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Suicídio - Aspectos Psicológico Materialista Histórico Ideológico e Ético _ Contribuição ao Trabalho do Profissional da Psicologia. ALVES-LACERDA-ROSA EVARISTO-MORAIS


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1 
 
Suicídio: História, Aspectos Psicológico, Materialista Histórico, 
Ideológico e Ético – Contribuição ao Trabalho do Profissional da 
Psicologia. 
Jessé Monteiro Alves; Johnathan Silva; Jullyan Teixeira; 
Müller Lucas Evaristo; Vinicius de Morais. 
 
 
 Resumo: Este trabalho tem como objetivo mostrar variadas visões distintas de suicídio levando 
em consideração seu contexto histórico em diferentes culturas tanto oriental como ocidental em 
diferentes épocas nos conduzindo a fazer uma reflexão diante desse contexto. Aprofunda 
também nos aspectos Psicológicos, o como sua visão diante desse quadro pode ser essencial 
para intervir e evitar uma possível tentativa de suicídio e também como a Psicanálise aborda 
esse mesmo tema. A perspectiva de Karl Marx abordando a teoria Materialista Histórico dando 
ênfase na produção capitalista e no machismo independente da classe social como motivos para 
o suicídio. Expondo a importância dos aspectos ideológicos, de como a filosofia auxilia nessa 
construção e entendimento da complexidade do suicídio e também aspecto Ético, a importância 
do Psicólogo conhecer as diretrizes do código de Ética para poder auxiliá-lo durante o processo 
de avaliação e intervenção ao paciente. 
Palavras Chave: Suicídio; Ato-dor; Depressão; Ideologia; Capital; Marx; Ética Profissional. 
 
 
 
Considerações sobre a história ocidental e oriental do suicídio 
 
As diversas épocas da humanidade são marcadas por condutas, pensamentos e 
valores distintos, os quais repousam em arranjos ideológicos construídos pelo fluxo 
histórico. Diante disso se verificará, por parte da sociedade, a adoção de posturas 
diferentes frente à atitude de um indivíduo se matar. 
A sociedade da Grécia Antiga entendia o suicídio como um atentado à estrutura 
da comunidade sujeito a condenação política ou jurídica, assim sendo, o indivíduo não 
podia se matar sem prévio consenso dos demais cidadãos. Como punição eram 
recusadas as honras de sepultura regular à aquele que se suicidou clandestinamente e a 
mão do cadáver era amputada e enterrada a parte. Porém o Estado tinha poder para 
vetar, autorizar ou induzi-lo. Já na cultura egípcia, a qual demonstra um fascínio pela 
cessação da vida, os escravos se entregavam à morte conscientemente após a morte do 
faraó ou do seu proprietário. 
A cultura romana adotou um posicionamento curioso em relação ao suicídio. Tal 
postura legitimava a decisão do senhor que se matava e condenava a do escravo. O 
homem livre, ao se matar, exercia sobre si o direito típico da sua condição social, ou 
2 
 
