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O gênero masculino na publicidade de cosméticos

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O gênero masculino na publicidade 
de cosméticos e vestuário
The male gender in cosmetics and clothing publicity
Maria Inês Ghilardi-Lucena
Janaína Fernandes Possati
RESUMO
Analisamos o perfil do gênero masculino na mídia impressa em peças publici-
tárias da Men’s Health, de público masculino. A vaidade, característica antes 
exclusivamente feminina, aparece como tópico central quando o assunto é bem-
estar, cuidados com a saúde e preocupação com estética e vestuário. Por meio 
da análise da representação do sexo masculino na mídia é possível compreender 
as características sociais e o contexto histórico-cultural do momento atual.
PALAVRAS-CHAVE
Discurso; mídia; gênero masculino.
ABSTRACT
We have analyzed the male gender profile in the printing media in publicity 
pieces appearing in Man’s Health magazine, addressed to the masculine public. 
Vanity, that used to be an exclusive female feature, appears as a central topic 
when the issue is well-being, health care and aesthetic and clothing worries. 
By means of the analysis of the representation of the masculine sex in the 
media it is possible to understand the contemporary social characteristics and 
historic-cultural context. 
KEY WORDS
Discourse; media; male gender.
1 InTRODUçãO
Este artigo1 analisa o perfil do gênero masculino veiculado pela 
mídia impressa, com enfoque na questão da vaidade. Por meio da in-
1 Esse artigo é parte da 
pesquisa de Iniciação 
Científica da Faculdade 
de Letras da PUC-Campi-
nas realizada por Janaína 
Fernandes Possati, com 
bolsa FAPIC/Reitoria, sob 
a orientação da Profa. 
Dra. Maria Inês Ghilardi 
Lucena, parte do plano 
de trabalho “O gênero 
masculino na publici-
dade de cosméticos e 
vestuário”, do Grupo 
de Pesquisa Estudos do 
Discurso, CnPq.
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
12 Nonada • 14 • 2010
vestigação de peças publicitárias publicadas na revista Men’s Health, de 
Maio de 2007 a Dezembro de 2008, direcionada ao público masculino 
de classe média-alta, procurou-se observar a imagem do homem da 
atualidade, considerando os recursos verbais e não-verbais utilizados 
na produção textual. A vaidade, característica antes exclusivamente 
feminina e negada pelos homens, tem aparecido como tópico central 
nos periódicos masculinos, quando o assunto é o bem-estar, os cuida-
dos com a saúde e a preocupação com a estética e o vestuário. 
Destacamos, no material examinado, as relações de gênero social e 
procuramos observar o comportamento masculino por meio da aná-
lise de anúncios publicitários, pois “a mídia publicitária, como objeto 
simbólico de representação, reflete o pensamento do senso comum 
e, devido a sua presença maciça na vida das pessoas, contribui para 
a naturalização de crenças e de papéis sociais, de preconceitos e de 
relações de poder”. (PIRES e GIACOMELLI, 2008, p. 199)
A análise de peças publicitárias possibilitou estudar as marcas vi-
suais das fotografias, como os gestos, as expressões faciais e as cores 
visando à compreensão da (nova) identidade do sexo masculino. Ainda 
a observação das roupas, do cenário, da maneira como o homem e a 
mulher foram mostrados, das informações implícitas, das vozes e das 
formações imaginárias incorporadas em cada enunciado colaboraram 
para atingir tal objetivo. Segundo Pires e Ferraz (2008, p. 33), o anún-
cio publicitário “não é apenas um fenômeno natural que emerge da 
vida real, ele é produzido por pessoas que fazem parte de uma rede de 
relações sociais, revelando, assim, não só as próprias ideologias, como 
também as do grupo social a que pertencem”.
Por essa razão, as peças publicitárias de uma revista atuam como 
parâmetro de “valores sociais e estilos de vida” sugeridos aos leitores, 
permitindo que estes compreendam “o mundo e seu lugar nele” (VES-
TERGAARD e SCHRODER, 2000, p. 74). Por meio das representações 
nelas apresentadas, homens e mulheres identificam-se e situam-se no 
contexto em que vivem.
