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1 RISCO SOCIAL NA ESCOLA UMA REVISÃO DA LITERATURA

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R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012 591
RISCO SOCIAL NA ESCOLA: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Leonardo Augusto Couto Finelli1; Thainara Nascimento da Silva2
RESUMO
Atualmente o ensino de qualidade é aquele no qual a escola promove, para além do
desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas, a inserção do aprendente na
sociedade, por meio da constituição da cidadania. Tais aspectos garantem ao jovem o
poder de participação social, tendo em vista a construção de uma sociedade igualitária.
Não obstante, reconhece-se um cenário regional recortado por diversos fatores de
violência, que colocam em risco a infância e a adolescência. Esses fatores são
reconhecidos na literatura como situações de risco social. Além de se aplicarem a todo
o convívio social, eles encontram forte influência na escola, espaço de socialização e
formação por excelência. Nesse sentido, a presente pesquisa justifica-se a partir do
ponto de vista social, quando se verifica o aumento crescente das ações advindas das
fragilidades sociais aos quais os jovens estão expostos. Para tal, teve-se como objetivo
geral a sistematização dos conceitos e definições sobre o que são atos de violência,
considerando foco nos que se apresentam na escola pública e se associam à situação
de risco social. Sua execução se deu a partir do delineamento de revisão bibliográfica
de periódicos nacionais. Como resultados, apresenta a sistematização das situações
de risco social; possibilidades de administrar os conflitos; assim como as ações de
prevenção exitosas apontadas por educadores em suas respectivas práticas
pedagógicas, oferecendo material de consulta referencial associado a estas.
Palavras-chave: escola, vulnerabilidade social, situações de risco social, percepção
de professores.
INTRODUÇÃO
Cada escola possui peculiaridades que dizem respeito a seus usuários e
equipes, à sua capacidade em termos de estrutura e recursos financeiros,
organização social, conflitos e contradições locais. Assim, as estratégias para
a melhor condução dos serviços educacionais baseiam-se nas diferentes
perspectivas dos docentes, pois não existe um padrão único imutável ou
generalizável de educação.
1
 Professor orientador, Mestre em Avaliação Psicológica, Especialista em Educação a Distância,
Especialista em Psicologia do Desenvolvimento Humano.
2
 Trabalho de Conclusão de Curso para a formação em Bacharel em Psicologia pela Faculdade de
Saúde Ibituruna – FASI
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012592
Atualmente, a educação de qualidade é aquela na qual a escola
promove, para todos os domínios dos conhecimentos, o desenvolvimento de
capacidades cognitivas e afetivas ao atendimento das necessidades singulares
e sociais dos discentes. A escola promove também a inserção na sociedade, a
constituição da cidadania, assim como desenvolve o poder de participação,
tendo em vista a construção de uma sociedade igualitária.
Assim, organizar a atenção integral à saúde do jovem, entendendo que
a educação faz parte desse contexto, tem sido um desafio para as políticas
públicas, bem como para a sociedade. Com esta pesquisa, pretende-se somar
aos esforços já empreendidos, reflexões, informações e dados que contribuam
para mudança de um cenário regional recortado por diversos fatores que colocam
em risco a infância e a adolescência.
Seu objetivo foi sistematizar os conceitos, presentes na literatura, das
definições de situação de risco social presentes na escola. Considerou também a
necessidade de definir o conceito de situação de risco social aplicado na rede
pública de ensino médio, assim como reconhecer quais são as principais situações
de risco social presentes nas escolas públicas apresentados na literatura. Com
tais informações, visa esclarecer quais as saídas utilizadas na administração de
conflitos que acontecem no ambiente escolar, advindos da situação de risco social.
A avaliação educacional dos docentes sobre jovens em situação de risco
social fornece possibilidades de uma intervenção adequada para auxiliar no seu
pleno desenvolvimento. Portanto, esta pesquisa localizou quais os aspectos
considerados pelos docentes e quais os projetos de intervenções já tentados por
eles, bem como seus resultados, presentes na literatura, entendendo que tais
reflexões melhoram a qualidade de vida dos mesmos e da sociedade no geral.
