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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ________ Processo nº XXXXXX ELIETE, já devidamente qualificados nos autos em epígrafe, vem por meio de seu procurador infra-assinado, com endereço profissional na rua, bairro, cidade, estado, com fulcro no artigo 593, inciso I do CPP, apresentar as RAZÕES DA APELAÇÃO, conforme aduzido, pugnando pela reforma da sentença recorrida. Requer o recebimento e processamento do presente recurso, com anexas as razões recursais e remeta para o TJMG em seus efeitos legais. Termos em que, Pede deferimento. XXXXX/XX, 21 de fevereiro de 2011. Assinatura Número da OAB APELANTE: Eliete. APELADA: Ministério Público. VARA DE ORIGEM: XX Vara Criminal de XXXX - XX Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de XXXXX. Colenda Câmara Criminal, Ínclitos Julgadores. Volve-se o presente recurso de Apelação contra os fundamentos apresentados na r. Sentença proferida pelo Juiz monocrático da Vara Criminal da xxxxxx, às fls. xx dos autos, a qual condenou a apelante Eliete a uma pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão. Entretanto, ao final o juiz substituiu a pena por restritiva de direitos, consubstanciada na prestação de 8 (oito) horas semanais de serviços comunitários, durante o período de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses em instituição a ser definida pelo juízo de execuções penais. Deve ser declarada nula a sentença, pelos motivos abaixo: I- DOS FATOS O Ministério Público, no dia 10 de janeiro de 2007, denunciou Eliete pela prática do crime de furto qualificado por abuso de confiança, alegando o Parquet que a denunciada havia se valido da qualidade de empregada doméstica para subtrair a quantia de R$ 50,00 de seu patrão Cláudio, no dia 20 de dezembro de 2006, sendo este presidente da maior empresa do Brasil no segmento de venda de alimentos no varejo. Recebida a denúncia, em 12 de janeiro de 2007, e, após os trâmites necessários, foi prolatada sentença penal, no dia 10 de dezembro de 2009, julgando procedente a pretensão acusatória para condenar Eliete à pena final de dois anos de reclusão, em razão da prática do crime previsto no artigo 155, §2º, inciso IV, do Código Penal. Eliete interpôs então recurso de apelação, porém o Tribunal de Justiça entendeu por bem anular toda a instrução criminal, tendo em vista o cerceamento de defesa, pois uma pergunta formulada a uma testemunha foi indeferida sem qualquer justificação. Realizada nova instrução criminal, restou comprovado que, na data dos fatos, a Defendente havia sido contratada por Cláudio havia uma semana, tendo obrigação de trabalhar somente 3 vezes na semana, sendo que o suposto crime ocorreu no terceiro dia de trabalho da ora apelante. Ainda, foi juntado aos autos a comprovação dos rendimentos da vítima, que giravam em torno de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais. Apresentado os memoriais pelas partes, foi proferido sentença penal, no dia 9 de fevereiro de 2011, tendo sido Eliete condenada à pena final de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão. O magistrado assentou na sentença que a ré possuía circunstâncias judiciais desfavoráveis, uma vez que se reveste de enorme gravidade a prática de crimes em que se abusa da confiança depositada no agente, motivo pelo qual a pena deveria ser distanciada do mínimo. Mas, ao final, converteu a pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, consubstanciada na prestação de 8 (oito) horas semanais de serviços comunitários, durante o período de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses em instituição a ser definida pelo juízo de execuções penais. Salienta-se que novamente não houve recurso do Ministério Público, e a sentença foi publicada no Diário Eletrônico em 16 de fevereiro de 2011. II- DA PROIBIÇÃO A REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA O princípio da reformatio in pejus é consagrado no art. 617 do Código de Processo Penal, que assim dispõe: Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença. O Tribunal, ao julgar recurso exclusivo da defendente anulou a sentença remetendo os autos ao juízo de