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MULHERES PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA E A DIFÍCIL TRAJETÓRIA da descoberta ao tratamento no âmbito do Sistema Único de Saúde.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
JÉSSICA DANIELA FERREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
MULHERES PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA E A DIFÍCIL TRAJETÓRIA: 
da descoberta ao tratamento no âmbito do Sistema Único de Saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOÃO PESSOA – PB 
2015 
 
 
 
JÉSSICA DANIELA FERREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
MULHERES PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA E A DIFÍCIL TRAJETÓRIA: 
da descoberta ao tratamento no âmbito do Sistema Único de Saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relatório Final apresentado ao Comitê de Ética em 
Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da 
Universidade Federal da Paraíba – CEP/CCS. 
 
 Orientadora: Prof.ª Dr.ª Edna Tania Ferreira da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOÃO PESSOA – PB 
2015 
 
 
JÉSSICA DANIELA FERREIRA DA SILVA 
 
 
 
MULHERES PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA E A DIFICIL TRAJETÓRIA: 
da descoberta ao tratamento no âmbito do Sistema Único de Saúde. 
 
 
Aprovada em:________ de ______________________ de 2015. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
_______________________________________________________ 
Profª. Drª. Edna Tania Ferreira da Silva. 
Orientadora 
 
_______________________________________________________ 
Profª. Drª. Maria de Fátima Melo do Nascimento. 
Banca Examinadora (UFPB) 
 
_______________________________________________________ 
 Msª. Claudenizia de Oliveira Pereira 
Banca Examinadora (UFPB) 
 
JOÃO PESSOA-PB 
2015 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico ao meu pai (in memoriam), que antes de partir me ensinou a ser forte e 
nunca desistir dos meus sonhos. A este grande homem minha eterna admiração, 
gratidão e amor. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço à Deus pela força, proteção e por ter concedido mais uma vitória 
em minha vida. A meu pai (in memoriam) que sempre foi minha referência como 
pessoa e mesmo tendo ido embora cedo demais me deixou condições para a 
construção dessa etapa. A minha mãe guerreira, que admiro muito como pessoa, 
obrigada por seu imenso amor e dedicação. 
A minha orientadora Profª. Drª. Edna Tania Ferreira da Silva pela 
competência e paciência durante a construção desse trabalho. E a todos os 
professores que contribuíram para o meu crescimento intelectual nessa trajetória 
acadêmica. 
A todas as Assistentes Sociais do Hospital Napoleão Laureano, Christianne, 
Claudenizia, Nelzilene, Klimene, Fabíola e Veruska, profissionais que atualmente 
são minhas referências de como fazer a diferença no meio profissional, obrigada 
pelo acolhimento, paciência e dedicação no período de estágio no hospital. 
Aos meus irmãos Clarice e Rodrigo pela torcida, amo vocês. A minha tia 
Gilvânia, pelo incentivo e cuidados. 
A meu namorado Neto Pimentel por seu companheirismo, incentivo e amor. 
Agradeço também aos meu futuros sogros Claudia Melo e Ernesto Amaral pelo 
apoio e conselhos nos momento mais difíceis. A Dona Aureanita pela amizade. 
Aos meus amigos que foram fundamentais para a construção dessa etapa em 
minha vida, Lilian Medeiros, Vaneide Alves, Cynthia Fernandes, Rafael Silva, Hellen 
de Cássia, Ivanildo Felix, Dayane Monalise, Mayara Thaygra, Fagner Lucas, Rafaela 
Alves, Laudiane, Danilo Pontes e Jéssyca Thamires, obrigada pelo acolhimento, 
dúvidas tiradas, companheirismo, paciência e momentos de descontração. 
Agradeço as amigas que encontrei nessa trajetória acadêmica: Ana Carla, 
Thaíres Lima, Kelly, Fernanda e Odilma, obrigada pelo acolhimento na turma de 
vocês quando fiz a mudança de turno, obrigada pelo companheirismo e amizade. 
Agradeço a Anne Carolinny companheira de estágio pela amizade, cumplicidade e 
força, essa é uma amizade que irei levar para o resto da vida. 
 
 
Aos profissionais responsáveis pelo Hospital Napoleão Laureano por terem 
permitido a realização da pesquisa na instituição, assim como a todas as mulheres 
que a partir de suas histórias de vida, no vivenciar do câncer de mama me deram a 
oportunidade de usar suas vivências, dores e sofrimentos para a construção desse 
trabalho. 
Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a 
realização desse sonho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A saúde pública brasileira está na UTI” 
Sebastião Wanderley 
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém 
ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.” 
Arthur Schopenhauer 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo investigativo analisa as condições de acesso aos programas, serviços e 
ações de saúde pelas mulheres portadoras do câncer de mama em tratamento no 
Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente no que se refere à capacidade de 
prover efetivamente o atendimento e garantir direitos. Configura-se como uma 
pesquisa de campo que buscou conhecer como as mulheres portadoras do câncer 
de mama vivenciam o processo de tratamento da sua saúde que se inicia na 
prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer, com o propósito de identificar 
os aspectos e as dificuldades que enfrentam nessa trajetória para a efetivação do 
direito. O trabalho destaca a questão da assistência à saúde como mecanismo de 
proteção social e do direito de cidadania no âmbito da seguridade social brasileira, 
ressaltando o papel do Estado como fundamental para a implementação da política 
de saúde. O recorte teórico permitiu uma análise histórico-crítica da política da 
saúde no sistema de seguridade social brasileiro, enfatizando, as desigualdades 
sociais como geradoras de contradições, dentre elas, as expressões da questão 
social em que o acesso à saúde se insere. Metodologicamente, diz respeito a uma 
pesquisa analítica de abordagem quanti-qualitativa no processo de análise e 
descrição dos dados obtidos através de entrevistas realizadas com mulheres 
portadoras do câncer de mama em tratamento no Hospital Napoleão Laureano em 
João Pessoa- PB. A discussão e análise dos dados firmam a hipótese da pesquisa 
ao identificar a contradição entre determinadas formas de acesso e a persistente 
desproteção que as mulheres portadoras dessa neoplasia vivenciam. Igualmente 
evidencia o paradoxo entre a legalidade e a efetividade no acesso aos serviços de 
saúde. Esses ainda são perpassados por critérios que excluem do acesso integral a 
população de baixa renda, em se tratando de uma política e de um sistema que 
deveria se pautar nos princípios da universalidade, integralidade, equidade, 
regionalização, hierarquização no trato da política pública de Saúde no Brasil. 
 
Palavras- chaves: Câncer de mama, proteção social, Política de Saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
This investigative study analyzes the conditions of access to programs, services and 
health actions by women with breast cancer undergoing treatment at the Unified 
Health System (SUS), especially with regard to the ability to effectively provide care 
and ensure rights. Set up as a field research that sought to know how women with 
breast cancer undergo the treatment process of your health that begins on 
prevention, in the diagnosis and treatment of cancer, in order to identify issues and 
difficulties facing this trajectory for the realization of the right. The work shows the 
issue of health care as a social protectionmechanism and citizens' rights under the 
Brazilian social security, shows the role of the state as critical to the implementation 
of health policy. The theoretical framework allowed a historical-critical health policy 
analysis in the Brazilian social security system, emphasizing social inequalities as 
generating contradictions, among them, the terms of the social question in that 
access to health is a part. Methodologically, concerns an analytical research of 
quantitative and qualitative approach in the process of analysis and description of 
data obtained through interviews with women living with breast cancer undergoing 
treatment at the Hospital Napoleão Laureano in João Pessoa-PB. The discussion 
and analysis of data have signed the hypothesis of the research to identify the 
contradiction between certain forms of access and the persistent lack of protection 
that women with breast cancer experience. It also shows the paradox between 
legality and effectiveness in access to health services. These still go through criteria 
that exclude the full access to low-income population, in the case of a policy and a 
system should be based on the principles of universality, integrality, equity, 
regionalization, hierarchy in dealing Health public policy in Brazil. 
 
Key words: Breast cancer, social protection, health policy. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AMI Assistência Médica Internacional. 
ASSEFAZ Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda 
BI-RADS Breat Image Reporting and Data System 
BRIC Brasil, Índia, China e Rússia. 
CACON Categoria de Alta Complexidade em Oncologia 
CAMED Centro de Assistência Médica Diagnóstico Especializado. 
CAP’s Caixas de Aposentadoria e Pensões. 
CASSI Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.4 
CFESS Conselho Federal de Serviço Social. 
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas. 
COMSEDER Cooperativa Médica dos Servidores da Suplan e DER Ltda. 
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento. 
CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde. 
CRM-PB Conselho Regional de Medicina da Paraíba. 
DETRAN Departamento de Trânsito. 
EBSERH Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. 
FAMENE Faculdade de Medicina Nova Esperança. 
FASSINCRA Fundação Assistencial dos Servidores do Incra. 
FAZER Faculdade Santa Emília de Rodat. 
FCM Faculdade de Ciências Médicas. 
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. 
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. 
FUNASA Fundação Nacional de Saúde. 
FUNCEF Fundação do Economiários Federais 
FUNRURAL Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural 
GEAP Fundação de Seguridade Social. 
HNL Hospital Napoleão Laureano. 
 