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
13Nonada • 14 • 2010
Diante das mudanças que, no decorrer dos anos, vêm transfor-
mando a sociedade em seus aspectos sociais, culturais, históricos e 
econômicos, fica cada vez mais difícil recorrer aos conceitos tradi-
cionais para referir-se aos homens e às mulheres. A formulação de 
uma identidade universal, única e permanente para ambos os sexos 
tornou-se completamente inviável. É, também, difícil identificar 
e analisar os gêneros masculino e feminino separadamente, sem 
relacioná-los, pois as características de cada um são motivadas pelas 
contradições e diferenças existentes entre essas e as características 
do outro. 
Tudo indica que o fenômeno da metrossexualidade ganhou força por 
causa das mudanças ocorridas em relação ao gênero feminino. As mulhe-
res conseguiram o seu espaço, deixando o caminho livre e propício para 
que os homens fossem em busca de uma nova definição: um homem 
“doce, sensível e encantador, (...) mas perfeitamente heterossexual” 
(GARBOGGINI, 2008, p. 79). Isso representa uma grande evolução em 
relação ao passado em que, como cita Alves (2008), 
um homem não deve se expor, manifestando 
suas emoções, ao contrário, deve ser impassível 
e insensível, em suma, forte.” (p. 231) (...) Os 
“sentimentos e comportamentos que implicam 
empatia, compaixão e carinho são entendidos 
como femininos ou, no mínimo, incompatíveis 
com a macheza. Senti-los é sentir-se ameaçado 
na masculinidade (...). (p. 234) 
Diante dessas características enraizadas na identidade masculina, 
provenientes do imaginário coletivo, o valor dado à vaidade projetou 
uma possibilidade de mudanças assim como o afastamento de ideias 
tradicionais e de, até mesmo, antigos e ultrapassados conceitos sociais 
controladores da história dos homens. Há, entretanto, valores tradicio-
nais convivendo com novidades do mundo moderno.
Seria a nova tendência uma “crise da masculinidade” (PIRES e 
FERRAZ, 2008, p. 29)? Ou apenas uma modificação no conceito an-
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
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tigo e ultrapassado que considerava o homem “bruto e relaxado”? 
Podemos dizer que nem uma nem outra. O homem pode ser vaidoso 
e continuar sendo forte, masculino e corajoso como sempre foi. O 
que acontece em relação à vaidade masculina é o surgimento de 
uma oportunidade de os homens conseguirem um novo espaço na 
sociedade e acabar de vez com tabus que insistem em conservá-los 
em “uma bolha”, impedindo que eles sejam “remodelados”. Eles 
tentam lutar contra as representações advindas do imaginário cole-
tivo de décadas passadas que os obriga “a serem viris, mostrarem-se 
superiores, fortes, competitivos, ou serão tratados como os fracos e 
como as mulheres”, segundo afirma Welzer-Lang, citado por Pires 
e Ferraz (2008, p. 29).
Se voltarmos um pouco no tempo, verificaremos que o status de 
superioridade masculina, no século XIX, como cita Oliveira (2008, 
p. 174), explica-se “na esteira dos estudos de Darwin e do determi-
nismo, com as teses de diferenciação do homem e da mulher base-
adas em postulados biológicos” e, portanto, “se naturaliza a relação 
entre os gêneros colocando o homem em posição de superioridade 
com base no sexo”. Então, é bastante difícil e complexo desprender 
o universo masculino de ideais tão fossilizados na base da história 
da humanidade. 
Hoje, a vaidade faz com que os homens se preocupem não só com 
seu vestuário e com o uso de cosméticos, mas também com a saúde 
e a aparência física. Por essa razão, na pesquisa foram analisadas não 
apenas peças publicitárias relacionadas ao vestuário masculino e ao 
uso de cosméticos, mas também relacionadas à saúde masculina,à ida 
a clínicas de estéticas e à preocupação com o corpo, para mostrar as 
várias áreas que integram o interesse dos homens vaidosos (uma parte 
do trabalho está resumida aqui). Todos esses fatores colaboram para 
o bem estar dos homens, para que eles se sintam felizes e satisfeitos 
consigo mesmos. 
