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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIEˆNCIAS EXATAS Departamento de Matematica Semina´rio de EDO Teorema de Existeˆncia de Soluc¸o˜es para Equac¸o˜oes Diferenciais com as Condic¸o˜es de Caratheodory Farlei Ferreira Silva Belo Horizonte, Dezembro de 2016 1 Suma´rio 1 Introduc¸a˜o 3 2 Pre´-requisitos 4 2.1 Definic¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2.2 Teoremas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2.3 Condic¸o˜es de Caratheodory . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 3 Teorema 6 4 Refereˆncias 10 2 1 Introduc¸a˜o O Teorema da Existeˆncia de Carathe´odory diz que uma equac¸a˜o diferen- cial ordina´ria tem uma soluc¸a˜o em condic¸o˜es relativamente suaves. E´ uma generalizac¸a˜o do teorema de existeˆncia de Peano . O teorema de Peano re- quer que o lado direito da equac¸a˜o diferencial e´ cont´ınua, enquanto que o teorema de Caratheodory mostra a existeˆncia de soluc¸o˜es (num sentido mais geral) para algumas equac¸o˜es descont´ınuos. Considere a equac¸a˜o diferencial { x˙(t) = f(t, x(t)) x(t0) = x0 onde o f func¸a˜o e´ definida em um domı´nio retaˆngular de forma: R = {(t, x) ∈ R×Rn : |t− t0| ≤ a, |x− x0| ≤ b}. O Teorema da existeˆncia de Peano afirma que se f e´ cont´ınua , enta˜o a equac¸a˜o diferencial tem pelo menos uma soluc¸a˜o de uma vizinhanc¸a da condic¸a˜o inicial. No entanto, tambe´m e´ poss´ıvel considerar equac¸o˜es diferenciais com um lado direito descont´ınuo, como a equac¸a˜o. { x˙(t) = h(t) x(0) = 0 onde h indica a func¸a˜o de Heaviside definido pela condic¸a˜o, h(t) = { 0, t ≤ 0 1, t > 0 Faz sentido de considerar a func¸a˜o de rampa x(t) = ∫ t 0 h(s)ds = { 0, t ≤ 0 t, t > 0 como uma soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial. Estritamente falando, pore´m, ela na˜o satisfaz a equac¸a˜o diferencial em t = 0, pois a func¸a˜o na˜o e´ diferencia´vel em t = 0. Isto sugere que a ideia de uma soluc¸a˜o ser alargada para permitir soluc¸o˜es que na˜o sa˜o em todos os lugares diferencia´vel. 3 2 Pre´-requisitos Para falar da Integral de Lebesgue de func¸o˜es reais definidas em subcon- juntos da reta, definir uma estrutura chamada de σ−algebra em um conjunto arbitra´rio X e, atrave´s dessa estrutura, no´s vamos definir o que seriam os espac¸os mensura´veis e, sobre estes espac¸os, vamos definir o que seriam as func¸o˜es mensura´veis. Apo´s isso, vamos definir um tipo especial de func¸a˜o chamado de medida e, a partir da´ı, iremos construir o conceito de Integral de Lebesgue. 2.1 Definic¸o˜es 1 - σ-a´lgebra . Uma famı´lia ℑ de subconjuntos de um conjunto X e´ chamada de σ − algebra se satisfaz as seguintes condic¸o˜es: i. ø, X, ∈ ℑ. ii.A ℑ ⇒ Ac ∈ ℑ. iii.Se (An)n∈N e´ uma sequeˆncia de conjuntos de ℑ, enta˜o ⋃ n∈N An ∈ ℑ. Obs.: E´ imediato que dado um conjunto X , o conjunto de suas partes P (X), assim como o conjunto {ø, X} sa˜o σ − algebra de X , sendo respecti- vamente a maior e a menor das σ − algebra de X . 