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OBSTETRÍCIA EM PEQUENOS ANIMAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEONARDO AUGUSTO LOPES MUZZI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal de Lavras - UFLA 
Lavras – MG 
2013 
 
 
ÍNDICE 
 
1 PELVIOLOGIA E PELVIMETRIA ............................................................................ 5 
2 GESTAÇÃO FISIOLÓGICA ..................................................................................... 8 
2.1 Desenvolvimento Embrionário ............................................................................... 8 
2.2 Membranas e Líquidos Fetais ............................................................................... 9 
2.3 Placenta ................................................................................................................ 10 
2.4 Endocrinologia da Gestação ................................................................................ 12 
2.5 Outros Eventos durante a Gestação ................................................................... 13 
2.6 Tamanho da Ninhada e duração da Gestação ................................................... 13 
2.7 Formas Especiais de Gestação ........................................................................... 14 
3 DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO ........................................................................... 15 
3.1 Palpação Abdominal ............................................................................................ 15 
3.2 Auscultação .......................................................................................................... 16 
3.3 Doppler Fetal ........................................................................................................ 16 
3.4 Exame Radiográfico ............................................................................................. 16 
3.5 Exame Ultrassonográfico ..................................................................................... 17 
3.6 Testes Sorológicos............................................................................................... 19 
4 PATOLOGIAS DA GESTAÇÃO E PSEUDOGESTAÇÃO ................................... 21 
4.1 Doenças Metabólicas ........................................................................................... 21 
4.2 Doenças Infecciosas ............................................................................................ 21 
4.3 Mumificação e Maceração dos Fetos .................................................................. 23 
4.4 Histerocele Gravídica ........................................................................................... 24 
4.5 Pseudogestação .................................................................................................. 25 
5 PARTO NORMAL ................................................................................................... 27 
5.1 Mecanismo Neuro-endócrino do Parto ................................................................ 27 
5.2 Fases do Parto ..................................................................................................... 29 
5.2.1 Fase Prodrômica ............................................................................................. 29 
5.2.2 Fase de Dilatação e Insinuação (Estágio I do parto) ................................... 30 
5.2.3 Fase de Expulsão Fetal (Estágio II do parto) ............................................... 30 
5.2.4 Fase de Eliminação das Membranas (Estágio III do parto) ........................ 31 
 
 
6 PUERPÉRIO FISIOLÓGICO .................................................................................. 33 
7 CUIDADOS COM O NEONATO ............................................................................ 35 
8 DISTOCIAS DE ORIGEM MATERNA ................................................................... 38 
8.1 Inércia Uterina Primária ....................................................................................... 38 
8.2 Inércia Uterina Secundária .................................................................................. 40 
8.3 Alterações da Via Fetal Óssea ............................................................................ 41 
8.4 Alterações da Via Fetal Mole ............................................................................... 42 
8.5 Torção do Útero ................................................................................................... 42 
9 DISTOCIAS DE ORIGEM FETAL .......................................................................... 44 
9.1 Fetos Grandes ..................................................................................................... 44 
9.2 Alterações da Estática Fetal (Posicionamentos Incorretos) ............................... 45 
9.3 Alterações do Desenvolvimento e Monstruosidades Fetais ............................... 46 
10 MANOBRAS PARA AUXÍLIO AO PARTO VAGINAL ........................................ 47 
10.1 Manipulação Digital ............................................................................................ 47 
10.2 Manipulação com Fórceps ................................................................................. 48 
11 PATOLOGIAS DO PUERPÉRIO ......................................................................... 50 
11.1 Hemorragia Pós-Parto ....................................................................................... 50 
11.2 Retenção de Placenta ........................................................................................ 51 
11.3 Subinvolução dos Sítios Placentários ............................................................... 51 
11.4 Metrite Aguda ..................................................................................................... 52 
11.5 Prolapso Uterino ................................................................................................ 53 
11.6 Tetania Puerperal (Eclâmpsia) .......................................................................... 54 
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 56 
 
 
 
 
 
 
1 
PELVIOLOGIA E PELVIMETRIA 
A pelviologia é o estudo das estruturas pélvicas que compõem o 
canal do parto. A via fetal é o conduto formado pela pelve e partes do 
sistema genital, o qual o feto precisa transpor durante o parto para 
alcançar o ambiente externo. A via fetal óssea é formada pelos ossos 
ílio, ísquio, púbis, sacro e as primeiras vértebras coccígeas. O formato 
da pelve é uma característica morfológica específica das espécies e das 
raças, que pode facilitar ou dificultar o processo de parto. 
A abertura cranial da pelve é formada, principalmente, pelas 
estruturas ósseas, o que lhe confere pouca mobilidade no processo de 
parto e representa um dos principais obstáculos à passagem dos fetos 
pelo canal pélvico. Conforme o formato da abertura cranial da pelve, 
algumas medidas podem ser avaliadas para classificação. As principais 
medidas utilizadas para essa classificação são o diâmetro transverso 
médio (que representa a distância entre os corpos dos ílios no ponto 
médio da abertura cranial da pelve) e o diâmetro conjugado (que 
representa a distância entre a extremidade cranial da sínfise púbica e o 
promontório sacral). Baseando-se nesses diâmetros, as fêmeas de 
pequenos animais podem ser classificadas como dolicopélvicas, 
mesatipélvicas ou platipélvicas. 
 
Dolicopélvicas: 
- abertura cranial em formato oval; 
- pelve achatada lateralmente; 
- diâmetro conjugado maior que o diâmetro transverso; 
- exemplos: cadelas das raças Galgo, Greyhound, Whippet e Pastor 
Alemão. 
EDITORA – UFLA/FAEPE- Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
6 
Mesatipélvicas: 
- abertura cranial em formato circular; 
- diâmetro conjugado semelhante ao diâmetro transverso; 
- exemplos: cadelas das raças Dálmata, Pointer, Cocker e Beagle. 
 
Platipélvicas: 
- abertura cranial achatada dorsoventralmente; 
- diâmetro conjugado menor que o diâmetro transverso; 
- exemplos: cadelas das raças Pequinês, Bulldog, Basset Hound e 
Pug. 
A maioria das cadelas sem raça definida e das gatas apresentam as 
pelves discretamente dolicopélvicas. A pelve no formato dolicopélvico 
representa um importante fator causador de distocia nas fêmeas 
bovinas, entretanto, nos pequenos animais, essa morfologia pélvica 
dificilmente gera transtornos ao processo de expulsão dos fetos. Do 
ponto de vista anatômico, as fêmeas mesatipélvicas são as que 
possuem melhor conformação da via fetal óssea em relação à 
passagem fetal. Todavia, as fêmeas com formato platipélvico podem 
apresentar distocia por desproporção feto-pélvica. As cadelas das raças 
Bulldog Inglês e Boston Terrier e as gatas da raça Persa são propensas 
à distocia obstrutiva, devido ao fato de os fetos apresentarem cabeças 
largas em comparação à pelve estreita dorsoventralmente. 
De forma geral, as cadelas e as gatas apresentam conformação 
pélvica favorável ao parto. A seguir serão descritas algumas 
características das pelves das fêmeas dessas espécies. 
 
Pelve da cadela: 
- pelve curta e regular; 
- abertura cranial com formato variável; 
- assoalho pélvico curto e plano; 
- sacro muito curto com pouca massa óssea; 
- tuberosidades isquiáticas pouco proeminentes; 
- grande distância entre sacro e ísquio. 
 
Pelve da gata: 
- pelve curta e regular; 
- pelve discretamente dolicopélvica (maioria); 
Pelviologia e Pelvimetria 
 
7 
- assoalho pélvico curto e plano; 
- sacro curto com pouca massa óssea; 
- tuberosidades isquiáticas pouco proeminentes; 
- forames obturadores grandes; 
- mobilidade nas vértebras sacrais (fêmeas jovens). 
 
A via fetal mole é constituída pela cérvix, vagina, vestíbulo vaginal, 
vulva e componentes ligamentosos e tendíneos. Na proximidade do 
parto, devido à ação hormonal, ocorre o afrouxamento da via fetal mole, 
possibilitando a passagem dos fetos pelo conduto pélvico. As 
articulações intrínsecas e extrínsecas que participam, direta ou 
indiretamente, no processo de parto são: sacro-ilíaca, sínfise ísquio-
púbica, sacro-coccígea, três primeiras vértebras coccígeas, lombo-
sacral e coxofemoral. Os ligamentos sacro-ilíaco e sacro-tuberal e o 
tendão pré-púbico também exercem atividade para facilitar a expulsão 
dos fetos. 
Entre os nervos do plexo sacral destacam-se o pudendo, o 
isquiático e o obturador. Embora seja possível, é pouco comum a 
compressão do nervo obturador em cadelas e gatas, devido à 
conformação anatômica da pelve e dos fetos. O nervo obturador 
percorre a superfície medial do corpo ilíaco e passa através do forame 
obturador para inervar os músculos internos da coxa, responsáveis pela 
adução do membro pélvico. Quando um feto grande ou enfisematoso 
permanece preso dentro do canal pélvico, pode ocasionar a compressão 
do nervo e provocar a paralisia do obturador, com sinais clínicos de 
abdução e claudicação do membro acometido. É uma condição rara, 
geralmente de caráter transitório e de prognóstico favorável. 
A pelvimetria é a mensuração dos diâmetros da cavidade pélvica 
com a finalidade de avaliar sua área e predizer uma possível 
desproporção feto-pélvica. Em cães, utiliza-se a pelvimetria radiográfica, 
que permite medir os diâmetros dos ossos pélvicos por meio da 
radiografia da região e compará-los aos diâmetros cefálicos dos fetos no 
momento do parto, possibilitando diagnosticar e quantificar uma possível 
distocia obstrutiva. 
 
 
2 
GESTAÇÃO FISIOLÓGICA 
2.1 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO 
A tuba uterina recebe os oócitos na forma primária. Durante os 3 
dias seguintes à ovulação, ocorre a maturação dos oócitos com a 
extrusão do corpo polar, transformando-os em oócitos secundários. 
Esses últimos podem ser fertilizados do terceiro ao quinto dia após a 
ovulação, o que ocorre na parte distal da tuba uterina. O óvulo 
fecundado é denominado zigoto, que sofre rápidas divisões celulares 
mitóticas e se transforma em mórula antes de alcançar o útero. A mórula 
é uma estrutura arredondada compacta com 16 células ou mais, que 
chega ao útero em torno de 9 dias após a ovulação ou 6 dias após a 
fecundação. Forma-se rapidamente uma cavidade no interior da mórula, 
dando origem a uma estrutura esférica preenchida por líquido, 
denominada blastocisto. Nessa fase, há a ruptura da zona pelúcida, o 
que permite o desenvolvimento do concepto. As células externas do 
blastocisto (trofoblasto) vão dar origem às membranas fetais, enquanto 
as células internas (embrioblasto) irão originar o embrião. 
Entre os 17 e 18 dias após a fecundação ocorre a formação de 
áreas focais edemaciadas no endométrio. A implantação (nidação) irá 
ocorrer nessas áreas específicas dos 17 aos 21 dias após a fecundação. 
Não há correlação entre o número de óvulos fertilizados em uma tuba ou 
o número de corpos lúteos em um ovário e o número de fetos 
implantados naquele respectivo corno uterino. Parece ocorrer uma 
distribuição igualitária dos fetos entre os dois cornos uterinos, 
independentemente do seu lado ovariano de origem. O período de 
formação de órgãos e sistemas do embrião, denominado organogênese, 
encerra-se por volta dos 35 dias de gestação, dando origem ao 
subseqüente desenvolvimento fetal. Na fase de organogênese, o 
embrioblasto se diferencia em três camadas germinativas: a ectoderme 
vai originar o sistema nervoso central, os órgãos do sentido, a epiderme, 
Debora
Highlight
Gestação Fisiológica 
 
9 
os pêlos e unhas e a glândula mamária; a mesoderme irá originar os 
sistemas circulatório, osteomuscular e geniturinário e as células 
sanguíneas; a endoderme originará o sistema digestivo e glândulas 
anexas e o sistema respiratório. Aos 35 dias de gestação, um embrião 
de uma cadela da raça Beagle possui 35mm de comprimento 
craniocaudal e cresce 6mm ao dia do 35° ao 40° dia. Após a fase de 
organogênese, o desenvolvimento do concepto ocorre, principalmente, 
em relação ao aumento do tamanho fetal. 
2.2 MEMBRANAS E LÍQUIDOS FETAIS 
Aos 23 dias de gestação ocorre a união da camada mais externa 
das membranas fetais (corioalantóide) com o endométrio materno. Entre 
o 21° e o 35° dia de gestação, as vesículas embrionárias têm 
crescimento esférico e os espaços entre cada concepto formam áreas 
de constrição no corno uterino. Após os 35 dias, o crescimento fetal e o 
aumento de volume dos seus líquidos expandem as membranas, 
fazendo com que as áreas de constrição uterina desapareçam. O 
contato entre as membranas corioalantoideanas adjacentes promove a 
formação de cornos uterinos tubulares e uniformemente distendidos. 
No período embrionário inicial, os líquidos fetais são contidos no 
saco vitelínico, que é um anexo transitório que armazena os nutrientes e 
elimina os resíduos do embrião. Com o desenvolvimento da gestação, 
formam-se as membranas fetais. O córion é a membrana fetal mais 
externa (trofoblasto), que se une ao alantóide para realizar o contato 
materno-fetal. O corioalantóide possui ação erosiva sobre o endométrio 
e representa a parte fetal da placenta. O alantóide é a membrana fetal 
intermediária vascularizada, na qual a camada mais externa se funde 
com o trofoblasto e a camada mais interna reveste o cordão umbilical. O 
saco alantoideano promove o acúmulo de líquidos fetais, representados, 
principalmente, pela urina fetal via úraco. O líquido é amarelo-claro, com 
aspecto transparente, de consistência aquosa, pH de 6,5 a 7,5, 
contendo uréia, glicose, minerais e albumina.O volume do líquido 
alantoideano é variável conforme a fase gestacional, mas é 
predominante e mais volumoso no final da gestação, que varia de 10 a 
50 ml nas cadelas e de 3 a 15 ml nas gatas. 
O âmnio é a membrana fetal mais interna e que envolve 
completamente o feto. É uma membrana transparente e firme que forma 
o saco amniótico. O âmnio, contendo o feto, está totalmente envolvido e 
flutua livre dentro do saco alantoideano. A fonte do líquido amniótico no 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
10 
início da gestação é a secreção do epitélio da membrana e a urina fetal 
via uretra. À medida que a gestação avança, o líquido torna-se mais 
viscoso, sendo formado, principalmente, pela saliva, secreções da 
nasofaringe e descamação fetal. O líquido é amarelo âmbar, com 
aspecto transparente e de consistência viscosa. O volume é regulado 
pela ingestão fetal e, na fase final da gestação, varia de 8 a 30 ml nos 
pequenos animais. 
Em geral, os líquidos fetais exercem diversas funções, que serão 
descritas a seguir: 
- promovem a justaposição do corioalantóide com o endométrio; 
- armazenam excretas e resíduos dos fetos; 
- protegem o feto contra traumatismo e desidratação; 
- protegem o feto contra variação de temperatura; 
- permitem o crescimento fetal e seus movimentos; 
- auxiliam na dilatação da cérvix, vagina e vulva durante o parto; 
- promovem a lubrificação do canal do parto após a ruptura das 
membranas; 
- inibem o crescimento bacteriano e evitam aderências; 
- auxiliam o feto adotar posição eutócica para o parto. 
 