seja, o de controle sobre seu destino, direito este amparado pela lei pública ao passo que 
o escravo, matando-se, ia contra a autoridade do senhor. Nesse cenário, o suicídio do 
escravo tinha implicações político-econômicas, uma vez que reduzia os recursos 
humanos do proprietário de escravos e do Estado, e ideológicas, pois feria a concepção 
de liberdade em relação a si restrita ao amo. Com a soberania de César, os cidadãos são 
considerados súditos livres para agir, mas não para morrer, pois corriam o risco de 
terem seus bens confiscados pelo Império independente de serem militares, condenados 
ou detentos. 
O advento do cristianismo provocou mudanças significativas na concepção dos 
escravos sobre a morte no inicio da era cristã. A doutrina que surgiu a partir da e após a 
vida do revolucionário Jesus, o qual confrontou desde a estruturação social da cultura 
judaica até as ideias mais profundas do arranjo ideológico da época, trouxe às minorias, 
aos escravos e renegados sociais a proposta de uma existência sem sofrimento em outro 
plano de realidade que era alcançado por via da morte do corpo. As implicações do 
discurso que se formou entre os cristãos dos primeiros séculos de nossa era, fomentou a 
prática do suicídio, consequência esta que feria o andamento natural do Estado Romano, 
o qual passa a buscar alternativas ao crescimento do número de adeptos. Foi por volta 
do século IV que Constantino incorpora ao Estado o cristianismo em uma manobra 
frente à ameaça da cristandade. 
Na era cristã o suicídio durante o século V é condenado por Santo Agostinho e 
pelos Concílios de Arles (452 d. C.), Orleans, Braga, Toledo, Auxerre, Troyes, Nimes e 
no compédiu canônico “Decret de Gratien” do século XIII. Através desses documentos 
que condenam teologicamente o suicídio, matar-se passa a ser um atentado contra Deus, 
o qual era entendido com o criador e consequentemente proprietário de tudo e a quem 
competia, por ter dado, tirar a vida do ser humano. Nesse período é negado ao suicida os 
rituais religiosos pós-morte, ao seu corpo é aplicado castigos públicos, seus bens são 
negados aos herdeiros e ele é tratado da mesma forma que os ladrões e assassinos. 
A Revolução Francesa marca a história ocidental do suicídio por conter a abolição 
das medidas repressivas à prática do suicídio. Segundo Silva (1992), partindo de Kalina 
e Kovadloff, isso se deve ao fato da conduta suicida não mais comprometer o Estado 
nesse período histórico, além disso o autor destaca que passa a ser um gesto solitário e 
oscilante entre a clandestinidade e a patologia; ganha uma imagem de transgressão. 
Enquanto o suicídio no desenvolvimento histórico da cultura ocidental sofre em 
vários momentos repressão e condenações, na cultura oriental é visto com olhos bem 
3 
 
diferentes. Na cultura do Japão medieval o suicídio era uma pratica comum entre os 
samurais, um ritual realizado quando o mesmo sentia vergonha por uma derrota em um 
duelo, desonra por parte de alguém da família para com a sociedade ou quando era 
capturado em batalha. Nessas situações eles praticavam o ritual chamado seppuku, o 
qual é conhecido também como harakiri. 
 
“Realizava-se o seppuku com uma adaga. Ajoelhado, o samurai perfurava o 
próprio ventre e dilacerava-o em forma de L ou de cruz até as vísceras 
ficarem expostas. A exposição das vísceras simbolizava que ele estava 
mostrando a sua verdade, oferecendo o seu interior para ser purificado. Era 
uma morte extremamente dolorosa. Por isso, assim que as vísceras saíam do 
abdôme, outro samurai, escolhido pelo suicida, decepava-lhe a cabeça, como 
um golpe de misericórdia.” (GIMENEZ, K.. Super Interessante. Ed. 172. 
Janeiro de 2002) 
 
Esse ritual era prescrito pelo Bushidô, o código de conduta ao samurai do período 
feudal no Japão. Nessa obra estavam expostas todas as exigências que o samurai deveria 
atender durante a vida inteira para manter tanto sua honra quanto à da comunidade a 
qual pertencia. Pregando que a desonra era um mal que nunca cicatrizava, sustentava a 
ideia que a morte seria uma forma de expiação do erro cometido, além disso afirma a 
necessidade desta vir a acontecer por motivos justos. 
Esta breve exposição nos fornece um panorama geral sobre as diferentes 
percepções a cerca do suicídio a partir de culturas e períodos históricos distintos. 
Analisando tais informações identifica-se a influência de fatores econômicos, políticos e 
culturais sobre a concepção e postura defendida pela sociedade frente ao ato de um 
indivíduo tirar a própria vida. Enquanto na Roma Antiga o direito de tirar a própria vida 
era privilégio dos cidadãos livres, no Japão Feudal era obrigação do guerreiro samurai 
para manter sua honra e lealdade e se, na Idade Média existia na Europa um conjunto de 
interdições religiosas condenando o suicídio, no mesmo continente durante a Revolução 
Francesa o suicídio deixa de ser condenado pelo júri social e passa a ser entendido como 
uma extrapolação dos limites. Pode-se pensar que tais mudanças se processam por 
acontecimentos fortuitos ou por transformações do pano de fundo ideológico vigente e 
condutorda sociedade do período histórico e do espaço geográfico considerado. Porém, 
os estudiosos em filosofia, sociologia e a história, quando se apoiam no pensamento de 
Karl Marx, são levados a descartar a primeira hipótese devido a dados consistentes 
manifestos pelo conflito entre classes que se dá ao longo da história da humanidade. 
 