2 - espac¸o mensura´vel . Um espac¸o mensura´vel e´ um par (X,ℑ) onde X e´ um conjunto qualquer e ℑ e´ uma σ − algebra de X . Os elementos de X sera˜o chamados de conjuntos σ-mensura´veis, ou, quando a σ − algebra estiver impl´ıcita, sera˜o chamados apenas de mensura´veis. 3 - func¸a˜o mensura´vel . Seja X = (X,ℑ) espac¸o mensura´vel. Uma func¸a˜o f : X → R e´ mensura´vel se, para cada α ∈ R o conjunto {x ∈ X ; f(x) > α} esta´ em ℑ, ou seja, e´ mensura´vel. Obs.: Como ja´ introduzi a noc¸a˜o de espac¸o mensura´vel (X,ℑ), que con- siste em um conjunto. Vamos agora considerar func¸o˜es, chamadas de me- didas, definidas em ℑ e tomando valores em R = R ∪ +∞. Estas func¸o˜es podem ser intuitivamente interpretadas como a a´rea, comprimento e massa. Portanto, e´ natural que o seu valor seja nulo no conjunto Ø e que esta seja aditiva para a unia˜o de conjuntos disjuntos. 4 4 - medida . Uma medida e´ uma func¸a˜o µ definida em uma σ−algebra ℑ de um conjunto X e tomando valores em R = R ∪+∞ tal que. i. µ(ø) = 0. ii.µ(A) ≥ 0, ∀ A ∈ ℑ. iii.Se (Ai)i∈N ∈ ℑ e´ uma sequeˆncia de conjuntos disjuntos entre si, enta˜o µ( ⋃ n∈N Ai) = ∑ i∈N µ(Ai). 5 - espac¸o de media . Um espac¸o de media e´ uma tripla (X,ℑ, µ). 6 - func¸a˜o simples . Uma func¸a˜o f : X → R R e´ simples quando seu conjunto imagem e´ finito. Temos que uma func¸a˜o simples f pode ser representada da seguinte forma. f = n∑ i=1 aiℑAi, onde ai ∈ R e Ai ℑ, para todo i = 1, ..., n. 7 - Integral de uma func¸a˜o simples . Seja f ∈ X = (X,ℑ, µ) uma func¸a˜o simples com representac¸a˜o dada por f = n∑ i=1 aiℑAi. Enta˜o a integral de f com respeito a medida µ e´ definida como ∫ fdµ = n∑ i=1 aiℑAi 2.2 Teoremas 1 - Contunuidade Uniforme. Seja I = [a, b] um intervalo limitado fechado e seja f : I → R cont´ınua em I. Enta˜o f e´ uniformemente cont´ınua em I. 2 - Convergeˆncia Mono´tona . Se (fn)n ∈ N ∈ X e´ uma sequeˆncia de func¸o˜es mono´tonas com fn(x) ≤ fn+1(x), ∀ x ∈ X e (fn)n ∈ N convergindo pontualmente para uma func¸a˜o f , enta˜o ∫ fdµ = lim n→∞ ∫ fndµ 5 , com f ∈ X . 3 - Convergeˆncia Dominada . Seja (fn)n ∈ N ∈ X ; fn −→ f com respeito a medida µ, com f uma func¸a˜o mensura´vel. Suponha que existe g integra´vel, g ∈ X ; |fn(x)| ≤ g(x), ∀ x ∈ X, ∀ n ∈ N. Enta˜o∫ fdµ = lim n→∞ ∫ fndµ 4 - Arzela`-Ascoli . Seja f : [a, b] → R; f ∈ ℑ, onde ℑ e´ o conjunto das func¸o˜es cont´ınuas. Com as seguintes condic¸o˜es: i. Equicontinuidade: ou seja, ∀ ǫ > 0, ∃ δ > 0; |x − y| < δ =⇒ |f(x)− f(y)| < ǫ, ∀f ∈ ℑ. ii. Equilimitac¸a˜o: ou seja, ∃ K; |f(x)| < K, ∀ x ∈ [a, b], ∀f ℑ. Enta˜o existe uma subsequeˆncia fn e uma f ; fn(x) −→ f uniformemente. 2.3 Condic¸o˜es de Caratheodory Condic¸o˜es : Seja f de finida em R = {(t, x) ∈ R × Rn : |t − t0| ≤ a, |x− x0| ≤ b}, tal que: i. f(t, x) cont´ınua em x para t fixo. ii. f(t, x) e´ mensura´vel em t para x fixo. iii. |f(t, x)| ≤ g(t) ; g(t) e´ soma´vel, com |t− t0| ≤ a, ∀ (t, x) ∈ R. (Aqui soma´vel e´ no sentido da integral de Lebesgue). Uma EDO que satisfaz essas condic¸o˜es e´ chamada de EDO de Caratheo- dory. 3 Teorema Teorema: Seja f de finida em R = {(t, x) ∈ R × Rn : |t − t0| ≤ a, |x− x0| ≤ b}. Se f(t, x) satisfaz as condic¸o˜es de Caratheodory. Enta˜o no intervalo fechado [t0, t0 + β] existe uma soluc¸a˜o ϕ para a EDO,{ x˙(t) = f(t, x) x(t0) = x0 6 Dem: Considero t ≥ t0, sera´ ana´logo para t ≤ t0. Defino G(t) = ∫ t t0 