O cordão umbilical é uma estrutura funicular que promove a ligação 
do feto à placenta. Ele é revestido pelas membranas do âmnio e do 
alantóide, sendo formado pelos seguintes componentes: úraco, duas 
artérias (ramos das ilíacas internas), duas veias e a lubrificante geléia de 
Wharton. Nas cadelas e nas gatas, o cordão umbilical é muito resistente 
e curto, apresentando comprimento de 8 a 12 cm. Em geral, o cordão 
não se rompe após a passagem do feto pelo canal pélvico, sendo 
necessária a intervenção materna com a mastigação para sua ruptura. 
2.3 PLACENTA 
A placenta é representada pela união do corioalantóide (placenta 
fetal) com o endométrio (placenta materna). As vilosidades vasculares 
da superfície do corioalantóide se aderem firmemente às criptas do 
endométrio nas áreas especializadas para trocas entre o feto e a mãe. O 
trofoblasto provoca uma importante lesão no endométrio materno, sendo 
denominada placenta deciduada ou verdadeira. Esse tipo de placenta, 
além de provocar uma dissolução prévia da mucosa uterina, apresenta 
as seguintes características: os anexos são eliminados durante o parto e 
o descolamento placentário provoca hemorragia uterina. 
Gestação Fisiológica 
 
11 
Quanto ao aspecto anatômico, as cadelas e as gatas possuem 
placenta do tipo zonária, representada por uma faixa anelar em torno da 
região central da membrana coriônica, que acompanha a circunferência 
da luz uterina. A faixa zonária possui largura que varia de 2,5 a 7,5 cm. 
Fora da zona de aderência, o restante do córion apresenta superfície 
lisa e desprovida de vilosidades, e não possui função placentária. Nas 
margens da região zonária ocorre a ruptura de vasos sanguíneos 
maternos e o sangue extravasado acumula na região periférica, 
formando os hematomas marginais da placenta. Eles ocorrem com mais 
intensidade nas cadelas e parecem ter a função de fornecer ferro aos 
fetos. Histologicamente, as cadelas e as gatas possuem placenta do tipo 
endoteliocorial, na qual ocorre grande invasão do endométrio com perda 
dos tecidos epitelial e conjuntivo, permanecendo apenas o endotélio 
materno em contato com o tecido fetal. 
A placenta desempenha variadas funções que se assemelham aos 
diversos sistemas do organismo adulto. Ela atua como órgão 
respiratório, pois os pulmões do feto são inativos e o sangue oxigenado 
chega ao endométrio por meio de ramificações das artérias uterinas, 
que atingem as veias umbilicais. As trocas gasosas ocorrem no âmbito 
da circulação capilar nas áreas específicas de contato do corioalantóide 
com o endotélio materno. Existe uma transferência de O2  CO2 
materno-fetal por difusão, na qual a hemoglobina fetal possui maior 
afinidade ao oxigênio do que a hemoglobina materna. Nos últimos dias 
que antecedem o nascimento, o feto realiza exercícios respiratórios com 
movimentos de expansão da cavidade torácica. 
A placenta também atua como órgão de nutrição do feto e de 
filtração. A água atravessa a barreira placentária nos dois sentidos por 
difusão. Há transferência de substâncias inorgânicas (cálcio, fósforo, 
iodo, ferro) e orgânicas (glicose, aminoácidos, ácidos graxos) para os 
fetos. A placenta forma uma barreira para algumas substâncias 
estranhas ao organismo, sendo impermeável aos elementos celulares 
como leucócitos e bactérias. De forma geral, os fármacos e os 
anestésicos atravessam a barreira placentária e atingem os fetos, 
devendo ser utilizados com cautela nas fêmeas gestantes, 
principalmente no terço inicial da prenhez. 
Alguns hormônios são sintetizados pela placenta, tais como 
progestágenos, estrógenos e relaxina. Nas cadelas, os corpos lúteos 
são necessários durante toda a gestação para manter a produção de 
progesterona. Nas gatas, a maior parte da gestação é mantida pela 
progesterona oriunda dos corpos lúteos, entretanto, a partir dos 50 dias 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
12 
de gestação, a placenta assume grande parte da produção desse 
hormônio. Durante a gestação, os ovários e a placenta contribuem para 
a manutenção dos níveis circulantes de relaxina. Em relação à função 
de imunoproteção, a placenta dos carnívoros apresenta apenas 4 
camadas de separação entre os tecidos fetais e os maternos, o que 
permite a transmissão passiva de imunoglobulinas via placentária. 
Dessa forma, os filhotes já apresentam imunidade parcial ao nascerem, 
devendo esta ser reforçada pela ingestão do colostro. 
2.4 ENDOCRINOLOGIA DA GESTAÇÃO 
Durante a gestação da cadela, é essencial a presença dos corpos 
lúteos funcionais. Se a ovariectomia for realizada após o 30º dia de 
gestação, o aborto ocorrerá dentro de 24 a 72 horas. No início do 
diestro, a concentração de progesterona deve ser superior a 5 ng/ml e 
continua a aumentar durante 10 a 15 dias, quando a concentração está 
usualmente acima de 25 ng/ml. A progesterona permanece em níveis de 
pico por 7 a 14 dias e depois declina gradualmente, durante o restante 
da gestação. Em cadelas gestantes, há uma queda brusca pré-parto da 
concentração para menos de 2 ng/ml, mas cadelas com pseudociese 
também podem apresentar esse mesmo declínio na concentração de 
progesterona. Foram realizados diversos estudos comparando as 
concentrações séricas de progesterona em cadelas gestantes e não-
gestantes e não foram observadas diferenças importantes entre elas. 
Não existem fatores luteotrópicos ou luteolíticos conhecidos no útero ou 
na placenta de cadelas. 
A concentração plasmática de estrógenos permanece em níveis 
basais (5 a 15 pg/ml) durante as primeiras 5 ou 6 semanas de gestação. 
As concentrações aumentam na fase final da gestação e permanecem 
elevadas (20 a 30 pg/ml) até o momento do parto, quando, então, 
estrógeno e progesterona, declinam acentuadamente. O estrógeno 
auxilia no desenvolvimento mamário e no relaxamento da via fetal. 
A prolactina parece exercer importante função luteotrópica, 
podendo ser a responsável pela manutenção e a funcionalidade dos 
corpos lúteos. A concentração aumenta, na segunda metade da 
gestação, para índices em torno de 25 ng/ml e, restando cerca de 32 
horas para o parto, observa-se um pico transitório de 117± 24 ng/ml. 
Outro hormônio atuante no processo gestacional é a relaxina, que atinge 
concentraçõesdetectáveis aos 30 dias de gestação, alcança níveis de 
pico (5 ng/ml) entre 40 a 50 dias e apresenta moderado declínio antes 
da parição. A relaxina é um hormônio específico de cadelas gestantes e 
pode ser utilizado como teste de diagnóstico da prenhez. 
Gestação Fisiológica 
 
13 
2.5 OUTROS EVENTOS DURANTE A GESTAÇÃO 
As necessidades calóricas aumentam constantemente durante a 
gestação, principalmente no terço final, e o peso corporal total pode 
aumentar de 20% a 55%. Na fase final da gestação, é aconselhado 
alimentar as fêmeas com pequenas porções, várias vezes ao dia. 
Animais que estão abaixo do peso ideal têm dificuldade em manter boa 
condição corporal durante a prenhez e produção de leite após o parto. 
Em contrapartida, fêmeas obesas têm predisposição para distocias e 
contribuem para o aumento da mortalidade neonatal. 
Cadelas gestantes podem apresentar um corrimento vulvar mucoso 
em torno de um mês após o acasalamento. A expansão abdominal pode 
ser notada a partir dos 40 dias de gestação e o intumescimento mamário 
inicia-se em torno dos 45 dias. Uma secreção serosa pode ser obtida 
pela compressão das mamas no terço final da gestação e o colostro 
pode estar presente nas glândulas nos últimos 7 dias da prenhez. 
Em cadelas, o hematócrito diminui para 40%, por volta dos 35 dias 
de gestação e para menos de 35%, no momento do parto. A causa 
dessa anemia progressiva é o aumento do volume plasmático gerando 
hemodiluição, mas esta alteração não provoca transtornos à saúde da 
fêmea. Em gatas, o número de eritrócitos e o hematócrito também 
declinam durante a gestação, mas os valores absolutos permanecem 
quase sempre dentro dos limites da normalidade. 
Entre os 30 e 40 dias de gestação, a cadela pode apresentar uma 
leucocitose com valores que variam de 17.000 a 26.000 células/mm3. A 
cadela gestante também pode apresentar hipercolesterolemia e 
hiperproteinemia, além do aumento na atividade dos fatores de 
coagulação. 
2.6 TAMANHO DA NINHADA E DURAÇÃO DA GESTAÇÃO 
Em geral, quanto maior o porte da cadela, maior o tamanho da 
ninhada. Cadelas das raças toy, usualmente, geram de 1 a 4 filhotes, as 
de porte médio podem produzir cerca de 6 a 8 filhotes, enquanto as 
cadelas de grande porte podem gerar 12 ou mais filhotes por ninhada. O 
tamanho médio da ninhada de gatas sem raça definida é de 4 filhotes, 
mas há uma variação de 2 a 7 filhotes entre as gatas de raça. As gatas 
das raças orientais tendem a produzir ninhadas maiores, enquanto as 
gatas de pêlos longos tendem a gerar ninhadas com 2 ou 3 filhotes. 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
14 
A variação no tempo da ovulação espontânea, o período longo de 
cruzamento e a duração imprecisa da fase do estro tornam difícil a 
avaliação da data de fertilização e a previsão do tempo de gestação nas 
cadelas. A definição de 63 dias após a data do primeiro cruzamento 
pode não ser uma fórmula adequada, pois, baseando-se nesse critério, 
o período gestacional pode variar de 56 a 70 dias. A duração da 
gestação é de 65± 1 dia, se calculada a partir do pico de LH e de 57± 3 
dias, se calculada a partir do primeiro dia do diestro determinado pela 
citologia vaginal. Cadelas com grande número de fetos tendem a 
apresentar o período gestacional um pouco mais reduzido, enquanto 
cadelas com apenas 1 ou 2 fetos podem apresentar gestação mais 
prolongada. Fêmeas primíparas apresentam, geralmente, prenhez de 
menor duração comparativamente às pluríparas. 
A duração média do período gestacional nas gatas é de 63 a 65 
dias, porém, está descrita uma possível variação entre 59 a 70 dias. O 
fato de a ovulação não ocorrer necessariamente após o primeiro 
acasalamento pode explicar em parte essa considerável variação. 
2.7 FORMAS ESPECIAIS DE GESTAÇÃO 
Superfecundação, é a condição em que, no mesmo período estral, 
gametas de diferentes machos fecundam vários oócitos da mesma 
fêmea. Essa ocorrência é mais observada em fêmeas multíparas com 
acasalamento promíscuo. A superfecundação é confirmada quando a 
ninhada apresenta considerável variação nas características dos 
filhotes. No entanto, devem-se descartar as possíveis variações normais 
de conformação das crias em animais mestiços. 
Superfetação, é uma condição caracterizada pela ocorrência de 
estro fértil, cópula e fecundação durante um processo gestacional já 
iniciado. Dessa forma, mantém-se uma gestação com fetos de 
diferentes idades. O nascimento dos fetos pode ocorrer em duas 
situações diferentes: ocorre o nascimento de fetos maduros e imaturos 
no mesmo parto, ou o nascimento de fetos maduros em partos distintos 
intervalados do período semelhante ao tempo de ocorrência do ciclo 
estral. É uma situação rara, sendo necessário descartar a possibilidade 
de retardo na implantação de alguns embriões. Deve-se evitar essa 
situação impedindo a cobertura de fêmeas gestantes. 
 