4 
 
Aspectos Psicológicos 
 
Atualmente, a visão, e consequentemente o discurso frente ao suicídio que 
aparenta estar menos destituído da influência do senso comum, o qual se baseia em uma 
perspectiva carregada de estereótipo, medo e preconceito, é a da Psicologia. 
O comportamento suicida é comumente classificado entre os psicólogos em três 
diferentes categorias ou domínios: ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídio 
propriamente dito. Apesar de poucos dados disponíveis, estudos clínicos e 
epidemiológicos sugerem a presença de gradientes de gravidade e também de 
heterogeneidade entre as diferentes categorias. 
A literatura na área da Psicologia também mostra que o nível de associação entre 
suicídio e transtornos mentais é de mais de 90%, e entre os transtornos mentais 
associados ao suicídio, se destaca a depressão maior (CHACHAMOVICH, E. e col., 
2009). Os transtornos mentais que aparecem na literatura associados ao suicídio são os 
transtornos bipolares do humor, abuso de álcool, esquizofrenia e transtornos de 
personalidade. Alterações de comportamento, isolamento social, ideias de autopunição, 
verbalizações de conteúdo pessimista ou de desistência da vida, e comportamentos de 
risco, também acompanham históricos suicidas. 
Tais informações revelam que o posicionamento dos psicólogos em relação ao 
suicídio parte de estudos pautados na busca do esclarecimento sobre o que ocorre no 
interior do suicidado ou daquele que tentou tirar a própria vida, estereótipos são 
deixados de lado ou até mesmo desmistificados fornecendo assim possibilidades 
alternativas de como lidar com esse tema tão angustiante. 
Vale resaltar que alguns autores, ao tratarem das bases epistemológicas da 
psicologia, afirmam existir na verdade psicologias, e assim sendo é natural que 
diferentes perspectivas se posicionarão, observarão e compreenderão de forma distinta o 
mesmo fenômeno (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001). Assim, para este trabalho, 
vamos nos ater às contribuições da Psicanálise no campo da investigação a respeito do 
que provavelmente ocorre na atmosfera psicológica de um suicida. 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Olhar Psicanalítico 
 
A Teoria do Trauma, a qual for inicialmente desenvolvida por Freud em 1895 em 
vários textos, sendo reformulada por volta de 1920, fornece subsídios para pensarmos o 
suicídio como um ato-dor segundo Macedo e Werlang (2007). O trauma surgi como 
consequência de uma experiência agressiva ao aparelho psíquico, à qual o indivíduo não 
consegue alocar recursos para responder da maneira adequada devido ao excesso de 
tensão. A dor decorrente do trauma é de intensidade tal que chega a ser irrepresentável, 
ininteligível à organização psicológica do sujeito, e assim sendo não é vinculada ou 
assimilada no sentido psíquico. Pelo trauma não ser assimilado, sua carga de tensão 
persiste e em momentos de dor psíquica intensa, o ato apresenta-se como único canal de 
dissolução dessa tensão. 
Em um estudo feito com quatro indivíduos que haviam tentado suicídio uma ou 
mais vezes, Macedo e Werlang (2007), realizaram entrevistas semidirigidas nas quais os 
entrevistados, junto ao entrevistador, tinham a oportunidade de tentar contextualizar, 
investigar e entender a tentativa de suicídio que ocorrera. Nessas entrevistas, os 
participantes contaram aos entrevistadores suas histórias de vida e foi possível 
identificar que ao longo da existência, uma série de fatores possibilitou a eles a 
vivenciarem o traumático. As constantes brigas entre os pais, a perda do pai aos 7 anos 
de idade, violência domestica, morte do pai seguida da do irmão, período de fome 
vivido pela família por conta do pai ter apostado dinheiro e perdido no jogo e o suicídio 
deste, são alguns exemplos de eventos traumáticos relatados pelas pessoas 
entrevistadas. 
Os casos estudados por Macedo e Werlang apresentam claramente como cada 
participante sofre os impactos psicológicos do traumático, ou seja, do excesso de tensão 
investida no aparelho psíquico por um evento carregado de conteúdos dolorosos e 
inassimiláveis simbolicamente, e das suas tentativas frustradas de encontrar na ação um 
canal de descarga para o traumático. Tais tentativas, as quais não deram conta do 
traumático (excesso), originaram em alguns casos diversas compulsões autodestrutivas 
como uso excessivo de drogas, álcool e compulsão alimentar. 
Ao longo do tempo o desamparo, a angústia e a dor se agravaram na vida dessas 
pessoas e nos momentos mais críticos ocorreram as tentativas de suicídio que em alguns 
casos foram em idades mais avanças, e em outros mais tenras. Sustentados nos estudos 
de Hornstein, Macedo e Werlang, consideram nas análises desses casos que a 
6 
 