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
15Nonada • 14 • 2010
2 PEçAS PUBLICITáRIAS SOBRE A VAIDADE MASCULInA
A seguir, comentamos aspectos de alguns dos anúncios que abordam 
a maneira como o homem é representado no mundo dos cosméticos e 
do vestuário, e que fazem parte da temática da vaidade masculina. Por 
exemplo, referente ao item cosméticos:
Fig. 1: Men’s Health, nº 15, Julho/2007, p. 24-25.
A pergunta do anúncio (Fig. 1) – “Como você pode querer cuidar de 
tudo e ser tão descuidado com você?” – demonstra a surpresa diante 
de uma sociedade em que a aparência está sempre em primeiro lugar. 
A dúvida representa a voz da sociedade, do mundo em que vivemos. 
Atualmente, na correria das profissões, queremos cuidar de tudo e 
acabamos nos esquecendo de nós mesmos. É, no entanto, quase im-
perdoável o fato de um homem não cuidar de si mesmo. A vaidade é 
uma imposição social da qual homem algum escapa.
A vaidade masculina já está tão presente no cotidiano que “uma 
linha de produtos criados especialmente para atender as necessida-
des” do homem moderno foi desenvolvida pela Natura. A fórmula dos 
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
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produtos possui “ativos naturais” e é de “fácil aplicação”. Tudo de que 
um homem vaidoso e ocupado necessita. “Para você se cuidar melhor. 
Para você se sentir melhor”.
O modelo da peça publicitária está com a barba por fazer e, prova-
velmente, de pijama, pois ele está na cama (os lençóis desarrumados 
e, talvez, alguns travesseiros por cima). Esse é justamente o público 
alvo do anúncio: o homem que quer cuidar de tudo, mas não pode se 
esquecer de cuidar de si mesmo. O rapaz não está vestido para sair, está 
sorrindo, descontraído, é charmoso, o que causa a impressão de que 
é preciso ter charme, mesmo em casa. O jovem da foto é publicitário, 
segundo afirma uma pequena legenda no canto inferior esquerdo da 
imagem. Qual publicitário iria trabalhar com a barba por fazer? Isso 
pode acontecer, claro, até por uma questão de estilo, mas, nesse caso, 
parece que o momento de “descontração”, muito marcado pela barba 
por fazer, é passageiro.
Outro anúncio do “Boticário” (Men’s Health, n. 21, Jan./2008, p. 11) 
apresenta uma “linha de cuidados para o homem”. Um pequeno “guia” 
feito para o sujeito contemporâneo, anexado ao anúncio, traz passo a 
passo a explicação dos produtos da linha (para o cabelo, o rosto e o 
corpo) de acordo com a idade. Há até produtos para combater o en-
velhecimento e seus consequentes sinais. Definitivamente, não é mais 
somente a mulher que cede “ao desejo de prender a mocidade fugitiva”, 
como diz Machado de Assis (2002, p. 53) em Esaú e Jacó. A dica para 
a entrada do homem no mundo da vaidade é apresentada pela mulher, 
uma mestra quando o assunto é “cosmético”. O homem é introduzido 
nesse novo mundo por ela, que, nesse anúncio, aparece para servi-lo. 
Segundo Vestergaard e Schroder (2000, p. 109),
raramente as mulheres aparecem nos anúncios 
dirigidos ao público masculino. Quando 
isso acontece, sua imagem comprova que as 
características femininas mais apreciadas pelos 
homens são o reconhecimento da inferioridade e 
da dependência, assim como a pronta disposição 
em servi-los.
