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01. Nascimento da Psicanálise

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Nascimento da Psicanálise
A Psicanálise constitui-se como um método de investigação dos processos inconscientes e foi criada no final do século XIX por Sigmund Freud. A construção, história e percurso desta teoria se mantêm ligada à vida de Freud, já que foi este neurologista austríaco o responsável por sua invenção e desenvolvimento. 
Sua origem é decorrente de um momento histórico e social em que as circunstâncias permitiram o surgimento de uma teoria e de uma prática que tentasse abarcar os aspectos especificamente psicológicos de determinados fenômenos, dada a insuficiência de outras tentativas para explicá-los, como os fenômenos da conversão histérica que representavam um desafio à ciência, já que a medicina não conseguia explicar sua origem, sendo de extrema importância compreender e tratar os fenômenos psicopatológicos. 
A histeria, ou mesmo qualquer afecção, passou a não ser considerada como um suposto mau funcionamento de um organismo, tomado isoladamente (é justamente de uma perspectiva organicista que pretende distanciar-se). 
O que se propõe para pensar é a questão da constituição de um conhecimento (investigação e tratamento) que tem como objeto o mundo interno, o que será talvez algo mais próximo de uma >constante reflexão<, dado que no que diz respeito à condição humana o objeto, ao ser apreendido pela percepção, é transformado em realidade vivida subjetivamente e seria necessário elucidar que processos e elementos psíquicos estão em jogo nesta transformação. O que se coloca como ponto de partida para as investigações psicanalíticas é a ausência de uma compreensão dos aspectos especificamente psíquicos que permeiam a relação sujeito/objeto. 
A histeria faz parte de um grupo de acepções que estão diretamente ligadas ao nascimento da Psicanálise, pois a investigação e o tratamento deste tipo de neurose, a partir de uma compreensão dos fatores psíquicos, foi o ponto de partida de Freud na construção de um arcabouço teórico que permitisse escutar as histéricas para além dos sintomas que tanto alarde causavam. Pela escuta das histéricas, Freud criou a psicanálise e desenvolveu a teoria que a sustenta, por meio de uma prática clínica que vai delineando seu método terapêutico e, assim, define sua ética.
Ao pensar a questão do mundo interno estamos às voltas com o problema da dicotomia sujeito/objeto, que é tema ainda de discussões em diversas disciplinas, desde o século XVI com Descartes. 
A perspectiva científica que pretende colocar seus objetos de estudo como tendo uma realidade em si mesmos, constituídos como objetos da natureza, pensará o sujeito como aquele que é dotado de uma consciência e de uma razão que lhe conferem o poder de dominar e controlar (consciente e racionalmente) a Natureza e seus objetos e inclusive a si mesmo.
No entanto, como explicar quando este sujeito mostra falhas, justamente, nesta capacidade de dominar e controlar a realidade externa e a si mesmo? E mais: o que fazer quando os recursos científicos disponíveis (físico-químicos e anatomopatológicos) não conseguem nem oferecer uma explicação, nem uma ação condizente com os problemas surgidos da relação de um dado sujeito com o mundo externo?
Será a partir de uma preocupação com os conflitos e sofrimentos que adquiriram uma conotação patológica que surgirá a Psicanálise, enquanto uma terapêutica e uma teorização capazes de oferecer uma nova visão sobre o homem, seu psiquismo e suas relações com o mundo externo. Se colocando como um campo de conhecimento dedicado exclusivamente aos fenômenos psíquicos (o que não exclui as relações deste com o mundo externo), asseverando sempre a importância de se buscar uma explicação para aquelas manifestações propriamente humanas – comportamentos, afetos e pensamentos – que pareciam contradizer certa noção de homem como ser racional, capaz de dominar a si mesmo e ao mundo única e exclusivamente através da consciência.
É deste confronto entre uma concepção de homem dono e senhor de si mesmo e o que a experiência clínica com as histéricas mostrava sobre a fragilidade da condição humana, que tem origem o primeiro dos alicerces da teoria psicanalítica: o conceito de inconsciente.
