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TRIBUNAL DO JURI A INFLUENCIA DA MIDIA NAS DECISOES DO CONSELHO DE SENTENCA

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Prévia do material em texto

ANDRÉ LUÍS DILLMANN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRIBUNAL DO JÚRI: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NAS DECISÕES DO 
CONSELHO DE SENTENÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia final do Curso de Graduação em 
Direito objetivando a aprovação no 
componente curricular Monografia. 
UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste 
do Estado do Rio Grande do Sul 
DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e 
Sociais 
 
 
 
 
 
 
Orientador (a): MSc Francieli Formentini 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Rosa (RS) 
2012
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes de profissional, formei-me como cidadão. 
Graças aos meus queridos pais Alfonso Dillmann (In 
memoriam), Leoni Maria Klein Dillmann e Hugo 
Reinoldo Werlang e ao meu irmão Jonas Eduardo 
Dillmann, que no decorrer de minha vida, 
propiciaram-me todas as condições para que me 
tornar-se um cidadão honesto, leal, humilde, sincero 
e corajoso, sempre me dirigindo grande amor e 
carinho. A vocês minha eterna gratidão e respeito.
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Crente na divindade como sou, agradeço a Deus a capacitação concedida, sem a qual não seria 
possível transpor tantos obstáculos ao longo desta longa jornada que foi cursar a Faculdade de 
Direito, a qual se finda por meio desta obra de conclusão de curso. 
 
À minha família, nas pessoas de Alfonso Dillmann (In Memorian), Leoni Maria Klein 
Dillmann, Hugo Reinoldo Werlang, e Jonas Eduardo Dillmann, os quais sempre me 
incentivaram a lutar pelos meus sonhos. Obrigado. 
Lhes amo muito 
 
A minha professora orientadora, Francieli Formentini, pela compreensão e paciência 
que teve comigo e, também, pela orientação segura que me passou durante a elaboração deste 
trabalho tão importante na trajetória acadêmica. 
 
A todos os professores com os quais tive o privilégio de aprender e aprimorar meu 
conhecimento durante este período, cumpridores assim, do seu grande papel: ensinar. 
 
Aos amigos que fiz nesta trajetória, em especial a Turma do Almoço de Idéias. 
 
A minha namorada Renata Helena Follmann, que procura me apoiar e me encorajar, estando 
ao meu lado nos momentos bons e ruins, sendo sempre a melhor amiga. 
 
E, aos demais familiares, amigos e colegas, que de uma maneira ou de outra me auxiliaram 
nesta caminha. Muito obrigado.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Gosto mais dos sonhos do futuro do que da história 
do passado.” 
Thomas Jefferson
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 O presente trabalho faz uma análise acerca do Tribunal do Júri e seu provável 
surgimento na Inglaterra, expandindo-se pela Europa e Américas e a possível influência da 
mídia nas decisões do conselho de sentença. No Brasil, a Instituição do Tribunal do Júri 
surgiu em 1882, sendo encarregado pelos julgamentos dos crimes de imprensa. Com o 
advento da Constituição Federal de 1988, autenticada que fora pelo espírito democrático, 
reafirmou a identidade constitucional do júri popular, em seu art. 5º, XXXVIII, alíneas, a, b, 
c, d. A pronúncia é a única que encaminha o réu ao Tribunal do Júri. Temos, porém, outras 
decisões como a impronúncia, a absolvição sumária e a desclassificação sumária que excluem 
a competência do Tribunal do Júri. A pronúncia ocorre quando o juiz se convence sobre a 
existência do crime e de haver indícios suficientes de que o acusado seja seu autor. Ao ser 
encaminhado para Julgamento pelo Tribunal do Júri, o réu poderá ser absolvido ou condenado 
por um Conselho de Sentença formado por seus pares, os quais podem ou não, deixar-se 
influenciar pela grande exposição midiática que se dá aos crimes dolosos contra a vida de 
grande repercussão nacional o que será analisado no presente trabalho. 
 
 
Palavras – Chave: Tribunal do Júri. Conselho de Sentença. Pronúncia. Mídia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 This paper makes an analysis about the jury and their likely appearance in England, 
expanding to Europe and the Americas and the possible influence of the media on the 
decisions of the board of sentence. In Brazil, the institution of the jury came in 1882, being 
responsible for crimes trials press. With the advent of the Federal Constitution of 1988, which 
was certified by the democratic spirit, reaffirmed the constitutional identity of the jury, in its 
art. 5, XXXVIII, points a, b, c, d. The pronunciation is the one that directs the defendant to the 
jury. But we have other decisions as Impronúncia the acquittal and decommissioning 
summary that exclude the jurisdiction of the grand jury. The pronunciation occurs when the 
judge is convinced of the existence of the crime and that there is sufficient evidence that the 
accused is its author. To be referred to trial by jury, the defendant may be acquitted or 
convicted of a Sentencing Council formed by peers, which may or may not be influenced by 
the great media exposure which gives crimes against life of great national repercussions 
which will be analyzed in this work. 
 
Keywords: Jury. Council Award. Pronunciation. Media.
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 
 
1 O TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA E 
PRINCIPIOLÓGICA ............................................................................................................. 11 
1.1 O Júri no Brasil: influências históricas e legislações ..................................................... 11 
1.2 Princípios que regem a Instituição do júri ..................................................................... 14 
1.2.1 Ampla defesa e plenitude de defesa ................................................................................. 15 
1.2.2 Sigilo das votações .......................................................................................................... 16 
1.2.3 Soberania dos Veredictos ................................................................................................ 17 
1.2.4 Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida ................................ 18 
1.3 Estrutura e organização do júri ...................................................................................... 20 
 
2 DECISÕES ESPECÍFICAS DO PROCEDIMENTO DO JÚRI ..................................... 24 
2.1 Decisões que não encaminham ao júri popular ............................................................. 24 
2.1.1 Impronúncia .................................................................................................................... 24 
2.1.2 Desclassificação da infração penal ................................................................................. 25 
2.1.3 Absolvição sumária ......................................................................................................... 27 
2.2 Pronúncia .......................................................................................................................... 28 
2.2.1 Presunção de inocência ................................................................................................... 28 
2.2.2Requisitos para a pronúncia ........................................................................................... 29 
2.2.3 Conteúdo da pronúncia ................................................................................................... 30 
2.3 Do Julgamento em plenário ............................................................................................. 31 
2.3.1 Formação do conselho de sentença................................................................................. 31 
2.3.2 Da votação dos quesitos .................................................................................................. 32 
 
3 MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA NAS DECISÕES PROFERIDAS PELO CONSELHO 
DE SENTENÇA ...................................................................................................................... 33 
3.1 Aspectos gerais dos meios de comunicação em massa................................................... 33 
3.2 A mídia e sua influência perante o tribunal do júri ...................................................... 37 
3.3 Uma reflexão sobre caso concreto: o homicídio de Isabella Nardoni .......................... 43 
 
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 48 
 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A tradicional instituição jurídica conhecida como Tribunal do Júri, desde seu 
surgimento, despontou como um dos mais polêmicos temas do direito processual penal, se 
incluindo no imaginário de pessoas comuns através de filmes que retratam um grande 
espetáculo teatral, no qual o réu, na maioria das vezes, se apresenta como o vilão e as vítimas 
como as perseguidoras da Justiça. 
 
É certo que o Tribunal do Júri surgiu com a intenção de assegurar os direitos e 
garantias fundamentais, conferindo ao povo a prerrogativa de aplicar a justiça do modo que 
lhe conviesse, cabendo a eles as decisões quanto à autoria, materialidade delitiva, incidência 
da excludente de ilicitude ou culpabilidade e das causas de aumento ou diminuição da pena 
quando ocorressem crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio doloso, aborto, 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio e infanticídio. 
 
Contudo, ao atribuir a competência a um Tribunal Popular a fim de conceder um 
maior grau de democracia, o constituinte fez com que o acusado se sujeitasse ao veredicto de 
pessoas desprovidas, muitas vezes, de um conhecimento técnico-jurídico, isto é, leigas em 
matéria de direito. 
 
Agrega-se ao problema exposto a chamada parcialidade dos jurados, os quais por 
experiências particulares, ou até mesmo devido aos veículos de comunicação “venderem” a 
violência, gerando um verdadeiro sentimento de terror na população, tendem a decidir 
favoráveis à condenação, motivados pela emoção e o sentimento de se fazer justiça a qualquer 
preço, ainda que as provas não sejam suficientes para embasar a decisão, ferindo o princípio 
do in dubio pro réu, o princípio que assegura a decisão favorável ao acusado em caso da 
existência da dúvida. 
10 
 
 
Neste contexto se justifica a escolha do presente tema, vez que se faz necessária a 
análise da eficácia do sistema quanto à garantia dos princípios constitucionais do contraditório 
e da ampla defesa no procedimento de julgamento promovido pelo Tribunal do Júri em casos 
de grande repercussão, bem como a análise quanto há possibilidade concreta de se alcançar à 
justiça almejada por meio de jurados incapazes de se desvencilhar do julgamento pré-
concebido imposto pelos veículos de comunicação atentando somente à prova contida nos 
autos do processo. 
 
O primeiro capítulo realiza um estudo acerca da origem e evolução do Tribunal do Júri 
no mundo e no Brasil, assinalando sua competência conforme acontecimentos históricos 
jurídicos no país. 
 
