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Brasília-DF. Cidadania e Humanização em Saúde Elaboração Anália de Oliveira Maia Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i GESTÃO DA SAÚDE PÚBLICA .................................................................................................................. 9 CAPítulo 1 GESTÃO PÚBLICA ..................................................................................................................... 9 CAPítulo 2 GESTÃO DO SISTEmA ÚnICO DE SAÚDE –SUS .......................................................................... 12 CAPítulo 3 SAÚDE PÚBLICA ...................................................................................................................... 20 unidAdE ii CIDADAnIA ......................................................................................................................................... 24 CAPítulo 1 COnCEITO E CArACTEríSTICAS ............................................................................................. 24 CAPítulo 2 PrESSUPOSTOS COnSTITUTIvOS .............................................................................................. 30 CAPítulo 3 CIDADAnIA Em SAÚDE ........................................................................................................... 36 unidAdE iii HUmAnIZAÇÃO ................................................................................................................................... 41 CAPítulo 1 nA PrESTAÇÃO DO SErvIÇO DE SAÚDE E nA ASSISTênCIA HOSPITALAr .................................. 41 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 56 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fi m de que o aluno faça uma pausa e refl ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifi que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As refl exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, fi lmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 6 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de � xação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fi xação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verifi car a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certifi cação. Para (não) � nalizar Texto integrador, ao fi nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução Conforme preconiza a Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2005), a humanização é um acordo, é uma construção coletiva que acontece com a edificação e compartilhamento do conhecido entre os seus atores. O trabalho em rede com equipes multidisciplinares promove a identificação das necessidades, dos desejos e dos interesses das pessoas envolvidas, do reconhecimento de gestores, trabalhadores e usuários, que são sujeitos ativos e protagonistas das iniciativas na área de saúde, assim como da formação de redes solidárias e interativas, participativas e protagonistas do SUS, do sistema Único de Saúde. Esta disciplina, Cidadania e Humanização na saúde, pretende jogar luzes nesse setor nefrálgico e importante de gestão do poder público. É necessário que, enquanto profissionais da área, possamos promover o contágio do SUS por essa atitude humanizadora. Na realidade, é preciso destacar o aspecto subjetivo encontrado em toda e qualquer ação humana, nas mais variadas práticas de saúde. A rede de humanização em saúde tem como característica a sua permanente construção em relações de cidadania, olhando para cada cidadão, levando em conta sua especificidade, sua realidade existencial, sua personalidade enquanto inserida na coletividade, suas histórias e ansiedades pessoais no contexto social em que se insere. É possível e adequado tornar a constituição da humanização, com a participação solidária e comprometida dos profissionais. A estes cabem o desenvolvimento e a qualificação do olhar para o outro com sensibilidade, acolhimento, com a demonstração de compreensão e cuidado que desenvolve no cidadão o sentimento de autoestima e confiança. Nesta disciplina, pretendemos ser capazes de motivá-los para o trabalho de implantação de projetos de humanização nas suas diversas realidade profissionais. objetivos » Desenvolver os conhecimentos sobre Gestão Pública na Saúde. » Trabalhar os conceitos e as características da cidadania. » Identificar os pressupostos básicos da cidadania. » Levantar questões humanitárias nas relações entre profissionais e beneficiários da saúde pública. 9 unidAdE igEStão dA SAÚdE PÚBliCA CAPítulo 1 gestão pública A Gestão Pública é área do conhecimento voltada para o estudo das atividades relacionadas à gerência de instituiçõespúblicas, sendo atribuições de o profissional coordenar, planejar e executar processos em departamentos municipais, estaduais e federal. Com esse objetivo, apropria-se das noções gerais de direito e economia, dos conhecimentos específicos em políticas públicas, legislação regulamentadora e teorias clássicas da administração. Os modelos de gestão em utilização na sociedade brasileira carecem de uma profunda mudança, um remanejamento com a criação de novos modelos que sejam mais eficazes e eletivos, pois o que temos hoje não atendem as demandas da sociedade brasileira. O Brasil possui a Secretaria de Gestão Pública – SEGEP, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que, em 2014, apresentou o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA. Esse programa visa o fortalecimento da gestão pública, utilizando o Modelo de Excelência em Gestão Pública – MEGP. Para que isso aconteça, promoveu a implantação do modelo referencial de gestão pública, que visa desenvolver ações de apoio técnico aos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, isso voltado para a mobilização, preparação e motivação da atuação em favor da inovação e da qualificação da gestão. Para a implementação da estratégia, adotou-se algumas iniciativas das quais destacamos o aprimoramento do GESPÚBLICA – o Sistema Eletrônico de Autoavaliação da Gestão. Esse Sistema viabiliza a avaliação da gestão prescritiva, por meio da identificação e análise das práticas de gestão adotadas e dos resultados da organização. Essa avaliação viabiliza o rápido diagnóstico, assim como a implantação de melhorias na governança, atingindo com isso excelência nos resultados institucionais. 10 unidAdE i │ gEStão dA SAÚdE PÚBliCA Seria o ideal, mas veremos ao final deste trabalho, que nem sempre a teoria na prática é funcional. A Gestão Pública, participativa e democrática, leva aos resultados positivos esperados, considerando-se que o processo de formação das normas administrativas e os mecanismos de ação e controle se apresentarão mais compatíveis e de acordo com a realidade brasileira. O programa GESPÚBLICA pode se apresentar como instrumento de cidadania, já que visa a renovação do seu compromisso com a valorização do cidadão, utilizando-se de estratégias de mobilização da Administração Pública, pretendendo alcançar a melhoria da qualidade dos serviços. gestão em saúde A Gestão em Saúde remete a tempos remotos, anterior à Saúde Pública. A Saúde Pública nasceu interdisciplinar, em função da utilização das inúmeras especialidades no campo do conhecimento. Isso ocorreu bem antes da utilização da interdisciplinaridade no século passado. Entre as inúmeras disciplinas em que se baseou a saúde pública citamos: Geologia, Zoologia, Microbiologia, Medicina, voltando-se sempre para a investigação científica para compreensão do processo saúde e patologia. Daí surgiu a administração sanitária preocupada com o estudo e a aplicabilidade da epidemiologia. Surgia então o campo da administração sanitária e de práticas em saúde, encarregado da reflexão em torno da administração de uma fatia do Estado – os laboratórios, as escolas e os departamentos de saúde pública –, distinta, no entanto, da administração de empresas, já que sua função era investigar e articular a gestão pública no sentindo de extinguir as ameaças à saúde da população e combater epidemias. No início, a gestão de saúde, ou administração sanitária, utilizou-se do conhecimento desenvolvido nos campos militares. As guerras serviram de laboratórios para o desenvolvimento de ideias relacionadas às doenças, aos germes e as condições insalubres encontradas nos campos e ambientes inimigos. Vieram também dos campos da guerra os conceitos e erradicação e de controle de riscos. Hoje evoluímos para conceitos contemporâneos da Ciência Política, da Sociologia e da Teoria Geral da Administração. Os sistemas nacionais e públicos de saúde tiveram suas origens em países da Europa, iniciando-se no Reino Unido, que visavam a ampliação dos objetivos no campo da gestão em saúde. Com isso, sedimentou-se a cultura sanitária que visa a organização de serviços e programas de saúde que atenda à nova racionalidade. 