Com isto, Freud lança uma das primeiras polêmicas que a Psicanálise terá com o mundo científico e filosófico, pois aquilo sobre o que se julgava ter domínio, os próprios pensamentos, ideias e comportamentos estariam na verdade determinados pelo inconsciente. 
Assim o psíquico não coincide, para a Psicanálise, com o consciente; a vida mental ou o mundo interno ganham uma nova acepção e uma nova dimensão, que exigiu uma teorização e abordagem dos fenômenos psicológicos específicas. As ideias de Freud, desenvolvidas entre final do século 19 e início do século 20 marcaram o pensamento contemporâneo.
A Psicanálise é a primeira teoria sobre o psiquismo que se originou diretamente da prática clínica, fazendo coincidir investigação e tratamento. Foi a descoberta da linguagem como instrumento primordial para a abordagem dos conflitos psíquicos e seus sintomas que deu à Psicanálise mais um caráter inovador na compreensão dos fenômenos psíquicos: oferecer a possibilidade de dar palavras ao afeto e, com isto, propor que os sintomas poderiam ser substituídos por outras saídas. Propiciando o surgimento de um novo objeto e campo de atuação para a Psicologia: o mundo interno e o trato com sofrimento psicológico, a partir de uma perspectiva estritamente psicológica sem intermediação de quaisquer recursos objetivos, contando explicitamente com as interações psíquicas humanas. 
Isto ocorre a partir de 1882 quando Freud estimulado pelo trabalho de Breuer interessa-se pela sugestão e hipnose no tratamento da sintomatologia atribuída à histeria. Joseph Breuer teve um papel fundamental no nascimento da psicanálise e forneceu a Freud a técnica que este utilizaria em sua clientela. Contudo, o espírito investigativo de Freud, fez com que logo se afastasse desta técnica, bem como do método catártico, substituindo-as pela técnica de associação livre.
Os “Estudos sobre a histeria” é o resultado de 10 anos de trabalhos clínicos desenvolvidos de Freud e Breuer; neste trabalho os autores fazem descrição detalhada do tratamento de cinco pacientes. Com esta publicação encerra-se colaboração entre estes autores, em que o fator precipitante para o encerramento da parceria foi a discordância de Breuer em relação a Freud, já que este último insistia na importância de fatores sexuais na etiologia da histeria.
O que contribuiu, em grande parte para que a Psicanálise pudesse ser compreendida como um instrumento que pode explicar fenômenos psicológicos ditos normais foi o trabalho de análise dos sonhos. É com a “Interpretação dos sonhos”, publicada em 1900, que Freud com a sua Psicanálise pode pensar em chamar a atenção de pessoas interessadas não mais só em tratar neuroses, mas de todos que tivessem algum interesse na alma humana, agora vista sob uma perspectiva dos fenômenos psíquicos enquanto um campo aberto à investigação científica. Nesta obra Freud promove uma grande ruptura na forma de abordar e compreender o homem, pois a ciência apenas se preocupava com o homem em sua dimensão consciente. O próprio Freud refere o conceito de inconsciente e a formulação de que “o homem não é senhor em sua própria morada” equiparando-a às quebras paradigmáticas decorrentes da mudança do teocentrismo ao heliocentrismo e ao choque da teoria evolucionista darwiniana. 
Um conceito central e seu correlato no campo da prática clínica - a transferência - junto com o conceito psicanalítico que articula num só termo o psíquico e o somático - a pulsão - formam as bases do pensamento freudiano que se construiu ao longo de quarenta anos de produção e sempre reconhecendo a necessidade de constantes revisões e ampliações. Podemos dizer que Freud descortinou um horizonte a partir do qual puderam surgir outras teorias psicológicas que, em diferentes graus, procuraram rever, ampliar e mesmo modificar radicalmente os pressupostosteóricos e técnicas que desse horizonte pode surgir. Os oponentes ou dissidentes da Psicanálise podem ser agrupados como aqueles que romperam formalmente com um ou mais dos alicerces da Psicanálise (inconsciente, transferência e pulsão), no entanto buscavam e ainda buscam confirmar a existência de um mundo interno, passível de investigação e intervenção.