Em seguida, passa-se a análise das decisões que não encaminham o acusado ao 
julgamento em Plenário do Tribunal do Júri assim como aquela que o encaminha e seu roteiro 
em plenário. 
 
 Encerrada a problemática do Tribunal do Júri, sua origem e a forma que se procede 
quanto a isso no Brasil, adentra-se então no terceiro capítulo, que é o principal objeto do 
presente estudo, a instituição conhecida como mídia, explicitando através da análise das 
liberdades de pensar, formar, informar e a liberdade de imprensa, as maneiras pelas quais, a 
mídia exterioriza um pré-julgamento dos acusados, seja por meio de inúmeros noticiários, 
programas jornalísticos sensacionalistas, vendendo a idéia de terror à população que os assiste 
e, mais que isso, a necessidade de se fazer justiça a qualquer preço. 
 
Por fim, destaca-se o caso de homicídio da vítima Isabella Nardoni, através da análise 
mais detalhada da influência da instituição denominada mídia sobre o juízo crítico dos 
jurados, de modo indireto, ou seja, através de um sentimento de terror e pânico da violência 
perpetrado pelos meios de comunicação, provocando uma verdadeira caçada em busca da 
justiça. 
 
 
11 
 
1 O TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA E 
PRINCIPIOLÓGICA 
 
A doutrina diverge quanto a origem do instituto do tribunal do júri, mas os 
antecedentes do tribunal do júri tem sua provável origem na lei mosaica, nos diskatas, na 
Hiléia (tribunal dito popular) ou no Areópago, entre os gregos, nos centeni comitês, dos 
primitivos germanos, ou ainda, na Inglaterra, por volta de 1215, teoria esta última, a mais 
aceita, de onde passou pelos Estados Unidos e, depois, de ambos para os continentes europeu 
e americano (TUCCI, 1999, p. 8). 
 
1.1 O Júri no Brasil: influências históricas e legislações 
 
No Brasil, a instituição do júri surgiu em 18 de junho de 1822, sendo encarregado pelo 
julgamento dos crimes de imprensa. Consoante a isso Guilherme de Souza Nucci (1999, p. 
36), salienta que o Príncipe Regente declarou: 
 
[...] procurando ligar a bondade, a justiça e a salvação pública sem ofender à 
liberdade bem entendida da imprensa, que desejo sustentar e conservar, a que tanto 
bem tem feito à causa sagrada da liberdade brasileira, criava um tribunal de juízes de 
fato composto de vinte e quatro cidadãos... homens bons, honrados, inteligentes e 
patriotas, nomeados pelo Corregedor do Crime da Corte e da Casa. 
 
Ainda, através desse decreto, o juiz de direito nas causas de abuso de liberdade de 
imprensa nas províncias, que tivessem relação, seriam nomeados pelo Ouvidor do Crime e 
pelo de Comarca nas que não tivessem. Diante dos jurados os réus poderiam recusar dezesseis 
dos vinte e quatro jurados, sendo que os oito restantes seriam suficientes para compor o 
conselho de julgamento. Os réus só poderiam apelar para a real clemência do Regente. 
 
Em 1824, quando a instituição do júri foi inserida na constituição do império nos 
artigos 151 e 152, passou a integrar o poder judiciário, sendo considerado, como definiu 
Nassif (2001), um poder judicial independente, composto de juízes e jurados, no cívil e no 
crime, nos casos e pelo modo que estiver determinado pelos códigos, sendo que os jurados se 
pronunciam sobre o fato e os juízes aplicam a lei. 
 
Nota-se que ao contrário do que a constituição atual preceitua, o júri está inserido no 
capítulo referente ao poder judiciário e não entre os direitos e garantias individuais. Em 
12 
 
relação a isso, quando os direitos estavam em ascensão em todo o mundo, o Brasil não 
considerou o júri como tal. 
 
Neste sentido, Rogério Lauria Tucci (1999, p. 31) também asseguraque: 
 
[...] a Constituição Política do Império, de 25 de março de 1824, estabeleceu, no seu 
art. 151, que o Poder Judicial, independente, seria composto de juízes e jurados, 
acrescentando, no art. 152, que estes se pronunciariam sobre os fatos e aqueles 
aplicariam as leis. 
 
Diante disso, a carta de 1824, consagrou os direitos e garantias fundamentais, 
declarando em seu art. 179, a inviolabilidade dos direitos civis e políticos, sendo estes 
baseados na liberdade, na segurança individual e no direito de propriedade. 
 
Já Nucci (1999, p. 37), após alguns anos, assim afirma: 
 
O Código de Processo Criminal, de 1832, ampliou sobremaneira a competência do 
Tribunal do Júri, restringindo a atividade do juiz de direito a praticamente só presidir 
as sessões do júri, orientar os jurados a aplicar a pena (art. 46). A instituição do 
tribunal popular, no Brasil, ganhou então os contornos que sempre possuía o júri nos 
países do common law. 
 
Em 1841, através da Lei nº 261, a vocação liberal da constituição foi alterada, 
eliminando-se assim o júri de acusação. Já pela Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871, 
regulada pelo Decreto Imperial nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, foi redefinida a 
competência do júri para toda matéria criminal. 
 
Consoante a isso, Daher (2002) afirma pelo Código de Processo Criminal de 1832 e 
pela reforma de 1871, foi alterado em sua estrutura e competência. Mantido na constituição de 
1891 e nas sucessivas, incluindo-se a constituição de 1934 até 1937, quando a carta silenciou-
se sobre o tribunal popular. 
 
Aramis Nassif (2001, p. 18), afirma ainda: 
 
A Constituição de 1891, de cunho iminentemente federalista, consagrou a autonomia 
política dos Estados Federados, identificando-se com a estrutura norte-americana. 
As unidades federalistas passaram a legislar sobre o júri, e a respeito o Estado do 
Rio Grande do Sul crio-o de forma singular, merecendo destaque a Lei nº 19, de 16 
de dezembro de 1895, regulamentadora da Instituição. Neste texto legal, foi 
determinado que as sentenças do júri, serão proferidas pelo voto a descoberto da 
maioria (art. 65, § 1º) e que os jurados não podem ser recusados. 
 
13 
 
A constituição de 1937, ao não mencionar nada sobre o júri, levou alguns juristas da 
época a conclusão de que a instituição teria sido extinta. 
 
Essa opinião, no entanto, não prevaleceu, tendo em vista que o Decreto-Lei nº 167, de 
5 de janeiro de 1938, regulou a instituição do júri, evidenciando que estava presente no 
sistema normativo. Sua competência ficou restrita aos julgamentos dos seguintes crimes: 
homicídio, infanticídio, induzimento ou auxilio a suicídio, duelo com resultado de morte ou 
lesão seguida de morte, roubo seguido de morte e sua forma tentada conforme disposto no art. 
3º. 
 
Consoante ao exposto ocorre que a soberania do tribunal popular deixou, legalmente 
de existir. O art. 96 do referido decreto, dizia expressamente o seguinte: 
 
Art. 96. Se, apreciando livremente as provas produzidas, quer no sumário de culpa, 
quer no plenário de julgamento, o Tribunal de Apelação se convencer de que a 
decisão do júri nenhum apoio encontra nos autos, dará provimento à apelação, para 
aplicar a pena justa, ou absolver o réu, conforme o caso. 
 
Ao ignorar a soberania do júri, a constituição de 1937, veio a propiciar a ocorrência de 
gravíssimos erros judiciários, como é o caso dos irmãos Naves, um dos maiores erros 
judiciários do Brasil: 
 
Exatamente no ano de 1937, no Estado de Minas Gerais, dois irmãos foram 
acusados de terem matado um parente próximo. Muito embora o cadáver da vitima 
não tenha sido localizado, os dois foram processados por homicídio doloso. 
Submetido ao julgamento pelo tribunal do júri, ambos foram absolvidos, tendo o 
Ministério Público, recorrido da decisão para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 
Na mais alta Corte mineira, o recurso ministerial foi provido e ambos foram 
condenados à pena superior a vinte anos. Mandados ao cárcere, um deles inclusive 
acabou falecendo durante o cumprimento da pena. O outro, praticamente cumpriu 
toda sanção, sendo certo que no final a vitima apareceu viva. Até hoje, o Estado de 
Minas Gerais paga indenização à família Naves. (PEREIRA, 2001, p. 26). 
 
Dito exemplo demonstra, efetivamente, a necessidade da preservação do princípio da 
soberania do júri. Aliás, todas as demais constituições brasileiras atribuíram ao júri a 
soberania dos veredictos, pelo qual somente o júri pode apreciar os crimes dolosos contra a 
vida, podendo, no máximo, a Egrégia Superior Instância, determinar seja o réu submetido a 
novo julgamento na hipótese de haver alguma nulidade ou erro do judiciário. 
 
14 
 
Na constituição federal de 1946, retorna soberana e definitiva instituição do júri em seu 
art. 141, §28, sendo de salutar importância destacar que, o constituinte fez constar o júri no 
capítulo dos direitos e garantias individuais, com competência obrigatória para os crimes dolosos 
contra a vida. Restabeleceu-se a soberania dos veredictos do júri, determinando, inclusive, fosse 
ímpar o número dos membros. 
 
