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Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Civil (Parte Geral) / Aula 13 Professor: Rafael da Motta Mendonça Conteúdo: Defeitos do Negócio Jurídico: Erro, Dolo, Coação, Fraude contra Credores. Defeitos do Negócio Jurídico = Negócio Jurídico Anulável (art. 171, II CC): Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Vícios do Consentimento 1) Estado de Perigo 2) Lesão 3) Erro 4) Dolo 5) Coação 6) Fraude contra credores Lesão x Estado de Perigo: Procuradoria do Estado / SC (CESPE) – “A” descobre uma doença grave no coração, cujo tratamento só existe nos EUA custando 400 mil reais. Desesperado, “A” desabafa com um vizinho e lhe propõe a venda de seu apartamento por 1 milhão de reais (valor real do apartamento = 2 milhões). Porém, o vizinho oferece apenas 400 mil pelo apartamento. Há vício de consentimento? Qual? Lesão - a extrema necessidade é muito mais de celebrar um contrato do que salvar uma vida. Procuradoria do Estado / SC (CESPE) – O pai de “A” está internado necessitando urgentemente de uma cirurgia no coração, sob pena de morte. O plano de saúde não autoriza a operação. A operadora do plano informa que a cirurgia poderá ser autorizada mediante a assinatura de um termo aditivo ao contrato aumentado o valor das prestações de 500,00 para 800,00. Após a cirurgia, “A” pretende anular o contrato. Qual o vício do consentimento presente na situação hipotética? Estado de Perigo – perigo de vida real e imediato. Há extrema necessidade de celebrar o contrato para salvar uma vida efetivamente. Lesão x Teoria da Imprevisão: Em ambos os casos teremos uma desproporção entre as prestações, a diferença está no momento em que ocorrem: Lesão - o contrato já nasce desproporcional em razão do vício de consentimento – Anulação do contrato (vício no elemento essencial); Teoria da Imprevisão – um evento futuro e incerto torna o contrato desproporcional – Resolução do contrato. 3) ERRO (art. 138 CC): Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Erro é o falso conhecimento da realidade, enquanto a ignorância seria o total desconhecimento da realidade. No entanto, a doutrina contemporânea e o CC/02 tratam erro e ignorância como expressões sinônimas (no CC de 1916 havia uma diferenciação). Não é qualquer erro que torna o negócio jurídico anulável, sendo imprescindível que ele tenha um aspecto relevante na formação do negócio (art. 140 CC): Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. Erro Essencial ou Substancial = Negócio Jurídico Anulável é a causa do negócio jurídico, a razão determinante. O agente celebrou o negócio jurídico somente porque estava em erro. Erro Acidental = Negócio Jurídico Válido Não incide sobre a razão determinante do negócio. O agente celebraria o negócio de qualquer maneira. Erro # Dolo: No erro, o beneficiário não concorre para a formação da vontade da vítima (“a vítima se enrola sozinha”). Ex1: Gisela quer comprar um carro zero. Ela entra em uma concessionária, se interessa por um carro e, pensando ser este novo, o compra. Porém, quando chegou em casa, ela descobriu que o carro era seminovo. Ao comprar o veículo, Gisela estava em erro – comprou um carro usado pensando ser novo. Neste caso, o erro foi a causa do negócio jurídico (razão determinante), caracterizando-se como erro essencial, sendo o negócio jurídico anulável. Ademais, o beneficiário do erro – dono da concessionária – não concorre para a formação da vontade da vítima. Ex2: Gisela quer um carro modelo X, não interessando o ano. Ao entrar em uma concessionária, ela avista um carro modelo X pensando ser este do ano de 98. Chegando m casa, ela descobre que o carro é de 1994. Porém, ainda que não estivesse em erro, Gisela compraria o carro da mesma forma, já que o que lhe interessava era o modelo e não o ano. Neste caso, teremos um erro acidental, pois não constituía a razão determinante para a celebração do negócio jurídico, sendo este considerado válido. Erro Escusável: Erro escusável é sinônimo de desculpável. Embora o CC de 1916 exigisse que o erro fosse escusável, atualmente, o erro capaz de gerar a anulação do negócio jurídico não precisa ser escusável, com fundamento na boa fé objetiva (dever de informação, confiança, probidade). Defensoria MG (1ª fase) – Um joalheiro, especialista em objetos de prata, ingressa em determinada loja para comprar um relógio de prata. Ao avistar um relógio ele diz: “Nossa que relógio de prata lindo” e o compra. Chegando em casa, após 2 meses de uso, o relógio começa a escurecer, porque na verdade era de lata. Não resta dúvidas de que o joalheiro agiu em erro, pois comprou um relógio de lata pensando ser de prata, tratando-se de um erro essencial. Porém, sendo o joalheiro um especialista em objetos de prata, o erro não será considerado escusável. No entanto, ainda que o erro não seja escusável, teremos um negócio jurídico anulável com base na boa fé objetiva – o vendedor tinha o dever de informar que o relógio era de lata. Defensoria RJ (1ª fase) - Um joalheiro, especialista em objetos de prata, compra um relógio de prata e este começa a escurecer 1 semana depois, embora efetivamente fosse de prata. Neste caso, teremos um vício redibitório, ou seja, um vício oculto que torna a coisa imprópria para a finalidade a qual se destina. Enunciado 12 CJF: – Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança. O art. 139 traz um rol exemplificativo de erros essenciais ou substanciais ( cai muito em provas de múltipla escolha): Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. a) Error in negotio (art. 139, I, 1ª parte - “interessa à natureza