 Como podemos observar de nossas afirmações, ao tomarmos o enfoque teórico psicanalítico seguimos à investigação do fenômeno psicológico em profundidade, indo além das explicações físico-químicas ou anatomopatológicas para os fenômenos psíquicos, pelo reconhecimento de uma dimensão específica - a de mundo interno – desconhecido do próprio homem e não idêntica a si mesmo, em constante interação com o mundo externo, de forma que sujeito e objeto não mais se constituem isolados, mas suplementares.
Apesar de sua evolução, a psicanálise tinha em sua construção e desenvolvimento uma tendência transgressora, que comportava em sua natureza uma inevitável e sofrida oposição, já que feria os preconceitos da humanidade civilizada em alguns pontos especificamente sensíveis. 
Em termos geográficos, a Psicanálise expandiu seus domínios e isto não se faz sem que, ao mesmo tempo em que produza modificações na concepção de homem, de relações e de tratamento para males psíquicos nos lugares onde é (ou parece ser) aceita, também “sofre” modificações, pois é um conhecimento dependente das possibilidades que cada cultura oferece em termos de assimilação de uma teoria que toca num dos pontos fortes da humanidade: a sexualidade. Este ponto de apoio da teoria psicanalítica é tanto mal compreendido quanto rejeitado. 
Mal compreendido porque se toma o termo sexual como sinônimo de genital, dando importância e ênfase ao aspecto puramente biológico, como se para o homem a sexualidade estivesse presa à anatomia, sendo que esta é justamente a subversão fundamental da Psicanálise: o sexual é redefinido como uma disposição psíquica propriamente humana, desligada de seu fundamento biológico ou anatômico. E, para pensar esta nova concepção de sexualidade, e de toda atividade humana a ela ligada, são construídos conceitos e teorias que irão representar esta realidade: a pulsão, a libido, o apoio e a bissexualidade.
Freud não inventou uma terminologia particular para distinguir estes dois grandes campos da sexualidade: a determinação anatômica e a representação social ou subjetiva. Mas como consequencia dessa descoberta a sua doutrina transformou totalmente a visão que a sociedade ocidental tinha da sexualidade e da história da sexualidade em geral. 
A rejeição tanto produziu movimentos dissidentes dentro da Psicanálise (Adler, Jung), quanto produziu uma infinidade de leituras distorcidas pelos preconceitos que tentavam minimizar a importância do conceito-chave – o inconsciente, e dessa forma supervalorizava o ego em função de seu papel de mediador entre o mundo externo e o interno, em detrimento das outras regiões do psiquismo (id e superego). Essa é uma leitura da teoria psicanalítica que se mantém fiel às necessidades do homem de controle dos próprios conflitos, buscando meios de adaptá-lo à realidade externa. O mais curioso é buscar isto numa teoria que tem como objetivo expresso a confrontação do sujeito (do inconsciente) com seu desejo, com sua falta, com a necessidade imposta a cada um de resolver a interdição do incesto, tema representado na conceituação do complexo de Édipo.
Se, num primeiro momento, o inconsciente surge como uma abertura para as ciências psicológicas, com sua expansão geográfica, principalmente para os Estados Unidos, este mesmo conceito passará a ser um divisor de águas entre a Psicanálise e as Psicologias da Consciência. Estas, mobilizadas pela necessidade de fortalecer o “pobre” ego diante das exigências do mundo externo e do mundo interno, colocando como meta do tratamento a busca de uma relação harmônica, não conflituosa com o meio, do qual o terapeuta/analista seria a figura exemplar, criaram um novo campo de conhecimento, com novas teorias sobre o mundo interno, já não mais vinculado à idéia de inconsciente, com novas técnicas, agora mais atentos ao trabalho com os afetos, com a comunicação não-verbal, através de uma prática clínica em que a relação dual, interpessoal (não mais transferencial) entre paciente e terapeuta seria o norte do trabalho, o terapeuta buscando sempre uma aliança com o lado saudável do paciente para ajudá-lo a integrar-se psíquica e socialmente. 
