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UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 1 MÓDULOS DA DISCIPLINA “Conversão de Energia” Estes módulos são um compilamento acerca do conteúdo abordado na disciplina. Partes de textos, tabelas e figuras foram extraídos de referências mencionadas no início de cada módulo e de páginas da internet. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 2 MÓDULO I Revisão de Magnetismo e Eletromagnetismo Este módulo é um compilamento acerca do conteúdo abordado. Textos, tabelas e figuras foram extraídos da referência abaixo. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA NEVES, E. G. C., MÜNCHOW, R. Capítulo 2 – Características magnéticas dos materiais magnéticos. Circuitos magnéticos. Disciplina de Máquinas e Transformadores Elétricos. UFPEL. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 1.1 INTRODUÇÃO O transformador é um importante componente do processo global de conversão energética. As técnicas desenvolvidas na análise de transformadores formam a base da discussão sobre máquinas elétricas, que seguirão em disciplinas seguintes a esta. Praticamente todos os transformadores e máquinas elétricas usam material ferromagnético para direcionar e dar forma a campos magnéticos, os quais atuam como meio de transferência e conversão de energia. Materiais magnéticos permanentes, ou imãs, também são largamente usados. Sem esses materiais, não seriam possíveis as implementações práticas da maioria dos dispositivos eletromecânicos de energia. A capacidade de analisar e descrever sistemas que contenham esses materiais é essencial ao projeto e entendimento desses dispositivos eletromecânicos de conversão de energia. Na maior parte das vezes os campos magnéticos, antes de constituírem em um fim em si mesmo, são um meio utilizado para alcançar um resultado; em outras palavras, geralmente não há sentido em gerar um campo magnético sem que este se destine à obtenção de algum outro tipo de fenômeno. Uma das maiores utilidades de um campo magnético é servir como "intermediário" para a transformação de energia elétrica em mecânica – e vice-versa -, em um processo conhecido como conversão eletro-mecânica de energia, presente nas máquinas elétricas. No caso de um gerador, por exemplo, a energia mecânica fornecida por uma fonte externa (digamos, um motor a gasolina) é transformada em energia elétrica, como mostra a figura 1.1; é o campo magnético quem propicia esta transformação. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 3 ENERGIA MECÂNICA CAMPO MAGNÉTICO ENERGIA ELÉTRICA Figura 1.1 – Fluxo de energia em um gerador elétrico. Máquinas e transformadores que utilizam campos magnéticos têm seus elementos constitutivos projetados de forma a proporcionar uma otimização na distribuição espacial destes campos. Esses dispositivos se constituem em verdadeiros circuitos magnéticos, distribuindo os fluxos magnéticos de maneira adequada ao bom funcionamento da máquina ou transformador. 1.2 PERMEABILIDADE MAGNÉTICA A permeabilidade magnética, simbolizada pela letra grega μ, é uma grandeza característica de cada material e se refere à sua capacidade em "aceitar" a existência de linhas de indução em seu interior. Assim, quanto maior for a permeabilidade de um material, mais facilmente se "instalarão" linhas de indução em seu interior. A permeabilidade magnética de um material pode ser comparada à condutância de um corpo: enquanto esta exprime o grau de "facilidade" com que a corrente elétrica percorre este corpo, aquela mede o grau de "facilidade" com que o fluxo magnético se estabelece no interior de um material. (a) (b) Figura 1.2 - Distribuição das linhas de indução geradas pela corrente i em um enrolamento: (a) com núcleo de ar; (b) com núcleo de material de alta permeabilidade magnética relativa. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL) Denomina-se permeabilidade magnética relativa (μr) de um material à relação. 𝜇𝑟 = 𝜇 𝜇0 (1.1) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 4 onde μ é a permeabilidade do material e μo = 4𝜋10-7 Wb/A.m é a permeabilidade magnética do vácuo. Então, um material com μr = 1.000 é capaz de aceitar em seu interior um número de linhas mil vezes maior que o vácuo. Para melhor visualizar esta propriedade, observe-se a figura 1.2, que mostra dois casos de distribuição de linhas de indução geradas pela corrente i que circula num enrolamento. Em (a) não existe núcleo (ou, como se costuma dizer, a bobina tem núcleo de ar ) e as linhas se espalham por todo o espaço em torno do enrolamento; já em (b), as linhas de indução se concentram no interior do núcleo em torno do qual é feito o enrolamento, graças à elevada permeabilidade relativa do material, resultando em um fluxo magnético mais intenso. As poucas linhas que "escapam" através do espaço em torno do núcleo constituem o chamado fluxo de dispersão. A classificação magnética dos materiais é feita de acordo com sua permeabilidade magnética (ver tabela 1.1): a) Materiais paramagnéticos são aqueles que cuja permeabilidade relativa é pouco maior que 1. Tais substâncias são levemente atraídas por campos magnéticos excepcionalmente fortes, porém esta atração é tão fraca que são consideradas não magnéticas. Nessa classe se encontra um grande número de substâncias, como o ar, o alumínio e a madeira. b) Materiais diamagnéticos, como o bismuto, o cobre e a água, possuem permeabilidade relativa um pouco menor que 1, sendo levemente repelidos por campos magnéticos muito fortes. Também aqui estas forças são muito fracas, sendo esses materiais considerados não-magnéticos. c) Materiais ferromagnéticos, ou simplesmente materiais magnéticos, possuem permeabilidade relativa muito maior que 1, sendo fortemente atraídos por campos magnéticos em geral. Nesta categoria se incluem substâncias como o ferro, o cobalto, o níquel e algumas ligas industriais. A tabela 1.1 mostra o valor da permeabilidade magnética relativa de alguns materiais. É importante observar que se tratam de valores médios de permeabilidade, já que, como se verá adiante, esta pode variar significativamente de acordo com a intensidade dos campos magnéticos a que são submetidos os materiais. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 5 Tabela 1.1 – Permeabilidade e classificação magnética de alguns materiais. (1) Liga composta por ferro (17%), molibdênio (4%) e níquel (79%). Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL) 1.3 TEORIA DE GAUSS-EWING Embora sejam usadas há muito tempo, as propriedades magnéticas dos materiais até hoje não são perfeitamente explicadas. Acredita-se que a "fonte" do magnetismo está no movimento orbital dos elétrons em torno dos núcleos, gerando campos magnéticos infinitesimais. A chamada Teoria de Gauss-Ewing postula que em grande parte dos materiais esses campos se cancelam mutuamente devido ao movimento desordenado dos elétrons; nos materiais ferromagnéticos, entretanto, certos grupos de átomos estão "pareados", de forma que seus campos se somam, formando o que se chama de domínios magnéticos, cada um dos quais pode ser representado por um dipolo magnético semelhante a um ímã. Porém, numa dada amostra de material ferromagnético, o alinhamento dos domínios é também desordenado, como se mostra na figura 1.3 (a), de formaque o material como um todo não apresenta qualquer característica magnética (uma exceção seria um mineral conhecido como magnetita, que naturalmente apresenta-se magnetizado; é, portanto, o único ímã natural que se conhece). No entanto, se um campo magnético externo de intensidade H for aplicado à amostra, os domínios tendem a se alinhar por ele, como se vê na figura 1.3 (b), reforçando assim as propriedades magnéticas do material. A amostra comporta-se como um ímã, cujos pólos são mostrados na figura; como se verá na Seção 1.4, esta "imantação" poderá ou não ser permanente, isto é, subsistir após a retirada do campo externo, dependendo do valor do mesmo. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 6 (a) (b) Figura 1.3 - Domínios em uma amostra de material: (a) não-magnético ou não magnetizado; (b) magnetizado pela aplicação de um campo magnético externo H. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). Esta teoria explica satisfatoriamente algumas características dos materiais magnéticos: imãs naturais já teriam os domínios naturalmente alinhados, de forma a produzir os efeitos magnéticos sem a necessidade de campo externo; não se consegue isolar os pólos de um ímã: se um desses for partido ao meio obtém-se dois ímãs completos, cada um com um pólo N e outro S; quando um ímã é submetido a choque mecânico ou aquecimento, pode perder sua imantação: é que a energia fornecida ao material nesses casos pode ser suficiente para desarranjar a orientação dos domínios; para se magnetizar uma agulha deve-se "esfregá-la" com o pólo de um ímã passado sempre no mesmo sentido: o ímã produz o papel de campo externo necessário e a movimentação constante promove um alinhamento dos domínios sempre no mesmo sentido. Quando um material magnético é submetido a um campo externo �⃗⃗� , a indução magnética �⃗� é dada pela soma dos efeitos devidos ao campo externo e ao vetor chamado polarização magnética �⃗⃗� , isto é: �⃗� = 𝜇0(�⃗⃗� + �⃗⃗� ) equação que, em módulo, pode ser colocada sob a forma 𝐵 = 𝜇0 (1 + 𝑀 𝐻 )𝑀 O termo entre parênteses representa a permeabilidade magnética relativa do material, portanto UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 7 𝐵 = 𝜇0. 𝜇𝑟 . 𝐻 portanto, de acordo com a equação 1.1 𝐵 = 𝜇.𝐻 (1.2) 1.4 CURVAS DE MAGNETIZAÇÃO Medidas realizadas em laboratório mostram que a relação B x H dada pela equação 1.2 é essencialmente não-linear: se for traçado um gráfico relacionando o campo externo H com a indução magnética B no material, obtém-se uma curva do tipo mostrado na figura 1.4, conhecida como curva de magnetização ou característica B x H do material. A Teoria de Gauss-Ewing também explica o comportamento dessas curvas: Figura 1.4 - Curva de magnetização típica de materiais magnéticos. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). Na região I acontece um crescimento dos domínios favoravelmente alinhados com o campo externo. Nessa região as alterações são reversíveis: se o campo externo for retirado, os domínios voltarão a sua situação original, sem haver "fixação" das características magnéticas na amostra. Se H for aumentado até a região II, o aumento dos domínios é acompanhado de uma tendência de alinhamento de outros domínios com o campo externo. A partir dessa região, os efeitos magnéticos tornam-se irreversíveis, de forma que o material fica magnetizado mesmo se o campo externo for anulado. Na região III, a maioria dos domínios já está alinhada com o campo externo, de modo que é necessário um grande incremento de H para se conseguir um discreto aumento de B. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 8 Na região IV, todos os domínios da amostra estão alinhados com o campo externo; portanto um aumento de H não produz qualquer alteração de B. Diz-se que, nesta situação, o material atingiu a saturação magnética. Se for estabelecida uma pequena alteração ∆H no valor do campo magnético, haverá um correspondente incremento ∆B na indução magnética. A equação 1.2 permite concluir que 𝜇 = ∆𝐵 ∆𝐻 Se ∆𝐻 → 0 esta equação se transforma em uma derivada, que pode ser representada geometricamente pela tangente à curva B x H em cada ponto. Vê-se, então, que a permeabilidade magnética não pode ser considerada uma constante: no ponto a mostrado na Fig. 1.4 a permeabilidade é maior que no ponto b. A exceção é feita para o vácuo, onde a permeabilidade é considerada constante e igual a 4𝜋.10-7 Wb/A.m. Na figura 1.5 são mostradas as curvas de magnetização de alguns materiais magnéticos usados em aplicações comerciais. Figura 1.5 - Curvas de magnetização de alguns materiais magnéticos comerciais. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). * 1 Gauss (G) = 10-4 Tesla (T); 1 Tesla (T) = 104 Gauss(G) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 9 1.5 HISTERESE Suponha-se que uma amostra de material magnético seja submetida a um campo magnético de intensidade H variável com o tempo (este é o caso típico de núcleos em torno dos quais são feitos enrolamentos excitados por CA). Se a amostra estiver inicialmente desmagnetizada e o campo for aumentando até o valor H1, a curva B x H segue a linha 0-a mostrada na figura 1.6. Caso o valor de H1 seja suficientemente elevado para atingir a região II da curva de magnetização, quando o campo externo decrescer a curva seguirá pela linha a-b, de modo que para H = 0 o valor de B será dado pela ordenada 0-b; este valor é chamado de magnetização residual, pois é a magnetização que "resta" no material após o campo externo ter-se reduzido a zero. Figura 1.6 - Formação do laço de Histerese. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). Para desmagnetizar a amostra será necessário inverter o sentido do campo e aumentar sua intensidade, valor conhecido como força coercitiva (este termo é derivado do verbo coagir, que significa obrigar, forçar. Se o campo continuar aumentando até o valor - H1 (isto é, no sentido contrário ao inicial), a curva B x H seguirá a linha c-d. No semiciclo seguinte o raciocínio é o mesmo, de forma que após completado um ciclo obtém-se uma curva semelhante à mostrada na figura 1.6, chamada curva de histerese. A forma do laço de histerese de um dado material depende do máximo valor do campo atingido no ciclo (H1). A curva obtida pela ligação dos vértices dos laços de histerese obtidos para diferentes valores de H1é chamada curva normal de magnetização. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 10 Quando um material é submetido a um campo magnético externo alternado, seus domínios estarão em contínuo movimento, buscando alinhar-se com H. Isso causa um "atrito" entre os domínios, aquecendo o material e ocasionando as chamadas perdas por histerese. Demonstra-se que essas perdas são proporcionais à área encerrada na curva de histerese. Comprova-se experimentalmente que a potência dissipada por unidade de volume de material durante um ciclo de histerese é dada por 𝑃ℎ = 𝑘ℎ . 𝑓. 𝐵𝑀 𝑛 (1.3) onde Kh e n são constantes que dependem do material e da própria densidade do campo magnético, enquanto f é a frequência do campo magnético (em Hz) e BM é o máximo valor de B alcançado durante o ciclo. 1.6 CIRCUITOS MAGNÉTICOS Nos dispositivos eletromecânicos e transformadores – e aí se incluem geradores, motores, contatores, relés, etc. – a utilização de enrolamentos e núcleos objetiva o estabelecimento de fluxos magnéticos como meio de acoplamento na transformaçãode energia elétrica. Nesses dispositivos, a função do núcleo é "canalizar" para os pontos desejados as linhas de indução do campo magnético geradas pelos enrolamentos. Fazendo uma analogia com os circuitos elétricos, os enrolamentos seriam como fontes, os fluxos magnéticos equivaleriam a correntes e os núcleos fariam o papel de condutores. Para tornar mais evidente esta analogia, tome-se um núcleo toroidal, como o da figura 1.7 (a), com seção transversal circular de raio r, confeccionado com um material de elevada permeabilidade magnética 𝜇. Em torno do mesmo é feito um enrolamento de N espiras onde circula a corrente constante I, gerando um campo magnético. Como a permeabilidade do material magnético é muito maior que a do ar que o circunda, é válido pensar que as linhas de indução estarão confinadas ao núcleo. (a) (b) Figura 1.7 - Bobina toroidal: (a) aspecto físico; (b) circuito elétrico análogo. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). Pode-se deduzir que o campo magnético no interior desse núcleo não é uniforme, já que as espiras estão mais próximas entre si na parte interna do que na externa, o que UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 11 significa que o campo vai enfraquecendo em direção à parte exterior do núcleo. Para contornar esse problema, que dificulta o processo de cálculos, toma-se a linha de indução correspondente a um raio médio R, representada por uma linha tracejada na figura 1.7(a) e aplica-se a Lei de Ampère. Como cada uma das espiras transporta a corrente I e contribui para a formação do campo no interior do núcleo, a corrente total é NI, então ∮ �⃗⃗� 𝑑𝑙 = 𝐻𝑙 = 𝑁𝐼 onde l = 2𝜋R corresponde ao comprimento médio do núcleo. Uma vez que a corrente no enrolamento é a "fonte" geradora do magnetismo, o termo NI é chamado de força magnetomotriz (abreviadamente f.m.m.), simbolizada por F. Então ℱ𝑚𝑚 = 𝑁𝐼 = 𝐻𝑙 (1.4) As principais unidades de f.m.m. são: Ampère-espira (A-e) – usada no Sistema Internacional e Gilbert = 0,7958 A-e. O fluxo magnético 𝛷 no interior do núcleo será: 𝜙 = 𝐵𝑆 = 𝜇𝐻𝑆 = 𝜇 𝑆 𝑙 ℱ𝑚𝑚 ou, ainda ℱ𝑚𝑚 = ( 1 𝜇 . 𝑙 𝑆 )𝜙 (1.5) O termo entre parênteses nessa equação lembra a expressão para o cálculo da resistência elétrica R de um corpo, dada por 𝑅 = 1 𝜎 . 𝑙 𝑆 onde 𝜎 é a condutividade elétrica do material, l é o comprimento do condutor e S é a área de sua seção transversal. Por esta razão, denomina-se relutância (ℛ) à relação ℛ = 1 𝜇 . 𝑙 𝑆 (1.6) cuja unidade no Sistema Internacional é o Ampère-espira/Webber (A-e/Wb). Assim, a equação 1.5 pode ser reescrita como ℱ𝑚𝑚 = ℛ. 𝜙 (1.7) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 12 que é a chamada Lei de Ohm para circuitos magnéticos, dada sua semelhança com a lei homônima para circuitos elétricos. A semelhança entre os circuitos magnéticos e elétricos é evidente. Na tabela 1.2 mostra-se a analogia entre as grandezas mais comumente encontradas em um e outro tipo de circuito. O circuito elétrico análogo ao da figura 1.7(a) é mostrado na figura 1.7(b). Tabela 1.2 - Analogia entre grandezas dos circuitos elétricos e magnéticos. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL) ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 1. Uma bobina é confeccionada com 500 espiras enroladas em torno de um núcleo toroidal semelhante ao da figura 1.7(a), sendo a = 11 cm e b = 9 cm. Desejando-se estabelecer no interior desse núcleo um fluxo magnético médio igual a 0,2 mWb, determinar a corrente I necessária, supondo-se que o material é: (a) plástico; (b) ferro fundido; (c) aço fundido. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Em circuitos magnéticos práticos, tais como em máquinas elétricas e transformadores, normalmente existem peças móveis, de modo que os núcleos possuem espaços livres chamados entreferros. Ao cruzarem o entreferro, as linhas de indução se deformam - criando o chamado efeito de espalhamento – devido ao aumento da relutância neste trecho, como se vê na figura 1.8(a). Na maioria das situações esse efeito pode ser desconsiderado; porém, se forem necessários cálculos mais precisos pode-se corrigir a influência dessa deformação somando-se à cada uma das dimensões relativas à seção do entreferro o comprimento do mesmo. Assim, se a e b forem respectivamente a largura e a profundidade do núcleo e g for o comprimento do entreferro, como se mostra na figura 1.8(b), a seção reta do entreferro será dada por 𝑆 = (𝑎 + 𝑔). (𝑏 + 𝑔) (1.8) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 13 (a) (b) Figura 1.8 - Efeito de espalhamento: (a) deformação das linhas de indução no entreferro; (b) dimensões usadas para a correção. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). Outro fator que deve ser considerado em cálculos mais precisos é o fluxo de dispersão, já mencionado na Seção 1.2. Porém, desde que o material tenha permeabilidade magnética relativa muito alta, este fluxo tem valor muito baixo e sua influência nos resultados é desprezível. Um último aspecto a ser considerado nos cálculos em circuitos magnéticos é que normalmente os núcleos são laminados, como forma de redução das correntes parasitas. Então, a espessura do isolamento que separa cada par de lâminas deve ser descontada no cálculo da área; em outras palavras, a área efetivamente disponível para o fluxo (Sf) é menor que a área total do núcleo (S). Figura 1.9 – Laminação do núcleo. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). A relação entre essas duas áreas é chamada de fator de empilhamento (fep) (esta relação também é conhecida como fator de ferro ou fator de laminação), isto é 𝑓𝑒𝑝 = 𝑆𝑓 𝑆 (1.9) valor que também pode ser expresso em termos percentuais. A analogia entre os circuitos magnéticos e elétricos pode ser estendida. A relutância ao longo de um dispositivo eletromagnético pode variar, devido à mudança de dimensões, de permeabilidade (quando se usam materiais diferentes, por exemplo) ou à existência de entreferros. Então, a relutância de cada um desses trechos pode ser considerada um "elemento", de sorte que haverá circuitos série ou paralelo. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 14 a) Circuito magnético série: quando todos os elementos são "atravessados" pelo mesmo fluxo magnético 𝜙. Se n for o número de elementos associados em série, a f.m.m. total será dada pela soma das f.m.m. parciais, isto é ℱ𝑚𝑚ℱ = ℱ𝑚𝑚1 + ℱ𝑚𝑚2 + ⋯+ ℱ𝑚𝑚𝑛 (1.10) que equivale à Lei das Tensões de Kirchoff dos circuitos elétricos. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 2. O circuito magnético da figura 1.10(a) tem enrolamento de 1.500 espiras. Determinar a corrente I necessária para estabelecer um fluxo de 10 mWb nos entreferros, sabendo que o fator de empilhamento do elemento de aço-silício é igual a 90%, enquanto que o elemento de aço fundido é maciço. Desprezar o efeito do espalhamento e o fluxo de dispersão. (a) (b) Figura 1.10 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- b) Circuito magnético paralelo: a f.m.m. em cada um dos elementos é aproximadamente a mesma; o fluxo magnético total é dado pela somaalgébrica dos fluxos magnéticos individuais, isto é 𝜙ℱ𝑚𝑚 = 𝜙1 + 𝜙2 + ⋯+ 𝜙𝑛 (1.11) onde n é o número de elementos (percursos) do núcleo. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 3. O núcleo da figura 1.11(a) é de aço fundido maciço, sendo o enrolamento dividido em duas partes, cada qual com número N de espiras. Sabendo que uma corrente de 0,8 A produz no entreferro um fluxo magnético igual a 5 mWb, determinar o valor de N. Desprezar o efeito do espalhamento e o fluxo de dispersão. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 15 (a) (b) Figura 1.11 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Nos exercícios anteriores observa-se que, apesar de seu pequeno comprimento, o entreferro "concentra" uma f.m.m. bastante elevada; isto se deve à sua elevada relutância a qual, por sua vez, resulta da baixa permeabilidade magnética do ar. Esta constatação é útil na solução de outro tipo de problema: a determinação do fluxo magnético uma vez conhecida a f.m.m. Nesse caso, como não se conhece o valor de B no núcleo, não é possível o cálculo de H – e consequentemente ℱ𝑚𝑚 de – no elemento. Um método simplificado para a solução nesses casos é o das aproximações sucessivas: Supõe-se, inicialmente, que toda a relutância do circuito está contida no entreferro e calcula-se a ℱ𝑚𝑚 requerida, comparando-a à ℱ𝑚𝑚 real. Ajusta-se, então, o valor de B para mais ou para menos e repete-se os cálculos. Prossegue-se assim até que a f.m.m. dada e a calculada atinjam uma diferença pré-fixada (por exemplo, 5%) e, por fim, calcula-se o fluxo. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Exercício 4. Dado o núcleo maciço de aço fundido da figura 1.12(a), determinar o fluxo magnético em seu entreferro, sabendo-se que I = 0,5 A e N = 1.000 espiras. Desconsiderar os efeitos do espelhamento e do fluxo de dispersão. (a) (b) Figura 1.12 - (a) circuito magnético; (b) circuito elétrico análogo. Fonte: (NEVES e MÜNCHOW, UFPEL). UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 16 MÓDULO II Transformadores Este módulo é um compilamento acerca do conteúdo abordado. Trechos de textos, tabelas e figuras foram extraídos das referências abaixo e de algumas páginas da web. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FITZGERALD, A. Máquinas Elétricas. São Paulo: Mc-Graw-Hill do Brasil. KOSOW, I. W. Máquinas elétricas e transformadores. São Paulo: Globo, 5ª edição, 1998. OLIVEIRA, J. C. Transformadores, teoria e ensaios. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 1984. http://www.escoladoeletrotecnico.com.br – Curso preparatório para concursos. Aula 2, 2009. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.1 DEFINIÇÕES FUNDAMENTAIS O transformador opera segundo o princípio da indução mútua entre duas (ou mais) bobinas ou circuito indutivamente acoplados. Um transformador teórico de núcleo a ar, no qual dois circuitos são acoplados por indução magnética, é visto na figura 2.1. Observe que os circuitos não são ligados fisicamente (não há conexão condutiva entre eles). O circuito ligado à fonte de tensão alternada, V1, é chamado primário (circuito 1). O primário recebe sua energia de uma fonte alternada. Dependendo do grau de acoplamento magnético entre dois circuitos, Eq. 2.1, esta energia é transferida do circuito 1 ao circuito 2. Se os dois circuitos são frouxamente acoplados, como no caso do transformador a núcleo de ar, mostrado na figura 2.1, somente uma pequena quantidade de energia é transferida do primário (circuito 1) para o secundário (circuito 2). Se as duas bobinas ou circuitos estão enrolados sobre um núcleo comum de ferro, eles estão fortemente acoplados. Neste caso, quase toda a energia recebida da fonte, pelo primário, é transferida por ação transformadora ao secundário. Figura 2.1 – transformador de núcleo de ar, indutivamente acoplado, com os símbolos definidos. Fonte: KOSOW (1982). UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 17 As seguintes definições aplicam-se ao transformador da figura 2.1. V1 – é a tensão de suprimento aplicada ao primário, circuito 1, em volts. r1 é a resistência do circuito primário, em ohms. L1 é a indutância do circuito primário, em henries. XL1 é a reatância indutiva do circuito primário, em ohms. Z1 é a impedância do circuito primário, em ohms. I1 é o valor médio quadrático da corrente drenada da fonte pelo primário, em ampères. E1 é a tensão induzida no enrolamento primário (ou circuito). E2 tensão induzida no enrolamento secundário (ou circuito). I2 é o valor médio quadrático da corrente entregue pelo circuito secundário à carga ligada a seus terminais r2 resistência do circuito secundário (excluída a carga), em ohms. V2 é a tensão que aparece nos terminais do enrolamento secundário, em volts. L2 é a indutância do circuito secundário, em henries. XL2 é a reatância indutiva do circuito secundário, em ohms. Z2 é a impedância do circuito secundário (excluída a carga), em ohms. 