primeiro grau, a fim de que fosse prolatada outra sentença em seu lugar, e este, por sua vez majorou a pena da apelante. É cediço que a corrente majoritária da doutrina, nestes casos, entende que o juiz está proibido de prolatar sentença com condenação superior à que foi dada no primeiro julgado. Além do mais, a pretensão punitiva estatal já está prevista. O art. 109 do Código penal prevê que: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (...) V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; (...) A prescrição é a perda do direito de punir o autor do fato pelo decurso do prazo em que o delito poderia ter sido conhecido, ou a pena executada, pelo Poder Judiciário. Deste modo, em razão do trânsito em julgado para a acusação, a pena não poderia exceder dois anos de reclusão, estando prescrita a pretensão punitiva estatal, nos termos do artigo citado acima, uma vez que, entre o recebimento da denúncia (12/01/2007) e a prolação de sentença válida (09/02/2011), transcorreu lapso superior a quatro anos. Dito isto, com base no art. 107, inciso IV do Código Penal, requer Vossa Excelência reconheça a extinção da punibilidade, pois devido ao lapso temporal o Estado perdeu o direito de punir a Defendente. Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (...) IV - pela prescrição, decadência ou perempção; (...) DA INEXISTÊNCIA DO ABUSO DE CONFIANÇA Foi comprovado nos autos que a Apelante havia sido contratada há uma semana para trabalhar na casa do Apelado, tendo somente a obrigação de trabalhar 3 (três) vezes na semana, sendo que o suposto furto teria ocorrido no terceiro dia de trabalho. Deste modo, não foi alcançado, devido a exiguidade do tempo de prestação de serviço, o requisito essencial para a configuração do abuso de confiança, isto é, a confiança do empregador. Além do mais, no caso em tela, nem se pode cogitar da condição de empregada doméstica, pois, segundo decisões na justiça de trabalho, esta condição se aperfeiçoa, após algum tempo, princípio da habitualidade, e, ainda, durante no mínimo 04 dias semanais trabalhados. DO PRINCÍPIO DA BAGATELA OU INSIGNIFICÂNCIA De forma majoritárias, a jurisprudência e a doutrina pátria, reconhecem a tipicidade material, que consiste na lesão a bem jurídico irrelevante, que não seja capaz de lesar o patrimônio alheio. Percebe-se que, o patrimônio neste caso não foi lesado, haja vista que a vítima recebe um total de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais, sendo insignificante o valor subtraído pela defendente, pois este perfaz o valor de R$50,00 (cinquenta reais), o que mostra-se irrelevante ao Direito Penal. Portanto, deve ser aplicado ao caso o princípio da bagatela reconhecendo o afastamento da tipicidade material e consequente atipicidade da conduta devendo o réu ser absolvido sumariamente, nos termos do artigo 397, inciso III do Código de Processo Penal, que dispõe que: Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (...) III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; (...) Os Tribunais já decidiram sobre casos semelhantes a este, vejamos: TJ-RJ - APELAÇÃO APL 00700437120118190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 26 VARA CRIMINAL (TJ-RJ) Jurisprudência•Data de julgamento: 16/04/2013 Ementa: APELAÇÃO. FURTO PRIVILEGIADO, NA MODALIDADE TENTADA. APELO DEFENSIVO POSTULANDO A ABSOLVIÇÃO DO ACUSADO, COM BASE NAS TESES DE ATIPICIDADE DA CONDUTA, ANTE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA, E DE EXCLUDENTE DE ILICITUDE, POR ESTADO DE NECESSIDADE. PLEITO SUBSIDIÁRIO DE REDUÇÃO DA REPRIMENDA, PELA APLICAÇÃO DO ARTIGO 24 , § 2º , DO CÓDIGO PENAL . EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, PELA PRESCRIÇÃO SUPERVENIENTE DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL, QUE SE RECONHECE, DE OFÍCIO, FICANDO PREJUDICADO O APELO. 1. Segundo se extrai dos autos, foi o réu condenado à pena de 10 dias-multa, no valor unitário mínimo, pela prática do crime de furto privilegiado, na modalidade tentada, tipificado no artigo 155 , § 2º , c.c. o art. 14 , II , ambos do Código Penal . 