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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA SUINOCULTURA MANEJO REPRODUTIVO Prof. PD Charles Kiefer Campo Grande - MS 2005 Prof. PD Charles Kiefer 2 Introdução A suinocultura vem, ao longo dos tempos, desenvolvendo-se e buscando um mercado cada vez mais especializado. Isto ocorre devido à grande demanda de carne suína, que por ser a mais consumida no mundo, tem um papel fundamental no crescimento acelerado da população mundial. Hoje, o mundo conta com uma população de mais de 6 bilhões de pessoas, podendo dobrar nos próximos 100 anos. Para atender à crescente necessidade da população mundial no que se refere à proteína animal de alta qualidade, a suinocultura é uma das principais atividades a ser considerada. Segundo ROPPA (2003) desde 1977 a produção mundial cresceu à razão de 2,07% ao ano. Nesta época, a produção era de 42,9 milhões de toneladas de carne suína, já em 1987 era de 62,3 milhões de toneladas e em 2003 a produção atingiu a marca de 95,8 milhões de toneladas. O Brasil tem o 3° maior rebanho de matrizes do mundo com 3,03 milhões de cabeças, sendo o 5° maior produtor mundial, produzindo 2,69 milhões de toneladas em 2003, perfazendo 2,80% da produção mundial. Nestes últimos 13 anos, a produção brasileira cresceu 158%, enquanto que a produção mundial cresceu apenas 37,1%. Por ser um grande produtor de milho e soja, insumos básicos, e por dispor de áreas para o crescimento do plantio e da implantação de novos projetos, o Brasil tem fortes condições para se manter como um grande produtor mundial e para aumentar a sua participação no mercado mundial. Contudo, é necessário que aprimoremos cada vez mais as técnicas de manejo e de nutrição, uma vez que podem afetar negativamente o desempenho reprodutivo da matriz. Um dos principais objetivos da suinocultura tecnificada é produzir sempre o maior número possível de cevados, na qualidade desejada e através dos meios mais eficientes. Durante as últimas três décadas, ocorreu um considerável aumento na produtividade da matriz obtida a partir de programas de melhoramento genético (devido à eficiência de seleção genética), ao mesmo tempo em que essa mesma matriz passou a iniciar sua vida reprodutiva cada vez mais jovem. Entretanto, a produtividade máxima de uma matriz somente é alcançada no momento em que todos os elementos de manejo forem adequadamente atendidos. Tem-se constatado, por exemplo, que um dos aspectos que mais restringem a produtividade da matriz geneticamente melhorada é o manejo inadequado que é dispensado às marrãs. Por isso, torna-se cada vez mais necessária à adoção de programas adequados de manejo para maximizar a utilização de seu alto potencial genético. A preparação da marrã geneticamente melhorada é um passo decisivo para a definição da sua produtividade quando adulta e durante toda a sua vida útil. Neste curso serão abordados os principais aspectos relacionados ao correto manejo alimentar e reprodutivo de marrãs e matrizes geneticamente melhoradas para a obtenção da máxima expressão do vigor genético desses animais e para obtenção de maiores índices de produtividade em todo o sistema de produção. A importância da reprodução O fator de maior impacto na produção de suínos é o fluxo de coberturas/parições. Matrizes vazias, improdutivas, com instalações ociosas Prof. PD Charles Kiefer 3 reduzem o número de leitões/matriz/ano e afetam direta e negativamente o sistema de produção. Na Tabela 1 podemos verificar uma simulação simples de como o número de leitões/matriz/ano pode afetar a lucratividade na suinocultura. TABELA 1: Fatores que influenciam a lucratividade de uma granja de suínos Parâmetros Leitões/matriz/ano 22 20 Custo médio da ração (R$) 0,27 0,27 Conversão alimentar do rebanho 2,80:1 2,80:1 Custo do alimento (%) 70 70 Outros custos (%) 30 30 Custo do terminado (R$) 104 104 Despesa total (R$) 2288 2288 Valor recebido/kg (R$) 1,35 1,35 Kg de carne vendida/ano 2200 2000 Receita total/matriz (R$) 2970 2700 Resultado (R$) 682 412 Os pilares da produção de suínos A genética; a sanidade/biossegurança; instalações/manejo/ambiência e a nutrição formam a base da produção de suínos. Embora a genética e a sanidade não sejam temas deste curso, vale fazer uma pequena inferência com relação a estes fatores demonstrando sua importância na produção como um todo. Genética Com a evolução genética das fêmeas nos últimos 30 anos (Tabela 2) a produção e o manejo alimentar das marrãs tem chamado a atenção tanto para se obter o maior desempenho possível em número de terminados porca/ano, como também buscar a redução dos níveis de reposição que em algumas situações chegam a ser superior a 50%. Como resultado observamos que as fêmeas atuais são muito sensíveis a erros de manejo. E esse quadro é o causador das altas taxas de descarte e queda do desempenho reprodutivo do rebanho. TABELA 2: Mudanças na performance das porcas durante os últimos 30 anos 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 Partos/porca/ano 1,9 2,0 2,18 2,25 2,23 2,25 2,35 Nativivos/leitegada 10,3 10,4 10,3 10,4 10,7 10,8 11,0 Suínos/porca/ano 16,3 17,5 19,8 20,9 21,1 21,6 22,0 Taxa de reposição - 33,9 35,9 38,1 40,0 42,6 42,0 P2 100 kg - 22,0 19,0 14,5 13,0 11,5 11,0 CA rebanho 3,8 3,4 2,9 2,8 2,7 2,6 2,58 Fonte: Adaptado de Close e Cole (2000) Prof. PD Charles Kiefer 4 Sanidade/biossegurança Os impactos negativos da sanidade e biossegurança sobre a produção são bem conhecidos, porém só recentemente é que se tem procurado quantificá-los. Sauber & Sthaly (1996) desafiaram matrizes no 2° e 10° dia de lactação com injeções de LPS (lipopolissacarídio), componente da parede celular de algumas bactérias gram-negativas que injetados no corpo do animal geram resposta imunológica semelhante àquela causada por infecções bacterianas ou virais, isto é geram anticorpos. Compararam o desempenho de matrizes injetadas com LPS (alta estimulação) e não injetadas (baixa estimulação) em lactações de 18 dias. Ambos os grupos de matrizes tiveram suas leitegadas equalizadas em 13 leitões e verificaram que as matrizes que sofreram estimulação crônica apresentaram maior perda de gordura corporal (-25,0%) e menor consumo de ração (-10,0%); tiveram também menor ganho de peso das leitegadas (-12,7%) e produziram menos leite (-13,0%). O mesmo aconteceu para os parâmetros de produção total de energia (-12,0%) e proteína do leite (-10,5%), conforme Tabela 3. Os autores concluíram que a estimulação crônica do sistema imune das matrizes prejudicou o desempenho na lactação e que estratégias para reduzir os desafios imunológicos devem ser adotadas para que as matrizes expressem todo seu potencial produtivo na lactação. Assim, as condições de boa sanidade devem ser mantidas com rigor para o melhor desempenho produtivo do plantel. TABELA 3: Desempenho lactacional de matrizes do 2º ao 18º dia de lactação --------------- Status imunológico --------------- Item Baixa estimulação Alta estimulação P = Parâmetros da matriz Consumo, kg/dia 5,36 4,81 (-10,0%) 0,17 Perda de peso, kg/dia -0,73 -0,68 0,83 Perda de gordura, kg/dia -0,29 -0,37 (+25,0%) 0,14 Parâmetros da leitegada Desmamados 12,60 12,60 1,00 GP leitegada, kg/dia 2,60 2,27 (-12,7%) 0,01 Composição do Leite Energia, kcal/kg 259 262 0,23 Proteína, % 5,90 6,00 0,48 Gordura, % 6,30 6,70 0,16Produção de leite Leite/dia, kg/dia 11,50 10,00 (-13,0%) 0,01 Energia/dia, Mcal/dia 14,40 12,70 (-12,0%) 0,01 Proteína/dia, g/dia 683 612 (-10,5%) 0,01 Gordura/dia, g/dia 726 675 0,27 