construção do Eu se dá em um campo intersubjetivo, o qual fornece ao sujeito material, 
conceito e imagens de si mesmo que partem do outro e das experiências compartilhadas 
com este. Um dado que destaca isso é a mãe de Gerusa, uma das entrevistadas, dizer à 
filha que apenas a morte do pai, o qual era alcoólatra e a violentava, poderia solucionar 
o problema enfrentado em casa. Com essa passividade e desesperança da mãe, os 
pesquisadores identificam que Gerusa não viu alternativa frente ao conflito vivenciado, 
o qual era a fonte de toda sua dor. 
A grande fonte de ansiedade e dor psíquica nos casos de tentativas e suicídio 
propriamente dito é justamente a incapacidade do indivíduo e a carência de apoio para 
este lidar com os conflitos da existência, os quais brotam da realidade que o cerca. A 
capacidade representacional desempenha um papel muito importante no processo de 
enfrentamento de conflitos ao ponto de Macedo e Werlang, apoiados em Fischbein, a 
compararem ao um dique que protege o aparato psíquico dos impactos traumatizantes 
do real. Porém essa habilidade representacional não reside apenas no indivíduo, ela se 
desenvolve ao longo da vida caracterizando o Eu, o qual é produto intersubjetivo. 
Desse modo a atmosfera e a estrutura familiar, e consequentemente as relações 
que se desdobram em sociedade, são determinantes para o enfrentamento do sujeito 
frente ao trauma, pois tais elementos proporcionarão a ocorrência ou não do evento 
agressivo ao aparelho psíquico, além de influenciarem no processo de enfrentamento do 
traumático por parte da pessoa tanto no movimento de representação quanto no de 
passagem ao ato. 
Por tanto, a perspectiva psicanalítica mergulha a fundo, identifica e relaciona 
todos os elementos que estão ao seu alcance para compreender o fenômeno do suicídio a 
partir da experiência do sujeito enquanto portador de uma dor profundo que lhe 
consome por completo, desestabilizando seu funcionamento psíquico. Distante do 
hábito de julgar ou de se amedrontar, o profissional da área da Psicologia se aproxima 
do desejoso da própria morte e procura entender o seu sofrimento. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Visão do Suicídio a partir do Materialismo Histórico 
 
Segundo Bukharin (2011), Materialismo Histórico é a ideia pela qual o homem 
constrói e constitui tudo aquilo que permeia a existência social, tendo como pilar os 
meios de produção materialistas, teoria desenvolvida pelo filósofo e economista Karl 
Marx, que a partir de escritos de um arquivista da Polícia de Paris, Jacques Peuchet, 
produziu um ensaio que viria a ser chamado de “Sobre o Suicídio”,e posteriormente se 
tornaria um livro relativamente desconhecido quando comparado as outras obras de 
Marx. 
Com margem de dúvida inexistente, esse livro atribui o sistema econômico 
vigente como principal causador (direto ou indireto) da ocorrência de suicídios na era 
moderna, tendo como referencial dados obtidos por esse mesmo arquivista, na cidade de 
Paris. 
A ênfase que o sistema econômico exercia sobre a vida e morte das pessoas está 
expressa em vários trechos, como “a classificação das causas do suicídio é uma 
classificação dos males da sociedade burguesa moderna, que não podem ser suprimidos 
(...) sem uma transformação radical da estrutura social e econômica.” (MARX, 2006, p. 
16). 
Marx (2006), também salienta que em épocas de precarização do trabalho, isso é 
da falta de postos empregadores, crises industriais e encarecimento dos meios de vida, a 
taxa de suicídios aumenta drasticamente, assumindo um caráter epidêmico. 
Entre as causas do suicídio contém muito frequentemente a exoneração de 
funcionários, a recusa de trabalho, a súbita queda dos trabalhos em 
consequência de que as famílias não obtinham os meios necessários para 
viver, tanto mais que a maioria delas ganha apenas para comer. (MARX 
2006, p. 48). 
 