11 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i O conceito de integração sanitária foi financiado e gerido por uma rede de serviços controlada pelo Estado. A essa rede pública foi atribuído o caráter preventivo, com atribuições voltadas para a atenção clínica e assistencial individual em hospitais. Assim, surgiu o conceito de hierarquização e regionalização dos serviços de saúde. O arcabouço inicial de conhecimentos utilizados pela administração sanitária ficou evidentemente precário para atender à complexidade embutida na nova política pública de saúde. Desenvolveu-se então, ao longo do século XX, a investigação voltada para o desenvolvimento das novidades e dos projetos arrojados organizacionais, com a criação de novos modelos voltados para o atendimento da saúde pública. Foram então criadas a Organização Mundial de Saúde – OMS e a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS, que vieram para estimular a produção do conhecimento na área da saúde e para sistematizar a divulgação das experiências e tecnologia então desenvolvidas, tanto na área da organização como planejamento e gestão dos serviços de saúde. Nesse período de efervescência de pesquisas na área da administração e gestão da saúde, deu-se a aproximação entre as áreas da Clínica e o campo da Saúde Pública. Foi então que se deu o desenvolvimento dos estudos sobre gestão de pessoal, atenção primária, planejamento e programação em saúde, sistemas locais de saúde e modelos de atenção. Essas inovações e posturas profissionais geraram a necessidade da formação de gestores hospitalares, unindo áreas então dissociadas, como da Economia e da Administração de Empresas. Tudo isso converge para o esforço conjunto na recomposição da formação e da pesquisa em gestão hospitalar. 12 CAPítulo 2 gestão do Sistema Único de Saúde –SuS É frequente ouvirmos as reclamações dos cidadãos que dependem do sistema público de saúde, pois vivenciam os problemas organizacionais, logísticos e de qualidade dos serviços que impedem o acesso regular ao atendimento às necessidades de saúde da população. Mas como solucionar esse impasse se não há transparência quanto à identificação dos responsáveis pelo Sistema Único de Saúde? É aí que tem inicio o “jogo de empurra”; o homem comum – o trabalhador, o usuário do SUS – não sabe a quem se dirigir, como reivindicar o seu direito constitucional a uma saúde de qualidade, digna e humana. A importância da definição clara dessas responsabilidades de gestão das políticas públicas de saúde visa assegurar condições viabilizadoras da concretização do direito à saúde do homem comum no exercício da sua cidadania, atendendo com dignidade o determinado na Constituição Federal de 1988. É ainda importante considerar os processos decisórios na área das políticas de saúde. A eficiência do SUS está diretamente relacionada com os serviços prestados pelas pessoas (profissionais de saúde, prestadores de serviços, empresários, entre outros), no que se refere à qualidade. Por isso, é estabelecido, na Carta Magna de 1988, as bases organizacionais do SUS, determinando a maneira como as decisões políticas na área de saúde serão adotadas, visando sempre ao atendimento do cidadão usuário e trabalhador do país. Nesse sentido, contempla aspectos importantes para o bom funcionamento do serviço público de saúde: 1. a delimitação do papel e das atribuições dos gestores; 2. a forma de atuação das instâncias coletivas de negociação e da ação decisória na política pública de saúde, no que se refere ao SUS. Para tanto, os atores responsáveis pelas comissões intergestoras e pelos conselhos participativos na saúde obedecem a Lei Federal no 8.080, promulgada em 1990. Essa Lei determina a direção do SUS como única em cada esfera de governo, determinada entãocomo órgão responsável pelo desenvolvimento das funções de competência do Poder Executivo na área do Ministério da Saúde em âmbito nacional. Já as secretarias de saúde, na alçada estadual e municipal. Na verdade, o SUS é a autoridade de saúde em cada esfera do poder público, sua ação técnica e política devem ser contempladas pelos próprios princípios da reforma sanitária 13 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i do Brasil. O reconhecimento de duas dimensões indissociáveis da atuação dos gestores da saúde – a política e a técnica – pode ajudar a compreender a complexidade e os dilemas no exercício dessa função pública de autoridade sanitária, a natureza dessa atuação e as possíveis tensões relativas à direção da política de saúde em um dado governo e ao longo do tempo.Não devemos nos esquecer de que esses cargos, tanto do ministro de saúde como os secretários estaduais e municipais de saúde, possuem importância política irrefutável, são nomeados pelo representante do executivo devidamente representado por eleição direta. O presidente, os governadores e os prefeitos têm legitimidade democrática para designar os representantes dos órgãos mencionados. Isso signifi ca que estão vinculados aos projetos de governo de seus designadores e terão que fornecer respostas e resultados aos chefes do executivo. Mas terão que considerar, em ordem prioritária, as determinações constitucionais, obedecendo a norma jurídica do SUS, que apresenta um determinado modelo de política de Estado para a saúde pública e que não termina junto com o mandato governamental. Essa interação, governo e política de Estado setorial, deve ser atendida pela atuação dos gestores do SUS, já que em algumas situações podem criar tensões que irão infl uenciar o processo continuísta das políticas públicas de saúde. A efi ciência na política do gestor de SUS não está apenas condicionada ao Executivo ou às políticas públicas de saúde por este determinada. Ela se apresenta também a partir da sua interação com o meio social, os grupos e atores sociais nos inúmeros espaços de negociações e nos âmbitos decisórios formais e informais. Além disso, para que os objetivos na área de saúde sejam alcançados, é necessária a interação harmônica do gestor com os demais órgãos governamentais, ou seja, os outros ministérios e secretarias do governo, com os demais poderes – o legislativo e o judiciário – além, naturalmente, do relacionamento com a sociedade civil organizada. A adoção de um sistema político federativo e as especifi cidades de cada Estado geram consequências signifi cativas para as políticas públicas, no caso em pauta, da saúde. A federação brasileira apresenta especifi cidades que a diferencia de outros países federativos, como destacado no vídeo da TV Justiça, com apresentação do professor de direito Constitucional Luciano Coelho Ávila, características da federação brasileira, no programa Apostila. Assista o vídeo disponível no link: <https://www.youtube.com/watch?v=DOTIfnROLDM>. Refl etiram-se a respeito das enormes diferenças existentes entre os milhares de municípios brasileiros, conforme Souza (2002) ressalta o fato de que no contexto da 14 unidAdE i │ gEStão dA SAÚdE PÚBliCA heterogeneidade econômica e social, a descentralização de políticas públicas, aqui também considerada as de saúde, pode gerar situações adversas, como até mesmo o aprofundamento das desigualdades sociais. Para evitar isso, é necessário assegurar condições adequadas para o fortalecimento da gestão pública, dos mecanismos de coordenação da rede e da facilitação do acesso às ações e serviços para os cidadãos, independentemente da sua localização geográfica de seu domicílio. A Constituição Federal de 1988 previu essa mudança no funcionamento da saúde no âmbito federal. A preocupação com a descentralização das políticas públicas de saúde monta aos anos de 1990, tendo indução federal por meio da formulação e implementação das Normas Operacionais do SUS, com emissão de várias portarias, que eram editadas anualmente por diversas áreas do Ministério da Saúde e pelas outras inúmeras entidades federais de saúde, geralmente vinculadas a mecanismos de incentivo financeiros de políticas e práticas realizadas pelos gestores estaduais, municipais e prestadores de serviços. A verdade é que, os anos de 1990, testemunharam a mudança de um sistema enormemente centralizado para um panorama em que os diversos gestores, estaduais e municipais, tornam-se fundamentais para o funcionamento da saúde. Simplificando, podemos mencionar aqui quatro grupos de funções gestoras na saúde: 1. Formulação de políticas e planejamento. 2. Financiamento. 3. Regulação, coordenação, controle e avaliação. 4. Prestação direta de serviços de saúde. Essas funções, em cada uma delas, possuem outra quantidade de subfunções e atribuições de gestão. Exemplo disso esta na formulação de políticas e planejamento; nela se encontra incluídas as atividades de diagnóstico de necessidades de saúde, identificação de prioridades e programação de ações, entre inúmeras outras. Pacto pela saúde Conjunto de reformas institucionais do SUS acordado pela União, estados e municípios, objetivando a promoção de inovações nas ferramentas de gestão, alcançando com isso a qualificação e a eficiência nas respostas do SUS, quando demanda pelas dificuldades amplamente divulgadas pela mídia. Para que isso seja possível, o pacto pela saúde surge no sentido de redefinir as responsabilidade da gestão (como dito anteriormente) com foco nas necessidades da população, do trabalhador e do usuário dos serviços de saúde pública, possibilitando assim a tão sonhada equidade social. 