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
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No anúncio, uma mulher jovem e bela segura o guia. O enunciado, no 
canto superior direito – “As mulheres não sabem mesmo guardar segre-
do” – traz uma informação implícita comprovada pelo uso do advérbio 
mesmo com a função de intensificador, de que as mulheres não sabem 
guardar segredo, o que pode produzir a interpretação, talvez inadequada, 
mas não impossível, de que as mulheres são “fofoqueiras” ou, citando 
Vestergaard e Schroder (2000, p. 99), fazem “mexericos”, que seria uma 
“relação que permite às mulheres troca de experiências, queixas, segredos 
e ajuda mútua sem a interferência do homem”. Essa informação pode ser 
preconceituosa em relação às mulheres. Há, aqui, a voz da sociedade e 
dos machistas que acreditam que elas possuem tal característica. 
Com relação ao tópico vestuário, concordamos com as observações 
de que
Todos nós precisamos comer e beber o suficiente 
para nos mantermos vivos, de roupas para nos 
mantermos aquecidos e enxutos, e, dependendo 
das condições climáticas, de abrigo contra 
as intempéries (...). Estes são exemplos de 
necessidades materiais. As pessoas, contudo, 
não vivem isoladas. Também precisamos de 
amor, de amizade e do reconhecimento de nossos 
semelhantes; precisamos pertencer a grupos, 
ter consciência desse pertencimento e de nós 
mesmos como individualidades em relação aos 
grupos sociais circundantes. São exemplos de 
necessidades sociais. É difícil dizer quais são 
as necessidades mais importantes. Se as nossas 
necessidades materiais não forem satisfeitas, 
morreremos de fome ou de frio; se não o forem 
as necessidades sociais, tenderemos a sofrer 
problemas psicológicos. (...) O vestuário é um 
produto que satisfaz tanto as necessidades 
materiais como as sociais. (VESTERGAARD e 
SCHRODER, 2000, p. 5)
Atualmente, a maioria dos homens tem consciência de que determi-
nado estilo de roupa é adequado, ou não, a determinada situação. O 
despertar da vaidade no universo masculino modificou diversas carac-
terísticas dos homens. Uma delas é a de que eles nunca se preocuparam 
com roupas, nunca se importaram com cor e em estar vestidos de acordo 
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
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com a ocasião. Isso mudou. Os anúncios de roupas sugerem que os 
homens vaidosos sabem e preocupam-se em vestir branco para passar 
a virada do ano, por exemplo. Em uma revista de dezembro, nada mais 
sugestivo do que associar a cor branca da roupa ao Reveillon. 
Nada melhor do que a presença de um homem com muito charme 
para representar a vaidade masculina. É interessante observar a camisa do 
jovem em um dos anúncios examinados (Men’s Health, n. 23, março/2008, 
p. 41). Antigamente, o homem, que não entendia nada de moda ou estilo, 
acharia estranho ver outro homem, machão, usando uma camisa com 
“flores”. Esse seria o julgamento do antigo e tradicional, já o vaidoso e 
atual sabe apreciar uma estampa bonita, mesmo florida. Mais uma vez, 
a vaidade masculina: o homem passou a apreciar e a entender a moda, 
e a torná-la uma forte aliada na hora da conquista. Que mulher resistiria 
a um homem charmoso, com olhar cativante e bem vestido?
Fig. 2: Men’s Health, n. 24, abril/2008, p. 9. 
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
19Nonada • 14 • 2010
Novamente a presença do homem charmoso e elegante em uma peça 
publicitária (Fig. 2), praticamente o símbolo da vaidade masculina. O 
uso da camisa social e da gravata dá ao modelo um ar de superioridade 
e confiança, subentendendo que o homem vaidoso atinge “voos mais 
altos”, consegue atingir os seus objetivos, pois confia em si mesmo. A 
vaidade faz com que os homens se sintam mais confiáveis e seguros. 
O leitor que estiver folheando a revista e deparar-se com esse anúncio 
fará de tudo para se parecer com o modelo, pois ele é “forte”, não de 
maneira bruta e tradicional, mas no sentido de segurança. São homens 
que sabem que conseguirão o que querem.
