Buscar

historia politica epoca medieval

Prévia do material em texto

A Guerra dos Cem Anos
A guerra dos cem anos baseia-se numa série de conflitos entre França e Inglaterra, entre 1337 e 1455, motivados por questões feudais, económicas e dinásticas. 
Em 1328, rei Carlos IV, o último de 3 filhos de Filipe IV, morre sem deixar herdeiro masculino. Eduardo III, rei de Inglaterra, enquadra-se neste cenário por ser sobrinho do falecido rei de França e parente mais próximo, pelo lado materno. Contudo, de acordo com a lei sálica, não pode ser coroado quem for descendente por parte de mulheres e, não aceitando a perda da independência para Inglaterra, os franceses baseiam-se nessa lei para passarem a coroa a Filipe de Valois, primo distante de Rei Carlos. Na sua subida ao trono ninguém reivindicou, nem mesmo Eduardo III que reconhece o mesmo como rei, prestando-lhe vassalagem pelo feudo de Guiana. Eduardo III decidi reivindicar a coroa de França quando este povo alarga os seus domínios para a Flandres, território economicamente importante para os ingleses.
A fase incial da guerra é caracterizada pelos triunfos de Inglaterra, que começam em 1340, quando a batalha naval de Ecluse causa a destruição de grande parte da frota francesa, impossibilitando a invasão de Grã-Bretanha. Em 1347, Inglaterra ocupa Calais garantindo-lhes entrada em França sempre que desejassem. Um ano depois, devido a peste negra, dá-se um período de tréguas que se manteve até 1356.
Eduardo III entrega as rédeas da guerra ao seu filho, Eduardo Príncipe Negro, que derrota os franceses na Batalha de Poitiers durante a qual João II foi feito prisioneiro pelos ingleses. Em 1360, é assinado o Tratado de Bretigny. Neste acordo, Eduardo III abdica das suas pretensões ao trono francês e libertava o seu rei, em troca do filho Luís ser mantido refém em seu lugar e do país pagar um regate que incluía conceder todos os territórios que, antes de João Sem Terra, pertencessem a Inglaterra. Regressando a França o rei depara-se com uma grave crise económica, social e política e descobre ainda que Luís tinha fugido da custódia dos ingleses. Face a isto, João II chega a Londres para se entregar, em 1364, onde acaba por morrer 4 meses depois, sendo sucedido pelo filho Carlos V.
Numa segunda fase da guerra, assiste-se à recuperação de França e deslocação da mesma para a Península Ibérica, onde estes passam a contar com a ajuda militar de Castela. Com Carlos V no trono, o prestígio do poder régio foi recuperado e dá-se início a uma série de vitórias francesas.
Em 1376 e 1377, morrem o Príncipe Negro e Eduardo III, deixando Inglaterra numa situação de menoridade régia, em que sobe ao trono o neto do falecido rei, Ricardo II. Assim, criam-se divisões no seio da nobreza que resulta na deposição e morte do mesmo do novo rei, e a coroa é passada ao primo, Henrique IV. Já em França, morre Carlos V, sucedendo Carlos VI que, durante o seu reinado, provoca uma violenta guerra civil, deixando o país numa situação difícil, culminando na subida ao trono de Carlos VII.
Devido às situações de fragilidade interna de ambos os países, deu-se uma pausa de 35 anos, encerrando o primeiro grande ciclo de guerra. 
A terceira fase é marcada pela ocupação de grande parte de França pelos ingleses. Em 1413, morre o rei sucedendo-lhe o filho, Henrique V que lidera as forças britânicas na Batalha de Azincourt, vencendo os inimigos, em 1415. Neste contexto, em 1420 é assinado o Tratado de Troyes que ditava que após a morte de Carlos VI, o trono seria passado para o rei de Inglaterra ou para um descendente, tal como marcava o matrimónio de Henrique V com Catarina, filha do rei francês.
Em 1422, com a morte dos reis de ambos os países, Henrique VI é coroado rei de Inglaterra e de França, para insatisfação de Carlos VII que já teria sido reconhecido como rei por grande parte dos senhores franceses. A França encontra-se então sob a égide de dois reis: no Norte do país, apoiado pelo Duque de Borgonha, Henrique VI; no Sul, com o apoio dos senhores do país, Carlos VII. 