 
3 
DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO 
A cadela não é policíclica e o intervalo inter-estral é semelhante nas 
fêmeas gestantes e não-gestantes. Dessa forma, a ausência de retorno 
à fase estral não é um indicativo de processo gestacional. Além disso, 
um problema constante no diagnóstico é a elevada incidência de 
cadelas com pseudociese, que apresentam alterações físicas e 
comportamentais semelhantes às gestantes. 
3.1 PALPAÇÃO ABDOMINAL 
A palpação abdominal é um método de diagnóstico gestacional 
fácil, rápido e não dispendioso. Pode ser bastante precisa, dependendo 
de alguns fatores, como: porte do animal, quantidade de gordura 
corporal, temperamento da fêmea, período da gestação, número de 
fetos e experiência do examinador. A palpação não é um método 
adequado para se estimar o número de fetos ou avaliar a viabilidade 
fetal. 
Entre 21 e 25 dias de gestação, os embriões apresentam-se como 
pequenas estruturas ovaladas que são dificilmente percebidas à 
palpação. Nessa fase, a eficácia diagnóstica permanece em torno de 
50%, sendo mais fácil detectar os embriões em cadelas pequenas, 
magras e dóceis. Entre 25 e 35 dias de gestação, os conceptos tornam-
se estruturas esféricas com cerca de 30 mm de diâmetro, que causam 
distensão na parede uterina. Este é o período ideal para o diagnóstico 
da prenhez por meio da palpação, tendo uma precisão de 87% na 
identificação de fêmeas gestantes e de 73% na identificação de fêmeas 
não-gestantes. 
A partir dos 35 dias de gestação, os envoltórios tornam-se 
alongados e o útero aumenta de forma tubular e difusa, dificultando 
muito a detectação da gestação no período entre 35 e 55 dias. Após o 
55º dia de prenhez, os fetos estão bastante desenvolvidos e podem ser 
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16 
facilmente identificados pela manipulação do abdômen. Nessa fase final, 
os movimentos fetais também podem ser detectados pela palpação. 
3.2 AUSCULTAÇÃO 
O diagnóstico da gestação por auscultação pode de ser realizado 
na fase final do processo, a cerca de duas semanas do parto. A 
auscultação torna-se mais evidente na última semana de gestação. Com 
a utilização de um estetoscópio adequado, é possível auscultar os 
batimentos cardíacos dos fetos, que estão entre 200 a 240 batimentos 
por minuto e usualmente são mais que o dobro dos batimentos 
cardíacos da mãe. A auscultação cardíaca fetal permite avaliar, em 
parte, a viabilidade fetal. Entretanto, a ausência de batimentos cardíacos 
fetais à auscultação, na fase final da gestação, não implica 
necessariamente na falta de viabilidade fetal, pois alguns fatores podem 
interferir no diagnóstico, como obesidade da fêmea, quantidade de fetos, 
posicionamento dos fetos e qualidade do estetoscópio. 
3.3 DOPPLER FETAL 
O efeito Doppler permite detectar o fluxo vascular fetal e 
placentário. O transdutor é posicionado sobre a parede abdominal, 
adjacente às glândulasmamárias, e os sons cardíacos dos fetos são 
detectados a partir dos 32 dias de gestação. Entretanto, foi descrita uma 
eficácia diagnóstica de 100% somente após os 43 dias de gestação. O 
Doppler fetal não possibilita estimar o número de fetos e permite uma 
avaliação superficial da viabilidade fetal. 
3.4 EXAME RADIOGRÁFICO 
Da quarta à sexta semana de gestação, observam-se os cornos 
uterinos distendidos localizados dorsalmente à bexiga e ventralmente ao 
cólon, provocando o deslocamento cranial do intestino delgado. Nos 
dois terços iniciais da gestação, o útero apresenta radiopacidade de 
tecidos moles e não pode ser diferenciado de outras causas de 
distensão uterina, como a piometra. O diagnóstico definitivo somente 
pode ser realizado após a fase de mineralização dos esqueletos fetais, 
que ocorre por volta dos 45 dias de gestação nas cadelas e 43 dias nas 
gatas. 
É um exame bastante preciso para se determinar o número de fetos 
Diagnóstico da Gestação 
 
17 
na fase final da gestação. Em geral, apenas uma imagem na projeção 
lateral é suficiente para o diagnóstico gestacional, embora a projeção 
ventrodorsal possa ser necessária para melhor contagem do número de 
fetos ou verificação da apresentação fetal. O exame radiográfico é 
pouco eficiente para se avaliar a viabilidade fetal. Os sinais radiográficos 
de decomposição são identificados entre 12 a 48 horas após a morte 
fetal e caracterizam-se pela presença de gases no útero e nos tecidos 
fetais, sobreposição dos ossos do crânio e colapso do esqueleto axial. 
3.5 EXAME ULTRASSONOGRÁFICO 
O exame ultrassonográfico no modo B (bidimensional) em tempo 
real permite avaliar o estado gestacional, a viabilidade dos fetos e 
investigar as estruturas reprodutivas intra-abdominais. Não é um bom 
método para se avaliar o número de fetos, principalmente quando 
utilizado para este propósito na fase avançada da gestação. Entre 28 e 
35 dias de prenhez é o período em que mais facilmente pode-se 
predizer o número de fetos. Para a maioria das cadelas, a 
ultrassonografia pode ser realizada com um transdutor de 5.0 MHz, 
enquanto cadelas pequenas e gatas podem necessitar de um transdutor 
de 7.5 MHz. 
As vesículas embrionárias (sacos gestacionais) podem ser 
observadas entre 16 e 20 dias de gestação, que se apresentam como 
pequenas estruturas anecóicas arredondadas preenchidas com líquidos 
e delimitadas por uma fina parede hiperecóica. As vesículas podem 
estar sobrepostas pelos gases intestinais na fase inicial e alguns autores 
recomendam o diagnóstico ultrassonográfico somente após os 25 dias 
de gestação. O exame ultrassonográfico apresenta eficácia de 94% a 
98% para o diagnóstico gestacional, quando utilizado aos 24-25 dias de 
prenhez. O embrião pode ser primeiramente observado entre 23 e 25 
dias de gestação, que se apresenta como uma estrutura ecogênica 
oblonga localizada excentricamente no interior do saco gestacional. A 
placentação zonária é reconhecida por volta dos 30 dias, sendo que o 
evidente espessamento cilíndrico hiperecóico na parede do útero ocorre 
após os 36 dias de gestação. Os batimentos cardíacos são detectados 
entre 23 a 26 dias após o pico de LH, o esqueleto fetal é visibilizado 
entre 33 a 39 dias e os movimentos fetais e os membros em formação 
são observados entre 34 a 36 dias. Observa-se a formação do 
estômago, da bexiga e do fígado entre 35 a 39 dias, e dos olhos e dos 
rins entre 39 a 47 dias. Com o desenvolvimento fetal, após 38 a 42 dias, 
é observado que os pulmões tornam-se hiperecogênicos em relação ao 
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18 
fígado. Em torno dos 40 dias após o pico de LH é detectada a divisão 
das câmaras cardíacas e os grandes vasos podem ser identificados. Os 
intestinos são vistos por volta dos 57 a 63 dias. Na última semana da 
gestação observam-se movimentos intestinais, torácicos e de 
deglutição. 
Foram desenvolvidas fórmulas que utilizam medidas realizadas no 
saco gestacional ou no feto para estimar a idade gestacional. O 
diâmetro do saco gestacional (DSG) é utilizado como parâmetro até 
aproximadamente os 40 dias de gestação (em torno de 3cm de 
diâmetro) e, após esse período, o diâmetro da cabeça (DCa) e o 
diâmetro corporal (DCo) são utilizados com maior precisão. O 
comprimento crânio-caudal (CCC) do feto também pode ser utilizado 
para se avaliar a idade gestacional, mas pode ser uma medida de difícil 
obtenção na fase avançada da gestação. O DCa é medido no plano 
transverso da cabeça (diâmetro bi-parietal) e o DCo é medido no plano 
transverso do corpo fetal na altura do fígado. Em cadelas, a idade 
gestacional mensurada pela ultrassonografia apresenta uma variação de 
±3 dias, podendo ser influenciada pela característica racial ou pelo 
tamanho da ninhada. Nyland & Mattoon (1995) descrevem as fórmulas 
utilizadas para predizer a idade gestacional ou os dias anteriores ao 
parto (Tabelas 1 e 2). 
 
TABELA 1 Fórmulas para idade gestacional e dias anteriores ao parto, em 
cadelas 
Idade gestacional (variação ± 3 dias) 
Antes dos 40 dias de gestação 
IG = (6 x DSG) + 20 
IG = (3 x CCC) + 27 
Após os 40 dias de gestação 
IG = (15 x DCa) + 20 
IG = (7 x DCo) + 29 
IG = (6 x DCa) + (3 x DCo) + 30 
Dias anteriores ao parto 
DAP = 65 – IG 
IG = idade gestacional, com base em dias após o pico de LH. DSG = diâmetro do 
saco gestacional, CCC = comprimento crânio-caudal, DCa = diâmetro da cabeça, 
DCo = diâmetro corporal; medidas em cm. DAP = dias anteriores ao parto, com 
base em uma gestação de 65 dias após o pico de LH. 
Diagnóstico da Gestação 
 
19 
 
TABELA 2 Fórmulas para idade gestacional e dias anteriores ao parto, em 
gatas 
Idade gestacional (variação ± 2 dias) 
Após os 40 dias de gestação 
IG = (25 x DCa) + 3 
IG = (11 x DCo) + 21 
Dias anteriores ao parto 
DAP = 61 – IG 
IG = idade gestacional, com base em dias após a cobertura. DCa = diâmetro da 
cabeça, DCo = diâmetro corporal; medidas em cm. DAP = dias anteriores ao parto, 
com base em uma gestação de 61 dias após a cobertura. 
 
Estudos recentes mostram que a ultrassonografia bidimensional de 
alta resolução permite a detecção precoce das vesículas gestacionais 
em cadelas, sendo possível identificá-las aos 12 dias após o pico de LH. 
Além disso, o exame com transdutores de alta resolução fornece 
imagens muito mais detalhadas das estruturas fetais se comparado ao 
exame convencional. Outra modalidade mais recente de diagnóstico por 
imagem da gestação é a ultrassonografia tridimensional, que possibilita 
a avaliação da morfologia externa dos fetos, principalmente na fase final 
da prenhez. Entretanto, o ultrassom tridimensional não fornece dados 
precisos sobre a viabilidade fetal e não permite avaliar as estruturas e os 
órgãos internos dos fetos, perdendo em informação diagnóstica, quando 
comparado ao ultrassom bidimensional. 
3.6 TESTES SOROLÓGICOS 
Atualmente, ainda não foi identificada na cadela uma gonadotrofina 
gestacional específica que possa servir como referencial de diagnóstico, 
conforme ocorre nas éguas e nas mulheres. As concentrações de 
progesterona permanecem elevadas no diestro de cadelas não-
gestantes e impossibilitam o diagnóstico gestacional por meio da 
mensuração desse hormônio. Ocorre aumento significativo da prolactina 
em cadelas gestantes quando comparadas às cadelas não-gestantes, 
mas não há kits laboratoriais disponíveis comercialmente. Outros 
hormônios que apresentam concentrações diferenciadas em cadelas 
gestantes das não-gestantes são FSH, estrógeno e C-peptídeo, que 
podem futuramente ser comercializados para testes diagnósticos. 
A relaxina é um hormônio produzido primariamente pela placenta 
canina, sendo, portanto, específico para a cadela gestante. As 
concentrações de relaxina se elevam a partir dos 20 dias de gestaçãoe 
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20 
alcançam o pico no terço médio gestacional. Existe um kit comercial 
(importado) disponível para exame doméstico que possibilita o 
diagnóstico gestacional após 21 dias da cobertura. Se, aos 21 dias, o 
resultado for negativo, o teste deve ser refeito após uma semana. 
As proteínas da fase aguda são moléculas produzidas na gestação 
e nos processos inflamatórios. Foram descritas alterações nas 
concentrações séricas de algumas proteínas da fase aguda, tais como 
haptoglobina, ceruloplasmina, alpha-globulina, proteína C reativa e 
fibrinogênio. Em geral, essas proteínas se elevam a partir dos 20 dias de 
gestação e alcançam o pico por volta do 40º dia. O fibrinogênio é a base 
de um teste comercialmente disponível (importado) para o diagnóstico 
gestacional, que apresenta 93% de eficácia. A ocorrência de doenças 
inflamatórias durante o diestro pode interferir no resultado do teste, 
podendo apresentar um resultado falso positivo, como por exemplo, no 
caso de uma piometra. 
 
 
 
 
4 
PATOLOGIAS DA GESTAÇÃO E 
PSEUDOGESTAÇÃO 
4.1 DOENÇAS METABÓLICAS 
Diabetes mellitus: a progesterona é necessária durante todo o 
processo gestacional e pode causar resistência à insulina em algumas 
cadelas, levando aos sinais clínicos da doença. As elevadas 
concentrações de progesterona também estimulam a secreção do 
hormônio do crescimento, um antagonista da insulina. O diagnóstico é 
feito baseando-se na presença de glicosúria e hiperglicemia. O controle 
da insulina durante a gestação é difícil, mas deve ser tentado. Os fetos 
de cadelas com diabetes não controlada são geralmente grandes e 
podem predispor à distocia. 
Toxemia da prenhez: é uma alteração pouco comum nas cadelas. 
Geralmente, acomete a fêmea gestante de uma grande ninhada que fica 
sem se alimentar por um ou dois dias consecutivos, provocando um 
balanço energético negativo e o metabolismo de grande quantidade de 
gordura. As cadelas se apresentam com anorexia, depressão, cetonúria 
e, em alguns casos, hipoglicemia. Nas gatas, pode estar associada à 
lipidose hepática. É alta a mortalidade fetal em cadelas com toxemia, 
que devem ser tratadas com adequado suporte nutricional. 
4.2 DOENÇAS INFECCIOSAS 
Alguns agentes infecciosos podem causar morte embrionária ou 
fetal nas cadelas. Os conceptos podem ser reabsorvidos (antes de 45 
dias de gestação) ou podem ser abortados e ingeridos pela cadela, sem 
deixar sinais notáveis. A cadela pode abortar alguns fetos e levar o 
restante da ninhada a termo. O sangramento uterino e a descarga 
hemorrágica via vaginal geralmente antecedem o aborto causado por 
infecções bacterianas. 
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22 
Brucelose: a Brucella canis é um cocobacilo gram-negativo que 
causa aborto em cadelas, geralmente, entre 45 e 59 dias de gestação, 
mas que também pode causar falha na concepção, morte embrionária 
precoce ou nascimento de filhotes fracos e infectados. Os animais 
infectados têm bacteremia intermitente e eliminam o agente pelas 
secreções corporais. A transmissão ocorre, principalmente, pela 
ingestão ou inalação, mas também pode ocorrer pela via sexual e 
transplacentária. A infecção torna-se crônica em animais adultos e, 
geralmente, assintomática. O útero é o órgão mais comumente infectado 
em cadelas intactas e a placenta é o alvo preferencial em cadelas 
gestantes, ocasionando o aborto tardio. O diagnóstico baseia-se em 
testes sorológicos ou cultura do microrganismo e o tratamento é 
realizado com a associação de antibióticos, embora a antibioticoterapia 
possa não conseguir eliminar completamente a infecção. Recomendam-
se a retirada da reprodução e a ovariohisterectomia de cadelas 
comprovadamente infectadas. 
Herpesvírus: o herpesvírus canino é específico da espécie. É um 
vírus pouco resistente ao ambiente, sendo destruído por agentes 
desinfetantes comuns. A transmissão ocorre mais comumente pela 
ingestão ou inalação, mas a transmissão transplacentária também pode 
ocorrer. A infecção no estágio inicial da gestação pode causar morte e 
mumificação fetal, no meio da prenhez pode resultar em aborto e, no 
estágio final, em parto prematuro. É possível o nascimento de filhotes 
normais e infectados na mesma ninhada. É comum o nascimento de 
filhotes aparentemente normais, mas que ficam doentes no decorrer de 
uma ou duas semanas e morrem em poucos dias. O tratamento com 
medicamentos antivirais ainda não apresenta eficácia comprovada. 
Cadelas infectadas podem adquirir imunidade ao agente e parir 
ninhadas normais após perderem uma ninhada pela infecção. Não há 
vacinas disponíveis comercialmente. 
São descritos outros agentes infecciosos que podem causar morte 
embrionária ou fetal em cadelas, tais como: Toxoplasma gondii, 
Neospora caninum, Campylobacter jejuni, adenovírus canino, vírus da 
cinomose e parvovírus canino. Em gatas, não há um agente bacteriano 
específico causador de morte fetal, podendo, esporadicamente, ocorrer 
aborto por microrganismos não-específicos tais como E. coli, 
Pseudomonas, estafilococos, estreptococos e salmonelas. Entre as 
causas virais, destacam-se os vírus da panleucopenia felina e o da 
rinotraqueíte felina. 
Patologias da Gestação e Pseudogestação 
 