A ideologia dominante é perpassada como natural na sociedade capitalista 
contribuindo para a manutenção dos interesses da classe burguesa, dessa maneira 
problemas estruturais como desemprego e miséria são caracterizados como problemas 
de caráter individual, culpabilizando o indivíduo. Marx (2006), nos apresenta o exemplo 
de um homem que após ter perdido o trabalho, tira sua própria vida por não ter mais 
condições de sustentar a família, e não correspondendo as expectativas machistas do 
8 
 
homem provedor do sustento familiar, e se vê como um fardo para a mulher, que 
assume esse papel. 
A partir dos dados recolhidos por Peuchet e pela reflexão feita por Marx, fica 
claro que os motivos que levam ao suicídio, quando não diretamente ligados ao sistema 
econômico, tem relação indireta que provocam esses motivos finalistas, isso é as mortes 
geradas por desgostos domésticos, doenças e depressão são reflexos do sistema de 
produção capitalista. 
 
Motivos 
Paixão, brigas e desgostos domésticos ......................... 71 
Doenças, depressão, fraqueza de espírito ................... 128 
Má conduta, jogo, loteria, medo de censura e castigos 
....................................................................................... 53 
Miséria, necessidades ou perda de emprego e mudança 
de posto de trabalho ..................................................... 59 
Motivos desconhecidos ................................................ 60 
(MARX, 2006, p. 52). 
 
Apesar dessas definições coletivas sobre os motivos do suicídio, Peuchet tem 
uma visão de subjetivação da intensidade dos próprios motivos: 
 
Para saber se o motivo que determina o indivíduo a se matar é leviano ou não 
se pode pretender medir a sensibilidade dos homens usando-se uma única e 
mesma medida; não se pode concluir pela igualdade das sensações, tão pouco 
pela igualdade dos caracteres, e dos temperamentos; o mesmo acontecimento 
provoca um sentimento imperceptível em alguns e uma dor violenta em 
outras. A felicidade e a infelicidade tem tantas maneiras de ser e de se 
manifestar quantas são as diferenças entre os indivíduos e os espíritos. (...) 
(PEUCHET apud MARX, 2006, p. 25) 
 
Fazia-se pauta também o seguinte questionamento: “quem são as vítimas não 
proletárias levadas ao desespero e ao suicídio pela sociedade burguesa?” (MARX, 2006, 
p. 18). As mulheres, vitimas da cultura machista e do sistema familiar opressor e 
moralista da época, que negligenciava a posição social em detrimento do sexo, isso é 
caracterizava o sujeito por passível de punição por conta de seu sexo e não apenas do 
seu poder aquisitivo como era de praxe, por conta da ideologia cultural que vigorava. 
9 
 
Com efeito, esse texto de Marx é uma das mais poderosas peças de acusação 
à opressão contra as mulheres já publicadas. Três dos quatro casos de 
suicídio mencionados no excertos se referem a mulheres vítimas do 
pratriarcado ou, nas palavras Peuchet/Marx, da tirania familiar, uma forma de 
poder arbitrário que não foi derrubado pela Revolução Francesa. Entre elas, 
duas são mulheres “burguesas”, e a outra, de origem popular, filha de um 
alfaiate. Mas o destino delas fora selado mais pelo seu gênero do que por sua 
classe social. (LÖWY, 2006, p. 18). 
São apresentados dois casos de suicídio envolvendo mulheres e gerados pela 
cultura machista, apontando também a questão doutrinadora da família, ambos os casos 
são decorrência do sexo e não da posição social, visto que em um deles a mulher tem 
alto poder aquisitivo. Como cita Marx (2006), uma jovem iria se casar com um rapaz 
pelo qual se encontrava apaixonada, por conta de uma noite que passaram juntos, sua 
família a injuriou em público, por tanto a jovem veio a cometer suicídio, no outro, a 
mulher é feita de objeto pelo marido, maltratada e oprimida, a jovem acaba por fim 
também a se suicidar. 
Uma forma que acreditavam prevenir o suicídio era, segundo Marx (2006), a 
injuria de seu nome após a morte, isso é difamar a honra da pessoa por meio de injurias 
a memória do suicida. Soluções pautadas em iniciativas religiosas e moralistas após a 
morte não solucionam de fato a ocorrência de suicídios, “descobri que, sem uma 
reforma total da ordem social de nosso tempo, todas as tentativas de mudança seriam 
inúteis” (MARX, 2006, p. 28). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
Aspecto Ideológico 
 