A adolescência é um período de vida considerado de transição (HUTZ,
2002). Nesse período, os jovens passam por dificuldades relativas ao seu crescimento
físico, amadurecimento psicológico, sexualidade, relacionamento familiar, crise
financeira, violência, uso e/ou abuso de drogas, inserção no mercado de trabalho,
entre outros. Essas modificações são vivenciadas de maneira diversa nas diferentes
situações e os fragilizam, tornando-os vulneráveis a muitas situações e agravos.
METODOLOGIA
Realizou-se a revisão bibliográfica de periódicos nacionais, dissertações,
teses e livros sobre o tema, com a finalidade de investigar a forma de atuação
dos professores de escolas públicas frente a jovens submetidos a situações de
risco social. Esta visou definir o conceito de situação de risco social que é
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012 593
utilizado na rede pública de ensino, assim como reconhecer quais são as
principais situações de risco social presentes nas escolas públicas.
Marconi e Lakatos (2007, p. 57) explicam que a pesquisa bibliográfica
abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo,
“oferecendo meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos,
como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram
suficientemente.”
Nesse sentido, a pesquisa de caráter bibliográfico utilizou artigos produzidos
a partir de 1992 até abril de 2012 que contivessem as seguintes palavras-chaves:
Escola; Vulnerabilidade Social; Fatores de Risco e Percepção de Professores.
Os encontrados foram organizados inicialmente de modo a possibilitar
a análise e o cruzamento dos dados (palavras-chave). Em um segundo momento,
estes foram analisados de modo a organizar as informações e conceitos tais
quais estão elencados na Revisão Bibliográfica.
A partir de tal revisão da literatura, formularam-se os conceitos a seguir
elencados. A partir da assimilação destes, o trabalho conclui-se com a seguinte
discussão.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O ensino educacional busca, entre outros objetivos, promover
oportunidades de igualdade para que todos os seres humanos possam ampliar
suas potencialidades e conhecimentos. “Educação para todos” constitui, entre
outros objetivos, acesso de todos à educação, independentemente de posição
econômica e ou social. Esta visa o acesso a um conjunto de habilidades e
conhecimentos básicos que permitam a cada indivíduo desenvolver-se plenamente,
levando em conta o que é peculiar da sua cultura (GADOTTI, 1992).
Para compreender os principais aspectos da educação, Gadotti (1992)
diz que a educação multicultural necessita enfrentar o desafio de manter o
equilíbrio entre a cultura regional/local, própria de um grupo social ou minoria
étnica, e uma cultura universal, patrimônio atual da humanidade. Nessa
perspectiva, a escola procura abrir os horizontes de seus alunos para uma
melhor compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos de pensar,
considerando que isso se dá num mundo cada vez mais próximo, procurando
construir uma sociedade pluralista e interdependente. Esta é ao mesmo tempo
uma educação internacionalista, que busca promover a paz entre povos e nações,
e uma educação comunitária, valorizando as raízes locais da cultura e o cotidiano
mais próximo que se vive.
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012594
Grandes mudanças vêm ocorrendo no cenário mundial, trazendo novas
demandas para a escolarização, que, por suavez, passa a fazer forte pressão
para que o trabalho na escola seja mais efetivo. A profissão docente, no âmbito
da formação e do trabalho, tem sido intensamente estudada; há a necessidade de
rever as atividades docentes, qualificando-as e ampliando cada vez mais suas
potencialidades para lidar com jovens em situação de risco social (LELIS, 2012).
Nesse modelo, o docente é muito mais um mediador do conhecimento,
que atua como um problematizador. Ele deixa de ser um “lecionador” para ser
um organizador do conhecimento e da aprendizagem. Nessa perspectiva, ele
também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos
conhecimentos para o fazer dos seus alunos. O professor se tornou um aprendiz
permanente, um cooperador, construtor de sentidos e, principalmente, um
organizador de aprendizagens (GADOTTI, 2000).
Ainda de concordo com Gadotti (2000), o ambiente escolar, além de
promover o processo de ensino-aprendizado, visa explicitamente à socialização
do sujeito. Para isso, é necessário que se adote uma prática docente lúdica.