 
IAP’s Instituto de Aposentadoria e Pensões. 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. 
INPS Instituto Nacional da Previdência Social. 
IOF Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro. 
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados. 
IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores. 
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social. 
LOS Lei Orgânica da Saúde. 
NOB Norma Operacional Básica. 
OAB Ordem dos Advogados do Brasil. 
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. 
OIT Organização Internacional do Trabalho. 
OMS Organização Mundial de Saúde. 
ONU Organização das Nações Unidas. 
OXFAM Comitê de Oxford de Combate à Fome. 
PAAF Punção Aspirativa por Agulha Fina. 
PAISM Programa de Atenção Integrada à Saúde da Mulher 
PASEP Patrimônio do Servidor Público. 
PIS Programa de Integração Social. 
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio. 
PNAO Política Nacional de Atenção Oncológica. 
PPI Programação Pactuada e Integrada. 
 
 
Pro-Onco Programa de Oncologia. 
SAI Sistema de Informação Ambulatorial. 
SES Secretária Estadual de Saúde. 
SISMAMA Sistema de Informação do Câncer de Mama 
SMS Secretaria Municipal de Saúde. 
SNC Serviço Nacional do Câncer. 
SUCAM Superintendência de Campanhas da Saúde Pública. 
SUS Sistema Único de Saúde. 
UFPB Universidade Federal da Paraíba. 
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina 
UGT União Geral do Trabalho. 
UNIMED Sociedade Cooperativa de Trabalho Médico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela I - Idade das mulheres portadoras de câncer de mama, João Pessoa- PB, 
2014. 
Tabela II - Cidade na qual as mulheres portadoras de câncer de mama entrevistadas 
moram atualmente. João Pessoa- PB, 2014. 
Tabela III - Ocupação das mulheres portadoras de câncer de mama, João Pessoa-
PB, 2014. 
Tabela IV - Renda das mulheres portadoras de câncer de mama, João Pessoa- PB, 
2014. 
Tabela V - Período de espera para receber o exame diagnóstico de câncer de 
mama, João Pessoa-PB, 2014. 
Tabela VI - Período vivenciado pelas mulheres portadoras de câncer de mama entre 
o diagnóstico e o início do tratamento, João Pessoa- PB, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico I - Maternidade das mulheres portadoras de câncer de mama, João Pessoa- 
PB, 2014. 
Gráfico II - Estado civil das mulheres portadoras de câncer de mama, João Pessoa-
PB, 2014. 
Gráfico III - Escolaridade das mulheres portadoras de câncer de mama, João 
Pessoa-PB, 2014. 
Gráfico IV - Dados referentes à esfera onde foi realizada a mamografia, João 
Pessoa- PB, 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 17 
CAPITULO 1- POLITÍCA SOCIAL E POLITÍCA DA SAÚDE: desenvolvimento 
histórico e tendências recentes. ............................................................................ 22 
1.1.Os Direitos e a Política Social: a cidadania no Brasil. ................................... 22 
1.2. A Seguridade Social brasileira ........................................................................ 38 
1.3. O Sistema Único de Saúde .............................................................................. 42 
CAPITULO 2 – A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA ............... 53 
2.1. A Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO) ..................................... 53 
2.2. O Câncer de mama. .......................................................................................... 54 
2.3. Programa Nacional de Controle do Câncer de Mama ................................... 56 
2.4. Rastreamento do Câncer de Mama. ................................................................ 59 
2.5. SISMAMA - Sistema De Informação do Câncer de Mama ............................. 61 
2.6. Direitos das mulheres portadoras do câncer de mama. ............................... 63CAPITULO 3 - As expressões atuais do Sistema Único de Saúde e o direito das 
mulheres ao tratamento do câncer de mama, entre a proteção e a desproteção 
social. ....................................................................................................................... 67 
3.1. A instituição onde se desenvolveu a pesquisa: o Hospital Napoleão 
Laureano. ................................................................................................................. 69 
3.2. As mulheres portadoras do câncer de mama usuárias das instituições de 
atenção à saúde: traços que se aproximam da desproteção social. .................. 72 
3.3. As dificuldades que as pacientes encontraram durante o tratamento no 
âmbito do SUS. ........................................................................................................ 93 
3.4. As mudanças que o câncer de mama causou na vida dessas mulheres. ... 95 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 99 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 103 
APÊNDICE A- FORMULÁRIO DE ENTREVISTA .................................................. 114 
 
 
ANEXO A- PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA MÉDICA DO HOSPITAL 
NAPOLEÃO LAUREANO ....................................................................................... 116 
ANEXO B- CERTIDÃO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 
DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA 
PARAÍBA- CEP/CCS .............................................................................................. 117 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente estudo é fruto da experiência vivenciada na disciplina Estágio 
Supervisionado II, do curso de Graduação em Serviço Social, da Universidade 
Federal da Paraíba, realizado no Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa-PB, 
no período de um semestre letivo. A referida experiência oportunizou o contato com 
mulheres portadoras do câncer de mama, que relatavam as suas necessidades para 
ter acesso efetivamente ao tratamento no âmbito do Sistema Único de Saúde, 
percorrendo uma árdua trajetória que as submetiam a enfrentar muitas dificuldades 
subjetivas e objetivas que envolvem a doença. 
Trata-se de um estudo analítico-crítico sobre mulheres portadoras de câncer 
de mama e a difícil trajetória, da descoberta ao tratamento no âmbito do Sistema 
Único de Saúde. 
Na atualidade, essa temática é bastante significativa considerando os altos 
índices de mortalidade que permeiam as estatísticas no Brasil e no mundo sobre o 
câncer de mama. Ademais, por se tratar de uma questão que adquire centralidade 
nas análises cientificas. Igualmente, é objeto de investimento no campo da saúde 
pública, tornando-se uma expressão da questão social diante da fragmentação e 
fragilidades das políticas sociais que comprometem os direitos sociais. 
O estudo foi desenvolvido através da realização de entrevistas com 12 
mulheres portadoras de câncer de mama em tratamento no Hospital Napoleão 
Laureano, escolheu-se uma amostragem simples e aleatória devido ao tempo para a 
realização da pesquisa, que foi mínimo. Desta forma, elegeu-se um critério 
qualitativo para a escolha das entrevistadas, qual seja: mulheres que se 
encontravam em estágio avançado no tratamento, de preferência aquelas que já 
tinham passado pelo processo da mastectomia, facilitando assim, a identificação das 
principais questões discutidas. 
 A pesquisa foi realizada durante o mês de novembro do ano de 2014. O 
instrumento utilizado foi o formulário (Apêndice A) contendo 14 questões fechadas e 
abertas. Não foi calculado o tempo gasto para a realização de cada entrevista, pois 
algumas entrevistadas foram bastante objetivas enquanto outras detalharam a sua 
luta contra o câncer de mama. 
18 
 
 
 
O estudo cumpriu, as “Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa 
Envolvendo Seres Humanos” (466/2012), editados pelo Conselho Nacional de 
Saúde. Para que essa pesquisa fosse realizada o projeto de estudo foi submetido a 
Comissão de Ética Médica do Hospital Napoleão Laureano, a fim de obter 
autorização para a coleta de dados na instituição, a Comissão Médica emitiu o 
parecer favorável em 30/09/2014. A partir da autorização do hospital o projeto foi 
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da 
Universidade Federal da Paraíba – CEP/CCS conforme preconizado pela Resolução 
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. 
Como referido, a proposta investigativa acerca do tema surgiu das 
inquietações e indagações levantadas acerca da alta incidência e mortalidade por 
câncer de mama no Brasil. Apesar de existir no país políticas públicas atuantes na 
área de oncologia, especialmente para este tipo de câncer, ocupando assim um 
lugar privilegiado na agenda do Ministério da Saúde, a mortalidade por câncer de 
mama vem aumentando a cada ano. Muitas dificuldades são relatadas pelas 
mulheres no acesso ao exame diagnóstico e para poder iniciar o tratamento caso 
haja diagnóstico positivo. 
O câncer de mama é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais 
comum entre as mulheres (excetuando-se os casos de câncer de pele não 
melanoma), respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. Em geral é a quinta 
causa de morte por câncer e a primeira na população feminina brasileira (INCA 
1996-2014). 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (2013) houve 
um aumento relevante na mortalidade por este tipo de câncer entre as mulheres 
brasileiras de 30 aos 69 anos que passou de 17,4 por 100 mil mulheres em 1990 
para 20,4 em 2010, o que representa um aumento de 16,7% de mortes por essa 
neoplasia, mesmo esse câncer sendo mais comum entre mulheres com idade de 40 
a 69 anos. Ainda o INCA (2014), estima que no biênio 2014-2015, 57.120 pessoas 
serão acometidas pelo câncer de mama. 
O que diz respeito ao Estado da Paraíba, onde foi realizada a pesquisa, o 
mesmo apresenta uma taxa de 37,62 para cada 100 mil mulheres. Em João Pessoa, 
estima-se 260 casos novos, com um risco estimado de 66,48 em cada 100 mil 
19 
 