23 
4.3 MUMIFICAÇÃO E MACERAÇÃO DOS FETOS 
Se houver morte embrionária precoce, os tecidos embrionários são 
absorvidos ou expelidos. Quando ocorre a morte após a ossificação 
fetal, o produto pode ser abortado ou permanecer no útero e se tornar 
mumificado. A morte fetal pode ser causada por uma fonte não-
infecciosa, tal como um trauma com descolamento placentário ou 
superlotação fetal. Nas cadelas, uma importante causa infecciosa de 
mumificação é o herpesvírus canino, enquanto que nas gatas, destaca-
se o parvovírus da panleucopenia felina. A administração de 
progesterona de longa ação durante o processo gestacional pode 
impedir a ocorrência do parto, levando ao prolongamento da gestação e 
à morte e mumificação dos fetos. Em alguns casos de rupturas uterinas 
extensas, os fetos passam para a cavidade abdominal e se tornam 
mumificados. 
A morte fetal, acompanhada pela ausência de abortamento, 
promove a desidratação dos tecidos fetais e placentários. A forma mais 
comum de mumificação nos pequenos animais é papirácea, na qual feto 
e placenta assemelham-se ao papel de pergaminho; mas também é 
possível a ocorrência da mumificação hemática, na qual feto e placenta 
estão envolvidos por uma substância viscosa amarronzada proveniente 
da hemorragia placentária. Em cadelas e em gatas, podem estar 
presentes alguns fetos mumificados com outros fetos viáveis na mesma 
gestação e, no momento do parto, os fetos mumificados são 
simplesmente expelidos juntamente aos viáveis. Em geral, as fêmeas 
apresentam-se sem sinais clínicos sistêmicos e os fetos mumificados 
são observados ao exame ultrassonográfico pré-natal ou no momento 
do parto. Quando há morte e mumificação de toda a ninhada, pode não 
ocorrer o estímulo hormonal para o parto, sendo necessária a remoção 
dos fetos pela cesariana. 
A maceração ocorre quando os fetos mortos retidos no útero são 
invadidos por bactérias que promovem a putrefação e a autólise dos 
tecidos moles fetais. A fêmea apresenta sinais clínicos de processo 
séptico no útero, podendo levar a um quadro de septicemia e choque. 
Geralmente, há corrimento vaginal escuro e fétido, sendo indicado o 
exame ultrassonográfico para a confirmação diagnóstica. A fêmea deve 
ser tratada inicialmente para o quadro séptico e, assim que houver a 
possibilidade de submetê-la à intervenção cirúrgica, recomenda-se a 
ovariohisterectomia. 
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24 
4.4 HISTEROCELE GRAVÍDICA 
Nesta condição, o útero passa através de umahérnia congênita ou 
adquirida. No caso das cadelas, a hérnia inguinal é a mais comumente 
observada devido à predisposição anatômica nessa espécie. 
Geralmente, a histerocele inguinal é unilateral e pode conter um ou 
ambos os cornos gravídicos. No estágio inicial da prenhez, o conteúdo 
herniário pode ser reduzido. Com o avançar da gestação e o 
crescimento dos fetos, o tamanho do útero gravídico excede o tamanho 
do anel herniário, tornando-se irredutível. O útero se torna encarcerado 
e a sobrevivência dos fetos vai depender do adequado suprimento 
sanguíneo para as partes uterinas herniadas. 
A hérnia pode passar despercebida até que ocorra um aumento de 
volume acentuado na região inguinal coincidente com a gestação. É um 
aumento de volume flutuante, indolor e sem alterações sistêmicas. No 
diagnóstico diferencial devem-se incluir neoplasia mamária, inflamação 
das glândulas mamárias e abscesso local. Nos casos em que a 
gestação apresenta-se na fase avançada, é possível detectar os fetos 
herniados à palpação. 
Se a histerocele inguinal for diagnosticada em uma cadela na fase 
inicial da gestação, deve-se reduzir o conteúdo herniado e fechar o anel 
inguinal cirurgicamente, deixando a prenhez evoluir normalmente. Se o 
distúrbio for diagnosticado na fase final da gestação ou no momento do 
parto, as seguintes opções devem ser consideradas: 
 realizar a abertura cirúrgica do anel inguinal, retornar o corno 
uterino gravídico herniado para a cavidade abdominal, fechar 
o anel inguinal, e permitir que a gestação continue ou realizar 
a cesariana convencional quando os fetos estiverem a termo; 
 incisar sobre a hérnia, selecionar e incisar o corno uterino 
(histerotomia) para a retirada dos fetos herniados, suturar e 
retornar o corno uterino para a cavidade abdominal, fechar o 
anel inguinal e realizar a cesariana convencional para a 
retirada dos fetos restantes presentes no corno não-herniado; 
 realizar a abertura cirúrgica do anel inguinal, promover a 
exposição dos dois cornos uterinos através da hérnia, realizar 
a cesariana via anel inguinal, retornar os cornos uterinos para 
a cavidade abdominal e fechar o anel inguinal. 
Patologias da Gestação e Pseudogestação 
 
25 
4.5 PSEUDOGESTAÇÃO 
Os termos pseudogestação, pseudociese ou falsa gestação são 
utilizados para descrever o mesmo fenômeno hormonal, que leva as 
cadelas a comportarem-se como gestantes. Após um longo período 
diestral, as concentrações séricas de progesterona diminuem no final da 
fase lútea que, por sua vez, provocam aumento nas concentrações 
séricas de prolactina e desencadeiam os sinais clínicos da pseudociese. 
Como a cadela apresenta ovulação espontânea e sempre entra em uma 
fase lútea prolongada, a pseudogestação é considerada normal nesta 
espécie. Nas gatas, a ocorrência é menos comum, pois há a 
necessidade de indução da ovulação pela cobertura, mas sem ocorrer a 
fecundação. 
A manifestação clínica da pseudociese ocorre, geralmente, entre 6 
a 12 semanas após o estro, que varia de imperceptível a muito 
exacerbada. As cadelas acometidas apresentam alterações 
comportamentais semelhantes às fêmeas gestantes, como fazer ninhos, 
adotar objetos inanimados e inquietação. Os sinais clínicos 
demonstrados são: ganho de peso, aumento de volume abdominal, 
intumescimento mamário, galactorréia, corrimento vaginal mucoso, 
irritabilidade, anorexia e vômito. O diagnóstico deve ser baseado no 
histórico de ausência de cruzamento e nos achados radiográficos e 
ultrassonográficos, descartando a ocorrência de gestação ou piometra. 
Nos casos de pseudogestação com sinais clínicos brandos não se 
recomenda nenhum tipo de tratamento, principalmente porque a maioria 
das cadelas permanece nesta condição por apenas 1 a 3 semanas. 
Quando recomendado, o tratamento é direcionado à redução ou à 
eliminação da lactação, que pode provocar sujeiras pela casa, ser 
desconfortável para a fêmea e, ainda, propiciar o desenvolvimento de 
mastite secundária à estase do leite. Estímulos locais, como a 
compressão das glândulas mamárias ou a utilização de compressas 
frias ou mornas, podem promover a lactação e devem ser evitados. 
Algumas cadelas realizam a auto-amamentação (lambedura das 
glândulas mamárias e sucção do leite) e esse comportamento deve ser 
impedido pela utilização do colar elizabetano. Cadelas com alterações 
comportamentais exageradas podem receber tranqüilização leve por 
alguns dias. Entretanto, deve-se evitar o uso das fenotiazinas, pois essa 
medicação antagoniza a dopamina, que é uma inibidora da prolactina. A 
suspensão da alimentação por 24 horas, seguida pelo aumento gradual 
(por 3 a 5 dias) até alcançar as quantidades habituais, ajuda a reduzir a 
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26 
lactação. Também pode ser utilizada uma ração pobre em proteínas e 
gorduras ou, ainda, a privação de água por 3 ou 4 noites consecutivas, 
especialmente se associada com a administração de furosemida. 
Se a lactação persistir, algumas medidas terapêuticas podem ser 
realizadas, mas, em alguns casos, os efeitos colaterais superam os 
benefícios desses medicamentos. Os tratamentos com hormônios 
gonadais, como progesterona, estrogênio ou testosterona, não são 
recomendados por causarem ciclos recidivantes de pseudociese, sinais 
de estro, virilização ou, ainda, metrorragia, piometra e tumor de mama. 
O androgênio mibolerona, administrado na dose de 0,016 mg/kg SID 
VO, durante 5 dias, tem reduzido os sinais de pesudociese em 50% dos 
casos. Os fármacos que inibem a liberação de prolactina, como os 
agonistas da dopamina ou antagonistas da serotonina, são eficazes na 
melhora dos sinais clínicos, mas provocam efeitos colaterais, como 
vômitos, anorexia e hiperexcitabilidade. A bromocriptina é administrada 
na dose de 10µgkg BID VO por 10 dias; a cabergolina, na dose de 
5µg/kg SID VO, por 5 a 10 dias e a metergolina (apresentação 
veterinária) na dose de 0,1 mg/kg BID VO, por 4 a 8 dias. O tratamento 
definitivo é a ovariohisterectomia, que deve ser realizada no período do 
anestro. 
 
 
5 
PARTO NORMAL 
 
O trabalho de parto é definido como um conjunto de eventos 
fisiológicos que levam o útero a expulsar os fetos a termo e seus 
anexos. Nessas condições, há a dilatação da via fetal, o adequado 
posicionamento dos fetos e o desencadeamento das contrações 
uterinas e abdominais. É essencial que o veterinário esteja familiarizado 
com o curso normal da parição, para que possa prontamente diferenciar 
um parto fisiológico de um distócico. A intervenção no momento correto 
pode ser decisiva para o resultado favorável, assegurando a 
sobrevivência da mãe e dos filhotes. 
5.1 MECANISMO NEURO-ENDÓCRINO DO PARTO 
O mecanismo neuro-endócrino do processo de parto ainda não está 
totalmente definido nas cadelas e gatas, mas parece não diferir muito 
das demais espécies. A maior parte dos estudos foi desenvolvida em 
ovelhas e os resultados obtidos são condizentes com os eventos 
observados nos pequenos animais. Os fatores que desencadeiam o 
início do trabalho de parto ainda não estão completamente definidos e o 
conceito atual é de que são os fetos, e não a mãe, que iniciam o 
mecanismo de estímulo à parição. 
No final da gestação ocorrem a maturação fetal e a ativação do eixo 
hipotálamo-hipófise-adrenal, que é acompanhada pela elevação 
significativa na concentração do cortisol fetal. As teorias propostas para 
explicar o início da função hipotalâmica dos fetos preconizam que a 
maturação do hipotálamo fetal resultaria do desenvolvimento das 
sinapses no núcleo paraventricular, permitindo um aumento na função 
neuro-endócrina fetal. Assim, o hipotálamo fetal passaria a responder 
mais ativamente aos efeitos dos hormônios placentários, como 
estrógeno, progesterona e prostaglandinas. Associados a isso, fatoresEDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
28 
estressantes aos fetos, como hipoxia, hipercapnia, alterações na 
pressão sanguínea e na disponibilidade de nutrientes, levariam ao 
aumento na secreção de cortisol pela adrenal fetal. 
Acredita-se que o estímulo hipotalâmico fetal propicia a secreção do 
fator liberador de corticotropina, que incentiva a hipófise na liberação do 
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). A adrenal fetal responde ao 
ACTH com a secreção de corticosteróide, levando à redução na 
concentração de progesterona e ao aumento na concentração de 
estrogênio. É provável que a alteração na proporção entre estrogênio e 
progesterona seja a principal causa de descolamento placentário, 
dilatação cervical e incentivo à atividade uterina, embora, na cadela, não 
se tenha demonstrado, de forma definitiva, que os níveis de estrogênio 
aumentam de forma significativa antes do parto. O estrogênio atua sobre 
o miométrio aumentando sua responsividade à ocitocina, promove o 
relaxamento da via fetal mole pela alteração da estrutura das fibras de 
colágeno e estimula a produção e a liberação de prostaglandinas a partir 
dos tecidos feto-placentários. A prostaglandina F2α, além de sua função 
luteolítica, age diretamente sobre o útero, aumentando sua 
contratilidade e reduz o limiar de ação à ocitocina enquanto a 
prostaglandina E auxilia nos mecanismos de relaxamento do canal do 
parto. 
Em cadelas, o aumento na concentração de prostaglandina F2α 
parece ser a causa da queda abrupta na concentração sérica da 
progesterona para menos de 1 ng/ml, de 12 a 40 horas antes do parto. 
Como o útero não está sob a influência da progesterona, iniciam-se as 
contrações miometriais. Receptores sensoriais localizados na cérvix e 
na vagina são estimulados pela distensão provocada pelos fetos e suas 
membranas cheias de líquidos, desencadeando o reflexo de Ferguson, 
no qual o estímulo neural aferente é conduzido ao hipotálamo e resulta 
na liberação de ocitona pela hipófise materna, resultando em mais 
contração miometrial. Os receptores sensoriais também participam em 
um sistema de arco reflexo espinhal com estimulação eferente motora 
da musculatura abdominal, provocando as contrações abdominais. A 
relaxina, hormônio produzido pela placenta e pelos ovários, aumenta 
gradualmente nos últimos dois terços da gestação e promove o 
amolecimento e o relaxamento dos tecidos pélvicos e do sistema genital, 
o que facilita a passagem dos fetos. A prolactina começa a aumentar em 
3 a 4 semanas após a ovulação e apresenta níveis elevados pouco 
antes do parto, provavelmente como resultado da queda na 
concentração da progesterona, porém, ainda não se sabe se este 
hormônio possui algum papel no processo de parto. 
Parto Normal 
 