15 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i O Termo de Compromisso de Gestão – TCG será necessariamente implementado pela adesão dos estados e municípios que, junto à União, se comprometem com as políticas públicas para a saúde. Esse termo é renovado todos os anos e substitui os processos de habilitação, antes utilizado, com estabelecimento de metas e dos compromissos para cada personalidade da federação. Essas prioridades são: 1. a redução da mortalidade de gestantes e crianças; 2. o controle de doenças e epidemias; 3. a redução da mortalidade por câncer de mama e colo do útero. Para alcançar esses objetivos, o pacto pela saúde efetuou modificações nos trâmites de transferências dos recursos da União para os estados e municípios, que passaram a ser divida em blocos. Esses grandes blocos de financiamento são: 1. atenção básica; 2. média e alta complexidade da assistência; 3. vigilância em saúde; 4. assistência farmacêutica; 5. gestão do SUS. Esse novo desenho veio para substituir, pelo menos em tese, as antigas formas de financiamento que não atendiam às necessidades da população e esvaziava os cofres públicos. Pacto pela vida Compromisso assumido pelos gestores do SUS, com foco nas prioridades importantes da realidade de saúde da população brasileira. Entende-se por prioridade o estabelecimento de metas nacionais, estaduais e municipais. Estes necessitam se organizar em ações eficientes que viabilizem o alcance das metas e dos objetivos pactuados. Essas prioridades pactuadas são seis, a saber: 16 unidAdE i │ gEStão dA SAÚdE PÚBliCA 1. Saúde do idoso Aqui se leva em consideração pessoas com 60 anos ou mais, considerando a necessidade do envelhecimento saudável e ativo, com atenção integral e integrada à saúde. Há a implantação de serviços de atenção domiciliar e a preferência no atendimento nas unidades de saúde. Outra prioridade seria a qualificação dos profissionais de saúde no atendimento de idosos, assim como a divulgação das políticas públicas na área de saúde para as pessoas idosas, para todos os atores e profissionais da área de saúde no SUS. A estratégia adotada pela gestão do SUS foi a criação da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, que garante ao cidadão com mais de 60 anos o exercício da cidadania com dignidade e humanização, quandoda necessidade de apoio e orientação na saúde. Também foi elaborado o Manual de Atenção Básica à saúde da Pessoa Idosa, a orientação permanente de ordem educacional na área do envelhecimento com saúde. Muito tem sido feito com objetivo de dar acolhimento, apoio e conforto às pessoas idosas, facilitando e dando qualidade de vida para os nossos idosos. 2. Controle do câncer de mama e de colo do útero Cabe ressaltar aqui, a criação da visita domiciliar, os chamados “médicos de família”, uma iniciativa que vem favorecer e valorizar a vida e a saúde de mulheres e mães. Eis algumas estratégias assumidas no combate ao câncer de colo de útero e de mama: » Exame preventivo do câncer do colo de útero como objeto de campanha nacional. » Cirurgia especial para retirada de lesões ou parte do colo de útero comprometido, cuidando para que os danos sejam minimizados, visando a saúde da mulher. » Mamografia e compra de aparelhos de alta resolução para feitura do exame. 3. redução da mortalidade de gestantes e crianças Com relação ao combate da mortalidade infantil e das gestantes, foram instituídos os seguintes protocolos: 17 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i » Redução da mortalidade neonatal de 5%, no entanto, alcançaram-se metas bem mais consistentes. » Redução em 50% dos óbitos por disenteria e 20% por pneumonia. » Redução de 5% na mortalidade materna. » Garantia de insumos e medicamentos para tratamento da hipertensão da parturiente. » Qualificação dos locais de distribuição de sangue nas maternidades e outros locais de parto. 4. fortalecimento do combate às doenças e epidemias No Brasil o combate às epidemias e às doenças é hoje referência no Mundo. Em 1980, quando teve início a epidemia do HIV, o Brasil deu início às companhas de prevenção e atendimento dos cidadãos infectados. De lá para cá, somos o país cujo registro da doença é um dos menores. O mesmo aconteceu com a dengue e outras doenças. A Fundação Oswaldo Cruz organiza e mantém que se posicionam como centro de excelência na pesquisa e no planejamento das estratégias de combate e prevenção de doenças. A malária é outro exemplo de nossa eficácia; houve uma queda significativa nos registros de casos. No entanto, ainda temos casos na região norte onde está a maioria dos casos de malária. Nosso melhor desempenho se monstra no combate à tuberculose, cuja redução nos casos de óbito foi de mais de 50% entre 1990 e 2015. A estatística positiva também aumentou: os registros de pacientes que se recuperam da doença mostram um número significativo de pessoas que venceram a tuberculose. Nossos gestores de saúde conseguiram estruturar a vigilância epidemiológica de forma a enfrentar essas e outras patologias transmissíveis com sucesso. As campanhas de vacinação, de esclarecimento e de apoio na mídia, falada e escrita, conquistaram a confiança do público alvo que buscaram ajuda e orientação para a prevenção e o combate das inúmeras doenças que se fizeram presente na vida da população entre os anos de 1980 e 2015. 18 unidAdE i │ gEStão dA SAÚdE PÚBliCA Com a criação desses programas nacionais conseguiu-se reduzir as taxas de incidência das doenças e o número de vítimas, principalmente a partir das propagandas e o atendimento da população. 5. Promoção da saúde É uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso País, visando à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas. (Política Nacional de Promoção da Saúde, Brasil. 2006). É importante que a promoção da saúde seja integrada e intersetorial, favorecendo assim o diálogo entre os setores do governo e a sociedade. Com isso, os objetivos traçados serão alcançados, a saber: 1. promoção da qualidade de vida; 2. redução dos riscos à saúde; 3. favorecimento do meio ambiente a partir do esclarecimento quanto à necessidade de preservação; 4. prevenção de doenças e epidemias. A promoção da saúde implica no fomento, na geração de recursos e estratégias que visem aumentar a saúde e o bem-estar. Não está diretamente ligada à doença em si, mas na educação e na busca de uma vida saudável, levando o indivíduo e a coletividade ao fortalecimento da capacidade de lidar com a saúde. 6. Atenção básica O pacto pela saúde foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional de Saúde e foi dada publicidade pela Portaria GM/MS no 399, de 22 de fevereiro de 2006, cujo objetivo seria promover a melhoria dos serviços de saúde prestados pelo poder público, nas três esferas, ao cidadão brasileiro. Daí a importância de sua adesão pelos gestores regionais, estaduais e federal. O pacto pela vida vem dar reforço ao SUS, buscando resultados a partir de um conjunto de compromissos sanitários prioritários, combinados e implementado pelos atores federados. 19 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i Essas prioridades deverão ser sedimentadas pelo SUS, de forma a garantir o alcance das metas pactuadas. Prioridades estaduais, regionais ou municipais podem ser somadas às prioridades nacionais, a partir de acordos locais. Os estados e municípios devem acordar as ações necessárias para alcançar as metas e os objetivos gerais propostos. <http://www.portalconscienciapolitica.com.br/ci%C3%AAncia-politica/ politicas-publicas/saude/pacto-pela-saude/>. <https://www.youtube.com/watch?v=cRtqixwU7I4>. 20 CAPítulo 3 Saúde pública O Brasil ainda tem algum caminho para percorrer no que se refere à saúde pública de qualidade, até porque a preocupação com a saúde da população é relativamente recente. O próprio Ministério da Saúde é jovem, tem menos de um século, foi criando em 1930, pelo então presidente Getúlio Vargas. Antes disso, cada um se cuidava como podia; com dinheiro era possível ter a assistência de um médico ou um amigo médico, parente ou vizinho. Por esse motivo a expectativa de vida era muito diminuta, em torno dos 50 ou 60 anos. Qualquer infecção ou doença mais grave, que hoje com certeza trata-se sem preocupação, era fatal. A mortandade atingia principalmente idosos e crianças. Além da população miserável ou pobre. Esse é o motivo desse capítulo. Vamos efetuar uma viagem pela história da saúde pública no Brasil. Antes de começarmos, assista a este vídeo do Ministério da Fazenda sobre a História da Saúde Pública no Brasil. <https://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0>. História da saúde pública no Brasil No Brasil Colônia não havia qualquer movimento, mesmo que remotamente, parecido com políticas públicas, cada um fi cava à sua própria sorte. Para se ter uma ideia, no ano de 1789, existiam apenas quatro profi ssionais de saúde no Rio de Janeiro, principal cidade da Colônia junto com Salvador da Bahia. Apenas 4 médicos para atender a população rica, os nobres e os senhores abastados do Corte. Em função da carência de profi ssionais qualifi cados na saúde, era comum procurar os xamãs, curandeiros para tratar as doenças na base de medicina, hoje conhecida como alternativa, utilizando-se de ervas e unguentos. Uma alternativa viável seria a utilização das religiosas, enfermeiras jesuítas, que procuravam atender os necessitados nas raras Santas Casas existentes à época. Somente em 1808, quando chega ao Brasil a família real de Portugal que fugiam de Napoleão, foram criadas as escolas de medicina no país, sendo a primeira delas fundada em Salvador, na Bahia. No Rio de Janeiro, foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de 21 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i Janeiro, sendo ambas as únicas opções para os jovens que não poderiam viajar para Portugal para cursar medicina. Essa situação perdurou até a proclamação da república. A saúde pública no Brasil Infelizmente, apesar de hoje o número de médicos formados no Brasil ter aumentadoem termos significativos, a saúde pública ainda é deficitária. Como registrado anteriormente, é comum pacientes em corredores de hospitais públicos, trabalhadores