 
 
mulheres. Conforme a base de dados do Datasus, no ano de 2013, 212 mulheres 
morreram na Paraíba vítimas de câncer de mama, e até agosto de 2014 foram 
registrados 130 óbitos (pbagora, 2014). 
É importante ressaltar que esse tipo de câncer é o mais frequente nas 
mulheres das regiões Sudeste (71,18/ 100 mil) e Sul (70,98/ 100 mil). A alta 
incidência e mortalidade provocou a priorização do controle dessa neoplasia 
reafirmada no lançamento do Plano Nacional de Fortalecimento da Rede de 
Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer pela presidenta da República, em 
março de 2011 (INCA, 2011). 
Na prática a prioridade que o governo oferece no diagnóstico e tratamento do 
câncer de mama não condiz com a realidade vivenciada pela maioria dos cidadãos 
brasileiros dependentes do Sistema Único de Saúde-SUS. Diante disso questiona-se 
as barreiras que as mulheres portadoras de câncer de mama enfrentam no acesso 
ao tratamento no âmbito do SUS. 
Oliveira (2011) aponta um fator importante que influência esse crescimento de 
incidência e morte por câncer de mama, que é a escassez na oferta do tratamento a 
essa neoplasia, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS. Faltam leitos, 
medicamentos específicos, materiais, médicos. Poucos exames diagnósticos são 
disponibilizados. E a falta de assistência nas cidades pequenas ainda se configura 
em um problema. 
A oferta do tratamento oncológico é um problema,pois o mesmo é ofertado 
de forma desigual no Brasil, ou seja, metade dos atendimentos no país ocorrem em 
algumas capitais, com maior disponibilidade nos grandes centros urbanos em 
especial no Rio de Janeiro e em São Paulo, que são referências no tratamento. 
A mulher portadora de câncer de mama, que depende do Sistema Único de 
Saúde- SUS submete-se a uma longa espera para acessar o serviço além da 
dificuldade de locomoção porque o serviço é ofertado distante do local da sua 
residência, agravando dessa forma essa neoplasia e diminuindo sua possibilidade 
de cura. 
Diante dos dados analisados identificou-se a existência de questões e 
problemas de acesso da população ao tratamento oncológico pelo SUS, as 
desigualdades de oferta de serviços existem e há fragilidades na estrutura da rede 
20 
 
 
 
assistencial, como locomoção, estadia no local de tratamento, acesso aos exames 
entre outros. 
Portanto, o presente estudo que discute estas questões está estruturado em 
três capítulos: 
No primeiro capitulo discute-se o desenvolvimento histórico e tendências 
recentes da política social e da política de saúde, dando ênfase à seguridade social 
brasileira e ao Sistema Único de Saúde-SUS. É abordada a questão do exercício do 
direito e da cidadania no sistema de proteção social, de forma a analisar o porquê 
das fragilidades na rede assistencial e de saúde no Brasil. 
No segundo capitulo foi dado enfoque ao trajeto histórico da Política 
Nacional de Atenção Oncológica - PNAO como também o Programa Nacional de 
Controle do Câncer de Mama dando ênfase ao Rastreamento e o Sistema de 
Informação do Câncer de Mama- SISMAMA. Centra-se também no enfoque teórico 
sobre essa neoplasia destacando os fatores de risco e estimativas de incidência e 
mortalidade. 
No terceiro capítulo procede-se a análise do tema investigado. Foram 
discutidos os dados da pesquisa realizada no Hospital Napoleão Laureano, em 
articulação com a pesquisa bibliográfica realizada em livros, jornais revistas, sites, 
dentre outros. Os dados são apresentados através de tabelas, gráficos e análise 
descritiva. As análises realizadas revelam a relação contraditória que permeia a 
política de saúde entre o processo de proteção e a desproteção das mulheres no 
âmbito do tratamento do câncer de mama. Revelam, sobretudo, a necessidade de 
avanços no SUS. 
Em face desta constatação, afirma-se a hipótese formulada nessa pesquisa, 
que diz respeito à existência de muitas dificuldades e necessidades de assistência à 
saúde, que as mulheres atravessam ao longo do tratamento. Estas necessidades 
nos permitem afirmar um processo de desproteção social maior do que a proteção 
que acessam. 
O presente estudo trará contribuições para o universo acadêmico e 
institucional, como também para os gestores municipais da política de saúde, com o 
material de pesquisa analisado, ao sistematizar o conhecimento das dificuldades 
que mulheres enfrentam em busca de tratamento na saúde pública, principalmente 
21 
 
 
 
porque essas dificuldades foram relatadas sob a ótica das mulheres portadoras do 
câncer de mama que dependem do Sistema Único de Saúde-SUS. 
Seguem as considerações finais, as referências, apêndices e os anexos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
 
CAPITULO 1- POLITÍCA SOCIAL E POLITÍCA DA SAÚDE: desenvolvimento 
histórico e tendências recentes. 
 
1.1. Os Direitos e a Política Social: a cidadania no Brasil. 
Estamos diante de um tema histórico, cujas configurações que cercam o seu 
entendimento e processo requisitam, em primeira dimensão, a compreensão de que 
O Estado é a única instância da esfera social capaz de garantir direitos na forma de 
políticas sociais, e, desse modo, universalização da proteção social, a partir de 
ações desencadeadas pelas classes sociais. Assim, 
Falar sobre direitos e sua relação com a totalidade da vida social 
pressupões considerar os indivíduos em sua vida cotidiana, espaço-
tempo em que as expressões da questão social se efetivam, 
sobretudo, como violação dos direitos. A vida humana não a mera 
reposição aleatória dos indivíduos ou explicitação de uma essência 
natural, mas expressa, além das respostas as demandas imediatas, 
vínculos com a produção da vida genérica, vida essa que se 
caracteriza pelo fato de os indivíduos serem relacionais, diversos 
independentes (BEHRING e SANTOS, 2009, p. 276). 
Segundo Behring e Santos (2009), estabelecer relações entre questão social 
e direitos implica reconhecer o indivíduo social com sua capacidade de resistência e 
de conformismo frente às situações de opressão e de exploração vivenciadas nas 
suas lutas cotidianas, individuais e coletivas, para enfrentar as dificuldades de 
sobrevivência. 
Assim, ainda que existam componentes de resistências, cotidianamente 
depara-se com as sequelas decorrentes do processo de constituição da questão 
social e, segundo Behring e Santos (2009), são conhecidas as “[...] muitas faces da 
questão social no Brasil, das quais as mais perversas é a desigualdade econômica, 
política, social e cultural a que estão submetidas milhões de pessoas [...]” (p.275), 
dentre estas a que se destaca neste estudo, o direito a saúde, identificando os 
processos que dificultam a garantia de serviços para a população em situação de 
pobreza. 
Nessa condição, apresenta-se o caráter contraditório do Estado, enquanto 
esfera pública, que tem implicações direta na extensão, cobertura e qualidade dos 
serviços que são oferecidos à população e sua capacidade de garantir direitos 
23 
 
 
 
universais, uma vez que, diz respeito à instância de decisão que regulamenta e 
pactua direitos. 
Contudo, os direitos que são garantidos, carecem de efetivação para que seja 
do acesso a todos os indivíduos sociais. Portanto, necessitam que ultrapassem o 
campo do direito positivo para se realizarem no âmbito da vida social. Para Vieira 
(2009), não é possível a existência de direitos sem sua realização e sem suas 
mediações. “Do contrário, os direitos e a política social continuarão presa da letra da 
lei irrealizada, do direito natural, histórico ou não, do apriorismo dos princípios e das 
leis, que estão sempre onde não são esperados”. (p. 61). 
Trata-se, portanto, de pensarmos os direitos nas relações que se dão na 
sociedade, cujos fundamentos encontram-se no conjunto das relações sociais 
historicamente determinadas. “É, pois, a ação humana envolvida e determinada pelo 
pertencimento de classes sociais em disputa que ergue, aniquila, reconstrói, 
possibilita e inviabiliza a produção e reprodução da vida sob dadas condições 
materiais” (BEHRING e SANTOS, p 276). 
Para Behring e Santos (2009), no desenvolvimento da sociabilidade, as 
contradições e antagonismos que se põem entre as necessidades do capital e as do 
trabalho inviabilizam amplamente as promessas de liberdade e igualdade. 
“Podemos, assim, afirmar que no tempo presente, os segmentos do trabalho, ao 
invés de sujeitos de direitos, são sujeitos de desigualdades, que convivem nos 
cenários de violência endêmica e de barbárie [...]” (p. 277). 
Nessa perspectiva prevalece nosso entendimento de que, 
Ao conceder tratamento igual aos desiguais, o direito, na sociedade 
capitalista, torna iguais todos os agentes da produção, 
reconhecendo-os na condição de sujeitos individuais e de direitos. 
Assim os proprietários dos meios de produção e o produtor direto são 
abstratamente dotados de vontade subjetiva e considerados, 
capazes de praticar os mesmos atos. [...] O Direito assume, portanto, 
na formação social capitalista, uma função ideológica de alta 
complexidadecom conseqüências sócio-politicas. Isso porque 
quando reconhece os agentes da produção como sujeitos iguais, na 
verdade, efetiva-se ai um modo particular de ordenar e disciplinar os 
conflitos sociais. Entram em cena dispositivos normativos e 
ideológicos que servem ao processo de naturalização das relações 
econômicas e de classes, na medida em que os indivíduos são 
tratados de modo genérico, destituídos das relações reais e 
históricas que vivenciam. (BEHRING e SANTOS, 2009, p. 278). 
24 
 