Lembrando que, se para a Psicanálise o psíquico só ganha consistência de mundo interno a partir da noção de inconsciente, que mantém relação com as três instâncias – id, ego e superego – em maior ou menor grau; para as Psicologias da Consciência o importante será como a pessoa, identificada ao seu ego, centro de sua personalidade, já destituído de qualquer conotação inconsciente, enfrentará a luta pelo controle e dissolução de seus conflitos. A Psicanálise também espera que o ego possa ser um aliado na luta contra a neurose, no entanto isto não estaria a serviço de uma adaptação ao contexto social. A idéia principal é recolocar a noção de doença mental no âmago da condição humana e não fora dela, buscando responder antes quem é este que sofre e adoece, e esperando que a noção de mundo interno, que não precisa ser psicanalítica, possa oferecer um espaço de liberdade para o homem na sua relação com o mundo externo. 
A hipnose teve grande importância no início da psicanálise, pois pelo uso da hipnose Breuer favorecia a revivência de algumas cenas que estavam esquecidas pelo paciente, esta revivência provoca a "ab-reação", que consistia numa descarga afetiva emocional (reações com expressão de grande comoção, choro, lágrimas e sentimentos intensos) e desta forma inaugura o método catártico ou catarse já mencionado.
Para condução do método catártico Breuer supõe a ideia da ocorrência de um evento de grande força e impacto emocional, não manifesto em ações ou comportamentos verbais, que por fim eclodiria no trauma psíquico, este trauma desencadeia o mal psíquico (sintoma), originando-se da emoção reprimida, presente no inconsciente, sem o conhecimento consciente do sujeito sobre o evento traumático e, para lembrá-lo, conduz-se o paciente à hipnose.
É um método em que o paciente em estado hipnótico, fala tudo que lhe vem à mente e obtém grande alívio emocional.
A hipnose desperta o interesse de Freud por meio de um relato de Breuer, mas é com Charcot que busca melhorar seu aprendizado. Sua incredulidade com os métodos científicos o impulsionaram ao emprego da hipnose com suas pacientes histéricas, considerando a hipótese da sedução sexual. Pelo fato de ser um mau hipnotizador resolveu experimentar que a mesma liberdade em associar ideias, obtidas pela hipnose acontecesse com os pacientes despertos. A paciente Elizabeth Von R. foi a paciente que solicitou a Freud a liberdade para associar livremente, sem pressão, permitindo-lhe compreender que as barreiras contra o recordar provinham de forças mais profundas.
Freud no início da construção da psicanálise concebe a ocorrência do trauma sexual real acontecendo nos primórdios da infância, como uma forma de abuso sexual e que se mantinha reprimido no inconsciente. Aos poucos o autor vai se convencendo de que havia distorções importantes no relato de suas histéricas, que seriam decorrentes de suas “fantasias inconscientes”. Desta forma, na medida em que a “teoria do trauma” não dava conta de explicar a complexidade do sofrimento neurótico, Freud envereda para a teoria inicial da sedução e da importância das fantasias na produção do adoecimento psíquico.
O questionamento de Freud às dificuldades decorrentes da hipnose e método catártico faz entrar em cena a elaboração psíquica. Elaboração psíquica consiste no trabalho de integração das experiências vividas, independente de sua origem (excitações somáticas, estímulos externos ou informações, aspectos do mundo mental). O trabalho de elaboração possibilita atransformação da energia livre em energia ligada, abrindo caminho para o processo secundário e, consequentemente, o adiamento da descarga da tensão. Se o evento traumático supera a capacidade de assimilação e integração deste à mente, o processo de elaboração possibilita a “compreensão” interna que integra à vida do sujeito, contribuindo para integrar o que antes se mantinha dissociado, fora da consciência.

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