morrem sem atendimento, parturiente são tratadas com indignidade e muitas vezes dando à luz em circunstancias vexatória. Chegamos ao ponto de importar médicos de Cuba. Situação polêmica que gerou protestos e indignação entre os profissionais de saúde e os usuários do SUS. O descaso e o péssimo atendimento são comuns na maioria dos postos, prontos-socorros e hospitais do Brasil. Pior, na maioria das vezes a culpa não é dos profissionais desses postos ou instituições hospitalares, pois é voz corrente da classe que falta tudo e não há condições de trabalho. Não há aqui a intenção de criticar ou condenar o poder público. Nossa preocupação é encontrar soluções ou sugestões que viabilizem o atendimento do trabalhador e usuário da saúde pública. Saúde pública versus saúde particular Em contrapartida, a saúde particular está muito bem. Para aqueles que podem pagar, não há limite para o bom atendimento. Temos hospitais de referência e somos respeitados no mundo, possuímos profissionais que são solicitados no exterior para palestras e participação em equipes médicas no exterior. No entanto, os planos de saúde estão cada vez mais caros e com atendimento cada vez mais precário. Os tribunais brasileiros estão repletos de ações promovidas pelos cidadãos que, sem o respaldo da saúde pública, são obrigados a contratarem os planos de saúde. Enquanto o caos se instala na saúde pública, a particular oferece o que há de mais moderno em equipamentos, profissionais qualificados, conforto e acolhimento humanitário, desde que tenhamos suficientes recursos financeiros para financiar tal atendimento. 22 unidAdE i │ gEStão dA SAÚdE PÚBliCA Mas é importante ressaltar que isso não é regra. Há hospitais públicos e profissionais da rede pública de alto nível, em muitos casos o cidadão é bem recebido e tratado com dignidade, obtendo o que há de melhor e mais moderno em termos de saúde. Não é regra, são consideradas exceções, mas é importante citar que é possível, se houver vontade política, oferecer ao cidadão atendimento de qualidade, acolhimento e humanização desse atendimento na saúde pública. Infelizmente a regra é o usuário ficar meses na fila de espera por um exame ou cirurgia, acontecendo óbitos durante essa espera, causando revolta na população. Mas quem pensa que contratar um plano de saúde garante acesso aos melhores serviços, também se engana. Apesar de o plano de saúde garantir um atendimento mais rápido e melhor que o público, é importante salientar que, dependendo do tipo de doença que a pessoa tenha, o plano de saúde pode não dar cobertura total para o tratamento. dados alarmantes sobre a saúde no Brasil Segundo uma pesquisa divulgada no começo de 2012, aproximadamente 47% da população brasileira desaprova a qualidade da saúde pública no Brasil. Além disso, de acordo com a mesma pesquisa, aproximadamente 30% dos municípios brasileiros não possuem hospitais públicos. Parece pouco, porém, é preciso destacar que, se os habitantes dessa localidade precisam de atendimento hospitalar, eles são encaminhados à cidade mais próxima que possua um hospital e, dessa maneira, acabam sobrecarregando esses hospitais, que acabam tendo que colocar macas em corredores. Melhorias visíveis da saúde no Brasil Mesmo com tanta desigualdade e precariedade, podemos afirmar que a saúde melhorou muito nos últimos trinta anos. Os dados da mortalidade infantil caem a cada dia e hoje podemos afirmar que apenas 23 crianças, a cada mil nascimentos, morrem antes de completar um ano. Cerca de três décadas atrás, esse número estava perto das 100 mortes, a cada mil nascidos. Além disso, o Brasil possui um dos sistemas de tratamentos para portadores da AIDS mais elogiados do mundo, sendo este tratamento ao alcance da população gratuitamente. Quem possui males como diabetes e hipertensão também tem tratamento gratuito de qualidade. Também é importante ressaltar que, no que diz respeito a carteira de vacinação das crianças brasileiras, nosso país é um dos mais completos, e graças a isso, já conseguimos 23 gEStão dA SAÚdE PÚBliCA │ unidAdE i reduzir a zero, o número de casos de diversas doenças, como por exemplo a poliomielite, que há mais de vinte e cinco anos não ocorre no Brasil. Podemos afi rmar que a expectativa de vida no Brasil aumentou consideravelmente. Com todos os problemas que temos na saúde pública, o cidadão brasileiro é mais longevo, a população de idosos aumentou e a mortandade prematura diminuiu, pelo menos na área da patologia humana. Expectativa de vida No início do século XX, os brasileiros alcançaram um aumento na sua expectativa de vida em torno de três anos. Com a utilização do modelo de população estável, Santos (1978) determinou a expectativa de vida do povo brasileiro nas três primeiras décadas do século XX em torno dos 30 e 36 anos. Para as décadas seguintes, os valores desse indicador aumentaram, segundo o mesmo autor, levando a esperança de vida ao nascer do homem brasileiro para 41 anos, equivalente a mais 5 anos. As diferenças regionais já eram sentidas, alterando a expectativa para menos ou para mais, dependendo da região brasileira. Por exemplo, no Nordeste, esse quadro era completamente diferente, pois ao nascer já se sabia que a expectativa de vida (se não morresse ainda em criança) seria de no máximo 36 anos, para mais ou para menos, contra os 49 anos de vida para o povo da região Centro-Oeste e 43 para os brasileiros do Sudeste. Essas diferenças refl etiam na prioridade de investimentos do Estado para as regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde a atuação da saúde pública era mais efi ciente, benefi ciando essas regiões brasileiras. Essa tendência de aumento da expectativa de vida no Brasil diminuiu no ano de 1955 até a década de 1970, com avanços bem lentos em todas as regiões do Brasil. Essa condição se deu em decorrência da crise estrutural da economia e da dependência que a população vulnerável sofreu das políticas públicas compensatórias. Esse panorama começou a mudar em meados da década de 1970, com um crescimento discreto na expectativa de vida do brasileiro. Acesse ao link <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ tabuadevida/evolucao_da_mortalidade.shtm>, para maiores informações sobre a expectativa de vida dos brasileiros. 24 unidAdE iiCidAdAniA CAPítulo 1 Conceito e características Na última década do século XX, cresceu, no mundo inteiro, o interesse e a pesquisa em torno do conceito de cidadania. Nesta abordagem que se ocupa de fenômenos relacionados à cidadania, podem ser destacadas três entendimentos: 1. A teoria de Marshall (1949) a cerca dos direitos da cidadania: Marshall desenvolve a sua teoria sociológica de cidadania a partir dos direitos e das obrigações inerentes à condição de cidadão. Determina o entendimento dos direitos de cidadania: Direitos Civis, conquistados no século XIX; Direitos Políticos, alcançados no século XIX; e os Direitos Sociais, conquistados no século XX. Ao longo do tempo, a teoria de Marshall foi enriquecida com outros enfoques, como o da ampliação da cidadania às classes trabalhadoras, por meio dos direitos de associação, à educação e ao voto; e do reconhecimento dos movimentos sociais como força dinâmica e necessária para o desenvolvimento dos direitos de cidadania. 2. A abordagem de Tocqueville e Durkheim, a respeito da cultura cívica: para os dois pensadores, a cidadania, que não se restringe àquela sancionada por lei, tem na virtude cívica seu aspecto capital. A partir desta concepção, na esfera pública, grupos voluntários privados e sem fins lucrativos passam a formar a sociedade civil. 3. A teoria marxista/gramsciana, a cerca da sociedade civil: Marx e Gramsci focam na reconstrução da sociedade. Este último opera uma mudança paradigmática, com sua visão tripartite:Estado – Mercado – Sociedade Civil. O viés gramsciano de referência à sociedade civil visa a proteção contra os abusos estatais e de mercado. 25 CidAdAniA │ unidAdE ii Pertencer a um Estado-Nação significa o estabelecimento de uma personalidade em um território geográfico. Historicamente, a cidadania era concebida em relação a restritos grupos de elite, como, por exemplo: os ricos de Atenas ou os barões ingleses do século XVIII. Mais tarde, a cidadania é estendida a uma parcela maior dos residentes de um país. A cidadania, antes considerada um status, torna-se um processo constituído por uma engrenagem que envolve as relações e os idiomas utilizados por políticos que destacam o pertencimento e os direitos universais de uma comunidade. A cidadania é um conjunto de práticas políticas, econômicas, culturais e jurídicas que vão definir o cidadão como membro qualificado de uma sociedade. Os direitos e as obrigações da cidadania existem quando o Estado prioriza a regras da cidadania e se incumbe de tomar medidas sérias para protegê-las. A cidadania determina a interlocução entre o cidadão e o estado, focando nos direitos e obrigações de um e de outro. Há teorias a cerca da sociedade civil que fazem referência às instituições mediadoras entre cidadão e estado.A sociedade civil tem três perspectivas: A sociedade civil é uma esfera não estatal de influência que emerge do capitalismo e da industrialização (teoria marxista). a. Desenvolve a proteção dos cidadãos contra o abuso dos direitos (definição normativa). b. Prioriza a interação entre grupos voluntários na esfera não estatal (visão das ciências sociais). Cidadania e sociedade civil são noções diferentes, mas contingentes. A