Fonte: Adaptado de Sauber & Sthaly (1996) Reposição de matrizes e reprodutores A reposição é uma prática necessária na criação de suínos à medida que se dispõem de outros animais geneticamente superiores ou que os animais do plantel Prof. PD Charles Kiefer 5 tenham atingido certa idade ou ainda que indiquem, pelo seu desempenho reprodutivo, que estão abaixo do esperado. As principais causas de descarte de matrizes são: morte, danos de aprumos (mecânicos), ausência de cio, falhas de concepção, dificuldades no parto, baixo número de leitões nascidos, tamanho excessivamente grande e velhas em demasia. A taxa de descarte de matrizes é de aproximadamente 30-40%, isto significa que aproximadamente 1/3 do plantel é composto por primíparas, e como a produtividade dessas fêmeas, principalmente em relação ao tamanho de leitegada, é inferior ao de pluríparas, o sucesso no manejo de reposição é fundamental para a viabilidade econômica. Portanto o período de introdução da fêmea no plantel até a primeira concepção deverá ser reduzido ao máximo sem, no entanto, alterar o desempenho reprodutivo posterior (Luna, 1993). Quanto aos reprodutores, o período de vida produtiva pode oscilar de 15 meses até 3 anos. Em média, os rebanhos necessitam uma taxa de reposição de 25 a 50% ao ano. A maioria dos machos são descartados por excesso de peso ou idade, problemas de aprumos e problemas reprodutivos (baixa libido). Devemos manter o plantel com maior número possível de machos para atender adequadamente as necessidades de coberturas, estimulação das fêmeas e diagnóstico de cio. Planejamento da reposição A reposição genética regular é, sem dúvida, um dos fatores mais interligados ao resultado reprodutivo da granja, pois é através dela que asseguramos a manutenção de uma alta frequência de matrizes nas fases de maior produtividade, ou seja, entre o 3° e o 7° parto. Ao chegar à granja a marrã de reposição deve ser bem manejada, pois à adoção de práticas corretas de manejo terá um impacto significativo no seu desempenho, durante toda a sua vida útil. Adaptar adequadamente a marrã ao rebanho é, portanto, fator vital para o sucesso das granjas tecnificadas. Recebimento e adaptação O principal objetivo desta fase é conseguir que todas as marrãs de reposição estejam totalmente adaptadas à granja, antes de atingirem o peso e à idade de cobertura adequados. A expressão do potencial genético da matriz acontecerá até o ponto em que a sanidade, a nutrição e a reprodução passem a ser limitantes. Estes fatores são extremamente críticos na fase de adaptação das marrãs à granja e podem determinar o sucesso ou fracasso reprodutivo das mesmas, por toda a vida útil. Pontos críticos para uma boa adaptação Isolamento Recomenda-se que as marrãs recém chegadas à granja sejam isoladas do resto do rebanho, por pelo menos 30 dias. Nesse período, elas devem ficar em instalação vazia e limpa (quarentenário), distante no mínimo 300 metros das outras instalações da granja. O quarentenário deve ser, ainda, muito bem isolado quanto ao fluxo de pessoas e de veículos que mantêm contato com a granja de destino. O quarentenário é uma ferramenta importantíssima para o suinocultor, pois previne com eficácia a entrada de doenças no rebanho, via animais de reposição. Prof. PD Charles Kiefer 6 Até o 3° dia da chegada das marrãs ao quarentenário, deve-se coletar sangue de 10% do total de animais. O soro coletado deve, então, ser guardado até o final da quarentena. No 30° dia após a chegada deverá ser feita nova coleta de sangue dos mesmos animais da primeira coleta. Daí os soros das duas coletas devem ser enviados para um laboratório, a fim de realizar-se pesquisa sorológica para as principais doenças de importância econômica, que não estejam presentes na granja. Caso seja diagnosticada a existência de alguma doença, os animais recebidos não devem ser introduzidos no plantel. Durante o isolamento, vários cuidados de biosseguridade devem ser tomados, tais como: O tratador, caso também trabalhe na granja, não deve entrar na mesma enquanto estiver cuidando dos animais do quarentenário, exceto após cumprir um período de vazio sanitário; Equipamentos e materiais do quarentenário não devem ser compartilhados com a granja; Veículos devem passar primeiro na granja e por último no quarentenário; O fluxo dos animais no quarentenário deve ser "todos dentro - todos fora"; Deve haver banho e troca de roupas para entrar no quarentenário. A roupa nele utilizada não pode ir para a granja, sem antes ser lavada. Adaptação Recomenda-se que as marrãs, ao serem introduzidas na granja, após o período de quarentena, passem por um período de adaptação de pelo menos 30 dias. Esta fase serve, principalmente, para que elas tenham um primeiro contato com os microorganismos da granja (bactérias, vírus etc), de forma controlada, para que produzam anticorpos, adquiram imunidade e não adoeçam. Animais da granja devem ser colocados em contato direto com as marrãs. Pode ser utilizado, por exemplo, porcas de descarte e também varrões, que irão inclusive auxiliar no estímulo ao cio. Nesta fase, também deve ser oferecido diariamente às marrãs placentas e leitões mumificados. Este fornecimento deve ser feito no período compreendido entre a primeira e a segunda dose da vacinação contra parvovirose. Não se recomenda este manejo nas granjas que não possuem um controle rigoroso das doenças do rebanho, uma vez que este tipo de manejo pode levar a contaminação das fêmeas de reposição. Alojamento O ideal é que as marrãs sejam alojadas em grupos pequenos, de até 10 por baia, para permitir um bom desenvolvimento corporal. Com isso, conseguimos minimizar os efeitos provocados pelos grandes agrupamentos e pela competitividade entre os animais de um mesmo grupo. É necessário que existam instalações suficientes para atender ao programa de reposição da granja. Recomenda-se uma área de 2,0 a 2,2 m2 por marrã. Medicação É recomendável que as marrãs recebam ração medicada (com antibióticos em doses sub-terapêutica) por pelo menos 15 dias após serem introduzidas na granja. Se alguma marrã adoecer deve receber medicação injetável (antibióticos, antiinflamatórios etc). Prof. PD Charles Kiefer 7 Preparação da marrã para a vida reprodutiva Manejo de indução do cio das marrãs A puberdade da fêmea suína é caracterizada pelo primeiro cio fértil, que poderá ocorrer entre 165 e 195 dias de idade, podendo ter variações devido a fatores ambientais, genótipo, nutrição, etc. É possível manipular alguns fatores para que a idade da fêmea por ocasião da primeira cobertura seja reduzida, possibilitando um aumento de sua vida útil e de seu número total de leitões, reduzindo consequentemente o seu custo (Hughes & Varley, 1980). É possível realizar mudanças no manejo e no ambiente, submetendo as fêmeas a uma série de estímulos. Os principais estímulos empregados são: o transporte da granja multiplicadora à granja de destino, associado ao novo ambiente e manejo faz com que 28% das leitoas, em torno de 150 dias de idade, apresentem cio dentro de uma semana; alojamento (leitoas alojadas em celas individuais retardam em até 35 dias a sua entrada em cio); a troca de alojamento, a mistura de lotes e a técnica que tem apresentado os melhores resultados, consiste no contato físico "focinho a focinho" com machos de boa libido, de acordo com a Figuras 1 e 2 (Broks & Cole, 1970; Hughes & Varley, 1980). FIGURA 1: Influência do contato do cachaço sobre a induçãoda puberdade. FIGURA 2: Percentual de leitoas que atingem a puberdade