A Evolução da Psicomotricidade

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Psicomotricidade
Breve histórico e conceito
Introdução
Atualmente, o corpo humano é objeto de estudo de várias áreas da Ciência e da Filosofia, principalmente quando suas dimensões passaram a ter um discurso interdisciplinar. 
	A psicomotricidade, como ciência, é compreendida como campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influencias recíprocas e sistêmicas, entre o psiquismo e o corpo e entre o psiquismo e a motricidade, emergentes da personalidade total, singular e evolutiva que caracteriza o ser humano, nas suas múltiplas e complexas manifestações biopsicossociais, afetivo-emocionais, psicossociocognitivas. 
	
motricidade
Conjunto de expressões corporais, gestuais e motoras, não verbais e não simbólicas, de índole tônico-emocional, postural, somatognósica, ecognósica e práxica que sustentam e suportam as manifestações do psiquismo. 
PSICO
MOTRICIDADE
Social
Afetiva
Cognitiva
Atividade dinâmica
Movimento do corpo
Base neurofisiológica
PSICOMOTRICIDADE
Filogênese e Sociogênese
Duas competências ou proezas adaptativas:
Representam a organização neuropsicomotora mais complexa da natureza
Filogênese
Herança biológica, que decorre de um tempo filogético, enfocada nas conquistas inatas e morfológicas da espécie humana e transmitidas pelos genes. 
Sociogênese
Herança cultural, que decorre em um tempo sociogenético, centrado nas aprendizagens ontogenéticas(desenvolvimento biológico) e nas mediatizações intergeracionais transmitidas pela cultura. 
Breve histórico do corpo
	Da civilização oriental a civilização ocidental, e dentro desta, desde a civilização grega passando pela Idade Média, até os dias atuais, a significação do corpo sofreu inúmeras transformações. 
Desce Aristóteles, passando pelo Cristianismo, o corpo, é de certa forma, negligenciado em função do espírito. Descartes, e toda a influencia do seu pensamento na evolução científica levou a considerar o corpo como objeto e fragmento do espaço visível separado do “sujeito conhecedor”
Só em pleno sec. xx, o corpo começa a ser estudado, primeiro por neurologistas, por necessidade de compreensão do cérebro, e posteriormente por psiquiatras, para clarificação de fatores patológicos. 
O termo psicomotricidade
O termo Psicomotricidade surgiu no início do século XIX, a partir do discurso médico neurológico. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começou a constatar-se que existiam diferentes disfunções graves sem que o cérebro fosse lesionado. 
	Dessa forma, o esquema clínico que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal, já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. Assim, através da necessidade médica de encontrar tais correspondentes, que pela primeira vez se nomeou a palavra PSICOMOTRICIDADE, no ano de 1870.
Os estudos do sistema motor humano e sua relação com o meio, que dão origem a disciplina psicomotricidade, são diretamente relacionada com a escola de cientistas franceses que tentavam responder as necessidades da configuração do início do século XX, com o crescimento das creches e escolas infantis na França.
Estes profissionais são oriundos da Psiquiatria infantil, psicologia e pedagogia: locais do nascimento da psicomotricidade enquanto disciplina de estudo.
Ernest Dupré, em 1909, deu partida à psicomotricidade do ponto de vista patológico. 
 Através de seus estudos clínicos na observação de pacientes definiu a síndrome da debilidade motora caracterizada pela presença de inabilidades funcionais. 
Este neuropsiquiatra francês evidenciou o paralelismo psicomotor, ou seja, uma estreita relação entre o desenvolvimento da motricidade, da inteligência e da afetividade. Tal paralelismo psicomotor definiu-se como uma tentativa de superação ao dualismo cartesiano – corpo e mente. 
Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo. Deve-se a este autor a constituição da psicomotricidade como campo científico. 
Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos do indivíduo, e discursar sobre o tônus e o relaxamento.
Edouard Guilmain, neurologista francês, desenvolve em 1935, exames psicomotores como diagnóstico para determinadas irregularidades no desenvolvimento infantil. Pela primeira vez o estudo do corpo foi utilizado como método de indicação terapêutica.
O psiquiatra Vasco residente na França, Julián de Ajuriaguerra, em 1947, redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome, e como tal, com suas particularidades que devem ser estudadas e tratadas. O seu papel se faz importante para delimitar os transtornos psicomotores e sua diferenciação entre o neurológico e o psiquiátrico, o que determinará o tipo de intervenção deverá ser realizada.
Basicamente, estas crianças sempre apresentam três características:
Torpeza de movimentos: movimentos pobres e dificuldade em suas realizações.