 
 
Essa análise apresentada contrapõe a que se concebe na sociedade 
burguesa, contrapõe ao direito positivo nas formas das leis, a concepção abstrata de 
que o direito é um conjunto de normas jurídicas vigentes em um país, é aquilo que é 
reto, para todos os indivíduos, justo e conforme a lei. É uma organização de uma 
dada sociedade, porque indica a recepção de valores e aponta para a dignidade do 
ser humano. Trata-se, portanto, essa concepção amplamente difundida na 
sociedade burguesa do ocultamento da dominação econômica e política que 
constitui uma das particularidades fundamentais do direito e funciona como 
aparência, “O modo de ser do Estado na sociedade capitalista” (BEHRING e 
SANTOS, 2009, p. 278). 
A análise sobre os direitos sociais e as políticas sociais aqui entendidos, de 
acordo com Behring e Boschetti (2006), se dá a partir de 
[...] um patamar de observação radicalmente crítico, e que não 
reconhece no mundo do capital nenhuma possibilidade de 
conjugação positiva entre a sua acumulação e o princípio da 
igualdade. Portanto se a política social é uma conquista civilizatória e 
a luta em sua defesa permanece fundamental, podendo ganhar em 
países como o Brasil uma radicalidade interessante, ela não é a via 
de solução da desigualdade que é intrínseca a este mundo, baseado 
na exploração do capital sobre o trabalho, no fetichismo da 
mercadoria, na escassez e na miséria em meio à abundância (p. 46). 
Contudo, sob o foco de análise dos direitos como processos contraditórios, 
abordam-se os seus fundamentos sócios históricos na sociedade, com ênfase no 
capitalismo, considerando a ação do Estado no desenvolvimento e na efetivação de 
direitos positivos. “E, nesse sentido, trata-se de apreender a assertiva de que a 
essência humana encontra-se no conjunto das relações sociais historicamente 
determinadas” (BEHRING e SANTOS, 2009, p. 278). 
 Schons (1999), analisando o pensamento de Bobbio (1992) destaca três 
fases na história da formação das declarações dos direitos: A primeira fase são 
obras dos filósofos que acreditavam que os direitos eram naturais aos homens. 
Nesse raciocínio acredita-se que “os homens são livres e iguais por natureza [...] são 
universais em relação ao conteúdo, na medida em que se dirigem a um homem 
racional fora do espaço e do tempo” (BOBBIO apud SCHONS, 1999 p. 56) 
25 
 
 
 
A segunda fase se dá quando a Declaração dos Direitos dos Estados 
Americanos e da Revolução Francesa acolhem as premissas dos então filósofos. 
Neste momento os cidadãos são reconhecidos como portadores de direitos apenas 
em seus Estados, ou seja, “São agora direitos do homem somente enquanto são 
direitos do cidadão deste ou daquele Estado particular” (SCHONS, 1999 p. 56). 
A terceira fase se inicia com a Declaração dos Direitos do Homem em 1948 
onde tem-se o conceito de direito universal e positivo, pois agora os direitos são 
direcionados à todos os homens e não apenas à um Estado em particular. Positivo 
porque passam a ser protegidos de todos que o violarem até mesmo o próprio 
Estado. 
 Diante do exposto pode-se considerar que os direitos nascem em períodos 
distintos das sociedades humanas, sendo processos históricos, se dão em certas 
circunstâncias e podem parar de existir em outras. Pois historicamente os direitos 
eram vistos primeiramente como naturais ao homem em seguida como particulares 
para finalmente serem considerados universais aos indivíduos sociais. Por isso 
nenhum direito pode ser considerado como definitivo. De acordo com Bobbio, 
Os direitos nascem quando devem ou podem nascer. Nascem 
quando o aumento do poder do homem sobre o homem [...] ou cria 
novas ameaças à liberdade do indivíduo, ou permite novos remédios 
para suas indigências: ameaças que são enfrentadas através de 
demandas de limitação de poder; remédios que são providenciados 
através da exigência de que o mesmo poder intervenha de modo 
protetor. (BOBBIO apud SCHONS, 1999 p. 57). 
Portanto, os direitos não podem ser considerados absolutos, pois dependem 
do processo histórico, político, econômico e cultural de uma dada sociedade e 
nascem de acordo com as necessidades da mesma. Assim também se configuram 
os direitos no que se refere a sua constituição em políticas sociais. 
De acordo com Vieira (2009), a grande questão, a saber, é se as políticas 
sociais envolvem direitos ou não envolvem direitos, considerando que as políticas 
têm sido historicamente ligadas ao funcionamento do mercado, à capacidade de 
compensar as falhas deste, à ação e aos projetos do governo, aos problemas 
sociais, à reprodução das relações sociais, à transformação dos trabalhadores não 
assalariados em assalariados, ao abrandamento dos conflitos de classes, entre 
outros. Trata-se, segundo Vieira (2009), de saber se, 
26 
 
 
 
As políticas sociais contêm direitos e elementos de justiça, ou não 
contêm nenhum deles [...]. Afinal, abandonada a totalidade do 
humano, desvinculando-os o singular, o particular e o universal, tanto 
os direitos quanto os elementos de justiça se equivalem, se tornam 
relativos. Não há direitos e justiças superiores, porque possuem os 
mesmos valores. (p. 13). 
De acordo com Bobbio (1992), ao discutir essa questão na “Era dos Direitos”, 
afirma, que o problema grave do nosso tempo, com relação aos direitos do homem, 
não é a busca por fundamentá-los, mas essencialmente a necessidade de protegê-
los, para impedir que mesmo diante de solenes declarações, sejam continuamente 
violados. 
[...] Pode-se dizer que o problema do fundamento dos direitos 
Humanos teve sua solução atual na Declaração Universal dos 
Direitos do Homem aprovada pela Assembléia Geral das Nações 
Unidas, em 10 de dezembro de 1948. A Declaração Universal dos 
Direitos do Homem representa a manifestação da única prova 
através da qual um sistema de valores pode ser considerado 
humanamente fundado e, portanto, reconhecido: e essa prova é o 
consenso geral a cerca da sua validade. [...] Trata-se, certamente, de 
um fundamento histórico e, - como tal, não absoluto: mas esse 
fundamento histórico do consenso é o único que pode ser 
factualmente provado (BOBBIO, 1992, p. 26 e 27). 
Contudo, para Bobbio, a Declaração Universal significa a consciência positiva 
na história de que a “[...] humanidade tem dos seus próprios valores fundamentais 
na segunda metade do século XX. É uma síntese do passado e uma inspiração para 
o futuro: mas suas tábuas não foram gravadas de uma vez para sempre” (1992, p. 
34). 
De acordo com Vieira (2009), Bobbio não afirmou ser absoluto os “Direitos do 
Homem”, mas afirmou que ele os universalizou por meio do “Fundamento Histórico 
do consenso, é o único que pode ser factualmente comprovado” (p. 15). 
De acordo com Vieira (2009), Bobbio afirma em sua análise que os direitos 
naturais são direitos históricos; nascem no início da era moderna; juntamente com a 
concepção individualista da sociedade; tornam-se um dos principais indicadores do 
progresso histórico na definição e afirmação desses direitos. No entanto Bobbio 
(1992), afirma também que esses direitos precisam ser protegidos, Para ele, “[...] 
uma coisa é proclamar esse direito. Outra é desfrutá-lo efetivamente” (1992, p. 9 e 
10). 
27Segundo Telles (2006), analisando o pensamento da autora Hannah Arendt 
afirma que ter direitos significa “ter direitos a ter diretos”, ou seja, para ela é 
necessário que se tenha um espaço público, onde os indivíduos possam ter a 
liberdade de se organizarem politicamente para expressar suas opiniões e 
diferenças, visando uma negociação possível para se alcançar o bem público como 
coisa pública, isto quer dizer que: “o direto só pode existir no exercício efetivo dos 
direitos” (ARENDT apud TELLES, 2006 p. 59). 
A elaboração do conjunto de direitos que conduzem a sociedade deve ser 
pautada na dinâmica cultural e na interpretação das diferenças presentes na 
sociedade para discernir o que é justo e injusto, é através dos direitos que a defesa 
de interesses é percebida na vida social pública. Isso quer dizer que os direitos, 
Determinam-se nesse ponto de intersecção entre a legalidade e a 
cultura, a norma e as tradições, a experiência e o imaginário, 
circunscrevendo o modo como os dramas da existência são 
apreendidos, problematizados e julgados nas suas exigências de 
equidade e justiça (TELLES, 2006 p. 69). 
Portanto para que o direito ganhe inscrição jurídica faz-se necessário, além 
da ação do Estado, a participação da sociedade ou uma grande parte dela, ou seja, 
é preciso que esse direito ganhe o espaço público. 
Como já foi dito no início dessa discussão sobre os direitos e as políticas 
sociais, a única instância capaz de garantir que a população tenha acesso aos 
direitos é o Estado, pois o mesmo representa a possibilidade de ser permeado pelas 
forças organizadas da sociedade constituindo-se em um espaço de decisão que 
firma e regulamenta direitos e onde há uma correlação de forças na luta pelos 
direitos sociais. 
De acordo com Behring e Santos (2009), a preocupação mais direta com a 
luta pela realização dos direitos se ergue historicamente com toda a força com a 
constituição dos Estados Sociais, a partir do término da crise mundial de 1929. 
O Estado enquanto instituição garantidora de direitos se ampliou após a 
Segunda Guerra Mundial, onde o seu papel intervencionista se intensificou na 
economia e desempenhou um papel importante na multiplicação de políticas sociais 
em todo o mundo, é o chamado Estado de Bem-Estar Social (Welfare State). Neste 
28 
 