quando expostas ao cachaço com 165 e 190 dias de idade. De acordo com Wentz et al. (1990), leitoas com contato com o cachaço despendem menor número de dias para início da puberdade e um maior percentual apresenta cio até 20 dias após início de manejo (Tabela 4). Além disso, cachaços mais velhos (com libido melhor) estimulam mais as leitoas reduzindo a idade à puberdade, conforme Figura 3. TABELA 4: Efeito da utilização do cachaço na indução da puberdade em leitoas* Manejo Intervalo entre 1º contato e puberdade (dias) Surgimento da puberdade (dias) Sem contato com macho 39 203 Contato com macho de 6,5m 42 206 Contato com macho de 11m 18 182 Contato com macho de 24m 19 182 *164 dias de idade média das leitoas por ocasião do primeiro contato com o macho Fonte: Wentz et al. (1990) Prof. PD Charles Kiefer 8 FIGURA 3: Influência da exposição a machos de diferentes graus de libido sobre a idade das marrãs à puberdade Como fazer o manejo de indução a puberdade com o uso do cachaço: Passar um macho sexualmente maduro e de boa libido na baia das marrãs diariamente, por pelo menos 10 minutos; O macho utilizado não deve ficar alojado em local que permita contato constante com as marrãs, ou mesmo em local em que as marrãs sintam freqüentemente sua presença e seu cheiro. O ideal é que seja alojado em uma instalação separada, de onde virá apenas para executar o manejo de estímulo ao cio; Recomenda-se um macho (rufião) para cada grupo de 350 marrãs; O ideal é realizar um rodízio de machos, ou seja, não utilizar sempre o mesmo macho; Recomenda-se que as marrãs não tenham nenhum contato direto ou indireto com os machos antes dos 140 dias de idade; As marrãs devem ter idade mínima de 150 dias no momento da primeira exposição ao macho; Descartar machos de baixa libido (que não provocam as marrãs), independente da idade; Fazer reposição regular dos machos rufiões, para ter uma boa distribuição de idade; Reagrupar as marrãs quando elas entrarem em cio, para se ter baias de marrãs ciclando juntas, o que facilita a detecção de cio; Marrãs que não apresentam cio junto com as demais do grupo também devem ser reagrupadas para que depois recebam novos estímulos; Fazer ficha de cada baia com a identificação das marrãs e datas de cio e cobertura/inseminação; Se possível, alojar as marrãs em gaiolas logo após o cio anterior ao da cobertura, de modo que haja um melhor controle da alimentação e um menor estresse no período pós-cobertura. Ambiente Estresse e produtividade O desempenho de um animal (sua capacidade produtiva, reprodutiva e até mesmo de sobrevivência) está sempre relacionada aos diversos componentes ambientais. Por isso, devemos submeter às fêmeas a ambientes o menos Prof. PD Charles Kiefer 9 estressantes possíveis. O estresse pode reduzir a resistência a doenças, ativar o sistema imune e reduzir a produtividade da matriz. Deve-se dar atenção ao conforto das fêmeas, evitar situações indesejáveis como brigas, calor, frio, sede, fome, doenças, piso inadequado, instalações impróprias, ventilação insuficiente etc. A ventilação apropriada e a qualidade do ar são essenciais para um adequado conforto da fêmea suína dentro dos barracões de reposição, gestação e maternidade. Na Tabela 5 são apresentadas as recomendações de temperatura ambiente ideal. TABELA 5: Recomendações de temperatura ambiente (°C) Limite crítico Temperatura ideal Frio Calor Leitão/maternidade 30 a 34 27 36 Porca/maternidade 16 a 21 12 25 Gestação 18 a 25 10 27 Manejo alimentar das marrãs Na produção de suínos, muitos fatores contribuem para a eficiência zootécnica e econômica. Mas não há dúvida de que a nutrição e o manejo alimentar das marrãs tem enorme impacto no desempenho reprodutivo do plantel. A seleção genética vem produzindo marrãs com elevado ganho de peso, alto conteúdo de carne magra na carcaça, baixa espessura de toucinho, maior prolificidade e um baixo apetite. Este novo perfil genético passa a exigir um programa nutricional diferenciado, que atenda completamente estas características. É fato que as marrãs continuam crescendo durante grande parte da sua vida reprodutiva. Desse modo, precisam de dietas que atendam todas as suas exigências nutricionais, tanto para reprodução, como para crescimento. Quando a oferta diária de nutrientes é insuficiente, elas passam a utilizar as reservas dos tecidos corporais para suprir suas necessidades de manutenção, crescimento e produção, o que acarretará perda da condição física da marrã, tanto em carne (proteína) como gordura. Por isso é essencial que as fêmeas de reposição estejam em condição fisiológica adequada na primeira cobertura, para que possam ter uma alta produtividade e uma longa vida reprodutiva. Um manejo nutricional moderno requer um preciso monitoramento da condição corporal das fêmeas. Recomenda-se, como ideal, o uso de equipamento de ultra-sonografia para medir a espessura de toucinho na posição denominada P2 (6,5 cm afastado da linha dorso-lombar entre a última e a antepenúltima costela) e determinar o status corpóreo das fêmeas. O objetivo é conseguir uma reserva corporal adequada, através de ajustes na alimentação nas fases de gestação e lactação. O peso da leitoa à primeira cobertura é fator de grande influência no desempenho posterior da matriz. Ludke et al. (1998) recomendam que a alimentação durante a fase inicial até os 70kg deve ser à vontade. Após os 70kg de peso é comum introduzir um manejo alimentar que varia desde a alimentação à vontade até uma restrição de 85% do consumo aos 100kg. O manejo alimentar deve levar em consideração a genética, sendo que a restrição alimentar é recomendada para animais com alta deposição de gordura. A restrição alimentar, quando adotada, Prof. PD Charles Kiefer 10 pode iniciar aos 90kg e deve ser programada para que as fêmeas apresentem peso de 115 a 120kg aos 180–190 dias. Deve haver cuidado para que a restrição não seja muito severa. Já, nas granjas que possuem animais com alto potencial genético a restrição alimentar é desaconselhável, pois aos 110kg de peso as fêmeas ainda não terão atingido as reservas corporais necessárias para uma longevidade que permita um adequado retorno econômico (Close, 1995). A primeira cobertura da marrã A fase em que a leitoa é coberta pela primeira vez pode ter importantes implicações na sua vida reprodutiva. Economicamente, justifica-se que ela seja coberta o mais cedo possível, uma vez que se reduz seu período improdutivo no rebanho. Entretanto, a colocação precoce em reprodução exige condições de alimentação, de instalações e de manejo adequadas, tanto durante o período de crescimento como durante a primeira gestação. O número médio de óvulos liberados aumenta do primeiro para o terceiro cio, de tal forma que, realizando a primeira cobertura, por ocasião do terceiro cio, melhora-se a prolificidade da leitoa. Isto está relacionado com o manejo alimentar, pois ocorre quando se realiza a restrição alimentar, já em leitoas com alimentação à vontade o efeito de ovulação do primeiro para o terceiro cio desaparece, o que é explicado pelo peso corporal, pois as leitoas são maiores na puberdade e nesta condição podem ser cobertas no segundo cio sem afetar a vida útil e a eficiência reprodutiva (Institut Technique du Porc, 1993). Existem recomendações clássicas de que a 1ª cobertura deve ocorrer quando a marrã atingir 210 dias ou mais de idade, com 125-130kg de peso, com 20mm de espessura de toucinho no P2 e no 3° cio. Entretanto, essas recomendações têm grandes variações, devido, principalmenteas