grupo bastante 
utilizada em todo o mundo. Criada por Juanita Brown e David Isaacs, 
a técnica é muito útil para estimular a criatividade de um conjunto de 
pessoas por meio da interação e, assim, gerar (ou trazer à tona) sua 
inteligência coletiva.
Desde quando o primeiro World Café ocorreu na Califórnia, em 1995, a 
utilização da abordagem foi sendo ampliada progressivamente. No site 
da comunidade global do World Café há um mapa com os registros de 
algumas de suas aplicações:
 
Fonte: The World Café.
44Kit Educação Fora da Caixa
World Café
O World Café caracteriza-se pelos seguintes elementos:
 • É baseado em perguntas que estimulam os participantes a se 
 engajarem em conversas significativas;
 • Há a disposição de grupos de quatro ou cinco pessoas em
 mesas redondas no estilo de um Café;
 • São realizadas rodadas de conversa de 20 a 30 minutos cada
 que, ao se sucederem, originam o fenômeno da “polinização
 cruzada”, isto é, a conexão de ideias entre os participantes;
 • Escolhe-se livremente um “anfitrião” para cada mesa, que
 permanecerá sentado durante as rodadas e atualizará os novos
 convidados sobre os principais insights da rodada anterior;
 • As pessoas são encorajadas a escrever, desenhar e rabiscar as
 ideias em cartolinas, post-its e até nas próprias toalhas de mesa;
 • Há ao final um momento de compartilhamento – chamado
 de colheita – com todos os participantes juntos, geralmente
 dispostos num formato circular, em que se conta o que mais
 chamou atenção nas conversas das mesas.
 
Fonte: ProJourno.
45Kit Educação Fora da Caixa
Por quê?
Você já foi a um evento ou discussão e sentiu que seria muito mais 
produtivo se as pessoas pudessem simplesmente conversar entre si, 
mais do que assistirem a palestras? Uma das premissas básicas do World 
Café é que todos têm conhecimento para compartilhar. Cada um traz 
consigo seu leque de histórias, perspectivas, sonhos, ideias e sabedorias. 
Neste sentido, o Café torna possível quebrarmos a lógica broadcasting do 
“um para muitos” e enfatizar a visão sistêmica, por meio de conversas 
baseadas na horizontalidade e na colaboração.
Outro aspecto do World Café é seu potencial de engajamento. Na medida em 
que os participantes vão trocando de mesa, é como se a distância entre eles 
diminuísse. O World Café funciona como uma metáfora de nossas conversas 
cotidianas, que se cruzam formando redes de interação em escalas cada 
vez maiores. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que se nutre umambiente de intimidade (nas mesas), o engajamento cresce por meio das 
conexões entre perspectivas distintas (em todo o grupo). Ao final de um bom 
World Café, geralmente as pessoas não vão embora, elas permanecem na 
sala conversando. Isso é um ótimo indicativo de mobilização.
O fato de a abordagem poder conjugar um grande número de 
participantes com interações mais íntimas em cada uma das mesas junta 
o melhor de dois mundos. Já houve Cafés com mais de 1000 pessoas 
sobre os mais variados assuntos. Por mais que conversar seja algo trivial, 
testar uma nova forma de interação pode trazer resultados interessantes 
justamente pelo fato de se cuidar com carinho do processo.
Como?
O World Café funciona muito bem com grupos de 16 a até milhares 
de pessoas, desde que elas estejam genuinamente interessadas nas 
perguntas feitas. Numa sala de aula, por exemplo, é possível criar um Café 
para que os educandos dialoguem sobre suas questões e ideias a respeito 
World Café
46Kit Educação Fora da Caixa
de um tema (é interessante que eles também participem da definição do 
que vai ser conversado).
Ao sistematizar a abordagem, Juanita Brown e a comunidade global do 
World Café apontaram seis diretrizes a serem consideradas por quem 
pretende anfitriar um Café12:
 • Tenha consciência do propósito do seu World Café;
 • Crie um espaço receptivo e hospitaleiro;
 • Crie perguntas relevantes para os participantes;
 • Estimule as contribuições de todos;
 • Conecte perspectivas distintas;
 • Promova a escuta conjunta e compartilhe as descobertas.
A utilização dos Cafés pode servir ainda a fins de pesquisa, no sentido 
de engajar diferentes públicos em diálogos frutíferos. Imagine, por 
exemplo, que você está estudando comunidades quilombolas: propor um 
World Café com a presença de representantes de comunidades distintas 
poderia ser uma ótima forma de fazer emergir os aspectos mais sutis do 
tema. Como a interação é a tônica do processo, abre-se espaço para o 
inesperado.