Nesse sentido Nassif (2001, p. 21) assevera: 
 
A Constituição de 1946 proclamou entre os “Os Direitos e garantias Individuais” 
que era mantida a instituição do Júri, com a organização que lhe der lei, contando 
que seja ímpar o número de seus membros e garantindo o sigilo das votações, a 
plenitude de defesa do réu e a soberania dos veredictos. Serão obrigatoriamente de 
sua competência os crimes dolosos contra a vida (art. 141, §28). 
 
A constituição federal de 1988, autenticada que fora pelo espírito democrático, 
reafirmou a identidade constitucional do júri, no seu art. 5º, inciso XXXVIII, alíneas a, b, c, d, 
assegurando-lhe a plenitude da defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a 
competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, respectivamente. 
 
Tudo isso, como assegura Nassif (2001, p. 22), é reflexo de um amplo movimento 
popular e também de uma intensa movimentação política, sendo “fruto de atitudes corajosas e 
da persistência de um povo inteiro, cansado de arbitrariedades, em busca do resgate de sua 
integridade político-juridica”. 
 
Consequentemente, a Carta convoca cidadãos para compor a amostragem da 
sociedade, julgando assim, soberanamente, seus pares. 
 
1.2 Princípios que regem a Instituição do júri 
 
O rito da instituição do tribunal do júri realiza-se mediante a observância de seus 
princípios institucionais incluídos pelo constituinte no título que dispõe sobre os direitos e 
garantias fundamentais enumeradas na constituição federal de 1988, quais sejam: a plenitude 
de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência para o julgamento 
dos crimes dolosos contra a vida. 
 
15 
 
1.2.1 Ampla defesa e plenitude de defesa 
 
Nucci (1999, p. 139-141), ao analisar os vários preceitos do júri, conclui que há 
diferença entre a plenitude da defesa disposta constitucionalmente no art. 5º, XXXVIII, e, a 
ampla defesa prevista em mesmo artigo constitucional no inciso LV: nesse sentido afirma 
que: 
 
Quis o legislador constituinte, além da ampla defesa geral de todos os acusados, 
assegurar ao acusado do júri mais, ou seja, a defesa plena, levando em conta o fato 
principalmente o fato de que, diferentemente das decisões judiciais nos processos 
em geral, a decisão dos jurados não é motivada. Pode o juiz, no seu julgamento, de 
oficio, admitir em favor do acusado tese não apresentada pela defesa, mas os jurados 
não podem. Assim, há que se exigir mais do advogado do júri, e, daí, a necessidade 
de que segaranta ao acusado a plenitude da defesa, ou seja, uma defesa completa. 
Trata-se de garantia especial e que se aplica à fase do plenário. 
 
Plenitude da defesa é uma variante do princípio da ampla defesa, constante no art. 5º, 
inciso LV da constituição federal. 
 
Para a boa doutrina, “a ampla defesa é a outra face do princípio do contraditório. 
Enquanto este último liga-se ao direito de participação, o princípio da ampla defesa impõe a 
realização efetiva desta participação”. (OLIVEIRA, 2011, p. 44). 
 
Exemplo deste preceito legal é o disposto no art. 497, V, do Código de Processo Penal 
(CPP) determinando-se que seja dado ao réu um defensor quando considerado indefeso. 
Demais disso, se houver defesa desidiosa, insuficiente, tendenciosa, incorreta tecnicamente, 
por parte do advogado do réu, o feito deve ser anulado e nomeado outro defensor, sob pena de 
violação à plenitude de defesa, assegurada pela constituição de 1988. 
 
Nesse sentido, “a imposição ao magistrado de elaborar questionário, na pluralidade de teses 
definitivas, mesmo em relação às teses eventualmente contraditórias” (NASSIF, 2001, p. 26). 
 
A essência abstrata do princípio da plenitude de defesa remonta em conceder ao réu 
igualdade de condições para contra arrazoar tudo aquilo que lhe é dito em desfavor. A balança 
há de permanecer equilibrada, sob pena de não realização de um julgamento justo. 
 
16 
 
Eugênio Pacelli de Oliveira (2011, p. 44), ao analisar o princípio em questão faz o 
seguinte apontamento: 
 
[...] defesa ampla é uma defesa cheia de oportunidades, sem restrições, é a 
possibilidade de o réu defender-se de modo irrestrito, sem sofrer limitações 
indevidas, quer pela parte contrária, quer pelo Estado-juiz, enquanto que defesa 
plena é uma defesa absoluta, perfeita, completa, exercício efetivo de uma defesa 
irretocável, sem qualquer arranhão, perfeição, logicamente dentro da natural 
limitação humana. 
 
A plenitude de defesa é então, segundo Oliveira (2011, p. 46) “uma defesa irretocável, 
tanto pelo fato do defensor ter preparo suficiente para estar na tribuna, ou de o réu utilizar-se 
do direito à autodefesa, ouvido em interrogatório e tendo sua tese levada em conta pelo juiz 
presidente, por ocasião da elaboração do questionário”. 
 
A voz da sociedade esposada pelo Promotor de Justiça, assim como o exercício pleno 
da defesa, há de duelar no terreno da lealdade, possuindo ambos as mesmas oportunidades 
para influenciar no livre convencimento dos jurados. Este é o verdadeiro espírito do “bom 
combate”, que deve, desde cedo, estar presente no âmago daqueles que esperam um dia 
labutar no “Tribunal do Povo”. 
 
1.2.2 Sigilo das votações 
 
O sigilo das votações é assegurado pela constituição, no art. 5º, inciso XXXVIII, 
alínea “b”, preservando os jurados de qualquer tipo de influência ou ainda, depois do 
julgamento, de eventuais represálias pela sua opção ao responder os quesitos formulados pelo 
Juiz Presidente do Tribunal do Júri. 
 
Trata-se de condição necessária para proteger-se a livre manifestação do pensamento 
dos jurados. Livre, porque os jurados devem conscientes da responsabilidade social de seus 
papéis, restarem imunes às interferências externas para proferirem o seu veredicto. 
 
O sigilo das votações é fundamental para que os jurados possam decidir com 
independência e imparcialidade, por consistir na liberdade de convicção dos jurados, torna 
importante ressaltar que os mesmos possam formular indagações nos momentos próprios, 
bem como solicitar esclarecimentos sobre eventuais dúvidas surgidas com a leitura dos autos 
17 
 
ou na exposição dos fatos pela defesa técnica ou pela acusação, sem o temor da ter a 
publicidade de suas atitudes. 
 
Sobre princípio em tela, discorre Julio Fabbrini Mirabete (2006, p. 494): 
 
A natureza do júri impõe proteção aos jurados e tal proteção se materializa por meio 
do sigilo indispensável em suas votações e pela tranquilidade do julgador popular, 
que seria afetada ao proceder a votação sob vistas do público. Aliás, o art. 93, IX, 
não pode se referir ao julgamento do júri, mesmo porque este, as decisões não 
podem ser fundamentadas. 
 
Ademais, a lei faculta aos jurados a qualquer momento, solicitar, por exemplo, onde se 
encontra a peça lida pelo orador, desde que, através de juiz togado, vide art. 480 do CPP: 
 
Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por 
intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se 
encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, 
pelo mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado. 
§ 1º Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a 
julgar ou se necessitam de outros esclarecimentos. 
§ 2º Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à 
vista dos autos. 
§ 3º Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos 
instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presidente. 
 
Por fim, cabe ressaltar que o Juiz-Presidente do Tribunal do Júri tem um importante 
papel a ser desempenhado, marcado por um estado de atenção permanente, que o ajuda a 
coibir quaisquer que sejam as formas de interferência no momento das votações, assegurando 
o devido sigilo. 
 
1.2.3 Soberania dos Veredictos 
 
O princípio constitucional da soberania dos veredictos consiste na impossibilidade de 
modificação da decisão proferida pelo Conselho de Sentença, pois trata-se de “condição 
indiscutivelmente necessária para os julgamentos realizados no tribunal do júri” 
(MIRABETE, 2006, p. 495). 
 
José Frederico Marques (1997, p. 23), considera ser impossível os juízes togados 
substituírem os jurados em sua decisão sobre a causa. Porém, se a decisão dos jurados for 
contrária à prova dos autos, poderá o juízo de origem (ad quo), desde que provocado, produzir 
18 
 
novo julgamento. Dessa forma, a soberania dos veredictos é condição necessária para que o 
júri exista em sua integralidade. 
 
Nesse viés convém lembrar que tanto defesa ou acusação podem recorrer da decisão 
dos jurados, pois como dito anteriormente, pode ocorrer decisão manifestamente contrária às 
provas dos autos. 
 
Mirabete (2006, p. 496) bem observa referida questão: 
 
A soberania dos veredictos dos jurados, afirmada pela Carta Política, não exclui a 
recorribilidade de suas decisões, sendo assegurada com a devolução dos autos ao 
Tribunal do Júri para que profira novo julgamento, se cassada a decisão recorrida 
pelo princípio do duplo grau de jurisdição. Também não fere o referido princípio a 
possibilidade da revisão criminal do julgado do Júri, (LXXXI) a comutação de penas 
etc. Ainda que se altere a decisão sobre o mérito da causa, é admissível que se faça 
em favor do condenado, mesmo porque a soberania dos veredictos é uma “garantia 
constitucional individual” e a reforma ou alteração da decisão em benefício do 
condenado não lhe lesa qualquer direito, ao contrário beneficia. 
 