Cidadania é implementada pelo Estado, enquanto a sociedade civil envolve grupos, em harmonia ou conflito; cria grupos e pressiona; se for fraca, corre o risco de ser dominada pelas esferas do Estado ou do mercado; consiste na esfera pública e as lutas pela cidadania se dão por meio dos interesses dos grupos sociais; mas não é o lócus (lugar) dos direitos da cidadania, pois não se trata do Estado. Temos três tipos de regimes: » Regimes liberais (Teoria liberal). » Regimes tradicionais (comunitarismo). » Regimes de social democracia (Teoria da democracia extensiva). Teoria Liberal é a dominante nos países industrializados, especialmente anglo-saxões. Com ênfase no indivíduo, o liberalismo propõe que os direitos são inerentes a todas 26 unidAdE ii │ CidAdAniA as pessoas e envolvem liberdades a serem usufruída pela sociedade como um todo. Constituem pontos centrais as liberdades civis e os direitos de propriedade. Os direitos individuais são vitais. Em contraposição, os direitos sociais ou pertencentes a grupos representam uma violação aos princípios liberais. O cidadão é entendido enquanto indivíduo e possui liberdade no exercício dos seus direitos. A cidadania encontra-se, assim, relacionada à imagem pública do indivíduo enquanto cidadão livre, dotado de igualdade, ao inverso das suas características dominante, enquanto pertencente a um grupo que determina a sua identidade. A principal crítica ao liberalismo é seu forte acento individualista. O declínio da solidariedade entre os cidadãos e a ausência do senso de destino está na raiz dos grandes males da modernidade. Nosso entendimento é que a cidadania deve ser vista como uma prática e não como um status de pertencimento. A precedência deve ser outorgada pela visão do bem comum e não alicerçada por direitos individuais. Mas como será possível atingir o bem comum? Que projeto de comunidade de cidadãos pode ser oferecido a uma sociedade multifacetada? Habermas critica as duas perspectivas, liberal e comunitarista. Para ele, o papel do cidadão se limita a uma visão individualista e instrumental da tradição liberal (Locke) ou a uma compreensão comunitária e ética da tradição de Aristóteles. O modelo liberal focaliza os direitos individuais, enquanto, para a visão comunitarista, a participação do governo é a essência da liberdade. Para Janoski, a teoria de “democracia expansiva” (Mark Warren) representa a terceira via e preconiza a expansão de direitos individuais ou coletivos a sujeitos historicamente discriminados por classe, gênero ou etnia. A teoria democrática expansiva reivindica o aumento da participação das massas na alçada decisória com maior interação entre o cidadão e as instituições. Enfatiza os direitos de participação e reivindica um equilíbrio entre direitos individuais, direitos de grupo e obrigações. Marshall vislumbrava a cidadania como elemento de mudança social, apontando três gerações de direitos: » Direitos Civis para o exercício das liberdades. » Direitos Políticos que garantem a participação, tanto passiva quanto ativa, no processo político. » Direitos Sociais que correspondem à aquisição de um padrão mínimo de bem-estar e seguranças sociais. 27 CidAdAniA │ unidAdE ii Marshall direciona sua atenção ao antagonismo existente entre direitos civis que conseguem a proteção do indivíduo contra o Estado e os direitos sociais que devem garantir o direito a uma renda real, por meio de benefícios assegurados pelo Estado, e conclui que cidadania social e capitalismo estão em guerra. Janoski (1998) classifica assim o confronto entre liberalismo, social-democracia e comunitarismo: 1. O liberalismo se baseia no individualismo: os direitos civis são relacionados apenas a obrigações mais essenciais. 2. A social-democracia ou expansiva se baseia na participação igualitária de grupos e indivíduos, toda uma série de direitos e obrigações é equilibrada por permutas restritas e generalizadas. 3. O comunitarismo se baseia em forte hierarquia comunitária, no qual as obrigações da comunidade se referem aos direitos nas relações em longo prazo e apresentam prioridade na garantia do bem-estar da comunidade. Segundo Janoski (1998), essas teorias políticas podem ser associadas a regimes estatais: o liberalismo, aos direitos civis nos regimes liberais, em que há uma maior separação entre esfera estatal, mercantil e pública (Austrália, Canadá, Japão, Suíça, Estados Unidos); o Comunitarismo, com sua priorização das obrigações sobre os direitos nos regimes tradicionais, em que há uma ampla justaposição entre as esferas do mercado, do público e também estatal (Áustria, Bélgica, França, Alemanha e Itália); e a democracia expansiva, com seus altos níveis de direitos políticos, sociais e de participação aos regimes social-democráticos, em que há incentivos na participação social, tanto no governo quanto na economia (Dinamarca, Noruega, Suécia, Holanda e Finlândia). Para a leitura nacionalista, a cidadania encontra-se diretamente relacionada à formação da consciência nacional que imprime nos indivíduos um senso de pertencimento à comunidade. É a ideia do Estado-nação o agente garantidor dos direitos da cidadania. A expressão “nação” surge no bojo da erupção revolucionária francesa do fim do século XVII. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão trouxe as bandeiras da soberania democrática e dos direitos civis da cidadania. No modelo francês, o indivíduo é reconhecido por seus direitos; no modelo alemão, os indivíduos são caracterizados por suas identidades (língua, religião, história). Vemos hoje a migração em alta escala, em função dos inúmeros conflitos mundiais. Essa realidade, mormente no pós-conflito, gera situações desafiantes para os nacionalismos na tentativa de encontrar uma constante extensão dos direitos da cidadania. A aspiração 28 unidAdE ii │ CidAdAniA da cidadania multicultural tem seu foco central na diversidade étnica entre grupos que convivem em uma mesma sociedade. Os direitos não devem ser apenas voltados para os indivíduos; é necessário também garantir os mesmos direitos a estes grupos, defendendo-se a necessidade de uma cidadania diferenciada, dos direitos culturais da cidadania (WILL KYMLICKA, 1995). A visão multiculturalistasustenta que a cidadania, como identidade, deve ter precedência sobre a cidadania como status legal, podendo passar assim da cidadania comum (sociedades liberais) a uma cidadania diferenciada (grupos de imigrantes). No seio do processo de globalização, no qual o Estado-Nação tende a declinar em importância, dá-se uma transição para um novo espaço de cidadania (polis, império, cidade, Estado-Nação, espaço global ou transnacional), de uma cidadania vinculada aos direitos individuais para uma cidadania devida à pessoa universal. Encontramo-nos em um momento de revitalização do conceito de cidadania e, por isso, é preciso ter em vista três metas: 1. analisar os sistemas econômicos e políticos de diversos países, em uma perspectiva comparativa, para auxiliar o desenvolvimento dos direitos de participação; 2. explicar os aspectos da sociedade civil e da organização social; 3. compreender o nexo de solidariedade que mantém o conjunto social. A cidadania presume a existência de uma sociedade civil inserida em redes e conexões entre pessoas e grupos. Para refl exão a respeito do assunto estudado neste capítulo, leia com atenção a matéria assinalada e assista ao vídeo. Refl ita e faça suas inferências a respeito do delicado assunto que está mobilizando o Mundo Ocidental. :a? <http://www.publico.pt/mundo/noticia/projeccao-dao-empate-no-voto- sobre-limites-a-imigracao-na-suica-1623009>. <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/02/suica-vota-cotas-para- imigracao-e-ameaca-fechar-portas-para-europeus.html>. <http://www.brasilpost.com.br/raphael-tsavkko-garcia/precisamos-falar-sobre- imigracao_b_7129478.html>. 29 CidAdAniA │ unidAdE ii Vídeos <https://www.youtube.com/watch?v=Rfzl6QMIbJM>. <https://www.youtube.com/watch?v=AgaC9QWuy4U>. 30 CAPítulo 2 Pressupostos constitutivos Uma teoria política será mais completa quanto maior for a sua capacidade de ser avaliada por possibilidades de análise promovidas por ela na totalidade de seus pressupostos metodológicos, assim como as suas contribuições conceituais. As desigualdades na propriedade, na apropriação do produção social e no planejamento produtivo geram os movimentos sociais da atualidade, como resultado das contradições sociais. Apesar de universais, essas contradições são enfrentadas a partir do seu contexto social, gerando os movimentos que enfrentam e se relacionam às carências básicas de um povo. Sua maior preocupação, ou seja, seu foco, está na criação de uma democracia com dupla perspectiva institucional e da cultura democrática, melhor, das relações sociais, a qual depende da capacidade de articulação de um aspecto mais amplo de atores sociais e da reconstrução prática da cidadania. O processo sinaliza para a liberdade, a igualdade social e a autonomia, para independência de gestão, respeito à vida, a representatividade política alternativa pelo próprio movimento que são valores relacionados diretamente com a cidadania e com o exercício livre da cidadania. Se não há atuação profissional em organizações e associações da classe trabalhadora, geridas e criadas por esses profissionais, não haverá vínculos sólidos com os seus movimentos sociais autônomos, segundo Amamoto (2004), Demonstrando, assim, a necessidade da criação e do desenvolvimento da relação do Serviço Social com a população. O conceito de cidadania induz diretamente a ideia de núcleo urbano, de comunidade politicamente organizada. Na Grécia, cidadãos são aqueles que compartilham de um mesmo sistema legal e a cidadania seria o conjunto desses cidadãos que exercem os seus direitos civis, políticos e sociais estabelecidos na constituição. O direito e dever de um cidadão andam ou devem andar sempre juntos. Exercer a cidadania é ter lucidez com relação aos seus direitos e deveres, lutar por eles em caso de ameaça ou possibilidade de impedimento do exercício da cidadania. Atribuem-se o surgimento da cidadania à Grécia Clássica, mas sabe-se que surgiu bem antes do aparecimento das aldeias, vilas ou cidades. O primeiro modelo de cidadania foi o grupo familiar composto de cinco a oito indivíduos de ambos os sexos, que deu início a agricultura, a domesticação de animais, que procuravam uma vida mais estável. 