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Prescrição e decadência

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Direito Civil 
Patrícia Dreyer 
Teoria 
 
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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 
 
No Código Civil de 1916, as regras não eram claras. A lei não fazia uma distinção perfeita do que era prescrição e do 
que era decadência. Houve também algumas mudanças no Código de Processo Civil para apresentar a diferença 
científica. 
Quando se esgota o prazo de decadência, perde-se o direito. 
Quando se esgota o prazo de prescrição extintiva ou liberatória1, perde-se a pretensão (falava-se em direito de ação 
que é constitucional e não se sujeito a prazo algum). 
 
Pretensão ≠ Direito de Ação(caminhos) 
 
Prescrição 
Elemento Objetivo = Tempo 
Elemento Subjetivo = Inércia do Titular 
 
Obs: o CC/1916 desconhecia a decadência convencional. Hoje há artigos só para prescrição e outros só para 
decadência. 
Obs: Só sabe bem prescrição e decadência quem conhece bem a Introdução ao Estudo do Direito. 
Direito Positivo: regra consubstanciada. O conjunto de tudo que está escrito; 
Direito Subjetivo: “facultas agendi”; 
Interesse é vontade, mas nem toda vontade é interesse, só as vontades que tem amparo no ordenamento jurídico. 
Obs: As pessoas podem titularizar direitos de natureza jurídica diferentes. Mudou a natureza do direito, mudou o 
prazo. 
A tendência do CC/02 foi reduzir prazos. 
 
DIREITO SUBJETIVO ≠ DIREITO POTESTATIVO 
 
Direito subjetivo – relação jurídica de colaboração do outro pólo da relação jurídica; 
Direito potestativo – relação jurídica de sujeição, porque o titular do direito tem poderes para satisfazer sozinho seu 
interesse. 
 
Se houver prazo para exercício de direito potestativo, este é decadencial. 
Se houver prazo para exercer direito subjetivo, este é prescricional (crédito-débito). 
 
Ex: A é empregador de B, e pode demiti-lo independentemente da colaboração de B - direito potestativo. 
Ex: A é locador de B, e quer cobrar aluguéis atrasados - direito subjetivo. 
Ex: A é casado com B, e quer anular seu casamento por erro essencial contra a pessoa - direito potestativo. 
Ex: A é procurador de B e B quer revogar a procuração - direito potestativo, sem sujeição a prazo. 
Ex: A quer ajuizar investigação de paternidade em face de B, que deve ser seu pai, mas A descobre que B já está 
morto - direito potestativo, sem sujeição a prazo. 
Se quiser ajuizar ação para receber o quinhão da herança, a relação é de sujeição, e o prazo é prescricional. O prazo 
prescricional maior é de 10 anos – art. 205 CC. 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. 
 
1 Prescrição aquisitiva: usucapião, a ser tratada no setor de direitos reais; 
Prescrição extintiva ou liberatória é a que tratamos aqui. 
 
 
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Patrícia Dreyer 
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Se a natureza jurídica da sentença for condenatória, o prazo é prescricional. 
Se a natureza jurídica da sentença for constitutiva, o prazo é decadencial. 
Se a natureza jurídica da sentença for meramente declaratória, não existe prazo, nem decadencial, nem prescricional. 
 
Prescrição é norma de interesse das partes. Passa o prazo, a dívida existe; mas o devedor não tem mais a estrutura 
do Judiciário para cobrar a mesma; assim como a decadência convencional. 
Prescrição é matéria de defesa. Ex: prazo de garantia estendida 
 
Decadência é de norma de interesse público, natureza indisponível. 
 
A lei está criando novos mecanismos em benefício do credor, porque antes, no CC/16, muitas das vezes a insatisfação 
do credor se convertia em perdas e danos. 
 
 
Prazos 
Obs: À evidência, o prazo prescricional só começa a correr a partir do inadimplemento da prestação. Os prazos de 
prescrição estão nos arts. 205 e 206 do CC. 
Não é dado às partes alterar os prazos de prescrição, seja para aumentá-los, seja para reduzi-los (art. 192 CC). 
 
Obs: os prazos da parte especial são decadenciais. 
 
Podem ser alegadas a qualquer tempo, à exceção das instâncias especial e extraordinária. 
Súmula 282 STF – É inadmissível o recurso extraordinário quando couber, na justiça de origem, recurso ordinário da 
decisão impugnada. 
Súmula 356 STF – O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser 
objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do pré-questionamento. 
 
Renúncia 
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, 
depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis 
com a prescrição. 
 
Art. 209. É nula a renúncia à decadência legal. 
 
Quem renuncia a prescrição é o devedor. A renúncia só vale depois que a prescrição termina que dá ao devedor um 
escudo. Todavia, se o credor renunciar a prescrição e pagar, não pode pedir de volta. 
Obs: a renúncia se manifesta em qualquer ato incompatível com a prescrição. 
Ex: dívida com a Losango, prescrita, que eu vou negociar. 
A jurisprudência vai dizer que, renunciado o prazo de prescrição, o credor terá o mesmo prazo para cobrar do devedor 
que não tem mais como alegar prescrição como matéria de defesa. 
 
Decadência legal não se admite renúncia.- art. 209 CC 
Ex: prazo para anular negócio jurídico. A parte pode não requerer o desfazimento, mas não pode renunciar. 
Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei. 
 