 
Assim, é soberano o veredicto do tribunal popular em razão do sistema processual 
penal inserido na constituição federal, pois seu reexame no que tange ao mérito, só poderá ser 
revista suas decisões por quem lhe deu causa, ou seja, o próprio tribunal do júri. 
 
1.2.4 Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida 
 
Define a constituição ainda, a competência do tribunal do júri para o julgamento dos 
crimes dolosos contra a vida. 
 
Os crimes de competência do júri abrangem o homicídio, simples, privilegiado ou 
qualificado, constantes nos art. 121, § 1º e 2º; o induzimento,instigação ou auxilio a suicídio 
previsto no art. 122, parágrafo único; o infanticídio, previsto no art. 123 e o aborto provocado 
pela gestante, ou com seu consentimento ou por terceiro, constantes nos arts. 124 a 127, todos 
previstos no código penal. 
 
Esses delitos tanto podem ser na forma consumada ou tentada, com exceção do 
induzimento, da instigação ou do auxílio ao suicídio (art. 122), (que não permitem a forma 
tentada). 
19 
 
 
Vale a ressalva que as competências especiais por prerrogativas de função conferem 
ao art. 5º, inc. XXXVIII, alínea d, certa relativização, uma vez que há hipóteses em que os 
crimes dolosos contra a vida não serão julgados pelo tribunal do júri. São os crimes praticados 
por autoridades como foro de processo e julgamento previsto diretamente pela constituição 
federal (arts. 29, VIII; 96, III; 102, I, b e c; 105, I, a; 108, I, a). Este casos configuram 
verdadeiras excepcionalidades. 
 
Em se tratando do crime previsto no art. 128 do código penal, convém salientar que o 
aborto, neste caso, não deve ser punido, pois o mesmo é praticado por médico para salvar a 
vida da gestante ou nos casos de a gravidez ser resultante de estupro, caso este, em que é 
necessário autorização judicial. 
 
A ação penal, conforme assegura o mesmo autor, no processo de competência do 
tribunal do júri, tem duas fases, podendo-se dizer assim, bifásico. Pode, porém, ocorrer que 
uma dessas fases não aconteça, como no caso de haver impronúncia, desclassificação ou 
absolvição sumária. 
 
A primeira fase tem início com o recebimento da denúncia, terminando com a 
sentença de pronúncia transitada em julgado. Nesta fase, convém salientar que vigora o 
princípio in dúbio pro societate resultante no encaminhamento do réu a julgamento pelo 
tribunal do júri. 
 
Júlio Fabbrini Mirabete (2006, p. 480), sobre esse principio, ensina: 
 
É a favor da sociedade que nela se resolvem eventuais incertezas propiciadas pela 
prova. Há a inversão da regra in dúbio pro reo para in dúbio pro societate. Por isso, 
não há necessidade, absolutamente, do convencimento exigido para condenação, 
como a confissão do acusado e depoimentos de testemunhas presenciais. 
 
Com isso, podemos dizer que após a fase de inquirição de testemunhas, alegações 
finais das partes e diligências procede-se a pronúncia, que é a primeira fase do procedimento 
do júri, indo o recebimento da denúncia até a sentença pronunciativa. 
 
20 
 
Esta fase é denominada, segundo Nassif (2001, p. 43), sumário de culpa, momento no 
qual há o exame da admissibilidade da acusação, partindo-se ou não para o julgamento 
popular. 
 
Nessa oportunidade da pronúncia, outras providências podem ser tomadas pelo juiz 
preterindo-se o seu pronunciamento, como é o caso da ocorrência da impronúncia, quando há 
negativa de admissibilidade; absolvição sumária, quando existir alguma excludente de 
ilicitude; ou desclassificação, quando o crime sub examine não for considerado doloso contra 
a vida, fugindo da competência do júri popular e indo para a área do juiz singular. 
 
Já na segunda fase há a existência de sentença de pronúncia, com ofertamento do 
libelo por parte do Ministério Público, conforme prescreve o art. 417, do CPP, e se encerra 
com a sentença do Juiz-Presidente em plenário do júri. Na fase da sentença aplica-se o 
principio in dúbio pro reo, princípio este vigente também nos processos de competência do 
juiz singular. 
 
O rito adotado pelo CPP para a primeira fase do procedimento é semelhante ao rito 
ordinário, previsto para os crimes de reclusão, ainda que a infração a ser julgada pelo júri seja 
crime, cuja pena é detenção. 
 
1.3 Estrutura e organização do júri 
 
Os julgamentos realizados pelo tribunal do júri atualmente são demorados em sua 
organização, na seleção dos jurados e em suas próprias sessões. O procedimento usado é 
extremamente formal. 
 
De acordo com o que preconiza o art. 447 do CPP, o tribunal do júri é constituído de 
um juiz de direito, que é o seu presidente e 25 (vinte e cinco) jurados, dentre os quais, sete 
serão sorteados e constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. 
 
Diante disso, pode-se constatar que trata-se do júri com sendo um “tribunal composto 
de jurados sob a presidência de um juiz togado, cabendo àquele decidir da responsabilidade 
do réu (questões de fato) e a este a fixação de pena em função das respostas”. (OLIVEIRA, 
2011, p. 702) 
21 
 
 
Adriano Marrey (2000, p. 227), classifica essa escolha de jurados como um 
alistamento, realizado anualmente pelo Juiz Presidente do Júri, estando isto sob sua 
responsabilidade. Os jurados devem ser cidadãos de notória idoneidade, sendo escolhidos por 
conhecimento do próprio magistrado ou através de informação fidedigna, a procura de jurados 
será criteriosa, sendo realizada em diversos segmentos da comunidade, escolhendo, é claro, 
aqueles que melhor os represente. 
 
A respeito do tema, Lênio Streck (2001, p. 101) assevera que: 
 
Os jurados, escolhidos dentre os cidadãos de notória idoneidade, fazem parte, assim, 
de um padrão de normalidade e um padrão de aceitação pela sociedade. A 
normalidade, então, é uma normalidade instituída, onde normal tem a acepção de 
normar, de estabelecer um dever-ser-social-não-desviante. E, ao ser instituída, ao 
mesmo tempo passa a ser instituinte. 
 
O juiz poderá requisitar às autoridades do lugar, associações de classe e de bairro, 
entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, 
repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que possam integrar 
o corpo de jurados, é o que estabelece o art. 425, §2º do CPP. 
 
A distinção que se faz não é pela posição social, nem pelo seu destaque na sociedade, 
mas sim pela sua idoneidade. Há uma diversificação das funções sociais, presentes nessa 
escolha, de maneira que a sociedade possa estar presente, representada por todas as suas 
camadas. (MARREY, 2000, p. 231). 
 
Após o alistamento dos jurados, que farão parte da lista geral do ano vindouro, será 
publicada no mês de outubro, para o conhecimento de todos, sendo que, qualquer pessoa pode 
manifestar-se sobre ela, inclusive a própria pessoa que se encontra alistada, podendo expor os 
motivos que a impedem de estar presente nas sessões do júri. A alteração desta lista será de 
ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 (dez) de 
novembro, data em que será publicada definitivamente. 
 
Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na 
presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem dos 
22 
 
Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, 
permanecerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabilidade do juiz presidente. 
 
Conforme preceitua o art. 433 do CPP, o sorteio, será presidido pelo juiz e far-se-á a 
portas abertas, cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 (vinte e cinco) 
jurados, para a reunião periódica ou extraordinária. Dito sorteio será realizado entre o 
15º(décimo quinto) e o 10º (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião. 
 
Para serem alistados as pessoas devem ser maiores de 18 anos de notória idoneidade, 
não podendo serem excluídos dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor 
ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de 
instrução. 
 
Toda via, existem algumas pessoas que são isentas de fazerem parte do corpo de 
jurados, dentre elas o presidente darepública, ministros de estado, governadores, membros do 
congresso nacional, prefeitos municipais e outras elencadas no art. 437 do CPP, apenas para 
citar alguns exemplos. 
 
Por isso, o jurado é considerado um cidadão incumbido pela sociedade de declarar se 
os acusados submetidos a julgamento são culpados ou inocentes. Sendo assim, podemos dizer 
que os jurados são juízes de fato, constituído o seu efetivo exercício, um serviço público 
relevante. 
 
Em relação a isso, Fernando Capez (2009, p. 571) afirma: 
 
O serviço do Júri é obrigatório, de modo que a recusa injustificada em servi-lhe 
constituirá crime de desobediência. A escusa de consciência consiste na recusa do 
cidadão em submeter-se a obrigação legal a todos impostas, por motivos de crença 
religiosa ou de convicção filosófica ou política. Sujeita o autor da recusa ao 
cumprimento de prestação alternativa, e, no caso da recusa também se estender há 
está prestação, haverá a perda dos direitos políticos, de acordo com o disposto no 
art. 5º, VIII e 15, IV da constituição federal. 
 