O uso da abotoadura na manga da camisa com cristal Swarovski de-
monstra queo metrossexual não se preocupa em usar uma “pedrinha 
brilhante” em uma peça de seu vestuário, pelo contrário, ele aprecia-a 
e sabe que ela é uma joia. O homem “tradicional” jamais usaria camisa 
com “pedrinha brilhante”, porém o moderno sabe o quão charmoso e 
elegante fica seu visual devido à presença do cristal, que dá um tom de 
realeza, de riqueza, subentendida na peça publicitária. Mais uma vez, o 
publicitário opta pelo não-uso dos recursos linguísticos. A imagem diz 
tudo! O rapaz é jovem, elegante, charmoso e bem vestido. Até mesmo 
o seu olhar possui um “ar vaidoso”.
Em outro anúncio (Men’s Health, n. 27, julho/2008, contra-capa), o apelo 
à vaidade masculina está bem explícito. A frase no alto – “Você nasceu 
para conquistar” – dirige-se diretamente (uso do pronome de tratamento 
você) e com bastante intimidade aos homens. Se eles se vestirem como o 
modelo do anúncio, com certeza terão muitas conquistas, desde o coração 
das mulheres até um bom emprego. O homem vaidoso nasceu para vencer, 
como lembra Alves (2008, p. 226): “Vencer pela força, pela inteligência, 
pela razão, pelo dinheiro, pelo tamanho, pelo sexo... Enfim, vencer”.
Outro anúncio (Men’s Health, n. 28, agosto/2008, contra-capa) não 
possui texto escrito, a não ser a marca, o que é completamente explicável 
quando observamos a imagem visual. O jovem modelo sorridente, super 
elegante, sozinho em uma praia paradisíaca destaca-se e brilha em meio 
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
20 Nonada • 14 • 2010
à paisagem. Lembramos aqui da citação de Carvalho (2002, p.11) sobre 
a publicidade. Para ela, “na mensagem publicitária (...) tudo são luzes, 
calor e encanto, numa beleza perfeita e não-perecível”.
Na seção “Carta do Editor” (Men’s Health, n. 19, novembro/2007, 
p. 10), Airton Seligman diz que a “idéia não é” saber “apenas o que 
usar, mas por que e como você deveria vestir uma” determinada 
“peça” para “conquistar degraus na vida profissional, social e se-
xual”. 
3 PALAVRAS FInAIS
A vaidade ganhou lugar de destaque ao se mencionar o sexo mascu-
lino, fato comprovado pela presença do tema no discurso publicitário. O 
homem atual é, ou precisa ser (ou parecer) jovem, seguro, musculoso, 
imponente, independente e, acima de tudo, vaidoso. O acréscimo da 
última característica cria, no contexto histórico, cultural e social atual, 
a nova identidade do gênero masculino, acrescida de beleza, gentileza, 
sensibilidade, compreensão, dentre outras novidades. Se os homens 
sempre foram vaidosos, pelo menos não podiam dizê-lo ou demonstrá-
lo, como agora.
A publicidade, segundo Carvalho (2002, p. 10), “pode ser conside-
rada a mola mestra das mudanças verificadas nas diversas esferas do 
comportamento e da mentalidade” das pessoas de uma determinada 
época. A mídia mostra o contexto, as ideologias, os sujeitos, as forma-
ções imaginárias e acaba delimitando as características daquele mo-
mento. Então, “se as agências” publicitárias “conhecerem o seu ofício, 
é de esperar que a propaganda reflita muito de perto as tendências do 
momento e os sistemas de valores da sociedade”. (VESTERGAARD e 
SCHRODER, 2000, p. 9)
Ao analisar a revista Men’s Health como um todo, percebemos o 
perfil do seu leitor por meio, não somente das peças publicitárias como 
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
21Nonada • 14 • 2010
também das reportagens. A publicação é destinada ao público mascu-
lino que possui boa renda – os produtos anunciados vão de roupas de 
grifes até aparelhos tecnológicos de última geração –, preocupa-se com 
a saúde, com a maneira de vestir e com a aparência, tanto em relação 
ao aspecto físico quanto ao estético (corpo musculoso e porte atléti-
co). Essas características têm o objetivo de construir um modelo a ser 
seguido para inseri-lo em sua época. Carvalho (2002, p. 17) diz que “o 
discurso publicitário é um dos instrumentos de controle social e, para 
bem realizar essa função, simula igualitarismo, remove da estrutura 
de superfície indicadores de autoridade e poder, substituindo-os pela 
linguagem da sedução”. 