29 
Em gatas, a progesterona permanece elevada nos primeiros dois 
terços da gestação e declina gradualmente até o final desta. Logo antes 
do parto, o declínio é abrupto até atingir níveis não detectáveis no 
momento da parição. A concentração de estrogênio aumenta levemente 
logo antes do parto. 
5.2 FASES DO PARTO 
5.2.1 Fase Prodrômica 
A fase prodrômica ou de preparação descreve as modificações 
morfofuncionais observadas na fêmea gestante, nas proximidades do 
parto. Nas cadelas, o relaxamento da musculatura pélvica e abdominal é 
um indicador consistente da iminência do parto, mas pode ser uma 
modificação de difícil percepção, principalmente em cadelas obesas ou 
com muitos pêlos. A alteração mais consistente é a redução da 
temperatura corporal causada pela queda abrupta na concentração da 
progesterona. A temperatura retal apresenta uma queda aguda dentro 
de 8 a 24 horas antes do parto ou em 10 a 14 horas após a 
concentração de progesterona no plasma ter caído para menos de 6 
ng/ml. Em média, a queda transitória na temperatura é de 1,5ºC a 2,0ºC, 
mas pode depender da superfície de área corporal. Assim, em cadelas 
de raças miniaturas, a temperatura pode cair para 35ºC; naquelas de 
porte médio, para cerca de 36ºC enquanto raramente reduz para menos 
de 37ºC nas cadelas grandes e gigantes. 
Nos 2 ou 3 dias que antecedem o parto, a cadela pode ficar 
inquieta, tentar se esconder ou ficar excessivamente alerta e recusar se 
alimentar. Ela pode exibir comportamento de cavar buracos ou fazer 
ninhos cerca de 24 horas antes do parto, que parece estar relacionado 
ao aumento das concentrações de prolactina. O tremor pode ser uma 
tentativa de aumentar a temperatura corporal. O intumescimento 
mamário não é um bom indicativo de parto iminente e a presença de 
leite pode ocorrer desde duas semanas antecedentes ao parto 
(geralmente em pluríparas) ou em até menos de 24 horas antes da 
parição (geralmente em primíparas). 
Nas gatas, o decréscimo na temperatura é observado em torno de 
24 horas antes do parto, entretanto, a queda não é tão acentuada 
quanto na cadela e não serve como parâmetro evidente de parto 
iminente. A presença de leite nas mamas também não é um sinal 
preciso, visto que as gatas podem apresentar galactopoiese a partir da 
última semana de gestação. Muitas gatas apresentam alterações 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
30 
comportamentais, como inquietação, nervosismo ou procuram o 
isolamento. A maioria se recusa a se alimentar nas últimas 24 a 48 
horas antes do parto, sendo um bom indicativo para a proximidade da 
parição. Pode ser observado um corrimento vaginal mucoso claro 
anterior ao parto. 
5.2.2 Fase de Dilatação e Insinuação (Estágio I do parto) 
Este estágio é caracterizado pela dilatação cervical e pelo início das 
contrações uterinas, mas ainda sem sinais de contrações abdominais. 
As contrações uterinas intermitentes deixam a cadela inquieta e o 
desconforto pode se tornar mais intenso. É possível observar taquipnéia, 
tremores, vômitos, comportamento de arrumar o ninho e olhares 
assustados voltados para o flanco. Em geral, não há evidência de 
trabalho de parto nesta fase. A duração do primeiro estágio varia de 6 a 
12 horas, podendo durar até 36 horas em cadelas primíparas nervosas. 
A temperatura retal permanece baixa durante esse período. 
A freqüência e a intensidade das contrações uterinas aumentam à 
medida que se aproxima o final deste estágio e os fetos e suas 
membranas são empurrados pelos esforços propulsivos uterinos em 
direção à cérvix, auxiliando na sua dilatação. É difícil avaliar a completa 
dilatação cervical, pois a vagina da cadela é relativamente longa e 
impossibilita detectar a abertura da cérvix pela palpação digital. A 
presença de líquidos fetais ou do primeiro feto se insinuando no conduto 
pélvico e o início das contrações abdominais marcam a transição do 
primeiro para o segundo estágio do trabalho de parto. 
5.2.3 Fase de Expulsão Fetal (Estágio II do parto) 
O primeiro feto se insinua no conduto pélvico e as contrações 
uterinas intensas são acompanhadas pelos esforços abdominais (prensa 
abdominal). A temperatura corporal retorna ao normal ou apresenta-se 
discretamente elevada. Ao entrar no canal do parto, a membrana 
corioalantoideana pode romper-se e eliminar um líquido transparente. O 
primeiro feto pode apresentar-se coberto pela membrana amniótica e, 
em geral, é expulso em até 4 horas após o início do segundo estágio do 
trabalho de parto. Normalmente, a cadela irá romper a membrana, 
lamber o filhote e cortar o cordão umbilical com os dentes. 
A expulsão do primeiro feto é, geralmente, mais demorada e o 
intervalo entre o nascimento dos demais filhotes em um parto normal 
pode variar entre 15 minutos a 2 horas. Ocasionalmente, pode 
transcorrer de 12 a 24 horas entre o nascimento de gatinhos normais, 
mas, em caninos esta ocorrência não é normal. Em geral, a duração do 
Parto Normal 
 
31 
segundo estágio varia de 3 a 12 horas, podendo atingir até 24 horas em 
casosmais raros. Durante a expulsão dos fetos é comum ocorrer a 
alternância entre os cornos uterinos e, geralmente, o primeiro feto 
eliminado se encontra no corno uterino com maior número de fetos. Em 
relação à estática fetal, 60% dos filhotes nascem na apresentação 
longitudinal anterior (cranial) e 40% na longitudinal posterior (caudal). 
Parece não haver um horário preferencial de parição para as cadelas, 
enquanto as gatas preferem parir durante a noite. 
Ao parir uma ninhada grande, a cadela pode parar de contrair e 
descansar por mais de 2 horas, entre o nascimento de 2 filhotes 
consecutivos. Caso a fêmea demonstre contrações vigorosas e 
freqüentes por mais de 30 minutos sem que nasça um filhote, isto indica 
a presença de alguma distocia obstrutiva. A cadela também deverá ser 
examinada nas seguintes situações: presença de corrimento 
esverdeado sem o nascimento de algum filhote no decorrer de 2 a 4 
horas, eliminação de líquidos fetais há mais de 2 ou 3 horas sem o 
nascimento do filhote, transcorridas mais de 3 a 4 horas desde o 
nascimento do último filhote e quando a cadela estiver no segundo 
estágio do trabalho de parto há mais de 12 horas. 
5.2.4 Fase de Eliminação das Membranas (Estágio III do parto) 
O terceiro estágio do parto corresponde à expulsão das placentas, 
os 2 últimos estágios se repetem a cada filhote que nasce. O filhote 
pode nascer envolvido pela membrana amniótica, que deve ser 
removida pela mãe ou por um assistente. As membranas fetais são 
comumente eliminadas de 5 a 15 minutos após o nascimento de cada 
filhote. Ocasionalmente, pode ocorrer o nascimento de 2 ou 3 filhotes, 
seguido pela expulsão das suas respectivas placentas e, mais 
raramente, pode ocorrer a expulsão de todas as membranas ao final do 
parto. A placenta pode, ainda, apresentar-se aderida ao cordão umbilical 
do filhote no momento de sua expulsão. A duração do terceiro estágio 
varia muito, mas deve se completar em 2 horas após o nascimento do 
último filhote. É importante observar a eliminação de uma placenta para 
cada filhote expulso, entretanto, é comum a cadela ingerir as placentas 
e o proprietário não perceber que elas foram eliminadas. Não se deve 
deixar que a cadela coma mais do que uma ou duas placentas, pois a 
placentofagia exagerada pode provocar diarréia e vômitos. 
 
 
 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
32 
Corrimento espesso e esverdeado escuro acompanha a separação 
placentária normal na cadela e pode ser observado em todos os 
estágios do trabalho de parto. Esta secreção pode até mesmo preceder 
em algumas horas o nascimento do primeiro filhote. Entretanto, a 
presença de corrimento esverdeado sem o nascimento do filhote em até 
4 horas sugere a ocorrência de descolamento placentário e sofrimento 
fetal. 
 
 
6 
PUERPÉRIO FISIOLÓGICO 
O puerpério corresponde ao período que abrange desde a expulsão 
das placentas até o retorno do organismo materno ao estado não 
gestante. No caso das fêmeas multíparas, a fase do puerpério imediato, 
que se caracteriza pela expulsão das membranas fetais, se intercala 
com a fase de expulsão dos fetos. A eliminação das membranas ocorre 
durante o processo de parto e está dependente das contrações 
miometriais. A fase de puerpério tardio envolve a eliminação da 
contaminação uterina, a expulsão de lóquios, a involução e a reparação 
uterina. 
Em geral, os lóquios são compostos por muco, sangue, restos 
placentários, líquidos fetais e descamação e secreção do epitélio 
uterino. Nas cadelas, os lóquios são, inicialmente, de coloração verde-
escura, devido ao metabolismo do sangue presente nos hematomas 
marginais da placenta zonária. A hemoglobina é oxidada em bilirrubina, 
que por sua vez é reduzida em biliverdina, dando origem ao pigmento 
esverdeado denominado uteroverdina. No pós-parto imediato, os lóquios 
apresentam-se aquosos e de coloração verde-escura, para, em poucos 
dias, tornar-se mucoso e de coloração vermelho-escura. Na terceira 
semana de puerpério os lóquios apresentam-se mais escassos e de 
coloração amarelo clara ou transparente. Os lóquios vão gradativamente 
diminuindo de intensidade e desaparecem ao redor de 3 a 4 semanas 
após o parto. Nas gatas, há, inicialmente, corrimento de coloração 
amarronzada que, depois, se torna avermelhado-clara e, finalmente, de 
coloração amarelo-âmbar. Os lóquios são eliminados por 2 ou 3 
semanas após o parto. 
A involução uterina ocorre ao longo do primeiro mês após o parto e 
os cornos uterinos recuperam seu tamanho pré-gravídico em 4 ou 5 
semanas. O processo de reparação do endométrio é mais demorado e 
requer, aproximadamente, 12 semanas para se completar. As áreas 
endometriais diferenciadas no contato materno-fetal (sítios placentários) 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
34 
demoram mais tempo para se recuperar, devendo passar pelo processo 
de necrose e descamação, seguido pela regeneração, enquanto as 
áreas interplacentárias retornam ao normal em poucas semanas. 
Por ser monocíclica, a cadela entra na fase de anestro prolongado 
após o parto, não exibindo sinais de cio logo após o desmame. As gatas 
efetivamente apresentam anestro lactacional e a interrupção da 
amamentação provoca rápido retorno ao estro. Sabe-se também que as 
gatas recém-paridas que não possuem filhotes lactentes ou que 
possuem apenas um gatinho em amamentação podem apresentar sinais 
de cio precocemente entre 10 e 30 dias pós-parto. 
 
 
7 
CUIDADOS COM O NEONATO 
No final do período gestacional, o feto sofre uma série de mudanças 
metabólicas, estimuladas pelas modificações hormonais, que promovem 
sua maturação e preparação para a vida externa. O nascimento é um 
processo de transição extremamente dramático para o filhote. O 
neonato, em um curto intervalo de tempo, tem que se adaptar ao 
ambiente extra-uterino, necessitando assumir o controle das trocas 
gasosas, eliminar seus próprios excrementos, controlar sua temperatura, 
modificar seu fluxo sanguíneo e, ainda, procurar por alimento. 
Após o nascimento, ocorre o rápido fechamento do ducto arterioso 
e a oclusão do forame oval, o que aumenta o suprimento sanguíneo 
para os pulmões e permite as trocas gasosas. O ducto venoso, um vaso 
localizado no fígado do feto que permite a passagem de sangue 
oxigenado da veia umbilical para a veia cava caudal, se fecha e a 
circulação portal hepática torna-se completamente funcional. Ocorre o 
fechamento do úraco e toda a urina passa a ser eliminada através da 
uretra. As artérias umbilicais se transformam no ligamento redondo da 
bexiga e a veia umbilical no ligamento redondo do fígado. A 
hemoglobina fetal é substituída pela hemoglobina adulta. 
Durante a vida fetal, episódios de movimentos da região torácica 
semelhantes a movimentos respiratórios são observados em diversas 
espécies. Acredita-se que sejam os precursores dos movimentos 
respiratórios contínuos que se estabelecem após o nascimento. Existe 
uma série de fatores responsáveis pelo início da respiração espontânea, 
que geralmente ocorre no primeiro minuto após a expulsão. O primeiro 
movimento respiratório é uma inspiração profunda, a qual é necessária 
para forçar o ar para dentro dos pulmões. O agente surfactante, que foi 
secretado durante a maturação final do feto, exerce um importante papel 
na estabilização alveolar, evitando o colapso pulmonar. 
Logo após o nascimento, é importante ter certeza de que as vias 
respiratórias altas estejam livres de membranas fetais, fluidos e muco. O 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
36 
filhote, geralmente, nasce envolvido pelas membranas fetais, que devem 
ser prontamente removidas pela mãe. Normalmente, a cadela irá romper 
as membranas e lamber vigorosamente o neonato. Algumas fêmeas não 
atuam na remoção das membranas, sendonecessária a intervenção de 
um assistente para permitir que o recém-nascido respire. As lambidas 
têm a função de remover os líquidos fetais e estimular as atividades 
respiratórias e cardiovasculares dos neonatos. Pode-se ajudar na 
remoção dos líquidos presentes nas vias respiratórias por meio de 
sucção ou pela suave movimentação oscilatória do filhote, com 
movimentos em arco direcionados para baixo. Os líquidos dentro dos 
pulmões são normalmente absorvidos. Massagear o tórax do recém-
nascido com compressas secas e limpas, geralmente, estimula os 
movimentos respiratórios. Em casos de distocia ou hipoxia fetal, a 
oxigenoterapia pode ser indicada. 
Durante a vida intra-uterina, a temperatura corporal dos fetos é 
mantida pela temperatura materna. Logo após o nascimento, a 
temperatura corporal do neonato cai rapidamente em relação à da mãe, 
antes de haver uma recuperação parcial. O sistema termorregulador 
ainda não se apresenta completamente desenvolvido nos cãezinhos e 
gatinhos recém-nascidos e o controle da temperatura só se estabelece 
em 7 a 9 dias após o nascimento. Os fetos têm um depósito de uma 
forma peculiar de tecido adiposo denominado gordura marrom, cuja 
metabolização gera energia e calor nas primeiras horas de vida, 
ajudando o neonato a manter o aquecimento corporal. Os filhotes de 
pequenos animais são incapazes de tremer de forma eficaz para gerar 
calor corporal, tornando-os susceptíveis à hipotermia nas duas primeiras 
semanas de idade. Os neonatos se aglomeram e procuram o calor e o 
abrigo de sua mãe. Medidas que auxiliam na manutenção da 
temperatura corporal consistem em secar rapidamente o neonato para 
diminuir a perda de calor, aquecer adequadamente o local de criação 
dos filhotes, manter a ninhada unida em um local restrito e próxima à 
mãe, e proporcionar adequada amamentação dos filhotes. 
Após a expulsão do feto, a fêmea remove a membrana amniótica e 
corta o cordão umbilical com os dentes. Deve-se evitar que a fêmea 
mastigue excessivamente o cordão, pois pode resultar em uma hérnia 
umbilical ou na laceração da parede abdominal do feto. Se a cadela não 
cortar o cordão, o proprietário ou um assistente deve auxiliar a fêmea 
nessa tarefa. Deve ser colocada uma pinça hemostática pequena sobre 
o cordão umbilical, localizada a uma distância em torno de 2cm da 
parede abdominal, e realiza-se a secção do cordão utilizando-se uma 
Cuidados com o Neonato 
 
