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METODOLOGIA DA PESQUISA EM ESTUDOS LITERÁRIOS
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mantém presos no fantástico. A última situação é o final irresolúvel, não há explicação se o fato sobre- natural – as árvores estavam falando – realmente existiu, e na narrativa isso se mostra de uma maneira simples, ela duvida de si mesmo: “Será que eu estava ficando louca?!”, ela diz e ainda termina “Só voltei uma semana depois sem saber se estava delirando com a ajuda dos remédios ou não. Tudo pa- recia tão real!”. O final sem qualquer tipo de explicação, aconteceu ou não? Um final puramente fantástico. 5.3.3 Fantástico – maravilhoso Optando por uma explicação cujo sobrenatural é a resposta, entramos no gênero Maravilhoso. Nessa vertente do fantástico, os seres sobrenaturais possuem permissão para existir. Ainda segundo Todorov (2012, p. 58), em Introdução à literatura Fantástica: No caso do maravilhoso, os elementos sobrenaturais não pro- vocam nenhuma reação particular nem nos personagens, nem no leitor implícito. A característica do maravilhoso não é uma atitude, para os acontecimentos relatados a não ser a natureza mesma desses acontecimentos. Se o sobrenatural não entrar em choque com o contexto, com a atmosfe- ra da narrativa, não estamos no fantástico. Entra-se então no maravilhoso, onde os acontecimentos sobrenaturais são perfeitamente aceitáveis: Estamos no fantástico – maravilhoso, ou em outros termos, na classe das narrativas que se apresentam como fantásticas e que terminam por uma aceitação do sobrenatural. Estas são as narrativas mais próximas do fantástico puro, pois [...] suge- rem-nos realmente a existência do sobrenatural. (TODOROV, 2012, p. 58). 74 A diferença então é que, no maravilhoso, o sobrenatural é mostrado como algo possível. Pimentel (2002, p. 36) afirma “[...] o maravilhoso é, por conseguinte, o extraordinário, que escapa ao curso ordinário das coisas e dos homens”. Em um mundo maravilhoso, a existência de fadas, duendes, espíritos, anjos e vampiros é completamente natural. Temos assim: Era mais um dia quente em Manaus, e apesar de estar doente e ter tomado muitos remédios para alergia, eu precisava chegar à universidade para mais uma apresentação. Logo que desci do ônibus e percorri as passagens, percebi algo muito estranho; as salas de aula estavam vazias, muitas luzes estavam apagadas e não havia ninguém andando nos corre- dores. Intrigada, comecei a andar devagar e foi quando pensei estar escutando vozes, sussurros vindos de todas as direções. Assustada, corri o mais rápido que pude até a minha sala que estava vazia como todas as outras. Será que hoje não teria aula e ninguém me avisou? Foi quando os murmúrios ficaram mais altos e percebi que as árvores estavam falando! Intrigada, segui as vozes até um dos últimos corredores e percebi que todos estavam se reunindo ali, fascinados! Elas contavam belas histórias de quando eram donas do mun- do e todos viviam em harmonia! (AS AUTORAS, 2017)3. Como vimos, o primeiro ponto a ser observado na estória é o ambiente em que tudo ocorre, o ambiente da narrativa é o mundo comum, o mundo onde o leitor pode se identificar com a personagem. Observamos também que é nesse lugar comum que algo estranho co- meça a acontecer, sem que se perca a noção do lugar em que se encontra a narrativa. O segundo ponto continua o mesmo: a infiltração do aparente acontecimento sobrenatural na narrativa da heroína comum. 3 Texto elaborado pelas autoras para exemplificação, em 2017. 75 A terceira circunstância são os questionamentos que nos levam a uma tendência fantástica, a hesitação, a desconfiança e até o medo. Mas algo muda, a última situação que seria o final irresolúvel, não exis- te mais. A explicação sobre o fato possivelmente sobrenatural – as árvores estavam falando – acontece, todas as dúvidas e questionamentos ficam es- quecidos, pois há uma resposta, uma conclusão inaceitável para o mundo científico. Um final puramente maravilhoso. 