diferentes genéticas (Levis, 1999). De acordo com Foxcrof et al. (1996), deve-se realizar a 1ª cobertura por ocasião do 2° cio, com um peso ao redor de 125kg e 15mm ou mais de espessura de toucinho, sendo que as leitoas devem receber alimentação à vontade por pelo menos dez dias antes da cobertura. Silveira et al. (1998) observou que fêmeas cobertas com 193 e 232 dias de idade pariram 9,6 e 10,2 leitões vivos, respectivamente, e concluiu que é economicamente mais rentável cobrir a fêmea aos 193 dias de idade, uma vez que 0,6 leitão produzido a mais pelas fêmeas mais velhas não cobrem os gastos de manutenção por seis semanas. Freitas (1999), por sua vez avaliando diferentes idades a 1ª cobertura verificou que entre 211 e 220 dias as marrãs apresentavam o maior número de leitões nascidos vivos ao 1° parto e maior número médio entre o 1° e o 3° parto (Tabela 6). Em geral, quanto maior o número de cios que a marrã tiver até 180 dias de idade, maior será o número de leitões nascidos por parto durante sua vida útil (Figura 4). Além disso, as fêmeas que têm leitegada pequena no primeiro parto terão um número menor de leitões nascidos vivos nos partos subseqüentes (Figura 5). Pesquisas demonstram que as marrãs geneticamente melhoradas apresentam maior número de leitões nascidos por parto quando cobertas no 3° ou 4° cio, apresentando maior produtividade ao longo da vida útil (Figura 6), entretanto, seguindo-se os requisitos mínimos para a 1ª cobertura (Tabela 7). Prof. PD Charles Kiefer 11 TABELA 6: Relação entre idade a cobertura e número de leitões nascidos vivos no 1° parto e do 1° ao 3° parto em 8 granjas na Inglaterra Idade a cobertura N° de marrãs Nativivos (1° parto) Nativivos (1–3° parto) Abaixo 200 93 10,6 11,2 201 – 210 126 10,8 11,1 211 – 220 313 11,7 12,2 221 – 230 152 10,7 11,1 Acima 231 93 11,0 11,6 Fonte: Freitas (1999) FIGURA 4: Nascidos vivos x número de cios antes de 180 dias de idade FIGURA 5: Nascidos vivos por parto FIGURA 6: Produção média de leitões de acordo com o número de cios no momento da primeira cobertura Prof. PD Charles Kiefer 12 TABELA 7: Requisitos mínimos para marrãs à 1ª cobertura Cio 3° ou 4° Idade 210 a 230 dias Peso 130 a 150kg Espessura de toucinho (P2) 16 a 18 mm A espessura de toucinho tem-se mostrado importante sobre o tamanho da leitegada subseqüente. Trabalhos técnicos comprovam que existe alta correlação entre a espessura de toucinho no momento da cobertura e o índice de produtividade da fêmea suína (Figura 7). FIGURA 7: Espessura de toucinho na cobertura x tamanho da leitegada subsequente Se por um lado é defensável a argumentação de que a idade mais avançada da matriz a 1ª cobertura permitirá uma melhor adaptação ao ambiente, inclusive aos desafios sanitários, por outro lado essa matriz será mais pesada e terá uma exigência de manutenção maior que àquela coberta a uma idade mais precoce e com menor peso e ainda o produtor terá um custo de alimentação adicional. Some-se a isso o fato que matrizes pesadas tem risco aumentado de problemas do aparelho locomotor, importante causa de descartes de matrizes. Levando em consideração estes argumentos, a melhor decisão é comprar animais de reposição cuja genética oferece mais precocidade sexual a um menor peso, sem prejuízos à sua vida produtiva (Rozeboom, 1996). Diagnóstico do cio O ciclo estral (período de um cio ao próximo) em leitoas e porcas está em torno de 21 dias, podendo variar de 18-24 dias. O ciclo estral pode ser dividido em pró-estro, estro ou cio, metaestro e diestro. O momento para a realização da cobertura e/ou inseminação artificial está baseado nos sintomas de cio, tidos como melhores preditores para o momento da ovulação. Os sinais de cio mais comuns são: Orelhas levantadas; Perda de apetite; Reflexo de tolerância ao macho; Lombo arqueado; Tremores Olhar brilhante Descarga vulvar de muco branco; Vulva com coloração avermelhada e levemente inchada; Prof. PD Charles Kiefer 13 Resposta positiva ao teste de pressão. Como deve ser o manejo de detecção de cio: Fazer a detecção de cio duas vezes ao dia, com a presença de macho sexualmente maduro e de boa libido, a um intervalo ideal de 12 horas; O intervalo ideal entre os dois contatos é de 12 horas. Mas se algum fator impedir isto, é importante que o espaço de tempo entre os contatos seja de no mínimo 8 horas; O macho ideal deve ter pelo menos 10 meses de idade, boa libido e ser "sociável"; A exposição da fêmea ao macho deve ser intensa, para maximizar seus reflexos de tolerância ao reprodutor; O contato "focinho a focinho" é essencial para uma detecção de cio eficaz; É necessário fazer pressão com as mãos na parte dorsal da fêmea quando na presença do macho. Também convém massagear os flancos e a linha de tetas. Os sintomas mais comumente utilizados para a definição do momento ótimo de cobertura são o reflexo de imobilização frente ao cachaço e o reflexo de tolerância ao teste de monta feito pelo homem. Duração do cio O cio dura em média 2 a 3 dias, sendo que pode haver uma variação grande. Leitoas, por exemplo, apresentam uma duração média de 2 dias, sendo observadas leitoas com cio de 1 e 3 dias. Nas fêmeas mais velhas, a duração varia entre 2 a 3 dias. No entanto, pesquisadores relatam durações de cio que variam entre 16 horas a 5 dias (Figura 8). FIGURA 8: Variação da duração do cio em horas (Castagna et al., 2000) Diversos fatores são capazes de influenciar a duração do cio, entre eles podem ser citados a genética, a ordem de parto, a temperatura ambiente, o estresse crônico e o intervalo desmame-cio. Desses fatores, o intervalo desmame-cio e a ordem de parto são os fatores que mais influenciam sob ponto de vista prático e, mesmo assim, não sendo observada em todas as granjas. Estudos demonstram que as fêmeas que entram em cio até o quarto dia após o desmame tem duração de cio significativamente maior (±71 horas) quando comparadas àquelas com intervalo desmame-cio superior (49-58 horas). As porcas geralmente apresentam maior duração de cio em relação às marrãs. Prof. PD Charles Kiefer 14 Ovulação O rompimento dos folículos seguido da liberação dos óvulos (oócitos) é denominado ovulação. Os primeiros estudos da ovulação foram realizados através de cirurgias, onde os animais eram anestesiados e observados. Com o desenvolvimento da ultra-sonografia, uma técnica menos trabalhosa e mais precisa, a determinação do momento da ovulação pôde ser mais bem estudada. Pode-se afirmar que, geralmente, a ovulação ocorre no início do terço final do cio. Isto significa que, em uma fêmea cujo cio dura 3 dias, a ovulação provavelmente ocorre entre o fim do 2º e começo do 3º dia. Os estudos mais recentes demonstram que a ovulação pode acontecer entre 10 e 96 horas após o início do cio, sendo que a grande maioria, ocorre entre 36 e 48 horas (Figura 9). As leitoas, em média, ovulam após 30 horas do início do cio, enquanto que as porcas, entre 40 e 50 horas. Alguns autores relatam casos em que a ovulação ocorre após o final do cio. FIGURA 9: Variação do momento da ovulação em horas (Castagna et al., 2000) Diversos estudos foram realizados com o objetivo de encontrar fatores associados à ovulação e que pudessem ser utilizados para se prever o momento da ovulação no dia a dia das granjas. De todos os fatores estudados, a duração do cio mostrou ser o mais importante. No entanto, trata-se de uma medida retrospectiva, ou seja, só pode ser determinada após o final do cio, quando a ovulação já ocorreu e, portanto, não pode ser utilizado em termos práticos. Momentoideal