 
 
momento houve uma extensão dos direitos sociais e da oferta de serviços sociais de 
forma universal, principalmente nos países centrais, garantindo padrões mínimos de 
atenção às necessidades básicas da população. Esse modelo ganhou mais força 
quando incluiu o conceito de cidadania em suas pautas associando a ideia de que 
os indivíduos são dotados de direitos sociais, essa concepção ocorreu com o fim dos 
governos totalitário da Europa Ocidental (Nazismo, fascismo etc.). 
Segundo Behring e Santos (2009), essa luta se ergue também, 
[...] e mais adiante, a partir da década de 60, com as ditaduras 
militares na América Latina, período em que os movimentos sociais e 
diferentes sujeitos coletivos passam a defender e consolidar, em sua 
agenda política, a cultura de defesa dos direitos. [...] questões essas 
fundamentais para a efetivação da vida com liberdade, bem como 
para a valorização da diversidade humana e, portanto, para o 
desenvolvimento do gênero humano, fundado num projeto de 
emancipação humana. O problemático é que isso tudo aconteceu no 
espaço tempo de efervescência pela ruptura com os referenciais 
críticos a ordem burguesa. E a lutas empreendidas, apesar da 
relevância que tiveram, considerando a organização dos sujeitos; a 
identificação de novas questões indutoras de formas de opressão; a 
possibilidade da incorporação crítica de valores e princípios éticos na 
luta política, não possibilitaram aos sujeitos coletivos do trabalho que 
se tornassem capazes de apreender em profundidade as 
determinações e as relações complexas entre a violação de direitos e 
a sociabilidade vigente (p. 279). 
No Brasil um modelo determinado de Estado Social se origina no governo 
Vargas na década de 30 com a criação do Ministério do Trabalho que mantinha uma 
relação harmônica entre trabalhador e empregador. Este governo configurou-se em 
políticas voltadas ao atendimento às demandas do trabalhador urbano- industrial por 
meio da legislação e sindicalização. A Constituição de 1934 definiu o campo dos 
direitos que passaram a ser assegurados ao povo brasileiro, destacando: 
A legislação trabalhista, a regulamentação do trabalho feminino e dos 
menores no âmbito industrial, o salário mínimo, o repouso 
remunerado, a fixação da jornada de trabalho de oito horas, férias 
anuais remuneradas, regulamentação especial para o trabalho 
agrícola, amparo aos desvalidos, amparo à maternidade e à infância, 
direito à educação primária integral e gratuita. (Souza, 2005. p. 02) 
 A fim de dar maior visibilidade à sua política o então presidente organizou 
também os benefícios da previdência, estimulando primeiramente a expansão das 
Caixas de Aposentadoria e Pensões- CAP’s e em 1933 substituindo as mesmas 
29 
 
 
 
pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAP’s onde agora os trabalhadores 
eram organizados por profissões e não mais por empresas, os benefícios 
assegurados aos associados eram: pensão por morte para seus dependentes, 
aposentadoria e assistência médica e hospitalar e a compra de medicamentos por 
baixos preços. Ainda na era Vargas em 1939 foi consolidada a Justiça do Trabalho e 
elaborada a CLT (Consolidação das Leis trabalhistas). 
Esse governo aprimorou também a ação estatal no âmbito da saúde pública, 
a mesma foi institucionalizada com a criação do Ministério da Educação e Saúde 
Pública onde a área sanitária passou a integrar a área educacional. Com a formação 
desse Ministério ocorreu uma grande reformulação dos serviços sanitários no país. 
Desta forma o governo mostrou-se comprometido em garantir bem-estar sanitário a 
população. A atuação de Vargas nesse setor representou um avanço, onde a 
população obteve mais atenção à saúde garantida pela legislação vigente que 
possibilitava a assistência médica a muitos indivíduos. O que se destacou nesse 
contexto foi a criação de serviços especiais para educação em saúde. 
A política adotada por Vargas possibilitou uma maior atenção médica aos 
trabalhadores e seus dependentes passando a estruturar a área previdenciária que 
durante esse governo foi o principal eixo de assistência médica dos trabalhadores 
urbanos com a Previdência Social e Saúde ocupacional institucionalizada pelo 
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. 
O governo Vargas possuía um caráter populista e desenvolvimentista e teve 
papel importante no desenvolvimento dos direitos sociais no país onde priorizou o 
campo trabalhista criando uma legislação imensa, constituindo-se uma das maiores 
conquistas do período, mesmo que se tenha dado por um viés controlador e 
paternalista. 
Porém, o pré-requisito para acessar aos direitos era estar inserido no 
mercado de trabalho formal, e as políticas sociais se deram com o objetivo de 
controlar as massas trabalhadoras para haver uma relação harmônica entre 
proletário e capitalista. Sem contar que a saúde tinha como objetivo principal de 
regular a saúde do trabalhador em prol a indústria. 
O Estado de Bem-Estar Social teve uma expansão considerável no momento 
da Ditadura Militar, esse regime formulou políticas sociais estendendo direitos aos 
30 
 
 
 
segmentos antes excluídos, a fim de ganhar legitimidade do governo perante a 
população e com o intuito de controlar a mesma. 
Em 1966 foi criado o Instituto Nacional da Previdência Social- INPS em 
substituição dos IAP’s que cobriam apenas algumas categorias profissionais que 
eram mais organizadaspolítica e economicamente. Com o INPS todo trabalhador 
urbano com carteira assinada e seus dependentes passam a ser beneficiados pela 
Previdência Social. 
Em 1972 foram incluídos na previdência os empregados domésticos em 1973 
os trabalhadores por conta própria e em 1974 os trabalhadores temporários em 
empresas. Foi incluído também o trabalhador rural com a criação do Fundo de 
Assistência ao Trabalhador Rural- FUNRURAL, porém este era separado do INPS, 
pois os recursos desse benefício eram provenientes de produtos rurais e de um 
imposto sobre a folha de pagamento de empresas urbanas. 
O regime também criou a renda mensal vitalícia para pessoas incapacitadas 
de prover seu sustento e que tivessem contribuído no mínimo 1 ano pra Previdência 
Social, como deficientes e pessoas maiores de 70 anos. E em consonância com tais 
medidas foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Social. 
Nesse governo houve a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço-
FGTS um tipo de seguro-desemprego a fim de compensar a flexibilidade da 
legislação trabalhista. 
A saúde também foi beneficiada, mesmo o então regime ter privilegiado o 
setor privado já que a saúde era vinculada à Previdência Social. Em 1967 houve a 
promulgação do Decreto Lei 200 que atribuía as funções do Ministério da Saúde, em 
1970 foi criada a Superintendência de Campanhas da Saúde Pública- SUCAM, com 
objetivo de erradicar e controlar endemias, em 1975 foi instituído no papel o Sistema 
Nacional de Saúde que estabelecia as ações na área da saúde dos setores públicos 
e privados. E em 1978 fundou os Institutos de Assistência Médica da Previdência 
Social, o qual, o acesso era via contribuição. 
No Regime Militar ocorreu a ampliação dos direitos, porém houve uma maior 
seletividade na oferta dos serviços com a “pulverização das ações e segmentação 
do usuário por faixas etárias, necessidades e problemas” (SOUSA apud 
BENEVIDES, 2011, p. 64). A proteção social era para todos, ao menos em teoria, 
31 
 