37 
tesoura estéril. Caso ocorra hemorragia ao se remover a pinça, ela deve 
ser recolocada e mantida por 5 minutos. Após isso, o cordão umbilical 
deve ser embebido em solução anti-séptica, como a tintura de iodo a 
2%. Em geral, deve ser evitada a utilização de ligaduras ou a aplicação 
de ataduras. 
Todo neonato deve ser examinado em busca de deformidades, 
como fenda palatina, atresia anal, desvio de membros, hidrocefalia, 
hérnias e outros. Convém lembrar que os ouvidos e os olhos 
permanecem fechados durante os primeiros 8 a 10 dias de idade. 
Embora ocorra certa transferência de imunoglobulinas via placentária, é 
importante para o neonato receber o colostro nas primeiras 12 horas de 
vida para obter adequada imunidade sistêmica, principalmente de IgG. 
O recém-nascido depende do colostro e do leite materno para suprir 
suas necessidades nutricionais. Quando houver necessidade de 
amamentação artificial para filhotes órfãos, os substitutos comerciais do 
leite devem ser preferencialmente utilizados em relação ao leite de vaca 
ou às preparações caseiras. 
 
 
 
8 
DISTOCIAS DE ORIGEM MATERNA 
 
Define-se distocia como a dificuldade do nascimento ou a 
impossibilidade de expulsar os fetos naturalmente através do canal do 
parto. É comum a ocorrência de distocia em cadelas, podendo ter 
origem materna, fetal ou uma combinação de ambas. A incidência global 
de distocia em cadelas está em torno de 5%, mas pode atingir 100%, 
dependendo da característica racial. As cadelas das raças 
braquicefálicas possuem a pelve mais estreita e os filhotes apresentam 
a cabeça larga, o que predispõe à elevada incidência de distocia por 
desproporção feto-maternal. Estas cadelas são mais susceptíveis à 
inércia uterina secundária, destacando-se as raças Buldogue, Pug, 
Boston Terrier e Scottish Terrier. As cadelas das raças miniaturas são 
muito nervosas e mais propensas à gestação de um único feto, o que 
pode levar à inércia uterina primária ou à distocia obstrutiva, devido ao 
acentuado tamanho do feto. As cadelas das raças grandes ou gigantes 
apresentam menor índice de distocia, embora as ninhadas com número 
excessivo de fetos possam predispor a inércia uterina parcial por fadiga 
do útero. A incidência de distocia em gatas é menor do que em cadelas, 
mas as gatas de raças braquicefálicas apresentam maior dificuldade de 
parição do que as gatas mestiças. 
8.1 INÉRCIA UTERINA PRIMÁRIA 
A inércia uterina, também denominada atonia uterina, é a causa 
mais comum de distocia em cadelas, sendo classificada como primária 
ou secundária. Na inércia uterina primária, o útero não contrai de forma 
suficiente para a expulsão dos fetos. Nesta situação, os outros fatores 
que influenciam a expulsão fetal estão adequados, tais como abertura 
suficiente da via fetal mole, conformação adequada da via fetal óssea e 
fetos com tamanhos e posicionamentos normais. A inércia uterina 
Distocias de Origem Materna 
 
39 
primária completa é a falha do útero em iniciar o trabalho de parto com 
os fetos a termo, enquanto a inércia uterina primária parcial ocorre 
quando há atividade uterina suficiente para iniciar o trabalho de parto, 
mas torna-se insuficiente para completar a expulsão de todos os fetos. 
Alguns fatores que podem levar à insuficiência miometrial estão 
relacionados como causa da atonia uterina primária, tais como infiltração 
gordurosa, degeneração tóxica, senilidade, deficiência nutricional, 
distúrbios neuroendócrinos e metrites. Estão também descritos os 
desequilíbrios hormonais (progesterona, estrógeno, prostaglandina, 
ocitocina), falta de receptores hormonais, hipocalcemia, hipoglicemia, 
obesidade, estresse ao ambiente, ruptura uterina com ectopia fetal, 
torção uterina, hidropisias, doenças sistêmicas debilitantes, ninhada 
numerosa e síndrome do feto único. Há predisposição hereditária em 
algumas raças de cadelas. 
Na síndrome do feto único, acredita-se que o único filhote presente 
no útero da cadela não seja capaz de produzir de forma suficiente os 
hormônios adrenocorticotrófico e cortisol para iniciar o trabalho de parto. 
Esta síndrome pode ocorrer também na gata, embora seja menos 
comum. O suprimento de oxigênio e de nutrientes torna-se insuficiente 
para a sobrevivência do feto e, se a cadela permanecer com a cérvix 
fechada, o feto morto pode se mumificar ou macerar. Se houver 
confirmação prévia da gestação de um único feto na cadela, a 
aproximação do parto deve ser manejada cuidadosamente e o filhote 
monitorado por meio da ultrassonografia. 
Em qualquer gestação que se prolonga por mais de 68 dias, deve-
se suspeitar de inércia uterina primária completa. A cadela demonstra 
sinais evidentes da fase prodrômica do parto, mas não apresenta 
contrações uterinas ou abdominais. Se passarem mais de 24 horas após 
a queda da temperatura retal e o trabalho de parto não se iniciar, deve 
ser considerado o diagnóstico da distocia. Em algumas cadelas é 
possível sentir, pela palpação vaginal, a cérvix dilatada e a presença de 
bolsa fetal intacta, mas o feto pode estar fora de alcance devido à 
flacidez uterina. Na inércia primária parcial, o parto se inicia 
normalmente, mas, em seguida, as contrações uterinas falham e não 
ocorre a expulsão dos filhotes restantes. Antes de se iniciar o tratamento 
clínico, é preciso excluir a obstrução do canal do parto. 
Inicialmente, pode ser tentado o tratamento conservativo para 
promovera expulsão dos fetos. Os proprietários devem ser orientados 
para a realização de atividades físicas com a fêmea na tentativa de 
incentivar as contrações. O estímulo digital da parede dorsal da vagina 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
40 
pode promover a liberação de ocitocina endógena (reflexo de Ferguson) 
e induzir a contração uterina. As fêmeas com inibição nervosa voluntária 
do trabalho de parto devem ser mantidas em ambiente tranqüilo e 
familiar, ou pode-se administrar uma dose baixa de tranqüilizante para 
eliminar o estresse. 
A ocitocina exerce ação direta sobre o influxo de cálcio na célula, 
que é essencial na contração miometrial. Muitas vezes, o útero não 
responde à ocitocina apenas, sendo necessária a administração prévia 
de uma solução de cálcio. Recomenda-se a administração intravenosa 
lenta (1 ml/min) de gluconato de cálcio a 10% na dose de 0,5 a 1,5 ml/kg 
(2 a 20 ml na cadela e 2 a 5 ml na gata), com monitoração cuidadosa da 
freqüência cardíaca da cadela. Pode ser aguardado cerca de 30 minutos 
para observar se a cadela responde ao tratamento com cálcio. Em 
fêmeas propensas à hipoglicemia, especialmente após esforços 
prolongados, pode-se administrar solução de glicose a 50% na dose de 
5 a 10 ml/animal, diluída ao líquido de infusão intravenosa. 
Se não houver resposta ao tratamento com cálcio, deve-se realizar 
a administração de ocitocina na dose de 0,5 UI/kg, por via intravenosa 
ou intramuscular, devendo-se respeitar a dosagem máxima de 20 UI em 
cadelas e de 3 UI em gatas. Dosagens mais arbitrárias de ocitocina são 
descritas, como a utilização de 2 a 15 UI em cadelas e de 0,5 a 3 UI em 
gatas. Se a fêmea não responder em 30 minutos, o tratamento com 
ocitocina pode ser repetido, embora cada administração adicional 
resulte em uma resposta mais fraca. Se não houver resposta ao 
tratamento após uma segunda aplicação de ocitocina, é pouco provável 
que as administrações subseqüentes promovam resultados favoráveis. 
Neste caso, os fetos devem ser retirados sem demora, seja por meio de 
fórceps, se houver apenas um e esteja ao alcance do instrumental, seja 
por cesariana. As ergotaminas de ação prolongada não devem ser 
usadas durante o parto para incentivar a expulsão fetal. 
8.2 INÉRCIA UTERINA SECUNDÁRIA 
Na inércia uterina secundária, as contrações uterinas são normais 
inicialmente e possibilitam a expulsão dos fetos, porém, devido a 
complicações obstrutivas do canal do parto, os fetos não podem ser 
eliminados e ocorre a exaustão do miométrio. As causas podem ser de 
origem materna, como um defeito na conformação pélvica, constrição 
vaginal ou vulvar, massas obstrutivas no canal do parto e dilatação 
cervical insuficiente ou de origem fetal, como fetos muito grandes, 
monstruosidades fetais e alterações de posicionamento. 
Distocias de Origem Materna 
 
41 
O tratamento clínico para incentivar as contrações uterinas só pode 
ser instituído após a identificação e a eliminação da causa primária de 
impedimento ao parto. Se o fator obstrutivo puder ser resolvido, realiza-
se o tratamento com fármacos ecbólicos, conforme descrito no item 
anterior. Em algumas situações, mesmo após a remoção da causa 
primária da distocia, o útero não responde mais ao tratamento 
conservativo. Nos casos em que a causa obstrutiva primária não pode 
ser resolvida ou quando o útero não responde mais ao tratamento 
medicamentoso, a intervenção cirúrgica deverá ser considerada. 
8.3 ALTERAÇÕES DA VIA FETAL ÓSSEA 
As alterações na conformação anatômica das estruturas ósseas da 
pelve ocasionam distocia por estreitamento obstrutivo do canal do parto. 
A causa mais prevalente em cadelas e gatas é o estreitamento 
secundário da pelve, ocasionado por fraturas, geralmente devido à 
consolidação incorreta dos fragmentos ósseos ou à formação de calos 
ósseos exuberantes. O deslocamento pélvico provocado pela luxação 
sacro-ilíaca também pode ocasionar a obstrução do canal do parto. 
Outras causas menos comuns de estreitamento adquirido incluem 
neoplasias, exostoses, osteodistrofias e deficiências nutricionais. 
Algumas raças de cães possuem um estreitamento natural (genético) da 
pelve, em especial o Scottish Terrier e os Buldogues. O 
desenvolvimento insuficiente da abertura pélvica pode ser observado em 
fêmeas precocemente introduzidas na reprodução. 
No momento do parto, observam-se contrações uterinas e 
abdominais normais, dilatação adequada da via fetal mole, ruptura de 
bolsas e extravasamento de líquidos fetais, porém, sem expulsão dos 
fetos. Em algumas fêmeas é possível identificar sinais externos de 
defeitos na estrutura óssea da pelve. Por meio da palpação digital via 
retal (ou via vaginal no momento do parto), pode-se diagnosticar o 
estreitamento pélvico e avaliar de forma subjetiva a possibilidade de 
passagem dos fetos. O exame radiográfico permite avaliar o 
estreitamento do arcabouço ósseo e mensurar os diâmetros da cavidade 
pélvica. Nos casos graves de estreitamento do canal do parto, a 
remoção dos fetos deve ser realizada por meio da cesariana. Na maioria 
dos casos, não é possível a correção da anomalia da via fetal óssea e a 
distocia possivelmente ocorrerá a cada parição, sendo recomendada a 
ovariohisterectomia como tratamento definitivo. Como procedimento 
preventivo, deve-se evitar que fêmeas com deformidades pélvicas 
acentuadas sejam usadas na reprodução. 
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42 
8.4 ALTERAÇÕES DA VIA FETAL MOLE 
As anormalidades dos tecidos moles do canal do parto podem 
causar distocia obstrutiva, podendo ser observadas na cérvix, na 
vagina/vestíbulo e na vulva. São descritas diversas causas, tais como 
inflamações e fibroses, estenoses adquiridas (traumatismos), estenoses 
congênitas, constrições vulvares e vaginovestibulares, neoplasias, 
bandas teciduais fibrosas, prolapso vaginal, hipoplasia vaginal e vulvar, 
hiperplasia (edema) vaginal, hematomas, abscessos, formações 
císticas, vagina dupla, vulva invertida e distúrbios hormonais. Os septos 
vaginais podem consistir em resquícios do sistema mülleriano ou podem 
ser secundários a um traumatismo ou a uma infecção vaginal. 
Algumas alterações são facilmente identificadas na inspeção do 
sistema genital, enquanto outras são diagnosticadas pela palpação 
digital via vaginal. Quando a obstrução se localiza na parte cranial da 
vagina ou na cérvix, a identificação do problema somente pode ser feita 
por meio da vaginoscopia. Algumas formações teciduais podem ser 
removidas cirurgicamente por via vaginal, permitindo a passagem dos 
filhotes através do canal pélvico. Nos casos de fibroses e de estenoses 
congênitas, o tratamento cirúrgico é raramente bem-sucedido, pois há 
neoformação de tecido cicatricial durante o processo de reparação. Há 
algumas alterações obstrutivas da via fetal mole que não podem ser 
resolvidas clínica ou cirurgicamente, sendo necessária a cesariana para 
a remoção dos filhotes. 
8.5 TORÇÃO DO ÚTERO 
A torção uterina é pouco comum nas pequenas fêmeas. Em um 
estudo retrospectivo com 182 casos de distocia em cadelas, foram 
diagnosticados apenas 2 casos (1,1%) de torção de útero (Darvelid & 
Linde-Forsberg, 1994). A torção pode ocorrer próximo à cérvix e 
envolver ambos os cornos ou pode acometer um corno uterino 
isoladamente, que gira em torno de seu eixo longo. Esta patologia 
geralmente ocorre na fase final da gestação ou, principalmente, no 
momento do parto. As torções mais graves podem atingir até 720º de 
rotação. As causas ainda são desconhecidas, mas alguns fatores 
podem contribuir com a torção do útero, tais como: contrações uterinas 
precoces, movimentação excessiva dos fetos, falta de tônus do útero 
gravídico, quantidade reduzida de líquidos fetais, flacidez da parede 
abdominal e estiramento dos ligamentos largos.Distocias de Origem Materna 
 