Na seção “Carta do Editor” publicada na revista Men’s Health de 
Outubro de 2007 (p. 10), Airton Seligman inicia seu pensamento com 
a frase “Vaidade é coisa séria”. E, realmente, é. A vaidade masculina 
faz com que o homem se cuide mais, cuide da saúde, da pele e, assim, 
evite problemas que poderiam atrapalhar o seu bem estar. A vaidade, 
sem exageros, é benéfica, pois alerta o homem para questões antes 
desprezadas e faz com que ele se sinta mais confiante, saudável, segu-
ro, satisfeito consigo mesmo e bonito. Segundo Seligman, “o homem 
brasileiro está numa nova era”; ele está “mais leve, mais focado em si, 
mais ambicioso e menos brucutu”. 
Trechos da seção “Carta do Editor” de algumas edições da revista Men’s 
Health possibilitaram-nos entender como o assunto vaidade masculina 
é abordado no mundo “deles”. Na “Carta do Editor” de Novembro de 
2008 (p. 12), Airton Seligman diz que “a forma como você se veste e 
penteia o cabelo, a armação dos seus óculos, o tecido da sua camisa (...), 
a idade do seu relógio, tudo isso conspira para...” causar um impacto no 
“interlocutor antes mesmo de você” se apresentar. E completa: “regras de 
estilo (...) podem pavimentar o caminho para suas idéias, tirar da frente 
eventuais rejeições e ganhar a confiança do interlocutor”. Esses trechos 
são dicas de homem para homem. O editor aborda tais assuntos logo no 
início da revista não apenas para introduzir uma matéria que aparecerá 
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
22 Nonada • 14 • 2010
algumas páginas à frente, mas também para chamar a atenção dos leitores 
e lembrá-los da sua importância no mundo atual. 
Os homens devem ter em mente que o seu visual, desde o relógio 
até a armação dos óculos, revela ao interlocutor a sua personalidade. 
São pistas que surgem na mente do interlocutor e ajudam-no a montar 
a imagem das pessoas com quem ele está se comunicando. É a questão 
das formações imaginárias que auxilia na percepção das características 
masculinas. Mais um trecho que prova que a aparência diz tudo sobre 
alguém é da “Carta do Editor” da revista de Outubro de 2008 (p. 12), em 
que Seligman diz “Cuidar da pele, do cabelo, estar cheiroso são armas 
reais, eficientes, na busca de nossas metas, sejam elas profissionais, 
sexuais ou sociais”. São os três âmbitos em que os homens visam ter 
sucesso: profissional, sexual e social.
A relação entre homens e mulheres modificou-se bastante devido 
ao surgimento dos homens vaidosos, dos metrossexuais. Antigamente, 
eles não se preocupavam em mudar o estilo, a aparência, o jeito de ser 
para chamar a atenção delas, para conquistá-las. Hoje em dia, buscam 
todas as armas que possam ajudá-los a conseguir a aparência perfeita 
e agradar as mulheres. Ou seja, precisam cuidar do corpo, da pele, do 
cabelo, da saúde, até mesmo de sua personalidade para se tornarem o 
amigo, o namorado, o marido perfeito para elas. Esse fato demonstra 
como as representações, tanto do masculino quanto do feminino, estão 
sendo transformadas com o passar dos anos e de acordo com as novas 
características que cada um dos sexos apresenta. Por essa razão, não 
há uma identidade única e permanente que defina os gêneros sociais. 
O “conceito de gênero acentua a noção de que, ao longo da vida, por 
meio das mais diversas instituições e práticas sociais, as pessoas se 
constituem como homens ou mulheres em um processo que não é linear, 
progressivo ou harmônico, e que nunca está finalizado ou completo”. 