A prática da Filosofia proporciona ao homem a capacidade de desvelar o 
funcionamento do mundo ao seu redor e da sua própria mente, ele passa a visualizar as 
amarras do seu sentir, do pensar e do seu agir no mundo. De uma forma mais específica 
e partindo de Aranha e Martins (2003), poderíamos dizer que o filosofar permite ao ser 
humano ir além dos domínios ideológicos, no seu sentido negativo, que rege seu tempo. 
Diversos filósofos, em especial o já citado Marx e Foucault, nos mostra a 
capacidade dos sistemas de ideias e dos conjuntos de práticas, as quais por sua vez 
surgem de discursos impostos e fechados em si, de promover a subjugação, a alienação 
e a desumanização das relações sociais. Ambos os pensadores abordam como que se 
estabelece a relação de poder na sociedade, o primeiro entre as classes e o segundo entre 
os diferentes papéis sociais. Essa relação está fortemente determinada pela ideologia, 
pois esta permeia a vida cotidiana, o sistema de valores, as condutas e a percepção da 
sociedade. 
Quando falamos de suicídio não é diferente, pois o tema provoca automaticamente 
desconforto nas pessoas, é tratado com receio, exige distancia e parece que não deve ser 
ocado, e isso se dá por determinações ideológicas e psicológicas. Um exemplo disso é a 
disparidade, a qual já foi abordada nesse trabalho, entre a concepção oriental e a 
ocidental frente ao tema. Frente a isso, é necessário se ater às diferentes conceituações, 
aos significados e aos contextos nos quais estes são usados para se captar o que há por 
trás dos discursos. 
Szasz, um autor norte americano de postura liberal, em seu livro Liberdade Fatal – 
Ética e Política do Suicídio (2002) nos alerta para duas conotações da palavra suicídio. 
A primeira aplicação da palavra seria para descrever uma forma de morte, na qual o 
sujeito tira a própria vida de forma deliberada, resolve e faz. Esta aplicação se manifesta 
até o século V, pois, como já foi dito, é com Agostinho que começa a ser visto comoalgo pecaminoso. É importante resaltar que o termo suicídio surgi, segundo Netto 
(2013), apenas no século XII e o que havia antes era apenas formas de descrever o ato. 
A segunda aplicação tem um caráter moralizante, o qual em última instância condena e 
marca como um ato mal. 
Partindo de Netto (2013), podemos pensar em três fatores que sustentam a 
conotação moralizante e negativa da palavra suicídio. Isso de deve inicialmente ao fato 
da morte ser vista como tabu, o que ocorre pelas implicações emocionais e psicológicas 
11 
 
que a perda do outro provoca, além dos elementos culturas que não se distanciam do 
primeiro; a morte é evitada por trazer a dor. Em consequência à morte enquanto tabu, 
existe a tendência contemporânea de busca pela manutenção da vida a qualquer custo, a 
qual é realizada sem levar em consideração as consequências desta para as pessoas. 
Nesse cenário, como afirma Netto com base em Blanca, “os suicídios vêm na contramão 
da ciência” (NETTO, N. B. et. al., 2013, p.16). O autor chama a atenção também para a 
carência terminológica que sofre o assunto. 
 
“Outra questão que é importante de se pensar é que a palavra suicídio tem 
uma significação de morte bárbara. Há uma pobreza terminológica ao nos 
referirmos a esse fenômeno e a outros que, porventura, possam se assemelhar 
formalmente a ele, sem o sê-lo de fato. Nós não temos vários termos como já 
existiram historicamente. Utilizamos suicídio para expressar as mais diversas 
formas de tirar a própria vida, independentemente de ter sido, de fato, 
intencional e deliberadamente, independente da forma e dos meios utilizados, 
da motivação e da conjuntura em que o fenômeno ocorre.” (NETTO, N. B. et 
al., 2013, p.17) 
 