43 
A torção do útero é mais comum nas fêmeas pluríparas do que nas 
primíparas. Os sinais clínicos são compatíveis com uma distocia 
obstrutiva, na qual os fetos permanecem retidos no útero, sendo difícil 
determinar clinicamente a causa precisa da obstrução. O uso de 
ocitocina para incentivar a expulsão fetal pode ocasionar a ruptura 
uterina. A fêmea pode apresentar-se com depressão, anorexia, vômitos, 
secreção vaginal escura e distensão abdominal. Os exames 
radiográficos e ultrassonográficos podem auxiliar no diagnóstico, mas o 
definitivo é obtido somente com a celiotomia exploratória. Em geral, 
realiza-se a cesariana para a remoção dos fetos e a ovariohisterectomia 
quando o útero se apresenta inviável. Se a fêmea for de elevado valor 
reprodutivo e a torção for unicornual, é possível a remoção cirúrgica 
somente do corno uterino acometido. 
 
 
9 
DISTOCIAS DE ORIGEM FETAL 
 
As distocias de origem fetal podem ser causadas por fetos muito 
grandes, pelas alterações de estática (apresentação, posição e postura) 
e pelos distúrbios do desenvolvimento ou monstruosidades. A morte 
fetal também pode resultar em distocia devido ao mau posicionamento 
ou à estimulação inadequada para o início do parto. A morte do feto no 
momento do parto pode levar ao quadro de enfisema fetal, aumentando 
ainda mais o tamanho do filhote retido. O enfisema fetal e a seguinte 
maceração parcial representam risco de morte para a fêmea devido ao 
quadro séptico e toxêmico. Em geral, as distocias de causa fetal 
apresentam dificuldade de serem integralmente diagnosticadas e 
corrigidas nas pequenas fêmeas no momento do parto, pela 
impossibilidade de ser realizado um exame obstétrico manual 
diretamente sobre o feto dentro do útero. Os métodos de diagnóstico por 
imagem podem ser úteis em determinadas circunstâncias, porém, nem 
sempre conclusivos. 
9.1 FETOS GRANDES 
Na maioria das raças, o maior volume do feto fica em sua cavidade 
abdominal, enquanto as partes ósseas, a cabeça e o quadril são 
comparativamente pequenos. Um filhote de cão com peso equivalente a 
5% do peso materno é considerado no limite superior para um parto 
eutócico. Em geral, os fetos grandes estão associados a uma ninhada 
pouco numerosa, à presença de um único filhote ou à gestação 
prolongada. Em algumas raças miniaturas, pode ocorrer grande 
disparidade no tamanho dos fetos de uma mesma ninhada, com alguns 
passando facilmente pelo canal pélvico enquanto outros são muito 
grandes e não passam. Nas raças braquicefálicas, pode ocorrer distocia 
pela combinação de uma entrada pélvica estreita e filhotes com cabeça 
Distocias de Origem Fetal 
 
45 
grande e ombros largos. As fêmeas apresentam contrações abdominais 
vigorosas, mas improdutivas, resultando no avanço inconsistente do feto 
através do conduto pélvico. A pelvimetria radiográfica auxilia no 
diagnóstico e na tomada de decisão sobre a conduta obstétrica. 
9.2 ALTERAÇÕES DA ESTÁTICA FETAL (POSICIONAMENTOS INCORRETOS) 
Um feto sadio é ativo no momento do parto, estendendo a cabeça e 
os membros durante a expulsão, torcendo-se e virando-se para se 
encaixar no canal pélvico. Os membros são curtos e flexíveis e 
raramente causam obstrução grave ao parto quando os fetos têm 
tamanhos normais. 
A apresentação longitudinal posterior (caudal) é considerada normal 
e ocorre em 40% dos nascimentos. Entretanto, espera-se maior 
dificuldade de expulsão fetal na apresentação longitudinal posterior do 
que na longitudinal anterior, em particular, quando envolve o primeiro 
feto a nascer. A apresentação transversal pode ocorrer nos casos de 
gestação bicornual ou quando o feto, em vez de progredir do corno 
uterino para cérvix e vagina, segue pelo corno contralateral, 
possivelmente devido a alguma obstrução. Tais casos geralmente 
necessitam de intervenção cirúrgica. Ocasionalmente, pode ocorrer a 
apresentação simultânea de 2 fetos, obstruindo o canal do parto. 
Quando possível, tenta-se a retropulsão do feto menos insinuado e a 
tração do feto mais exteriorizado. 
Antes do nascimento, é comum que o feto normal permaneça em 
posição ventral (longitudinal anterior dorso-pubiana ou longitudinal 
posterior lombo-pubiana), sendo necessária a sua rotação em 180º 
imediatamente antes de entrar na pelve. Se não ocorrer a rotação de 
forma adequada, o feto pode permanecer na posição ventral ou adquirir 
posição lateral, ocasionando dificuldade de passagem através da pelve. 
Em relação às alterações de postura, os desvios de cabeça são as 
mais freqüentes em pequenos animais. O desvio lateral da cabeça é 
mais comum nas raças que possuem o pescoço longo, como os cães da 
raça Collie, enquanto o desvio para baixo é mais freqüente nas raças 
braquicefálicas, mas também pode ocorrer nas raças caninas e felinas 
dolicocefálicas. A postura de nádegas (longitudinal posterior com os 
membros pélvicos flexionados na articulação coxofemoral) geralmente 
ocasiona uma distocia grave, especialmente em raças de porte médio e 
pequeno. Em alguns casos, a exploração vaginal possibilita a percepção 
da cauda e da estrutura óssea da pelve do feto voltadas para a vagina 
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46 
da mãe, com os membros pélvicos do feto posicionados sob o seu 
abdômen. Em cadelas de porte pequeno, a flexão dos membros 
torácicos para trás pode, ocasionalmente, gerar distocia. Nas cadelas de 
raças de porte médio e grande é possível a expulsão natural de um feto 
com um ou ambos os membros torácicos flexionados. 
Na cadela, e com menor freqüência, na gata, é possível realizar 
pequenas manobras obstétricas, por meio da manipulação digital via 
vaginal ou com fórceps, para a correção das alterações de posição e 
postura. Após a correção da estática, pode-se aplicar delicada tração 
assistida no feto insinuado, tendo sempre em mente que a cesariana é 
uma técnica rotineiramente empregada para a correção das distocias 
mais complexas. 
9.3 ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO E MONSTRUOSIDADES FETAIS 
As hidropisias fetais são causas conhecidas de distocia, 
destacando-se a hidrocefalia, a anasarca e a ascite. Outros distúrbios do 
desenvolvimento fetal causadores de distocia incluem polimelia 
(membros múltiplos), gêmeos conjuntos, contraturas e anquiloses, 
hérnias abdominais, malformação óssea, espinha bífida e o 
Schistosomus reflexus. Na maioria das vezes, o feto apresenta-se muito 
grande ou com estruturas anormais que impedem a sua passagem pela 
pelve. A exata natureza da deformidade é de difícil diagnóstico clínico, 
podendo ser auxiliado pelos exames radiográficos e ultrassonográficos. 
Em geral, a retirada do feto anormal via vaginal é difícil, sendo 
necessária a remoção pela cesariana. Em alguns casos, o diagnóstico 
definitivo somente ocorre após a remoção cirúrgica do feto. 
 
 
10 
MANOBRAS PARA AUXÍLIO AO 
PARTO VAGINAL 
 
A manipulação digital ou com fórceps, para auxiliar no parto via 
vaginal, pode ser tentada somente nos casos em que o feto esteja 
alojado dentro do canal pélvico. As indicações para as manobras 
obstétricas via vaginal incluem correção das posições e das posturas 
anormais dos fetos, remoção de um feto discretamente aumentado de 
tamanho, extração do último feto restante em casos de inércia uterina e 
remoção de um feto morto causador de distocia obstrutiva. A 
manipulação do feto no interior da vagina deve ser realizada de forma 
cuidadosa para que seja evitado traumatismo no feto e na via fetal mole. 
A lubrificação adequada é essencial, podendo ser utilizado gel 
lubrificante de base aquosa estéril. O gel lubrificante deve ser 
introduzido no canal do parto e pelas laterais do feto, usando-se uma 
seringa e uma sonda urinária flexível para cães. Com a fêmea em 
posição ortostática, a manipulação digital devesempre ser tentada antes 
da utilização de instrumentais obstétricos. Se o feto causador da 
obstrução estiver além do alcance dos dedos, a extração fetal via 
vaginal é desaconselhada. 
10.1 MANIPULAÇÃO DIGITAL 
Em alguns casos, é difícil definir se o feto retido no canal do parto 
está vivo ou morto, especialmente se o feto estiver vivo, porém, muito 
fraco e debilitado. Em cadelas de raças gigantes, às vezes, é possível 
introduzir a mão no conduto vaginal até a cérvix e retirar o feto. 
Entretanto, na maioria dos casos, o canal pélvico é muito estreito e 
permite uma manipulação obstétrica limitada. Se o feto já tiver avançado 
pelo canal pélvico, será visto um abaulamento característico na região 
perineal, abaixo da cauda da cadela. Abrindo os lábios vulvares, é 
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48 
possível identificar o saco amniótico e o posicionamento do feto e 
realizar as manobras para remoção fetal. 
Com freqüência, há necessidade de correção do posicionamento 
incorreto para que se realize a tração do feto. Se o feto estiver 
firmemente aderido ao arcabouço pélvico ósseo e não puder ser 
tracionado, pode ser mais adequado realizar a retropulsão para se 
conseguir espaço para a correção da posição ou da postura. Em alguns 
casos, é possível introduzir um dedo em torno do pescoço ou na boca 
do feto para ajudar a corrigir um desvio de cabeça. Para a correção dos 
defeitos posturais de flexão dos membros, pode-se inserir um dedo atrás 
do cotovelo ou do joelho, movendo e estendendo o membro 
medialmente sob o feto. É preciso cuidado porque o pescoço e os 
membros do feto sofrem torção e laceração com facilidade, quando 
manipulados inadequadamente. O diâmetro mais largo do conduto 
pélvico geralmente está na diagonal, assim, girar o feto em 45º pode 
criar espaço suficiente para sua passagem. Pode-se conseguir a 
correção da estática manipulando o feto através da parede abdominal 
com uma das mãos e fazendo a manipulação transvaginal concomitante 
com a outra mão. 
A tração do feto deve ser realizada na direção caudoventral, 
respeitando a disposição anatômica do conduto vaginal. Ao se realizar a 
tração delicada do feto, a aplicação de movimentos de um lado para o 
outro ou para frente e para trás pode auxiliar na liberação da obstrução. 
Na apresentação longitudinal anterior (cranial), usam-se os dedos 
indicador e médio para orientar a cabeça e exercer tração moderada 
sobre ela. Na apresentação longitudinal posterior (caudal), os dedos 
devem ser posicionados entre os membros pélvicos e proximais aos 
tarsos para exercer tração. 
10.2 MANIPULAÇÃO COM FÓRCEPS 
Os fórceps devem ser utilizados como última opção para 
manipulação e tração do feto. As pequenas dimensões da vagina das 
cadelas pequenas e das gatas tornam o parto com auxílio do fórceps 
inapropriado para essas fêmeas. Existem alguns instrumentos 
específicos para a extração fetal em cadelas, mas recomenda-se muito 
cuidado ao ser aplicada tração no feto com esses instrumentos, para 
que seja evitada a desarticulação ou a amputação de membros, cauda, 
mandíbula e outras partes fetais. O uso do fórceps é particularmente útil 
para remover o último feto da ninhada que se encontra retido no conduto 
pélvico. 
Manobras para auxílio ao Parto Vaginal 
 
49 
O fórceps deve ser utilizado com a orientação de um dedo inserido 
no conduto vaginal e não deve ser introduzido além da cérvix, devendo-
se impedir a possível apreensão da mucosa vaginal ou uterina. A 
palpação abdominal ou retal pode também auxiliar na correta colocação 
do instrumental. Durante a introdução, o fórceps é mantido na posição 
fechada, sendo cuidadosamente aberto para apreender o feto. Na 
apresentação longitudinal anterior o instrumental é aplicado à cabeça, 
enquanto que na longitudinal posterior deve-se apreender a região do 
quadril fetal. É importante evitar a aplicação do fórceps nos membros ou 
na mandíbula do feto devido à grande possibilidade de lesionar 
gravemente essas estruturas. 
 