g(s)ds, t0 ≤ t ≤ t0 + a (1) 0, t < t0 (2) Claramente G e´ cont´ınua na˜o-decrescente, pois g ≥ 0, e G(t0) = 0. Por- tanto (t, x0 ± G(t)) ∈ R para algum intervalo t0 ≤ t ≤ t0 + β ≤ t0 + a, onde β e´ uma constante positiva. Tomo β > 0 e defino uma aproximac¸a˜o ϕj, j = 1, 2..., ϕj(t) = ∫ t−β j t0 f(s, ϕj(s))ds, t0 + β j < t ≤ t0 + β (3) x0, t0 ≤ t ≤ t0 + β j (4) Claramente ϕ1 esta´ definida em t0 ≤ t ≤ t0 + β, para x0 constante. Para algum j ≥ 1, (4) define ϕj em t0 ≤ t ≤ t0 + β j e desde que (t, x) ∈ R para t0 ≤ t ≤ t0+ β j , e em (3) ϕj e´ uma func¸a˜o cont´ınua em t0+ β j < t ≤ t0+ 2β j . Nesse u´ltimo intervalo, |ϕj(t)− x0| ≤ G(t− β j ) (5) Em virtude de (iii) da condic¸a˜o de Cratheodory e (1), (2). Assumo que ϕj esta´ definida em t0 ≤ t ≤ t0 + kβ j , para k ∈ (1, j). Enta˜o (3) define ϕj para t0+ kβ j < t ≤ t0+ (k + 1)β j , desde que seja mensura´vel em t0 ≤ t ≤ t0+ kβ j . Tambe´m, em t0 + kβ j < t ≤ t0 + (k + 1)β j , ϕj satisfaz (5) em virtude da condic¸a˜o (iii) de Caratheodory e (1), (2). Portanto, por induc¸a˜o em (3) e (4), defino todas as ϕj cont´ınuas em t0 ≤ t ≤ t0 + β, na qual satisfaz, ϕj(t) = x0 t0 ≤ t ≤ t0 + β j (6) |ϕj(t)− x0| ≤ G(t− β j ) t0 + β j < t ≤ t0 + β (7) 7Se t1 e t2 esta˜o no intervalo [t0, t0+β], enta˜o da condic¸a˜o (iii) de Carathe- odory, (1), (2), (3) e (4), tenho |ϕj(t1)− ϕj(t2)| ≤ |G(t1 − β j )−G(t2 − β j )| (8) Como G e´ cont´ınua em [t0, t0 + β], pelo Teorema− 1 G e´ uniformemente cont´ınua. Isso implica por (8), que o conjuto das {ϕj} sa˜o equicont´ınuas em [t0, t0 + β]. Tambe´m, por (7), o conjunto das {ϕj} e´ uniformemente limitada em [t0, t0 + β]. Assim, por Arzela`-Ascoli ( Teorema - 4), existe uma subsequeˆncia {ϕjk} na qual converge uniformemente em [t0, t0 + β] para a ϕ cont´ınua, quando k −→ ∞. Assim, por (i),(iii) de Caratheodory, |f(t, ϕjk(t))| ≤ g(t), (t, t + β) f(t, ϕjk(t)) −→ f(t, ϕ(t)), k −→∞ para todo t fixo em [t, t + β]. Agora pelo Teorema da Convergeˆncia Dominada, tenho lim k→∞ ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds = ∫ t t0 lim k→∞ f(s, ϕjk(s))ds = ∫ t t0 f(s, ϕ(s))ds (9) ∀ t ∈ [t, t+ β]. Mas ϕjk(t) = x0 + ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds− ∫ t t− β jk f(s, ϕjk(s))ds onde ∫ t t− β jk f(s, ϕjk(s))ds −→ 0, k −→∞. Agora passando o limite dos dois lados da equac¸a˜o, ϕjk(t) = x0 + ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds temos, lim k−→∞ ϕjk(t) = lim k−→∞ (x0+ ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds) = x0+ lim k−→∞ ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds Assim, 8 lim k−→∞ ϕjk(t) = x0 + lim k−→∞ ∫ t t0 f(s, ϕjk(s))ds ↓ ↓ ϕ(t) = x0 + ∫ t t0 f(s, ϕ(s))ds � O Teorema esta´ provado. E´ interessante observar que as aproximac¸o˜es originais (3) e (4) devem convergir para uma soluc¸a˜o no caso em que uma soluc¸a˜o u´nica e´ conhecida. Esta situac¸a˜o na˜o se obte´m para as aproximac¸o˜es sucessivas normais. 9 4 Refereˆncias 1. Apeˆndice - Durrett,R.(1996).Probability:Theory and Examples, 3rd ed.Duxbury Press. 2. https://en.wikipedia.org/wiki/Carath%C3%A9odory%27s existence theorem 3. E. Coddington e N. Levinson, Theory of ODEs, Sec¸a˜o 2.1 10
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