Para o autor, essa precariedade dos termos conduz à desqualificação do ato que 
provoca sobre aquele que tentou ou efetivou o suicídio, o estigma de não estar sobre o 
controle de si, o que diretamente impossibilita este de dizer tudo que sua morte ou seu 
desejo de morte encerra. 
Diante disso podemos verificar que o aspecto ideológico do suicídio é marcado 
por uma negligência, não intencional, mas sim fruto do medo, da dor e do sofrimento 
despertado pela morte, além moralização religiosa frente à queixa, à percepção e à 
denúncia da hostilidade da existência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Aspecto Ético 
 
O estudo sobre a psique humana nos revela, ao lado do grande mistério que é 
amar, o enigmático ato do suicídio. Considera-lo sem suas consequências é cair em um 
erro, pois existe uma série de fatores subjacentes antes e após o suicídio que precisam 
ser avaliadas pelo profissional da Psicologia durante sua atuação. Por conta da 
complexidade e da polêmica provocado pelo assunto, a atenção do psicólogo(a) em 
relação às diretrizes do Código de Ético deve constante. 
Tendo sobre seus cuidados um paciente com histórico depressivo seja na clínica, 
escola ou em qualquer instituição, o profissional precisa se atentar para a informação de 
que este faz parte do conjunto de indivíduos com grandes chances de ter ideações 
suicidas que poderão culminar em tentativas. Isso é possível através de um 
conhecimento vasto e sólido, acompanhado por um acompanhamento minucioso da 
evolução do quadro psicológico do paciente. Muitas vezes, por descuido ou negligência, 
pacientes que poderiam ser salvos desistem da própria vida. 
Ao tratar de um paciente com características suicidas, há a necessidade de 
identificar os sinais de uma possível tentativa, estabelecer laços de parceria com a 
família do paciente e realizar um trabalho intenso no sentido de evitar e reincidência da 
tentativa, caso tenha ocorrido. Após, tanto de uma tentativa que não levou o indivíduo à 
morte quanto ao suicídio efetivado, é necessário, quando possível, realizar um trabalho 
de apoio com a família por esta sofrer significativamente abalada. 
O Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005) prescreve como dever o sigilo 
profissional com o intuito de proteger, através da cofiança, a intimidade das pessoas, 
grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional. Porém, o mesmo 
documento abre uma exceção em relação ao total sigilo em situações conflituosas. O 
agravamento de um quadro psicológico depressivo de um paciente, acompanhado de 
indícios suicidas em um período estressante configura-se como uma situação na qual o 
sigilo pode ser quebrado, pois o apoio dos familiares e de outros profissionais se for 
necessário, certamente aumentará a capacidade de auxilio ao paciente. 
Ao psicólogo compete realizar seu trabalho baseando-se no Código de Ética, zelar 
pela saúde, qualidade de vida e os direitos humanos em seus diferentes ambitos sejam 
eles emocionais, afetivos, psíquicos, sociais e políticos. O papel do psicólogo é volta-se 
ao outro tendo responsabilidade frente ao seu sofrimento e angústia, cobatendo a 
violência, a opressão, exploração e negligência. 
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Conclusão 
 
Mediante as informações expostas podemos visualizar as inúmeras variáveis que 
influenciam o indivíduo a cometer o ato de suicídio, mas não esgotamos tais variáveis 
visto que isso estar longe de nosso alcance, e também expomos algumas perspectivas 
possíveis sobre esse mesmo fenômeno. Identificamos diferenças ideológicas entre 
algumas culturas e épocas e vimos o quanto tal construção influência para o aspecto 
destrutivo do viver que implica no sofrimento psíquico do indivíduo. Tal informação 
nos mostrou que o maior entendimento dos constructos sócio-histórico pode-se ter um 
embasamento teórico maior para criar-se uma intervenção significativa quando já sabe 
as possíveis causas da complexidade do suicídio. 
A importância do Psicólogo diante do quadro suicida é de extrema relevância pelo 
seu conhecimento aprofundado nesse aspecto, pois quando acontece uma intervenção 
precoce, mais rápido será sua recuperação. 
Levamos em consideração a importância familiar, a presença do comportamento 
suicida na família pode ser percebida num primeiro momento, como uma questão 
pontual decorrente da situação identificada como desencadeadora do ato suicida, 
oferecendo um tempo propício à intervenção preventiva juntamente com o psicólogo e 
demais profissionais. Compreendendo tamanha importância e relevância da intervenção 
do psicólogo logo no despertar de uma possível ideação suicida, decorrente de 
influencias sócio- histórica, cultural ou religiosa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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