Isso porque os alunos precisam estar em sintonia com o mundo.
É importante, do ponto de vista das relações e organização social,
que a escola acompanhe as inovações, nas relações da cultura escolar/
organização do trabalho pedagógico impulsionado pelas novas. Para isso,
deve conciliar o conhecimento técnico à arte de disseminar ideias, assim
como de promover de bons relacionamentos interpessoais, sobretudo sendo
ética e democrática (GADOTTI, 2000).
Docente
Uma autoridade pedagógica apresenta-se como uma tarefa primordial,
visto que os alunos não são mais os mesmos e possuem características
socioculturais novas enquanto sujeitos de direitos. O trabalho do professor não
pode ser pensado separadamente do trabalho do aluno. Não é produtivo
questionar a formação e o exercício profissional dos professores sem se
interrogar o que mudou. Assim, passam-se a considerar aspectos sobre como
o aluno constrói a sua experiência escolar, qual a relação com o saber, qual o
sentido atribuído às vivências escolares.
Cabe aos docentes, além das tarefas pedagógicas, o papel de oferecer
uma nova perspectiva de que os jovens necessitam nesse período de
instabilidade, incertezas, angústias e necessidade de afirmação. Por esse motivo,
a possibilidade de exercitar a postura crítica aos modelos de autoridade dos
jovens e de receber o retorno destes numa relação sincera e de respeito constitui
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elemento essencial para a formação de uma postura crítica madura
(SUDBRACK, 2004).
O docente tem sido intensamente estudado. Considerando as mudanças
na sociedade, há a necessidade de rever as atividades docen-tes, qualificando-
as e ampliando seus efeitos. No entanto, a ausência de uma política bem definida
acerca da formação docente tem criado grande desânimo no professorado e
insatisfação com os resultados de seu trabalho (DAVIS; AGUIAR, 2010).
A docência descreve todo conhecimento técnico-científico acumulado,
com saberes marcados pela vivência e práticas cotidianas que os colocam na
condição de nativos da educação. No que se refere aos conhecimentos da
docência relativos aos processos educacionais, psicológicos e filosóficos, os
professores assumem a condição de mensageiros. O domínio teórico sobre o
saber ensinar não é algo que constitui sua formação, e apenas a experiência
como professor e o seu saber no campo de atuação não bastam para formá-lo
docente (BALTAZAR; MOYSES; BASTOS, 2010).
Os profissionais da educação fazem a integração da escola na rede de
serviços úteis e necessários para o desenvolvimento de jovens com ações
preventivas. Nestas reconhece-se como de fundamental importância o
desenvolvimento de uma função de liderança naquilo que diz respeito à
programação das intervenções, através da articulação, dentro da escola, de
procedimentos orientados à prevenção dos jovens em situação de risco social.
Situação de Risco Social
Atualmente há uma inquietação na identificação de crianças e
adolescentes expostos a fatores cognitivos, biológicos, ou sensórios, considerados
de risco. A infância e a adolescência são estágios de vulnerabilidade quanto ao
desenvolvimento humano devido às mudanças maturacionais e relativa
incapacidade dos organismos. Espera-se que nesses momentos os indivíduos
comecem a explorar uma variedade de situações com as quais eles ainda não
sabem bem como lidar, de modo a se tornar independente dos pais e a valorizar
os pares (SAPIENZA; PREDROMÔNICO, 2005).
De acordo com Lescher e colaboradores (2004), situação de risco social
pode ser compreendida como a condição de vida que os jovens e adolescentes
estão expostos à violência, ao uso de drogas e a um conjunto de experiências
relacionadas às privações de ordem afetiva, cultural e socioeconômica que
desfavorecem o desenvolvimento biopsicossocial. Ainda pode ser definida como
dificuldades associadas à frequência e ao aproveitamento escolar, nas condições
de saúde de forma geral e nas relações afetivas individuais, com sua família e
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com a sociedade, tendo como consequências a exposição a um circuito de
sociabilidade negativo e os conflitos com a lei.