É numa última fase que aparece Joana D’arc, jovem pastora, que dizia ter visões e afirmava que, pela vontade de Deus, Carlos VII estava destinado ao trono. Numa visita ao rei, foi-lhe concedido um pequeno exército, através do qual liberta Orleães, em 1429, assegurando várias outras vitórias francesas. A pesar disto, Joana D’arc não consegue tomar Paris e é feita prisioneira pelos ingleses, que a mandam para a fogueira, acusando bruxaria.
É em 1435 que, pelo Tratado de Arras, Carlos VII passa a contar com o apoio do Duque de Borgonha, facilitando a reconquista das restantes terras francesas. Muito pouco resta aos ingleses, que se afundavam em guerras civis, nomeadamente o conflito das Duas Rosas que incapacita a Inglaterra de ter meios para continuar a combater a França. Em 1453, dá-se a Batalha de Catillon em que as possessões inglesas em França se reduzem a Calais. A Guerra dos Cem Anos termina com a vitória francesa a pesar de não haver nenhum tratado nem acordo de paz que o formalize.
Este conflito deixou um saldo de milhares de mortes e uma devastação sem precedentes, colocando em causa a produção agrícola. No plano político e socia, a guerra contribui para o fortalecimento do poder real francês, abrindo caminho para o Absolutismo. No que toca à Inglaterra, esta recuperou relativamente rápido, ultrapassando todos os outros países da Europa. A Guerra dos Cem Anos assinalou o fim da Idade Média, dando lugar à Idade Moderna.
O Império e o Papado
Ao longo dos séculos XI, XII e XIII, o Ocidente Europeu fica marcado pelo confronto entre o Pontífice da Igreja, assim como várias personagens associadas ao clero, com sucessivos imperadores do Sacro Império Romano Germânico.
Segundo alguns historiadores, este conflito começa em 800 com a coroação de Carlos Magno. Esta coroação não seguiu a ordem normal pois o Papa terá coroado o imperador antes deste ser aclamado pelo povo, considerando que o poder temporal vem de Deus (uma vez que a coroação é feita pelo Papa, o intermediário de Deus na Terra), sobrepondo-se ao poder espiritual. A partir deste episódio, Carlos Magno passou a coroar o próximo imperador, mantendo a igreja fora do processo.
Com a entrada do milénio, a Igreja encontra-se numa grave crise interna, que culminou no início da reforma gregoriana. Um dos grandes problemas era a questão moral, uma vez que a simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) e o nicolaísmo (casamento entre clérigos) eram situações frequentes. Para além disto, havia também o interesse de homens laicos em assumir cargos religiosos, que acaba por estar ligado ao domínio do poder imperial sobre o poder papal. Esta questão era vista de duas maneiras opostas por cada um dos lados: o império considerava que a regeneração da igreja devia ser feita através da tutela do poder imperial sobre os cargos eclesiásticos; ao contrário, a Igreja via a reforma como uma “libertação”.
O maior exemplo do controlo exercido pelos imperadores é Henrique III que, ao ir a Roma para ser coroado imperador, depõe Gregório VI substituindo-o por Clemente II. Os papas seguintes não deixaram de entender a importância de se libertarem do poder imperial. Em 1057, o Papa Vítor II morre e os bispos em Roma elegem um novo pontífice sem consultar o poder imperial, alegando a menoridade régia de Henrique IV. Após a morte deste Papa, é eleito Nicolau II através do mesmo método utilizado anteriormente. 
É com este papa que se dá o Concílio de Latrão, em 1059. Neste sínodo são tomadas importantes decisões, entre elas que a eleição dos papas seria feita exclusivamente por bispos e arcebispos, excluindo os imperadores, e também se excluí o nicolaísmo. Em 1060, um movimento de cariz popular em Milão, expulsa um bispo nomeado pelo imperador e nomeia outro com o apoio de Nicolau II, afastando cada vez mais Roma do imperador. Com estas alterações, o Papado procura assumir-se como uma potência separada do Sacro Império.