Existem várias formas de aplicar o World Café, desde seu uso em políticas 
públicas até conversas estratégicas em empresas. Algumas dicas:
 • Trabalhe muito bem a construção das perguntas. Faça isso
 junto com alguns participantes do seu Café (eles saberão
 melhor do que ninguém se as questões são relevantes).
 • Não utilize o World Café caso sua intenção seja “transmitir”
 conhecimento ao grupo. Caso esse seja o objetivo, é melhor dar
 uma palestra ou uma aula.
 • No momento final da colheita, tenha uma forma de registrar
 visualmente a essência do que está sendo dito. Uma boa
 maneira de fazer isso é por meio da facilitação gráfica13.
 • Tenha atenção aos detalhes: as boas-vindas aos participantes,
World Café
47Kit Educação Fora da Caixa
 a decoração das mesas, a qualidade do espaço etc. Uma música
 de fundo durante as conversas também pode ser interessante.
 • O World Café pode ser parte de uma programação mais ampla
 que contemple também outros momentos (palestras, vivências,
 reflexões etc).
Que tal experimentar o poder da inteligência coletiva com os grupos dos 
quais você já faz parte?
Para mergulhar
 • “Diálogos colaborativos: aprendizado, diversão e experiências”,
 Paulo Campos. Mochileiro Corporativo. Exame. Link
 • “World Café Para Viagem”. The World Café. Link
 • “A resource guide for the world café”, Juanita Brown e a
 comunidade do World Café. Link
World Café
48Kit Educação Fora da Caixa
Open Space
Dando voz a todos
O Open Space – traduzido por alguns como Tecnologia do Espaço 
Aberto – é uma forma de se realizar reuniões criativas partindo do que é 
mais importante para cada grupo. A ideia é que coletivos possam se auto 
organizar para interagir em torno de temas complexos, estratégicos e 
urgentes.
Útil a encontros de algumas dezenas de participantes a reuniões com 
mais de mil pessoas, o Open Space caracteriza-se como uma abordagem 
autogerida, não proprietária e altamente interativa. Pelo fato de os 
próprios participantes proporem e decidirem toda a agenda, as conversas 
de um Open Space tendem a sustentar um grande nível de engajamento.
Fonte: Wikipedia.
49Kit Educação Fora da Caixa
Por quê?
O norte-americano Harrison Owen – quem primeiro sistematizou o Open 
Space – inspirou-se em elementos de culturas diversas para propor o 
método. Notadamente, ao participar de um rito de uma aldeia situada na 
Libéria, ele percebeu como toda a organização transcorria sem nenhuma 
coordenação central. As pessoas se responsabilizavam por diferentes 
espaços e tarefas, outras ajudavam, e as informações fluíam de um lugar 
para o outro sem dificuldade.
Aglutinando o poder da auto-organização com outras inspirações 
baseadas no diálogo, Owen “iniciou” o Open Space como um formato que 
potencializa a diversidade e o caos criativo. De certa forma, o método 
ajuda a tornar visível a complexidade das organizações e comunidades 
que dele se utilizam. Isso porque o Open Space busca eliminar as regras 
impostas e abrir espaço para o que emerge do grupo.
Durante um Open Space, abandonamos o automatismo de sempre termos 
as respostas prontas. Trata-se menos da competência específica de um 
consultor ou palestrante e mais da capacidade de todos de cocriar. Dentre 
diversas abordagens úteis à cocriação, o Open Space é uma das que 
menos depende de um facilitador, o que contribui para a facilidade de sua 
aplicação.
Open Space
50Kit Educação Fora da Caixa
Como?
Um Open Space sempre tem um tema central que interessa a todos os 
participantes, geralmente orientado para a ação (um novo projeto, por 
exemplo). Diversas conversas ocorrem simultaneamente e podem tratar 
de assuntos distintos, desde que haja conexão com o tema proposto. As 
reuniões funcionam melhor quando têm temas urgentes, complexos e 
que despertem a diversidade de pontos de vista.
A agenda de um Open Space não é definida a priori: todas as pessoas 
juntas se reúnem no início e criam a pauta num grande círculo. Antes do 
início é preciso explicar os quatro princípios que guiam o Open Space:
 • “As pessoas que vierem são as pessoas certas”: abrir mão da
Open Space
Fonte: Vinyl Baustein.