2. Tendo a decisão condenatória transitado em julgado para a acusação, eis que não houve recurso do Parquet, e sendo o acusado, ao tempo do crime ¿ cometido em 04/03/2011 ¿, menor de 21 anos, é de se concluir que o lapso prescricional aplicável à hipótese é de 1 ano, ex vi dos artigos 110 , § 1º , 114 , I , e 115 do Código Penal . 3. Havendo transcorrido lapso temporal superior a 1 ano a contar da data da publicação da sentença condenatória recorrível (09/06/2011), impõe-se o reconhecimento, de ofício, da extinção da punibilidade, ante a prescrição intercorrente da pretensão punitiva estatal, o que ora se declara. 4. Extinção da punibilidade pela prescrição intercorrente da pretensão punitiva estatal reconhecida, de ofício, ficando prejudicado o recurso defensivo. DO PRINCÍPIO DO NO BIS IN IDEM Insta salientar que o nobre magistrado, ao aplicar a pena da apelante, “Em suas razões de decidir, assentou o magistrado que a ré possuía circunstâncias judiciais desfavoráveis, uma vez que se reveste de enorme gravidade a prática de crimes em que se abusa da confiança depositada no agente, motivo pelo qual a pena deveria ser distanciada do mínimo.” Ocorre que a mesma circunstância legal subjetiva, “abuso de confiança” (art. 155, §4, II) já foi utilizada para aumentar a pena da apelante, e agravar o delito de furto, sendo assim, consiste em dupla imputação penal para único fato, não podendo ser imputado a apelante. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA FURTO SIMPLES PRIVILEGIADO (ART. 155, “CAPUT” E §2º, DO CP) A apelante, conforme já afirmado, foi condenada à pena de 02 (dois) anos e 06 (seis) meses pela prática de furto qualificado pelo abuso de confiança, cuja pena mínima é de 02 (dois) anos (art. 155, § 3º, II, do CP). A decisão para a qualificação do crime sustentou-se no fato de a Ré exercer a profissão de empregada doméstica na residência da vítima. Tal condição, nos termos da acusação, facilitaria a empreitada criminosa, sendo merecedora de maior reprimenda. Entretanto, conforme já exposto acima, o simples fato de a autora ser empregada doméstica e ter acesso à casa da vítima não importa na qualificadora de abuso de confiança, ainda mais quando a ré acaba de ser contratada. O pouco tempo de serviço ficou consignado e comprovado na instrução criminal. Sendo assim, considerando que o pouco tempo de serviço afasta a incidência da qualificadora, devendo ser o delito desclassificado para furto simples, cuja pena mínima é de 01 (um) ano. Dessa forma, a apelante passa a ter direito subjetivo à suspensão condicional do processo, instituto despenalizador com previsão legal no art. 89 da Lei 9.099/95. No mais, a apelante preenche os requisitos para a causa de redução de pena em razão do pequeno valor da coisa furtada, podendo o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou aplicar somente a pena de multa (art. 155, § 2º, do CP). III- DOS PEDIDOS “Ex positis”, requer seja: a) gratuidade de justiça, nos termos do artigo Código de Processo Civil de 20155º, LXXIV da Constituição Federal de 1988, e artigo 99 do CPC; b) absolvição sumária face o art. 397, incisos III (princípio da bagatela) e IV (prescrição) do CPP; c) o reconhecimento de extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, IV do Código Penal; d) reconhecimento da reformatio in pejus, com a aplicação da pena em no máximo 2 anos e a consequente prescrição; e) não incidência da qualificadora do abuso de confiança, com a consequente desclassificação para furto simples; f) a redução da pena pelo reconhecimento do princípio no bis idem, haja vista a imputação de dupla punição pelo mesmo fato. g) não incidência da qualificadora do abuso de confiança, com a consequente desclassificação para furto simples; h) não sendo afastada a qualificadora, seja aplicada a incidência do §2º do art. 155 do CP. i) posterior aplicação da suspensão condicional do processo, com fulcro no art. 99 da Lei 9.099/95. j) conhecido e provido o presente recurso, para que se determine a ABSOLVIÇÃO da apelante, com fundamento no artigo 386, III, do Código de Processo Penal; k) alvará de soltura. Nesses termos, pede e espera deferimento. xxxxxx, 21 de fevereiro de 2011. Assinatura Número da OAB
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