Desarte, ainda, que o exercício efetivo da função de jurado traz os seguintes 
privilégios: presunção de idoneidade, prisão especial por crime comum até o julgamento em 
definitivo e preferência, em igualdade de condições, em ocorrências públicas (excluídos os 
concursos públicos). 
23 
 
 
Finda a análise da formação histórica do tribunal do júri assim como a atual 
sistemática do mesmo no ordenamento jurídico brasileiro, abordar-se-á no próximo capitulo 
as decisões que encaminham ou não o acusado ao rito do júri. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
2 DECISÕES ESPECÍFICAS DO PROCEDIMENTO DO JÚRI 
 
A pronúncia é a única que encaminha o réu ao tribunal do júri, porém, afasta-se do 
julgamento popular, o acusado, por meio da impronúncia, pela absolvição sumária ou pela 
desclassificação que excluem a competência do tribunal do júri. 
 
Nesse sentido, Nucci (2012, p. 803) assim ensina: 
 
Finda a instrução do processo relacionado ao Tribunal do Júri (judicium 
accusationis), cuidando de crimes dolosos contra a vida e infrações conexas, o 
magistrado possui quatro opções: a) pronunciar o réu, quando julga admissível, 
remetendo o caso para a apreciação do Tribunal Popular; b) impronunciá-lo, quando 
julga inadmissível a acusação por falta de provas; c) absolvê-lo sumariamente, 
quando considerada inexistente a prova do fato, quando não estiver provada a 
autoria ou a participação em relação ao acusado, quando o fato não constituir 
infração penal ou quando ficar demonstrada uma causa de exclusão da ilicitude ou 
da culpabilidade; d) desclassificar a infração penal, quando se julga incompetente 
para cuidar do feito assim como o Tribunal do Júri, remetendo a apreciação do caso 
a outro juízo. 
 
 Antes, porém, de analisar a pronúncia e suas peculiaridades, necessário se faz uma 
breve explanação das decisões que afastam o acusado de ser julgado pelo conselho de 
sentença o qual forma o tribunal do júri. 
 
2.1 Decisões que não encaminham ao júri popular 
 
Para o encaminhamento do processo ao julgamento no tribunal do júri, mister se faz a 
decisão de pronunciar o réu. Em contrapartida, três são as decisões que não encaminham o 
acusado a júri popular: impronúncia, absolvição sumária e desclassificação do tipo penal. 
 
2.1.1 Impronúncia 
 
A impronúncia suspende a competência do tribunal do júri, em relação aos crimes 
dolosos contra a vida. 
 
Sendo assim, segundo Nucci (2012, p. 808) a impronúncia “é a decisão interlocutória 
mista de conteúdo terminativo, visto que encerra a primeira fase do processo (judicium 
accusationis), deixando de inaugurar a segunda, sem haver juízo de mérito”. 
 
25 
 
Ressalta ainda referido autor, que, “inexistindo prova da materialidade do fato ou não 
havendo indícios suficientes de autoria, deve o magistrado impronunciar o réu, que significa 
julgar improcedente a denúncia e não a pretensão punitiva do Estado”. (NUCCI, 2012, p. 808) 
 
Dispõe o art. 414 do CPP: “Não se convencendo da materialidade do fato ou da 
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, 
impronunciará o acusado”. 
 
Consoante a isso, Pereira (2001, p. 94), afirma que: 
 
Se a prova não demonstra razoavelmente bons indícios de autoria do delito ou da 
materialidade, o juiz impronunciará o acusado. A materialidade nada mais é do que a 
relação entre o comportamento do réu e o resultado desse comportamento 
relativamente à vítima. Aqui novamente a dúvida favorece a sociedade, sendo certo 
que caso ocorra, o réu será pronunciado. 
 
Ademais, sobre a impronúncia, assim ensina Mirabete (2006, p. 508): 
 
A impronúncia é um julgamento de inadmissibilidade de encaminhamento da 
imputação para o julgamento perante o Tribunal do Júri porque o juiz não se 
convenceu da existência da prova da materialidade do crime ou de indícios da 
autoria, ou de nenhum dos dois. Trata-se de uma sentença terminativa, em que se 
afirma da inviabilidade da acusação, provendo-se a extinção do processo sem 
julgamento do meritum causae). 
 
Sendo assim, temos, portanto, que a impronúncia constitui-se numa decisão de 
conteúdo processual, de natureza declaratória, ou seja, uma decisão terminativa, mas não 
definitiva, pois no momento em que novas provas surgirem a respeito do fato, o processo 
poderá ser reaberto, vide parágrafo único do art. 414, do CPP. 
 
2.1.2 Desclassificação da infração penal 
 
A desclassificação do tipo penal se dá quando o juiz em discordância da acusação 
convence-se da existência de crime diverso dos tipificados no § 1º do artigo 74 do Código 
Penal (CP), bem como não for competente para o julgamento, e assim, remete os autos ao juiz 
que assim seja. 
 
O artigo 419 do CPP preconiza: 
 
26 
 
Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da 
existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for 
competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. 
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste 
ficará o acusado preso. 
 
A decisão de desclassificação, segundo Nucci (2008, p. 88) “é a decisão interlocutória 
simples, modificadora da competência do juízo, não adentrando o mérito, nem tão pouco 
fazendo cessar o processo”. 
 
Ainda sobre o tema, Saulo Brum Leal (2009, p. 79), considera a desclassificação a 
maneira de dar uma nova classificação ao fato delituoso, esta é a terceira possibilidade que a 
lei oferece para a competência do julgamento para um juiz competente. 
 
 Desarte, a desclassificação ocorre sempre que o juiz entende tratar-se o crime diverso 
do capitulado na denúncia, seja ele competente ou não para processá-lo. Nesse sentido, Paulo 
Rangel (2012, p. 648) ensina: 
 
Entendemos existir desclassificação própria e imprópria. Dá-se a primeira quando o 
juiz entende tratar-se de crime de competência do juiz singular e, portanto, não 
sendo competente, deverá remeter o processo ao juiz que o seja. Exemplo: 
desclassificação de tentativa de homicídio para lesão corporal grave. Entretanto, 
tratando-se de desclassificação para um crime de competência do próprio Tribunal 
do Júri, haverá desclassificação imprópria, ou seja, não é o crime capitulado na 
denúncia, porem continua o juiz competente para processá-lo e madá-lo a júri. Nesse 
caso, a desclassificação é imprópria porque tem o cunho de uma verdadeira 
pronúncia, já que o Tribunal do Júri é que deverá julgaro mérito da imputação, que 
será delineada na pronúncia. Exemplo: desclassificação de homicídio para 
infanticídio. Nessa caso, continua o Tribunal do Júri competente para apreciar a 
causa, motivo pelo qual a desclassificação importa verdadeira pronúncia, pois 
reconhece-se a prova de existência do crime e indícios suficientes de autoria, mas 
não do crime capitulado na denúncia. 
 
Concluindo então, se o juiz entende que o crime tipificado não é de competência do 
tribunal do júri, este prosseguirá em juízo singular ou que o é, porém com outra tipificação 
penal, o juiz não encerra o processo, pois o mesmo será julgado pelo próprio tribunal do júri e 
por isso, é que trata-se á desclassificação em suma de uma decisão interlocutória não 
terminativa. 
 
 
 
27 
 
2.1.3 Absolvição sumária 
 
A absolvição sumária se dá nos termos do art. 415, do CPP, em que o juiz absolverá 
desde logo o réu estando convencido da inexistência do fato, provado não ser ele autor ou 
partícipe do fato, o fato não constituir infração penal e ou fique demonstrada causa de isenção 
de pena ou de exclusão do crime. 
 
Neste sentido, Pereira (2001, p. 93) discorre: 
 
A absolvição sumária importa na efetiva absolvição, isto é, o processo acaba ali, 
estando o denunciado absolvido. Entretanto (...) se qualquer dúvida tiver o 
magistrado sobre a ocorrência ou não da excludente, deverá mandar o réu a Júri, 
pronunciando-o, mesmo porque nessa fase do procedimento do Júri vigora o 
principio do in dúbio pro societate. 
 
Oportuno frisar ainda o que dispõe o parágrafo único do art. 415: 
 
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso 
de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva. 
 
A absolvição sumária ocorrerá diante da existência de provas seguras e incontroversas 
que inocentem o réu, acusado de praticar o delito, que se encontra sob a proteção de uma 
excludente da criminalidade. 
 
Cabe frisar, diante disso, que as excludentes de criminalidade ou de ilicitudes 
admitidas na legislação brasileira são: legítima defesa, o estado de necessidade, o exercício 
regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal elencadas no art. 23 do CP. 
 
Neste viés Nucci (2012, p. 773) considera que a absolvição sumária está calcada na 
excludente de criminalidade e da culpabilidade. 
 
Com o advento da Lei nº 11.689/08, cabe em relação a absolvição sumária, o recurso 
de apelação, quando anteriormente era cabível o recurso em sentido estrito. 
 
No que tange ao crime conexo, se acusado, absolvido de maneira sumária pelo crime 
doloso contra a vida, o juiz deve abster-se de realizar considerações sobre dito crime conexo, 
entendo assim, não ser isso de sua alçada. 
 
28 
 
Mirabete (2006, p. 511) é elucidativo a este respeito: 
 
O juiz que absolver sumariamente o réu não pode julgá-lo pelos crimes conexos. 
Deve aguardar o transito em julgado da sentença para proceder, por aplicação 
analógica, remetendo os autos ao juiz competente para os crimes em seu parágrafo 
objetos do rito ordinário, se não o for. 
 