51Kit Educação Fora da Caixa
Open Space
 nossa expectativa em relação a quem deve vir na reunião.
 • “A hora que começar é a hora certa para começar”: abrir mão
 da nossa expectativa quanto ao horário de início das sessões: as
 coisas acontecem quando estão prontas para acontecer.
 • “O que acontecer é a única coisa que poderia ter acontecido”:
 abrir mão da nossa expectativa sobre como as interações
 devem acontecer e para onde a conversa deve fluir.
 • “Quando acabar, acabou”: abrir mão da nossa expectativa no
 que se refere à quando devemos terminar uma conversa. Se
 terminar antes é porque tudo já foi tratado; caso a interação se
 estenda, talvez seja realmente necessário.
Além desses quatro princípios, o Open Space é regido pela lei dos dois 
pés. Em suma, ela reafirma a responsabilidade de cada um para com seu 
aprendizado e suas contribuições e confere a todos a liberdade de ir e vir. 
Assim, a ideia é que as pessoas participem do que realmente têm vontade, 
podendo sair de uma conversa sempre que entenderem que não estão 
fazendo a diferença ali. A lei dos dois pés permite o surgimento da figura 
das “abelhas” — os participantes que levam informações de um grupo 
a outro — e das “borboletas”, que podem optar por não participar de 
nenhum grupo para fazerem o que consideram mais importante. Às vezes, 
o encontro entre duas ou mais borboletas pode acabar inaugurando uma 
nova conversa.
Após explicar os quatro princípios e a lei dos dois pés, o grupo começa 
a montar a agenda do Open Space. Todos são convidados a refletir por 
um momento em silêncio e em seguida, caso queiram, poderão oferecer 
sessões às quais queiram assumir responsabilidade.Uma parede já deve 
estar preparada com o esqueleto de uma tabela contendo os tempos e 
espaços reservados para as sessões. Um Open Space pode durar de duas 
horas a até vários dias.
52Kit Educação Fora da Caixa
Open Space
Exemplo de agenda de um Open Space.
Após todos os espaços da agenda estarem ocupados, os participantes 
aproximam-se do mural para olharem as ofertas e decidirem de quais 
sessões querem participar. Em seguida, as pessoas encaminham-se para 
suas sessões iniciais e os trabalhos começam.
O participante que ofertou uma interação na agenda é responsável por 
facilitar a sessão e registrar a essência do que está sendo discutido. 
É comum que a tarefa de registro seja “delegada” a algum outro 
participante, para que ninguém fique sobrecarregado.
A preparação de um Open Space é muito importante. O facilitador e 
os proponentes do encontro devem zelar para que todas as pessoas 
que possam agregar perspectivas importantes para o tema sejam 
convidadas. O momento final, geralmente feito numa grande plenária, 
é a oportunidade de compartilhar os pontos cruciais de cada sessão e 
comentar sobre como foi o processo. Nessa hora, pode ser interessante 
utilizar um objeto da fala (veja mais detalhes na ferramenta de mesmo 
nome).
Sala 
Principal
Salão de 
Chá
Lounge Biblioteca Jardim
8:30 - 9:30 Encontro da comunidade
9:30 - 11:30
11:00 - 13:00
13:00 - 14:00 Almoço
14:00 - 15:30
14:00 - 17:30
17:30 - 18:00 Convergência
53Kit Educação Fora da Caixa
Open Space
O Open Space pode ser aplicado em situações diversas, desde que haja 
um tema “quente” e um grupo disposto a experimentar uma forma de 
trabalho colaborativa. Em escolas, por exemplo, o método pode ser 
uma boa forma de elaborar novas estratégias e solucionar desafios; 
em organizações, o Open Space pode servir para engajar todos os 
funcionários e partes interessadas num novo projeto.
Para mergulhar
 • “Open Space World”, versão em português. Link
 • “Textos sobre OST (Espaço Aberto)”. Instituto OST. Link
 • “Open Space: A User’s Guide”, Harrison Owen. Link 
54Kit Educação Fora da Caixa
Pro Action Café
Apostando no poder que temos de nos ajudar
O Pro Action Café é uma metodologia de conversação em grupo cujo 
propósito é desenvolver projetos e aprofundar ideias importantes para 
os participantes. Um Pro Action é capaz de transformar um grupo num 
“container” criativo, aproveitando a sabedoria coletiva que se revela nas 
interações.