Anos depois e com a morte do papa, foi nomeado como antecessor o bispo Hildebrando, profundamente reformador, que designa GregórioVII. Durantes este pontífice, as questões entre o Império e o Papado vão ser levadas ao extremo. Em 1075, é produzido o Ditactus Papae, documento em que se defende a primazia pontifícia acima de qualquer outro poder, o poder do Papa acima de qualquer outro poder na Cristandade, podendo depor qualquer entidade laica de qualquer região, incluindo o imperador. Além destes aspetos, foram proibidas investiduras laicas em cargos eclesiásticos, determinada a obrigação dos bispos irem a Roma receber o pálio das mãos do Papa, entre outros.
Quando Henrique IV sobe ao trono, nomeia uma série de bispos italianos, rapidamente demitidos pelo Papa. Na sua tentativa de demitir Gregório VII, Henrique IV acaba por ser excomungado, dando liberdade à aristocracia para desobedecer ao imperador. Por esta razão, o mesmo pede perdão ao papa, no episódio de Canossa, em 1077. Apesar das desculpas serem aceites, Henrique IV não volta a ser reconhecido como imperador e, como resposta, nomeia um novo Papa que o faz, em 1080. O imperador invade Roma e Gregório VII é resgatado, porém acaba por falecer, em 1085. Assistimos depois a um período de acalmia. 
É quando Henrique V sobe ao trono que a situação volta a piorar. Em 1111, no Concílio de Sutri, Papa Pascoal II propõe ao imperador que abdique das suas pretensões de fazer investidas eclesiásticas e, em troca, o papa cederia todo o património recebido dos imperadores. Este acordo fica sem efeito quando Henrique V prende o papa e os bispos devido a grandes revoltas no seio da Igreja. Neste contexto, foi necessária a nomeação de laicos para os cargos do clero. Em 1122, assina-se a Concordata de Worms em que o Papa Calisto II reconhece ao imperador o poder de investir bispos com poder secular em territórios que dominasse, mas não com poer espiritual. Roma assume-se como cabecilha da hierarquia religiosa e o poder do papa estende-se a toda a Cristandade. Chegam ao fim as investiduras laicas. 
Quando Henrique V morre, em 1125, o imério mergulha numa série de crises e disputas internas, que acabam por repercutir no Papado. Em 1152, surge Frederico I que procura reforçar e realçar a autoridade régia na Alemanha e afirmar a sua soberania em Itália, tentando entrar em acordos com o Papado. Porém, as cidades do Norte de Itália, uniram-se contra o Império e formaram a Liga Lombarda. Em 1159, com a morte do Papa, surgem dois grandes candidatos a pontífice: Vitor IV, apoiado por Frederico I; e Alexandre III, eleito por bispos e cardeais e apoiado pela Liga Lombarda. O primeiro foi nomeado Papa e, entretanto, Frederico I é derrotado pela Liga Lombarda, sendo forçado a assinar um contrato de paz. 
Em 1198, sobe ao pontificado Inocêncio III que, segundo alguns historiadores, terá instaurado uma teocracia, afirmando a plena soberania do Papa, tendo em conta que é este que entrega o poder político que os monarcas recebem de Deus. Assim sendo, este Papa defende que o poder espiritual é superior ao temporal, intervindo diretamente em questões exteriores, como a deposição de João Sem Terra. Porém, a sua intervenção continua a dar-se no Império, protegendo Frederico (filho de Henrique VI) durante a sua menoridade. Este chega ao trono em 1215 e acaba por reacender o conflito com a Igreja, que considerava estar integrada no Império. Enfrentou dois papas e foi excomungado duas vezes. É a partir desta altura que surge um grande interregno neste conflito. Enquanto o papado parecia sair vitorioso, a Igreja estava bastante fragilizada, uma vez que, enquanto tentavam travar o império, outras monarquias cresceram e ganharam importância. A teocracia pontifical termina entre o século XIII e XIV, quando França humilha o Papa Bonifácio III. Parecia que a Igreja já não podia alimentar o desejo de governar o mundo.

Continue navegando