 
 
 
11 
 PATOLOGIAS DO PUERPÉRIO 
11.1 HEMORRAGIA PÓS-PARTO 
Alguma perda de sangue durante e após o parto é normal, 
principalmente devido ao descolamento do tipo de placenta 
endoteliocorial presente nas pequenas fêmeas. Entretanto, a hemorragia 
pós-parto não deve exceder um gotejamento escasso pela vulva e 
qualquer quantidade maior de perda sanguínea deve ser investigada. É 
preciso diferenciar a hemorragia ativa do corrimento vaginal normal 
daquela do puerpério ou do corrimento observado na subinvolução dos 
sítios placentários. A hemorragia excessiva após o parto pode ser 
indício de laceração uterina ou vaginal, de ruptura de um vaso calibroso 
ou, ainda, de um defeito da coagulação. A coagulopatia hereditária mais 
comumente relacionada à hemorragia pós-parto é a doença de Von 
Willebrand. Outras causas possíveis são: intoxicação por rodenticidas 
anticoagulantes, trombocitopenias (infecciosas ou imunomediadas) e 
coagulação intravascular disseminada. 
Deve-se verificar o hematócrito, considerando que o normal para 
cadelas no puerpério recente está em torno de 30%. Pode ser feita a 
inspeção da vulva e da vagina na tentativa de localizar a origem do 
sangramento, embora o acesso seja limitado na região cranial da 
vagina. Se estiver disponível, a vagina e a cérvix podem ser 
inspecionadas por meio da endoscopia, sendo possível determinar se o 
útero é a fonte da hemorragia. Se a hemorragia tiver origem no conduto 
vaginal, pode ser necessária a episiotomia para facilitar o acesso ao 
vaso e conter o sangramento. No caso de hemorragia uterina, deve-se 
administrar ocitocina para promover a contração da parede e a 
involução do útero. As ergotaminas também podem ser utilizadas, pois 
promovem uma contração uterina mais duradoura. Se houver 
persistência do quadro hemorrágico, o órgão deve ser inspecionado por 
Patologias do Puerpério 
 
51 
meio de laparotomia exploratória e, se necessário, realiza-se a 
ovariohisterectomia. A fêmea deve ser monitorada quanto aos sinais de 
hipovolemia e de choque, podendo ser necessária a fluidoterapia de 
suporte ou a transfusão sanguínea. 
11.2 RETENÇÃO DE PLACENTA 
A retenção isolada da placenta é uma condição pouco comum nas 
cadelas e nas gatas. Quando ela ocorre, geralmente está acompanhada 
de retenção fetal e de infecção. Os sinais clínicos incluem uma secreção 
vaginal espessa e escura, mas sem sinais sistêmicos no início do 
processo. O útero parece estar distendido durante a palpação e, 
ocasionalmente, uma porção da placenta pode ser sentida ao toque 
vaginal. Fetos retidos podem ser identificados à palpação, mas os 
exames radiográficos e ultrassonográficos fornecem o diagnóstico 
preciso. 
Se a placenta puder ser palpada na vagina é possível extrair o 
tecido retido com uso do fórceps. O tratamento com ocitocina na dose 
de 2 a 10 UI, via IM, 2 a 4 vezes ao dia, por até 3 dias após o parto, 
pode resultar na expulsão das placentas retidas. As ergotaminas de 
ação prolongada não são recomendadas, pois podem causar 
fechamento precoce da cérvix. A utilização de antibióticos é 
aconselhada, principalmente se houver sinais de infecção uterina ou de 
comprometimento sistêmico. 
11.3 SUBINVOLUÇÃO DOS SÍTIOS PLACENTÁRIOS 
Este é um distúrbio observado principalmente em cadelas, mas 
também já foi descrito nas gatas. Suspeita-se de subinvolução dos sítios 
placentários se o corrimento vaginal sanguinolento persistir por mais de 
6 semanas após o parto. A etiologia desta condição permanece 
desconhecida, mas acredita-se que esteja associada com a invasão da 
parede uterina pelos tecidos trofoblásticos fetais. Não ocorre a normal 
reparação uterina nos locais placentários e, histologicamente, as regiões 
afetadas apresentam hiperemia, infiltração celular e necrose. A citologiavaginal mostra predominantemente eritrócitos e, ocasionalmente, células 
semelhantes a trofoblastos sinciciais, que são úteis na confirmação do 
diagnóstico. A ultrassonografia demonstra áreas de espessamento 
discreto na parede uterina. 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Obstetrícia em Pequenos Animais 
 
52 
 
É uma afecção predominantemente de cadelas jovens primíparas e, 
na maioria das vezes, resolve-se espontaneamente. Em alguns casos, a 
hemorragia pode persistir até o próximo estro, mas parece não afetar a 
fertilidade ou as gestações futuras. Em geral, a cadela não apresenta 
sinais de doença, mas existe o risco da ocorrência de anemia, infecção 
uterina secundária ou ruptura do útero nos locais placentários 
acometidos. Os medicamentos ecbólicos parecem não resolver o 
problema e os antibióticos são indicados nos casos de metrite ou 
peritonite. Por ser um distúrbio de resolução espontânea, deve-se 
monitorar a cadela até o problema se resolver. Foi descrito que a 
utilização do acetato de medroxiprogesterona pode resultar na rápida 
regressão do processo, mas tal tratamento deve ser utilizado com 
cuidado, pois pode predispor ao estabelecimento da infecção uterina. 
Nos casos raros de perda sanguínea grave e comprometimento do 
estado geral da fêmea, está indicada a ovariohisterectomia. 
11.4 METRITE AGUDA 
A metrite aguda é uma infecção bacteriana do útero no período pós-
parto imediato. Fatores predisponentes incluem retenção de fetos ou 
placentas, distocia, manipulação obstétrica inadequada, retardo na 
involução uterina e parto em ambiente sem higiene. Raras vezes, a 
metrite pode ocorrer após partos normais, inseminação artificial ou 
aborto. Em geral, a infecção é ascendente através da cérvix aberta e 
costuma ser causada por bactérias gram-negativas, principalmente E. 
coli. Os sinais clínicos são: febre, depressão, anorexia, desidratação, 
lactação insuficiente, descaso com os filhotes e, ainda, presença de uma 
secreção vaginal escura, espessa e sanguinopurulenta, com odor fétido. 
A temperatura pode estar elevada e, em alguns casos, são observadas 
toxemia e septicemia. Pode ocorrer a excreção de toxinas bacterianas 
no leite materno e causar intoxicação nos filhotes. À palpação é possível 
sentir o útero aumentado e com consistência pastosa. Os exames 
radiográficos e ultrassonográficos podem mostrar um útero aumentado 
de tamanho, com conteúdo líquido e, ocasionalmente, presença de 
placentas ou fetos retidos. O hemograma geralmente mostra leucocitose 
com desvio à esquerda. A citologia vaginal revela grande número de 
neutrófilos degenerados, hemácias, bactérias e restos celulares. A 
cultura e o antibiograma da secreção são recomendados para orientar a 
seleção do antibiótico. 
Patologias do Puerpério 
 
53 
 
De forma diferente da piometra, a metrite pós-parto não está sob 
influência de fatores hormonais e responde de forma adequada ao 
tratamento com antibióticos. Terapia intensiva com reposição 
hidroeletrolítica e antibiótico de amplo espectro, ou uma associação de 
antibióticos, deve ser iniciada imediatamente. A antibioticoterapia deve 
ser mantida por 2 a 4 semanas, baseando-se no teste de antibiograma. 
O esvaziamento uterino pode ser conseguido com a utilização de 
ocitocina na dose de 2 a 10 UI (ou 0,5 UI/kg), via IM, 2 a 4 vezes ao dia. 
Os resultados satisfatórios com essa medicação são obtidos apenas nos 
primeiros dias após o parto. As ergotaminas e a prostaglandina F2α 
também podem ser utilizadas para produzir contração uterina e 
esvaziamento do conteúdo séptico, mas são contra-indicadas se a 
parede uterina estiver comprometida. A prostaglandina F2α pode ser 
administrada na dose de 0,1 a 0,25 mg/kg SID, via SC, durante 5 a 8 
dias, porém, é preciso lembrar que esta medicação pode causar 
importantes reações adversas. Pode-se indicar a sondagem através da 
cérvix com uma cânula ou sonda flexível para realizar a lavagem uterina 
com solução fisiológica estéril ou com anti-séptico suave (clorexidina a 
0,05%), porém, este procedimento é de difícil execução e pode 
ocasionar a ruptura do útero. Nos casos mais graves ou quando o 
proprietário não deseja que a paciente tenha atividade reprodutiva 
futura, o tratamento recomendado é a ovariohisterectomia. 
11.5 PROLAPSO UTERINO 
O prolapso uterino é uma condição pouco comum, que ocorre com 
mais freqüência na gata do que na cadela. Geralmente, acomete gatas 
com mais de 2 anos de idade e pode ocorrer tanto em primíparas como 
em pluríparas. Há relatos de prolapsos do corpo uterino, de ambos os 
cornos ou de apenas um corno uterino. Pode ocorrer o prolapso 
incompleto, no qual o órgão parcialmente prolapsado permanece no 
interior do conduto vaginal. Em geral, o útero se prolapsa imediatamente 
ou poucas horas após o nascimento do último filhote. Entre os fatores 
predisponentes estão incluídos distocias, sedentarismo durante a 
gestação, fraqueza dos ligamentos uterinos, flacidez uterina, contrações 
abdominais excessivas, trabalho de parto prolongado, retenção de 
placentas e fetos grandes. Se a intervenção não for realizada 
imediatamente, o útero exteriorizado torna-se edemaciado e hiperêmico, 
podendo haver comprometimento do órgão ou do estado geral da 
fêmea. Uma complicação rara do prolapso uterino é a ruptura da artéria 
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54 
uterina ou da artéria ovariana, que pode resultar em hemorragia intra-
abdominal e choque. Nestes casos, recomenda-se a laparotomia para 
controlar o sangramento. 
Nos prolapsos recentes e sem complicações, depois de cuidadosa 
limpeza e lubrificação dos tecidos, a reposição do útero para a cavidade 
abdominal pode ser realizada manualmente ou com auxílio de uma 
sonda com ponta romba. Compressas frias ou aplicação de glicose a 
50% podem ser utilizadas para reduzir o edema e facilitar a redução. 
Para proporcionar o retorno do órgão à sua posição anatômica é 
permitida a infusão intra-uterina de solução salina estéril, embora seja 
um procedimento que apresenta certo grau de dificuldade. É pouco 
provável que ocorra a recidiva do prolapso uterino após 24 horas do 
procedimento de reposição, pois a cérvix se apresentará quase 
totalmente fechada depois deste período. Quando não for possível a 
reposição externa, a laparotomia e a redução interna devem ser 
utilizadas, podendo-se realizar uma histeropexia na parede abdominal 
para prevenir futuros prolapsos. Após a redução do prolapso, é 
recomendada a administração de ocitocina na dose 2 a 10 UI (ou 0,5 
UI/kg), via IM, para promover a involução do útero. Nos casos em que o 
tecido prolapsado apresenta-se necrosado e inviável, recomenda-se a 
amputação do segmento comprometido ou a ovariohisterectomia. 
11.6 TETANIA PUERPERAL (ECLÂMPSIA) 
A tetania puerperal, também denominada de eclâmpsia ou 
hipocalcemia puerperal, é uma condição aguda com risco de morte para 
a fêmea e que geralmente ocorre no período pós-parto. O distúrbio é 
provocado pela hipocalcemia, que pode ser resultante da perda de 
cálcio materno para a formação do esqueleto fetal e para a produção de 
leite. Também há fatores predisponentes, como a hipofunção da 
paratireóide, o fornecimento uma dieta desbalanceada de cálcio e 
fósforo durante a gestação ou uma alcalose respiratória em fêmeas com 
hiperventilação. Em alguns casos, o quadro de hipocalcemia pode estar 
associado à hipoglicemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia. 
A eclâmpsia é observada principalmente em cadelas de raças 
pequenas com ninhadas grandes, mas pode acometer cadelas de 
qualquer raça e com qualquer tamanho de ninhada; porém, é uma 
condição raramente encontrada nas gatas. Os sinais clínicos da 
hipocalcemia puerperal desenvolvem-se tipicamente durante o pico de 
lactação, ou seja, entre a primeira e a terceira semana após o parto. 
Patologias do Puerpério55 
Eventualmente, pode ocorrer o distúrbio no final da gestação ou durante 
o processo de parto. Os sinais clínicos iniciais são inquietação, 
taquipnéia, ataxia, ganidos, salivação, tremores, fasciculações 
musculares, fraqueza e rigidez. Os sinais agravam-se rapidamente para 
tetania com espasmos tônico-clônicos, hipertermia, taquicardia, 
convulsões e morte. A temperatura retal pode chegar a 42ºC, mas pode 
ser seguida de choque e hipotermia nos casos não tratados. 
O tratamento deve ser realizado com base nos sinais clínicos 
apresentados por uma fêmea em lactação intensa. O diagnóstico pode 
ser confirmado pela determinação das concentrações séricas de cálcio, 
embora não haja necessidade dessa confirmação. A terapia tem que ser 
instituída imediatamente e consiste na infusão intravenosa lenta 
(1ml/min) da solução de gluconato de cálcio a 10%, até a melhora do 
quadro clínico. A dose necessária varia de 3 a 20 ml, dependendo da 
gravidade da hipocalcemia e do tamanho da cadela. Devido ao potencial 
efeito cardiotóxico do cálcio, é importante realizar a monitoração 
cardíaca para detectar bradicardia e arritmias durante a administração. 
Caso ocorram arritmias ou vômitos, a infusão deve ser temporariamente 
suspensa e, em seguida, reinstituída a uma velocidade mais lenta. A 
desidratação e a hipoglicemia também devem ser tratadas com fluidos 
intravenosos. Em geral, a resposta ao tratamento com cálcio intravenoso 
é notável e os sinais clínicos se resolvem durante a administração do 
medicamento. 
Os filhotes devem ser afastados da mãe e amamentados 
artificialmente com um substituto do leite canino por 24 horas. Se a 
ninhada já tiver completado 4 semanas de idade ou mais, recomenda-se 
que seja feito o desmame. Alguns obstetras preferem remover os 
filhotes logo após o primeiro episódio de eclâmpsia, pois os episódios 
recorrentes podem ser mais difíceis de controlar. A paciente deve ser 
suplementada diariamente, com uma fonte de cálcio na dose de 300 a 
500 mg TID, via oral, durante todo o período de amamentação. É 
recomendada a alimentação ad libitum com uma ração balanceada para 
a fase de lactação. É controversa a necessidade de suplementação com 
vitamina D. 
A suplementação preventiva com cálcio oral durante a gestação não 
é indicada, pois pode alterar a secreção do paratormônio e agravar o 
quadro de hipocalcemia puerperal. A fêmea deve ser alimentada com 
ração de qualidade e com boa relação cálcio:fósforo para as fases de 
gestação e lactação. Nas fêmeas predispostas, a eclâmpsia pode 
ocorrer novamente nas lactações subseqüentes. 
 
 
 
 
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