Criada por Ria Baeck e Rainer von Leoprechting, a abordagem surgiu na 
Bélgica a partir de uma mescla das técnicas Open Space e World Café.
Fonte: Leadership for Sustainability.
55Kit Educação Fora da Caixa
Por quê?
O Open Space é um método para se criar reuniões cujos elementos 
principais são o forte senso de urgência e a liberdade radical. Por outro 
lado, o World Café tem o poder de “polinizar” conversas e, assim, revelar 
os padrões existentes e gerar engajamento.
O Pro Action Café é abastecido por ambos os formatos. É capaz, portanto, 
de acolher as vontades do grupo por meio de uma agenda cocriada, ao 
mesmo tempo em que propõe algumas perguntas para sustentar as 
conversas.
Assim como as duas abordagens que lhe deram origem, o Pro Action Café 
altera a maneira habitual com que interagimos. Menos interrupções, mais 
escuta; ao invés de agendas impostas, convites para o diálogo; antes das 
respostas na ponta da língua, perguntas que fazem pensar. O que torna 
o Pro Action único, no entanto, é sua facilidade em revelar o potencial de 
ajuda mútua disponível em qualquer grupo.
Pro Action Café
Fonte: Metro HNL.
56Kit Educação Fora da Caixa
Como?
O Pro Action pode ser aplicado tanto de forma totalmente livre, com as 
pessoas trazendo seus projetos e questões, ou a partir de um tema ou 
contexto específico. No caso dos Círculos de Doutorandos Informais, por 
exemplo, orientamos os participantes a trazerem seus próprios projetos 
de aprendizagem.
Para fazer um Pro Action Café você vai precisar de materiais como 
canetinhas coloridas, folhas grandes, papéis tamanho A4, post-its e tudo o 
mais que ajude as pessoas a rabiscarem suas ideias enquanto conversam. 
Encontrar um espaço que seja acolhedor, tranquilo e informal também é 
imprescindível para criar a atmosfera de um verdadeiro Café. No caso de 
grupos maiores, também será necessário montar um quadro num local 
visível a todos, de modo que funcione como o esqueleto da agenda a ser 
preenchido pelos participantes no início do encontro.
O primeiro movimento é convidar as pessoas a compartilharem seus 
projetos ou questões (não é necessário que todos o façam, somente quem 
quiser). Cada um escreve numa folha o nome do projeto e, então, conta 
rapidamente do que se trata para os demais participantes. É preciso que 
o número de pessoas ofertando projetos seja menor do que o total de 
participantes: a proporção 1:4 é perfeita. Isso significa que, se o grupo 
tem 40 pessoas, então dez participantes poderão propor projetos. Isso é 
importante para que todos os grupos tenham por volta de quatro pessoas, 
um número ideal para equilibrar diversidade e intimidade em cada mesa.
Após todas as questões e projetos terem sido compartilhados, todos os 
outros participantes encaminham-se para as mesas que desejarem. O 
facilitador deve cuidar para que o número de pessoas por grupo fique 
equilibrado. Neste momento, é importante que o facilitador fale um pouco 
sobre algumas diretrizes que guiarão as conversas:
Pro Action Café
57Kit Educação Fora da Caixa
Pro Action Café
 • Falas na primeira pessoa (eu), partindo das experiências dos
 participantes;
 • Utilização de um objeto da fala, como uma forma de tornar as
 conversas mais profundas;
 • “Escavar” a fala do outro procurando por padrões e significados
 mais profundos, fazendo perguntas de exploração;
 • Estimular os participantes a escreverem e desenharem nas
 folhas que estarão à sua disposição nas mesas.
Após explicar as diretrizes, os diálogos começam. A ideia é que os 
participantes que propuseram projetos possam interagir com as demais 
pessoas do seu grupo de modo a ampliar suas ideias e insights. Um Pro 
Action Café tem geralmente três rodadas de conversação, cada uma 
guiada por uma pergunta distinta14:
 • Rodada 1: por quê/para quê? O que está por trás desta questão
 ou projeto? Qual é a missão que o projeto busca atender?
 • Rodada 2: o que não estamos vendo? O que falta para termos
 uma compreensão completa a respeito da questão ou do
 projeto?
 • Rodada 3: quais os próximos passos? Quais ajudas são
 necessárias? O que eu aprendi nessa conversa?