𝜙1 é a componente de dispersão do fluxo que concatena apenas com a bobina 1. 𝜙2 é a componente de dispersão do fluxo que concatena apenas com a bobina 2. 𝜙𝑚 é o fluxo mútuo, compartilhado por ambos os circuitos, concatenando as bobinas 1 e 2. M indutância mútua entre as duas bobinas (ou circuitos) produzidas pelo fluxo mútuo (𝜙𝑚), em henries. Note-se o significado da convenção dos pontos, usada na figura 2.1 para mostrar a polaridade instantânea positiva da tensão alternada induzida em ambos os enrolamentos, primário e secundário, como resultado da tensão de transformação. Assim, quando V1 é instantaneamente positivo, uma tensão E1 é induzida no enrolamento primário, de uma polaridade tal eu se opõe a V1, de acordo com a lei de Lenz, como mostra a figura 2.1. Também deve-se notar na figura 2.1 que a corrente I2 está em oposição em relação a corrente I1. Isto também está de acordo com a Lei de Lenz, uma vez que I1 produz 𝝓𝒎 , I2 deve circular numa direção tal que se oponha a I1, e (ao mesmo tempo) que esteja conforme a polaridade instantânea E2, como se vê na figura 2.1. A polaridade instantânea de E2 e I2 estabelece a polaridade instantânea de V2 (terminal positivo) e a direção da corrente na carga. O coeficiente de acoplamento, k, entre duas bobinas, é a relação do fluxo mútuo para o fluxo total, definido como: 𝑘 = 𝜙𝑚 𝜙𝑚 + 𝜙1 = 𝑀 √𝐿1. 𝐿2 (2.1) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 18 Onde todos os termos foram definidos. Se as duas bobinas estão frouxamente acopladas, como no transformador de núcleo de ar, da figura 2.1, termos 𝜙𝑚 e 𝜙2 são pequenos em comparação a 𝜙1. Como consequência, os termos 𝐿2 e M são pequenos em comparação 𝐿1. A substituição na eq. 2.1 leva um valor pequeno do coeficiente de acoplamento k. Isto por sua vez, leva a um valor pequeno de E2 e V2 (em comparação a E1 e V1). Para qualquer carga dada, assim, um pequeno valor de V1 leva um pequeno valor da corrente de carga I2. Estabelece-se simplesmente, então, que para o acoplamento frouxo, a potência transferida ao circuito secundário, E2.I2, é relativamente pequena. Transformadoresque têm acoplamento frouxo são usados principalmente em comunicação em alta frequência e em circuitos eletrônicos. Praticamente, todos os transformadores usados em aplicações relativas a máquinas e potência, entretanto, são transformadores de núcleo de ferro, fortemente acoplados. Se as bobinas ou circuitos são estreitamente acoplados, e os fluxos dispersos 𝜙1 𝑒 𝜙2 são relativamente pequenos em comparação a 𝜙𝑚 , a indutância mútua M entre as duas bobinas é grande como o são os termos E2, I2 e V2. Neste caso, a energia transformadora E2.I2.t . Tanto quando possível, o projeto dos transformadores de potência, de núcleo de ferro, tenta fazê-los atingir um coeficiente de acoplamento unitário ( k = 1 ) tal que na eq. 2.1 𝑀 = √𝐿1. 𝐿2, como no caso de um transformador ideal. O acoplamento entre os dois circuitos é aumentado se porções de ambas as bobinas são enroladas no mesmo formato e se são colocadas sobre um núcleo magnético de baixa relutância. Tais considerações tendem a reduzir 𝜙1 𝑒 𝜙2. Mas, mesmo com ótimos projetos, é impossível atingir condições de transformador ideal – um que não tenha fluxos dispersos no primário ou no secundário, e tenha acoplamento unitário. Apesar disto, a discussão subsequente começa com um transformador ideal, com a finalidade de simplificar a compreensão das relações do transformador que se seguem. Após, será abordado o transformador prático de potência. 2.2 RELAÇÕES NO TRANSFORMADOR IDEAL Considere um transformador ideal, de núcleo de ferro, conforme mostra a figura 2.2, onde os fluxos dispersos 𝜙1 e 𝜙2 = 0 e k = 1. Tal transformador possui apenas fluxo mútuo 𝜙𝑚, comum a ambas as bobinas, primária e secundária. Quando V1 é instantaneamente positivo, como se vê na figura 2.2, a direção da corrente primária I1 produz a direção do fluxo mútuo 𝜙𝑚, como se vê. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 19 Figura 2.2 – Transformador de núcleo de ferro, caso ideal. Fonte: KOSOW (1982). A força eletromotriz induzida primária, E1, de acordo com a convenção dos pontos e com a lei de Lenz, produz uma polaridade positiva na parte superior da bobina primária, que se opõe instantaneamente à tensão aplicada V1. Semelhantemente, no secundário, para a direção de 𝜙𝑚 mostrada, a polaridade positiva de E2 deve ser tal que crie um fluxo desmagnetizante oposto 𝜙𝑚 (Lei de Lenz). Uma carga ligada aos terminais do secundário produz uma corrente secundária I2, que circula em resposta à polaridade de E2 e produz um fluxo desmagnetizante. Estamos agora em condições de compreender qualitativamente como um transformador desenvolve potência secundária e transfere potência do primário para o secundário, na forma seguinte: 1. Imagine um circuito aberto, impedância infinita ou carga zero no secundário, e I2 = 0. 2. Como resultado do fluxo alternativo mútuo 𝜙𝑚 (criado pela tensão aplicada) são produzidas forças eletromotrizes E1 e E2 tendo a polaridade instantânea mostrada como respeito a 𝜙𝑚 (figura 2.2). 3. Uma pequena corrente primária, Im, conhecida como corrente de magnetização, deve circular mesmo quando o transformador está descarregado. A corrente é pequena, porque a fem induzida primária, E1, se opõe à tensão aplicada, V1, a cada instante. O valor de Im é uma função primariamente da relutância do circuito magnético, Rm, e do valor de pico do fluxo magnetizante, 𝜙𝑝𝑚, para um dado número de espiras primárias. 4. Como mostra a figura 2.3(a), o valor pequeno de Im se atrasa, em relação à tensão primária, de 90° produzindo 𝜙𝑚. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 20 (a) (b) (c) Figura 2.3 – Relações fasoriais no transformador ideal: (a) relações primárias a vazio; (b) relações secundárias, transformador carregado; (c) relações primárias, transformador carregado. Fonte: KOSOW (1982). 5. 𝜙𝑚, por sua vez, requer 90° para produzir as tensões induzidas primária e secundária, E1 e E2. Estas tensões induzidas estão em fase uma com a outra, por serem ambas produzidas por 𝜙𝑚. Note que E1, na figura 2.3 (a) opõe-se a V1 (lei de Lenz). Sem carga, a figura 2.3 (a) representa todas as relações de corrente e tensão num transformador ideal. 6. Imagine uma carga em atraso (indutiva) ligada aos terminais do secundário do transformado ideal da figura 2.2. Tal carga produz uma corrente I2 atrasada em relação a E2 de um ângulo 𝜃2, como se vê na figura 2.3 (b). 7. Os ampère-espiras secundários, N2I2, como mostra a figura 2.2, tendem a produzir um fluxo desmagnetizante que reduz o fluxo mútuo 𝜙𝑚, e as tensões indizidas E2 e E1, instantaneamente. 8. A redução de E1 produz uma componente primária da corrente de carga, I1’ que circula no primário, tal que I1’N1 = I2N2, restabelecendo 𝜙𝑚 em seu valor original. Note-se que, na figura 2.3(b), I1’ se atrasa em relação a V1 de 𝜃1 ′ , enquanto I2 se atrasa em relação a E2 de 𝜃2, tais que 𝜃1 ′ = 𝜃2. Esta última igualdade é necessária a fim de que os ampère-espiras primários restaurados N1I1’ sejam iguais e opostos aos ampère-espiras secundários desmagnetizantes N2I2. 9. O efeito da componente primária da corrente de carga I1’ é visto na figura 2.3 (c), onde a corrente primária I1 é a soma fasorial de Im e I1’. Dois pontos devem ser notados no que diz respeito às relações do fator de potência no circuito primário da figura: a) O ângulo de fase do primário diminui de seu valor original sem carga de 90° a seu valor 𝜃1 com carga, e UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 21 b) O ângulo de fase do circuito primário não é exatamente o mesmo do circuito secundário. (para uma carga em atraso 𝜃1 > 𝜃2). Os passos citados revelam a maneira pela qual o circuito primário responde à carga no circuito secundário. A igualdade entre a fmm desmagnetizante do secundário N2I2 e a componente primária da fmm N1 I1’, que circula devido à carga para equilibrar sua ação desmagnetizante, como se descreveu no item 8, pode ser sumarizada e rearranjada como: 𝐼1 ′𝑁1 = 𝐼2𝑁2 (2.2a) ou 𝐼2 𝐼1 ′ = 𝑁1 𝑁2 = 𝛼 (2.2b) Sendo: 𝛼 é a relação das espiras primárias para as secundárias ou a relação de transformação; 𝐼1 ′ é a componente de carga da corrente primária; 𝐼2 é a corrente secundária ou de carga; 𝑁1 e 𝑁2 são os números de espiras do primário e secundário, respectivamente. O significado da relação de transformação, 𝛼, na eq. 2.2b, é que ela é fixa (não constante) para qualquer transformador dado (já construído) dependendo de sua aplicação. Consequentemente, a componente de carga da corrente primária pode ser calculada para qualquer valor da corrente secundária de carga. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 1. O lado de alta tensão de um transformador tem 500 espiras, enquanto o de baixa tensão tem 100 espiras. Quando ligado como abaixador, a corrente de carga é de 12 A. Calcule: a) A relação de transformação 𝛼. b) A componente de carga da corrente primária. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 2. Calcule a relação de transformação do transformador do exercício 1, quando usado como transformador elevador. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Os exercícios 1 e 2 mostram que a relação de transformação, 𝛼, é fixa parauma dada aplicação, mas não constante. Quando usado como transformador abaixador, 𝛼 = 5, mas, quando usado como transformador elevador, 𝛼 = 0,2. Desde que os termos elevador e abaixador referem-se às tensões, bem como aos lados de alta tensão e baixa tensão, a UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 22 relação de transformação pode ser estabelecida em função das tensões, usando a quantificação de Neumann da Lei de Faraday. 𝐸1 = 𝑁1 𝑑𝜙𝑚 𝑑𝑡 (2.3) e 𝐸2 = 𝑁2 𝑑𝜙𝑚 𝑑𝑡 (2.4) Uma vez que a relação de variação do fluxo mútuo que concatena primário e secundário é a mesma, 𝑑𝜙𝑚 𝑑𝑡 , dividindo a eq. 2.3 pela eq. 2.4 teremos 𝛼 em função das tensões ou 𝛼 = 𝑁1 𝑁2 = 𝐸1 𝐸2 = 𝑉1 𝑉2 (2.5) A equação 2.5 estabelece que as relações das tensões primárias para as secundárias são proporcionais às relações dos números de espiras primárias para secundárias. Também se verifica que a relação de transformação, 𝛼, é a maior que a unidade para um transformador abaixador, mas é menor que a unidade para um transformador elevador. Considerando as equações 2.2b e 2.5, tem-se: 𝛼 = 𝑁1 𝑁2 = 𝐼2 𝐼1 ′ = 𝐸1 𝐸2 = 𝑉1 𝑉2 (2.6) Que pode ser transposta para conduzir à relação fundamental de potência entre o primário e o secundário. 𝐸1𝐼1 ′ = 𝐸2𝐼2 (2.7) E, se a componente de carga da corrente primária, 𝐼1 ′ , é muito maior que a corrente de magnetização, Im, pode-se escrever: 𝐸1𝐼1 = 𝐸2𝐼2 (𝑜𝑛𝑑𝑒 𝐼𝑚 é 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑟𝑒𝑧í𝑣𝑒𝑙) (2.8) Para um transformador ideal, sem perdas, não tendo fluxos dispersos primários nem secundários (reatâncias de dispersão nulas), podemos dizer que: 𝑉1𝐼1 = 𝑉2𝐼2 (𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙) (2.9) A eq. 2.9 verifica a definição fundamental de um transformador como dispositivo que transfere energia de um circuito para outro. Para um transformador ideal, os volt-ampères drenados da fonte alternativa, V1I1 são iguais aos volt-ampères transferidos ao secundário e entregues à carga V2I2, onde todos os termos foram definidos na seção 2.1. A eq. 2.9 também estabelece um meio de especificar um transformador volt-ampères (VA) ou quilovolt- ampères (kVA), onde V1 e I1 são os valores nominais da tensão e da corrente primária, respectivamente, e V2 e I2 os valores nominais secundários da tensão e da corrente, respectivamente. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 23 Exercício 3. Um transformador de 4,6 kVA, 2300/115 V, 60 Hz foi projetado para ter uma fem induzida de 2,5 volts/espira. Imaginando-o um transformador ideal, calcule: a) O número de espiras do enrolamento de alta. b) O número de espiras do enrolamento de baixa. c) A corrente nominal para o enrolamento de alta. d) A corrente nominal para o enrolamento de baixa. e) A relação de transformação funcionando como elevador. f) A relação de transformador funcionando como abaixador. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Como visto no exercício 3, a relação volts/espiras é a mesma para ambos os enrolamentos, de alta e baixa tensões. Pode-se mostrar que este valor é diretamente proporcional ao valor de pico do fluxo mútuo, 𝜙𝑝𝑚, e à frequência, conforme expressa a relação volts/ espira. 𝐸2 𝑁2 = 𝐸1 𝑁1 = 4,44. 𝑓. 𝜙𝑝𝑚. 10 −8𝑣𝑜𝑙𝑡/𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎 = 𝑘𝑓(𝐵𝑚𝐴) (2.10) Sendo que: Bm é a máxima densidade de fluxo permissível A é a área do núcleo do transformador 𝜙𝑝𝑚 = 𝐵𝑚𝐴 O significado da eq. 2.10 não pode ser desconsiderado, por que estabelece o máximo fluxo permissível ou a máxima densidade de fluxo permissível a uma dada frequência e a uma dada tensão. Assim, os transformadores projetados para operação a uma dada frequência não podem ser operados em outras frequências sem as correspondentes alterações na tensão aplicada. Nestas condições, para o caso de um transformador com dois enrolamentos, considerando um mesmo k e mesmo 𝜙𝑝𝑚, a alteração na tensão aplicada no transformador por conta da modificação da frequência de operação pode ser calculada com a seguinte relação: de ser feita do modo seguinte: 𝑉𝑓𝑝 𝑉𝑓0 = 𝑘. 𝑓𝑝 . 𝜙𝑝𝑚 𝑘. 𝑓𝑜 . 𝜙𝑝𝑚 Sendo: 𝑉𝑓𝑝 a tensão de projeto; 𝑉𝑓0 a tensão de operação; 𝑓𝑝 a frequência de projeto; 𝑓𝑜 a frequência de operação. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 24 Nota: Dedução da equação 2.10 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 4. Um transformador de 1kVA, 600/20 V, 400 Hz, 3000/100 espiras deve ser utilizado a partir de uma rede de 60 Hz. Mantendo a mesma densidade de fluxo permissível, calcule: a) A máxima tensão que se pode aplicar nos enrolamentos de alta e baixa tensão. b) A relação Volt/espira a 400 Hz e a 60 Hz na AT. c) A capacidade em kVA no transformador a 60 Hz. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 5. Um transformador de 1 kVA, 220/110 V, 400 Hz deve ser usado em 60 Hz. Calcule: a) A tensão que pode ser aplicada no lado de alta tensão e a máxima saída do lado de baixa tensão. b) Os kVA nominais do transformador sob as condições de frequência reduzida. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.3 IMPEDÂNCIA REFLETIDA, TRANSFORMAÇÃO DE IMPEDÂNCIA E TRANSFORMADORES REAIS O transformador a núcleo de ferro da figura 2.2, é mostrado novamente na figura 2.4(a), com uma carga ZL ligada aos terminais do secundário. Note-se que, se a carga for removida, o transformador fica a vazio, I2 = 0; e a impedância, ZL, é infinita (desde que ZL = V2/ I2). Para qualquer valor da impedância de carga, ZL, a impedância secundária, vista olhando-se os terminar secundário a partir da carga, como mostra a figura 2.4(b), é UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 25 𝑍2 = 𝑉2 𝐼2 (2.11) Similarmente, a impedância equivalente de entrada, olhando-se os terminais primários a partir da fonte, como mostra a figura 2.4(b), é 𝑍1 = 𝑉1 𝐼1 ′ (2.12) Desde que qualquer alteração na impedância de carga e na corrente do secundário reflete-se como uma alteração na corrente primária, é, algumas vezes, conveniente simplificar o transformador representando-o por um único circuito equivalente. Isto implica refletir a impedância secundária ao primário, como 𝑍1 = 𝑉1 𝐼1 ′ Mas 𝑉1 = 𝛼𝑉2, como se viu na eq. 2.5, e 𝐼1 ′ = 𝐼2/𝛼, como mostra a eq. (2.6); então 𝑍1 = 𝛼𝑉2 𝐼2/𝛼 = 𝛼2 𝑉2 𝐼2 (a) (b) (c) Figura 2.4 – Impedância refletida ao secundário e ao primário: (a) Transformador real com carga; (b) Impedância equivalente de saída e de entrada; (c) Impedância equivalente refletida. Fonte: KOSOW (1982). Mas V2/ I2, é a impedância secundária Z2, como mostra a eq. 2.11. Então, 𝑍1 = 𝛼 2𝑍2 𝑜𝑢 𝑍1 𝑍2 = 𝛼2 = ( 𝑁1 𝑁2 ) 2 (2.13) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 26 A figura 2.4(c) mostra a impedância olhando-se para dentro dos terminais a partir da fonte quando a impedância secundária foi refletida de volta ao primário. Admita-se agora que o secundário está a circuito aberto, com forme a figura 2.4(c),e que a impedância do enrolamento secundário é desprezível comparada à impedância da carga ZL, que é igual a Z2. A eq. 2.13 estabelece que a relação da impedância de entrada para a de saída é (igual a) o quadrado da relação de transformação. Desde que 𝑍1 = 𝛼 2𝑍2, esta relação implica em que os transformadores podem servir como dispositivos para o acoplamento de impedâncias, de modo a prover a máxima transferência de potência de um circuito a outro. Um exemplo comum é o caso de um transformador de saída, usado para acoplar a impedância da carga do alto falante à impedância de saída de um amplificador de áudio. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 6. O lado de alta tensão de um transformador abaixador tem 800 espiras e o lado de baixa tensão tem 100 espiras. Uma tensão de 240 V é aplicada do lado de alta e uma impedância de carga de 3 Ω é ligada do lado de baixa tensão. Calcule: a) A corrente e a tensão secundárias. b) A corrente primária. c) A impedância de entrada do primário a partir da relação entre a tensão e a corrente primárias. d) A impedância de entrada do primário por meio da eq. (2.13). ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 7. Um servo- amplificador CA tem uma impedância de saída de 250 Ω e o servo- motor CA, que ele deve acionar, tem uma impedância de 2,5 Ω. Calcule: a) A relação de transformação do transformador que faça o acoplamento da impedância do servo- amplificador à do servo-motor. b) O número de espiras do primário se o secundário tem 10 espiras. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.4 O TRANSFORMADOR REAL Um transformador real, de núcleo de ferro, carregado é representado na figura 2.5(a). Embora “hermeticamente” acoplado pelo núcleo de ferro, uma pequena porção do fluxo disperso é produzida nos enrolamentos primário e secundário, 𝜙1 e 𝜙2, respectivamente, além do fluxo mútuo, 𝜙𝑚, como mostra a figura 2.5(a). O fluxo disperso primário𝜙1 produz uma reatância indutiva primária XL1. O fluxo disperso secundário 𝜙2 produz uma reatância indutiva secundária, XL2. Além disto, os enrolamentos primário e secundário são constituídos de condutores de cobre, que têm certa resistência. A resistência interna do enrolamento primário é r1 e a do secundário é r2. As resistências e reatâncias dos enrolamentos do primário e secundário, respectivamente, produzem quedas de tensão no interior do transformador, como resultado das correntes primária e secundária. Embora estas quedas de tensão sejam UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 27 internas, é conveniente representá-las externamente como parâmetros puros em série com um transformador ideal, como mostra a figura 2.5(b). (a) Fluxos dispersos em um transformador real carregado. (b)Resistências e reatâncias primárias e secundárias, ocasionando quedas de tensão. Figura 2.5 – Transformador real. O transformador ideal, mostrado na figura 2.5(b), é imaginado sem quedas internas nas resistências e reatâncias de seus enrolamentos. A dispersão foi incluída na queda de tensão primária I1Z1, e na queda de tensão secundária I2Z2. Uma vez que estas são quedas de tensão indutivas, pela teoria da corrente alternada podemos dizer que a impedância interna primária do transformador é 𝑍1 = 𝑟1 + 𝑗𝑋𝐿1 , sendo que todos os termos foram definidos na seção 2.1 (2.14) E a impedância secundária interna do transformador é 𝑍2 = 𝑟2 + 𝑗𝑋𝐿2 ,sendo que todos os termos foram definidos na seção 2.1 (2.15) É possível agora ver a relação entre as tensões terminais e induzidas do primário e secundário, respectivamente. De acordo com a equação 2.10, as fem induzidas primária e secundária podem ser avaliadas a partir da relação fundamental: 𝐸1 = 4.44𝑓𝑁1𝐵𝑚𝐴. 10 −8𝑉 (2.16) 𝐸2 = 4.44𝑓𝑁2𝐵𝑚𝐴. 10 −8𝑉 (2.17) Onde todos os termos foram definidos anteriormente. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 28 Mas, desde que é relativamente difícil avaliar 𝐵𝑚, a máxima densidade de fluxo permissível no transformador a partir de medições de tensão e corrente, as relações que seguem, e que também provem da figura 2.5(b), permitem que sejam computadas as fem induzidas primária e secundária: 𝐸1̇ = 𝑉1̇ − (𝐼1𝑍1̇) = 𝑉1̇ − 𝐼1(𝑟1 + 𝑗𝑋𝐿1) (2.18) 𝐸2̇ = 𝑉2̇ + (𝐼2𝑍2̇) = 𝑉2̇ + 𝐼2(𝑟2 + 𝑗𝑋𝐿2) (2.19) Note-se, pela figura 2.5(b) e eq. 2.18, que a tensão aplicada ao primário, V1, é maior que a fem induzida no enrolamento primário, E1. E também pela figura 2.5(b) e eq. 2.19, que as fem induzida no enrolamento secundário, E2, é maior que a tensão nos terminais secundário, V2. Assim, pode-se escrever: 𝑉1 > 𝐸1 e 𝐸2 > 𝑉2 (2.20) Para um transformador real, carregado. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 8. Um transformador abaixador de 500 kVA, 60 Hz, 2300/230 V, tem os seguintes parâmetros: r1 = 0,1 Ω, XL1 = 0,3 Ω, r2 = 0,001 Ω, XL2 = 0,003 Ω. Quando o transformador é usado como abaixador e está com carga nominal, calcule: a) As correntes primária e secundária. b) As impedâncias internas primária e secundárias. c) As quedas internas de tensão primária e secundária. d) As fem induzidas primária e secundária, imaginando-se que as tensões nos terminais e induzidas estão em fase. e) A relação entre as fem induzidas primária e secundária, e entre as respectivas tensões terminais. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 9. A partir das tensões terminais e correntes primárias e secundárias do exercício 8, calcule: a) A impedância de carga ZL. b) A impedância primária de entrada, Zp. c) Compare ZL com Z2 e Zp com Z1. d) Estabeleça as diferenças entre as impedâncias do item c. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.5 CIRCUITOS EQUIVALENTES PARA UM TRANSFORMADOR REAL DE POTÊNCIA É possível usar transformações de impedância para desenvolver o circuito equivalente de um transformador real. Um tal circuito equivalente é útil na solução de problemas correlatos com o rendimento e regulação em tensão de um transformador. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 29 I1 I’2 r1 α 2r2x1 α 2x2 α2.ZLRm Xm Im V1 (a) Circuito equivalente de um transformador de potência. I1 I’2 α 2r2 α 2x2 α2.ZLRm Xm Im V1 αV2 (b) Circuito equivalente aproximado com resistências e reatâncias refletidas ao primário. α V2 I1 Re1 xe1 α2.ZLV1 (c) Circuito equivalente simplificado imaginando nula a corrente de magnetização (Im<<I1). Figura 2.6 – Circuitos equivalentes para o transformador de potência. A figura 2.6(a) mostra um circuito com a impedância de carga e a reatância internas secundárias refletidas de volta ao primário. Nota-se que a corrente primária, I1, é a soma da componente primária de magnetização, Im, e da componente correspondente à corrente de carga, I’2. Rm representa o parâmetro equivalente às perdas de potência no ferro e no núcleo do transformador (perdas por histerese e correntes parasitas) e devidas à corrente de magnetização, Im. Xm está em paralelo com Rm e representa a componente reativa do transformador.A figura 2.6(a) é a representação de um transformador que satisfaz as condições dele a vazio e carregado. Se o secundário do transformador mostrado está a circuito aberto, I’2 = 0 e apenas Im circula (I1 = Im) produzindo uma pequena queda interna de tensão na impedância primária Z1 e a queda de tensão primária I1.Z1 são relativamente pequenas, é possível obter-se um circuito equivalente aproximado deslocando o ramo paralelo L-R diretamente junto à fonte de suprimento V1. Fazendo isto, é possível agrupar as resistências UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 30 e reatâncias internas dos circuitos primário e secundário, respectivamente, como mostra a figura 2.6(b), de modo a produzir os seguintes parâmetros equivalentes: 𝑅𝑒1 = 𝑟1 + 𝛼 2𝑟2 = 𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑎𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚á𝑟𝑖𝑜 𝑋𝑒1 = 𝑥1 + 𝛼 2𝑥2 = 𝑟𝑒𝑎𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑎𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚á𝑟𝑖𝑜 𝑍𝑒1 = 𝑅𝑒1 + 𝑋𝑒1 = 𝑖𝑚𝑝𝑒𝑑â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑟𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑎𝑜 𝑝𝑟𝑖𝑚á𝑟𝑖𝑜 Se o transformador é algo carregado, e a componente primária da corrente de carga, I’1, excede Im, esta pode ser considerada como desprezível, como mostra o circuito equivalente da figura 2.6(c). Para um transformador carregado, a corrente primária, dependendo da natureza da carga, é 𝐼1 = 𝑉1 �̇�𝑒1 + 𝛼2�̇�𝐿 = 𝑉1 (𝑅𝑒1 + 𝑗𝑋𝑒1) + 𝛼2(𝑅𝐿 ± 𝑗𝑋𝐿) 𝐼1 = 𝑉1 (𝑅𝑒1 + 𝛼2𝑅𝐿) + 𝑗(𝑋𝑒1 ± 𝛼2𝑋𝐿) Sendo: +jXL representa a reatância de uma carga indutiva e, -jXL representa a reatância de uma carga capacitiva. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 10. Para o transformador dado no exercício 8, calcule: a) A resistência interna equivalente referida ao primário. b) A reatância interna equivalente referida ao primário. c) A impedância interna equivalente referida ao primário. d) A impedância secundária equivalente a uma carga de 0,1057 Ω (resistiva), referida ao primário. e) A corrente primária de carga se a fonte é de 2300 V. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A aproximação da figura 2.6(c) despreza a componente de magnetização, Im, da corrente primária, I1. Com efeito, isto significa que o ângulo de fase da carga secundária é refletido diretamente para primário sem alteração. Se a componente de magnetização da corrente primária é desprezada, obtém-se um diagrama fasorial equivalente simples para o transformador carregado sob quaisquer condições de carga em atraso, em adianto ou fator de potência (FP) unitário, como mostra a figura 2.7. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 31 (a) Carga com FP em avanço. A corrente de carga secundária refletida, 𝐼2/𝛼, adianta- se em relação à tensão secundária refletida da carga, 𝛼𝑉2, de um ângulo de fase em avanço 𝜃2. A diferença fasorial entre 𝛼𝑉2 e 𝑉1, é a queda de tensão na impedância equivalente 𝐼1𝑍𝑒1. A queda na resistência equivalente 𝐼1𝑅𝑒1 está em fase com 𝐼1. A queda na reatância equivalente, 𝐼1𝑋𝑒1, adianta-se 90° em relação a 𝐼1. Devido a estas quedas de tensão equivalentes, a tensão 𝑉1 ainda se adianta em relação a 𝐼1 de um ângulo 𝜃1. O ângulo de adianto 𝜃1 é, necessariamente menor que 𝜃2, devido ao fato de o transformador ser, internamente, indutivo. (b)Carga com FP em atraso. A corrente de carga secundária refletida, 𝐼2/𝛼, atrasa-se em relação à tensão secundária refletida da carga, 𝛼𝑉2, de um ângulo de fase em avanço 𝜃2. A diferença fasorial entre 𝛼𝑉2 e 𝑉1, é a queda de tensão na impedância equivalente 𝐼1𝑍𝑒1. Neste caso, o ângulo em atraso 𝜃1 é maior que o ângulo de fase emm atraso 𝜃2, devido de o transformador ser altamente indutivo e isto tornar o circuito mais indutivo ainda. (c) Carga com FP unitário. A corrente de carga secundária refletida, 𝐼2/𝛼, está em fase com a tensão secundária refletida da carga, 𝛼𝑉2, a um FP unitário, sendo resistiva a carga no secundário do transformador. A diferença fasorial entre 𝛼𝑉2 e 𝑉1, é a queda de tensão na impedância equivalente 𝐼1𝑍𝑒1. A corrente primária 𝐼1 atrasa-se em relação a 𝑉1 de um pequeno ângulo 𝜃1. Com FP unitário no secundário, o primário vê um pequeno atraso entre a corrente primária e a tensão primária, devido a indutância interna total equivalente do transformador. Figura 2.7 – Transformador de potência com condições variáveis de carga secundária. Fonte: KOSOW (1982). 2.6 REGULAÇÃO DE TENSÃO DE UM TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA A regulação de tensão de um transformador (trafo) é definida como sendo a variação de tensão nos terminais do secundário quando se passa da condição sem carga para carga total. É expressa usualmente como uma percentagem da tensão em plena carga. Em aplicações de sistemas de potência, a regulação é uma figura de mérito de um transformador: um valor baixo indica que as variações de carga do secundário do transformador não afetam de forma significativa o valor da tensão fornecida à carga. É calculada supondo que a tensão do primário permanece constante quando a carga é removida do secundário do transformador. Portanto, regulação percentual de tensão é: 𝑅𝑒𝑔% = |𝐸2 − 𝑉2| |𝑉2| . 100% (2.21) UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 32 Sendo: 𝐸2= módulo da fem induzida no secundário do trafo. 𝑉2= módulo da tensão terminal no trafo com carga nominal. 𝐸2 = 𝑉2𝑐𝑜𝑠𝜃2 + 𝐼2𝑅𝑒2 + 𝑗(𝑉2𝑠𝑒𝑛𝜃2 ± 𝐼2𝑋𝑒2) (2.22) - carga capacitiva + carga indutiva 𝑋𝑒2 = 𝑥1 ′ + 𝑥2 𝑅𝑒2 = 𝑟1 ′ + 𝑟2 Lembrando que: 𝑥1 ′ = 𝑥1 𝛼2 𝑟1 ′ = 𝑟1 𝛼2 Figura 2.8 – Regulação da tensão secundária de transformadores – todas as tensões e correntes referidas ao secundário – tensão secundária usada como fator de referência. Fonte: KOSOW (1982). ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 11. Foram feitas medidas num transformador de 500kVA, 2300/230V e encontraram-se os seguintes valores para reatância e resistência equivalente referidos ao secundário (230V). 𝑋𝑒2 = 0,006 𝛺 𝑅𝑒2 = 0,002 𝛺 Calcule: UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 33 a) A fem induzida, E2 quando o transformador estiver entregando a corrente nominal secundária a uma carga de FP unitário. b) Para uma carga com cos 𝜃2 = 0,8 em atraso. c) Para uma carga com cos 𝜃2=0,6 em avanço. d) A regulação de tensão para os itens a, b e c. e) Comente as diferenças na regulação de tensão com referência à figura 2.8. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2.7 PARÂMETROS DE TESTES O transformador embora não seja propriamente um dispositivo de conversão eletromecânica de energia, é um dispositivo importante na análise global de um sistema de energia. Sendo um componente que transfere energia de um circuito elétrico à outro, o transformador toma parte nos sistemas elétricos e eletromecânicos, seja simplesmente para isolar eletricamente os circuitos entre si, seja para ajustar a tensão de saída de um estágio do sistema à tensão de entrada do seguinte, seja para ajustar a impedância do estágio seguinte à impedância do anterior (casamento de impedância), ou para todas essasfinalidades ao mesmo tempo. O transformador opera segundo o princípio da indução mútua entre duas (ou mais) bobinas ou circuitos indutivamente acoplados. Importante salientar que os circuitos não são ligados fisicamente, ou seja, não há conexão condutiva entre eles. O circuito ligado à fonte de tensão é chamado primário e o circuito no qual a carga é conectada, é denominado secundário. 2.8 ENSAIO EM VAZIO O ensaio à vazio de transformadores tem como finalidade a determinação de: Perdas no núcleo (Ph + PF) Corrente à vazio (Io) Relação de transformação (α) Impedância do ramo magnetizante (Zm) 2.8.1 PERDAS NO NÚCLEO O fluxo principal estabelecido no circuito magnético é acompanhado dos efeitos conhecidos por histerese e correntes parasitas de Foucault. Observação: O fluxo magnético na condição de carga ou à vazio é praticamente o mesmo. As perdas por histerese são dadas por: UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 34 𝑃ℎ = 𝑘ℎ. 𝑓. 𝐵 𝑀 (2.23) Lembrando que: 𝑘ℎ é coeficiente de Steimmetz (depende do material) 𝑓 frequência em Hz B é a indução no núcleo Estando o núcleo sujeito a um fluxo alternado, nele serão induzidas forças eletromotrizes com o consequente aparecimento das correntes de Foucault. O produto da resistência do circuito correspondente pelo quadrado da corrente significa um consumo de potência. As perdas por correntes parasitas de Foucault, PF, são dadas por: 𝑃𝐹 = 2,2 𝑓 2𝐵2𝑑210−3 (2.24) Sendo: 𝑓 frequência em Hz. B é a indução máxima em Wb/m2. d = espessura da chapa em mm. Somando as duas perdas analisadas, obtemos as perdas totais no núcleo (Po): 𝑃𝑜 = 𝑃ℎ + 𝑃𝐹 (2.25) 2.8.2 CORRENTE A VAZIO É a corrente absorvida pelo primário para suprir as perdas e para produzir o fluxo magnético. Sua ordem de grandeza é em torno de 5% da corrente nominal de enrolamento. 2.8.3 RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÃO É a proporção que existe entre tensão do primário e do secundário. 𝛼 = 𝐸1 𝐸2 = 𝑁1 𝑁2 ≅ 𝑉1 𝑉2 2.8.4 IMPEDÂNCIA DO RAMO MAGNETIZANTE (Zm) O ramo magnetizante é formado por uma resistência Rm (relacionada com as perdas no núcleo) e por uma reatância Xm (relacionada com a produção do fluxo principal). Para o cálculo de Rm e Xm considera-se um dos circuitos a seguir: UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 35 Figura 2.9 - Ramo magnetizante série. Figura 2.10 - Ramo magnetizante paralelo. Ramo Magnetizante Série 𝑅𝑚𝑠 = 𝑃𝑜 𝐼𝑜2 𝑍𝑚𝑠 = 𝐸1 𝐼𝑜 𝑋𝑚𝑠 = √𝑍𝑚𝑠 2 − 𝑅𝑚𝑠 2 𝜑0 = 𝑎𝑐𝑜𝑠 ( 𝑃𝑜 𝑉𝑜. 𝐼𝑜 ) Ramo Magnetizante Paralelo 𝑅𝑚𝑝 = 𝑉1 𝐼𝑝 𝑋𝑚𝑝 = 𝑉1 𝐼𝑞 𝜑0 = 𝑎𝑐𝑜𝑠 ( 𝑃𝑜 𝑉𝑜. 𝐼𝑜 ) 𝐼𝑝 = 𝐼𝑜. 𝑐𝑜𝑠𝜑0 𝐼𝑞 = 𝐼𝑜. 𝑠𝑒𝑛𝜑0 Observação: O módulo da impedância do ramo magnetizante é muito maior que o módulo da impedância dos enrolamentos primário ou secundário. 𝑍𝑚 ≫ 𝑍1 𝑒 𝑍𝑚 ≫ 𝑍2 2.8.5 EXEMPLO DA EXECUAÇÃO DO ENSAIO I. Material Necessário: 1 transformador 1φ; 1 varivolt 1 φ; UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 36 1 voltímetro; 1 amperímetro; 1 wattímetro; cabos para conexões. II. Preparação: Registrar os dados de placa: Tensões de AT e BT, Correntes de AT e BT, relação de transformação, potência, frequência, etc. III. Montagem: Ligar o transformador a uma fonte de tensão, alimentando-o pelo lado de baixa e deixando o lado de alta tensão em aberto, conforme a figura a seguir: Figura 2.11 – Ensaio a vazio. Para tensão e frequência nominais anote os valores medidos no amperímetro, wattímetro e voltímetro. Questionário para os alunos referente ao ensaio a vazio: 1. Qual enrolamento (AT ou BT) é normalmente utilizado para a execução do ensaio à vazio? Justifique. 2. Porque as perdas no cobre podem ser desprezadas no ensaio a vazio? 3. Analisar o problema das perdas se um transformador com frequência nominal de 50 Hz trabalha com 60 Hz. 4. Caso o ensaio fosse realizado com um transformador trifásico que alterações seriam necessárias? UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 37 5. Porque a laminação do núcleo dos transformadores reduz as perdas por correntes parasitas (Foucault)? 6. Pesquise informações sobre a corrente transitória de magnetização (INRUSH). 7. Desenhe o circuito equivalente do transformador quando este opera a vazio e justifique o desprezo da impedância primária para o cálculo da impedância do ramo magnetizante. 2.9 ENSAIO EM CURTO-CIRCUITO Seja o circuito equivalente de um transformador monofásico (referido primário). Figura 2.12 – Circuito equivalente do transformador monofásico. Caso apliquemos um curto-circuito no secundário serão nulos: A tensão terminal secundária (V2 = 0) A impedância de carga (Zcarga = 0) Além disso, considerando que Vcc é baixo (da ordem de 10% de Vn), a indução no núcleo reduz-se na mesma proporção, conseqüentemente as perdas por histerese (Ph B1,6) e as perdas por corrente de Foucaut (PF α B2) podem ser desprezadas. O circuito equivalente para o ensaio em curto então fica: Figura 2.13 – Circuito equivalente para o ensaio. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 38 Sendo: 𝑅𝑒1 = 𝑟1 + 𝑟′2 𝑋𝑒1 = 𝑥1 + 𝑥′2 Vcc = Tensão aplicada ao primário, quando o secundário está em curto-circuito, e que faz circular a corrente nominal do enrolamento primário. Para a realização do ensaio faz-se necessário circular a corrente nominal do transformador, portanto é aconselhável executar o ensaio no enrolamento de AT que possui uma menor corrente nominal. Assim, os instrumentos de medição serão ligados no enrolamento de AT e curto-circuita-se o enrolamento de BT. Os objetivos do ensaio em curto-circuito são a determinação de: Perdas no cobre; Queda de tensão interna; Impedância, resistência e reatância de dispersão. 2.9.1 PERDAS NO COBRE (Pj) A corrente que circula no transformador depende da carga alimentada pelo mesmo. As perdas nos enrolamentos, que são por efeito joule, podem ser expressas por: Sendo: 𝑅1 = 𝑟1 + 𝑟′2 𝑅2 = 𝑟′1 + 𝑟2 Como as perdas nos enrolamentos são proporcionais ao quadrado da corrente circulante, torna-se necessário estabelecer um ponto de operação a fim de caracterizar as perdas no cobre. Esse ponto de operação corresponde à corrente nominal. 2.9.2 QUEDA DE TENSÃO INTERNA (ΔV) A queda da tensão interna referida à AT, conforme o circuito equivalente simplificado é dada por: ΔV = Z1 I1. Pode-se afirmar que, ao fechar o secundário em curto-circuito, a tensão aplicada ao primário será a própria queda de tensão procurada. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 39 Naturalmente, sendo a queda de tensão função da corrente, isso força a especificação do ponto de operação do transformador que, como anteriormente, corresponderá ao nominal. 2.9.3 IMPEDÂNCIA, RESISTÊNCIA E REATÂNCIA DE DISPERSÃO A tensão induzida no secundário pelo fluxo resultante no núcleo iguala a queda de tensão na impedância de dispersão do secundário e na corrente nominal. Como esta tensão é apenas uma parcela reduzida da tensão nominal, o valorde fluxo magnético no núcleo é reduzido e a admitância de excitação, pode então ser omitida. Nestas condições as correntes de primário e secundário são quase iguais quando referidas ao mesmo lado. A potência de entrada pode ser assumida igual a perda total no cobre nos enrolamentos da alta tensão e baixa tensão. Com base nestas medições do instrumentos de medição, calcula-se os parâmetros do transformador. 𝑍𝑒1 = 𝑉𝑐𝑐 𝐼𝑐𝑐 𝑅𝑒1 = 𝑃𝑐𝑐 𝐼𝑐𝑐2 𝑋𝑒1 = √𝑍𝑒1 2 − 𝑅𝑒1 2 2.9.4 PERDAS ADICIONAIS No ensaio em curto-circuito, verifica-se que há outras perdas além das nos enrolamentos, a saber: nas ferragens, nas cabeças de bobinas e outras. Deste modo, ao se referir ao fato de que a leitura do wattímetro não corresponde precisamente à potência perdida nos enrolamentos, presumem-se essas outras perdas. Nessas circunstâncias o valor da potência obtida pela leitura dos instrumentos será: 𝑃𝑐𝑐 = 𝑃𝐴 + 𝑃𝐽 Sendo: 𝑃𝑐𝑐 é a potência lida no ensaio; 𝑃𝐴 são as perdas adicionais; 𝑃𝐽 são as perdas nos enrolamentos. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 40 Deviso à natureza das perdas adicionais, uma expressão para seu cálculo é bastante difícil de se obter, o que leva ao uso de daods empíricos. Para a obtenção das perdas adicionais é recomendado utilizar a relação: 𝑃𝐴 ≅ 15% 𝑎 20% 𝑃𝑜 2.9.5 EXEMPLO DA EXECUAÇÃO DO ENSAIO I. Material Necessário: 1 transformador 1φ; 1 varivolt 1 φ; 1 voltímetro; 1 amperímetro; 1 wattímetro; cabos para conexões. II. Preparação: Registrar os dados de placa: Tensões de AT e BT, Correntes de AT e BT, relação de transformação, potência, frequência, etc. IV. Montagem: Ligar o transformador à fonte de tensão, alimentando o lado de AT e curto- circuitando o lado de BT conforme o esquema a seguir: Figura 2.14 – Circuito de montagem do ensaio em cc. Após conectar os equipamentos conforme o esquema acima, fazemos circular corrente nominal no transformador. Para tal aumenta-se cuidadosamente o nível de tensão até que Icc = I1 nominal. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 41 A potência medida pelo wattímetro (Pcc) corresponde aproximadamente à potência dissipada nos enrolamentos. A tensão medida pelo voltímetro (Vcc) corresponde aproximadamente à queda de tensão interna. Questionário para os alunos referente ao ensaio de curto-circuito 1. Justifique porque normalmente se utiliza o enrolamento de AT para a execução do ensaio em curto-circuito. 2. Qual a vantagem e desvantagem de um transformador que tenha grande Vcc em sistemas elétricos? 3. Durante o ensaio em curto-circuito, o que ocorre com a indução no núcleo do transformador? Justificar. 4. Ao ensaiar transformadores trifásicos, que alterações são introduzidas no procedimento de cálculo dos parâmetros de transformadores? (Parâmetros de excitação e dispersão). ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 12. Um transformador monofásico de 10kVA, 7967/240 Volts, apresenta uma perda a vazio de 55Watts. Considerando o ramo magnetizante paralelo, determine: a) Iop e Ioq b) o fator de potência do transformador em vazio. c) Os parâmetros do ramo magnetizante. Dado I0 = 0,0234969A referida ao lado de tensão superior. I0 AC A V W A.T. B.T. Figura 2.15 – Ensaio a vazio. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Exercício 13. Certo transformador monofásico de 50 kVA, 60 Hz, 2400/ 240 V apresentou os seguintes resultados nos ensaios de curto-circuito e a vazio: Vazio: Vo = 240V; Io = 5,41 A; Po = 186 W. Curto-circuito: Vcc = 48 V; Icc = nominal (A); Pcc = 617 W. Baseando-se nestes dados, responda as seguintes questões: a) Calcule os parâmetros do ramo magnetizante. b) Calcule os parâmetros de dispersão. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 42 Exercício 14. Um transformador de 10kVA, 60Hz, 4800/240 V apresenta os seguintes resultados: Tensão (V) I (A) P (W) Ensaio 240 1,5 60 Vazio 180 2,08 180 Curto-circuito Determinar o circuito equivalente: a) Referido a A.T. b) Referido a B. T. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 2.10 LIGAÇÕES TRIÂNGULO E ESTRELA DE TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS O transformador trifásico é construído a partir de três transformadores monofásicos, cujos enrolamentos primário e secundário podem ser ligados em Estrela (Y) ou em Triângulo (∆). 𝑆3𝜙 = 3. 𝑆1𝜙 𝑆3𝜙: potência aparente trifásico 𝑆1𝜙: potência aparente monofásico Tipos de ligações a) Ligação ∆-∆ Figura 2.16 – Ligação ∆ - ∆. Fonte: http://www.escoladoeletrotecnico.com.br. Na ligação delta (∆), a tensão de linha (VL) é igual à tensão de fase (VF). UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 43 b) Ligação Y–Y Figura 2.17 – Ligação Y – Y. Fonte: http://www.escoladoeletrotecnico.com.br. Na ligação estrela (Y), a corrente de linha (IL) é igual à corrente de fase (IF). c) Ligação Y-∆ Figura 2.18 – Ligação Y - ∆. Fonte: http://www.escoladoeletrotecnico.com.br. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 44 d) Ligação ∆-Y Figura 2.19 – Ligação ∆ - Y.. Fonte: http://www.escoladoeletrotecnico.com.br. Sendo: VL1 - a tensão de linha no primário do transformador VL2 - a tensão de linha(entre duas fases) no secundário do transformador VF1 - a tensão de fase(entre uma fase e o neutro) no primário do transformador VF2 - a tensão de fase no secundário do transformador IL1 - a corrente de linha no primário do transformador IL2 - a corrente de linha no secundário do transformador IF1 - a corrente de fase no primário do transformador IF2 - a corrente de fase no secundário do transformador a (α) - a relação de transformação do transformador ou a relação de espiras Os transformadores de potência possuem transdutores de temperatura, de pressão e de corrente. O fato de um transformador ter a polaridade aditiva e a outra subtrativa, não impede que eles sejam ligados em paralelo, basta ter o cuidado de interligar terminais de mesma polaridade. Só se pode ligar em paralelo transformadores monofásicos que têm as mesmas tensões. UFT – Palmas – Engenharia Elétrica Conversão de Energia Profa. Dra. Stefani Freitas 45 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 15. Numa ligação Y-∆ trifásica, cada transformador tem uma razão de tensão de 4:1. Se a tensão de linha do primário for de 660 V, calcular: a) a tensão de linha do secundário. b) a tensão através de cada enrolamento do primário. c) a tensão através de cada enrolamento secundário. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Exercício 16. A tensão de linha do secundário de um conjunto de transformadores ∆ - Y é de 411 V. Os transformadores têm uma razão de espiras de 3:1.
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