5.3.4 Fantástico – estranho Optando por uma explicação, cuja existência é pertencente ao mundo real, estamos no Estranho: “Acontecimentos que parecem sobrenaturais ao longo de toda a história, no fim recebem uma explicação racional.” (TODO- ROV, 2012, p. 51). Todorov (2012, p. 53) afirma nas obras pertinentes a esse gênero: Relatam-se acontecimentos que podem perfeitamente ser explicados pelas leis da razão, mas que são, de uma ou outra maneira, incríveis, extraordinários, chocantes, singulares, in- quietantes, insólitos e que, por esta razão, provocam no perso- nagem e o leitor uma reação semelhante àqueles que os textos fantásticos nos voltou familiar. É neste campo que podemos encontrar as coincidências, o sonho, drogas, ilusão dos sentidos, loucura, fraudes. O questionamento, o estranhamento, pode existir, mas ao final da narrativa teremos uma explicação natural. Mais uma vez temos: Era mais um dia quente em Manaus, e apesar de estar doente e ter tomado muitos remédios para alergia, eu precisava chegar à universidade para mais uma apresentação. 76 Logo que desci do ônibus e percorri as passagens, percebi algo muito estranho; as salas de aula estavam vazias, muitas luzes estavam apagadas e não havia ninguém andando nos corre- dores. Intrigada, comecei a andar devagar e foi quando pensei estar escutando vozes, sussurros vindos de todas as direções. Assustada, corri o mais rápido que pude até a minha sala que estava vazia como todas as outras. Será que hoje não teria aula e ninguém me avisou? Foi quando os murmúrios ficaram mais altos e percebi que as árvores estavam falando! Foi quando desmaiei. Quando acordei estava cercada por meus amigos assustados, eles diziam que eu estava delirando de febre falando sozinha sobre árvores falantes. Voltei para casa e só retornei totalmente curada. Nunca, nada parecido me aconteceu de novo! (AS AUTORAS, 2017)4. Temos mais uma vez o primeiro ponto que é o ambiente em que tudo ocorre, o mundo comum, o mundo de fácil identificação. Nesse mundo, algo estranho começa a acontecer: a infiltração do aconte- cimento supostamente sobrenatural na narrativa da heroína comum. A terceira circunstância são as indagações, a hesitação, o incômodo que nos levam a uma tendência fantástica. Novamente algo muda, a circunstância, que seria o final indeterminado, não se mantém. A explicação sobre a ocorrência sobrenatural - as árvores estavam falando – agora existe, todas as dúvidas e questionamentos ficam esquecidos, pois há uma resposta, uma resposta que cabe no mundo co- mum. Um final puramente estranho. 4 Texto elaborado pelas autoras para exemplificação, em 2017. 77 5.3.5 Temas comuns no fantástico Percebemos que certos temas se repetem ao estudarmos a literatura fan- tástica. Aqui listo alguns deles: a) incesto; b) homossexualidade; c) amor a vários; d) necrofilia; e) sensualidade excessiva; f) loucura; g) drogas; h) o duplo; i) crueldade. 5.3.6 Funções do fantástico Após ter buscado demonstrar a estrutura da narrativa fantástica, Todorov (2012) aplica-se a estabelecer suas funções em Introdução à literatura fantás- tica, onde destaca dois pontos: 1º Função social Todorov (2012, p. 167) afirma que Para muitos autores, o sobrenatural não era se não um pretexto para descrever coisas que não teriam nunca ousado mencionar em termos realistas [...] o fantástico permite franquear certos limites inacessíveis quando a ele não se recorre. 78 Como falar de homoafetividade, necrofilismo, drogas? A função social, de extrema importância porque aborda temas considerados tabus, especial- mente quando observamos as narrativas do século XIX, onde a proibição de certas temáticas era muito forte. 2º Função literária Todorov (2012, p. 171) assegura que Uma função pragmática: o sobrenatural emociona, assusta, mantém em suspense o leitor. Uma função semântica: o