31 CidAdAniA │ unidAdE ii Assim, com a união de várias famílias, visando o mesmo objetivo, eram formadas as aldeias. A união de várias aldeias gerou e completou a comunidade, donde surgem as cidades. Então, foram formando vários tipos de cidadanias e a consolidada surgiu na Grécia, na idade do Bronze, que se fortaleceu na civilização Minoica. Logo após, surgiu a cidadania em Roma, que era governada por um rei, auxiliada e controlada por um senado e uma assembleia. Os romanos possuíam a cidadania Civitas. Mais tarde foi criada uma nova cidadania diferenciada, muito próxima do que se denomina hoje de cidadania multicultural. Foi em Roma que essa nova cidadania foi criada, a civitas sine suffragio, ou a cidadania de segunda classe. Na Idade Média surge a cidadania Teocrata, resultante da queda do império romano. A cidadania para todos tem início com a ascensão da burguesia e o fortalecimento do capitalismo. A cidadania na Idade Moderna, subdividida em cidadania liberal, cidadania republicana e o cidadania comunitária, está totalmente interligada pois para um bom funcionamento da sociedade teremos que ter administradores públicos comprometidos com as regras a se seguir e proporcionar uma administração clara e para todos de que fazem parte da comunidade. Do mesmo jeito que um cidadão tem o compromisso com a cidadania. Cidadania pode ser entendida como a totalidade de direitos e deveres a que o cidadão está relacionado na sociedade em que habita. O fundamento principal do conceito de cidadania está vinculado fortemente à noção de direitos, em geral, mas a ênfase está constituída pelos direito políticos. É ele que permite a intervenção pelo indivíduo nos negócios públicos do Estado, com participação pelo voto (direto) ou pelos cargos públicos (indireto) na constituição do governo e na administração pública. Mas é importante ressaltar que, numa democracia, a definição de direito está diretamente ligada ao pressuposto da contrapartida, os deveres. Na coletividade são os deveres do cidadão que garantem o exercício de seus direitos. teorias da cdidadania A cidadania engloba uma série de fatores, entre eles as questões sociais e políticas; e vem evoluído com o passar do tempo, havendo uma profunda relação entre cidadania e classe social. A cidadania pode ser descrita como a participação em uma comunidade, como membro dela, na qual os menos favorecidos pelo sistema de classes acabam ficando de fora, não podendo participar de forma efetiva da comunidade e da cidadania. No estado moderno, a cidadania é vista como a capacidade de exercer o poder político por meio do voto, o que leva a crer que todas as pessoas são iguais perante a lei, não 32 unidAdE ii │ CidAdAniA sendo, no entanto, nenhuma pessoa ou grupo legalmente privilegiado. Contudo, na prática o que se observa é que os menos favorecidos ficam as margens da prática da cidadania. Na visão de Marx, a cidadania plena somente poderá ser alcançada se ocorrer uma revolução social em que a base da classe social dominante seja destruída. Para Aristóteles, cidadania era o status (posição) em que os únicos privilegiados que exerciam cidadania plena eram os grupos dirigentes da cidade-estado (participavam nas deliberações e exercício do poder). Já no estado democrático moderno, a base da cidadania consiste na capacidade de participar no exercício do poder político por meio do processo eleitoral (a cidadania se estende a todos). direitos da cidadania Para Marshall, não existe um princípio universal que estabeleça direitos e deveres inalienáveis da cidadania, mas sim elementos distintos como o direito civil, político e social que associados possibilitam o pleno exercício da cidadania, sendo que a cidadania consiste na conquista dessesdireitos. O direito civil consiste na liberdade individual assegurada pela lei, sendo representada pelo poder judiciário. O direito político está no direito à participação no processo eleitoral. E o elemento social da cidadania representa o poder de viver em sociedade e ter os seus direitos assegurados. No entanto, esses “direitos” do cidadão só foram reconhecidos no Século XX. Outros direitos intrinsicamente ligados à Cidadania surgiram no final do século passado e agora no início do século XXI. São exemplos desses direitos: » do consumidor; » do idoso; » dos adolescentes; » das crianças; » dos deficientes; » dos homoxessuais; » das minorias étnicas; » dos animais; » da natureza. 33 CidAdAniA │ unidAdE ii Há ainda outra forma de estudar os direitos que esclarece a forma correta de distinguir a prática diária da cidadania da letra da lei. São os tipos de cidadania, a formal e a real. desenvolvimento da cidadania Marshall atesta que, até o fim da sociedade feudal, os elementos formadores da cidadania (direitos civis, políticos e sociais) se encontravam interdependentes entre si, mas com o fim desta forma de estado e com os avanços das trocas de mercado foi possível separar esses elementos da cidadania. A partir de então, cada um tomou o seu caminho e a velocidade de avanços própriosocorreu a criação das leis que foram constituídas legalmente, as quais deveriam reger a convivência em sociedade e legitimar as ações das autoridades publicas. Portanto, tal poder ser ostentado como legítimo e estar publicamente reconhecido; contudo, o que se observa é que a imposição dos direitos é muito mais significativa para os que não detém poder social e político do que para os poderosos. Isso evidência que, embora os direitos de cidadania possam ser exercidos por todos os que o possuem, eles tendem a servir de forma diferente a membros de classes diferentes. Atrelados a estes questionamentos, surge à possibilidade da união de forças em prol de benefícios em comum, passando assim os elementos da cidadania a serem mais evidentes e possuir maior clareza com o advento dos direitos industriais, os quais davam condições de reivindicações às classes menos favorecidas, na busca pelos seus direitos, tendo o sindicalismo efetuado o movimento inicial na busca de uma diminuição nas barreiras das desigualdades sociais. Para Marshall, o conflito é algo necessário para o estabelecimento da cidadania, sendo necessário que a classe oprimida se una e lute contra seus opressores na busca de seus direitos; tanto que as maiorias dos grupos anteriormente excluídos de seu âmbito de convivência tiveram que lutar contra a resistência dos que tinham se oposto a sua expansão. Contudo, para que de fato ocorra a expansão da cidadania, é necessário que ocorra a participação do estado, tendo em vista que, para se empreender a guerra, o estado precisa de sua população e com a ajuda desta população envolvida na guerra o estado consegue promover mudanças sociais por meio da mobilização das massas; dando origem ao surgimento da responsabilidade coletiva e compartilhada. Por fim, o processo de expansão ou alargamento da cidadania está diretamente ligada ao desenvolvimento capitalista, o que proporciona novas oportunidades não só das classes mais baixas, mas também das classes dominantes, tendo cada uma a ampliação de sua cidadania por meio de lutas próprias e o que consequentemente veio a disseminar de 34 unidAdE ii │ CidAdAniA forma mas ampla as liberdades e direitos individuais e coletivos, que nada mais é que o exercício da cidadania. <https://www.youtube.com/watch?v=z6bLJKb1Fh0> Como dissemos anteriormente, o conceito de cidadania foi construído na Grécia Clássica, usado para designar os direitos relativos ao cidadão, isto é, o indivíduo que vivia na cidade e participava ativamente dos negócios e das decisões políticas. Nesta época cidadania era conceituada com sendo todas as implicações decorrentes de uma vida em sociedade. No decorrer da história global, o conceito de cidadania foi ampliado, considerando todo um conjunto de valores sociais que determinam o total de deveres e direitos de uma pessoa. Na atualidade cidadania representa um conjunto de direitos que faculta à pessoa a possibilidade de participar ativamente de relações da vida e do governo de seu povo. Quem não é possuidor da cidadania está a margem ou excluído da vida social e tomada de decisões, fi cando numa posição de inferioridade dentro da sociedade em que vive. Com a ampliação das atividades que determinam o pleno exercício da cidadania e como ser cidadão representa direitos e deveres na sociedade em que se vive, assim a saúde pública é uma das formas de manifestação da cidadania e, para verifi car a situação da cidadania no Estado brasileiro, foi necessário delimitar o tema à saúde pública, o que foi