Paratonía: a criança não pode relaxar o tônus de seus músculos de forma voluntária; inclusive em vez de relaxa-los, os contraem exageradamente. Esta é a maior característica deste transtorno.
Sincinesias: movimentos involuntários, que ocorrem concomitante aos movimentos desejados.
Às vezes, também apresentam instabilidade motora, tiques, tartamudez (gagueira),...
Estes transtornos afetam a diferentes áreas na criança: afetiva, sensorial, psíquica, cognitiva e motora.
Será muito importante realizar um bom diagnóstico que discrimine se a criança sofre uma "debilidade motora" ou se trata de outro transtorno psicomotor, para enfocar corretamente o tratamento ou reeducação.
No Brasil, somente na década de 1970, a psicomotricidade tem os seus primeiros autores especializados em estudar o movimento como parte fundamental da relação do homem com o seu ambiente social e educacional.
Em 1977 é fundado GAE, Grupo de Atividades Especializadas, que veio a promover a partir de 1980 vários encontros nacionais e latino-americanos. O 1° Encontro Brasileiro de Psicomotricidade foi realizado em 1979.
No Brasil, o estudo da psicomotricidade foi separado: O GAE ficou responsável pelo estudo clínico da motricidade humana e o ISPE, Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação, destinado à formação de profissionais em psicomotricidade, se dedica ao ensino de aplicações da psicomotricidade em áreas da prevenção de saúde e educação.
Em 19 de abril de 1980, foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, SBP, entidade de caráter científico-cultural sem fins lucrativos, foi fundada em 19 de abril de 1980 com o intuito de lutar pela regulamentação da profissão, unir os profissionais da psicomotricidade e contribuir para o progresso da ciência, promovendo congressos, encontros científicos, cursos, entre outros.
Começa então, a ser delimitada uma diferença entre postura reeducativa e uma terapêutica, já demonstrando diferenças em intervenções da Psicomotricidade, e que, ao despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do corpo em sua globalidade, vai dando progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao emocional.
Desta forma, podemos perceber que para a Psicomotricidade, ela se constitui como uma disciplina com um valor em si, ou seja, não é somente o somatório da psicologia e da motricidade.
O corpo humano deve ser estudo em seu conceito de unidade que ultrapassa a questão dualista de corpo e alma (sentimentos e afetos). O indivíduo é um ser global onde tanto o psico quanto o soma (músculo) se relacionam e se inclinam para as realidades do mundo.
“O desenvolvimento motor é afetado pela oportunidade de praticar e pelas variações ambientais mais importantes. O processo de maturação sem dúvida estabelece alguns limites sobre o ritmo de crescimento físico e desenvolvimento motor, mas o ritmo pode ser retardado pela ausência de prática ou experiências adequadas.” 
Ajuriaguerra (1980)
Os três grandes tipos de movimentosutilizados na educação:
Movimento Voluntário
Movimento automático
Movimento reflexo
1. Movimento Voluntário
Depende da nossa vontade;
Escolhas de acordo com a nossa história, personalidade, complexidade de estímulos que recebemos diariamente;
Como funciona?
Representação mental
Desejo ou necessidade
Execução do movimento
2. Movimento reflexo
Independente de nossa vontade
Reação orgânica oriunda de uma excitação sensorial.
O estímulo é captado pelos receptores do organismo e levado ao cérebro. Ele provoca de maneira direta uma reação motora.
Dois tipos (segundo Pavlov): INATOS E ADQUIRIDOS
Inatos: Independentes da aprendizagem e determinados pela bagagem biológica. 
Geralmente hereditários e permanentes.
b) Adquiridos: Reflexos aprendidos ou condicionados. 
Ocorre a partir de uma história de associações dos estímulos cerebrais que provocam as reações motoras.
3. Movimentos Automáticos
Dependem da aprendizagem, da historia de vida e da experiência própria de cada um.
São aprendidos a partir do: TREINO, PRÁTICA e REPETIÇÃO.
São importantes porque propiciam formas de adaptação ao meio, economia de tempo –esforço e trabalho mental.
O trabalho básico em sala de aula se fundamenta nestes três tipos motores do corpo para aprendizagem.
Para educar, é necessário além de uma organização motora, uma vontade, um desejo de realizar o movimento. 
Não se consegue educar/reeducar contra sua própria vontade.
Dar valor aos movimentos é indispensáveis para a melhor adaptação do indivíduo ao meio. A conjugação destes três movimentos dará ao professor e ao aluno as ferramentas básicas fundamentais para o desenvolvimento de sua atividade escolar e social.