Muito embora isto não esteja de forma expressa mencionada no procedimento do 
tribunal do júri, tal situação é tratada no art. 81 do CPP, parágrafo único. 
 
2.2 Pronúncia 
 
Segundo Oliveira (2011, p. 714), pronúncia é uma decisão que declara o réu indiciado 
no crime que faz objeto da queixa ou da denúncia, determinando o modo por que se deve 
livrar da acusação. 
 
Nucci (2012, p. 803,) conceitua a pronúncia como sendo a decisão na qual se apura a 
existência do crime, certeza provisória da autoria e a responsabilidade do réu, ou seja, a 
decisão pela qual declara o juiz a realidade do crime e a sua suposição sobre quem seja o 
autor. 
 
Já Pereira (2001, p. 95) é mais objetivo ao definir o que é pronúncia: “a pronúncia, 
nada mais é do que a determinação do Juiz no sentido de que o denunciado seja submetido a 
julgamento pelo tribunal do júri”. 
 
Sendo assim, a pronúncia é a decisão que reconhece a admissibilidade da acusação 
feita pelo representante do Ministério Público, determinando em razão disto, o julgamento do 
réu em plenário do tribunal do júri diante do conselho de sentença. 
 
2.2.1 Presunção de inocência 
 
Segundo dispõe o art. 5º, LVII, da Constituição Federal, nenhuma pessoa poderá ser 
considerada culpada até transito em julgado de sentença condenatória. A presunção de 
inocência é, assim, uma das mais importantes garantias constitucionais. Nesse sentido 
Tolentino (2002, p. 04) ensina que: 
 
29 
 
(...) através dela, o acusado deixa de ser um mero objeto do processo, passando a ser 
sujeito de direitos dentro da relação processual. 
Trata-se de uma prerrogativa conferida constitucionalmente ao acusado de não ser 
tido como culpado até que a sentença penal condenatória transite em julgado, 
evitando, assim, qualquer consequência que a lei prevê como sanção punitiva antes 
da decisão final. 
 
Segundo este autor, a presunção de inocência dá espaço a outros princípios 
fundamentais ao processo, como a ampla defesa, o duplo grau de jurisdição, direito de o réu 
recorrer em liberdade, direito à prova, entre outros, todos dispostos no artigo 5º da 
constituição federal. 
 
O duplo grau de jurisdição dá ensejo de as partes recorrerem da sentença em instância 
superior, possibilitando o controle judicial e a uniformização das decisões de primeiro grau, 
por parte dos magistrados. 
 
Outro fruto da presunção de inocência é o direito à prova. Nada mais óbvio que a 
acusação ter que provar o fato que imputa o réu, pois seu statu quo é a ausência de 
culpabilidade. O direito brasileiro, não admite as provas ilícitas, a não ser em beneficio do 
réu, apesar, dessa não ser uma posição pacífica da jurisprudência. Convém ao legislador e aos 
estudiosos cuidados para, na busca de mecanismos hábeis no combate à criminalidade, não se 
autorizar uma verdadeira devassa na vida íntima da pessoa (TOLENTINO, 2002, p. 04). 
 
O princípio da presunção de inocência, não exclui a possibilidade de ser efetuada a 
prisão antes da sentença transitada em julgado. O magistrado, porém ao determinar o 
encarceramento do acusado, a deve fazer, mediante decisão fundamentada que demonstre a 
existência dos pressupostos dos art. 312 e 313 do CPP. 
 
2.2.2 Requisitos para a pronúncia 
 
Pelo que dispõe o art. 413 do CPP, ao pronunciar o réu, o juiz o deve fazer de maneira 
fundamentada e, desde que convencido da materialidade do fato e existência de indícios 
suficientes de autoria ou de participação. 
 
A esse respeito, Fernando da Costa Tourinho Filho (2001, p. 576-577) afirma: 
 
30 
 
Se o Juiz, todavia, se convencer da existência do crime e indícios de que o réu seja 
seu autor, proferirá sentença de pronúncia. Não se trata de sentença de mérito, pois, 
mesmo reconhecendo seja o réu o autor do crime, não aplica nenhuma sanctio juris. 
A sentença aí tem, por evidente, caráter nitidamente processual. Por meio dela se 
encerra a primeira etapa do procedimento escalonado do processo da competência 
do júri. (...) Com a pronúncia, o juiz julga, apenas, admissível o jus accusationis. 
Tratando-se, como se trata, de sentença de natureza processual, não há falar-se em 
res judicata, e sim em preclusão pro judicato, ou consumativa, podendo o Tribunal 
do Júri decidir contra aquilo que ficou assentado na pronúncia. 
 
Segundo Rangel (2012, p. 805-806) os requisitos para pronúncia são dois: 
“materialidade do fato e indícios suficientes de autoria oude participação (art. 413, CPP, com 
redação dada pela Lei nº 11.689/2008)”. 
 
Assim sendo, ao findar a instrução do processo relativo ao tribunal do júri, o juiz se 
convencido da admissibilidade da acusação deverá pronunciar o réu remetendo o caso para a 
apreciação do tribunal popular. 
 
2.2.3 Conteúdo da pronúncia 
 
Convém ao juiz, em se tratando de sua fundamentação, evitar qualquer manifestação 
que implique em crítica ou censura dos denunciados, não sendo isto necessário para 
demonstração do fato ou de sua autoria. Também cabe ao magistrado abster-se de adjetivos 
que possam determinar a sua vocação condenatória ou absolutória em relação à conduta 
descrita do pronunciado. 
 
Como assegura Tucci (1999, p. 119), a função do magistrado: 
 
É de evitar que alguém que não mereça ser condenado possa sê-lo em virtude do 
julgamento soberano, em decisão, quiça, de vingança pessoal ou social. Ou seja, 
cabe ao juiz na fase da pronuncia excluir do julgamento popular aquele que não deva 
sofrer a repressão penal. 
 
Nucci (2012, p. 804) considera importante salientar que na fundamentação da sentença 
de pronúncia, o juiz deve ter prudência, evitando a sua própria manifestação quanto ao mérito. 
 
Importante lembrar, que na pronúncia, o juiz deve ainda, mencionar o dispositivo legal 
em cuja sanção julgar incurso o réu, bem como deve constar, também, os elementos do tipo e 
as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena. 
31 
 
 
O juiz mencionará, ainda, se o crime foi consumado ou tentado. Não caberá a menção 
das causas de diminuição de pena, bem como das circunstâncias agravantes e atenuantes e 
ainda não poderá, o juiz, fazer referência ao concurso de crimes, como bem dispõe o art. 413 
do CPP. 
 
2.3 Do Julgamento em plenário 
 
O Judicium Causae é a segunda e última fase do rito, englobando da preparação do 
processo para o julgamento em plenário propriamente dito. 
 
2.3.1 Formação do conselho de sentença 
 
Preconiza o artigo 447 do CPP em sua segunda parte, que o conselho de sentença será 
formado por 07 (sete) dentre 25 (vinte e cinco) jurados, os quais devidamente alistados 
constituirão o referido conselho. 
 
Segundo Nucci (2012, p. 853) ao analisar o art. 468 do CPP existem no ordenamento 
as chamadas recusas motivadas e imotivadas: 
 
Para a formação do conselho de sentença, essas são as duas possibilidades de recusa 
do jurado. A recusa motivada baseia-se em circunstancia legais de impedimento ou 
suspeição (art. 448 e 449 do CPP). logo, não pode ser jurado, por exemplo, aquele 
que for filho do réu, nem tampouco o seu inimigo capital. A recusa imotivada - 
também chamada de peremptória – fundamenta-se em sentimentos de ordem pessoal 
do réu, de seu defensor ou do órgão da acusação. Na constituição do conselho de 
sentença, cada parte pode recusar até três jurados sem dar qualquer justificação para 
o ato. Como regra, assim se procede por acreditar que determinado jurado pode 
julgar de forma equivocada, permitindo emergir seus preconceitos e sua visão 
pessoal a respeito dos fatos. 
 
Por fim após verificado que se encontram depositados na urna as cédulas relativas aos 
jurados, o juiz presidente sorteará sete para que formem o Conselho de Sentença nos termos 
do art. 467 do CPP. 
 
 
 
32 
 
2.3.2 Da votação dos quesitos 
 
Findados os debates, após o oferecimento da réplica e tréplica, nos casos em que 
houverem, o juiz presidente do tribunal do júri fará a redação dos quesitos. Tal procedimento 
com o advento da nova lei tornou-se simples, objetivo e claro. 
 
O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato que serão indagados. 
Tal preceito encontra-se preconizado no art. 482, do CPP, vejamos: 
 
O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve 
ser absolvido. 
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e 
distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e 
necessária precisão. Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da 
pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do 
interrogatório e das alegações das partes. 
 
Ainda sobre o tema, o artigo 483, do CPP, traz que os mesmos (quesitos) deverão ter 
uma sequência determinada pela lei, a qual: 
 
Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: 
I – a materialidade do fato; 
II – a autoria ou participação; 
III – se o acusado deve ser 
absolvido; 
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; 
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas 
na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. 
 