feito na Unidade I. É de muita relevância para os dias contemporâneos saber o que está sendo oferecido para o cidadão, no âmbito da saúde pública, porque salutar cidadania da pessoa infl uência em todo o decorrer da vida, o que pode determinar o quanto e como uma pessoa pode viver. O escopo da análise do exercício da cidadania na saúde pública busca verifi car as políticas apresentadas pelos órgãos responsáveis pela gestão da saúde pública, colocando à prova se o direito a saúde positivado nas normas brasileiras está sendo consolidado, isto é, usufruído pelos cidadãos. Assim sendo, os pontos analisados na política de prestação do serviço serão: a distribuição de remédios gratuitos pela rede pública, imunização a doenças, tratamento a usuários com doenças crônicas, a assistência a gestantes e a falta de médicos e outros profi ssionais da saúde. Na Grécia Antiga, a Cidadania era compreendida apenas por 35 CIDADANIA │ UNIDADE II direitos políticos. Esses direitos eram exercidos por homens livres, ou seja, por homens que não precisavam preocupar-se com trabalho para a própria sobrevivência, uma vez que era exigida dedicação integral para com os negócios públicos. Por isso, o número de cidadãos era pequeno, pois eram excluídos da cidadania mulheres, homens ocupados, escravos e estrangeiros. No final da Idade Moderna, a nobreza e o clero continuaram a ter certos privilégios sobre o povo. Pensadores da época, como Voltaire, que marcaram a história da cidadania, começaram a defender um governo democrático, com o fim do privilégio das classes, maior participação popular, liberdade e igualdade e a partição de poder. A cidadania desde o início esteve e continua em permanente construção; é um referencial da conquista humana, por meio dos indivíduos que buscam mais igualdade, direitos, melhores garantias coletivas e individuais. Esta não discrimina um indivíduo pela sua raça, religião, gênero ou idade, pois é estendida a todos os pertencentes de uma sociedade. Porém, apenas nascer em determinado local não significa ser um cidadão. Tem-se como característica da cidadania o acesso aos bens ali produzidos, o reconhecimento e a execução dos direitos e deveres como um ser social. Portanto, só é considerado cidadão o indivíduo que participa dos acontecimentos de seu determinado local. Mesmo com as grandes conquistas de direitos, há no Brasil muito que ser feito no quesito cidadania. Apesar da conquista dos direito políticos, civis e sociais, não é possível esconder as dificuldades que milhões de brasileiros passam diariamente com a miséria, violência, desemprego e analfabetismo. Podemos, portanto, dizer que a cidadania está em constante evolução. Ela irá mudar de acordo com a sociedade, época e Estado. 36 CAPítulo 3 Cidadania em saúde Cidadania em saúde é uma parte importante e especial constante da cidadania em geral. Pressupõe que cada pessoa, qualquer que seja o papel e a posição que tenham na sua cidade, assume ativamente as normas determinadas de convivência, do pertencimento, do envolvimento, do dar e do oferecer, na sua interlocução com os demais, na realidadeem que se manifesta. No que se refere à cidadania em saúde, são consideradas características comuns e específicas, consoantes com os papéis que cada pessoa representa, num dado momento: político, profissional de saúde, gestor de serviços de saúde, fornecedor de bens e serviços aos sistema de saúde, cliente de serviços de saúde etc. Porém, existe para todos um conjunto de direitos e deveres essenciais. a. Direito ao reconhecimento enquanto pessoa humana integral com características e especificidades próprias e o dever de reconhecê-los reciprocamente nos outros. b. Direito ao respeito na sua individualidade e dignidade e o dever de respeitá-los em si próprio e nos outros. c. Direito à obtenção de respostas adequadas dos serviços de saúde e o dever de contribuir na prestação desse direito na cobrança de tais respostas dadas a si e aos outros. d. Direito a receber cuidados com rigor profissional e o dever recíproco em relação a si próprio e aos outros naquilo que puder efetivamente alcançar. e. Direito a exigir a responsabilidade, por parte dos serviços e dos profissionais de saúde e o dever, de se responsabilizar por si e pelos outros nas situações que estiverem na sua mão influenciar e controlar. O desafio essencial é o de criar uma dinâmica em desenvolvimento contínuo que vise à evolução de uma situação em que predomina a pouca informação, a passividade e a dependência dos saberes e das ações de outrem para as inter-relações de produção e partilha, constante de informação e de conhecimento, de proatividade, de autocontrole e da máxima autonomia possível no que se respeita à saúde individual e coletiva a que corresponde também uma parte de responsabilidade de cada um pela saúde e, por extensão, pelo estado de saúde da comunidade, assumindo assim uma atitude de cidadania em saúde. 37 CIDADANIA │ UNIDADE II O Sistema Único de Saúde – SUS, no seu comprometimento com o princípio da integralidade na atenção à saúde do povo brasileiro, promove reflexões sobre as questões relacionadas com o direito à saúde, as conceituações, as concepções e os interconectores com a regulação e outras capacidades de gestão da saúde pública no Brasil. A ênfase está na regulação do acesso, no sentido da ação imediata na regulamentação das relações que envolvem a gestão do SUS, a rede prestadora de serviços e o cuidado oferecido aos beneficiários desses serviços. A integralidade é um princípio e uma diretriz importantes na organização do SUS, de acordo com a orientação dada pela Constituição Federal de 1988. A Constituição Federal, quando apresenta as diretrizes do sistema nacional de saúde, determina a compreensão da integralidade a ser utilizada no atendimento integral e, desta forma a CF define a competência no sentido de regulamentar, fiscalizar e controlar, devendo sua execução ser efetuada diretamente ou indiretamente ou ainda por pessoa física ou jurídica de direito privado. As ações determinadas segundo estes conceitos importam em reconhecer que a obtenção do cuidado em saúde possui a complexidade de um grande desafio para a gestão da saúde pública no Brasil, pois há diferenças entre pessoas e em relação à aplicabilidade prática de seus serviços. O acesso é conceituado como sendo um conjunto de especificidades que caracterizam a relação entre os beneficiários dos serviços e o sistema de saúde, compreendendo que essas dimensões estão vinculadas: à disponibilidade dos serviços, à acessibilidade, à acomodação aos mesmos serviços, às formas diferenciadas de organização e apropriação dos serviços pelos beneficiários, à capacidade de aquisição e sua aceitabilidade social. Aqui o acesso pode ser compreendido como o nível de facilidade com que os cidadãos obtêm cuidados de saúde. Refere-se ao ingresso das pessoas nos serviços de saúde e ao recebimento de cuidados subsequentes. Por cuidado, há várias compreensões: 1. umas que se limitam às competências técnicas para o bom êxito de um planejamento terapêutico, como curar, tratar, controlar, recuperar a que denominam assistência; 2. outras que ampliam esse significado, ultrapassando o conceito de construção do objeto e interferir nele, não devemos nos restringir à existência de pequena tarefa das práticas de saúde, devemos sim construir projetos que determinem o corpo e a mente, o homem com uma compreensão ampla, maior, o projeto que torne o cidadão feliz, felicidade que envolve a ação assistencial. 38 unidAdE ii │ CidAdAniA A partir da compreensão e do reconhecimento da importância da regulamentação do sistema público de saúde, a preocupação com a forma como o Estado lidava com a questão foi aprofundada, isso nas últimas décadas, efetuando reflexões sobre a regulação, junto com os processos de reforma do Estado e das privatizações de serviços que até então eram da alçada do Governo, com foco nos serviços de utilidade pública. Com essas reformas, a regulação governamental adquiriu uma maior importância enquanto centralização de intervenção do Estado no mercado e em diversos outros domínios. Assim, a regulação se torna instrumento de políticas públicas, traduzindo-se nas mudanças institucionais. Dessa premissa, vale ressaltar a mudança no processo de regulação da saúde, cuja direção fica vinculada à construção do Estado-nação, que no Brasil tem início na década de 1930, momento em que se instauram as principais instituições que constituíram o moderno Estado brasileiro. Com isso, a CF determina que a fiscalização e a regulação das atividades de saúde sejam efetivas e objetivas em relação aos serviços de assistência à saúde no Brasil. No entanto, a CF não estabelece que os serviços e as ações de saúde sejam uma reserva de direito público. Porém, no âmbito mais geral do marco regulatório do SUS, está claro que compete ao Estado uma posição intransferível e indelegável de regulador dos serviços de saúde no Brasil. O sistema dual do Brasil existe na medida em que o sistema público nacional se relaciona com o sistema de saúde. Portanto, paralelamente ao processo de implementação do SUS ocorreu o estabelecimento da política regulatória voltada para o segmento privado da saúde, com definições e um redirecionamento das atribuições públicas, passando a enfatizar políticas voltadas para o mercado, que se expandia e se consolidava como o sistema privado, ou supletivo, de assistência à saúde. Apesar de a CF ter sido promulgada em 1988, apenas