(PIRES e FERRAZ, 2008, p. 26)
Apesar das recentes transformações que envolvemo relacionamento 
entre homens e mulheres, algumas características antigas permanece-
Maria Inês Ghilardi-Lucena e Janaína Fernandes Possati
23Nonada • 14 • 2010
ram. Na “Carta do Editor” da revista de Outubro de 2008 (p. 12), Airton 
Seligman comenta que “Cuidar da aparência é uma jogada bem prática, 
portanto masculina.”, o que remete nossos pensamentos à ideia pre-
sente no imaginário coletivo de que os homens são bastante práticos e 
decididos e as mulheres estão sempre em dúvida e “enrolam” quando 
precisam tomar alguma decisão ou atitude. O comentário de Seligman 
representa as vozes da sociedade e dos homens que pensam dessa ma-
neira em relação às mulheres. A informação implícita prova que, apesar 
de todas as mudanças pelas quais o gênero masculino passou, algumas 
especificidades pode ser que não mudem nunca, pois são marcas da 
(antiga) masculinidade. 
REFERênCIAS
ALVES, Maria Marcelita Pereira. Vencer é preciso! Considerações sobre 
o universo masculino. In: GHILARDI-LUCENA, Maria Inês e OLIVEIRA, 
Francisco de. (orgs.) Representações do masculino: mídia, literatura e 
sociedade. Campinas, SP: Alínea, 2008, p. 225-236.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. 12. ed., São Paulo, SP: Ática, 2002, 
p. 53. 
 
CARVALHO, N. de. Publicidade: a linguagem da sedução. 3. ed., São 
Paulo: Ática, 2002.
GARBOGGINI, Flailda. O metrossexual: um homem do terceiro tipo. 
In: GHILARDI-LUCENA, Maria Inês e OLIVEIRA, Francisco de. (orgs.) 
Representações do masculino: mídia, literatura e sociedade. Campinas, 
SP: Editora Alínea, 2008, p. 77-92.
OLIVEIRA, Ana M. Dantas C. de Miranda. Masculinidade e pós-
modernidade. A imagem do homem e o fim das grandes narrativas. 
In: GHILARDI-LUCENA, Maria Inês e OLIVEIRA, Francisco de. (orgs.) 
Representações do masculino: mídia, literatura e sociedade. Campinas, 
SP: Alínea, 2008, p. 173-188.
PIRES, Vera Lúcia e FERRAZ, Márcia M. Severo. Do machismo ao 
masculino. O vínculo de relações de gênero transformou o homem? 
In: GHILARDI-LUCENA, Maria Inês e OLIVEIRA, Francisco de. (orgs.) 
Representações do masculino: mídia, literatura e sociedade. Campinas, 
SP: Alínea, 2008, p. 23-38.
O gênero masculino na publicidade de cosméticos e vestuário
24 Nonada • 14 • 2010
PIRES, Vera Lúcia e GIACOMELLI, Karina. Reflexões sobre gênero social 
sob uma perspectiva dialógica. In: MOTTA-ROTH, Désirée et all. 2. ed., 
Santa Maria: PPGL Editores 2008, p. 199-220.
VESTERGAARD, T. e SCHRODER, K. A Linguagem da Propaganda. 
Tradução: João Alves dos Santos e Gilson César Cardoso de Souza. 3. 
ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MARIA INêS GHILARDI-LUCENA
Docente e Pesquisadora do Centro de Linguagem e Comunicação da 
PUC-Campinas. Grupo de Pesquisa Estudos do Discurso, CNPq.
E-mail: migl@dgenet.com.br
JANAíNA FERNANDES POSSATI
Bolsista de Iniciação Científica FAPIC-Reitoria 2008-2009, Faculdade de 
Letras, CLC, PUC-Campinas
E-mail: janainapossatti@bol.com.br
Recebido em 20/07/2010
Aceito em 30/07/2010
GHILARDI-LUCENA, Maria Inês; POSSATI, Janaína Fernandes. O 
gênero masculino na publicidade de cosméticos. Nonada Letras em 
Revista. Porto Alegre, ano 13, n. 14, p. 11-24.

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