para a realização da cobertura Durante as primeiras 10-12 horas de cio, o homem não consegue provocar o reflexo de tolerância pela pressão lombar, entretanto o macho consegue provocar o reflexo de imobilização. Transcorridas as 10-12 horas iniciais o homem consegue provocar o reflexo de tolerância sem a presença do macho por um período que varia de 12-24 horas. Finalmente, durante o transcorrer das últimas 10–12 horas do cio, somente o macho consegue provocar a imobilização (Figura 10). Muitas vezes a fêmea apresenta o reflexo de imobilização ao macho, mas não apresenta reflexo de tolerância ao homem. Apesar de estarem em cio aproximadamente 50-60% das nulíparas e 20-30% das multíparas não se imobilizam quando o homem realiza o teste de pressão lombar. Essas fêmeas necessitam do estímulo do macho (“boar priming”) 5-10 minutos antes da detecção do cio pelo homem sem a presença do macho. A máxima estimulação das fêmeas ocorre quando expostas a altas concentrações de feromônios presentes na saliva do macho, por isso é necessário o contato físico direto ao qual devem ser submetidas às leitoas aptas, fêmeas vazias e Prof. PD Charles Kiefer 15 fêmeas desmamadas que são alojadas no mesmo galpão onde permanecem os machos. A escolha do momento de cobertura é decisiva para obtenção de bons resultados. Em geral, recomenda-se que a primeira cobertura seja realizada 12 horas após o diagnóstico de cio para as fêmeas pluríparas e no momento do diagnóstico de cio para as marrãs (desde que apresente os requisitos mínimos para a cobertura, de acordo com o descrito anteriormente). FIGURA 10: Esquema de controle de cio e momento ótimo de cobertura Cobertura Monta natural Os principais cuidados no manejo da monta natural são: O macho deve ter tamanho semelhante ao da fêmea para não machucá-la; De preferência conduza a fêmea até a baia do macho; Deve-se auxiliar o macho no momento de introdução do pênis; Deve-se realizar duas a três montas por cio da fêmea; Às fêmeas devem ser conduzidas com calma, pois o estresse pode provocar perdas embrionárias. A frequência de monta utilizada varia de acordo com a idade do macho, sendo que para machos entre 7 e 9 meses deve ser em torno de 2 montas por semana, entre 9 e 12 meses deve ser entre 3 a 5 e para reprodutores com mais de 12 meses a frequência não deve ser superior a 6 montas semanais (Wentz et al., 1998). Inseminação artificial Ao realizar a inseminação artificial é necessário estimular a fêmea através da pressão lombar ou com o auxílio de um macho. No momento da inseminação deve- se limpar a seco a vulva com papel higiênico ou papel toalha, verificar o estado do sêmen (apresentando-se aglutinado deve ser misturado com a ponta do frasco virada para baixo mexendo levemente em círculos); após corta-se a ponta do adaptador do frasco; retira-se a pipeta do plástico; umedece-se a pipeta com algumas gotas de sêmen com objetivo de lubrificação; abre-se os lábios vulvares e introduz-se a pipeta levemente dirigida para cima e para frente (evita-se assim lesão no orifício uretral externo), com leves movimentos de rotação para esquerda até ser Prof. PD Charles Kiefer 16 fixada pela cérvix, adaptar o frasco à pipeta e introduzir o sêmen, promovendo leve pressão sobre o frasco, durante no mínimo 4 minutos para evitar o refluxo de sêmen (Bortolozzo & Wentz, 1995). Uma boa detecção de cio é o ponto chave para se ter sucesso na inseminação artificial. O esquema mais utilizado é o de três inseminações, sendo que para marrãs, a primeira inseminação deve ocorrer imediatamente após a detecção do cio e para porcas, deve ocorrer 12 horas após a detecção. Vantagens da inseminação artificial Menor número de machos destinados à reprodução (relação de 1 macho para 100-200 matrizes); Redução de custos de produção (o custo por fêmea fecundada na monta natural é de R$ 23,00, por sua vez na inseminação varia entre R$ 17,00 a 23,00, conforme o valor estimado dos machos); Ganho genético (qualidade de carcaça); Segurança sanitária; Maior higiene na cobertura; Eliminação de ejaculados impróprios; Qualificação dos funcionários. Limitações da inseminação artificial Necessidade de estrutura laboratorial; Necessidade de mão-de-obra qualificada; Vida útil do sêmen (aproximadamente 72 horas, embora existam diluentes capazes de conservar as doses por 5 dias ou mais). Fecundação Cerca de 1 a 2 horas após a inseminação ou monta natural, ocorre à formação do reservatório espermático, localizado na junção útero-tubárica (entre os cornos uterinos e os ovidutos). Após a ovulação, ocorrem alterações hormonais que fazem com que estes espermatozóides sejam transportados massivamente em direção aos oócitos e ocorra a fecundação em um local denominado ampola uterina. O gameta feminino entra em processo de degeneração 6-8 horas após a ovulação o que permite a penetração espermática. O espermatozóide por sua vez sobrevive no aparelho genital feminino por aproximadamente 36 horas, necessita de 2 horas para deslocar-se ao istmo e de uma adaptação de 6 horas para fecundação. Gestação A fêmea suína passa em torno de dois terços de sua vida útil em gestação, assim deve-se tomar cuidados para potencializar a produtividade e com isso obter sucesso na produção. A gestação dura, em média, 114 dias (±3 dias). Para que se dê o reconhecimento e a manutenção da prenhez são necessários, no mínimo, 4 embriões, que fazem com que ocorra alterações hormonais que impedem que a fêmea inicie um novo cio. O hormônio responsável pela manutenção da prenhez é a progesterona e este reconhecimento ocorre por volta do 12º dia após a fecundação. O período mais crítico em relação à morte dos embriões vai até o 35º dia, a partir daí, ocorre à formação do esqueleto e o embrião passa a ser chamado de feto (Institut Technique du Porc, 1993). Prof. PD Charles Kiefer 17 Diagnóstico de gestação O diagnóstico precoce da gestação tem grande importância dentro de um sistema de produção de suínos, pois é através do resultado do diagnóstico que separamos as fêmeas gestantes das vazias a fim de adotar manejos diferenciados para estas categorias. O diagnóstico de gestação baseia-se no controle do retorno ao cio através do comportamento e sintomas apresentados pelas fêmeas. Sabe-se que a duração do ciclo estral é de 21 dias (±3 dias), portanto decorrentes 21 ou 42 dias, em média, da cobertura e a fêmea não manifestar cio é considerada prenhe. Recomenda-se, entretanto, que o retorno ao cio deve ser verificado entre 17 e 35 dias e novamente entre 50 e 60 dias após a cobertura. O controle do retorno ao cio das fêmeas deve ser realizado 2 vezes ao dia (manhã e tarde), preferencialmente, com auxílio de um macho adulto e de boa libido. Em unidades de produção maiores, o uso do aparelho de ultra-sonografia, sendo que a confirmação da prenhez pode ser realizada com o uso de ultra- sonografia entre 21 e 42 dias após a cobertura. O custo desse aparelho é diluído, quando diminui o número de dias não produtivos, em função da detecção das fêmeas vazias no início da suposta prenhez. Alojamento e meio ambiente na gestação O primeiro mês é a fase mais crítica da gestação, sendo que poderá ocorrer mortalidade embrionária devido ao mau manejo, como transporte, mistura de lotes, estresse térmico e nutricional, consequentemente obteremos parições de leitegadas pequenas ou alto índice de retorno. As fêmeas cobertas não devem ser removidas de suas baias/gaiolas ou misturadas com outros grupos durante a fase de implantação embrionária, que ocorre até o 35° dia