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“Reflexões sobre o romance moderno” Anatol Rosenfeld Deixa de existir um sujeito único, passa a se perceber que a realidade não é uma, tem várias visões, a literatura passa a trabalhar com o sujeito fragmentado. 1º existência de um Zeitgeist que alinha as expressões culturais. --- Espirito comum de uma época. Conceito generalizante, desconsidera as particularidade nacionais. 2º existe na pintura do séc XIX ao XX um fenômeno chamado desrealização. Desrealizar: afastar a representação de leis empíricas Arte figurativa: aquela que tem como base a representação mimética. Abstrato: perde o lastro do real observável na representação. 3º Zeitgust: as transformações da pintura ocorrem também na literatura. Romance fragmentado --- destrói sua unidade Romance revela-se como artifício Romance moderno promove a mímese da consciência (Auerbach) ---- real percebido por diversos sujeitos, pois cada um tem seu modo de ver. Romance tenta eliminar a voz mediadora (narração mediadora) e nos coloca em contato com a consciência – monólogo interior – não segue a ordem do real, desrealiza --- perda da objetividade, causalidade. Mimese da consciência Tempo perde a dimensão cronológica, mais subjetivo, disparidade entre o tempo dos fatos e o tempo percebido pelas personagens. Ilógico, caótico, sintaxe desorganizada. Duração: maneira como as personagens percebem internamento os acontecimentos do real Enredo: perda da casualidade dos fatos/ ganha instantaneidade e ilusão de simultaneidade Espaço: perde em objetividade, ganha em impressão Voz/ foco: - perspectiva externa, - mediação narrativa, + monólogo interior (plasma a consciência da personagem com a voz do narrador) A. Candido --- Séc XIX personagens simples com enredo complexo/ narrativa episódica-mimese dos fatos Séc XX personagens complexa com enredo simples/ mimese da consciência e perca em exterioridade. Objeto perde sua função externa – objeto ancora na narrativa exterior e interior, o + importante passa a ser o interior da personagem. A personagem ou é dilacerada pela sociedade ou é alheio a ela. Pág. 75 Cada fase histórica tem um Zeitgeist: espírito unificador, tem variações nacionais. Pág. 76 Interdependência e mútua influência entre várias áreas. Fenômeno da “desrealização”: a pintura deixou de ser mimética (vanguardas). A realidade empírica serve de elemento de ativação, mas isso não perpassa para a representação. Negação do realismo: tendência de reproduzir de forma estilizada ou não a realidade apreendida pelos sentidos. Pág. 77 Divergências de visões. Ser humano: dissociado, reduzido, deformado ou eliminado. Perspectiva foi abolida ou sofre distorções A perspectiva central surgiu no Renascimento: emancipação do indivíduo. A perspectiva no panorama histórico --- conquista artística do mundo terreno, realidade sensível. É a ilusão do espaço tridimensional, projeta o mundo através do individual. Pág. 78 Tornando o mundo relativizado --- ilusão do absoluto. “Um mundo relativo é apresentado como se fosse absoluto. É a visão antropocêntrica do mundo, referida à consciência humana que lhe impõe leis e ótica subjetivas.” Visão perspectiva é impossível na Idade Média. Pág. 79 A pintura moderna é uma negação ou mesmo um ato de duvidar na “visão” de mundo desenvolvida a partir do Renascimento. Negação do ilusionismo. Teatro moderno é ludus (jogo --- não é a realidade) e peça (que não é a vida) Pág 80 Terceira hipótese das manifestações apontadas também se refletem no romance. Não de modo tão evidente. No romance: “A eliminação do espaço, ou da ilusão do espaço, parece corresponder no romance da sucessão temporal. A cronologia, a continuidade temporal foram abaladas.” Desfazer a ordem cronológica --- romance moderno. Pirandello “teoria da relatividade cênica”: espaço e tempo se apagam, imergindo os planos da consciência Pág. 81 Espaço e tempo ganham caráter subjetivo. “A consciência como que põe em dúvida o seu direito de impor às coisas – e à própria vida psíquica – uma ordem que já não parece corresponder à realidade verdadeira.” Negação do compromisso com o mundo empírico. Desmascaramento do mundo epidérmico do senso comum. (Faz ver além da superfície). Duvidando da “consciência central” “A visão de uma realidade mais profunda, mais real, do que a do senso comum é incorporada à forma total da obra” --- modificações na estrutura. Pág. 