 Finda a análise concernente as peculiaridades que dizem respeito ao rito do 
procedimento no tribunal do júri, passa-se a discussão se este pode ou não, ter suas decisões 
proferidas pelo corpo de jurados influenciadas através da mídia pela maneira que a mesma 
aborda os crimes de grande repercussão nacional. 
 
 
 
 
 
 
33 
 
3 MÍDIA E SUA INFLUÊNCIA NAS DECISÕES PROFERIDAS PELO CONSELHO 
DE SENTENÇA 
 
Após ênfase no que diz respeito a origem do tribunal do júri bem como todo o roteiro 
que o envolve, impronúncia, pronúncia e suas peculiaridades, passa-se a analisar a facilidade 
de os jurados influenciarem seus julgamentos por emoções e concepções subjetivas 
exteriorizadas através da influência dos meios de comunicação. 
 
3.1 Aspectos gerais dos meios de comunicação em massa 
 
Mídia, em português segundo o Dicionário Aurélio (2008, p. 337) significa: 
“designação genérica dos meios, veículos e canais de comunicação, como por exemplo, 
jornal, revista, rádio, televisão, outdoor, etc”. 
 
Finda a II Guerra Mundial em 1948, durante a Assembléia Geral das Nações Unidas, 
representantes da maioria das nações mundiais, ratificaram a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem, em que se assegurou, em seu artigo 19, a liberdade de expressão a todo 
homem. 
 
Art. 19 - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito 
inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e 
transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de 
fronteiras. 
 
No Brasil, a primeira Lei de Imprensa surgiu em 20 de setembro de 1830, sendo 
substituída pela segunda Lei de Imprensa, através do decreto nº 24776 de 14 de julho de 1934, 
baixado por Getúlio Vargas, o qual atentou contra a liberdade da imprensa veicular notícias. 
 
Tal situação de censura perdurou até 1945, quando, findada a ditadura, voltou a ter 
vigência a primeira Lei de Imprensa, que, por sua vez, somente sofreu revogação em 12 de 
dezembro de 1953, com a promulgação da Lei Nº 2083. 
 
Em 1967, no dia 9 de fevereiro a Lei nº 2083 foi revogada pela conhecida Lei nº 5250, 
a qual, no dia 30 de abril de 2009, foi considerada inconstitucional por quatro votos a três no 
Supremo Tribunal Federal, em razão de cercear a liberdade de expressão. 
34 
 
Assim, o Brasil, como inúmeros países desenvolvidos, atualmente não dispõe de uma 
lei específica que apresente freios à atividade de informar, se sujeitando os veículos de 
comunicação à aplicação substituta do Código Civil e do Código Penal Brasileiro. 
 
A liberdade de pensamento, assegurada no artigo 5º, incisos IV, VI e IX da 
Constituição Federal consiste, segundo Gilberto Haddad Jabur (2000, p. 45) na “atividade 
intelectual através da qual o homem exerce uma faculdade de espírito, que lhe permite 
conceder, raciocinar ou interferircom o objeto eventual, exteriorizando suas conclusões 
mediante uma ação”. 
 
De tal liberdade deriva a chamada liberdade de informação a qual se determina pelo 
direito que tem a pessoa de informar, comunicar, isto é de exteriorizar sua conclusão, bem 
como o direito da pessoa ser informada, correspondendo, assim, a um direito coletivo à 
informação. 
 
Neste contexto, consubstanciada na liberdade de pensamento, na liberdade de informar 
e liberdade de ser informado, surge à conhecida liberdade de imprensa, conceituada como o 
direito de imprimir palavras, desenhos ou fotografias em que se expressa o que se pensa e se 
fornecem informações ao público acerca de fatos ou atividades próprias ou alheias. (JABUR, 
2000, p. 61) 
 
Tal conceito perdeu parcialmente o sentido estrito, vez que a liberdade de imprensa, 
com a globalização, hoje é exercida por qualquer outro meio jornalístico, tal como a televisão, 
a informática e o rádio, os quais não necessitam, necessariamente, da impressão de palavra, 
desenhos ou fotografias para expressarem informações à coletividade. 
 
Tem como função e responsabilidade a liberdade de imprensa, além da dita 
informação, segundo aponta William Rivers e Wilbur Scharamm (2002, p. 27) que: 
 
[...] a denominada formação do cidadão, garantindo-lhe a liberdade de imprensa o 
desenvolvimento da personalidade deste, pois, um indivíduo isolado das notícias, 
acontecimentos históricos e informações sobre o mundo é incapaz de desenvolver 
sua personalidade e cidadania no mundo moderno. 
 
Ainda segundo mesmo autor: 
35 
 
 
Com a evolução que experimentou ao longo do nosso século, a comunicação social 
estabeleceu, com o comportamento humano, vínculo de incrível intimidade. Tanto é 
assim que devemos admitir que: ‘ Todos nós dependemos dos produtos da 
comunicação de massa para a grande maioria das informações e diversão que 
recebemos em nossa vida. É particularmente evidente que o que sabemos sobre 
números e assuntos de interesse público depende enormemente do que nos dizem os 
veículos de comunicação. Somos sempre influenciados pelo jornalismo e incapazes 
de evitar esse fenômeno. Os dias são muito curtos e o mundo é muito enorme e 
muito complexo para podermos cientificar-nos de tudo o que se passa nos meandros 
do governo. O que pensamos saber, na realidade, não sabemos, no sentido de que 
saber representa experiência e observação. ’ Cada vez mais concordamos que, nos 
dias presentes, aquilo que não penetrou e foi divulgado pelo sistema de notícias é 
como se realmente não tivesse acontecido. (RIVERS; SCHARAMN, 2002, p.57-58). 
 
Explicitado o mister da tutela jurídica dos direitos e liberdades expostos, visando à 
garantia da efetividade constitucional, se depara com um aparente conflito entre o dever de 
informação sustentado pelas Liberdades da Imprensa e o direito de ter salvaguarda sua vida 
privada, honra, imagem, intimidade, enfim o direito de estar só, garantido em nome da 
dignidade da pessoa humana. 
 
Encontra-se incidido tal conflito aparente de direitos constitucionais, quando se 
verifica que o excesso de informações se torna um abuso, expondo de forma indevida a 
imagem de um indivíduo, ou, ainda, criando fatos distorcidos que estariam sendo apurados 
pelo Processo Penal. 
 
Nesse sentido, Cícero Henrique Luís Arantes da Silva (2002, p. 5): 
 
Com efeito, a notícia sobre o crime fascina a humanidade desde os primórdios. 
Trata-se de um fascínio sobre o que motiva o crime e principalmente sobre a pessoa 
do criminoso, diferenciando-o do homem de bem. 
 
A imprensa, assim, se utiliza de suas liberdades e, em nome do direito de informar e 
formar opiniões, legítima sua atuação, se utilizando de um sentimento punitivo que possuem 
as pessoas pelo direito penal, à curiosidade pública que se converte em comoção popular, que 
por sua vez, transforma-se em opinião pública, a qual exige das autoridades a punição dos 
suspeitos, já pré-julgados, de forma severa e sem o devido processo legal. 
 
Ranulfo de Melo Freire (2004, p.4-5), de maneira bem sintética tem opinião parecida 
sobre o tema: 
 
36 
 
Não rara é a constatação destes abusos, basta que apenas se ligue a televisão, se abra 
um jornal ou se acesse um sítio na rede mundial de computadores para se deparar 
com os meios de comunicação noticiando estardalhaços criminais em busca da 
predileção mediática, trazendo, em sua grande maioria, notícias que causam grande 
comoção social e, ocasionalmente, grande audiência e edições de revistas e jornais 
vendidos de forma imediata. 
 
Felizmente, ao menos para a dona da notícia, a audiência dos programas televisivos 
dispara, os jornais e revistas não ousam trazer outra matéria em sua capa que não a violência 
em discurso, e assim “ganha-se dinheiro e a sociedade resta aparentemente satisfeita diante de 
mais um caso de atuação irresponsável da imprensa perante o direito penal”. (RANULFO, 
2004, p. 5). 
 
Vê, então, o suspeito, sua imagem, reputação, honra e vida privada devastadas em 
nome do direito à informação, configurando o aparente conflito que Sérgio Cavalleri Filho 
(2007) em seus ensinamentos, defende que “pode ser resolvido através da colocação do 
princípio da proporcionalidade, no qual a liberdade de informação deveria ser preservada, 
contudo, limitada ao direito da pessoa ter sua dignidade respeitada”. 
 
A luz desses princípios é forçoso concluir que, sempre que direitos constitucionais são 
colocados em confronto, um condiciona o outro, atuando como limites estabelecidos pela 
própria lei maior para impedir excessos e arbítrios. Assim, se ao direito à livre expressão da 
atividade intelectual e de comunicação contrapõe-se o direito à inviolabilidade da vida 
provada, da honra e da imagem, segue-se como consequência lógica que este último 
condiciona o exercício do primeiro. 
 
Os nossos melhores constitucionalistas, baseados na jurisprudência da Suprema Corte 
Alemã, indicam o princípio da proporcionalidade como sendo o meio mais adequado para se 
solucionarem eventuais conflitos entra a liberdade de comunicação e os direitos da 
personalidade. Ensinam que, “embora não se deva atribuir primazia absoluta a uma ou a outro 
princípio ou direito, no processo de ponderação desenvolvido para a solução do conflito o 
direito de noticiar há de ceder espaço sempre que o seu exercício importar sacrifício da 
intimidade, da honra e da imagem das pessoas”. (BASTOS, 1999, p. 103). 
 