de gestação, período em que qualquer estresse deve ser reduzido ao mínimo. Recomenda-se ainda que durante o primeiromês de gestação cada fêmea tenha alojamento individual, evitando-se brigas e disputas pela ração, que são consideradas as maiores causas de estresse. Desta forma consegue-se diminuir as perdas embrionárias. O uso de gaiolas também tem a vantagem de melhorar o controle individual da alimentação. Quando as marrãs cobertas são mantidas em baias, recomenda-se alojá-las em gaiolas a partir de 80 dias de gestação, para que elas se acostumem com este tipo de instalação e não sofram estresse quando forem transferidas para as gaiolas de maternidade. Manejo alimentar na gestação A nutrição da matriz gestante tem que ser individual, não interessando quantas matrizes existam no plantel. Com essa consideração em mente é que se deve estabelecer o plano de nutrição das matrizes. Um plano de nutrição e alimentação de uma matriz gestante deve contemplar os seguintes objetivos: Aumento da sobrevivência embrionária; Desenvolvimento das glândulas mamárias; Desenvolvimento dos fetos (peso ao nascer); Crescimento corporal (marrãs); Controle preciso do ganho de peso corporal (matrizes); Prof. PD Charles Kiefer 18 Controle da condição corporal; Recomposição das reservas corporais (matrizes). Para obter esses objetivos, recomenda-se que a matriz gestante receba nas primeiras 3 a 4 semanas 2,0kg de ração de gestação (6,0 Mcal de EM). De 28-30 até os 60 dias de gestação é o chamado período de acerto corporal. Neste período o criador deve permitir que matrizes mais magras recebam um pouco mais de ração (2,2kg) e que as mais gordas possam sofrer uma pequena restrição (1,8Kg). Atingida a condição corporal adequada basta mantê-la com 2,0kg diários até 85 dias. Entre 85 aos 95 dias, a glândula mamária estará multiplicando suas células produtoras de leite, aumentando a exigência nutricional. Deve-se aumentar ligeiramente a quantidade de ração diária, para 2,3 a 2,4kg de uma ração de pré- lactação, mais rica em nutrientes. A partir daí deve-se aumentar ligeiramente a oferta de ração pré-lactação chegando ao parto com no máximo 2,6kg/dia, dependendo do tamanho do animal. Com um plano nutricional como este, as matrizes estarão perfeitamente aptas a uma vida produtiva ótima. Outro programa nutricional é o de Sesti & Passos (1994) que recomendam o fornecimento de 2kg de ração ao dia a partir da cobertura até os 30 dias; 2,2kg de ração por dia dos 30 aos 85 dias e 3kg de ração por dia até as imediações do parto. Existe um consenso de que 1,8 até 2,7kg de ração gestação (entre 20 até 33 MJ/dia de energia) é suficiente para atender as necessidades de mantença e produção (crescimento fetal). Aumentar o consumo de ração na gestação além do limite das necessidades é de pouco ou nenhum benefício. Não aumenta significativamente o número de leitões nascidos nem o peso ao nascer. Muitos criadores, no entanto, acreditam que oferecendo mais ração às matrizes estarão produzindo mais e melhor. Tal prática, na verdade, tem efeito reverso, pois ao se aumentar o nível de alimentação na gestação, acima dos requerimentos ocorrerá aumento do peso e do metabolismo da fêmea, aumentando a possibilidade de perdas embrionárias e redução do número de leitões nascidos. Outra consequência é que durante a lactação, esta matriz gorda ou super condicionada, comerá menos, produzirá menos leite e irá desmamar leitões mais leves. Além disso, ao comer menos perderá reservas corporais afetando o retorno ao cio e sua vida produtiva. Os efeitos de se alimentar as matrizes com mais ração que o necessário são apresentados na Tabela 8. De uma maneira geral, deve haver um aumento gradativo do consumo de ração durante a gestação, uma vez que no terço final de gestação ocorre maior crescimento fetal e desenvolvimento do complexo mamário, obtendo-se assim maior produção de leite, leitões mais pesados e consequentemente maior taxa de sobrevivência. TABELA 8: Efeito do consumo de ração na gestação sobre o consumo na lactação Parâmetro Consumo de ração na gestação (kg/dia) 1,80 2,25 2,70 Ganho de peso, kg 55,3 70,4 82,7 Consumo ração lactação, kg 4,76 4,70 3,98 Variação de peso, kg -12,2 -19,6 -24,6 Fonte: Dourmad (1991) Prof. PD Charles Kiefer 19 Condição corporal na gestação Uma vez que existem tantos fatores afetando o nível de alimentação das matrizes os produtores necessitam de algum sistema para avaliar se o plano de nutrição das matrizes está ou não adequado. O ideal é a pesagem periódica das matrizes, tendo seu peso sob controle e ainda, tenham a sua espessura de toucinho medidas sistematicamente com auxílio de um aparelho de ultra-sonografia. Isso nem sempre é possível, mas nem por isso deixa de ser ideal. Outra alternativa é usar o escore de condição corporal, um método que combina a avaliação visual e a estimativa das reservas corporais de gordura (Figura 11). Este método subjetivo é até certo ponto, uma alternativa de algum valor, principalmente na falta da balança e do aparelho de ultra-som. FIGURA 11: Escore corporal visual da fêmea suína No entanto, o que interessa ao nutricionista e deve interessar também ao produtor, é que a matriz tenha, não apenas um bom escore de condição corporal, mas mais que isso, tenha um ótimo "status" metabólico, este sim, o melhor critério, capaz de permiti-la expressar todo o seu potencial produtivo. Podemos nos assegurar que a matriz está num ótimo "status" metabólico, quando ela está sendo alimentada corretamente, tendo sua exigência nutricional atendida, sob condições de poucos desafios quer do ambiente quer da sanidade e esteja produzindo de acordo com seu potencial genético e que seu desempenho não mereça reparos. Mas o escore da condição corporal também nos permite algumas definições úteis acerca das possibilidades produtivas da matriz. Por exemplo, sabemos que a matriz em má condição corporal tende a aumentar o número de descartes do plantel, reduzir o número de leitões/matriz/ano, diminuir as taxas de concepção, alongar o tempo para o retorno ao cio pós-desmama (IDC), aumentar a susceptibilidade à osteoporose e outras afecções do sistema locomotor, como fraturas de membros e coluna vertebral. Sabemos também, por outro lado, que matrizes muito gordas ou super condicionadas tendem a ter maior mortalidade embrionária, parto mais difícil (distócito), menor consumo na lactação, menor produção de leite e leitegadas de pesos inferiores. Assim sendo, o escore de condição corporal não é decisivo acerca da melhor condição metabólica da matriz, mas pode ser usado como um indicativo dessa condição se todas as necessidades nutricionais e de ambiente estiverem cumpridas e se a produtividade estiver adequada. Recomenda-se que ao parto as fêmeas devem apresentar condição corporal entre 3,5 a 4,0 pelo escore visual. Prof. PD Charles Kiefer 20 Fatores que afetam o consumo de ração na gestação Evidentemente a restrição alimentar da gestação é vantajosa, mas deve seguir alguns critérios como: tipo de alojamento, tipo de piso, temperatura, peso da matriz, desafios sanitários, etc. Matrizes alojadas em grupo, em baias coletivas, requerem aproximadamente 15% a mais de ração do que aquelas alojadas em gaiolas individuais. Nas condições de baixas temperaturas (abaixo de 16ºC), matrizes magras que têm baixo isolamento térmico (pouca gordura corporal), necessitam de mais 3 a 4% de ração para cada grau abaixo de 16ºC, para se manterem aquecidas e produzirem satisfatoriamente, comparado às matrizes mais gordas. Matrizes