Os fatores de risco social estão relacionados a todo tipo de eventos
negativos de vida (conflitos, negligências e maus-tratos demandam os serviços
de apoio psicossocial, econômico, advocatício e de saúde mental), de que, quando
presentes, aumentam a probabilidade de o indivíduo apresentar problemas físicos,
sociais, psicológicos ou emocionais (BARDAGI et al., 2006).
A localização do sujeito no sistema social é determinada por uma posição
que define uma modalidade participativa na forma de um processo de
marginalização. Pode-se entender por marginalização um processo no quais
indivíduos, ou grupos, acabam por serem excluídos e por se isolarem do sistema
social no qual vivem e do qual continuam a depender (CALIMAN, 2006).
Segundo Caliman (2006), a marginalidade refere-se à exclusão dos
direitos, das decisões, dos recursos e dos privilégios prometidos a todos, mas
efetivamente possíveis a poucos. A exclusão se caracteriza pela condição de
pobreza, entre velhos e novos modelos, daqueles que não têm acesso aos
recursos que o sistema social promete, teoricamente, a todos. Condições e
tipologias de pobreza têm origem em frustradas tentativas de satisfação das
necessidades fundamentais da pessoa.
A situação de desvantagem social condiciona as diversas situações de
ordem intrapessoal e interpessoal nas quais o estudante está envolvido. Situações
de ordem intrapessoal são provocadas por dificuldades psíquicas, físicas e
relacionais, enquanto que as de ordem interpessoal são promovidas pela falta
de recursos familiares, comunitários e pela própria escola, na qual coexistem
situações específicas ligadas à pobreza, ao abuso de drogas, à discriminação
racial e étnica. Assim, reconhece-se que intervenções quanto à vulnerabilidade
social podem contribuir para o planejamento de cuidado a crianças e
adolescentes (CALIMAN, 2006).
Vulnerabilidade Social
O conceito de vulnerabilidade vem sendo utilizado como sinônimo de
pobreza, o que não é a mesma coisa. A vulnerabilidade é mais dinâmica e tem
melhores condições de prender a mudança como “as pessoas entram e saem
da pobreza”. Ainda que as pessoas pobres sejam comumente mais vulneráveis,
nem todas as pessoas vulneráveis são pobres (STOCO; ALMEIDA, 2011).
Estar em situação de vulnerabilidade social é mais abrangente que
estar em situação de pobreza. Dessa maneira, os lugares vulneráveis são
aqueles nos quais os indivíduos enfrentam riscos e a impossibilidade de acesso
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a serviços e direitos básicos de cidadania, como condições habitacionais,
sanitárias, educacionais,de trabalho, de participação e acesso diferencial à
informação e às oportunidades oferecidas àqueles que possuem essas condições
(STOCO; ALMEIDA, 2011).
A vulnerabilidade social se relaciona aos aspectos materiais, culturais
e políticos que dizem respeito à vida em sociedade, como educação, trabalho,
relações de gênero, relações raciais, entre outros. Apresenta-se como
perspectiva de renovação das práticas de cuidado para além do risco de adoecer,
especialmente na promoção da saúde, constituindo-se em importante referencial
para a construção de intervenções intersetoriais dinâmicas e aplicáveis
(FERREIRA et al., 2012).
A noção de vulnerabilidade juvenil remete à ideia de fragilidade e de
dependência, que se vincula à situação de pobreza. Diversos fatores têm levado
à associação corrente entre juventude e vulnerabilidade. Tais fatores enfatizam
os aspectos negativos da experiência de segmentos menos favorecidos,
relacionados à crescente violência urbana, às transformações da ordem
socioeconômica no mundo contemporâneo e à falta de garantia dos direitos e
oportunidades nas áreas de educação, proteção social, entre outras que
asseguraram os direitos humanos dos jovens (MALVASI, 2008).
O contexto escolar ultrapassa a delimitação do ambiente físico, agrupando
o ambiente social e de aprendizagem (trocas, conteúdos, materiais, informações).
Sua função deve ser reconhecida como maior do que lidar com a cognição,
acrescentando o afeto e as mais variadas formas de fatores de risco social na
escola e expressão do jovem por meio da ação (CARTIER et al., 2009).