Conhecimento de Ofício 
 
 
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Art. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz. 
(Revogado pela Lei nº 11.280, de 2006) 
 
Art. 219, §5º, do CPC - O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição. 
Não se tratando de direitos patrimoniais, o juiz conhecerá de ofício a prescrição. 
Obs: se não se trata de direitos patrimoniais, já não seria prescrição, seria decadência, que o juiz devia mesmo 
pronunciar de ofício. 
Tem-se, entendido, todavia, que antes de se pronunciar de ofício, o juiz deve oportunizar contraditório e ampla 
defesa. 
 
A decadência convencional não pode ser conhecida de ofício, só a legal – arts. 210 e 211 CC. 
 
 
Impedimento, Suspensão e Interrupção da Prescrição – rol exaustivo 
Não correm os prazos de prescrição (arts. 197 a 199 CC); mas os prazos de decadência correm normalmente. 
 
As hipóteses de impedimento são as mesmas de suspensão - extrajudiciais. Se o prazo ainda não começou, a hipótese 
é impeditiva; prazo já começado, a hipótese é suspensiva. 
As hipóteses de interrupção são judiciais – art. 202 CC. 
 
Art. 197 CC – “Entre” (ordem moral) 
Ex: A namora B e pede dinheiro emprestado a A. Para provar a honestidade, eles marcam prazo para vencer a 
obrigação. Antes do vencimento, eles se casam. Se, lá no futuro, a dívida não for paga, o prazo não começa a correr. 
Se depois do vencimento, a dívida não for paga, e eles se casam, este casamento é causa suspensiva. 
 
Art. 198 CC – “Contra” 
O prazo não corre se essas pessoas forem credoras, mas corre normalmente se forem devedoras. 
Ex: A é pai de B e lhe deve alimentos, portanto B é devedor de A. Se a sua mãe não lhe representar na ação de 
alimentos, A pode, a partir dos 18 anos – por causa do poder familiar, requerer alimentos. 
Obs: Entre tutelados e tutores, a tutela se encerra quando o juiz homologa a última prestação de contas. 
 
Art. 199 CC – “Pendendo” 
Na verdade, não há exigibilidade, porque a condição é suspensiva; ou porque o prazo não está vencido, por exemplo. 
 
Art. 202 CC – Interrupção da Prescrição 
A interrupção somente se dá uma única vez, por qualquer interessado(art. 203 CC). 
No CC/16, não havia limites! O credor malicioso conseguia tornar imprescritível aquilo que, na verdade, já deveria 
estar prescrito. 
I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na 
forma da lei processual. 
O art. 219 do CPC diz que a citação válida torna prevento o juízo, induz a litispendência, faz litigiosa a coisa; e, ainda 
quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. 
§1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da citação do réu. 
 
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: 
 
 
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I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma 
da lei processual; 
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; ex: protesto judicial 
III - por protesto cambial; ex: cheque 
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; ex: interpelação judicial (art. 397, p.único, CC) 
 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. 
 
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do 
processo para a interromper. 
 
Segundo o art. 207 do CC, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a 
prescrição, salvo contra os absolutamente incapazes (art. 208 CC). 
 
- operada por um credor, não aproveita aos outros, salvo se solidários (art. 204 CC); 
- operada contra um herdeiro, não prejudica outros; 
- contra o devedor principal, prejudica o fiador (art. 204, §3º, CC) 
 
Direito Intertemporal 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em 
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. 
Ex: acidente de carro em 1990. O prazo era de 20 anos para ajuizar ação de reparação de dano. Hoje não se justificar 
mais tanto prazo, portanto o prazo foi reduzido para 3 anos. 
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, 
obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus efeitos, produzidos após a vigência deste 
Código, aos preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista pelas partes determinada forma de execução. 
Ex: não existia estado de perigo, nem lesão; e negócio simulado era anulável. 
Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os 
estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. 
 
Conclusões do Professor Agnelo Amorim Filho 
Reunindo-se as três regras deduzidas acima, tem-se um critério dotado de bases científicas, extremamente 
simples e de fácil aplicação, que permite, com absoluta segurança, identificar, a priori, as ações sujeitas a prescrição 
ou a decadência, e as ações perpétuas (imprescritíveis). Assim: 
1ª) Estão sujeitas a prescrição (indiretamente, isto é, em virtude da prescrição da pretensão a que 
correspondem): - todas as ações condenatórias, e somente elas; 
2ª) Estão sujeitas a decadência (indiretamente, isto é, em virtude da decadência do direito potestativo a que 
correspondem): - as ações constitutivas que têm prazo especial de exercício fixado em lei; 
 
 
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3ª) São perpétuas (imprescritíveis): - a) as ações constitutivas que não têm prazo especial de exercício fixado 
em lei; e b) todas as ações declaratórias. 
Várias inferências imediatas podem ser extraídas daquelas três proposições. Assim: a) não há ações 
condenatórias perpétuas (imprescritíveis), nem sujeitas a decadência; b) não há ações constitutivas sujeitas a 
prescrição; e c) não há ações declaratórias sujeitas a prescrição ou a decadência. 
Uma grande vantagem do critério aqui sugerido é que, tendo como um dos pontos de partida, para sua 
dedução, a categoria dos direitos potestativos, pode, contudo, ser acolhido e utilizado até mesmo por aqueles que 
não reconhecem essa categoria, desde que admitam a existência de ações constitutivas, pois as duas situações são 
perfeitamente conciliáveis, conforme acentua CARNELUTTI (Sistema de Derecho Procesal Civil, 1/172). 
Aí fica, pois, exposto o critério que, como contribuição das mais modestas para a solução do tormentoso problema, 
apresentamos ao exame e à critica dos doutos.

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