mais pesadas têm exigência de mantença superior (estima-se que sejam necessários 5% a mais de alimento para cada 10kg de peso acima da condição ideal). E matrizes com desafios sanitários como parasitos (interna e externa), por exemplo, necessitam maisnutrientes para enfrentar os parasitas e não perderem peso e nem prejudicar o peso dos leitões ao nascer. Além disso, necessitam ser tratadas para a eliminação dos parasitas. MATERNIDADE Pré parto As fêmeas devem ser transferidas de 3 a 7 dias antes da data provável do parto do setor de gestação para a maternidade, permitindo a adaptação ao novo ambiente. Previamente à transferência as fêmeas devem ser devidamente lavadas com água e sabão com auxílio de escova e serem desinfetadas com uso de desinfetante apropriado. A transferência deve ser realiza nas horas mais frescas do dia. Aproximadamente uma semana antes do parto, as fêmeas apresentam sinais mais evidentes da aproximação do mesmo. Dentre os mais frequentes são o aumento da sensibilidade das glândulas mamárias e o edema da vulva. Em torno de três dias antes do parto, pode-se observar ainda uma mudança no comportamento das fêmeas, caracterizada, principalmente, por inquietação e em alguns casos é possível observar a tentativa da fêmea em preparar um ninho para os leitões. É comum se observar constipação no momento do parto, associada à diminuição na produção de leite na fase inicial da lactação. Para evitar esse problema deve haver uma redução no fornecimento de ração antes do parto, sendo que, no dia do parto deve-se fornecer apenas água para a fêmea. Também é recomendado o fornecimento de dieta laxativa (Institute Technique du Porc, 1993). Parto Por volta dos dois últimos dias de gestação, começam a ocorrer alterações hormonais que darão início ao parto. Um hormônio produzido no útero, chamado prostaglandina, é responsável pela redução da progesterona e, ao mesmo tempo, estimula a liberação de ocitocina, que provoca as contrações uterinas para o nascimento do leitão. Outro hormônio importante durante o parto é a relaxina, que provoca a dilatação da cérvix, necessária para a passagem do leitão. Na Tabela 9 são descritos alguns acontecimentos associados ao parto. O sintoma que permite maior precisão para determinar o momento do parto é a secreção láctea, sendo que, quando ocorre secreção leitosa em gotas, em 70% dos casos, o parto ocorre dentro Prof. PD Charles Kiefer 21 de 12 horas e quando ocorre secreção leitosa em jatos, em 94% dos casos, o parto ocorre dentro de 6 horas. TABELA 9: Acontecimentos relacionados ao parto com respectiva duração Acontecimento Duração média (mín – max) Duração do parto 3 hs (25min – 8 hs) Intervalo de expulsão dos leitões 15 min (1 – 23 min) Apresentação anterior 65% (55 – 75%) Parto com cordão umbilical intacto 65% (60 – 75%) Rompimento do cordão umbilical 4 min (1 – 30 min) Ressecamento do cordão umbilical 12 hs Primeira mamada 20 min (3 – 150 min) Expulsão da placenta após o último leitão 4 hs (0 – 12 hs) Fonte: Plonait & Bickhardt (1998) Manejo nutricional das fêmeas em lactação Objetivos da Nutrição durante o período de Lactação Aumentar a produção de leite da porca e da marrã; Reduzir a perda de peso e a perda da reserva de gordura corporal; Aumentar a taxa de crescimento dos leitões; Diminuir a taxa de mortalidade dos leitões. Garantir uma taxa de ovulação subseqüente adequada; Reduzir o intervalo desmame-cio; Promover a longevidade da fêmea. O maior problema das fêmeas em lactação é a limitada capacidade de ingestão frente a grande demanda de nutrientes. No verão, durante a fase de lactação, ocorre a síndrome do estresse calórico (SEC). A SEC ocorre quando as fêmeas são alojadas em instalações inapropriadas, sem controle de temperatura, umidade e ventilação, consequentemente ocorre aumento da temperatura ambiente e como não conseguem dissipar eficientemente o calor as fêmeas reduzem o metabolismo, reduzem a ingestão de alimento resultando num balanço nutricional negativo, ou seja, o consumo de nutrientes é muito menor que a exigência. Então a fêmea mobiliza reservas corporais para produção de leite, de forma ineficiente, pois a fêmea não consegue manter a produção em nível normal. A produção de leite cai, reduzindo o peso dos leitões ao desmame, além disso, prejudica a condição corporal da fêmea predispondo-a futuros problemas de desempenho reprodutivo, como maior intervalo desmame-cio, menor taxa de ovulação, maior mortalidade embrionária, maior suscetibilidade a doenças e descarte antecipado. A base do plano nutricional das matrizes em lactação é a alimentação à vontade, ou seja, nesta fase, o consumo deve ser livre. E mais ainda, o consumo não só deve ser livre como necessita ser estimulado de todas a formas possíveis. Existem vários fatores que influenciam negativamente o consumo. A ambiência, no caso brasileiro é um dos mais importantes. A temperatura ambiente e a umidade relativa afetam as matrizes reduzindo o consumo de alimento; atrasando o retorno ao cio e na própria manifestação deste cio, pois aumentam as incidências de cios silenciosos e aumentam a mortalidade embrionária diminuindo o tamanho das leitegadas. Prof. PD Charles Kiefer 22 Na Tabela 10, Lundeen (2000) demonstra os efeitos da estação do ano na performance reprodutiva de matrizes suínas. As altas temperaturas, comuns no verão brasileiro, mas também presentes nas outras estações do ano, tem os mesmos efeitos sobre o consumo de ração pela matriz suína. Consumo apropriado na lactação é a chave para o bom desempenho produtivo de uma matriz. TABELA 10: Estação do ano sobre o desempenho reprodutivo das matrizes PARÂMETROS Inverno Verão Peso a desmama, kg 6,50 5,50 IDC, dias 5,50 7,80 % em cio aos em 7 dias 90,00 78,00 Taxa de parição, % 87,00 82,00 Tamanho da leitegada 10,50 10,20 Fonte: Lundeen (2000) Segundo Dial & Koketsu (1996), o consumo de ração tem grande influência no intervalo desmama-cio. Os resultados destes pesquisadores sugerem, que as matrizes altamente produtivas e que não consomem nutrientes suficientes na lactação (menos que 4,2kg/dia) o intervalo desmama-cio pode ser influenciado negativamente, pois as matrizes não atingem suas demandas metabólicas. Koketsu et al. (1998) demonstram na Tabela 11 os efeitos do consumo de ração durante a lactação sobre o intervalo desmama-cio e sobre o número de leitões nascidos por parto. Infelizmente a seleção genética do suíno moderno, com maior capacidade para deposição de carne magra, tem produzido como consequência um animal com baixa reserva de gordura e de menor apetite, o que impede as matrizes de consumir as quantidades necessárias de nutrientes para uma vida reprodutiva adequada (Pettigrew, 1998). A reprodução na lista de prioridades do animal está abaixo, é claro, da manutenção da atividade celular, quer dizer, da manutenção da própria vida. Está abaixo ainda da termorregulação e até mesmo do crescimento. Se este animal sofrer alguma privação nutricional o crescimento vai ser prejudicado, assim como a fertilidade/reprodução também será afetada negativamente (Cosgrove et al., 1996). TABELA 11: Intervalo desmama-cio (IDC) e tamanho da leitegada subsequente de acordo com o consumo de ração durante a lactação Consumo, kg Nº fêmeas IDC Leitões nascidos/parto 3 1.052 6,73 10,85 4 3.055 6,44 10,80 5 7.127 6,12 11,00 6 7.208 5,94 11,03 > 6 6.555 5,90 11,17 Fonte: Koketsu et al. (1996) Se associarmos essas informações à temperatura ambiente elevada, acima da temperatura crítica máxima, tolerada pela matriz, que é de 