82 O homem é o tempo “A nossa consciência não passa por uma sucessão de momentos neutros, como o ponteiro de um relógio, mas cada momento contém todos os momento anteriores.” Engloba passado, presente e futuro. Assinalar isso na estrutura – Angústia, de Graciliano Ramos. Pág 83 Estruturas temporais passam a confundir-se Leitor tem que participar da experiência da personagem. Afeta até mesmo a estrutura frasal, que se decompõe e amorfiza - misturando os tempos, sensações, como o próprio fluxo de consciência. Radicalização extrema do monólogo interior (As meninas), apagando o narrador. Pág. 84 A consciência da personagem manifesta-se imediatamente, ato presente. Desaparece a ordem lógica e coerência da estrutura. Quebrando a causalidade. Reproduzir a experiência psíquica. “procura superar a perspectiva tradicional, submergindo na própria corrente psíquica da personagem” (Auerbach) Para Kayser essa supressão do narrador é a ruína. Radicalização do romance psicológico e realista. Pág. 85 Enfocação microscópica --- elimina a distância, focalizando apenas uma parte. Desfazendo a personagem nítida, perdendo-se na noção da personalidade total. “Plena interdependência entre a dissolução da cronologia, da motivação causal, do enredo e da personalidade.” A ordem linear, de causalidade foram postas como epidérmicas, mecanismos do senso comum. Pág. 86 As transformações estéticas são um reflexo da sociedade, o mundo estava passando por mudança, caos, alterações de valores e os indivíduo não se sentia mais no controle de nada. Pág 87 O realismo ao extremo também é uma forma de impressão. “A perspectiva desaparece porque não há mais nenhum mundo exterior a projetar, uma vez que o próprio fluxo psíquico, englobando o mundo, se espraia sobre o plano da tela.” Fluxo da vida psíquica absorve o mundo Por outro lado as estruturas geométricas que absorvem o homem. Pág. 88 O abandono da expressão é o anseio de superar a distância entre indivíduo e mundo. Perspectiva: abismo entre o homem e o mundo. Culto do arcaico, glorificação do início. Questão do mito Pág. 89 Autodissolução O homem repete sempre as mesma estruturas arquetípica. Caminhada circular “a personalidade individual tinha de desfazer-se e tornar-se abstrata no processo técnico descrito: para que se revelem tanto melhor as configurações arquetípicas do ser humana” (intemporal e circular) Pág 90 Mítico: passado, presente e futuro se identificam. Um processo que transcende o indivíduo, foca na humanidade. Desrealização, abstração e desindividualização. “essência absoluta que vive por trás da aparência que vemos” – Franz Marc Pág. 91 Característica do romance do século passado. Pág. 92 Mesmo quando o narrador se afastava ainda havia uma espécie de ordem. “O eu passado já se tornou objeto para o Eu narrador.” Primeiro que rompeu é Proust --- elimina as distâncias entre o que é narrado. Visão microscópica e voz do presente --- mundo opaco e caótico. Virgínia Woolf: “ a vida atual é feita de trevas impenetráveis que não permitem a visão circunspecta do romancista tradicional.” Pág. 93 Romances de transição --- ironizar a sua perspectiva. Narrador se confunde com as personagens: psicologias, estruturas coletivas. Narrador se transforma constantemente. Há também a focalização somente de fora: renuncia conhecer a intimidade. Pág. 94 Torna as personagens estranhas e impenetráveis. “falso Eu” Pág. 95 Kafka ----surrealista ---- mito da frustação e da impossibilidade de reencontra a unidade perdida. Kafka: impossibilidade do retorno ao mundo mítico. Abandona da psicologia “retratista”. Técnica simultânea --- montagem caótica de monólogos interiores --- cortes cinematográficos. Pág. 96 Enfocação telescópica --- achatamento do objeto. Dificuldade de foco do narrador se qual for essas perspectivas. Expressões das transformações ameaçadoras que a perspectiva equilibrado do romance tradicional, quando usada em nossos dias, timbra em ignorar. Pág. 97 Zeitgeist Nova visão do homem e da realidade. Precariedade da posição do indivíduo no mundo moderno. Resumo Fenômenos: o mundo se projeta através do fenômeno, só existe como representação, depende do modo como uma consciência individual vê Abolição da perspectiva: olho que vê/ realidade sensível/ consciência individual --- ideologia, cultura. Não se fala sobre o tempo Imediatez entre personagem e leitor
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