do negócio”) diz respeito à natureza do negócio (cai muito em FCC). b) Error in corpore (art. 139, I, 2ª parte - “interessa ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais”) diz respeito à qualidade essencial do negócio. c) Error in persona (art. 139, II) a doutrina sustenta que este dispositivo não se aplica às hipóteses de erro envolvendo casamento, pois há previsão específica nesse sentido (arts. 1556 a 1558 CC). Ex: A namorada de “B” está grávida e este faz a doação de um apartamento pensando ser o pai da criança. Após a doação, a namorada informa que o filho não é de “B”. Neste caso, teremos um erro de pessoa – se “B” soubesse que o filho não era seu, não teria doado o apartamento. d) Error in juris (Erro de Direito) é o falso conhecimento do direito aplicável ou de sua interpretação, frustrando as expectativas nas quais se baseou o negócio. Ex: “A” compra uma gleba de terra no município de Araruama com a intenção de lotear o terreno (constando na escritura), construir casas de 2 andarese posteriormente vendê-las. Após a compra, “A” descobre que o Plano Diretor do município de Araruama proíbe o loteamento. Observe-se que “A” não sabia que o plano diretor tinha a competência de proibição de loteamento, caracterizando falso conhecimento da aplicação do direito. Portanto, o negócio jurídico será anulável com base no erro de direito. Obs: # Art. 3º da LINDB – descumprimento da lei alegando desconhecimento da norma. 4) DOLO (art. 145 CC): Dolo é um artifício (ardil) praticado por uma das partes para obter proveito em face do prejuízo de outrem. A doutrina contemporânea (Nelson Rosenvald) defende que o proveito não precisa ser necessariamente econômico, podendo ser pessoal, moral, etc. (# CC de 1916 – exigia proveito econômico). O dolo, assim como o erro, também poderá ser essencial (específico) ou acidental, aplicando-se a mesma lógica). A diferença estará na postura do beneficiário: no dolo, o beneficiário concorre para a formação da vontade da vítima. Dolo acidental – Negócio Jurídico Válido, mas a vítima pode exigir perdas e danos, em razão da conduta dolosa do beneficiário (art. 146 CC): Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. # Erro acidental – não há perdas e danos. Obs1: Dolo por Omissão (art. 147 CC): O silêncio do beneficiário pode caracterizar o erro, porém quando o silêncio for intencional configura-se o dolo por omissão. Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Obs2: Dolo de terceiro (art. 148 CC): Nem sempre é o beneficiário que pratica o dolo, mas sim um terceiro. No caso de dolo de terceiro, a determinação se o negócio jurídico será anulável ou não dependerá do conhecimento do beneficiário: Beneficiário conhecia – Negócio Jurídico Anulável Beneficiário não conhecia – Negócio Válido, mas o terceiro que praticou o dolo responderá pelas perdas e danos. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. Obs3: Dolo de representante (art. 149 CC): Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. Representante Legal – Representado responde no limite do proveito. Negócio Jurídico Representante Convencional – responsabilidade solidária Anulável por perdas e danos. Obs4: Dolo Recíproco (art. 150 CC): O dolo será recíproco quando ambas as partes praticarem o dolo. Neste caso, os dolos se compensam e o negócio jurídico será válido. 5) COAÇÃO: Existem duas espécies de coação: a) Coação Física ou Coação pela via absoluta há um perigo imediato, ou seja, a vítima não tem tempo de reflexão. Trata-se de um vício tão grave que considera-se que o elemento essencial consentimento não está presente – Negócio Jurídico Inexistente. Os efeitos do negócio inexistente são os mesmos da nulidade absoluta. b) Coação Moral ou Coação pela via compulsiva ou relativa (art. 151 CC): Requisitos da Coação Moral: Perigo Iminente – a vítima tem um espaço de reflexão. Mal certo e determinado Mal injusto - c/c art. 153 CC – não se considera coação o exercício regular de um direito nem o simples temor reverencial (relações de hierarquia). Proporcionalidade entre o mal praticado e o prejuízo sofrido Obs: Coação de Terceiro: Na coação de terceiro, assim como no dolo de terceiro, a determinação do negócio jurídico ser anulável ou não dependerá do conhecimento da prática da coação pelo beneficiário: Beneficiário conhecia (art. 154 CC) – Negócio Jurídico Anulável + Responsabilidade Solidária. # Dolo de terceiro – Negócio Jurídico Anulável (sem responsabilidade solidária) Beneficiário não conhecia (art. 155 CC) – Negócio Jurídico Válido, mas terceiro responderá pelas perdas e danos. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. 6) FRAUDE CONTRA CREDORES: Trata-se de um vício social porque atinge um terceiro estranho ao negócio jurídico original. Em regra, a fraude contra credores decorre da transferência de bens realizada pelo devedor com o objetivo de dificultar o adimplemento da obrigação. Quando a transmissão de bens configura a fraude contra credores? Dependerá da modalidade da transmissão Transmissão Gratuita (art. 158 CC) – único requisito será a insolvência. Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. Transmissão Onerosa (art. 159 CC) – insolvência + notoriedade dessa insolvência (conluio na fraude - adquirentes tenham conhecimento da insolvência). Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Nestes casos, para evitar a configuração da fraude deve-se: pagar o valor de mercado + depositar o valor em juízo por meio de consignação em pagamento + citação de todos os credores. Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
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