 
 
pois o sistema público oferecia seus serviços de forma precária fortalecendo desta 
forma o setor privado que atraia a população que podia pagar por seus serviços 
acentuando desta forma a desigualdade em nosso país e fortalecendo a ideia de 
serviços públicos para pobres. 
Contudo, é somente na Constituição de 1988, conhecida como “Constituição 
Cidadã”, que a concepção de direito da cidadania é incorporada efetivamente, 
configurando-se assim em um Estado de proteção social com a regulamentação da 
Seguridade Social. Até então o sistema de proteção social se dava de forma 
fragmentada e pontual resistindo à perspectiva de que essa proteção deveria ser 
garantida pelo Estado ao cidadão. 
Nesse momento há avanços na luta pelas políticas sociais e uma maior 
participação popular, que se traduz em incorporação dos direitos dos cidadãos à 
proteção social na Constituição Federal incluindo a garantia de direitos à saúde, 
assistência social e previdência, concebendo essas políticas como questão pública 
de responsabilidade do Estado (Benevides, 2011), reforçando assim direitos mais 
amplos. 
Esse é um marco para os direitos sociais no Brasil, pois ocorre a 
ampliação do sistema de proteção social e instituição de princípios 
de universalização, ancorada na noção de direito social, 
acompanhado de um esforço governamental, principalmente nos 
últimos anos, em ampliar o atendimento nas três dimensões da 
seguridade social. O direito social foi visto como o fundamento da 
política, com um comprometimento do governo com o sistema de 
proteção, projetando um acentuado grau de provisão do Estado, 
cabendo ao setor privado um papel complementar. (DRAIBE apud 
BENEVIDE, 2011. p. 65). 
 Destaca-se nessa nova Constituição a criação do Sistema Único de Saúde- 
SUS que incorpora os princípios de universalidade, integralidade, equidade, 
hierarquização, participação popular e descentralização; a criação do seguro-
desemprego; um piso mínimo para os benefícios; e a extensão da previdência rural 
estendendo os benefícios às mulheres não estando mais atrelado à unidade familiar, 
além de ter a idade de aposentadoria reduzida aos 60 anos para os homens e 55 
anos para as mulheres. 
É certo que essa nova Constituição trouxe avanços quanto à ampliação de 
direitos sociais incorporando o direito de cidadania em seus objetivos gerando uma 
32 
 
 
 
pauta de direitos e deveres, porém desde o início do Estado Social brasileiro na era 
Vargas (1930) o alcance dessas políticas se deram de forma muito insatisfatória e 
conservadora de cunho compensatório com cobertura insuficiente e baixa qualidade 
dos serviços prestados, com isso houve e há uma acentuada manutenção da 
desigualdade social elevando desta forma a pobreza no país, onde uma grande 
parcela da população economicamente ativa está fora do mercado formal de 
trabalho. A desigualdade no Brasil é tão acentuada que alguns autores questionam 
se realmente houve um Estado Social no país. 
Furtado (2013. p.19) fazendo referência a concepção gramsciana referente ao 
Estado ampliado, deixa claro que o Estado é contraditório, pois possui duas esferas 
distintas pela função que exercem na organização da vida social: a “sociedade 
política” e a “sociedade civil”, de um lado ele responde às classes dominantes e por 
outro a população onde o atendimento a essa demanda se dá através das políticas 
sociais, fruto de reinvindicações e lutas das mesmas, porém a oferta dessa política 
social se dá de forma contraditória pois ao mesmo tempo que acolhe as 
necessidades da população serve para mantê-la controlada, gerando assim 
condições para reprodução da força de trabalho necessária à reprodução do capital. 
Vivemos em um Estado contraditório, a posição de hierarquia entre classes 
faz com que o princípio de universalidade e igualdade do direito não se efetive, onde 
reina o individualismo e o outro já não é visto como um sujeito de valores e seus 
direitos são desrespeitados a menos que ele pertença a uma classe social 
determinada. Para a classe pobre fica reservado a seletividade das políticas e sua 
cobertura insuficiente. É o chamado Estado paternalista onde os serviços que o 
mesmo oferta ainda são vistos como favor e não como direitos, sendo um poderoso 
mecanismo de manutenção da tutela dos pobres e reprodução da pobreza. 
De acordo com Telles (2006, p.88) esse contexto atual do direito: 
É uma figuração que corresponde ao modo como as relações sociais 
se estruturam sem outra medida além do poder dos interesses 
privados, de tal modo que o problema do justo e do injusto não se 
coloca e nem tem como se colocar, pois a vontade privada- e a 
defesa de privilégios- é tomada como a medida de todas as coisas. 
A cidadania no Brasil só pode ser exercida se o indivíduo tiver um vínculo 
profissional formal, ou seja, somente aqueles que estão inseridos no mercado de 
33 
 
 
 
trabalho formal são qualificados para exercer seus direitos, deste modo é através do 
sindicato que o cidadão pode ter acesso aos benefícios sociais garantidos pelo 
Estado. 
Assim, os que estão inseridos no mercado de trabalho informal ou 
desempregados são considerados de acordo com Telles (2006) “pré- cidadãos” que 
ficam à mercê da assistência social precária e mínima que predomina com seus 
benefícios eventuais e que tem como principal objetivo atenuar a miséria, ou seja, 
ajudar a sobreviver na miséria, portanto este mesmo Estado garantidor de direitos 
acaba reproduzindo e escancarando as desigualdades sociais presentes na 
sociedade. 
Dessa forma tem-se historicamente no Brasil que os direitos foram pautados a 
partir de práticas em que, “a justiça se transforma em caridade e os direitos emajuda, a que o indivíduo tem acesso não por sua condição de cidadania, mas pela 
prova de que dela está excluído” (TELLES, 2006. p.95). Assim, para que o indivíduo 
tenha acesso a algum benefício assistencial, é obrigado muitas vezes submeter-se a 
um processo cruel para atestar sua miséria, e por isso precisa da “ajuda” estatal, 
isso demonstra a hierarquização da oferta de políticas sociais que definitivamente 
não englobam a perspectiva de direito universal e igualitário e sim políticas para os 
pobres e políticas para os que contribuem mensalmente através do trabalho. 
Nessa perspectiva analisa-se o direito pelo ângulo de sua concretude e 
materialidade, compreendendo o direito a partir do conflito de classes, avançando 
sobre a mera aparência, focando-o pela perspectiva do poder e da classe dominante 
que o positivam. 
No atual sistema de regulação neoliberal de orientação para o mercado 
privilegia-se o capital privado enfraquecendo assim as políticas sociais, defende 
dessa forma um Estado mínimo que além da privatização almeja-se que ocorra uma 
maior flexibilização dos direitos sociais. É evidente que nem todos gozam da 
cidadania plena. 
Portanto, o conteúdo do direito se expressa nas relações entre classes 
sociais, ao longo do tempo histórico muitas lutas sociais obtiveram êxito e uma 
grande parte dos direitos efetivados foram conquistados através da pressão popular 
como o Estado Social que é fruto das reinvindicações dos trabalhadores por 
34 
 
 
 
melhores condições de trabalho e de vida. Daí o direito ser entendido na esfera das 
correlações de forças sociais, de conquistas sociais, na medida em que novas leis 
podem ser criadas e outras executadas na realidade do dia a dia. 
Para Behring e Santos (2009) a conjuntura dos anos de 1990 aos dias atuais 
tem sido demarcado processos constantes de violações dos direitos humanos, 
processos de guerra que foram desencadeados para garantir a expansão do capital. 
Assim, 
As duas últimas décadas foram de retração de direitos face a 
universalização das relações mercantis, em que não parece escapar 
a força, ao controle e direção do sistema do capital que submete 
todas as dimensões da vida social ao valor de troca, agudizando as 
expressões da questão social. Em tempos difíceis assim, há uma 
tendência contraditória para a reação, que pode se expressar na 
forma de imobilismo; na adesão passiva a ordem; ou na resistência, 
que assume direção política variada a depender do nível de 
organização e da capacidade crítica protagonizada pelos sujeitos 
coletivos. (p. 279) 
Portanto, para as autoras citadas anteriormente, apesar de a política e o 
direito constituírem dimensões relevantes na institucionalização e no modo de ser 
das sociedades, mesmo assim, não é possível alcançar o núcleo da sociabilidade e 
da individualidade. 
Nesse sentido quando os direitos são conquistados e regulados na 
forma da lei, isso não significa a superação nem da desigualdade 
social nem das formas de opressão vigentes na vida cotidiana. As 
lutas por direitos nutrem de possibilidades o processo de 
socialização da política, ao tempo em que explicitam seu limite, 
quando se constitui um tipo de universalidade abstrata no 
reconhecimento de sujeitos de direitos universais, uma forma 
particular de a burguesia reivindicar para si o domínio ideológico da 
sociedade. Nesse sentido o destino das lutas por direitos está 
determinado na dinâmica da luta de classes, num complexo jogo que 
envolve disputas ideológicas quanto à concepção de sociedade e do 
projeto societário que se deseja afirmar (BEHRING e SANTOS, 
2009, p. 280). 
 