a partir de 1996 foi estabelecida uma política regulatória para o segmento privado da assistência no Brasil, efetuada de forma desestruturada e oposta à regulação do sistema estatal. Essa regulação possui as características da regulação de atividades de mercado, na perspectiva econômica que foca na regulação enquanto maneira de viabilizar a intervenção do Estado na economia, objetivando garantir os direitos dos consumidores privados, em função do interesse público comprometido com a produção de serviços de saúde. A municipalização da saúde brasileira, iniciada a em 1993, com a NOB/SUS no 93, aumentada pela NOB/SUS no 96, abriu-se, porém, novas perspectivas, embora houvesse contrapontos com os dispositivos constitucionais. Foi preciso, em 1993, a extinção dos INAMPS para viabilização da implementação das diretrizes e dos princípios do SUS. 39 CIDADANIA │ UNIDADE II Em consequência, foi instituído o Sistema Nacional de Auditoria – SNA, como Departamento de Controle, Avaliação e Auditoria do SUS, cuja atribuição é proceder à avaliação técnico-científica, contábil, financeira e patrimonial do SUS, realizada de forma descentralizada, com a função de controlar a execução dos serviços, para verificação da sua compatibilidade com os padrões determinados; para a identificação de situações de risco técnico e administrativo; para avaliar a estrutura, os processos e os resultados conquistados, aferição de sua conformação com os critérios e parâmetros determinantes de eficiência, eficácia e efetividade; para auditoria da normalidadedos procedimentos efetuados por pessoas físicas e jurídicas. Para que o sistema de controle, avaliação e auditoria efetue o seu importante papel de verificar as ilegalidades e irregularidades que eram abusivamente cometidas por pelos prestadores da iniciativa privada vinculados ao SUS, demonstrando e confirmando a importância de proceder ao impedimento do prestador de serviços de transgredir do que induzir processos que garantissem o acesso e a qualidade do atendimento fornecido à população usuária do SUS. O SUS recebeu por herança um conjunto de prestadores de serviços de saúde representativo de um desafio para a assistência integral. O grande número de centros e postos de saúde no país sofreram com as restrições orçamentárias, as soluções de continuidade, me função da sua colocação em segundo plano, sem priorização da contratação de recursos humanos, prejudicando a rede hospitalar. Sequer identifica-se um sistema de financiamento que viabilize as iniciativas municipais que não estivessem ligadas ao atendimento e aos procedimentos médicos individuais para a assistência clínica. A efetivação da política pública de saúde depende de uma eficiente rede prestadora de serviços, o que é inexistente, e que se expanda ao longo do tempo atendendo às necessidades da população. O conjunto de prestadoras privadas de maior complexidade também vem sendo implementada, priorizando lucros, atuando no vácuo mais complexos e mais rentáveis deixados pelo setor público. A forte penetração dos interesses desses prestadores privados nas instituições governamentais do SUS determinou a proteção desses interesses, além de não ter desenvolvido uma ação reguladora que permitisse a que o interesse público fosse priorizado na compra de serviços. Este legado gerou, na atualidade, a necessidade de regulação governamental para publicitar a rede privada, fazendo valer o interesse público em função de garantir o acesso universal. 40 unidAdE ii │ CidAdAniA Assista aos vídeos sugeridos. Façam suas refl exões e registrem suas inferências em um texto dissertativo. <https://www.youtube.com/watch?v=ySF_m9K0Ojg>. <https://www.youtube.com/watch?v=nWpxHp4Mc2Y>. Alguns textos para ajudar na sua refl exão. <http : / /w w w.fdv.br/s i sb ib/ index .php/di re i tos e g arant ias /ar t ic le / viewFile/37/35>. <http://www.cartacapital.com.br/saude/saude-cidadania-e-democracia-4606. html>. <http://pensesus.fi ocruz.br/cidadania-para-sa%C3%BAde-cebes-publica-nova- cole%C3%A7%C3%A3o-de-livros-digitais-e-videoaulas>. 41 unidAdE iiiHuMAnizAção CAPítulo 1 na prestação do serviço de saúde e na assistência hospitalar Com o advento da industrialização, as máquinas estão cada vez mais presentes nas instituições hospitalares representando alta tecnologia e cuidados que envolvem o processo de saúde e adoecimento, pois ele busca promover, manter ou recuperar a dignidade e a totalidade humana. A enfermagem foi a primeira a profissionalizar o cuidado, em se tratando do atendimento humanizado, no sentido de criar procedimentos que facilitem o atendimento de pessoas fragilizadas para que estas sigam sua trajetória de recuperação positivamente. Para viabilização desse cuidado humanizado é necessário manter um olhar atento para si e para o outro, no sentido de possibilitar que o contato consigo mesmo colabore positivamente no cuidado de cada ser. Identifica-se, então,o encontro entre cuidador e o cuidado, com a intencionalidade de manter o foco na construção de uma empatia que promoverá as ações positivas para a relação cuidador/cuidado. Desenvolver o conceito de fundamentar suas ações a partir de considerações éticas para o cuidado o que nos leva aos quatro princípios ou valores: 1. autonomia; 2. beneficência; 3. não maleficência; 4. justiça. A ética contribui no processo de humanização hospitalar, fundamentando-se racionalmente na condição de resgatar a dignidade humana no que se refere ao cuidado hospitalar, medida que nos aproximamos das relações do paciente para identificar as suas dimensões. Esbarramo-nos com o sentido de que, se existe um ser precisando 42 unidAdE iii │ HuMAnizAção de cuidados, terá que existir também alguém com disposição para o cuidado. Compreendendo o significado da vivência de cuidador e o favorecido pelo cuidado, é necessário ouvir aqueles que experimentam tal relação. O Ministério da Saúde programou a publicação de um manual beneficiando e contribuindo para a humanização da assistência hospitalar, oferecendo orientações aos gestores, profissionais de saúde e usuários do SUS. Segundo Barjas Negris, a Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH nasceu de uma iniciativa estratégica do Ministério da Saúde, em meados de 2000, com o objetivo de buscar iniciativas capazes de favorecer a melhora do contato humano do usuário com o profissional de saúde, entre estes, o hospital e a sociedade, de forma a fornecer garantias para o bom funcionamento do Sistema Único de Saúde – SUS. São princípios básicos do PNHAH o respeito à especificidade dos hospitais e a íntima cooperação entre os inúmeros agentes que formam o SUS – o Ministério da Saúde, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e as instituições hospitalares –, importante também é a integração dos vários programas, que possuem a humanização como foco em suas ações. Nas inúmeras áreas de atendimento hospitalar encontramos uma orientação global para os projetos de caráter humanizado, cuja principal função é estimular a criação e a sustentação permanente de redes de comunicação entre os diversos setores da instituição de saúde. Há espaços em que a norma de atuação está na expressão independente, na educação permanente, no diálogo, no respeito às opiniões divergentes e na solidariedade. Aconstituição do grupo de profissionais voltados para a humanização nos hospitais, a Rede Nacional de Humanização, as inter-relações entre as instituições de saúde, são fundamentais na comunicação e motivadas pelo PNHAH, como se pode verificar a partir alguns objetivos: » Geral: viabilizar, divulgar e consolidar a criação de uma postura humanitária democrática, cuja solidariedade e crítica se firmem como regra na rede hospitalar credenciada pelo SUS. » Específicos: aprimorar a qualidade e a eficiência da atenção fornecida aos usuários da rede hospitalar credenciada ao SUS. » Modernizar: as relações de trabalho nos hospitais públicos, revitalizando a imagem pública dessas instituições públicas junto à sociedade. 43 HuMAnizAção │ unidAdE iii » Capacitar: os profissionais dos hospitais públicos no sentindo de valorizar um novo paradigma no que se refere à atenção e à saúde, valorizando as crenças e o estilo de vida dos pacientes, aqui incluímos a cidadania, apesar da valorização da integralidade dos processos de atendimento. » Estimular: a criação de parcerias e troca de conhecimentos, experiências e pesquisas em humanização da assistência hospitalar. Fortalecendo as iniciativas de humanização apresentadas ou já existentes na rede hospitalar do Estado. » Conceber: projetos de humanização que implantados beneficiem administradores, profissionais de saúde e usuários do sistema de saúde. » Desenvolver: sistema de motivação para o fornecimento de serviço de saúde humanizado, desenvolvimento parâmetros de acompanhamento de resultados. A partir dessa postura humanizadora, o PNHAH sinaliza para diferentes parâmetros para a humanização da assistência hospitalar, o que se constata em três grandes áreas: » Acolhimento e atendimento dos usuários. » Trabalho dos profissionais. » Lógicas de gestão e gerência. A implantação de uma cultura de humanização requer investimentos também humanitários para sua instalação; requer a participação de todos os envolvidos no sistema, tendo sua aferição difícil, senão impossível, de ser contabilizada. O desenvolvimento e a assistência à saúde dos municípios brasileiros possuem condições completamente
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