Cada rodada dura em torno de 20 a 30 minutos e, ao final, as pessoas 
trocam de mesa. Permanecem apenas os “donos” dos projetos. As 
perguntas devem estar claras para os participantes e podem ser escritas 
em cartolinas afixadas nas paredes. Pode ser interessante uma pequena 
pausa entre as rodadas. Ao final, reúne-se as pessoas num círculo de 
cadeiras para conversar sobre como foi o processo. Quem propôs um 
projeto é convidado a falar sobre como percebeu a evolução de sua ideia 
inicial, e os demais participantes são estimulados a compartilhar suas 
impressões e insights.
58Kit Educação Fora da Caixa
Pro Action Café
O Pro Action Café é um processo vivo, e assim como as duas abordagens 
que o originaram, merece ser experimentado por qualquer grupo que 
deseja manifestar sua inteligência coletiva.
Para mergulhar
 • “Verbete Draft: o que é Pro Action Café”, Isabela Mena. Projeto
 Draft. Link
 • “Pro Action Café”, Ria Baeck e Andries De Vos. Ning. Link
 • “Art of Hosting – Proaction Cafe” [vídeo]. Youtube. Link
59Kit Educação Fora da Caixa
Aquário
Diálogo focado e muito conhecimento compartilhado
O Aquário é um formato de diálogo em grupo que busca tornar maisefetivos os papéis de fala e de escuta dos participantes. As pessoas são 
dispostas em dois círculos concêntricos (ou mais, a depender do número 
de participantes), de modo que somente quem está no círculo de dentro 
pode falar, e os demais exercem o poder da escuta. O nome Aquário 
representa metaforicamente o movimento físico que os participantes 
precisam fazer para “mergulhar” na conversa.
Por quê?
O idealizador das conversações em Aquário é desconhecido; há quem 
acredite que foi Peter Senge, consultor e autor de livros de aprendizagem 
organizacional. O problema que o Aquário busca resolver refere-se à 
Fonte: Festival Path 2015.
60Kit Educação Fora da Caixa
dificuldade que alguns grupos têm de conversar: numa reunião comum, 
pode ser que algumas pessoas monopolizem a conversa. Por outro lado, 
outros participantes acabam optando por não falar por medo de serem 
interrompidos ou julgados, ou simplesmente porque seu ritmo está mais 
lento do que o do grupo.
Neste sentido, o Aquário favorece a valorização de quem fala e de quem 
escuta porque propõe uma movimentação tangível entre esses papéis. É 
preciso se levantar e ocupar uma cadeira do círculo de dentro para falar. 
O fato de haver um número limitado de assentos no centro indica que 
a conversa tem um foco claro, embora a participação de todos continue 
sendo estimulada por meio de uma cadeira que sempre deve ficar vazia. 
Por haver uma grande quantidade de pessoas que escutam ativamente no 
círculo de fora, isso também reforça a qualidade do diálogo.
Os círculos de fora também cumprem a função de minimizar o risco de 
alguém monopolizar a conversa. Caso isso aconteça, a pessoa estará em 
evidência e a probabilidade de que ela se dê conta é maior. Além disso, 
quem costuma ser muito calado também tende a se perceber mais, uma 
vez que a cadeira vazia “está sempre lá” para permitir as contribuições de 
todos. Desse modo, o Aquário promove o desenvolvimento da fala com 
intenção e da escuta com atenção.
Outra razão para se experimentar o Aquário é o melhor aproveitamento 
do tempo. A frequência de interrupções inoportunas e distrações costuma 
ser bastante reduzida em comparação ao formato de reunião tradicional.
Aquário
61Kit Educação Fora da Caixa
Como?
Para se realizar um Aquário, você precisará apenas de cadeiras e de algo 
para registrar a conversa, como um painel ou um cavalete flipchart. Uma 
pessoa, então, responsabiliza-se por criar um registro visual que vai sendo 
atualizado simultaneamente à conversa.
Para iniciar o Aquário, o facilitador pode dar as boas-vindas aos 
participantes já sentado no círculo de dentro (isso ajuda as pessoas a 
compreenderem que aquele é o lugar da fala). Ele explica brevemente 
o tema do encontro, como ocorrerá a interação e convida as pessoas a 
entrarem no círculo de dentro. Pode ser interessante compartilhar uma 
pergunta-chave ou uma história que se conecte com o tema central.
Os pontos principais que o facilitador precisa elucidar em relação ao 
funcionamento do Aquário são os seguintes:
 • O círculo de dentro é onde o diálogo acontecerá.
 • O círculo de fora exerce uma função igualmente importante,
Aquário
Fonte:Wikipedia.