Fatores de Risco na Escola
Não obstante, reconhece-se que a escola se organiza em um espaço
diversificado, marcado por uma série de dificuldades, principalmente, nas precárias
condições educacionais. Nessa perspectiva, configura uma realidade complexa,
própria de uma instituição que reúne diferentes dimensões do campo social. Como
possível solução deveria observar práticas e respostas imprevistas, que procuram
estabelecer outro tipo de história, além daquelas que reproduzem a descrença na
construção de uma cultura de paz e o fracasso (ABRAMOVAY et al., 2004).
O trabalho educativo, em sua práxis diária, visa contribuir para mudanças
acentuadas, a fim de que os jovens sejam capazes de organizar e enfrentar
seus dilemas e superá-los da melhor maneira (RONZANI et al., 2009). A
ocorrência de eventos indesejáveis é um risco, já que estes não são
independentes, ou isolados, do contexto social. Estão inter-relacionados em um
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complicado sistema de fatores ambientais, socioeconômicos, culturais, políticos
e históricos (DESLANDES, 2009).
Existem diferentes tipos de violência que refletem no processo de
aprendizado do discente e no conceito da instituição escolar como ambiente de
aprendizado e formação. Os atos praticados no interior da escola atingem os
sujeitos em suas diversas dimensões públicas e físico-moral, que são nomeados
pela expressão “violência escolar” (ABRAMOVAY et al., 2004).
A violência escolar surge no cenário nacional e internacional como um
dos grandes e complicados desafios para a constituição de uma cultura de paz.
No entanto, observa-se uma vasta dificuldade para conceituar e encontrar
explicações para as causas e origens dos atos de violência praticados no
ambiente educacional (ABRAMOVAY et al., 2004).
Vale ressaltar que o termo violência é provido de diversos significados
e sentidos, acolhendo diferentes situações que fazem menção a realidades
heterogêneas e distintas. Esses múltiplos sentidos vão ecoar tanto no processo
de aprendizado do discente quanto nas relações no interior da escola e na
imagem da instituição escolar como espaço protegido de direito e responsável
pela educação das novas gerações, precioso para o desenvolvimento
autossustentado do país (GADOTTI, 2000).
O desenvolvimento permite uma visão mais abrangente. O
relacionamento entre os jovens e seus pais nem sempre é harmônico, porém a
rebeldia plena não parece comum. Isso porque pais, e seus adolescentes, na
maior parte das vezes, têm valores semelhantes, em função da comunicação,
que atua como uma ponte entre os pais e seus filhos. Esta permite que flua
mais espontaneamente, a relação, quando eles se envolvem com uma mesma
ocupação. Assim, são mobilizados a serem ativos no que se refere consigo e
desenvolver suas competências sociais e emocionais (PAPALIA; OLDS, 2000).
Segundo Hutz (2002), os fatores de risco social estão associados ao
desenvolvimento de distúrbios que abrangem características familiares e
particulares, bem como habilidades sociais, habilidades intelectuais, sexo,
variáveis demográficas, aspectos psicológicos, histórias genéticas e histórias
ambientais, quando associados às características familiares, culturais, eventos
estressantes da vida e área residencial. Vale ressaltar que uma criança é
considerada em situação de risco social quando seu desenvolvimento não ocorre
conforme esperado para sua faixa etária e para parâmetros de sua cultura.
Conforme Sudbrack (2004), vale ressaltar que os professores são exemplos
de autoridade alternativos aos da família. Estes passam a exercer uma influência
muito importante enquanto modelo de identificação, permitindo que o jovem reconstrua
suas próprias referências e relações com as figuras de autoridade.
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012 599
O ambiente escolar tem como função ser um espaço de reflexão e
aprendizado para que os jovens possam elaborar esse turbilhão de energia e
também de angústias por que passam nesse período. Nesse sentido, são
fundamentais atividades artísticas e de expressão de todo o gênero: literárias,
cênicas, musicais, esportivas, entre outras. A escola e os professores contribuem
diretamente na formação desses jovens. A sala de aula é um excelente fórum
para exercício de cidadania, no qual as habilidades e valores relativos à vida
comunitária podem ser exercitados (SUDBRACK, 2004).