Em conclusão, podemos usar os dizeres de Cézar Cavaleri Filho (2007, p. 104-105), 
segundo o qual “os direitos individuais, conquanto previstos na constituição, não podem ser 
37 
 
considerados ilimitados e absolutos, em face da natural restrição resultante do princípio da 
convivência das liberdades, pelo que não se permite alheias”. 
 
Fala-se, hoje, não mais em direitos individuais, mas em direitos do homem inserido na 
sociedade, de tal modo que não é mais exclusivamente com relação ao indivíduo, mas com 
enfoque de sua inserção na sociedade, que se justificam, no Estado Social de Direito, tanto os 
direitos como as limitações. 
 
3.2 A mídia e sua influência perante o tribunal do júri 
 
Diante do que já foi exposto, é possível verificar que a mídia e sua influência se insere 
de duas maneiras diante do sistema do tribunal do júri: de modo indireto em um primeiro 
momento, através do chamado marketing do terror e, em segundo lugar, de modo direto, 
através da formação da opinião pública pré-concebida a respeito dos personagens do delito 
doloso perpetrado contra a vida. 
 
Cabe, porém, primeiramente explicar que Marketing do Terror trata-se de uma 
expressão utilizada por FranciscoPaulo de Melo Neto (2002, p 83-84) para sistematizar a 
divulgação pelos veículos de comunicação das barbáries terroristas após os ataques de 11 de 
setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, que em linhas gerais significa: 
 
Em linhas gerais, sustenta o mencionado autor que terroristas se utilizam dos 
veículos de comunicação para introduzir no imaginário e consciência das pessoas, 
imagens de medo e pavor, produzindo, deste modo, ansiedade e insegurança. Relata 
ainda que tal processo se inicia com a revolta, passando pela surpresa, a 
consternação, pelo medo e por fim, pelo pânico e desejo de vingança. 
 
Ainda para referido autor afirma ser a mídia a grande aliada do terrorismo: 
 
O terror, com seus atos espetaculares, busca fascinar as pessoas com seus cenários 
fabricados de tragédia. Seus estrategistas conhecem muito bem o fascínio que 
exercem os episódios trágicos na mente das pessoas. Com isso, tem como certa a 
ampla cobertura dos atentados porque estes são a certeza de uma elevada audiência 
nos meios de comunicação. Ao assim procederem, os estrategistas de terror utilizam 
a mídia como seu principal aliado na difusão de suas ações. (MELO NETO, 2002, p. 
107). 
 
De forma análoga, dita expressão é perfeitamente cabível ao expressar a publicidade 
da violência em si, uma vez que o público diariamente é bombardeado por notícias de 
38 
 
programas pseudo informativos que se sustentam em retratar as mais variadas ações 
criminosas, vendendo a ideia de que todos e em qualquer lugar que se encontrem estão em 
perigo. 
 
Semelhantemente, Victor Gomez Martin (2006, p. 23), ressalta que: 
 
[...] a imprensa é responsável por elevar a dimensão das desgraças e da violência, 
haja vista que ao informar dramatizando notícias negativas, a todo tempo faz com 
que o destinatário tenha a impressão de que estas ocorrem com mais frequência que 
antes, visto que anteriormente somente tinha notícias este destinatário. O Marketing 
do Terror provoca a convivência com a iminência de riscos superiores à existência 
objetiva destes. Tudo isto causa a vulnerabilidade e se traduz uma pretensão social 
em se obter uma resposta através do Estado e do Direito Penal. 
 
Não obstante o frenesi da mídia pela divulgação de um “furo” de imprensa, sem a 
possibilidade de qualquer controle de qualidade e veracidade da notícia, o caso toma maiores 
proporções quando o “furo” é relacionado a um crime bárbaro, que comove a sociedade e 
causa grande reprovação popular. 
 
Neste ínterim, todos os jornais, canais televisivos e revistas somente trazem uma 
noticia, criam-se hipóteses, fazem reconstruções e mostram por inúmeras vezes, a possível 
causa da morte de diversos crimes, incluindo elementos, fotos e circunstancias nem sempre 
condizentes com a verdade. A notícia é anunciada para tudo e todos e, a imprensa por sua vez 
a informa, transforma e deforma como bem quer, em muitos casos, cometendo gravíssimas 
injustiças através de já elaboradas sentenças de condenação que pesam perante a opinião 
pública. 
 
A cada novo caso policial ou judiciário, que tem em seu bojo os elementos básicos do 
sensacionalismo, a história se repete. Instala-se o que os autores americanos chamam de 
“frenesi da mídia”. Os órgãos de divulgação entram em histeria, em processo de concorrência 
feroz pelo “furo”, o que impossibilita qualquer controle de qualidade da veracidade das 
informações, em verdadeiro vale-tudo pela primazia da publicação de informação exclusiva, a 
qualquer preço. Passa-se a viver em clima de guerra, em que, como há tanto tempo já se sabe, 
a primeira vítima é a verdade. TUCCI (1999, p. 113). 
 
Ainda segundo mesmo autor: 
 
39 
 
Indubitável é que a pressão da mídia produz efeitos perante o juiz togado, o qual se 
sente pressionado pela ordem pública, por outro lado, de maior amplitude é este 
efeito sobre o júri popular que possui estreita relação com a opinião pública 
construída pela campanha midiática, é obvio, pois, que isto faz com que a 
independência do julgador se dissipe não podendo este realizar um julgamento livre 
por estar diante de uma verdadeira coação. “Levar um réu a julgamento no auge deu 
ma campanha de mídia é levá-lo a um linchamento, em que os ritos e fórmulas 
processuais são apenas a aparência da justiça, se encobrindo os mecanismos cruéis 
de uma execução sumária”. (TUCCI, 1999, p. 115). 
 
Salutar descrever o caso em que utilizou-se o juiz ao sentenciar a ação penal que 
envolvia o desabamento do edifício Palace II, na qual o ora Réu Sérgio Naya teve um pré 
julgamento pela mídia. Na sentença proferida em primeira instância, o magistrado inseriu um 
trecho em que desmascarava o sensacionalismo de uma emissora televisiva, vejamos: 
 
[...] quem folhear os diários e periódicos da época, ou pesquisar o noticiário 
transmitido pelo rádio e pela televisão, muitos deles anexados ao processo, 
perceberá que anteriormente, muito anteriormente, ao término do inquérito policial 
instaurou-se no País, principalmente no Rio de Janeiro, um autêntico trial by media. 
As supostas causas do desabamento eram francamente listadas e repetidas antes 
mesmo da conclusão dos exames periciais. Os culpados pela tragédia, 
antecipadamente mostrados e condenados pela mídia, eram submetidos à execração 
pública e expostos para linchamento pelos mais exaltados. Argamassa era exibida na 
televisão como se fosse concreto, reboco era esfarinhado entre os dedos em meio a 
gritos de que tinha sido utilizado como concreto, impurezas encontradas na massa 
eram apresentadas como causa da ruína do edifício.[...] 
A divulgação do laudo foi falseada e distorcida. O Jornal Nacional, principal 
informativo da televisão, noticiou, de forma desleal – mais com seus espectadores 
do que com os envolvidos – as conclusões da prova técnica, fazendo crer que o 
laudo existia o que ali não se continha, que os peritos tinham concluído de uma 
forma quando na realidade suas conclusões eram outras. (sentença proferida nos 
autos da Ação Penal nº 98001.184167-8, da33ª Vara Criminal do Rio de Janeiro p. 
61/62). 
 
Verifica-se assim, que o Magistrado teve a capacidade de se desvencilhar da indução 
popular, não aceitando os argumentos produzidos pelos meios de comunicação, de modo a 
não se importar se poderia ser ou não considerado desonesto pela mídia. Ao contrário disto, 
não poderia esperar comportamento semelhante se tal caso fosse de competência do júri 
popular. 
 
Fernando Luiz Ximenes Rocha (2003, p. 2-3) em sua obra “Mídia, processo penal e 
dignidade humana” enfatiza: 
 
O poder da imprensa é arbitrário e seus danos irreparáveis. O desmentido nunca tem 
a força do mentido. Na Justiça, há pelo menos um código para dizer o que é crime; 
na imprensa não há norma nem para estabelecer o que é notícia, quanto mais ética. 
Mas a diferença é que no julgamento da imprensa as pessoas são culpadas até a 
prova em contrário. 
40 
 
Tem sido comum os meios de comunicação condenarem antecipadamente seres 
humanos, num verdadeiro linchamento, em total afronta aos princípios 
constitucionais da presunção de inocência, do devido processo legal, do 
contraditório e da ampla defesa, quando não lhes invadem, sem qualquer escrúpulo, 
a privacidade, ofendendo-lhes aos sagrados direitos à intimidade, à imagem e a 
honra, assegurados constitucionalmente. Aliás, essa prática odiosa tem ido muito 
além, pois é corriqueiro presenciarmos, ainda na fase da investigação criminal, 
quando sequer existe um processo penal instaurado, meros suspeitos a toda sorte de 
humilhação pelos órgãos de imprensa, notadamente nos programas sensacionalistas 
da televisão, violando escancaradamente, como registra

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