Contudo, é necessário entender que, 
Apesar dos avanços democráticos e da organização de inúmeros 
sujeitos coletivos e suas lutas reivindicando direitos, temos que 
considerar a relação de determinação posta pela totalidade da vida 
social. As respostas dadas aos sujeitos em suas lutas são 
35 
 
 
 
permeados por interesses de classes. Em cada conjuntura, as 
conquistas e/ou regressões de direitos resultam de embates políticos 
e, nesse front, os interesses do capital têm prevalecido (BEHRING e 
SANTOS, 2009, p. 280). 
Para Vieira (2009), talvez seja o caso de reconhecer, para além da afirmação 
de Bobbio, que a grande questão do tempo presente é que nele “é, imprescindível 
fundamentar, proclamar e proteger os direitos do homem” (p. 19). Para ele desde o 
final do século XX o que se observa são violações dos direitos humanos, sem 
obedecer a qualquer princípio ligado aos interesses universais. 
A verdade é que se trocou [...] a participação na política pela 
participação no mercado, porque eleições periódicas e partidos 
variados não geram automaticamente cidadania política e a luta não 
se trava entre populismo e tecnocracia. Com efeito, a luta não se 
trava unicamente entre populismo e tecnocracia, como auguram os 
bondosos donos da terra, trava-se por muito mais do que imagina a 
vã filosofia. (VIEIRA, 2009, p. 20) 
Em tais circunstâncias históricas, percebemos que de acordo com Behring e 
Boschetti (2006), 
O último período da história da humanidade tratou de desfazer a 
ilusão de Marshall (1967), para quem as conquistas da cidadania 
poderiam se sobrepor à desigualdade. O neoliberalismo e sua atual 
saída belicista mostra que houve uma espécie de revanche da 
desigualdade sobre a cidadania. O que paradoxalmente atribui uma 
radicalidade inusitada à luta em defesa da cidadania na qual se 
incluem os direitos sociais e humanos (p. 40) 
Nesse sentido, ainda hoje é fundamental defender os direitos humanos e 
sociais, sobretudo porque permanecem constantemente violados. Para demonstrar 
essa perspectiva basta situar a realidade em que uma boa parcela da humanidade 
está excluída do acesso as condições dignas de vida. 
Além disso, já sabemos que dos anos 90 em diante a configuração dos 
padrões universalistas e redistributivos que marcam o modelo de políticas sociais foi 
fortemente atravessada pelas estratégias do capital em crise, reestruturando as 
funções do Estado, sob a perspectiva de uma reforma que restringiu e reduziu os 
direitos sociais e as políticas sociais. 
36 
 
 
 
O Relatório Anual do Banco Mundial de 2013 indicou que mais de 1 bilhão de 
pessoas estão vivendo abaixo da linha da pobreza no mundo, o mesmo relatório 
informa que a desigualdade e a exclusão social estão aumentando em muitos 
países. No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –IPEA, em 
2013 a pobreza extrema cresceu, passou de 10.081.225 em 2012 para 10.452.383 
pessoas que vivem com menos de R$ 77 per capita por mês, ou seja, o número de 
pobres subiu para 5,50% primeira alta desde 2003. 
Enquanto isso o número de bilionários cresceu, de acordo com o relatório 
“Equilibre o Jogo” (2014) elaborado pelo grupo Oxfam, atualmente existem 85 
pessoas mais ricas do mundo que possuem o equivalente à metade mais pobre da 
humanidade e a cada dia que passa essas pessoas acumulam mais riquezas, 
segundo o mesmo relatório, essas 85 pessoas ficaram US$ 668 milhões mais ricas a 
cada dia. Enquanto 1 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1,25 por dia em 
todo o mundo. Segundo Vieira (2009) isso é uma das faces ocultas da globalização 
responsável pelo aumento das desigualdades na distribuição mundial de riqueza. 
No Brasil, segundo a “Organização para a Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico- OCDE publicou no Relatório Territorial Brasil 2013” (CORRÊA, 2013, 
p.1) que o país tem a segunda pior distribuição de renda, ou seja, é o segundo país 
mais desigual do mundo. 
Segundo o relatório de “Tendências Mundiais do Emprego 2014” indicam que 
em 2013 a taxa de desemprego atingiu 6% da população mundial economicamente 
ativa. No Brasil, de acordo com aOrganização Internacional do Trabalho- OIT a taxa 
de desemprego atingiu 6,5% em 2013, sendo considerado o único país entre os 
integrantes do Bric (Brasil, Índia, China e Rússia) que teve uma taxa de desemprego 
maior que a média mundial e segundo estimativas da mesma organização essa taxa 
continuará assim até 2016 (FERNANDES, 2014). 
Também cresceu o número de pessoas que saem de seus países de origem 
em busca de uma vida melhor, refugiados da guerra ou por diversos outros motivos. 
Segundo a ONU o número de imigrantes em 2013 aumentou, totalizando um número 
de 230 milhões de pessoas que deixaram seus países de origem. Os países mais 
procurando por esses imigrantes são os desenvolvidos como Estados Unidos que 
acolheu cerca de 46 milhões em 2013 (UOL,2013). 
37 
 
 
 
“Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE 2010 
há cerca de 286.468 imigrantes vivendo no Brasil” (R7, 2012, p.1). Esses imigrantes 
muitas vezes vêm ao país em busca de emprego e de condições mais seguras que 
tem em seus países. Porém ao chegar se deparam com inúmeras dificuldades como 
o caso dos africanos que sofrem racismo e xenofobia, sem contar que muito deles 
vão morar nas periferias das grandes cidades ou em prédios invadidos em 
condições insalubres. E estão mais vulneráveis ao trabalho escravo, principalmente 
aqueles que não são qualificados para o mercado e os que estão no país 
ilegalmente. 
O trabalho escravo ainda consiste em um problema, de acordo com dados 
divulgados pela Folha de S. Paulo em 2013 cerca de 30 milhões de pessoas em 
todo o mundo vivem sob condições de escravidão moderna, principalmente no oeste 
africano onde persiste a pratica de venda, compra e aluguel de pessoas envolvendo 
principalmente mulheres para trabalhos domésticos. No Brasil estudos apontam que 
um a cada mil brasileiros trabalham sob condições de escravidão no país: na 
agricultura, construção civil, trabalho doméstico, onde migrantes do nordeste se 
submetem por um prato de comida e etc. 
Diante do exposto observa-se que os direitos humanos estão sendo 
constantemente violados, os direitos existem mais nem todos podem acessa-los por 
que de acordo com Vieira (2009, p.20) “se trocou a soberania do cidadão pela 
soberania do consumidor”. 
 Segundo Behring e Boschetti (2006, p. 184) 
As políticas sociais brasileiras, profundamente conectadas à política 
econômica monetarista e de duro ajuste fiscal, enveredou pelos 
caminhos da privatização para os que podem pagar, da focalização/ 
seletividade e políticas pobres para os pobres, e da descentralização, 
vista como desconcentração e desresponsabilização do Estado, 
apesar das inovações de 1988. Essa escolha da política econômica, 
conjugada àquele perfil da política social, teve impactos deletérios na 
sociedade brasileira, radicalizando e dramatizando as expressões 
objetivas da questão social. 
Na sociedade atual só tem direito quem tem dinheiro para comprar saúde, 
educação, moradia digna, proteção, pois o Estado em prol do sistema de produção 
capitalista oferece serviços públicos precários e muitas vezes desumanos 
38 
 
 
 
contradizendo o artigo 6º da Constituição Federal que designa como direito de todo 
e qualquer cidadão a saúde, moradia, educação, previdência social, trabalho, 
proteção à infância e maternidade, assistência social, segurança e lazer. 
 
1.2. A Seguridade Social brasileira 
Após a segunda guerra mundial se consolidou em diversos países capitalistas 
o Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), como discutido anteriormente, que 
está relacionado com o processo econômico mundial e os problemas sociais 
gerados a partir dele. Este modelo de Estado passa a subsidiar padrões de saúde, 
educação, habitação e renda. 
O Wefare State é considerado como a forma mais generalizada de proteção 
social realizada pelo Estado, adquirindo um caráter de proteção social pública. 
Desse modo possibilitou a extensão da política social nos países centrais, e nesse 
sentido à ampliação da cidadania. 
Contudo nesse processo ocorreu a ampliação da Seguridade Social em cada 
país de acordo com o grau de desenvolvimento do capitalismo e de questões 
conjunturais, como a organização da classe trabalhadora. Segundo Boschetti (2003), 
essa ampliação foi determinante na regulação das relações econômicas e sociais 
sob o padrão keynesiano-fordista, nos quais as ações do Estado deveriam aumentar 
a renda, promover maior igualdade por meio da instituição de serviços públicos, 
dentre elas políticas sociais tornando-se o núcleo do Estado de Bem- Estar Social. 
No Brasil a consolidação de um sistema de proteção social, sob a perspectiva 
do direito, tem como marco principal a Constituição de 1988, que regulamentou a 
Seguridade Social e representou um dos maiores avanços da sociedade brasileira 
no que se refere à proteção social e no atendimento ás históricas reivindicações dos 
trabalhadores. Representa a promessa de afirmação e extensão de direitos sociais 
em nosso país, e é composta pela política de saúde, assistência social e 
previdência, as quais são consideradas necessidades básicas de uma sociedade. 
A saúde é garantida pela Carta Magna como direito de todos e dever do 
Estado. E deve garantir serviços à população de forma universal e igualitária, ou 
seja, toda a sociedade deve ter acesso a Política de Saúde sem restrições. Essa 
39 
 