A escola adquire a função importante na aquisição das habilidades
para o desempenho na vida sociocultural. Vale resaltar aqui a noção de
alteridade, ou seja, de reconhecimento e respeito às necessidades do outro, a
ética das relações, a convivência com as diferenças (SUDBRACK, 2004).
CONCLUSÃO
A atual pesquisa permitiu concluir que há uma convergência de pensamento
entre diversos autores quanto à definição dos conceitos utilizados para lidar com
situações de risco social. As pequenas diferenças apontadas dizem muito mais de
especificidades de contextos do que de divergências marcantes entre as definições.
Permitiu também concluir que há crescente preocupação da sociedade
em relação à melhoria da qualidade de vida pautada no desenvolvimento das
crianças e adolescentes com foco na situação de risco social. Isso se verifica
no incremento da produção consultada no intervalo de tempo de busca de
material. Apesar dessa preocupação, os artigos não apresentam possibilidades
de intervenção e/ou modificação de conduta de modo a minimizar a ocorrência
e/ou efeitos de tais situações. Não se verificaram nos artigos consultados
propostas de ações ativas que indiquem essa direção.
Nesse sentido, tal pesquisa, de modo modesto, sugere algumas possibilidades
de intervenção que podem vir a ser implementadas em projetos futuros. O primeiro
aspecto considera que somente um trabalho conjunto entre a escola, a família e
demais instituições responsáveis pela proteção aos direitos das crianças e
adolescentes permitirá o pleno alcance da meta prioritária de desenvolvimento da
carreira acadêmica e/ou profissional no atual cenário brasileiro.
Uma segunda sugestão considera o envolvimento de professores, com
didática que leve em conta o desenvolvimento de uma atitude responsável para
com a aprendizagem. Essa atitude pode promover nos estudantes maior
autoconsciência, tornando-os maiscapazes de resistir às pressões do grupo
em relação ao tema.
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012600
Considera que há uma fragilidade na literatura que impede que o
pesquisador defina os conceitos de situação de risco social na escola. Falta a
consistência que possibilite a manifestação de uma resistência, que permita ao
indivíduo, mesmo frente às adversidades, a busca por uma trajetória ascendente
e a geração de “frutos de vida”. Percebe-se que há uma estagnação desse
processo, de possibilidades, e consequentemente atraso na implementação de
possíveis saídas da situação de risco social, que permitam o aprofundamento
nas relações.
Por fim, reconhece-se que este estudo sistematizou aspectos mais
específicos relacionados à escola quanto à organização dos conceitos
relacionados à percepção de professores sobre as situações de risco social na
escola. Deixa então, em aberto, várias questões para futuras investigações.
Por exemplo, seria interessante oferecer a palavra aos estudantes, de modo a
verificar o que estes têm a dizer quanto a suas percepções das situações
similares em que eles são atores.
ABSTRACT
SOCIAL RISK AT SCHOOL: A LITERATURE REVIEW
Nowadays, the quality teaching is that in which the school promotes, in addition
to the development of cognitive and affective skills, the inclusion of the learner in
society, through the constitution of citizenship. These aspects ensure the young
the power of social participation, regarding the construction of an egalitarian
society. Nevertheless, it is recognized a regional stage cut by several factors of
violence that put childhood and adolescence in danger. These factors are
recognized in the literature as social risk situations. Besides being applied to the
whole social exchange, they find strong influence at school, socialization and
education space by excellence. Thus, this research is justified from the social
point of view, when it is verified increasing of the actions resulting from social
weaknesses in which the young people are exposed. Therefore, the main purpose
was the systematization of the concepts and definitions of what are acts of violence,
considering focus on those that are presented in public school and are associated
to social risk situation. Their execution took place from the designing of the
literature review of national journals. As a result, it is presented the systematization
of social risk situations; possibilities to manage conflicts; as well as preventive
R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 8, p. 591-603, 2012 601
actions successfully pointed out by educators in their respective teaching practices,
providing reference material associated to these.
Keywords: school, social vulnerability, social risk situations, teachers’
perception.
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