62Kit Educação Fora da Caixa
Aquário
 a da escuta. Todos que escutam são fundamentais para a
 qualidade da conversa.
 • O elemento de conexão entre o círculo de dentro e o de fora é a
 cadeira vazia, que poderá ser ocupada a qualquer momento,
 por qualquer pessoa.
 • A regra de ouro é: uma cadeira deve permanecer sempre
 vazia. Isso porque a possibilidade de todos participarem é
 crucial para se aproveitar ao máximo a sabedoria do grupo.
 • Não é preciso se preocupar com a movimentação de pessoas
 de um círculo para o outro. Isso ocorre de forma bastante 
 orgânica, sem a necessidade de intervenções. Quando alguém
 ocupa a cadeira vazia, alguém do círculo de dentro sai.
 • Os pontos essenciais da conversa serão registrados num painel 
 visível a todos.
Após essa introdução, pode ser que demore um pouco para os primeiros 
participantes ocuparem as cadeiras do círculo de dentro. Não se preocupe 
com isso. Momentos de silêncio são importantes, e poderão acontecer 
também durante o diálogo.
Em momentos específicos, quem está facilitando pode entrar na conversa 
e abastecê-la com comentários sobre o processo ou novas perguntas 
(logo após uma pausa, por exemplo). Quando chegar a hora de finalizar o 
diálogo, o facilitador entra no círculo de dentro e encerra o Aquário.
As aplicações do Aquário são diversas, e é notável sua utilização por 
educadores. Trata-se de uma ótima maneira de engajar os educandos em 
uma conversa produtiva. Outra forma é aproveitá-lo em eventos, de modo 
que palestrantes e participantes tenham um canal direto de interação. 
No caso, uma variação que pode ser útil é orientar os palestrantes a 
permanecerem no círculo de dentro durante toda a conversa.
O Aquário funciona muito bem com grupos a partir de 15 pessoas. A 
possibilidade de incluir mais de um círculo de fora (as outras cadeiras vão 
63Kit Educação Fora da Caixa
Aquário
sendo posicionadas atrás do primeiro círculo) permite que um Aquário 
possa ter até 120 participantes, desde que haja microfones disponíveis.
Organizações sociais, empresas e escolas têm utilizado o Aquário para 
potencializar a fala e a escuta de grupos, maximizando a qualidade 
das interações. Entre círculos de dentro e de fora, somos capazes de 
mergulhar mais fundo.
Para mergulhar
 • “Ferramentas de diálogo”, Augusto de Franco. Escola de Redes.
 Link 
 • “Fishbowl”. Knowledge Sharing Toolkit. Link
 • “Fishbowl (conversation)”. Wikipedia. Link
64Kit Educação Fora da Caixa
Objeto da Fala
O poder da escuta capaz de abrir corações
Um objeto ou bastão da fala tem o objetivo de aprofundar diálogos 
por meio da explicitação das funções de fala e escuta. Quem segura o 
objeto pode falar, e quem não está com ele exerce a função de escutar. 
Geralmente utilizado em conversas de grupo, o objeto da fala costuma ser 
associado a diversos formatos de diálogo, como por exemplo o Círculo, o 
World Café ou o Pro Action Café.
Por quê?
A origem do objeto da fala remete a aldeias indígenas da América do 
Norte15. Desde tempos ancestrais, alguns povos utilizam bastões da fala 
em conselhos, círculos de contação de histórias, tomadas de decisão, 
Fonte: Festival Path 2015.
65Kit Educação Fora da Caixa
cerimônias coletivas e até mesmo para ensinar crianças.
Hoje, muitos grupos ao redor do mundo estão utilizando os objetos da 
fala para terem conversas mais significativas. Certa vez, participando do 
grupo de e-mails da comunidade Art of Hosting — uma rede global de 
anfitriões de conversas significativas —, li a seguinte pérola:
“Talking piece = talk in peace”
Em português a expressão perde o charme, mas uma tradução possível 
seria “objeto da fala = falar em paz”. Heather Plett, uma facilitadora de 
diálogo do Canadá, sustenta que quando uma conversa é guiada pelo 
objeto da fala, as pessoas tendem a falar com mais intenção. Além disso, 
os participantes são instigados a escutar atentamente e as pessoas se 
dispõem mais a respeitar as perspectivas de cada um16.