 
 
política se dá através do Sistema Único de Saúde (SUS) e tem como princípios a 
universalidade, a equidade, integralidade nos serviços e ações de saúde e é regido 
também por princípios organizacionais que são a hierarquização da rede, a 
participação social, a descentralização, e a regionalização. 
 A Política de Assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado é 
política de Seguridade Social não contributiva e que provê mínimos sociais, por sua 
vez, vem garantir meios de subsistência à população de baixa renda, principalmente 
crianças, idosos e deficientes, por isso tem um caráter focalista quanto a oferta de 
serviços. A regulamentação da Assistência Social através da LOAS- Lei Orgânica da 
Assistência Social (lei nº 8.742/93) rompe com a visão assistencial e filantrópica, 
aumentando a perspectiva de direitos aos segmentos mais necessitados, adotando 
a estratégia de “combate à pobreza” e “vulnerabilidade social” 
A Previdência Social, política de Seguridade Social contributiva, tem por 
objetivo assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis à manutenção, por 
motivo de incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego 
involuntário, encargos de família ou morte daquele o qual a família dependia 
economicamente. Um dos princípios dessa política é a universalidade de 
participação nos planos previdenciários para os contribuintes, seletividade e 
distributividade dos benefícios e serviços. 
 Destacam-se como significativo na concepção de Seguridade Social: a 
universalização; a concepção de direito social; a definição de fontes de 
financiamento e novas modalidades de gestão democrática e descentralizada que 
permite a participação da sociedade civil. 
A Seguridade Social sustenta um modelo que inclui todos os avanços 
previstos no artigo 6º da Constituição Federal (educação, saúde, 
trabalho, moradia, segurança, previdência e assistência social), de 
modo a conformar um amplo sistema de proteção, mais consoante 
às condições gerais dos cidadãos brasileiros (BOCHETTI, 2007 apud 
CFESS, 2010) 
 De acordo com o artigo 195 da Constituição Federal a seguridade é 
financiada: 
Por toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, 
mediante recursos provenientes do orçamento da União, dos 
40 
 
 
 
Estados, do Distrito Federal edos Municípios, e das seguintes 
contribuições sociais: I) do empregador, da empresa e da entidade a 
ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre a folha de salários, o 
lucro, a receita ou faturamento; II) do trabalhador e dos demais 
segurados da previdência social; III) sobre a receita de concursos de 
prognóstico; IV) do importador de bens e serviços do exterior. São 
também fonte de recursos da previdência as receitas dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios, constantes nos respectivos 
orçamentos. (BOSCHETTI, 2006 pg. 53) 
A Seguridade Social brasileira é considerada hibrida, pois ela se orienta tanto 
pelo modelo bismackiano que é visto como um seguro social por que beneficia 
quase que exclusivamente aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho 
formal, o acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior e o montante das 
prestações é proporcional à contribuição efetuada, predominando assim esse 
modelo na Política de Previdência Social. E o modelo beveridgiano onde os direitos 
têm caráter universal, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou 
submetidos a condições de recursos, mas garantindo mínimos sociais a todos em 
condições de necessidade. Desta forma orienta a Política de Saúde e Assistência 
Social. (BOSCHETTI, 2003) 
 Contudo a saúde e a assistência revolucionaram o padrão convencional de 
proteção pública no Brasil, com a Constituição de 1988, pois para se ter acesso as 
mesmas não é necessária uma contribuição prévia, desvinculando desta forma 
essas políticas da lógica do trabalho. Porém, com o capitalismo, a saúde ainda é 
grande alvo de investidas do setor privado sendo mercantilizada, fragmentando 
desta forma a Política de Saúde. 
Esta Política de Seguridade Social se encontra associada ao trabalho porque 
é fruto das reinvindicações dos trabalhadores e desde a sua origem visa atender as 
necessidades do trabalho, como também é financiada em grande parte através 
deste. Por isso se torna alvo de investidas do capital, que sempre está adaptando a 
mesma aos seus interesses. “Historicamente, o acesso ao trabalho sempre foi 
condição para garantir o acesso à Seguridade Social” (BOSCHETTI, 2003 pg. 02). 
No Brasil essa lógica do seguro predomina desde 1923 com a lei de Elóy 
Chaves, através desta, foi instituída as Caixas de Aposentadorias e Pensões 
(CAP’s), dos ferroviários, que eram constituídas por empresa, de caráter puramente 
assistencialista, geridas através de representação direta de empregados e 
41 
 
 
 
empregadores e financiado pelo trabalhador, empregador e União. O Estado 
normatiza e financia em parte essa modalidade, mas não participa diretamente de 
seu gerenciamento. 
Em 1930, em substituição às CAP’s, formam-se os Institutos de 
Aposentadoria e Pensões (IAP’s) onde os serviços eram organizados através de 
categoria profissional, e geridos pelo Estado, continuando contar com recursos 
tripartite. A diferença é que agora a contribuição do empregador é calculada, como 
dos empregados, sobre o salário pago. 
De acordo com COHN, et. al. (2010 pg. 15) no momento em que as CAP’s 
foram criadas originou no Brasil a saúde como assistência médica relacionada a 
esfera privada e não pública, característica essa “crucial na saúde do nosso país”: 
[...]Não se constitui, portanto, saúde como direito do cidadão e muito 
menos dever do Estado, mas sim a assistência médica como um 
serviço a qual se tem acesso a partir da clivagem inicial da inserção 
no mercado de trabalho formal e para a qual se tem que contribuir 
com um percentual do salário, sempre por meio do contrato 
compulsório 
A saúde representada pelo SUS tem como um de seus princípios a 
universalidade, porém com a mercantilização, acentuada pelo neoliberalismo e o 
consequente sucateamento da saúde, esse caráter vem tomando outros rumos, hoje 
se tem a ideia de que a saúde privada é melhor. “Isso remete ao fenômeno da 
universalização excludente que incorpora os segmentos mais carentes, 
caracterizando o SUS para pobres” (VIANA, LIMA & OLIVEIRA, 2002). 
Como analisa Mota (2006) A partir dos anos 90 com as investidas do 
neoliberalismo há um processo de fragmentação da seguridade social, onde o 
cidadão é visto como “cidadão- consumidor”, pois agora ele vai comprar saúde, 
previdência e ser excluído da assistência, com a ideia de que os bens e serviços 
ofertados pelo setor privado é a melhor opção. Contudo observa-se que a saúde 
pública está tomando o caráter focalista, pois a mercantilização da saúde está 
destituindo a ideia de saúde como direito de todo e qualquer cidadão. 
Esta condição faz com que o princípio da universalidade não se efetue, pois 
os serviços da Seguridade Social são conduzidos pela lógica do mercado. Segundo 
Boschetti (2003), seria necessário que todo cidadão tivesse acesso ao trabalho e 
42 
 
 
 
assim poderia ter acesso aos serviços, mas como o nosso país não oferece o pleno 
emprego é inevitável que uma grande parcela da população, economicamente ativa, 
continue excluída da Seguridade Social. 
Contudo, observa-se que a Seguridade Social é uma arena de conflitos, 
mesmo sendo uma grande conquista dos trabalhadores no que diz respeito à 
ampliação dos direitos sociais, ainda existem desafios a serem superados para que 
a universalidade se efetive e que na seguridade predomine a lógica social para 
combater as desigualdades. 
 
1.3. O Sistema Único de Saúde 
 
 O Sistema Único de Saúde - SUS é fruto, sobretudo, das reivindicações 
apresentadas pelo movimento da Reforma Sanitária que foram catalisadas na 8ª 
Conferência Nacional de Saúde em 1986, tendo a participação efetiva de instituições 
da área da saúde bem como dos representantes da sociedade civil, de categorias 
profissionais e de partidos políticos. 
Nessa Conferência foram debatidos os seguintes temas: Saúde como direito 
de todo e qualquer cidadão independente do trabalho, status social e etc.; 
reformulação do Sistema Nacional de Saúde, visando separar a saúde da 
previdência ofertando os serviços universalmente; e Financiamento Setorial, que 
objetivou a criação de um orçamento social com recursos destinados às políticas 
sociais e o mesmo ser repartido por setor formando, desta forma, o Fundo Único 
Federal de Saúde. (FAGUNDES et. al 1986) as resoluções dessa Conferência 
deram os parâmetros que mais tarde viriam a ser inscritos na Constituição de 1988. 
O SUS é considerado um dos maiores avanços dessa Constituição, pois 
incorpora as reinvindicações da Reforma Sanitária. Seus princípios apontam para a 
democratização nas ações e nos serviços de saúde que passam a ser universais e 
decentralizados com participação da sociedade civil. 
A partir daí o sistema de saúde brasileiro passa a se basear no princípio do 
direito universal que foi um dos temas discutidos na 8ª Conferência Nacional de 
Saúde e está contido na Constituinte de 1988. No capítulo VIII da Ordem social na 
seção II que define no artigo 196 afirma que: 
43 
 
 
 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante 
políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de 
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Antes disso existia um “duplo comando” na área da saúde, pois o Ministério 
da Saúde cuidava das ações preventivas e o Ministério da Previdência Social 
incumbia-se pela prestação dos serviços médicos curativos. Esses serviços até 
então não eram direito de todos, mas somente para os que contribuíam para o 
sistema previdenciário de então, que era ligado ao Ministério da Previdência Social, 
ou seja, apenas os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho formal

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