20ºC, podemos inferir que a ingestão de alimento pode diminuir. E é isso que acontece. A estimativa é de que a redução do consumo esteja entre 150 a 160 gramas por cada grau acima dos Prof. PD Charles Kiefer 23 20. Na Tabela 12 são apresentados os efeitos do baixo e alto consumo de ração durante a lactação sobre o desempenho reprodutivo de matrizes.TABELA 12: Efeitos do consumo de alimento na lactação sobre o desempenho reprodutivo Parâmetros Baixo consumo Alto consumo Peso a desmama, kg 5,5 6,5 Intervalo desmama-cio, dias 9,0 4,5 Percentagem em cio, % 70,0 93,0 Taxa de parto, % 70,0 89,0 Tamanho da leitegada 10,0 11,0 Fonte: Lundeen (2000) Martineau & Martin Rillo (2000) consideram que a matriz moderna tem características contraditórias no sentido de que a seleção para se produzir animais magros, de pouca gordura, para atender o mercado consumidor, criou também uma matriz de maior fecundidade. Essas posições de seleção são conflituosas na medida que o apetite também diminuiu dificultando assim o atendimento das exigências nutricionais. Aherne (1995) propõe algumas exigências importantes para a matriz que deveriam ser atendidos durante a lactação (Tabela 13). De maneira simplificada os dados nos mostram que com uma formulação normal, capaz de atender essas exigências, ainda assim dependeríamos do consumo adequado de ração, que nesse caso deveria atender uma média de 6,9kg/dia. Com o material genético disponível no Brasil, teríamos dificuldade em fazer com que uma matriz de 150kg de peso consuma 6,9kg de ração em média durante a lactação. Para isso teríamos que adensar as dietas, para que o animal, mesmo consumindo menor quantidade em kg, consiga ingerir o que necessita. Assim as dietas devem conter alto teor de proteína, energia e lisina, para atenderem os requerimentos das matrizes lactantes, principalmente sob condições de altas temperaturas ambientais. TABELA 13: Exigência prevista de consumo de ração, energia, proteína, lisina, para uma matriz de 150kg de peso com 10 leitões Semanas de Lactação 1ª. Sem. 2ª. Sem. 3ª. Sem. 4ª. Sem. Média Peso dos leitões, kg 2,50 4,00 6,00 8,00 GPMD, g/dia 180 214 285 285 236 Produção de leite, kg/dia 6,40 8,80 11,20 11,20 9,40 Exigência Mcal, ED/Dia 6,40 6,40 11,20 11,20 9,40 Proteína, g/dia 780 1020 1260 1260 1080 Lisina, g/dia 45 59 74 63 63 Ração, kg/dia 5,1 6,6 8,0 8,9 6,9 Déficit, kg/dia 0,7 1,1 2,0 2,1 1,4 Perda de peso, kg/semana 2,6 4,1 7,4 7,8 Total 21,9 Fonte: Aherne (1995) Prof. PD Charles Kiefer 24 Manejo alimentar na lactação O manejo alimentar na lactação é muito importante, principalmente na 1ª lactação, uma vez que a fêmea continua em fase de crescimento e ao mesmo tempo fornece leite na maioria das vezes a grandes leitegadas. O ideal é conseguirmos manter o estado corporal e se possível que as fêmeas não percam mais que 2mm de espessura de toucinho no P2 e não mais que 15kg do seu peso corporal. Esse padrão não é importante apenas para o desempenho da leitegada na primeira lactação, mas também afeta a fertilidade no próximo ciclo reprodutivo. Os resultados da Tabela 14 sugerem que um baixo consumo na fase de lactação pode causar um impacto negativo no desempenho reprodutivo subsequente das matrizes, levando a maior perda de peso e alta mobilização de gordura corporal, reduzindo o número de óvulos e a sobrevivência embrionária e aumentando o intervalo desmama-cio. TABELA 14: Influência do padrão de consumo em 28 dias de lactação sobre a fertilidade das porcas no primeiro parto Parâmetros Á vontade Restrito Restrito/Á vontade Perda de peso (kg) 11,0 21,2 24,8 Perda ET P2 (mm) 2,19 4,61 5,38 Número de óvulos 19,86 15,44 14,43 Sobrev. Embrionária% 28 dias 87,53 64,43 86,50 Intervalo desmama/cio 3,7 5,1 5,6 Fonte: Zack et al. (1997) Estratégias nutricionais para aumentar o consumo na fase de lactação Aumentar gradativamente o consumo de forma que seja de 2,0kg/dia a partir do primeiro dia após parto, aumentando 0,5kg/dia até o quinto dia, quando começamos a fornecer a vontade; Alimentar várias vezes ao dia, uma vez que as fêmeas têm baixa capacidade estomacal e o aumento do número de refeições favorecerá o aumento do consumo de ração/dia; Alimentar nas horas mais frescas do dia; No verão oferecer a ração de forma úmida; O uso de rações com alta porcentagem de fibra deve ser evitado, enquanto que o uso de amido e de óleo é benéfico, uma vez que são mais digestíveis e possuem menor incremento calórico, além de estimular os níveis de insulina, hormônio metabólico com grande relação na produção dos hormônios da reprodução. Manejo alimentar dos cachaços A nutrição de machos inteiros para reprodução é diferenciada da nutrição de suínos para o abate, pois a partir dos 50kg apresentam maior potencial de crescimento e necessitam formar uma estrutura corporal adequada para a futura atividade reprodutiva. Nos machos adultos a alimentação deve ser adaptada com restrição no consumo de energia permitindo o máximo desempenho reprodutivo e moderados ganhos de peso sem que ocorram problemas de aprumos e excesso de peso. A restrição alimentar severa em cachaços adultos pode alterar a secreção hormonal e Prof. PD Charles Kiefer 25 reduzir a quantidade de sêmen, mas a função reprodutiva é restaurada após a normalização do nível alimentar e a qualidade do sêmen não é afetada. Deve-se reduzir o nível de energia da dieta dos cachaços por meio da inclusão de alimentos fibrosos, podendo-se desta forma aumentar a quantidade fornecida, aumentando assim a sensação de saciedade e garantindo maior bem- estar ao animal (Louis, 1995). Na Tabela 16 são apresentas algumas sugestões de valores de consumo de acordo com o peso do macho. TABELA 16: Sugestão de fornecimento de ração para cachaços de acordo com o peso Peso corporal, kg 105 150 200 250 300 350 Ração, kg/dia 2,05 2,25 2,4 2,63 2,86 3,09 Fonte: MANUAL DE INSEMINAÇÃO DE SUÍNOS (1996) Programa de vacinação e vermifugação Na Tabela 17 é apresentada uma sugestão de programa de vacinação e vermifugação. TABELA 17: Sugestão de um programa de vacinação Vacina Marrãs Porcas Cachaços Parvovirose 21 e 42 dias pré-cobertura 24 dias antes do parto Semestral Leptospirose 21 e 42 dias pré-cobertura 24 dias antes do parto Semestral Erisipela 21 e 42 dias pré-cobertura 24 dias antes do parto Semestral Rinite 24 dias pré-parto 24 dias antes do parto Semestral Pneumonia micoplasma 21 e 42 dias pré-cobertura 24 dias antes do parto Semestral Vermifugação Após a chegada na granja e novamente antes da cobertura 14 dias antes do parto 6 vezes por ano Considerações finais A matriz suína é onde tudo começa na suinocultura e todo investimento possível deve ser feito para que elas possam produzir e exibir seu máximo potencial genético. Investimentos em genética, biosseguridade, ambiência, manejo e nutrição são fundamentais para que se obtenha máxima produtividade. Deve-se preferir matrizes de genéticas mais precoces sexualmente e de peso menor no início da atividade reprodutiva. Na fase de gestação, as matrizes devem ser alimentadas com base no desenvolvimento corporal, que pode ser controlado por pesagens periódicas acompanhadas de medições da espessura de toucinho com ultra-som, ou mesmo pela avaliação do escore da condição corporal. Na lactação, o consumo de ração é a chave para otimizar o desempenho subsequente. Baixo consumo de ração na fase de lactação eleva o intervalo desmama-cio, prejudica a taxa de fertilidade e reduz o número de leitões nascidos no parto subsequente.
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