Assim, o objeto da fala torna-se capaz de dissolver as interrupções, 
ampliar os silêncios geradores e, quase sempre, sustentar maiores doses 
de presença e vulnerabilidade nas conversas. Quando uma pessoa se 
mostra vulnerável e expõe suas fragilidades, isso causa uma reação 
imediata em quem escuta, abrindo os corações de todo o grupo.
Heather Plett sumariza cinco motivos pelos quais deveríamos utilizar mais 
os objetos da fala17:
 • O objeto da fala convida-nos a escutar muito mais do que a
 falar;
 • O objeto da fala encoraja-nos a sair de uma postura de tentar
 resolver os problemas do outro;
 • O objeto da fala faz comque todas as vozes sejam iguais;
 • O objeto da fala convida-nos a estar mais presentes fisicamente
 na conversa;
 • O objeto da fala cria o silêncio necessário para que as falas
 venham do coração.
Objeto da Fala
66Kit Educação Fora da Caixa
Como?
 
Num círculo de conversa, o objeto da fala pode ser utilizado de duas 
formas: passando de mão em mão ou sendo devolvido sempre ao centro 
do círculo quando alguém termina de falar. A primeira maneira é útil para 
aprofundar as percepções de cada um, ao passo que o segundo modo 
favorece as conexões entre as falas.
O Co-Intelligence Institute, ao apresentar a prática dos círculos de escuta, 
acaba também descrevendo o uso do objeto da fala (no caso, passando de 
mão em mão)18:
“Imagine que nós estamos fazendo um círculo de escuta. Eu, você e alguns 
amigos estamos sentados num círculo de cadeiras. Nós então contamos 
a algumas pessoas que estão chegando o que elas podem esperar. 
Quando todos temos clareza do que vai acontecer, nosso círculo começa. 
Nós sentamos em silêncio. Um bastão (ou outro objeto que caiba nas 
Objeto da Fala
Fonte: Heather Plett.
67Kit Educação Fora da Caixa
Objeto da Fala
mãos) está posicionado no meio do círculo. Uma mulher que se sentiu 
tocada para falar pega o bastão. Ela o segura enquanto fala, e todos nós 
escutamos o que ela diz. Ninguém fala até que esteja segurando o bastão. 
Nós não nos deixamos levar pelo fluxo usual das conversações, em que 
uma pessoa adiciona comentários à fala do outro. Quando a mulher 
termina de falar, ela passa o bastão para o homem à sua esquerda, que 
permanece por um momento em silêncio. Depois de alguns minutos ele 
passa o bastão para a pessoa à sua esquerda e assim continua. O bastão 
segue contornando o círculo, com cada um de nós falando em turnos e o 
restante das pessoas escutando. Quando o tempo agendado para o nosso 
círculo acaba — ou quando o bastão completa uma volta e nenhum de nós 
fala — o bastão é devolvido para o centro e nosso círculo é finalizado”.
Segundo George Pór, conversas circulares ancoradas por um objeto da 
fala podem ser úteis para fomentar comunidades de aprendizagem, 
tomar decisões, resolver conflitos, priorizar oportunidades, dentre outras 
aplicações. No contexto da educação escolar, o objeto da fala pode ser 
interessante para desde reuniões de professores até interações mais 
profundas na sala de aula. Em percursos independentes de aprendizagem, 
o objeto da fala pode ser aproveitado em atividades de pesquisa, como 
por exemplo entrevistas-diálogo ou grupos focais.
Desde sua origem, os objetos da fala carregam consigo uma simbologia 
sagrada. Representam o poder da fala que vem do coração e o respeito 
pelas vozes de todos. Neste sentido, são como verdadeiros facilitadores.
68Kit Educação Fora da Caixa
Objeto da Fala
Para mergulhar
 • “Aprendendo a falar e a ouvir com o bastão da fala”, Mônica
 Alvarenga. Grupo Foco. Link
 • “O Bastão da Fala (utilizado nas reuniões dos grupos de apoio 
 da AADA)”, Carol Locust. AADA – Associação de Apoio à
 Dermatite Atópica. Link
 • “Why we need more talking pieces”, Heather Plett. Link
 • “The ‘Talking Stick’ Circle: an ancient tool for better decision
 making and strengthening community”, George Pór. Terrapsych.
 com. Link 
69Kit Educação Fora da Caixa
Compartilhamento Biográfico
Olhando com carinho para o nosso passado
O compartilhamento biográfico é uma das atividades que compõem 
o trabalho biográfico, cujo maior expoente no Brasil é a médica 
antroposófica Gudrun Burkhard. O processo consiste em levantar os fatos 
de nossa biografia e compartilhá-las num pequeno grupo, de modo a se 
exercitar a escuta e a suspensão de julgamentos e interpretações.
Geralmente conduzido em períodos de quatro a sete dias de imersão, o 
trabalho biográfico em grupo pode ser adaptado a diferentes contextos e 
demandas.
70Kit Educação Fora da Caixa
Por quê?
Cada biografia humana é um tesouro infindável de histórias, significados 
e potenciais aprendizados. Ancorada em extensos estudos biográficos 
realizados por Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, e por Bernard 
Lievegoed, antropósofo e médico holandês, Gudrun Burkhard tem 
dedicado sua vida à missão de disseminar o trabalho biográfico pelo 
mundo. Em seu livro “Tomar a Vida nas Próprias Mãos” ela diz:
“Quando encontramos uma pessoa que há muito tempo não vemos, 
ocorre um fato interessante. Primeiro tentamos lembrar-nos de seu nome, 
de onde a conhecemos, há quantos anos isto ocorreu, e começamos a 
contar o que aconteceu em nossas vidas desde aquele último encontro. 
Contamos um pedaço de nossas biografias, e com isso a lembrança 
vai aparecendo, cada vez mais nítida, diante de nós. Se fizermos este 
levantamento da história da vida de maneira sistemática, estaremos então 
fazendo um trabalho biográfico”.
Ainda segundo Gudrun, trabalhar a biografia não significa ficarmos 
algemados ao passado, e sim integrá-lo ao presente para que possamos 
viver com mais liberdade. Elaborar, integrar e aceitar o passado tornam-
se, então, cruciais para que criemos conscientemente nosso futuro.
No caso específico do compartilhamento biográfico – que responde apenas 
por uma pequena parte do universo dos trabalhos com a biografia –, 
o grupo aparece como elemento primordial. Escutar a história de vida 
de alguém com o apoio de mais algumas pessoas pode nos ajudar a 
perceber:
 • A diversidade e a riqueza de contextos em que cada pessoa
 está inserida, o que amplia nossa visão sistêmica e nossa
 capacidade de empatia;
 • A sabedoria do outro, expressa não apenas nos conhecimentos
 técnicos ou formais, mas principalmente na narrativa dos
 aprendizados informais;
Compartilhamento Biográfico
71Kit Educação Fora da Caixa
 • As melhores maneiras de ajudar alguém num momento de
 crise, as quais geralmente tem a ver mais com escuta e
 acolhimento e menos com aconselhamentos;
 • A humanidade que nos une, por mais que sejamos diferentes.
Como?
Antes de se fazer um compartilhamento biográfico, é preciso que cada 
pessoa resgate individualmente sua biografia. Para tanto, a antroposofia 
toma como referência os setênios, períodos de sete em sete anos que 
contemplam diferentes fases do desenvolvimento humano. Há uma 
extensa bibliografia a respeito das fases da vida entendidas sob essa 
perspectiva, que não será tratada aqui.
A forma mais simples de se conduzir um resgate biográfico é pedir a cada 
pessoa para rememorar acontecimentos e histórias de vida desde sua 
primeira lembrança (algumas variações focalizam determinado período ou 
contexto específico). Nesse momento, a divisão por setênios pode atuar 
de forma didática para ajudar a memória a trabalhar. Os participantes vão 
anotando as lembranças que vêm à mente, até chegarem nos dias atuais.
Em seguida, é hora de preparar o campo para os compartilhamentos 
começarem. O grupo deve ser composto de três a cinco pessoas, e caso o 
número de participantes seja maior, mais grupos deverão ser formados. A 
duração do encontro dependerá das circunstâncias, mas é recomendável 
separar ao menos de duas a três horas para que as trocas não sejam 
superficiais.
Ao orientar um grupo para o início do compartilhamento biográfico, é 
preciso ter em vista que se trata de um momento ao mesmo tempo muito 
potente e delicado. Também é necessário atentar que:
 • Cada pessoa compartilha somente o que quiser e se sentir à
 vontade com o grupo;
Compartilhamento Biográfico
72Kit Educação Fora da Caixa
 • A escuta do grupo é o elemento mais importante a ser cuidado,
 de modo a se prezar pela suspensão de julgamentos e
 interpretações;
 • Não deve haver interrupções durante o relato do outro, a não
 ser no formato de perguntas;
 • Ao se fazer perguntas, é preciso saber distinguir o que é mera
 curiosidade

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